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O Começo Depois do Fim – Cap. 330 – Correntes Quebradas

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— Grey não os matou. — disse Ada, mais alto desta vez.

A mão de Titus Grandbehl se estendeu para cobrir a boca de sua filha.

— Ada! O que você está—

Escorregando das mãos de seus pais, ela deu um passo em direção aos juízes. As palavras começaram a jorrar dela enquanto seu rosto ficava cada vez mais vermelho.

— Eu estava presa em um espelho e Grey estava tentando me salvar, mas Ezra não quis ouvir e libertou o ascendente chifrudo do espelho mágico, enquanto Grey estava trabalhando com essa coisa de artefato, e o outro ascendente matou meus irmãos, e eu teria ficado presa lá para sempre, mas Grey me salvou.

A garota escondeu o rosto nas mãos enquanto seus pais ficavam rígidos, cada um do lado dela.

Darrin me lançou um olhar vitorioso antes de se virar para Blackshorn.

— Bem, aí está você—

— Lorde Granbehl. — Blackshorn disse, falando sobre meu conselheiro. — está claro que sua filha está incrivelmente angustiada. Embora apreciemos a bravura de seu sangue em comparecer a este julgamento pessoalmente, é a opinião deste painel que não podemos aceitar o testemunho de Ada neste momento e, em vez disso, usaremos o relato por escrito dos eventos que já recebemos.

Ada olhou boquiaberta para o juiz supremo enquanto seu pai assentia, sua bochecha se contraindo quando reprimiu um sorriso.

— Vocês podem ir, todos vocês, acrescentou Blackshorn.

As correntes começaram a apertar mais uma vez enquanto eu falhava em suprimir minha crescente irritação. Pressionei minha mão no metal afiado e retorcido onde eu havia rasgado o braço da cadeira, deixando a dor queimar de maneira clara em minha mente enquanto cortava minha pele.

Alguém atrás de mim gritou como isso não era justo, envolto em uma série de maldições e, em segundos, todo o tribunal explodiu em um coro de gritos e insultos dirigidos aos juízes.

— …deve estar brincando—

— …mesmo ouvindo o que a garota disse—

— … uma farsa, uma fraude total—

— … melhor deixar Ascendente Grey ir ou—

Todos os juízes estavam de pé, exceto Tenema, cujo velho rosto enrugado se contraiu de desgosto, enquanto Blackshorn martelava com o martelo de novo e de novo, mas a sala do tribunal estava em plena revolta atrás de mim. Ouvir a multidão ansiosa se voltar contra os juízes corruptos ajudou a acalmar meus nervos apenas o suficiente para que as correntes simplesmente me prendessem e não tentassem arrancar minha cabeça.

— Silêncio! — o Alto Juiz estava urrando. — Silêncio! Silêncio!

Harcrust voltou-se para um funcionário que estava meio escondido atrás das escrivaninhas.

— Limpe a sala. Faça. Agora!

De repente, soldados em armaduras pretas estavam entrando no tribunal, mas tudo estava acontecendo atrás de mim. Virei-me no assento para ver melhor, mas as correntes cravaram-se com força, fria e duramente, mantendo-me preso à cadeira de ferro.

Regis deixou escapar um escárnio.

— Eles estão expulsando todo mundo.

Um grito de pânico ressoou pelo tribunal.

— Droga, um dos soldados acabou de nocautear alguém. E é claro que os guardas Granbehl os estão ajudando.

Na minha frente, Darrin assistia com horror enquanto os guardas do Alto Salão escoltavam a multidão através das enormes portas duplas e para o longo corredor. Os juízes exibiam olhares de nojo e satisfação misturados.

As portas se fecharam, e os gritos e passos pesados e retumbantes foram abafados, então lentamente se dissiparam, até que a sala do tribunal foi deixada em um estado de silêncio assustador.

Além dos cinco juízes e um punhado de guardas do Alto Salão com armaduras pretas, apenas Darrin, Alaric, Matheson e eu permanecemos na sala.

— Faz sentido lembrar ao Alto Juiz que um julgamento perante um painel de cinco deve ser aberto ao público? — Darrin perguntou, sua voz um grunhido de fúria reprimida.

— Nenhum. — Blackshorn rosnou, olhando com o rosto sombrio para nós quatro. Darrin e Blackshorn se olharam, mas depois de alguns segundos meu conselheiro submeteu-se ao juiz, olhando para o chão da plataforma.

Alaric se moveu para ficar do meu outro lado, enquanto Matheson mantinha distância. Alaric se abaixou um pouco e sussurrou.

— Eu sei que isso parece ruim, garoto, mas não vá fazer nada estúpido. Ainda temos alguns truques na manga… espero. — Acrescentou em um tom um pouco hesitante.

Blackshorn pigarreou, um som úmido e áspero como uma lâmina sendo afiada.

— Está claro para mim que alguém trabalhou para hostilizar essa ralé e atrapalhar esses procedimentos. Felizmente, fomos avisados de que esse poderia ser o caso.

Frihl deixou escapar um forte

— Hah! — que silenciou o Alto Juiz e fez com que o resto do painel se voltasse para ele com expectativa.

— Quando soube que alguém estava espalhando histórias, irritando as pessoas, soube que devia ser o “homem do povo”, Darrin Ordin, sujando este julgamento com seu senso de justiça de homem inferior. Bah!

O rosto de Frihl se transformou em uma carranca exagerada.

— Você se tornou previsível, Ordin. Mas seus jogos não vão funcionar desta vez.

— Eu me pergunto quantos burros com chifres ele teve que beijar para se tornar um juiz? — Regis perguntou em um tom de admiração e horror mesclado.

— Obrigado, juiz Frihl. — disse Blackshorn apaziguadoramente. — Como eu disse, esperávamos essas táticas, mas não vamos permitir que esse julgamento se transforme em uma espécie de circo.

Eu ri, frio e sem humor. Darrin me lançou um olhar de advertência e Alaric balançou a cabeça, mas eu estava acabado.

— Parece que o Ascendente Grey está finalmente revelando sua verdadeira natureza. — disse Blackshorn, levantando a sobrancelha. — Sua capacidade de rir depois que tais eventos terríveis ocorreram fala muito.

— Honestamente, sinto que este foi um julgamento para minha paciência, e não as acusações ridículas dos Granbehls. — eu disse com naturalidade. — Qual é o próximo? Talvez os jurados honrados revelem que os cadáveres de Kalon, Ezra e Riah foram magicamente recuperados das Relictombs, e seus ferimentos provem sem sombra de dúvida, de alguma forma, que eu sou o assassino?

— Ou, melhor ainda, talvez vocês tenham encontrado meu diário secreto que eu convenientemente coloquei em um lugar público em algum lugar, detalhando meu plano maligno para matar todos os Granbehls, exceto, é claro, aquela que eu salvei.

Frihl levantou-se de repente, seu dedo nodoso apontado para mim.

— Como você ousa proferir tal blasfêmia na frente de—

Blackshorn levantou a mão, acalmando seu colega antes de se recostar na cadeira. Em vez de ficar com raiva do meu sarcasmo não tão sutil, ele apenas me estudou, seus dedos entrelaçados diante dele.

O rosto de Frihl estava vermelho de raiva fervente, mas segurou a língua, assim como Falhorn e Harcrust. Tenema foi a única que parecia desinteressada, parecendo achar mais interesse em um fio solto em seu manto do que eu.

— A ausência de evidências físicas dificilmente é um problema, considerando as declarações convincentes das testemunhas que recebemos. — respondeu Blackshorn com um leve encolher de ombros. — O que nos leva à parte de deliberação deste julgamento, acredito.

Tenema, franzindo ligeiramente a testa, puxou o fio e o deixou cair na mesa.

— Culpado, eu diria. Eu posso ver isso claro como o dia.

O rosto de Darrin caiu quando olhou para as portas principais. Em frente a ele, Matheson deixou um sorriso de auto satisfação transparecer em seu rosto.

— A esta altura, é difícil dizer quais são corruptos e quais são simplesmente estúpidos. — disse Regis com um suspiro.

— Nenhuma deliberação necessária. Culpado. — cuspiu o juiz Harcrust, o dedo girando novamente o cavanhaque oleoso.

A papada de Falhorn balançava e gingava enquanto balançava a cabeça.

— Uma exibição lamentável. Culpado.

O olhar penetrante de Frihl travou em Darrin enquanto ele sibilava.

— Culpado, três vezes.

Um leve movimento no canto do meu olho chamou minha atenção: Lorde Granbehl, parado nas sombras de uma alcova na outra extremidade da câmara. Mesmo na escuridão, seus dentes brancos e brilhantes brilhavam enquanto ele sorria vitoriosamente.

Blackshorn se inclinou para frente sobre sua mesa alta.

— Culpado. — disse lentamente, saboreando a palavra.

Alaric estava balançando a cabeça, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo.

— Eles não vieram, malditos. — disse ele em um sussurro rouco.

— Quanto à questão da punição. — disse Blackshorn, repentinamente profissional.

— Primeiro, todas as posses materiais e riquezas de Ascendente Grey são confiscadas imediatamente e serão transferidas para Sangue Granbehl em recompensa pela perda sofrida nas mãos de Grey. Ascendente Grey, você deve entregar todos os bens, incluindo todos os itens que foram trazidos de volta com você das Relictombs, para este tribunal imediatamente. A localização de qualquer riqueza ou posses que você possua, mas não esteja carregando com você neste momento, deve ser divulgada, incluindo a propriedade parcial de quaisquer posses de sangue.

— Não se esqueça. Alto Juiz. — disse Matheson com um sorriso afetado. — Todos os artefatos ilícitos que o ascendente possuía.

— É claro. — acrescentou Blackshorn. — No caso, Ascendente Grey, de você se recusar a divulgar a localização de seus bens, então sua mente será separada por nossas sentinelas mais poderosos antes de sua execução.

Ele fez uma pausa, seus olhos fixos em mim enquanto esperava pela minha resposta.

Eu dei a ele um sorriso encantador.

— Mal posso esperar.

— Guardas. — disse Blackshorn, com o nariz franzido como se tivesse acabado de pisar em algo sujo. — coloque este bandido assassino na menor e mais profunda cela disponível.

— Agora vamos matar todos esses palhaços? — Regis implorou. — Eu fico com burro de cavanhaque.

— Não. Aqui não, respondi friamente.

O barulho de gritos alcançou meus ouvidos do lado de fora da sala do tribunal; houve algum tipo de comoção no corredor além das enormes portas duplas.

— Esse poderia ser nosso trunfo. — Alaric sibilou. — Precisamos manter sua bunda naquela cadeira, garoto.

Enquanto examinava os guardas lentamente nos rodeando, uma calma gelada se espalhou por mim. De certa forma, era uma espécie de consolo frio saber que a decisão deles havia sido tomada e meu julgamento havia terminado.

Darrin e Alaric foram forçados a se afastar de mim e ficar fora de vista. Mesmo quando a dúzia de guardas com armaduras pretas avançou em minha direção, armas em punho, permaneci sentado, imparcial e composto.

— Gostaria de caminhar até a cela com meus próprios pés. — disse, minha voz uniforme e suave apesar do número de armas afiadas carregadas de mana apontadas para mim.

— Você ainda acha que tem direito a essa liberdade? — Blackshorn respondeu. — Não. Você será despido e amarrado até o momento de sua morte.

Deixei uma onda de intenção etérica emergir de mim, crescendo através dos guardas e os deixando imóveis. Alguns dos mais fracos caíram de joelhos, os olhos arregalados e ofegando.

Os juízes estavam todos pálidos, seus olhos procurando por alguma resposta para explicar exatamente o que estava acontecendo. Afinal, eu era um prisioneiro preso e privado de qualquer acesso à mana. Normalmente, algo assim nunca aconteceria.

Normalmente.

— Eu e-exijo saber o que você está fazendo! — Frihl conseguiu gritar.

— Deve ser uma relíquia, meritíssimo! Eu sabia que ele estava escondendo de alguma forma. — Matheson reuniu força suficiente para rastejar para cima de seus joelhos, sua expressão tensa quando se virou para mim. — Exijo que você entregue a relíquia imediatamente!

Meu olhar caiu para o mordomo, fazendo-o recuar de surpresa.

— Por que você não vem aqui e pega?

Matheson, com as sobrancelhas finas marcadas de suor, engoliu em seco.

O tempo parou na sala, pois nenhuma das pessoas presentes foi capaz de reunir coragem para dar um passo mais perto de mim.

Foi só quando as portas do tribunal se abriram que libertei a pressão sufocante que estava segurando na sala. Torcendo contra as correntes apertadas, olhei por cima do ombro para ver alguns rostos familiares.

— Já era hora. — Alaric respirou.

— Nossa cavalaria chegou, Efeminado. — disse Regis com um sorriso.

O primeiro homem que notei foi o Atacante musculoso e de cabelo carmesim chamado Taegan, e ao lado dele estava seu companheiro elegante, o espadachim Arian. Os dois ascendentes flanqueavam um homem musculoso de cabelos cor de oliva que eu não reconheci, que por sua vez estava seguindo uma mulher furiosa com cabelos ruivos e olhos azuis brilhantes. Os quatro pararam no topo da escada, olhando para o impasse entre os guardas e eu.

— Pela Graça dos Vritra… Blackshorn, por que eu tive uma dúzia de pessoas diferentes martelando para entrar em meu escritório nos últimos quinze minutos? Explique-se imediatamente.

O Alto Juiz se encolheu ante o estrondo de autoridade dentro da voz da mulher, e sua boca começou a abrir e fechar como um peixe se afogando na praia.

— Oh, céus. — disse o homem de cabelo cor de azeitona por trás da mulher, apontando para a sala do tribunal com uma pilha de pergaminhos em uma das mãos. — Parece que chegamos bem a tempo de evitar um grave erro judiciário.

O rosto de Harcrust se iluminou quando as portas se abriram, mas caiu novamente ao ver a mulher ruiva e sua comitiva.

— Juíza Suprema! E… o herdeiro Denoir, aqui, pessoalmente. Você, hum, nos trouxe a declaração de Lady Caera? — perguntou, seu ar de elevada superioridade desaparecendo. — Você não precisaria ter se incomodado, é claro, estamos quase terminando com esse criminoso louco. Juíza Suprema, não havia necessidade de você…

Quando os olhos azul-gelo da mulher se voltaram para Harcrust, foi como se o congelassem até o núcleo de mana.

— Não se atreva a me dizer o que preciso fazer em meu próprio salão, Harcrust.

— A questão é… — disse o homem de cabelos cor de azeitona — que estamos aqui em nome do criminoso demente.

O herdeiro Denoir… Então Caera convenceu seu sangue a ajudar, afinal. Não pude evitar o lampejo de um sorriso que cruzou meu rosto.

— Fique quieto, Denoir. — a mulher disparou.

Harcrust começou a bufar, finalmente tendo recuperado um pouco da compostura, mas a mulher estalou os dedos, silenciando-o.

— Se metade do que me disseram é verdade, você zombou da justiça do Alto Salão, desrespeitando todas as regras que consideramos sagradas. — Seu olhar cortante varreu os cinco juízes. — Proibindo o interrogatório? Remoção forçada de observadores públicos? Posicionando soldados terceirizados dentro dessas paredes sagradas?

Com base na intensidade do olhar da mulher, fiquei surpreso que Blackshorn e os outros não explodiram em chamas naquele momento.

— Juíza Suprema, não quero desrespeitar quando digo isso. — Blackshorn reuniu, endireitando seu manto. — Mas, por questão de tempo, não podíamos seguir estritamente o protocolo padrão. Nós apenas procuramos manter nossos cidadãos protegidos deste assassino.

— Isso está certo? — Um sorriso divertido se espalhou pelo rosto do Alto Juiz quando ela recebeu uma pilha de pergaminhos do homem Denoir. — Então, suponho que esta extensa lista de seus muitos negócios ilegais, promessas antiéticas e ações fraudulentas que levaram a este julgamento, foi tudo em nome de manter nossos cidadãos seguros, Blackshorn?

A pele manchada do velho juiz empalideceu.

— Is-isso… Juíza Suprema, permita-me explicar—

— Como Juíza Suprema, principal árbitra do Alto Salão das Relictombs, declaro este julgamento nulo e liberto Ascendente Grey, com efeito imediato.

— Mas—

Um olhar feroz da Juíza Suprema forçou a boca de Blackshorn a se fechar.

Relaxei, deixando as correntes fazerem o mesmo, e examinei as alcovas escuras ao redor da sala do tribunal procurando por Titus Granbehl. Ele deu um passo para trás ainda mais nas sombras com a chegada da Juíza Suprema. Nossos olhos se encontraram brevemente, os dele brilhando furiosamente, os meus semicerrados de diversão, antes de ele se virar e desaparecer.

— Guardas, cuidem para que os juízes deste painel não vão a lugar nenhum e, pelo bem dos Vritra, alguém tire essas correntes desse homem. — retrucou.

— Não há necessidade. — eu disse simplesmente.

Um gemido agudo e metálico encheu a sala do tribunal enquanto as correntes que me prendiam se rompiam. Fragmentos de metal voaram pela sala enquanto os olhares dos guardas se alargaram em choque e espanto e eles cambalearam para trás, metade deles apontando suas armas para os juízes, a outra metade para mim.

Blackshorn e os outros juízes estavam olhando incrédulos para as correntes, qualquer aparência de equilíbrio que eles tinham desapareceu.

Esfregando meus pulsos, me virei para Blackshorn, cuja mandíbula estava frouxa.

— Minhas desculpas por arruinar seu artefato, mas… — Eu abri um sorriso para ele. — Você sabe… para poupar tempo.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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