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O Começo Depois do Fim – Cap. 331 – Atenção

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— Isso foi muito foda. — disse Regis com aprovação quando saímos.

De pé sob o céu azul vibrante, respirei fundo o ar fresco e não pude deixar de sorrir. As gárgulas e os espinhos de ferro do Alto Salão pareciam muito menos imponentes agora que meu julgamento havia acabado.

Da entrada em arco, a Juíza Suprema pigarreou para chamar nossa atenção.

Lauden Denoir deu um passo à frente e fez uma reverência profunda.

— Obrigado por sua ajuda hoje, Suprema Juíza. Alto Sangue Denoir não vai…

— Presuma imaginar que minhas ações foram para o benefício de seu sangue. — a mulher interrompeu com um leve movimento de seu cabelo de fogo. — Este é um lugar de verdade e justiça, não um antro de jogos de azar onde pessoas mesquinhas podem tentar trapacear para ganhar uma fortuna.

O sorriso aristocrático de Lauden Denoir vacilou por um instante, mas foi estampado com firmeza em seu rosto novamente quando deu um passo para trás.

— Seria melhor. — a Juíza Suprema continuou em sua voz afiada e autoritária. — que os eventos de hoje e as ações tomadas contra você nas últimas três semanas, ficassem no passado, Ascendente Grey. Afinal de contas, o Alto Salão tem uma… reputação a ser considerada, e os Soberanos podem se envolver pessoalmente se a violência aumentar entre você e o Sangue Granbehl.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Você tem um jeito bom de pedir um favor, Juíza Suprema.

A tensão estalou no ar enquanto meu olhar perfurou seus olhos azul-gelo. Considerei todas as leis que os Granbehls haviam violado e que a Juíza Suprema estava me pedindo para simplesmente perdoar e esquecer.

Finalmente, soltei um suspiro.

— Enquanto o Alto Salão e os Granbehls, ficarem fora do meu caminho, não farei nenhum esforço para causar problemas.

A juíza suprema deu-me um único aceno de cabeça rápido.

— Então, eu recomendaria que você ficasse sumido, pelo menos por um tempo.

Continuei a encarando por mais um momento antes de me virar, com a emoção momentânea do fim do julgamento manchada pelo lembrete afiado da mulher.

Vários pequenos grupos de pessoas ainda estavam esperando ao redor das bordas do pátio, mas eles não ousaram se aproximar da pressão opressiva que irradiava de Taegan e Arian, que estavam lançando olhares de advertência ao redor do espaço aberto.

Ouvi alguns aplausos e alguns gritos por minha atenção, mas os ignorei, em vez disso me concentrando em Lauden Denoir, cujo sorriso cortês bem treinado parecia estampado em seu rosto.

— Obrigado por sua ajuda inesperada. — disse, observando o herdeiro Alto Sangue cuidadosamente. — Embora eu admita que estou um pouco surpreso que o Alto Sangue Denoir saiu de seu caminho para ajudar um ascendente humilde e sem nome.

— Para um amigo da minha querida irmã? Honestamente, qualquer problema vale a pena se acalmar a mente de Caera. Ela está muito preocupada com você, de fato, mas tenho certeza de que ficará incrivelmente aliviada ao saber de sua absolvição.

Um sorriso genuíno deslizou pela máscara cortês que ele estava usando.

— Eu ouvi Lady Caera murmurando o nome do Efeminado em voz baixa mais de uma vez. — Taegan grunhiu.

— Vamos continuar com esse apelido, não é? — perguntei, impassível.

Arian, tirando seus olhos penetrantes da multidão por apenas um momento, lançou-me um sorriso envergonhado.

— Meu companheiro anormalmente grande e denso acha mais fácil chamá-lo apenas por suas características físicas, em vez de se preocupar em lembrar seu nome.

Taegan lançou ao magro espadachim um olhar de advertência.

— Eu sinto a zombaria por trás de suas palavras embelezadas, pequena espada.

— De qualquer forma. — Lauden interrompeu, aquele sorriso forçado se contraindo novamente, — Eu adoraria estender um convite para um jantar esta noite e que você possa ver Caera. Meus pais já voltaram para nossa propriedade no domínio central, mas espero que um homem com o seu talento óbvio possa encontrar o caminho, certo? O Alto Lorde e Lady Denoir estão ansiosos para conhecê-lo, especialmente depois do investimento que acabaram de fazer para vê-lo libertado.

Seu tom ficou mais sério, quase agudo, ao dizer isso. A implicação era clara.

Antes que eu pudesse responder, Alaric passou um braço em volta do meu ombro e disse:

— Muito obrigado a você e a seu Alto Sangue, mas receio que meu sobrinho tenha passado por uma provação significativa. Afinal, ele foi torturado por três semanas seguidas e precisa descansar um pouco. Tenho certeza de que Grey adoraria vir em algum outro momento, é claro. Enviaremos uma nota.

Antes que o herdeiro Denoir pudesse refutar, meu “tio” já estava me puxando para longe. Olhei para trás para ver Lauden, flanqueado por Arian e Taegan, com seus braços cruzados e sobrancelhas franzidas em uma carranca.

Abri a boca para perguntar a Alaric se seria sensato dispensar o herdeiro Denoir tão repentinamente, quando um grito me interrompeu.

— Ascendente Grey, eu te amo!

Surpreso, examinei a multidão até encontrar a origem da voz, que era uma jovem com uma armadura de couro laranja vibrante.

— Eu também te amo, sua deusa bronzeada e esculpida. — gritou Regis, sua voz ecoando em minha cabeça.

Meus olhos permaneceram nela, curiosos, até Alaric me dar um tapinha no braço.

— Não há tempo para se misturar com as fanáticas. — Alaric disse, acelerando nosso passo. — Precisamos levar você a algum lugar com menos olhos, independentemente de quão grandes e azuis eles possam ser.

— Por que parece que estamos tentando fugir? — perguntei, mantendo um ritmo vagaroso. — Lauden tem uma poker face terrível, mas não faria mal visitar a casa dele e apenas dizer obrigado…

Alaric bufou sem humor e apressou-se a seguir em frente. Ao lado dele, a cabeça de Darrin girava para frente e para trás, como se esperasse que seríamos atacados a qualquer momento.

— Se você acha que um simples “obrigado” é tudo pelo que o Alto Sangue Denoir está fazendo isso, você pode muito bem colocar uma coleira em volta do seu pescoço e entregar a corda a eles. — disse Alaric, virando para um largo bulevar que reconheci como levando em direção à saída para o primeiro nível. — Não seja estúpido, garoto. A única razão pela qual aqueles nobres egocêntricos se envolveriam é porque eles querem fazer de você seu filhotinho leal para buscar elogios e relíquias das Relictombs.

— Isso é fácil de dizer. — eu respondi de volta. — Mas, ao contrário dos Granbehls, a família de Caera não tem nada para me chantagear além de eu talvez devendo um favor a eles.

— Um favor geralmente é mais valioso do que uma carruagem de ouro, especialmente se for devido por um indivíduo com tanto potencial quanto você. — Darrin respondeu enquanto seus olhos continuavam a examinar nossos arredores.

— Sem querer lançar dúvidas sobre sua adorada amante com chifres, mas é possível que Caera tenha dito a eles o quão poderoso você é para tentar convencer a família dela a ajudar. — acrescentou Regis.

— Não importa. — disse, tanto para mim como para Regis. — Duvido que tenhamos algum motivo para nos cruzarmos novamente.

Meu companheiro estalou a língua.

— Que pena, se nosso amigo alcoólatra aqui tivesse metade da beleza de Caera.

Voltei minha atenção para Alaric, percebendo que, sem saber, estive contando com o velho bêbado. Sem ele, teria sido muito mais difícil voltar para as Relictombs… mas ao mesmo tempo, ele era fácil de entender.

Alaric me via como seu tíquete de alimentação, ou melhor, álcool,  e ele não estava interessado em quem eu realmente era ou de onde vinha. Não precisei me preocupar com suas motivações e apreciava isso no homem.

No entanto, era difícil dizer o mesmo sobre Darrin Ordin. Eu me perguntei o que Alaric poderia ter dito a ele, e que tipo de promessas foram feitas em meu nome para a ajuda de Darrin.

— Não que ele tenha ajudado muito… — reclamou Regis.

Quando meus pensamentos se voltaram para o julgamento, um em particular que estava incomodando no fundo da minha mente se destacou.

— Alaric, por que exatamente eu tenho fãs? Quem eram todas essas pessoas no julgamento?

Alaric e Darrin trocaram um olhar.

— Minha ideia, na verdade. — o amigo de Alaric disse por cima do ombro, passando a mão pelo cabelo loiro. — Embora eu deixe Alaric fazer a maior parte do trabalho sujo.

Mudamos para o acostamento da estrada para evitar uma enorme carruagem puxada por dois bois vermelho-sangue.

Alaric deu de ombros, mas sua barba se contraiu de uma forma que me preocupou.

— Eu posso ter espalhado alguns rumores sobre você. O que despertou algum interesse e encorajou algumas pessoas a virem assistir ao seu julgamento.

— Que tipo de boatos…? — perguntei, observando Alaric com o canto do olho.

O velho pigarreou.

— Nada que comprometa seu manto de mistério e intriga.

Parei de andar de repente e dei a ele um olhar penetrante.

— Alaric…

— Apenas a história de um jovem ascendente sendo intimidado por um determinado sangue. — disse ele, coçando a barba. — Se eu sugerisse que o ascendente era tão bonito e… talentoso… que chamou a atenção até de uma certa senhora de Alto Sangue—

Resisti ao desejo de enterrar meu rosto em minhas mãos.

— Por favor, me diga que você está brincando.

— Isso certamente explica a proporção de mulheres para homens na multidão. — provocou Regis.

Alaric encolheu os ombros e começou a andar novamente, passando pela multidão crescente de pessoas enquanto nos aproximávamos do portal de saída para o primeiro nível.

Darrin havia assistido a essa troca com um sorriso de boca fechada.

— Essa parte não foi ideia minha. — disse se desculpando antes de seguir Alaric.

Fiquei olhando para os ladrilhos cintilantes da rua, esperando que esses rumores nunca chegassem a Caera.

Corri para alcançar os outros, me atrapalhei em busca de algo mais para falar.

— Então qual é o plano? — perguntei finalmente. — Já perdi muito tempo aqui—

— Vamos chegar a algum lugar um pouco menos lotado. — disse Darrin, olhando ao redor para as dezenas de pessoas que passavam em ambas as direções. A maioria delas não estava prestando atenção em nós, mas algumas ficaram surpresas quando viram Darrin, e mais do que alguns pares de olhos também me seguiram.

Nós contornamos as muitas estalagens e bares para ascendentes alinhados em ambos os lados da rua larga enquanto Alaric foi direto ao portal para o primeiro nível. Uma vez que os portais estavam à vista, como duas peças de vidro pairando sobre um bloco de ladrilhos de mosaico colorido, nós nos juntamos a uma fila de ascendentes que estavam deixando o segundo nível.

— Onde estamos indo? — perguntei.

— Acho que é melhor deixarmos as Relictombs por enquanto. — respondeu Darrin. — Primeiro, vamos para minha propriedade no interior de Sehz-Clar.

— Sehz-Clar? — me perguntei em voz alta, tentando lembrar o que tinha lido. — Isso é meio rural para um ascendente famoso, não é?

— Eu gosto assim. — disse ele com indiferença.

Considerei o tamanho de Alacrya e onde entramos nas Relictombs de Aramoor, que ficava no domínio oriental de Etril. Teríamos que voltar por Etril antes de ir para Sehz-Clar? Era um longo caminho a percorrer só para conversar, visto que estávamos rodeados de pousadas onde um quarto privado podia ser alugado por um punhado de ouro.

Olhando para trás, através do segundo nível em direção aonde eu pensei que o enorme portal para as zonas mais profundas das Relictombs estava, notei um grupo de homens, todos vestidos com couro escuro e armadura de corrente, desviar o olhar ao mesmo tempo, como se estivessem olhando para mim apenas um segundo antes.

Rapidamente examinei o resto da fila. A mulher de armadura laranja estava com várias pessoas atrás de nós. Nossos olhos se encontraram, e seu queixo caiu ligeiramente antes de ela abaixar a cabeça, deixando seu cabelo escuro cair em seu rosto. Além deles, ninguém mais parecia estar prestando atenção em nós três.

Surgiram perguntas, mas eu as mantive para mim, confiando que Alaric tinha seus motivos para nos afastar das Relictombs, e não querendo deixar Darrin desconfiado perguntando o motivo errado.

Demorou apenas alguns minutos para chegarmos ao portal de saída, onde um funcionário uniformizado acenou para que passássemos. Era como viajar dia e noite do segundo nível para o primeiro. Enquanto o segundo era claro e arejado, o primeiro era úmido e pesado com o cheiro de ferro e excremento.

Um homem vestido com a pele de alguma besta de mana estava gritando com um dos guardas do portal sobre sua passagem. O guarda uniformizado estava com os braços cruzados e um músculo em sua ampla mandíbula se contraiu.

Atrás dele, uma dúzia de ascendentes aguardavam na fila para entrar no segundo nível, a maioria resmungando sobre a espera.

Estava observando a comoção com o canto do olho quando notei a mulher com a armadura laranja brilhante passando pelo portal. Ela examinou a área, e quando seus olhos me encontraram, fez um caminho mais curto em nossa direção enquanto retirava algo de seu anel dimensional.

Com sentidos e reflexos aguçados, os segundos que levaram para a mulher bronzeada me alcançar passaram em um rastejar.

Pouco antes de ela estar ao alcance do meu braço, girei nos calcanhares e agarrei-a pelo pulso, esmagando a braçadeira de corrente em sua carne.

A mulher engasgou e tudo o que ela estava segurando caiu no chão.

— Você achou que eu não notaria? — perguntei, meu olhar perfurando o dela enquanto torcia seu pulso. — Por que você está me seguindo?

— Eu s-sinto muito! — ela gritou, seus olhos cor de mogno arregalados e seu rosto pálido. — Eu só queria seu autógrafo!

Olhei para o chão onde o item que ela havia deixado cair pressionado contra minha bota: uma caixa de aço em forma de pirâmide, gravada com correntes que se enrolavam nas bordas. Enquanto eu observava, o pé da mulher tateou para frente e bateu no topo pontudo.

Várias coisas aconteceram ao mesmo tempo.

O artefato aos meus pés se desdobrou, deixando escapar uma luz dourada brilhante.

Houve um flash da mão livre da mulher, e uma adaga escura e lustrosa apareceu em suas mãos.

Ao redor da plataforma do portal, a multidão de ascendentes que estavam nos observando com cautela ou nos ignorando em favor de resmungar sobre a fila parada sacou suas armas e se virou como um só para mim e meus companheiros. Atrás deles, três funcionários nervosos desapareceram pelo portal de volta ao segundo nível.

Essa coisa toda tinha sido uma armação, e havia apenas um grupo que teria esse tipo de problema.

— Lorde Granbehl manda lembranças. — gritou a ascendente de armadura laranja, enfiando a lâmina em meu abdômen.

Ainda segurando-a pelo pulso, tirei a mulher bronzeada do chão e a joguei em um grupo próximo de ascendentes armados. Ela soltou um grito antes de colidir com eles, mas minha atenção estava de volta no artefato, que se abriu como uma flor e estava brilhando mais intensamente a cada instante.

Levantando uma perna, comecei a descer em direção ao artefato, com a intenção de esmagá-la sob meu calcanhar, mas… congelei, incapaz de me mover. A luz dourada que emanava da pirâmide aberta me envolveu, brilhando sobre cada centímetro de mim como uma segunda pele. Podia apenas distinguir a forma etérea de correntes dentro da luz, envolvendo-se em torno de mim e meus companheiros.

— Bem, maldito seja, eles realmente têm uma gaiola de força. — Mesmo com sua voz abafada pela camada de energia que a gaiola de força havia envolvido em torno dele, Alaric estava mais surpreso do que chocado enquanto tentava mexer seu corpo. — E uma muito boa nisso.

Suas palavras foram recebidas por um coro de risadas de muitos ascendentes que agora nos olhavam perigosamente.

— Merda. — Darrin praguejou, parecendo que estava falando com a cabeça debaixo d’água. — Isso não é bom.

Pelo canto do olho, vi dois homens lutarem para colocar a mulher de armadura laranja de pé. Pelo jeito que ela estava segurando seu braço, sabia que o tinha deslocado. Isso não a impediu de sorrir vitoriosamente para mim.

— Bastante problemático, não é? — disse enquanto colocava o braço de volta no lugar. A mulher caminhou mais perto de nós. — Uma pena ter que entregá-lo aos Granbehls. Muitos usos melhores para um rosto bonito como o seu.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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