Não fui o único tocado pela luz branca.
[Buscando a presença do Rei Demônio da Chuva de Outono no décimo segundo andar…]
[Não foi possível localizar o Rei Demônio da Chuva de Outono.]
[Confirmado que o Rei Demônio da Chuva de Outono recuou.]
[Iniciando a Reformulação da História.]
A luz branca cobriu a vasta planície como uma névoa cintilante, estendendo-se até a capital. Gotas de luz – a única forma de descrevê-las – voavam ao vento como sementes de dente-de-leão, descendo sobre a terra numa chuva interminável.
— Isso é… — A Bruxa Negra olhou ao redor, confusa. — Sr. Kim, o que está acontecendo?
— Bem, também nunca vi nada assim…
Meus olhos estavam nas gotas de luz que cobriam o mundo.
Sr. Imperador da Espada, sabe o que está acontecendo?
— Não, é a primeira vez que vejo isso. Que porra é isso? É assustador.
O cara era completamente inútil, exceto pelas aulas de espada. Eu realmente não fazia ideia de como um gorila como ele conseguiu completar o nonagésimo nono andar.
— Hmm? — O Guardião franziu a testa. — Kim Zumbi, você acabou de me xingar na sua cabeça, né?
Quê? Só pensei que você é tão incrível que um cara humilde como eu nunca entenderia o que se passa na sua mente.
— Estranho. Sua cara diz outra coisa… — resmungou o Guardião.
Enquanto brincávamos, uma mudança chamou minha atenção.
— Hein? — apontei para as altas muralhas da capital. — Bruxa Negra, olha ali.
— O quê?
— Nas muralhas. Parece que tem bem menos bandeiras que antes.
As bandeiras douradas e vermelhas do Império, que tremulavam no topo das muralhas, estavam desaparecendo rapidamente. Antes, havia facilmente centenas, mas agora eu via apenas algumas dezenas. O número continuava diminuindo.
— …Sim, você está certo. — A Bruxa Negra semicerrou os olhos. — Me segura. Preciso verificar.
— Concordo.
— Teleporte! — A Bruxa Negra segurou minha mão e usou sua Habilidade.
No instante seguinte, estávamos nas muralhas, com uma visão completa da cidade espetacular.
— Meu Deus… — suspirou a Bruxa Negra. — Tudo está mudando.
Ela estava certa. Os campos de refugiados sumiram. O Rei Demônio destruíra suas casas, forçando-os a fugirem de todo o continente para a capital. Seus acampamentos formavam uma favela, mas, quando a luz branca desceu… no minuto seguinte, era como se nunca tivessem existido.
As roupas dos pedestres nas ruas também mudaram, de trapos para vestes impecáveis. Até as maçãs podres nas barracas do mercado lentamente se tornaram frescas e brilhantes.
— Reformulação da História… — murmurei.
— O quê?
— A história mudou.
O número de guardas patrulhando as muralhas também era bem menor. Não era só a quantidade – seus olhos não carregavam mais o desespero que o Rei Demônio havia incutido. Agora, estavam apenas entediados com a patrulha rotineira, eram apenas pessoas vivendo seu dia a dia.
— O Império Aegim deveria estar sendo invadido pelo Rei Demônio. Eles tinham que vencer a guerra ou perder e perecer. Era tudo ou nada, mas… — engoli em seco. — …isso nunca aconteceu neste mundo.
A possibilidade da invasão do Rei Demônio foi apagada, e ninguém sequer percebeu. Sim, eu a fiz desaparecer.
— …A história mudou.
O resultado estava diante de mim.
[O cenário do décimo primeiro andar foi revisado.]
[O cenário do décimo segundo andar foi revisado.]
A luz branca cobriu toda a cidade. Tocou a bochecha de uma criança órfã que vagava, algumas gotas pousaram nas mangas de um cego que tropeçava pela cidade, sem saber de onde viria sua próxima refeição.
As ruas da cidade, os cruzamentos, uma loja antiga com pilares quebrados, as casas para onde as pessoas voltavam após o trabalho… As gotas cobriram o mundo suavemente, como uma manta macia.
[A Reformulação da História foi concluída.]
Logo, elas desapareceram.
Tanto eu quanto a Bruxa Negra ficamos em silêncio. Nenhum som se ouvia no mundo congelado, então parecia que o mundo inteiro prendia a respiração conosco. Contudo, o silêncio foi logo quebrado.
— …É barato! Muito barato!
— Maçãs frescas de Alebrandt! As mais frescas por aí! Senhor, nem elfos deixam passar frutas da estação! Por que não dá uma olhada nessas maçãs frescas?
— Os banhos públicos estão mal geridos hoje em dia. Dá para ver a sujeira na água. Nossa, esses chamados funcionários públicos não conseguem nem gerenciar a água direito, em que podemos confiar…
Ouviam-se sons, o tempo retomou após eu aceitar a missão.
— Ouvi dizer que os filhos reais causam problemas todo dia! Dizem que, ao passar perto das muralhas do palácio à noite, dá para ouvir Sua Majestade lamentando. Sei que é só um rumor, mas acho…
— Quer tomar um drink hoje à noite, só nós dois?
— Por favor, uma moeda. Uma moeda! A Deusa te ama.
— Maçãs de Alebrandt, até os elfos amam! Pegue aqui por pouco!
A vida neste mundo voltou a respirar. Um deles nos notou.
— Vocês aí! Quem são?
A Bruxa Negra e eu nos viramos. Um general apontava sua espada para nós.
— Que ousadia subir nas muralhas assim! Desçam agora! — gritou o general, com um olhar intimidador.
Ele me parecia vagamente familiar.
— Sarbas Aegim…
Os olhos do general NPC se arregalaram. Era como se nunca tivesse me visto na vida.
— Hã! Você é um invasor estranho. Como sabe meu nome?
…Entendi. Fechei a boca.
O general não deveria estar aqui. Ele era quem recebia os Caçadores no décimo primeiro andar. Eu também pedi para me matar de propósito para copiar sua Habilidade.
— Ei! Não mandei vocês descerem? — berrou o general. Agora, ele me tratava como um estranho. A história dos décimo segundo e décimo primeiro andares havia mudado.
Ah. Sentia meu coração batendo forte no peito. Emoções indizíveis obstruíam meu coração, meu peito, todo o meu corpo. Eram tão intensas que eu não conseguia falar. Por quê? O mundo recuperou sua vida, mas minha voz parecia ter sido roubada.
Olhei para o general, movendo os lábios sem som.
— Não, espera. Ainda assim, não posso tirar a vida de um herói!
— Em nome do Império Aegim, ofereço minha mais sincera gratidão.
— Eu duvidava da profecia. Esse mundo nem é de vocês, então achava improvável que os heróis lutassem por nós. Mas me preocupei à toa. Quero te agradecer de novo.
— Por favor, proteja o Império.
Minhas memórias com o general já haviam envelhecido. O sorriso do general na nossa última despedida passou pela minha mente. Ah, sim. Era assim.
— Ha. Hahahaha. Ahaha! Hahahaha!
Não sei por quê, mas caí na gargalhada. Ri tanto que me curvei, segurando a barriga. O general me olhou completamente perplexo. Todos os soldados também me encaravam. Enquanto a Bruxa Negra me via como se eu fosse estranho, o Guardião me considerava um louco.
Mas eu não ligava. Estava triste que o povo do Império tivesse esquecido de mim, mas uma emoção muito mais forte me dominava. Pigarreei e abri a boca.
— …Eu protegi!
Meu rugido assustou o general.
— Eu protegi!
Os soldados nas muralhas recuaram instintivamente.
— Protegi o Império de vocês!
Ainda assim, não parei. Misturei meu rugido com minha aura vermelha, espalhando-a por toda parte.
— Cumpri a promessa!
Os imperiais nas ruas, nos cruzamentos, em suas casas e lojas ergueram a cabeça. Minha voz alcançou além das muralhas da cidade, do palácio, até a câmara de audiência. Ri. Minha risada ecoava sem fim.
— Fiz isso sem vergonha ou arrependimentos! — Fiquei orgulhoso nas muralhas e apontei para o céu. Minhas palmas estavam pretas por inúmeras marcas de contagem. Só não queria uma única vítima, então repeti o mesmo dia centenas de vezes até derrotar o Rei Demônio da Chuva de Outono.
— Estou orgulhoso! Eu consegui!
Estava feliz. Nunca estive tão feliz em toda a minha vida. Minha vida costumava ser um lixo, eu tinha inveja e zoava dos outros. Meus dias eram afogados em álcool. Tentava não sentir nada – dizia a mim mesmo que mantinha a calma, mas, na verdade, tinha desistido da vida.
[Cenário Concluído.]
[O décimo segundo andar foi conquistado hoje.]
Mas hoje era diferente. Hoje, eu podia me erguer. Pelo menos hoje, podia manter a cabeça erguida diante da Bruxa Negra, do Espada do Luar, do Império e do mundo. Acima de tudo, podia estar verdadeiramente orgulhoso de mim mesmo.
[Anúncio.]
[O décimo segundo andar foi conquistado.]
Era quem eu podia ser agora.
[Calculando o número de campeões…]
[Cálculo concluído.]
Meu coração acelerava de alegria.
[Anunciando os três campeões.]
Luz inscreveu palavras no céu acima do Império.
Lista de Contribuição da Conclusão da Missão:
Primeiro Lugar: Rei da Morte
Segundo Lugar: Bruxa Negra
Terceiro Lugar: Espada do Luar
O general NPC provavelmente não conseguia ver, então ficou paralisado pelo meu rugido.
— O-o que você está falando…
— Sarbas Aegim! — sorri radiantemente para o general, fazendo-o recuar. — Proteja seu Império! Desculpe dizer isso, mas, como o Rei Demônio foi derrotado, o trabalho dos heróis está feito! Tenho certeza que seu império está podre de formas que ninguém vê e há muitos problemas para resolver! Ainda assim, vocês estão por conta própria! Boa sorte! Façam seu melhor! Eu também vou fazer o meu! Vamos lá, vamos lá!
— E-eu não faço ideia do que você está falando… Sério… não faço ideia… — O general NPC abria e fechava a boca como um peixinho dourado.
— Hahahahaha! Pfft! Hahahahaha! Heeheehee! Seu lunático! Seu maluco! Zumbi! Pensei que você tinha amadurecido um pouco e aprendido com o passado, mas caralho. Seu maluco, você simplesmente se gaba pra todo mundo que tá perto o suficiente pra ouvir! Quero mesmo saber como seu cérebro funciona! Cientistas iam te estudar! Zumbi, tenho que te dar os parabéns! Você é uma peça única! — O Guardião rolava no ar, rindo.
Ajeitei o cabelo para trás. E o que mais eu deveria fazer? Estou me achando absolutamente fabuloso hoje.
— Seu… louco…! Seu… Kim Maluco! Hahaha! Beleza! Gostei do seu espírito! Hahahaha! — O Guardião balançava de um lado para o outro.
Virei para a Bruxa Negra.
— Ora, Ora. Mestra do Dragão Negro! Está esperando o quê? Vamos para o décimo terceiro andar!
A Bruxa Negra suspirou. Sua expressão era complicada.
— É… Não tem muitos Caçadores fortes que sejam sãos. Entendo. Acho que é uma sorte que você pelo menos seja melhor que o Inquisidor.
— Hein?
A Bruxa Negra pegou minha mão e ativou sua Habilidade.
— Teleporte.
No instante seguinte, estávamos de volta nas planícies. A Bruxa Negra agarrou o braço do Espada do Luar e se virou para mim.
— O campeão Rank 1 sempre entra no andar primeiro — explicou a Bruxa Negra. — Fale em nome de todos, Rei da Morte.
Foi a primeira vez que me chamaram pelo meu título. Muitas coisas foram primeiras vezes hoje.
Sorri.
— Beleza… Me envie.
E parti para o próximo andar.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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