O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 81 – O Menor do Mundo (1)

 

Murmúrios das pessoas ecoavam pelo campo de neve.

— O que está acontecendo?

— E-eu estou vivo…?

— Isso é o paraíso…?

A última coisa que eles lembravam era de sua própria morte, isso valia tanto para os seguidores do Culto do Demônio Celestial quanto para os guerreiros da Facção Justa. Eles podiam se lembrar de terem sido mordidos por jiangshi, mas provavelmente não se lembravam de terem se tornado um. Para eles, anos haviam passado em um piscar de olhos.

No entanto, havia pessoas que viveram todos esses três anos. A Mestra olhava incrédula para o campo de neve.

— Gong-Ja…

— Sim, Mestra.

— Você é de fora deste mundo, não do murim  exterior? Isso… Isso absolutamente não é o tipo de feitiçaria que um humano pode usar. Esse tipo de feitiçaria só aparece nas lendas mais fantásticas. Ou será que morri e cheguei ao paraíso sem perceber…?

— Não, não, você não morreu — balancei a cabeça. — Essas pessoas não podem mais usar artes marciais como você. Elas também estão muito mais fracas do que antes de sua morte. Isso não é o paraíso, mas elas ainda têm suas memórias da vida. Por que não vai verificar por si mesma? Vai lá, Mestra.

Os pés da Mestra pisavam suavemente na neve. Esses passos eram o som de uma artista marcial que restava apenas com as marcas de sua luta de três anos contra a doença, tendo perdido seu dantian e qi.

Com passos leves, a Demônio Celestial, minha mestra, se aproximou de seus seguidores, que lutavam para entender sua situação.

— Fiquem calmos! P-primeiro precisamos entender o que está acontecendo. Vou enviar batedores…!

— Capitão Sênior Demônio de Sangue — disse a Mestra suavemente.

Uma dúzia de demônios, assustados, ficaram em silêncio. Então, olharam para ela, sua mestra e líder, como se tivessem encontrado um alienígena.

— Senhora Demônio Celestial…?

— Capitão Sênior Demônio de Sangue. — A Mestra ofegou, sua respiração formando nuvens à sua frente. — É realmente você.

O silêncio era contagiante. No início, eram apenas cerca de dez pessoas, mas se espalhou para dezenas ao redor. Logo, centenas haviam entendido o clima. O campo de neve ficou silencioso.

— Rei Demônio do Luar…

— Sim, estou aqui.

— Rei Demônio do Fogo Fantasma.

— Sim, senhora Demônio Celestial.

— Capitão Sênior Demônio da Espada…

— Estou ao seu serviço.

A Mestra chamava cada um de seus seguidores, um por um. Os seguidores chamados simplesmente se ajoelhavam sem questionar, pressionando a neve sob seus joelhos.

— Eu os perdi… — A Mestra estendeu a mão. — Perdi cada um de vocês…

Ela acariciou a bochecha de um de seus seguidores. 

— Meus filhos…

Seus dedos tremiam. Vendo-a tremer, os demônios rapidamente desviaram o olhar. Parecia que não ver o que não deveriam era um sinal de lealdade. Todos os seus seguidores voltaram seus olhares para o chão.

Claro, eles não eram os únicos chocados.

— …Nossa. — O velho monge acariciou sua barba. — Tenho certeza de que fiz minha sepultura na caverna e atravessei o rio para o submundo, mas sinto como se ainda estivesse no campo de neve, não no nirvana…

— M-monge!

— …E também tem um demônio entre eles. Cara. Parece que estou destinado a ver essa pessoa mesmo após minha morte. O que o Buda Supremo está tentando me mostrar?

— É você, monge! Tão cheio de besteiras como sempre. — O líder da Aliança Murim correu e abraçou o velho monge com força.

Eu podia adivinhar quem era aquele velho monge… ele devia ser o abade do Templo Shaolin. Além da Mestra e do líder da Facção Justa, ele foi o que mais resistiu.

— Você voltou à vida, meu amigo! — gritou o líder da Aliança Murim.

— Não sou seu amigo.

— Ah! O Imperador de Jade deve ter nos abençoado com esse milagre!

— Você parece um cachorro comendo grama — resmungou o monge.

Em outras palavras, o líder da Aliança Murim estava falando bobagens.

— Não polua minha mente com suas besteiras. Eu não deveria ter caído na sua conversa e lutado contra aqueles monstros malignos em primeiro lugar. Teria sido melhor entrar no Nirvana silenciosamente no templo.

— Ahhhh! Sei que você é o monge que conheço porque a alegria de te encontrar novamente está morrendo rapidamente. Realmente quero te dar um soco na cara! — respondeu o líder da Aliança Murim com um sorriso.

Os seguidores do Culto do Demônio Celestial estavam quietos, enquanto os guerreiros da Facção Justa eram barulhentos. Cada um aproveitava a reunião à sua maneira.

O tempo passou. A primeira a voltar seus olhos escuros para mim foi a Mestra. Trocamos olhares. Meu coração estava sendo gravado no coração dela.

— Eu… — Ela começou. — Sou Soh Baekhyang, o céu do Culto do Demônio Celestial. Também sou conhecida como Demônio Celestial.

O líder da Aliança Murim pausou sua reunião com seus camaradas. Após soltá-los de seus braços, ele olhou através da neve para a Mestra. A Mestra fez a saudação bao quan.

— Se hoje é apenas o sonho de um cego, eu ainda estaria feliz.

Era meio-dia.

— Não me importaria mesmo que fosse uma alucinação — exclamou a Mestra, sua voz misturada com risos.

A neve que cobria o campo não era perpétua porque não derretia sob o sol, era eterna porque nova neve caía constantemente para substituir o que o sol derretia, repetidamente.

— Mesmo que o murim do Culto do Demônio Celestial fosse apenas um sonho passageiro. A vida pertence àqueles que decidiram sofrer da mesma doença, e o mundo é possuído por aqueles que prometeram compartilhar o mesmo sonho.

Quando um humano queria permanecer branco sob a luz ardente do sol, desejar nascer branco não era suficiente. Eles tinham que estar preparados para serem quebrados em pedaços, estilhaçados e espalhados, dispersando sua cor pelo mundo.

— Não esqueci o nome da doença que decidi sofrer, e o calor do sonho que prometi sonhar ainda permanece o mesmo. Ainda não desisti de ninguém ou de lugar algum. Whish! O nome da minha doença, não o das minhas artes marciais, é um testemunho da minha existência. O calor do meu sonho é minha prova, não meu qi.

Flocos de neve caíam sobre o campo.

— Estou bem aqui, e serei eu mesma apenas enquanto estiver aqui.

Eles derretiam, mas mais neve caía.

— Estou onde pertenço. Eu te desafio pela 990ª vez.

O campo ficou quieto. Até os guerreiros barulhentos da Facção Justa silenciaram.

Esses guerreiros eram os últimos mestres e grandes mestres do murim . Eles estavam lutando na grande guerra até encontrarem seu fim, então não havia como ousarem agir precipitadamente neste momento. Se as palavras escolhidas no último momento da vida fossem um testamento, era hora do Caminho Justo escrever seu testamento. Os seguidores do caminho olharam para aquele que carregaria sua vontade.

— Sou Namgung Woon, o líder da Aliança Marcial e o Grande Patriarca do Clã Namgung. — Ele fez a saudação bao quan para a Mestra. — Também sou conhecido como Buwolseon.

Mil demônios e mil guerreiros do Caminho Justo se enfrentavam.

— Seu Culto do Demônio Celestial fez dos gritos do povo comum sua doutrina. Os gritos se tornaram vingança, e essa vingança se tornou massacres que tingiram o mundo de vermelho. O mundo inteiro sangra, mas vocês, fantasmas vingativos e sedentos de sangue, ainda agem como fracos.

A voz do líder da Aliança Murim traçou uma linha nítida entre os demônios e os guerreiros brancos.

— Vocês só choram e choram, agarrando-se às mangas da Demônio Celestial. Imploram para que ela vingue vocês em seu lugar. É como se quisessem permanecer pessoas fracas e trágicas segurando as mangas dela!

— Não! — rugiu o velho líder da Facção Justa. — Todos vocês também têm mãos e pés. Até quando vão se apegar aos fantasmas do passado? Hwaeom¹Ele é um monge de Shilla, um antigo reino coreano. disse que até uma árvore precisa deixar suas flores caírem para dar frutos. E vocês? Vocês estão apenas empenhando seus jardins de flores!

Os demônios começaram a rosnar. Suas mãos apertaram suas espadas. Seus espíritos se tornaram venenosos e assassinos. Em resposta, os guerreiros da Facção Justa se irritaram. Nenhum dos lados tinha qi, mas a tensão era densa.

— Bom. — A Mestra sorriu. — Vou tomar isso como um sim.

— De fato.

— Devemos lutar até que um de nós esteja incapacitado ou morto?

— Lutaremos até que um de nós esteja morto.

— Aceito.

O líder da Aliança Murim assentiu.

Os dois artistas marciais terminaram sua saudação.

Ao mesmo tempo, mil demônios e outros mil guerreiros brancos sacaram suas espadas. Com o sol alto no céu, as duas mil lâminas brilhavam intensamente.

— Filhos do céu demoníaco! — A Mestra cerrou os punhos. — Vocês podem acreditar que hoje é apenas um sonho ou uma ilusão!

— Whish!  — todos os demônios gritaram juntos.

— Vocês podem chamar hoje de um sonho vazio!

— Whish!

— Então vivam como um sonho! — gritou a Mestra.

— Iwish!

— Nossos corações são velas!

— Incendiaremos este lugar! — entoaram seus seguidores.

— Este é o murim do Culto do Demônio Celestial!

— O mundo pertence aos humildes!

A Mestra explodiu em risos. 

— Matem eles!

A batalha começou. Os demônios correram, uivando como feras. Nenhuma arte de passos mágicos ou Arte da Leveza foi usada. Eles investiram contra o inimigo e os morderam como animais, lutando sua guerra santa de acordo com sua doutrina.

— Seus hipócritas! Eu sou o Rei Demônio do Luar, o mais forte dos Quatro Reis Demônios do Culto do Demônio Celestial! Enfrentem minha espada!

— Você parece ser meu adversário digno! Sou o grande mestre da Seita Wudang!

O Rei Demônio do Luar, capitão sênior da Unidade de Sombras Mortas do Culto do Demônio Celestial, e o Grande Mestre do Vazio Profundo da Seita Wudang cruzaram lâminas. Apesar da introdução formal, a luta era extremamente selvagem. O rei demônio acertou o cabo de sua espada no rosto do grão-mestre, espalhando fragmentos de dentes pelo ar.

O Grande Mestre do Vazio Profundo mostrou seus dentes quebrados e ensanguentados e rugiu enquanto enfiava os dedos nos olhos do Rei Demônio do Luar. O riso do rei demônio abafou o som de seus olhos explodindo.

Os uivos do grão-mestre e o riso do demônio se misturaram.

Outro demônio de preto e um guerreiro de branco se enfrentaram.

— Eu sou o Rei Demônio do Fogo Fantasma, o mais forte dos Quatro Reis Demônios. Estou aqui para tomar sua cabeça.

— Namo Amitabha. Meu nome é Jomyeong.

O Rei Demônio do Fogo Fantasma, capitão sênior da Unidade Réquiem do Culto da Demônio Celestial, e o Mestre Zen Jomyeong, Abade do Templo Shaolin.

— Como o mais forte dos Quatro Reis Demônios, serei misericordioso e deixarei você fazer três ataques.

— Isso é muito educado com os budistas! Não perca esse respeito!

O mestre zen imediatamente pulou no rei demônio, balançando o punho envolto em seu japamala²Contas de oração budistas..

Apesar de suas palavras, o rei demônio imediatamente se abaixou e depois saltou, dando uma cabeçada no estômago do mestre zen.

O Mestre Zen Jomyeong soltou um gemido e riu secamente. 

— Não disse que me deixaria fazer três ataques antes de fazer movimento?

— Você acreditou nisso?

— Parecia que eu acreditei?

— Sim.

Um fio de sangue interrompeu o Rei Demônio do Fogo Fantasma.

— Foi assim que pareceu.

O rei demônio caiu de joelhos. Seu nariz estava quebrado após a feroz cabeçada. Pouco antes de sua cabeça acertar, o mestre zen levantou o joelho, interceptando o ataque do rei demônio.

O Mestre Zen Jomyeong admirou o rosto ensanguentado do Rei Demônio do Fogo Fantasma, acariciando sua barba com prazer. 

— Vejo que minhas habilidades de atuação não enferrujaram.

— Seu monge maldito…

— Tome mais dois dos meus ataques! — O mestre zen agarrou o rei demônio pelas orelhas e o acertou com o joelho novamente.

O rei demônio aproveitou a situação para dar uma cabeçada no joelho do mestre zen, esmagando a cartilagem com um estalo carnudo. O mestre zen gritou e pulou, segurando o joelho.

— Hahahahaha! Esses caras são basicamente bandidos sem seu qi! Esse deve ser o verdadeiro nível deles! Bom! Hoje é um bom dia para expor os desgraçados do Caminho Justo ao mundo!

— …Vulgar. Que vulgar…

Dois espadachins – o Rei Demônio da Espada, capitão sênior da Unidade de Execução do Culto do Demônio Celestial, e a Espada das Dez Mil Flores Caóticas, ancião da Seita Monte Hua – foram os próximos a se enfrentarem.

Assim que suas espadas se encontraram, ambos gritaram e seguraram suas mãos. Nenhum dos dois conseguiu suportar o impacto de seus golpes – no entanto, nenhum soltou suas espadas.

O Rei Demônio da Espada riu, mostrando os dentes. 

— Tsc… Para de bancar o durão e larga logo.

— Eu poderia dizer o mesmo… — respondeu a Espada das Dez Mil Flores Caóticas, rangendo os dentes.

Quando seus olhos se encontraram, os dois atacaram novamente. Desta vez, eles seguraram seus gritos. Na próxima, deixaram escapar um suspiro. Na terceira, suas mãos e ombros começaram a tremer. Ambas as mãos estavam rasgadas e sangrando. Eles morderam os lábios para suportar a dor, mas seus lábios sangravam como suas palmas… e ainda assim, nenhum deles soltou suas espadas.

As mangas do uniforme branco esvoaçavam, e a bainha das vestes pretas voava. Entre o sol e as sombras que ele projetava na neve, a Facção Justa e o Culto do Demônio Celestial batalhavam, com sangue jorrando por todo o campo de neve.

— Este é o murim do Culto do Demônio Celestial! O mundo pertence aos humildes!

— Ahhhhhhhhhhhh! Morram! Morram!

— Seus desgraçados Moyong. Saiam daqui, agora!

O mundo incolor não estava sendo trazido à vida por artes marciais brilhantes – era o sangue humano vermelho.

— Hah, haha… Hahaha.

Um riso particularmente vermelho irrompeu de dentro.

— Hahahaha! Ha! Ha, ahahahahaha!

Era o riso da verdadeira loucura.

— Há muitos lacaios do Caminho Justo, não é! — gritou a Mestra. — Bom. Venham para cima de mim. Vamos cruzar lâminas.

Uma sombra corria solta entre os guerreiros da Facção Justa. Parecia que o sol nascia e se punha dezenas de vezes. Ela era uma mulher sem qi e que lutou contra a doença por três anos, mas seus movimentos se destacavam entre os artistas marciais que também não podiam usar artes marciais.

— Absurdo! — A Mestra riu. — Você, abade do Templo Shaolin, realmente acha que pode me parar com truques tão baratos? O mesmo vale para você, sábio da Seita Wudang. Você acredita que pode lidar com o carma do meu culto?

Eu conhecia aquelas palavras, mas a Mestra as dizia pela primeira vez.

— O Monte Song está inundado com o ressentimento transbordante do mundo. A raiva ardente arrasou o Monte Wudang. O Culto do Demônio Celestial é o céu do mundo das artes marciais, e eu sou o céu do meu culto. Vocês estão realmente qualificados para discutir o céu acima do céu!? Vocês, lacaios do caminho justo, não vão dar conta! — rugiu a Mestra.

— Namgung Woon!

Mesmo em meio aos sons de espadas colidindo e carne sendo esmagada, a voz da Mestra era clara.

— Chamem o Grande Patriarca do Clã Namgung! Tragam o líder da Aliança Murim! Não importa quão densas sejam as florestas ou quão vasto seja o céu no murim, apenas uma pessoa neste mundo pode enfrentar minha espada! Meus Quatro Reis Demônios! Tragam Namgung Woon para mim, imediatamente!

O riso vermelho era extático.

O líder da Aliança Murim deu um passo no mundo cada vez mais vermelho.

— Isso me lembra o primeiro dia da grande guerra. — Ele observou.

Ele estava sem camisa. Era um inverno frio, e ele não tinha qi, então o frio estaria mordendo até seus ossos. No entanto, usava isso para enrijecer seus músculos finos como arames, como uma armadura.

— Porque não conseguimos terminá-la naquele dia, a grande guerra continuou no dia seguinte. Mesmo no dia seguinte, não conseguimos ver o fim, então se estendeu por mais um dia. Agora que penso nisso, comecei com o pé errado no primeiro dia! Deveria ter colocado todo o meu poder desde o início. — O líder da Aliança Murim respirou fundo. Então, assumiu uma postura e fez um gesto para a Mestra. — Ataque, demônio. Os céus estão comigo hoje.

Buwolseon, o líder da Aliança Murim.

— Os céus… Legal. — A Mestra pisou pela neve. — Isso porque os céus decidiram te levar hoje.

A Demônio Celestial, o céu do Culto do Demônio Celestial.

Na primeira respiração, os dois se encararam. Após meia respiração, caminharam um em direção ao outro. Quando suas respirações saíram de sincronia, os dois fizeram seus movimentos.

Flocos de neve branca giravam ao redor de cabelos pretos voando enquanto sangue vermelho era espalhado.