O Começo Depois do Fim – Cap. 293 – Ascensão Familiar

 

Uma grande praça cercada por um anel de altas árvores de lavanda estendia-se à nossa frente, superlotada e ainda mais barulhenta do que o primeiro nível das Relictombs. A área foi preenchida com o estrondo de dezenas de conversas meio gritadas. Se a multidão não fosse composta inteiramente de ascendentes vestidos com armaduras e armas impressionantes, teria confundido este lugar com um mercado de pulgas.

— Que… lugar é esse? — Eu perguntei hesitantemente, observando os ascendentes se enfileirarem entre fileiras organizadas de cabines de madeira.

— O melhor lugar para encontrar um time… se você sabe o que está procurando. — Haedrig respondeu antes de mergulhar na multidão. — Vamos.

Corri atrás dele, não querendo me separar no mar de ascendentes.

— Procurando por um conjurador! Necessário ter pelo menos dois emblemas! Ascensão única!

— Procurando por uma sentinela! Distribuição favorável de todos os elogios!

Cada barraca tinha pelo menos um ascendente por perto gritando seus requisitos de candidato ideal para se juntar a sua equipe. Era fascinante.

Observei um brutamontes de rosto achatado e ombros largos se virar para mostrar suas runas expostas a um homem alto e magricelo com longos cabelos dourados. O ascendente de cabelos dourados parecia pensativo, então balançou a cabeça, mas eu os perdi de vista na multidão depois disso.

Perto dali, um jovem e bonito ascendente sentava-se despreocupado em sua mesa, falando em voz baixa de forma que os que o cercavam tivessem de se inclinar para ouvir. Não consegui entender as palavras, mas, pelas expressões extasiadas de sua audiência, deve ter contado uma história emocionante.

— Grey! — Haedrig gritou, vários passos à frente. — Por aqui.

O ascendente de cabelos verdes nos conduziu por várias fileiras de barracas até chegarmos a um pequeno prédio com ascendentes entrando e saindo.

— Você precisará se trocar aqui primeiro. — Haedrig explicou, apontando para o galpão sem janelas. — Você trouxe sua armadura, certo?

Eu dei um passo para o final da fila.

— Claro.

Embora eu tenha mantido a adaga branca dentro do meu casaco como medida de segurança, a armadura preta e a capa azul-petróleo foram guardadas com segurança em minha runa de armazenamento; Alaric tinha me dado um anel dimensional, usando meu próprio dinheiro, é claro, antes de visitarmos o edifício ascendente. O problema era que, como eu não conseguia usar mana, não conseguia ativar o anel. Ainda assim, mantive isso comigo; na verdade, o anel serviu de camuflagem para outras pessoas.

Depois de me trocar, saí do grande galpão. Haedrig me olhou criticamente.

— Algum problema?

— Não é– não é nada. — disse ele com uma tosse.

— Embora a capa pareça bonita, esperava que você tivesse uma armadura mais impressionante.

— Eu realmente não tive tempo para comprar uma armadura. — disse, olhando para mim mesmo. — Eu realmente pareço tão surrado?

— Não surrado, só… — Haedrig coçou a cabeça- — deixa pra lá. Vamos.

Enquanto o seguia de volta à multidão de ascendentes, me perguntei o que ele estava procurando. Já havíamos passado por dezenas de grupos em busca de novos membros de equipe, mas Haedrig mal lhes deu uma olhada.

É certo que, com base nos anúncios gritados e na sinalização afixada, parecia improvável que qualquer um desses grupos estivesse interessado em um ascendente novo que ainda não tinha concluído sua ascensão preliminar. Na verdade, a maioria das equipes que procuram uma ascensão aqui tinham requisitos listados para um número mínimo de ascensões que os candidatos devem ter concluído.

— Como vamos encontrar alguém disposto a me levar aqui? — perguntei, evitando por pouco esbarrar em outro ascendente. — A maioria dessas pessoas parece estar procurando por ascendentes experientes.

Haedrig olhou para mim enquanto continuava liderando o caminho.

— Existem apenas equipes estabelecidas aqui em busca de membros pontuais. Se formos um pouco mais fundo, veremos diferentes tipos de grupos, incluindo indivíduos que procuram acompanhar ascendentes em suas preliminares.

— Tem certeza? — perguntei. — A menos que eu esteja disposto a pagá-los, realmente não consigo ver nenhum benefício para um ascendente reservar um tempo para escoltar um wogart em sua preliminar.

Haedrig sufocou uma risada.

Fiz uma careta.

— O que foi?

— Nunca ouvi alguém se referir a si mesmo como um wogart antes. — disse ele, sua voz cheia de risos. — Embora nem todos achem que vale a pena, há alguns benefícios.

— Cuidado. — uma mulher musculosa em uma armadura de prata grunhiu enquanto nós batíamos os ombros.

— Desculpe. — murmurei antes de voltar para o meu companheiro de cabelo verde. — Quais são esses benefícios?

— Se você se der ao trabalho de cumprir as qualificações mais altas para obter o distintivo de diretor, o que muitos ascendentes experientes fazem de qualquer maneira, já que a maioria das academias exige que todos os seus instrutores tenham um, você não precisa pagar por nenhuma das acomodações em qualquer um dos edifícios ascendentes. Além disso, o Alto Soberano dá um estipêndio generoso para que os diretores levem ascendentes em suas preliminares. — explicou Haedrig.

— Então, outra maneira de promover novos ascendentes. Agrona investiu muito para garantir que seu povo estivesse disposto a se jogar na boca da morte por ele, hein? — Regis disse.

Eu balancei a cabeça, considerando as palavras de Regis. Para Haedrig, perguntei:

— Há mais alguma coisa?

Haedrig pensou por um momento, diminuindo o passo enquanto ainda evitava habilmente a massa de ascendentes.

— Bem, ser um fazendeiro de wogarts não é a carreira mais respeitada, mas é bastante seguro, especialmente se você tiver sangue para cuidar.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Fazendeiro de Wogart?

— Ah, foi mal. É outra gíria, ascendentes que se “aposentaram” e escolhem apenas escoltar candidatos que precisam fazer sua ascensão preliminar. — esclareceu.

— Então são eles quem estamos procurando, fazendeiros wogart, quero dizer?

— Sim, embora tenhamos que ter cuidado com quem vamos acabar indo.

À medida que avançávamos para a grande praça superlotada, comecei a ver mais jovens ascendentes, alguns dos quais pareciam tão perdidos quanto eu.

— Deixe-me cuidar da conversa. — disse Haedrig enquanto nos conduzia a uma das maiores barracas.

— Ah, vocês dois estão procurando um diretor para levá-los? — O atendente, um senhor corpulento com um bigode de guidão, perguntou rispidamente.

— Meu amigo está nas preliminares e eu o acompanharei. — respondeu Haedrig com cortesia. — Você tem um folheto de informações para seus negócios?

— Folheto de informações? — O corpulento ascendente ecoou, confuso.

Haedrig não se preocupou mais com o homem. Com um breve aceno de cabeça, disse.

— Obrigado pelo seu tempo, e foi embora.

Eu estava curioso, mas fiquei em silêncio enquanto Haedrig ia de tenda em tenda. Alguns ofereciam panfletos simples, que pareciam ser um resumo de sua história de trabalho, enquanto outros, como o ascendente bigodudo, pareciam pegos de surpresa com o pedido.

No final das contas, entretanto, Haedrig daria o mesmo aceno curto e seguiríamos para a próxima barraca.

— O que havia de errado com aquela mulher? Ela parecia já ter atraído algumas pessoas para suas ascensões preliminares. — perguntei.

Haedrig ergueu uma sobrancelha.

— Atraído. Escolha de palavras interessante. Você queria ir com ela porque ela era bonita?

— O quê? — gaguejei. — Não, eu estava apenas dizendo que os outros ascendentes provavelmente pensaram que ela era qualificada o suficiente para liderá-los, certo?

— Eles eram todos homens.

— Estou apenas curioso para saber quais são seus critérios. — resmunguei, sentindo como se tivesse sido repreendido por algum motivo.

— Vejo que Grey gosta de mulheres fartas na frente. — Haedrig disse com um encolher de ombros. — Eu vou manter isso em mente.

— Eu também sou a favor de mulheres fartas. — Regis disse com naturalidade.

— Manter isso em mente pra quê? — disse indignado.

Ignorando minha pergunta, Haedrig me entregou o panfleto que recebera da ascendente diretora.

— Olhe de perto. Embora seu panfleto tenha sido autenticado pela associação, não há coluna para referências de ascendentes anteriores que ela liderou nas preliminares, e ela nem mesmo é ex-aluna de uma academia.

— Embora aprecie o rigor, tudo isso é realmente necessário? — perguntei, devolvendo o pedaço de pergaminho. — Sou bastante capaz e, vendo a maneira como você se comporta, tenho quase certeza de que você também é.

Haedrig olhou para mim, ligeiramente surpreso.

— É tão perceptível?

— Para um olho treinado, é. — dei um passo em direção ao meu misterioso companheiro. — E é natural estudar alguém em quem você não confia totalmente.

Haedrig apenas acenou com a cabeça, seus olhos encontrando os meus, sua sobrancelha baixada pensativamente, mas com o mais leve indício de um sorriso em seus lábios.

— Ele é um pouco estranho, não é? Não o nosso tipo de estranho, mas ainda estranho. — Regis ponderou.

— Ele é peculiar. — concordei. — Mas ele não parece ter más intenções, pelo que posso dizer.

Continuamos nossa busca, indo de barraca em barraca enquanto Haedrig fazia algumas perguntas aos ascendentes diretores e eu ouvia. Havia muitos ascendentes mais velhos e fracassados que me lembravam Alaric, embora não tão descaradamente bêbados. Alguns dos diretores pareceram levar isso para o lado pessoal, como se fosse um golpe para o orgulho deles não estarmos os adorando imediatamente, mas a maioria foi genuinamente gentil e bastante paciente conosco.

Isso tornava ainda mais frustrante que Haedrig ainda não tivesse encontrado ninguém que considerasse adequado. No momento em que rodamos as duas fileiras inteiras de barracas, eu mesmo estava prestes a apenas escolher um dos ascendentes diretores que conversamos quando Haedrig parou no meio do caminho, fazendo-me quase esbarrar nele.

— Qual é o problema? — perguntei, tentando seguir sua linha de visão através da multidão, mas havia muito barulho e comoção.

Sem dizer uma palavra, disparou, ziguezagueando por entre a multidão de ascendentes sinuosos de volta às equipes em busca de ascendentes experientes. O segui, surpreso com a forte reação dele.

No momento em que o alcancei, o ascendente de cabelos verdes estava conversando com um homem de constituição heroica vestido em um impressionante traje escuro de armadura debruada de ouro adornada com um brasão em forma de coroa. Com longos cabelos loiros arrumados atrás dos ombros e uma expressão que irradiava confiança, pude ver por que ele chamou a atenção de Haedrig. Parecia estar refletindo sobre algo que Haedrig acabara de dizer, mas um jovem musculoso em um uniforme enfeitado com a mesma coroa irrompeu entre eles.

— Irmão! Você disse que procurávamos um Escudo experiente. Não precisamos de outro atacante, muito menos um com bagagem.

— Não é o garoto que estava olhando para você no edifício ascendente em Aramoor? — Perguntou Regis.

— Acho que sim.

— Não era na verdade meu irmãozinho superprotetor que queria encontrar um escudo? — O ascendente de armadura respondeu com diversão. — Eu não posso acreditar que você não confia em mim o suficiente para cuidar dos meus próprios irmãos.

— Sim, você está se preocupando demais, Ezra! — A falante, uma de duas garotas, ambas usando uniformes semelhantes aos do garoto, tinha o mesmo cabelo loiro de nosso potencial diretor. Percebi então que reconheci ela e a sua amiga; elas estavam com o grupo de alunos esperando para fazer sua avaliação.

— Você sabe que o Irmão já fez pelo menos uma dúzia de ascensões. E, além disso, este ascendente parece ser experiente também.

— E o seu pobre irmão mais velho ganha um pouco de dinheiro extra. — disse o ascendente de armadura com uma piscadela.

— É impróprio para um membro de nosso sangue dizer coisas assim. — disse o garoto de uniforme, Ezra, com um estalo de língua.

Sorrindo fracamente, Haedrig se virou e examinou a massa de pessoas até que me avistou.

— Grey! Aqui! — disse, levantando o braço.

Os olhos dos dois garotos se arregalaram de surpresa quando me viram se aproximando, enquanto a sobrancelha de Ezra franziu agressivamente.

O irmão mais velho deles apenas olhou para os três confuso.

Fui até o lado de Haedrig e olhei para ele em busca de algumas respostas.

— Kalon, este é Grey, meu amigo que precisa fazer sua ascensão preliminar. — Haedrig disse, apontando para o ascendente de armadura. — Grey, este é Kalon do Sangue Granbehl. Ele concordou em nos levar junto.

— Então você está familiarizado com o meu sangue. — Kalon disse com um aceno de cabeça.

— Sangue Granbehl é um distinto Sangue Nomeado procedente do Domínio de Vechor. — Haedrig me explicou.

— De Vechor? — repeti, me perguntando por que eu tinha visto os alunos em Aramoor, que ficava do outro lado do continente.

Kalon se virou para mim.

— Prazer em conhece-lo, Grey. Como seu amigo mencionou, sou Kalon Granbehl e esses dois jovens ascendentes de cabelos louros são meus irmãos mais novos, Ada e Ezra.

— E eu sou Riah do Sangue Faline. — a alegre amiga de cabelo curto disse sem perder o ritmo. — Que coincidência estarmos todos nos vendo novamente tão cedo!

— Novamente? — Kalon perguntou, sua cabeça virando de mim para Riah. — Vocês todos já se encontraram antes?

— Eu acho que nós nos vimos brevemente lá no edifício ascendente na Cidade de Aramoor. — expliquei. — Obrigado por concordarem em nos levarem com vocês.

— Ah, não é nada! Meu irmão já fez bastante disso, considerando que ele é um instrutor. — Ada respondeu avidamente, balançando sua cabeça enquanto Kalon o olhava com um sorriso malicioso.

— É melhor você não nos atrasar. Mesmo que seja só uma ascensão preliminar, as Relictombs são perigosas. — Erza avisou, dando um passo à frente e me avaliando.

Ele era aproximadamente da minha altura, mas sua estrutura era muito mais larga e robusta que a minha.

Batendo nas costas de Erza, Kalon disse:

— Você não está mais na escola, irmãozinho. Seja cuidadoso, o menino bonito pode até ser mais forte que você. — Kalon me olhou conforme dizia isso, o sorriso jovial escapando de seu rosto por um momento.

— Um wogart sem treinamento de academia? Duvido disso. — Erza retrucou antes de se virar.

Se livrando de qualquer pensamento que o tivesse pego, Kalon me deu um sorriso amigável.

— Não se importe com ele, apenas fica um pouco protetor perto da nossa preciosa irmãzinha.

— Irmão! Ada bufou, suas bochechas tornando-se vermelhas. — Riah riu e deu uma cotovela em sua amiga.

— De qualquer forma, estou preso tendo que levar as crianças para suas preliminares mesmo, então você está apenas fazendo a viagem um pouco mais lucrativa para mim. — Kalon disse com um sorriso. — No entanto, não se preocupe. Eu ainda irei mantê-los seguros!

— Obrigado de novo, respondi com um leve sorriso.

Não precisava de percepção de mana para dizer que, apesar da atitude agradável de Kalon, ele era forte. Pela forma que me observou através daquele olhar plácido, sabia que eu também era forte.

— Vamos partir? — Haedrig perguntou, olhando para os alunos uniformizados. — Ou vocês três precisam colocar sua armadura primeiro?

— Não é necessário. — Ezra respondeu secamente, envolvendo seu corpo em mana.

Momentos depois, um conjunto completo de armadura prateada se materializou ao redor do corpo de Ezra junto com uma lança carmesim brilhante inscrita com fracas runas douradas.

— Você deveria ter visto como ele ficou feliz quando nosso pai lhe deu isso como presente de formatura. — Kalon balançou as sobrancelhas com um sorriso, forçando Ada a reprimir uma risadinha surpresa.

Ezra lançou a seu irmão mais velho um olhar ameaçador, e seu pescoço e mandíbulas ficaram vermelhos de vergonha.

Riah também tinha seu próprio conjunto de armadura materializantes, embora feita de couro e cota de malha, projetada para velocidade e flexibilidade. Ela empunhava uma arma única, uma adaga com uma lâmina larga em forma de leque presa por um cabo incrustado com pequenas pedras preciosas.

A Granbehl caçula usava luxuosas vestes de mago em um verde suave, forrado por dentro com fileiras de runas enquanto as laterais eram cortadas para aumentar o movimento. O acabamento era dourado, como a armadura de Kalon, e tinha o brasão da mesma coroa, provavelmente significando o brasão de seu sangue. Ela não tinha varinha ou cajado; em vez disso, todos os dez dedos dela tinham um anel interligado por uma pequena corrente presa a uma pulseira prata em seus pulsos, que estava incrustada com uma única gema rosa.

— Essas armaduras que aparecem magicas parecem úteis. — mencionei a Haedrig.

— Elas são. — o ascendente de cabelo verde respondeu enquanto conduzia nosso agora completo grupo para longe das fileiras de barracas.

— Elas também são ridiculamente caras. — acrescentou Kalon. — Mas é um símbolo de riqueza e poder, e meu pai adora isso.

Eu apenas balancei a cabeça, sem surpresa.

— Então, Grey. — Riah se aproximou de mim enquanto nosso grupo saía da praça, chamando minha atenção por alguns instantes, em seguida, desviando o olhar. — Estou curiosa para saber qual foi sua pontuação na avaliação.

Ada se aproximou e até mesmo Ezra diminuiu o ritmo, inclinando a cabeça em nossa direção para ouvir.

— Acho que, além de “flexibilidade de magia ofensiva”, tive uma pontuação acima da média. — respondi.

— Oh! Isso não é ruim! — Kalon entrou na conversa, olhando para nós por cima do ombro. — É difícil conseguir uma boa pontuação em flexibilidade, a menos que você tenha runas de elementos diferentes, então não se culpe por isso.

Ezra zombou.

— Nem mesmo uma pontuação “excepcional”?

— Outro wogart que precisa ser humilhado. — disse Regis com um suspiro.

— Ezra, o que mamãe disse sobre ser arrogante? — Ada repreendeu.

— É! — Riah também me defendeu. — E quem foi que ficou abaixo da média em sua pontuação de “acuidade mental” outra vez?

— Cala a boca! — Ezra ladrou, desta vez vermelho até as orelhas.

— Acalmem-se, crianças. — Kalon repreendeu suavemente. — Vocês estão deixando nossos dois novos membros desconfortáveis.

Ezra revirou os olhos, mas não disse nada. As meninas trocaram um olhar rápido e esconderam o riso nas costas dele. Haedrig, por outro lado, ficava mais quieto e sério quanto mais perto chegávamos de nosso destino.

— Estamos quase lá! — Riah disse animadamente, apontando para o arco gigante de três andares com uma luz branca dourada brilhando no centro.

Um amplo terraço separava a movimentada praça do portal. Várias outras estradas se abriram para o terraço, e um fluxo constante de ascendentes passava.

O terraço em si era cercado por paredes brancas, cada rua entrando sob uma cópia em miniatura do arco do portal. Banners com brasões eram exibidos com orgulho, pendurados nas paredes ao redor do terraço.

— Os brasões dos sangues que possuem casas nas Propriedades Summit. — Ada disse, seguindo meu olhar.

Os ascendentes amontoavam-se em grupos por todo o terraço. Um grupo parecia estar orando, cada um deles sentado com as pernas cruzadas em uma linha de frente para o portal, com seus olhos fechados e seus lábios movendo-se silenciosamente. Outra equipe estava discutindo sobre como dividir seus elogios, suas vozes elevadas atravessando o barulho das conversas e dos pesados pés com botas.

Não havia filas; entretanto, o enorme tamanho do portal poderia acomodar qualquer número de ascendentes ao mesmo tempo.

— Me pergunto em que tipo de zona vamos parar! — Ada se perguntou em voz alta, seus vívidos olhos verdes iluminando-se de excitação enquanto olhava para o portal branco dourado.

Ezra ficou com o rosto impassível e resoluto, quase, mas não totalmente, parecendo uma fração do guerreiro estoico prestes a embarcar em uma busca épica. O leve tremor de sua mão na haste de sua lança, e a maneira como continuava tendo que reorganizar suas características faciais, o denunciou.

— Você está bem? — Perguntei a Haedrig, que estava em silêncio desde que saímos da praça.

Ele olhou para cima, as sobrancelhas levantadas e a boca parcialmente aberta como se estivesse surpreso em me encontrar ao lado dele.

— Sim, estou bem… — A voz de Haedrig falhou, fazendo-o parar e pigarrear. — Estou bem. — repetiu.

Assenti em resposta, mas poderia dizer que ele estava nervoso com alguma coisa. Havia retirado seu sabre longo e fino de seu anel dimensional e estava constantemente mexendo com ele enquanto nos aproximávamos do arco de pedra e magia.

— Espere! — Kalon exclamou abruptamente. — Eu disse à mamãe que tiraria uma foto de vocês três antes de partirmos em nossa ascensão!

Ezra soltou um gemido, mas Riah prendeu o braço no dele e o puxou para Ada, que alegremente pegou o outro braço de Riah. Os três estavam na frente do portão, o portal ondulando suavemente atrás deles.

— Perfeito! — Kalon gritou depois de dar vários passos para trás. Se agachou no chão e acionou um botão no grande artefato de metal e vidro que estava segurando.

— Vocês dois querem se juntar também? — Kalon perguntou.

— Sim! Juntem-se a nós! — Riah disse, seus olhos brilhando. — Grey pode ficar ao lado de Ada!

— Está tudo bem. — disse educadamente. — Mas eu posso tirar uma foto de vocês quatro.

— Você pode? — Kalon me entregou o artefato, o qual era do tamanho da minha cabeça. — Apenas aponte esta parte para nós, coloque um pouco de mana no artefato e ligue o interruptor!

— Bem, o tiro saiu pela culatra. — comentou Regis. — Como você vai fazer isso funcionar se você não tem mana alguma?

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Kalon já havia fugido para fazer uma pose exagerada ao lado de seus irmãos e Riah, que riu de suas travessuras. Até Ezra tinha uma expressão divertida ao observar seu irmão.

— Você precisa de ajuda? — Haedrig perguntou, caminhando em minha direção.

— Eu… hum… nunca realmente trabalhei com um desses artefatos antes. — disse. — Você se importa em pegá-lo? — estendi o dispositivo para ele. — Não quero tirar uma foto ruim. — terminei sem muita convicção.

Haedrig olhou para mim por um momento, mas tirou o artefato de minhas mãos.

— Prontos? — perguntou, apontando o artefato para o sangue Granbehl e sua amiga.

— Prontos! — responderam em uníssono. Ada e Riah fizeram poses fofas enquanto Ezra erguia o queixo e agarrava a lança com as duas mãos. Kalon decidiu apenas cruzar os braços e revelar um sorriso largo e confiante.

Foi um sentimento agridoce assistir a família feliz comemorar o que parecia quase um rito de passagem para seu sangue.

— É uma bela foto. — disse Haedrig, olhando para longe.

— O portão? — Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça, um traço de tristeza em seu rosto estóico.

— A família. Você pode dizer que eles cresceram sendo amados.

— Sim. — concordei. — Um pouco barulhentos, mas todos parecem boas pessoas.

— E Kalon Granbehl é um ascendente muito capaz. Ele é uma das estrelas em ascensão entre os ascendentes. — Haedrig disse, sua voz baixando para quase um sussurro. — Vamos torcer para que ele seja forte o suficiente para nos ajudar nesta ascensão, certo, Grey?