— Ha! — A Mestra riu. — Haahahaha! Haha!
Seu nariz quebrado pingava sangue na neve. A Mestra balançou o punho. Seu gancho acertou o queixo do líder da Aliança Murim em cheio, o fazendo cambalear. A Mestra não perdeu a oportunidade e avançou sobre ele, arrancando sua orelha com uma mordida.
— Ugh! Gah…! Grr! Argh…! Sua desgraçada…! — O líder da Aliança Murim empurrou a Mestra para longe, mas sua orelha já havia sumido. Seu grito abafado ecoou pelo campo de neve.
A Mestra cuspiu a orelha ensanguentada na neve. Os cantos de sua boca estavam manchados de vermelho vivo. Ela sorriu satisfeita com o resultado de sua caçada, parecendo um verdadeiro demônio sedento por sangue.
— Credo! Que gosto horrível! As elevadas artes mentais do Clã Namgung não ajudam a melhorar a qualidade da sua carne?
— Sua demônio, agora você até gosta de carne humana? Já sei que você é um demônio, não precisa provar de novo!
— E você tem toda a energia de um espinafre murcho, velho. Mas você tem um bom ponto. — A Mestra limpou a boca com as costas da mão. — A Grande Guerra do Bem e do Mal deveria ter terminado no primeiro dia, mas tanto você quanto eu recuamos naquele dia. Pensei que estava lutando com tudo o que tinha, mas não estava. Não coloquei minha vida em jogo! A luta de hoje é a segunda chance que eu nunca teria conseguido.
A Mestra olhou para mim. Seus olhos escuros estavam cheios de um afeto caloroso e gentil.
— Não posso repetir o mesmo erro tolamente. Buwolseon, vou colocar tudo nesta luta hoje.
— …Você está tentando usar sua força vital?
— Sim, estou.
A força vital era a energia que todos obtinham ao nascer. Em outras palavras, era a própria vitalidade. Diferentemente do qi, a força vital não podia ser acumulada artificialmente. Não havia como recuperá-la após ser usada.
O destino de um artista marcial era decidido assim que usava sua vitalidade: ou morria, ou ficava acamado pelo resto da vida. Usar a força vital era o último recurso dos artistas marciais, feito apenas quando lutavam com as costas contra a parede.
— …Demônio, você e eu estamos fracos agora, de qualquer forma — disse o líder da Aliança Murim. A perda de uma orelha tornava sua expressão ameaçadora. — Mesmo que usemos nossa força vital, só podemos demonstrar habilidades de nível baixo ou intermediário, já que não temos qi nem nossos dantians… Você percebe isso?
— Estou ciente.
— Você está tentando extrair sua força vital só para ser, no melhor caso, uma artista marcial de nível intermediário?
— Sim, estou. — A Mestra sorriu. — Não fique bravo, Namgung Woon. Não estou tentando jogar minha vida fora. De forma alguma. Meu último dia chegará algum dia, só espero que hoje seja esse dia.
“Não poderia estar mais feliz por estar viva agora. Serei eternamente grata. Sou grata a mim mesma por sobreviver até hoje, e quero expressar minha gratidão por esse destino que me permitirá morrer hoje.”
— Você ainda está grata mesmo com o mundo perecendo?
— Sim, estou. Sou grata por todas aquelas pessoas que meu destino trouxe para mim. — A Mestra assumiu sua postura lentamente, colocando a mão direita à frente e a esquerda atrás. — Agora que olho para trás, acredito que sou uma guerreira verdadeiramente feliz.
Um vento frio soprou, mas não vinha do céu. Pequenos vórtices giravam ao redor da Mestra e se espalhavam para fora enquanto ela liberava sua força vital.
— …Entendo. Então chegou a isso. — O líder da Aliança Murim sentiu o vento em seu rosto. — Na verdade, também estive desejando um dia como este.
Um vento contrário afastou o vento existente.
— Vamos morrer juntos, Demônio Celestial.
Os dois avançaram um contra o outro.
Eu vi duas vidas fluindo pelo campo de neve. A Mestra desviou a mão do líder da Aliança Murim. Ele colocou o pé debaixo do dela. Enquanto seus braços e passadas se cruzavam, eles queimavam sua energia vital, deixando suas vidas escaparem.
A Mestra acertou a cintura do líder da Aliança Murim. O vento soprava onde quer que os dois golpeassem, derretendo a neve além de seus punhos. Suas vidas estavam derretendo a neve perpétua que nem o sol havia derrotado. O chão onde seus pés pisavam era lentamente exposto – a única parte do mundo livre da neve.
E isso não era tudo. Aos poucos, coisas que não eram brancas cresciam ao redor da batalha da Mestra e do líder da Aliança Murim. Eram ervas e grama. O resto da terra ainda estava congelado, mas uma nova estação começou ao redor de sua arena.
— Eles estão absorvendo a força vital, — afirmou o Guardião. — A força vital de mestres artistas marciais como eles é basicamente um banquete. Mesmo assim, só durará um momento.
Mesmo que fosse apenas por um momento, sua estação era bela. A terra absorvia a força vital que eles derramavam e brevemente retornava ao que era antes do inverno eterno.
Era agora uma floresta de flores de pessegueiro. Árvores de pêssego brotavam do chão e cresciam altas como se o tempo estivesse acelerado. Seus galhos se estendiam para o céu como uma mão agarrando algo.
Flores desabrochavam. Pelos espaços entre as pétalas vermelhas e os galhos como dedos, eu observava a Mestra e o líder da Aliança Murim se matarem. Quando as pétalas cobriam brevemente alguns de seus movimentos, sua luta parecia uma dança. Com duas vidas em jogo nesta luta, era também a luta da vida.
Quando as pétalas a decoravam, muitas coisas no mundo se tornavam esplêndidas, até mesmo sua sede de sangue e o espírito venenoso da Mestra.
—… Isso é raro — murmurou o Guardião.
Flores de pessegueiro vermelhas esvoaçavam pelo campo de neve.
— Talvez seja porque um deles nasceu com o Corpo Supremo Yin, e o outro com o Corpo Marcial Divino. Yin e yang estão em harmonia quase perfeita. A área ao redor deles já é um mundo diferente. …Nem eu vi uma visão tão incrível.
As flores de pessegueiro desabrochavam e caíam. A primavera chegava e depois passava novamente.
— Passo da Descida do Demônio Celestial. — A Mestra deu um passo.
Enquanto uma tempestade de neve soprava, as flores de pessegueiro se espalhavam.
O líder da Aliança Murim agarrou seu pulso e o torceu. A tempestade de neve parou, e as flores de pessegueiro estavam em plena floração novamente.
— Machado Amarelo Quebra-Céus.
O vento carregou uma pétala até meu ombro. Só então percebi que essas flores incomumente vermelhas eram o sangue da Mestra e do líder da Aliança Murim. Essas flores desabrochavam do último sangue que eles derramavam.
— …Eu te odeio — murmurou a Mestra.
O inverno estava sangrando.
— Odeio todos vocês.
Mestra.
— Odeio a Facção Justa, os Grandes Mestres e os Cinco Clãs. Eu os desprezo. Enquanto os humildes gritam, vocês todos estão felizes e nobres. No entanto, sua felicidade não é o que não posso perdoar. Absolutamente não é verdade.
Mestra.
Enquanto as flores de pessegueiro desabrochavam e caíam, as estações vinham e passavam. No entanto, as pétalas que desabrochavam eram cada vez menos, e as estações partiam mais cedo com o tempo.
— Até pessoas como vocês podem sentir dor, fazer caretas e dizer que suas vidas são dolorosas. Vocês também querem ser confortados, tentam confortar e agem como humanos. É por isso que eu odeio todos vocês.
A Mestra estava morrendo, as flores estavam caindo, e a estação estava partindo.
— Por que continuam a agir como animais com os outros e só tratam a si mesmos como humanos?
Inúmeras flores de pessegueiro escondiam as sombras da Mestra e do líder da Aliança Murim. Os galhos murchavam, e nenhuma nova flor de pessegueiro podia desabrochar mais. O vento soprava e cobria a terra com neve novamente. No meio das pétalas caídas, as duas pessoas permaneciam de pé.
Algo um pouco mais vermelho que o campo de flores caiu na neve… o sangue que o líder da Aliança Murim tossiu. O punho cerrado da Mestra estava contra seu peito. Ele cambaleou como se estivesse bêbado e desabou nas flores. Pétalas vermelhas voaram enquanto as flores o abraçavam.
A Mestra ficou imóvel.
— Mestra — chamei. Não recebi resposta. — Mestra.
Corri para ela para envolvê-la em meus braços. Ela estava fria como gelo.
— Mestra…
— Eu venci. — A voz da Mestra era clara, carregando o calor que seu corpo havia perdido. Mas era leve demais. Até seus dedos – tudo nela se tornou leve demais, como se tivesse envelhecido instantaneamente.
— Sim, você venceu. Você venceu.
— Eu deveria ter conseguido perfurar seu peito e arrancar seu coração. Só consegui acertar seu peito, sem perfurá-lo. Estou envergonhada de olhar nos seus olhos, meu discípulo.
— Não, você não deveria estar — balancei a cabeça.
— Sim, acho que pelo menos pareço melhor que você. Que expressão é essa que está fazendo?
Cuidadosamente deitei a Mestra, mas não retirei meus braços. Usei minha aura para segurá-la, mas seu corpo não aquecia de jeito nenhum. Até a mão que ela usou para acariciar minha bochecha era fria como gelo.
— Não se preocupe, meu discípulo. Ainda restam duas horas antes de eu morrer. Não é tempo suficiente para nos despedirmos?
Eu só tinha duas horas para ouvir sua voz e sua respiração.
— …E ainda assim você parece triste. — Os olhos da Mestra se encheram de tristeza. — Você é um discípulo problemático. Bem, na verdade, eu te causei problemas primeiro. Queria passar muito tempo te ensinando tudo, mas não posso fazer isso por causa da minha velha teimosia. Estou preocupada com o que deixei em seu coração e o que serei para você.
— Tenho medo de não ser nada para você. — Ela sussurrou. — Se eu pudesse ser lembrada como uma flor que desabrochou efemeramente, não desejaria mais nada…
Ela tossiu sangue.
— Senhor Rei da Morte!
O grito veio da Química. Ela e os outros Caçadores corriam em nossa direção. Parecia que haviam acabado de saber da Grande Guerra do Bem e do Mal no campo de neve.
— Senhor Rei da Morte, o-o que aconteceu…?
— Ei! Mestre! — Viper ficou surpreso ao encontrar o líder da Aliança Murim no chão. — Você tá bem? Ei, Mestre! Ei! Abra os olhos!
— Aquele velho está bem. — A Mestra tossiu. — Meu último soco foi leve. Depois de toda aquela conversa sobre como os céus estão com ele… Seu destino é passar o resto da vida na cama.
— R-resto da vida na cama? — A Química abriu e fechou a boca várias vezes antes de falar. — Nunca deixarei isso acontecer… D-de qualquer forma, não há tempo para isso! Vocês dois precisam de tratamento!
— Estou bem. Cuide do velho.
— Mas…!
— Conheço minha condição melhor que ninguém. Não tem nada que você possa fazer — disse a Mestra. — E gostaria de passar meus últimos momentos com meu único discípulo direto. Criança, pode nos dar um momento a sós?
A Química era tanto farmacêutica quanto médica. Ela se aproximou e sentiu o pulso da Mestra, ativando suas Habilidades para examinar a paciente. Seu rosto logo ficou sério.
— …Tenho alguns analgésicos. Você os quer?
— Está tudo bem. — A Mestra sorriu. — O vento de inverno é agradável. É refrescante. Quero aproveitar plenamente este vento antes de ir para o outro mundo.
A Química se levantou e fez uma reverência para a Mestra. O Rei da Medicina sinalizou para o grupo se afastar. Em pouco tempo, eles levaram o líder da Aliança Murim de volta para a caverna, sendo atenciosos comigo e com a Mestra.
— …Mestra.
— Agora… — A Mestra segurou minha mão. — Como devemos passar as próximas duas horas? Quer saber sobre minha infância? Gostaria de ouvir como é bela a montanha da sede do meu culto?
— Eu… — apertei a mão pequena da Mestra de volta.
A vida dela ainda não estava completa. Eu ainda precisava de uma peça do quebra-cabeça para criar o melhor e mais perfeito final com o qual ela ficaria completamente satisfeita.
— Tenho um favor a pedir.
— O que é? — perguntou a Mestra.
— Por favor, aceite meu desafio.
Os olhos da Mestra se arregalaram.
— Isso é inesperado. Admiro sua vontade de superar sua mestra, mas, como pode ver, não posso mais me mover. Gong-Ja, que bem te fará se me derrotar agora?
— Podemos ter uma luta onde não nos movemos.
— Hmm?
— Quero desafiá-la em uma Partida Verbal, Mestra.
— Uma Partida Verbal… — A Mestra repetiu, atônita.
Uma Partida Verbal era uma luta de palavras. Cada parte descreveria que tipo de ataques faria. Quando a outra parte contra-atacasse verbalmente, a primeira faria um contra-ataque. Portanto, não havia necessidade de mover braços ou pernas, e os participantes não precisavam de qi. Eles usavam apenas sua expertise em artes marciais, tornando-a uma demonstração perfeita de seu domínio das artes marciais.
Foi por isso que a Mestra riu baixinho.
— Meu discípulo parece ter ficado muito arrogante. Se lutarmos com nossos corpos, você sem dúvida vencerá, Gong-Ja. Mas você certamente perderá em uma Partida Verbal. Estarei livre para usar qualquer tipo de arte marcial como fazia no meu auge, então como você conseguirá me enfrentar quando tudo o que tem são algumas formas das Artes do Céu Demoníaco?
— Eu… — abri a boca. — Não acho que a luta que você teve antes com o líder da Aliança Murim foi a sua melhor. Você disse que deveria ter conseguido perfurar o peito dele e tomar seu coração… Mesmo que seja uma Partida Verbal, Mestra, quero que sua última luta seja a mais satisfatória que você já teve.
A melhor luta sem arrependimentos era o sonho de todos os artistas marciais.
— Você está dizendo que pode me dar esse tipo de luta, Gong-Ja?
— Sim, estou — respondi.
A Mestra parecia intrigada com minha sugestão. Será que ela achava que eu estava pedindo isso por imaturidade? Ela não parecia realmente acreditar que eu seria capaz de lhe dar tal luta.
— Tudo bem. Mas eu não pego leve nem em Partidas Verbais. Vou te deixar fazer o primeiro ataque, mas não me odeie muito se eu te terminar com um golpe.
— Não vou.
— Mostre à sua mestra os resultados do seu treinamento agora. — A Mestra sorriu levemente. Ela cheirava a flores de pessegueiro. — Após a partida, contarei minhas velhas histórias.
Olhei para o rosto da Mestra, e então meus olhos foram lentamente atraídos para o homem sentado à minha frente.
— Hmm. Finalmente é minha vez?
O Imperador da Espada era alguém que havia alcançado o topo em outro murim. Embora agora fosse um fantasma e não pudesse lutar fisicamente, ele seria capaz de participar de uma Partida Verbal com minha ajuda.
Sim, é hora de você cumprir a promessa que fizemos após você perder a aposta.
— Beleza. — O Guardião sorriu. Ele sentou no campo de neve com os braços cruzados. — Queria lutar com a líder do Culto Demoníaco daqui de qualquer jeito. Vou dar a ela a melhor partida. Diga a ela que a deixarei fazer três ataques primeiro.
Comigo entre eles, os absolutos de dois murim se enfrentavam.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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