O Caçador Imortal de Classe SSS – Cap. 110 – A Maneira Como Ela Ama (2)

 

Raviel Ivansia se inclinou, trazendo o homem mais perto da morte e gravando sua cicatriz eterna nele. O homem gemeu e se contorceu de dor enquanto sua rapieira se aprofundava cada vez mais em seu coração. Seus gritos cortavam o ar, mas não havia ninguém por perto para ouvi-los.

Não quero matá-lo. Raviel mordeu o lábio. Não quero perdê-lo.

Contra seus desejos, ela empurrou a rapieira ainda mais fundo. Ela sentia cada momento vividamente. Primeiro, abriu o peito dele. Penetrando mais fundo em sua carne, ela perfurou seu coração, liberando um fluxo interminável de sangue. Tudo isso a marcava.

Mais. Mais fundo. Ela gravava cada momento em seu coração para que o homem que amava pudesse ver esse trauma.

Quando ele estava prestes a vomitar sangue, Raviel roubou seus lábios para não perder nem uma gota de seu calor. A respiração pegajosa e ensanguentada dele viajou de seu coração para sua boca.

O homem moribundo empalideceu, e seus tremores ficaram mais fracos. Finalmente, sua respiração desapareceu. Durante tudo isso, Raviel não piscou. Embora cada momento a doesse, ela não queria perder nenhum deles.

Ela queria gritar para o mundo. E se esse momento não fosse gravado como seu trauma? E se seu plano falhasse? Então ela o esqueceria, e ele a perderia. Nada sobraria. 

Raviel estava com medo. Ela não queria perdê-lo.

Mais. 

Ter medo de algo era uma desgraça e um insulto para alguém como ela. No entanto, ela continuava revivendo o momento aterrorizante e horrível, gravando sua cicatriz ainda mais fundo.

Ele poderia falhar em persuadir a Torre. Talvez ela esquecesse dele e continuasse vivendo como antes, e quando seus caminhos se cruzassem no corredor, eles apenas passariam um pelo outro indiferentemente. 

Ela segurava esses momentos imaginados em sua mente e gravava novas cicatrizes ao redor deles, marcando para sempre.

Raviel percebeu que o homem havia morrido. Ela entendeu que esse momento era como um último suspiro antes dele regredir. Ele provavelmente regrediria em apenas alguns segundos, levando-a de volta no tempo com ele. Eram apenas alguns segundos, mas para ela pareciam uma eternidade.

— Gong-Ja — disse ela lentamente.

Não houve resposta. Os olhos dele perderam o foco, e sua boca parou de se mover, como se ele tivesse esquecido como falar.

— Gong-Ja.

Raviel sabia então que esse último momento havia se tornado seu trauma indelével. Tudo ficou claro. Nunca havia sido marcada tão terrivelmente quanto agora. Ela o puxou para seus braços, passando os poucos segundos restantes o segurando.

Eu acredito em você.

[A recriação do trauma foi concluída.]

Você acredita em mim assim como eu acredito em você, Gong-Ja.

[Confirmado que o ego do sujeito sob a penalidade da Habilidade está intacto.]

É por isso que podemos esperar um pelo outro.

[Encerrando a penalidade da Habilidade.]

É assim que sempre foi.

[Seu nível de imersão caiu para 98%.]

Era estranhamente difícil abrir os olhos hoje.

— Mordomo? — Lady Taça Dourada, que estava sentada à minha frente, ficou chocada.

Era estranho. Ela sempre tinha um sorriso brilhante, mas hoje ela parecia nebulosa.

— Qual é o problema? — perguntou ela.

— Perdão?

— Você está chorando.

Só então percebi as lágrimas. Fiquei chocado. Há apenas um momento, Lady Taça Dourada e eu estávamos conversando tranquilamente. Então pisquei, e as lágrimas de repente escorreram pelo meu rosto.

— Hã…? — Não conseguia parar as lágrimas.

— M-Mordomo? Não me assusto facilmente, mas você está me assustando um pouco agora. Estávamos apenas conversando, então por que você está chorando de repente? Fiz algo estranho de novo?

— Hum… eu… também não sei realmente por quê.

— Você está chorando sem motivo? Enlouqueceu? Suspiro. Está chorando muito… O que devo fazer? Esta é a primeira vez que chora assim desde que te bati quando você tinha cinco anos…

— Você nunca vai esquecer isso, não é? Minha lady, já está na hora de esquecer.

— Mas, mordomo, mesmo que eu esqueça isso, também te bati quando você tinha seis, sete, e todos os anos até os catorze. Na verdade, ainda te bato de vez em quando. Se eu esquecer tudo isso, não sou diferente de uma amnésica. Ora, sua vida foi praticamente uma série de surras.

Amnésia…

— Hã? Por que você está chorando de novo? Desculpa! Desculpa por te bater! Não vou te bater mais. Mesmo que o faça, farei de uma maneira menos humilhante. Está se sentindo melhor agora?

— Acho que tive um pesadelo, minha lady…

— Hã? Um pesadelo? Um monstro me pegou e me despedaçou?

— Não, uma mulher estava me olhando, chorando… Eu queria enxugar suas lágrimas, mas não conseguia. Era muito triste.

— Entendo. — Lady Taça Dourada parecia ter percebido algo. — A mulher era eu.

— Definitivamente não era você… não tem como você fazer uma expressão tão triste e elegante. Você simplesmente não nasceu assim.

— Ah. — Lady Taça Dourada me encarou. — Devo apenas te bater?

Normalmente, eu teria feito uma reverência e pedido desculpas, e ela teria respondido com “Sou uma pessoa generosa, então vou te perdoar”.

Desta vez, no entanto, levantei da cadeira.

— Mordomo?

— Volto já.

— Hã? Já está tarde. Aonde você vai? Eu ia me gabar do jantar que terei com Sua Alteza amanhã. Ouvir minhas notícias empolgantes é seu dever.

Fiz uma reverência. 

— Sinto muito, minha lady, mas tem um lugar que preciso ir.

Lady Taça Dourada apoiou os braços no encosto da cadeira e semicerrou os olhos para mim. 

— Sim, você tem um cérebro, então pode pensar por si mesmo. Mas não volte de mãos vazias. É melhor você roubar um muffin da cafeteria pelo menos.

— O Príncipe Herdeiro te dará um anel de coral azul amanhã.

Lady Taça Dourada piscou. 

— O quê?

— Vou indo — saí do quarto dela.

— Mordomo! — gritou ela atrás de mim. — Você está falando sério?

Eu a ignorei.

— Espera, me responda antes de ir! Mordomo, seu f…!

Minha mestra.

Desde que chegou à Academia Sormwin, ela se tornou muito mais comportada, mas, no fundo, ainda era a rainha da colina que costumava bater nas crianças em casa.

Apertei meus passos. Era minha primeira vez percorrendo esse caminho, mas meus pés se moviam com uma familiaridade fácil.

É como se eu tivesse feito isso antes.

O portão da vila de Lady Lírio de Prata estava aberto, e não havia guardas. Deveria ter achado isso estranho, mas já tinha a sensação de que seria assim. Atravessei o jardim sem hesitação.

Cheguei a um corredor onde apenas um único raio de luar alcançava. Lady Lírio de Prata estava no final do corredor com um espelho de corpo inteiro atrás dela.

— Você está aqui.

— …Você estava me esperando?

— Sim, hoje é minha segunda vez.

Sua resposta à minha pergunta abrupta parecia aleatória. Toda essa conversa era incompreensível, mas isso parecia suavizar o ar noturno.

Lady Lírio de Prata sorriu. 

— Olhe no espelho. O que você vê?

■■: ■■■

■■■: ■■

■■ ■■: Mu■, ■■ce, ■■, ■■

■■ ■■: ■■

■■ ■■■: Mestra, amada, ■■■ ■■, ■■■, ■■■, ■■ças, ■ ■■, ■■■ ■■■, ■■■ ■■, ■■ ■ ■■ ■.

— …Vejo as palavras “Mestra” e “Amada”. Acho que vejo algumas letras, mas não consigo entender o que significam.

— Me chame.

— M…

Tentei chamá-la de “minha senhora”, mas parei, mesmo que essa fosse a maneira mais respeitosa de me dirigir a Raviel Ivansia.

— E eu te aviso, nunca mais me chame de “minha senhora” com essa boca. — Lady Lírio de Prata sorriu. — Vou arrancar seu coração.

Uma conversa que nunca tive veio à minha mente. Era como se eu estivesse espiando um sonho de uma vida passada. Estava confuso, sentia que não deveria chamá-la de “minha senhora” de jeito nenhum.

— …Minha lady.

— Isso é muito melhor. — Lady Lírio de Prata se aproximou de mim.

— Sobre o que você sonhou?

Seus olhos vermelhos me perfuravam. Sua boca estava fechada, mas eu sentia como se ela estivesse falando comigo. Sua boca fechada parecia se mover. Era vívido demais para ser uma alucinação ou uma voz na minha cabeça.

— Você… estava chorando.

— E?

— Você continuava chamando por alguém. Um homem estava amarrado na sua frente… acho que ele era a pessoa que você chamava, mas não lembro o nome dele.

— O que mais?

— Você estava em agonia enquanto o apunhalava com uma rapieira.

Por que eu continuava falando com alguém que não estava dizendo nada? Por que Lady Lírio de Prata também estava me ouvindo? Era tão estranho, mas a parte mais estranha era que não parecia constrangedor.

Lady Lírio de Prata acariciou minha cabeça. 

— Muito bom. 

Suas palavras ecoaram nos meus ouvidos e se instalaram lentamente no meu coração. Sentia como se as tivesse ouvido em algum lugar – há muito tempo, antes mesmo de eu nascer.

A imagem de um frasco de perfume azul passou pela minha mente.

— Olhe. — Lady Lírio de Prata tirou um cartão.

— …O que é isso?

— É a prova de que você trabalhou bastante por mim. Você pode se orgulhar disso.

O cartão dourado tinha muitas palavras escritas nele.

O Amor de Um Certo Retornador

Classe: EX

Efeito: O amor é como veneno para um retornador. Não importa o quanto você lute, você não pode compartilhar o mesmo tempo com a pessoa que ama, então um certo retornador fez um desejo. “Por favor, proteja as memórias da minha amada.” O desejo alcançou a Torre e se realizou.

Você compartilha o tempo do seu amado. Quando seu amado volta um dia, você também volta um dia. Se você voltar um dia, seu amado também voltará um dia.

Este é o juramento de regressão eterna e casamento do tempo.

Que a sorte esteja com vocês dois.

※Só é ativo quando você e sua amada se amam.

Fiquei sem palavras por um motivo que não conseguia explicar.

— “Por favor, proteja as memórias da minha amada.” — Lady Lírio de Prata riu suavemente. — Não gosto desse tipo de proposta. Gosto do som da sua voz. Entende o que quero dizer? Vou fingir que não vi isso até que você me diga pessoalmente. Então volte, rápido.

Meu coração batia forte.

— Vou te matar quantas vezes forem necessárias. Se mostrar minha cicatriz te trouxer de volta para mim, farei isso repetidamente até você voltar.

— Senhorita…

— Então olhe para minha cicatriz e sofra. Olhe novamente. Ela tem traços de você. — Lady Lírio de Prata estendeu as mãos e agarrou meu pescoço. — Saiba que você é o único neste mundo que pode me matar.

Suas mãos eram suaves.

— E eu sou a única que pode te matar.

E então eu vi.

[Você morreu.]

[Recriando o trauma do seu assassino.]

Eu vi repetidamente.

[Seu nível de imersão caiu para 97%.]

Eu observei Lady Lírio de Prata chorar. Ela matava um certo homem repetidamente. Toda vez que eu voltava um dia, eu vivia no sonho dela.

[Você morreu.]

[Seu nível de imersão caiu para 96%.]

Nós nos amamos em nossas vidas passadas.

[Você morreu.]

[Seu nível de imersão caiu para 95%.]

Íamos nos amar nesta vida também – talvez até na próxima.

[Seu nível de imersão caiu para 94%.]

[Seu nível de imersão caiu para 93%.]

[Seu nível de imersão caiu para 92%.]

Eu a machuquei. Ela chorava silenciosamente onde eu não podia ver e quando não estava com ela. Se eu lembrasse de tudo isso…

[Seu nível de imersão caiu para 91%.]

Podemos amar para sempre.

[Seu nível de imersão caiu para 90%.]

Repetidamente, eu ia até ela. Abria a porta, atravessava o jardim e corria pelo corredor.

Ela nasceu como filha do Duque de Ivansia. Ter uma mãe triste a colocou em uma vida triste. Seu noivo foi escolhido antes dela nascer, e ela dedicou sua vida a ele desde que deu seu primeiro suspiro.

Ela era uma flor branca. Era a lua de Ivansia e a herdeira aparente do ducado. Por um breve período, ela também foi conhecida como a jovem lady de Ivansia.

— Você está aqui.

Ela estava no corredor escuro como uma ilha solitária no meio de um mar infinito de noite. Eu podia ouvir as ondas batendo aos seus pés. Para mim, ela não era a herdeira aparente do Duque de Ivansia nem a filha do Duque.

— Raviel.

A flor branca sorriu. 

— Estive esperando por você, Gong-Ja.

Estou apaixonado por você.