Raviel quis suspirar, mas parou no meio do caminho e, em vez disso, acariciou minha orelha, não querendo me mostrar o quanto estava triste.
— Você sempre me força a tomar decisões difíceis, meu amor. Entendo que vale a pena. Se eu fosse você agora, tomaria a mesma decisão. Ainda assim, meu coração não me permite dizer sim tão facilmente.
É claro que, se eu fosse Raviel, também hesitaria em concordar.
Ela olhou para Ja Su-Jeong, que estava de costas para nós.
— Você está preparado para convencer essa garota? Basta um olhar para perceber que ela é muito teimosa. Na verdade, é a própria personificação da força de vontade.
Para os outros, o cabelo prateado de Raviel parecia preto, e a pele verde de Uburka parecia da cor de um pêssego, porque suas aparências haviam sido alteradas. No entanto, Ja Su-Jeong era uma exceção. Aos olhos dela, Raviel e Uburka pareciam como sempre foram.
— Ela nem piscou quando nos viu, a mim e ao Uburka, há dois dias. Esse é o tipo de pessoa que ela é. Não acho que vai simplesmente te matar só porque você pedir.
Eu não compartilhava da mesma opinião de Raviel.
— Tenho sua permissão para isso?
— Sim, desde que você morra na minha frente.
Olhei nos olhos dela.
— Você tem minha permissão se morrer na minha frente — repetiu ela.
Assenti.
— Eu vou.

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Ja Su-Jeong se aproximou carregando uma bandeja.
— Todos, por favor, comam.
Uburka trouxe as tigelas. O cardápio de hoje era macarrão frio com frango. Havia um rolo de macarrão em cada tigela, cercado por cubos de gelo.
— Obrigado pela comida — dei uma mordida no frango e engoli junto com um pouco de caldo. O caldo fresco e picante de kimchi de rabanete encheu minha boca. — Wow, está delicioso. Muito bom mesmo. Você é uma excelente cozinheira.
— Está quente hoje, então o macarrão chogye pareceu uma boa ideia — respondeu Ja Su-Jeong. — A joia que Raviel me deu era cara, então acho que a comida na mesa não será tão ruim por um tempo.
Raviel riu.
— Fico feliz.
Dois dias atrás, Raviel havia dado a Ja Su-Jeong uma esmeralda por permitir que nós três ficássemos em sua casa. Até para mim, que não entendia nada de joias, ela parecia incrivelmente valiosa.
No início, Ja Su-Jeong recusou, dizendo que era demais, mas Raviel respondeu:
“Eu decido se é demais. Você vai tratar seu convidado como um mendigo?”
Foi quando Ja Su-Jeong finalmente cedeu.
Raviel era, de fato, a Duquesa de Ivansia, chefe da família mais rica do Império. E eu, por acaso, também fazia parte dessa família.
Hehehehehehehe.
— Paizinho, você está com uma cara muito convencida. Pode parar de rir como bobo enquanto come? Está me envergonhando.
Mudei de assunto.
— O que você fez com a joia? Não deve ter sido fácil trocá-la por dinheiro sendo estudante.
— Conheço uma colega de classe chamada Lee Mi-Ho. Ela é a terceira herdeira de uma empresa que lida com o mercado secundário e construções. O CEO também é o líder da comunidade local, então pedi a ajuda dela.
— O quê?
Líder da comunidade local, mercado secundário, construções…
Isso é vocabulário de gângster!
Ela pediu a uma colega de uma família de gângsteres para vender a joia?
Sério?
Olhei para Ja Su-Jeong, que comia seu macarrão tranquilamente. Ela parecia impassível. Não tinha certeza de que tipo de pessoa ela era por trás dessa atitude sem emoção, mas podia garantir que não era comum.
Ja Su-Jeong inclinou a cabeça.
— Algo errado?
— Uh. Ah, não, nada. Só achei que você tem amigos interessantes… Na verdade, está mesmo confortável em me contar tudo isso? Tecnicamente, sou um estranho.
Ja Su-Jeong respondeu simplesmente:
— Sim. Você me perguntou, então eu respondi.
Hmm.
— Só para esclarecer. Você não respondeu minha pergunta por eu ser especial. É apenas porque lhe fizeram uma pergunta, e você acha que é certo respondê-la.
— Sim, está correto.
Fechei a boca, lembrando da impressão que ela me causou há dois dias.
Ela não tem limites.
Até agora, ela havia respondido a todas as perguntas e atendido a tudo o que pedimos. Nem uma vez disse não. Mesmo quando disse que queria falar com ela e quando perguntei se Uburka e Raviel poderiam ficar no hanok, Ja Su-Jeong simplesmente disse sim sem hesitar.
Após o jantar, decidi testar minha teoria.
— Humm, senhorita Su-Jeong. Desculpe, mas posso te pedir um favor?
— Sim, se eu puder ajudar.
— Por favor, levante-se e sente-se na mesa.
A cabeça de Ja Su-Jeong inclinou-se ligeiramente, seu cabelo loiro caindo para o lado.
— A mesa não é lugar para sentar, senhor Gong-Ja.
— Sim, vou tomar nota disso, mas, por favor, só dessa vez.
Ja Su-Jeong subiu lentamente na mesa e sentou-se. Raviel, que observava a cena, franziu as sobrancelhas. Os olhos de Uburka se arregalaram.
— Hmm.
— Uger?
Eu tinha a forte sensação de que minha teoria estava correta. Mais uma vez, perguntei:
— Você poderia colocar a mão na minha cabeça?
— Sim. — Ja Su-Jeong fez como pedido.
— Tenho um desejo especial para esta noite. Gostaria de comer espetinhos de frango como lanche noturno. Por favor, prepare isso para mim.
— Senhor Gong-Ja, me usar por ser útil pode ter um impacto negativo em você no futuro. E lanches noturnos são prejudiciais à saúde. Acredito que você não está com fome. Está apenas fazendo esses pedidos para entender meu comportamento.
— Sim, é verdade, então, por favor.
Ja Su-Jeong assentiu e foi pegar uma sacola de compras. Ela realmente ia sair de casa para comprar os ingredientes para os espetinhos de frango.
Raviel agarrou o ombro de Ja Su-Jeong. Ela precisava intervir.
— Espere um momento. Senhorita Ja Su-Jeong, duvido muito que seja o caso, mas você ajudaria estranhos na rua se eles pedissem para você segui-los?
Ja Su-Jeong respondeu prontamente:
— Sim, se eu puder ajudá-los.
— Este pode ser um exemplo extremo, mas e se o estranho pedisse para você ser mantida em uma instalação isolada por um ano?
— Sim, se isso os ajudasse.
Raviel franziu os lábios. Após um tempo, murmurou:
— Entendo. Isso… é perigoso.
Ela e eu nos entreolhamos. Assenti para ela.
— Sim, é perigoso, Raviel.
— Por ser inteligente, ela consegue perceber a sinceridade e as verdadeiras intenções das pessoas. É assim que ela entende as intenções dos outros. Por isso, nunca recusa quando alguém faz um pedido genuíno. Não, é mais correto dizer que ela não consegue dizer não.
Raviel franziu a testa.
— A conversa agora me convenceu de algo. Como você disse, ela é a mestra da Torre, Gong-Ja. Pelo menos, ela não é um ser humano que nasceu e cresceu de maneira comum.
— Sim, a personalidade dela parece mais escrita do que desenvolvida.
Como uma IA que segue seu roteiro, ela simplesmente atendia aos pedidos das pessoas.
Me ajoelhei na frente da garotinha loira. Só então nossos olhos ficaram no mesmo nível. Ja Su-Jeong me encarou, ainda segurando a sacola de compras.
— Senhorita Ja Su-Jeong, sou de outro mundo. Raviel e Uburka também são viajantes de outros mundos.
— Entendo.
Mesmo após ouvir afirmações aparentemente absurdas, o rosto de Ja Su-Jeong permaneceu impassível. Ela apenas assentiu, como se já esperasse por isso.
Tirei uma carta dourada.
— Abrir Carta de Habilidade.
Relógio do Retornador
Classe: EX
Efeito: Ativada automaticamente após sua morte. Você retornará vinte e quatro horas antes da sua morte. Suas memórias e habilidades serão preservadas mesmo após o retorno.
※ Você receberá uma penalidade após a ativação da Habilidade.
※ Quanto maior sua Classe, mais forte será a penalidade.
※ Esta Habilidade foi copiada do Caçador Yoo Soo-Ha.
Mostrei minha carta de trunfo como prova.
— No meu mundo, habilidades existem. Com elas, é possível teleportar e retroceder o tempo. Como pode ver, esta habilidade retrocede o tempo se eu morrer. Ao mostrar esta habilidade, gostaria de te pedir um favor. Por favor, me mate.
— Por quê?
Olhei diretamente nos olhos de Ja Su-Jeong.
— Acredito que você é a deusa que governa nossos mundos. Nossa deusa planta um terminal em cada mundo. A pessoa que viveu a vida mais infeliz naquele mundo se torna candidata a terminal.
— Está dizendo que eu sou esse terminal?
— Sim.
Comecei a contar minhas histórias. Como cheguei à Torre. A história do diretor do orfanato e Kim Yul. O que passei na Torre. Como conheci a Mestra e Raviel. Usei minhas experiências de vida como prova.
Minha história continuou por mais de uma hora e meia, mas Ja Su-Jeong apenas me encarou nos olhos o tempo todo. Quando terminei, esperei por sua resposta.
— De acordo com suas histórias, há uma boa possibilidade de que eu seja o terminal da mestra da Torre. A ideia de usar uma contradição para trazer a mestra da Torre e descobrir a verdade também faz sentido.
Ja Su-Jeong estendeu a mão, seus dedos finos cuidadosamente penteando meu cabelo.
— Você é uma pessoa esforçada, senhor Gong-Ja. Não faz muito tempo, o sunbae Kim Yul desapareceu de repente.
Não soube o que dizer.
Ja Su-Jeong continuou penteando meu cabelo.
— Não apenas ele, mas muitos outros que o intimidavam também desapareceram. Ninguém notou os desaparecimentos, exceto eu. Achei que era um evento incomum, mas faz sentido considerando suas histórias. Se você encontrar a mestra da Torre, ficaria feliz se pudesse transmitir uma mensagem minha a ela.
— Que mensagem você quer que eu entregue?
— Que estou feliz — disse Ja Su-Jeong em voz baixa.
Aquilo me deixou um pouco atordoado.
— Amo esta cidade, as crianças que vivem nela, as cigarras que cantam no verão e o som do rádio escapando pela janela antiga do meu vizinho.
E então percebi onde eu havia errado. A garota à minha frente não era, de forma alguma, uma IA. Não era por falta de emoções que ela dizia sim a todos. Era apenas…
Ela nos vê como seus filhos.
Ela via todos como crianças que precisava cuidar, até mesmo os monstros misteriosos dormindo no armazém. Apesar da forma como eu falava com ela, eu ainda era seu filho. Ela apontava meus erros e me repreendia gentilmente, mas não negava meu último pedido. Em resumo, ela era como uma mãe.
— Então, diga à mestra da Torre para não se preocupar comigo.
Assenti.
— Sim, com certeza vou transmitir.
— Por favor, me dê uma faca.
Entreguei a adaga que estava na minha cintura. Ja Su-Jeong a balançou algumas vezes. Parecia que logo pegou o jeito. Eventualmente, ela apontou a adaga para mim.
Raviel me observava em silêncio.
— Senhor Gong-Ja, sou fraca, então talvez não consiga te matar com um único golpe.
— Estou pronto. Não é minha primeira vez…
— Peço desculpas antecipadamente se te fizer sofrer.
Antes que eu pudesse terminar, senti o metal frio cortando minha garganta.
Uh?
Minha visão se partiu como uma janela quebrada. A dor se espalhou pelas rachaduras. Não pude evitar sentir irritação.
O quê? Sim, eu pedi para ela me matar. Ainda assim, ela é uma estudante. Como pode cortar minha garganta sem hesitar nem um pouco…
Cambaleei. Se não estava enganado, Ja Su-Jeong balançou a adaga mais uma vez.
Sério?
Enquanto minha visão se despedaçava, pude ver seu rosto ainda sem expressão.
Seus lábios se moveram. Ela disse:
— Que a sorte esteja com você.
Apaguei enquanto o anúncio da minha morte era feito.
[Você morreu.]
[Sua Classe de Caçador é B.]
…
[Recriando o trauma do seu assassino.]
[Extraindo os novos dados necessários do proprietário original…]
…
[Falhou.]
[Os dados não podem ser recuperados.]
[Solicitando os dados necessários de Zrakua…]
[A solicitação foi negada.]
[Falhou.]
…
[Não foi possível recriar o trauma.]
[Solicitando aprovação de Zrakua.]
[Falhou.]
[A solicitação foi negada.]
[O problema não está na agenda de Zrakua.]
…
[Incapaz de responder.]
[O Mestre de Toda a Vida apareceu.]
Alguém claramente não humano agarrou meu queixo com força.
— Meu Deus, não acredito em você.
Sua voz parecia seda vermelha embebida em suco de pêssego por dias e espremida com força, sua água doce espirrando em todas as direções.
— É verdade que gosto de semear coincidências na primavera e colhê-las no outono, mas realmente não esperava por isso.
Também lembrava o som de cem víboras esticando suas línguas bifurcadas finas nos meus canais auditivos.
— Você ousou tentar espiar meu passado.
Abri os olhos. Na escuridão, uma garota sorria para mim. Ela parecia exatamente com Ja Su-Jeong, que havia acariciado minha cabeça no velho hanok momentos atrás, exceto por algo que estava diferente.
— Primeiro, deixei você me persuadir com lógica. Depois, fingi ignorância por causa dos seus elogios. Na terceira vez, mostrei um favor pela sua coragem. Foi uma escolha tola.
Seus olhos…
— Hoje é a quarta vez que você manipulou uma brecha. Esse também é meu erro.
O Mestre de Toda a Vida tinha olhos roxos.
— Mesmo assim, isso não torna uma curva reta, nem a trapaça um método ortodoxo. Rei da Morte, você fez algo muito interessante.
Roxo era uma cor escura que não refletia bem a luz. Ainda assim, seus olhos roxos eram claros mesmo na escuridão. Eles carregavam um brilho que iluminava o coração de uma pessoa, não seu rosto.
— Como devo te ensinar uma lição, seu pequeno ousado?
Não respondi.
— Não recomendo ficar de boca fechada. Quando você descobrir o quanto posso te atormentar, perceberá que não há nada mais tolo do que ficar calado. Por que não me responde?
Sorri.
— É um prazer conhecê-la oficialmente, Mestra da Torre.
Finalmente, vi o rosto do ser que criou esta Torre.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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