A mulher de vermelho ficou ainda mais furiosa.
— Quanta audácia! Você cometeu um erro, mas ainda não tenta amenizá-lo. Pelo contrário, o cometeu mais uma vez: se intrometeu no meio da conversa. Sua mãe não te ensinou sobre a palavra “etiqueta”?
Eita! Que temperamento ruim! Acha que é a única que sabe falar mal da mãe de alguém!?
— Então, de onde a sua mãe aprendeu as etiquetas dela? Antes de sair falando dos outros, se olhe no espelho, pode ser?
Credo. Ela nunca tinha ficado tão brava desde que nasceu.
— Sua… — Ela começou a tremer.
— Senhorita de vermelho — Zhu Yao não lhe deu tempo para falar —, se interromper a conversa dos outros é considerado falta de etiqueta, então, mais cedo, quando você interrompeu a pergunta que fiz ao Mestre da Seita, não significa que você também não tem? Como somos estranhos, perguntar o nome é algo comum, mas você se meteu do nada e brigou comigo, dizendo que tenho audácia? Fiquei curiosa, foi só por isso que perguntei. Por que é considerado audácia? Deixe-me te perguntar, onde foi parar a sua etiqueta então?
O rosto da mulher de vermelho ficou verde.
— Sua… Como uma discípula que ainda não entrou oficialmente na seita, ousa pedir o nome do Mestre de forma tão direta. Se isso não for audácia, o que mais poderia ser?
— Foi ele quem começou. Antes de sair pedindo o nome dos outros, é bom se apresentar primeiro. Não seriam esses os modos adequados? E você mesma já disse que sou uma discípula que ainda não entrou na seita, e, já que é este o caso, não faço parte dos discípulos de vocês. Sou apenas uma terceira parte aqui, alguém que não possui relação alguma com vocês. O que eu tenho a ver com o fato de ele ser o Mestre da Seita? Por que não posso perguntar diretamente o nome dele?
— Sua… Quanta falácia!
— Está chamando minhas palavras de falácia quando nem mesmo consegue refutá-las. Me chame de audaciosa só depois que conseguir me refutar. Deixe-me te perguntar, senhorita, como que a sua mãe te ensinou sobre “etiqueta”?
— Sua… sua…
— Vou te dar um pequeno conselho também, senhorita: não fique se achando muito. Nem todas as pessoas vão te acompanhar. Acha que todo mundo é a sua mãe!?
— Descarada! — A mulher de vermelho parecia ter entrado em um estado de fúria. Uma bola de chamas apareceu em sua mão, a qual foi jogada na direção dela.
Zhu Yao viu o que eles chamavam de “transformar os sentimentos de vergonha em raiva”. Uma luta estava prestes a irromper, eita.
— Irmã marcial júnior! — No momento crítico, o tio Mestre da Seita interviu. Invocando um fluxo d’água e apagando a bola de chamas. — Não seja imprudente.
Ela deu alguns passos para trás e respirou fundo, finalmente se acalmando. No entanto, ainda olhava com ódio para Zhu Yao, como se pudesse atacá-la e devorá-la a qualquer momento.
Só então Zhu Yao sentiu um pouco de medo. Ela havia esquecido que este era um mundo Xianxia. Aquelas pessoas eram existências capazes de matá-la com estalar de dedos, mas ainda teve coragem de xingar a mãe dela logo que começaram a conversar? Mas falar mal dos pais era um tabu no coração de qualquer criança. Além disso, era alguém que tinha vindo de outro mundo e poderia nunca mais vê-los pelo resto da vida. Entretanto, aquela mulher passou dos limites. Como Zhu Yao teria coragem de deixar essa passar reto!?
— Senhorita, você também precisa acalmar suas emoções. Acredito que tenha percebido que o seu potencial também não é comum. — O Mestre da Seita começou a agir como intermediário. — Se entrar na nossa seita, terá que treinar o máximo que puder. Está disposta a isso?
— Nem ferrando!
— Kuh Kuh Kuh… — Ele quase se afogou. — O que… acabou de dizer?
Com o potencial que tinha, com certeza entraria no Pico da Floresta de Jade. Todos no mundo da cultivação fariam de tudo para conseguirem entrarem naquele lugar. Mesmo que a idade dela estivesse um pouco passado do auge, com as capacidades daquela pessoa, não haveria problema algum em conseguir alcançar o Azoth antes do fim de sua vida.
— Você conhece o lugar que está prestes a ir? Conhece o Pico da Floresta de Jade?
— Não faço questão de saber! — Isso não tinha nada a ver com ela.
— Por quê?
Zhu Yao, com educação, revirou os olhos para o tiozão.
— Acha que sou burra? Ofendi essa sua irmã marcial júnior hoje. Se eu me juntar à seita de verdade, ela não seria capaz de me torturar até a morte!?
O rosto do tio Mestre da Seita distorceu-se um pouco. Embora o que ela tenha dito não fosse impossível, precisava ter sido tão direta? Ele olhou para sua irmã marcial júnior, cujo rosto variava entre pálido e sombrio. Estava tudo bem mesmo em dizer aquelas palavras em alto e bom tom? Será que estava mesmo?
— Kuh Kuh, você realmente não quer cultivar como uma divindade? Fique sabendo que esta é uma grande oportunidade!
— Mas não quero mesmo!
— Uh…
— Vamos deixar tudo do jeito que está… — Zhu Yao deu de ombros e disse — Estou voltando para casa agora, bye bye!
— Espere… só um minuto!
Antes que o Mestre da Seita pudesse pará-la, Zhu Yao já tinha começado a fugir do salão, alegre. Esta senhorita… por que não segue o procedimento padrão?
De repente, um forte vendaval soprou, e um homem de branco apareceu abruptamente na entrada. Antes que Zhu Yao pudesse vê-lo com clareza, bateu de cabeça nele.
Então… um galo apareceu na testa. Chamas de raiva dançavam dentro dela.
— Você não abre os olhos quando está andando!? Saia da frente!
— … — Todo o salão ficou em completo silêncio com o ocorrido.
Levou um tempo para que o homem que se chocou nela desse um passo para o lado, devagar.
Só então Zhu Yao conseguiu sair pela porta. Antes de se distanciar, não se esqueceu de revirar os olhos para ele.
E daí que você é todo musculoso? Hmph!
— Grão-Mestre Ancestral, aquela senhorita tem a veia espiritual de relâmpago! — gritou o Mestre da Seita.
Quando o homem na entrada ouviu aquilo, instantaneamente agarrou a pessoa que tinha acabado de passar por ele. Zhu Yao estava caminhando rápido, por isso, quando foi puxada de repente, se bateu no homem mais uma vez. Então… mais um galo surgiu.
Ela afagava os dois galos que apareceram do nada em sua testa, levantou a cabeça e olhou para o homem, que tinha um olhar frio.
— Mano, deixa eu te perguntar uma coisa. Você tem algum problema comigo?
O homem ficou surpreso por um momento e, então, respondeu com uma seriedade absoluta:
— Não!
— Se é assim, por que está puxando briga comigo!? — Tá querendo arrumar confusão?
O homem baixou a cabeça e pensou por um momento. Logo depois, respondeu com ainda mais seriedade:
— Não puxei briga alguma, mas sim a sua mão.
— …
Respire fundo… Não se irrite, não se irrite. O céu está tão bonito hoje, não é bom ficar irritada desse jeito!
— Vou considerar que é minha falta de sorte. Se não for incômodo, peço que volte para lá. Não fique no meu caminho, pode ser? Obrigada!
O homem franziu a testa e rejeitou o pedido dela, resoluto.
— Não posso.
— Mas o que diabos você está planejando? — Fazer com que ela criasse dois galos na testa não era o suficiente, ainda planejava adicionar mais alguns?
— Ajoelhe-se e me aceite como seu mestre!
— Mas não me ajoelharia nem para a sua irmã! — Ninguém disse que ela queria ser sua discípula.
O homem fez uma carranca ainda maior e disse com o mesmo tom frio:
— Eu serei o seu mestre, não tenho uma irmã!
— …
Mano, você ganhou. Só me diga uma coisa, de que planeta você veio? Não consigo nem me comunicar contigo.
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