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Mushoku Tensei: Reencarnação Redundante – Vol. 01 – Cap. 09 – Isolde e Dohga

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— QUANTOS SÃO AGORA? — Isolde havia saído do salão de treinamento e estava em casa, sentada em frente ao seu irmão na sala de estar.

— Vinte e seis. — Ela murmurou, sem levantar o olhar. Tantris tentou encontrar seus olhos, mas Isolde manteve os seus desviados.

— Um passarinho me contou que foi você quem os dispensou.

— Sim.

— Por quê?

Isolde pressionou os lábios.

— É que, não sei… São todos homens bons. De boa índole, gentis… Mas…

— Mas?

— Talvez sejam bons demais. Isso faz seus defeitos se destacarem. — Eram da realeza, apresentados a ela por meio de Ariel.

Eram jovens e agradáveis, e suas conversas tinham sido adoráveis. Mas… eles não se continham. Talvez Ariel tivesse dito algo a eles, porque até lhe contaram sobre seus fetiches.

Havia Atole Orpheus Asura, que era bonito e gentil e disse que se dedicaria a ela depois que se casassem.

Havia Basil Venti Asura, que era bonito e forte e tinha um profundo entendimento do Estilo Deus da Água.

Havia Carlos Siodos Asura, que era bonito e elegante e disse que poderia apoiar o Estilo Deus da Água de uma perspectiva financeira depois que se casassem.

Havia Daniel Lapis Asura, que era bonito e engraçado e a fez rir durante toda a conversa.

Havia Elliot Skiron Asura, que era bonito e doce e a fez querer protegê-lo instintivamente.

Mas eles lhe contaram tudo. Contaram-lhe o que queriam fazer com ela na cama e fora dela e as roupinhas que gostariam de vê-la usar. Era mais do que Isolde, com sua experiência limitada, conseguia acompanhar. Eles pareciam um pouco estranhos da cabeça; honestamente, isso a deixou enjoada. Antes que percebesse, ela os havia cortado.

Isolde havia desenvolvido um pouco de desconfiança em relação aos homens. Sabia que nem todos eram tão horríveis quanto esses, mas um número não pequeno de homens por aí queria fazer esse tipo de coisa. Ela quase quis desistir do casamento por completo.

— Defeitos? Como quais?

— Não posso te contar. Coisas das quais não posso falar.

— Ah… Bem, eles são da realeza de Asura. — Os aristocratas de Asura eram infames por suas perversões. Os escalões mais altos da nobreza eram mimados demais para gostos normais.

— Isso te coloca em uma situação difícil, no entanto. Não pensei que você dispensaria todos eles.

— Nem todos… Quer dizer, ainda faltam alguns.

— Seja como for, não parece promissor, não é? — disse Tantris.

Sempre que tinha que escolher algo sozinha, Isolde sempre teve uma tendência a ser muito seletiva – não gosto daquele, nem daquele outro… Enquanto isso, as melhores opções eram arrebatadas por outra pessoa, e ela tinha que ficar com o que sobrava. O casamento não era diferente.

— Tudo bem — disse Tantris finalmente. — Faremos o seguinte. — Com a devida consideração pela personalidade de sua irmã, Tantris se decidiu. — Você se casará com o próximo.

— Mas eu não posso simplesmente…

— Tenho certeza de que ele não atenderá aos seus padrões. Você se prende aos defeitos deles porque está em uma posição de ser seletiva. Uma vez que esteja casada e vivendo juntos, tais falhas podem parecer triviais. Você pode passar a apreciá-lo.

Tantris não gostava desse tipo de lógica autoritária. Ele achava que Isolde precisava de tempo para escolher, para conhecer a outra pessoa a fundo. Mas Ariel arranjando isso o fez pensar que essa abordagem enérgica poderia funcionar. Se Ariel a apresentou a esses homens, certamente ela não poderia errar muito.

Ele lhe deu crédito demais.

Após um longo silêncio, Isolde se decidiu.

— Tudo bem. — Era verdade, ela estava sendo muito exigente. Sempre fora assim e provavelmente seria por toda a vida. Essa parte de sua personalidade era bem adequada ao Estilo Deus da Água, e ela estava prestes a se tornar a própria Deusa da Água. Mas quando se tratava de casamento, era um problema. Nesse ritmo, ela acabaria passando a vida inteira sozinha.

A posição de Deusa da Água era estimada. As pessoas que a conheciam lhe dariam admiração, elogios e louvores. Ela sorriria de volta para eles, conversaria com eles, e então, quando estivesse se sentindo bem, voltaria para casa, para um quarto vazio, para comer uma refeição para uma pessoa, se preparar para dormir e dormir sozinha.

Isso parecia tão vazio.

Você não se tornava Deusa da Água para ganhar elogios. Por dentro, havia outra Isolde, separada da espadachim. Ela estava sempre solitária, e era por isso que se sentia vazia. Não sabia se um marido e filhos confortariam a outra Isolde, mas se tivesse todos os elogios do mundo, queria voltar para casa para alguém e dizer o quão orgulhosa estava de si mesma.

E então, depois que terminasse de se gabar, seu marido pervertido lhe pediria para fazer algo nojento.

Mas ela havia se decidido.

— Então, onde e quando você vai encontrar o próximo candidato?

— Hoje. Disseram-me que ele virá me buscar em uma carruagem.

— A realeza vindo… te buscar?

— Sim.

Restavam três candidatos. Isolde não sabia disso, mas depois de ouvir que ela havia rejeitado cinco pretendentes de imediato, o resto ficou sério. Eles decidiram a ordem em que a encontrariam por meio de um sorteio rigoroso. Estavam prontos para montar seus ataques.

— Hã? — Nesse momento, algo chamou a atenção de Isolde. — Há algum tipo de comoção no salão de treinamento.

O salão de treinamento era anexo à casa dos Cluel, mas este lugar era a sede do Estilo Deus da Água, então tinha um piso silencioso para combinar. Geralmente, não se ouvia nada de onde eles estavam, mas Isolde era uma Imperadora da Água. Ela podia ouvir a violência.

— Será que ele já chegou?

— Ainda é muito cedo, mas posso ter me enganado com a hora. É melhor eu ir. Não posso correr o risco de ofender a realeza.

— É verdade. É melhor se apressar. — Isolde e Tantris trocaram um aceno de cabeça e partiram para o salão de treinamento.

O salão estava em tumulto. Os discípulos em seus trajes de treinamento estavam reunidos em torno de um homem, lançando-lhe gritos de raiva e provocações.

— Mestra! Um desafiante de uma escola rival chegou! Ele apareceu do nada e exigiu vê-la!

O sangue sumiu dos rostos de Isolde e Tantris. Se seus alunos tivessem submetido um membro da família real a tal tratamento, todo o salão de treinamento poderia ser demolido. Ele não havia dito seu nome?

— Parem com isso! — gritou Isolde. O salão ficou em silêncio. — Abram caminho! Aquele homem é meu convidado!

— Mas… Mas ele é…

— Todos vocês, de joelhos na beirada do salão! — À ordem de Isolde, os alunos se espalharam como filhotes de aranha e se sentaram em filas. Os alunos foram treinados para fazer isso desde a época de sua avó.

Mas isso não era importante. Agora, ela precisava se desculpar. Com os alunos fora do caminho, Isolde olhou para o homem.

Hã? Ela se viu olhando para um homem enorme. Ele tinha mais de dois metros de altura, e seus ombros deviam ter perto de um metro de largura. Ele era construído como uma rocha. Isolde conhecia aquela rocha.

— Dohga?

— Mm. — Ele se virou quando ela o chamou. Era ele — ninguém menos que Dohga, o Porteiro Real, um dos Sete Cavaleiros de Asura. Ele parecia deslocado, quase se encolhendo de medo. Mas quando viu Isolde, um sorriso aliviado se abriu em seu rosto.

— Acabei de salvar suas vidas — disse Isolde a seus alunos. — Este homem é o Imperador do Norte Dohga. Se ele quisesse, poderia acabar com todos vocês com um…

Foi o mais longe que ela chegou antes de perceber o que Dohga estava vestindo. Aquilo era um uniforme cerimonial de cavaleiro. Isolde nunca o vira nele antes. Ele só usava sua armadura dourada ou sua armadura cinza. Ariel nunca disse nada sobre isso. Além de sua roupa invulgarmente apertada, ele tinha um buquê na mão. Na vastidão do punho de Dohga, o buquê parecia pequeno, mas era, de fato, enorme.

— Por que você está aqui? Aconteceu alguma coisa com Sua Majestade? É uma emergência? — perguntou Isolde, franzindo a testa. Em resposta, Dohga se moveu lentamente em sua direção e estendeu o buquê em sua mão.

Será possível?

Ele estava em um uniforme formal e segurando um buquê.

Claro que ela também pensou: Não pode ser! Mas seu primeiro pensamento venceu.

— E-eu… Isolde Cluel… Eu… eu te amo! Por favor… c-case-se comigo!

Será que Dohga era um membro da família real de Asura?

Um pensamento a atingiu. Dohga era o único homem encarregado de guardar Ariel em seus aposentos privados. Luke era um caso especial, mas nem mesmo Sandor tinha permissão para trazer uma arma perto daqueles quartos. Ele até ficava do lado de fora de sua porta no meio da noite. Até onde Isolde sabia, ele não era um eunuco. As pessoas diziam que ele era seguro e inofensivo, mas ainda era um homem. Com seu tamanho enorme e a habilidade marcial de um Imperador do Norte, invadir o quarto de Ariel enquanto ela dormia seria fácil para ele. Isolde sempre se perguntou por que Ariel havia escolhido um homem como ele. Se ele era parente de Ariel, se eles se conheciam bem desde crianças…

Ela ouvira dizer que Dohga viera de uma pequena aldeia nos arredores do reino, mas a realeza vinha de todos os lugares. Assim como Ariel uma vez fugira para uma terra distante, Dohga poderia ter se escondido durante sua infância.

— Isolde. — Com a voz de Tantris, Isolde emergiu do oceano de seus pensamentos.

Ela poderia ter acabado de evitar uma situação desagradável. Talvez Dohga fosse um segredo sombrio do Reino de Asura. Se ela tivesse sido descuidada, até ela poderia ter sido eliminada.

— O que há de errado? — perguntou Tantris.

Ela tinha que encarar a realidade.

— Nada… — disse ela, e depois olhou para Dohga novamente.

Ele acabara de dizer: “Por favor, case-se comigo.” Não havia como confundir isso. Isolde uma vez esteve desesperada para ouvir essas palavras. Ela não poderia ter ouvido errado. Dohga irradiava confiança. Ele entrara confiantemente pelo portão da frente, entregou-lhe um buquê e a pediu em casamento.

Isolde imaginara algo mais romântico, mas sob a luz certa, talvez isso fosse romântico. Estender um buquê antes de propor em frente a uma multidão de pessoas estava na lista de propostas românticas de Isolde, embora obviamente em frente a uma bela fonte ou em uma festa chique, não em um salão de treinamento impregnado com o cheiro de suor…

Não, ela afastou esse pensamento. Isso, e muitas outras coisas também.

— É o momento perfeito, não é? — disse Tantris, hesitante. — Ele é outro dos gloriosos Sete Cavaleiros de Asura. Vocês fariam um par bem combinado.

— Sim… Mas… eu não… — Isolde percebeu que havia olhos sobre ela — os olhos de seus alunos.

— Vamos conversar em particular. Dohga, por favor, me siga.

— Mm.

Isolde se virou para ir. Quando ela não pegou o buquê, Dohga pareceu triste por um momento, mas a seguiu de perto.

Foi assim que Dohga foi convidado para a casa de Isolde. Agora, ele estava sentado congelado no sofá, tentando parecer o menor possível. O buquê estava sobre seus joelhos. Isolde sentou-se diretamente à sua frente, com a postura régia. Seu rosto não revelava nada; parecia quase como se ela não tivesse um pensamento no mundo. Tantris não estava em lugar nenhum. Ele havia deixado o casal na sala de recepção e fora fazer chá.

Isolde examinou o rosto de Dohga. Sob sua inspeção, ele assumiu uma expressão séria, mas a maneira como suas bochechas tremiam deixava claro o quão nervoso ele estava.

No entanto, Isolde não estava preocupada com isso. Estava interessada em seu rosto. Era um rosto simples e aberto. Não era seu tipo. Ela podia fechar os olhos para todo tipo de coisa, mas no final das contas, não gostava do que não gostava.

Parte dela ansiava por uma chance de reconsiderar as últimas cinco propostas. Se as especificações deles fossem mais ou menos as mesmas, então aqueles cinco, por serem agradáveis de se olhar, eram mais atraentes. Mas o próximo membro da família real a aparecer poderia ser ainda menos atraente que Dohga. Deixando tudo isso de lado, havia a questão de seu acordo com o irmão. Ela tinha que decidir as coisas aqui.

Ela soltou um suspiro e disse:

— Sabe, foi uma surpresa descobrir que você é da realeza.

Dohga a olhou boquiaberto.

— Eu? Não sou… da realeza.

Isolde hesitou.

— Hã? Então você foi adotado ou algo assim? — Ela perguntou, tentando descobrir obliquamente o que ele estava tentando esconder.

— Eu… nasci em uma pequena aldeia. Em Donati. Sempre fui porteiro. Meu pai era soldado da aldeia…

Tudo o que ela conseguiu de Dohga foi a história de como um soldado totalmente comum havia subido na vida. Bem, talvez não comum. Isolde ouviu, tentando extrair algo do que ele dizia. Quando ele chegou à parte sobre chorar quando sua irmãzinha se casou, ela ficou tão envolvida que sentiu as lágrimas brotarem.

— Então eu… ouvi que você, Isolde, vai se casar. Antes disso, eu queria pelo menos dizer como me sinto.

Isolde ficou em silêncio. Ele não estava conectado a nada disso. Não era um dos membros da realeza que Ariel queria lhe apresentar. Nesse caso, Isolde decidiu, ela o recusaria. Era uma pena, mas ela não podia esnobar Ariel.

Hm? Por que eu pensei “uma pena”?

A resposta veio de imediato. Dohga era honesto, trabalhador e dedicado. A julgar por suas palavras, ele não tinha nenhuma preferência horrível na cama. Era habilidoso o suficiente para se tornar um Imperador do Norte, e era um dos Sete Cavaleiros de Asura. Tinha uma renda estável. Gostava de beber, mas não era um bêbado violento, e não tinha nenhum vício extravagante. A única coisa errada com ele era seu rosto, e não era tão ruim assim. Ele simplesmente não era bem o tipo de Isolde.

— Uh… hum…! — Em resposta à carranca de Isolde, Dohga, com o que parecia ser um grande esforço de vontade, falou. — D-desde… que eu te vi pela primeira vez… eu acho… Isolde é bonita como… estas flores. Eu… eu sempre te amei! — Com isso, ele estendeu o buquê para ela novamente.

— Você achou? Desde a primeira vez que me viu? — O campo de visão de Isolde era todo de flores. Eram de uma cor azul profunda. Ela não sabia o nome delas, mas eram lindas. Uma pequena faísca se acendeu em seu coração.

— Mm.

Se Isolde se lembrava corretamente, seu primeiro encontro com Dohga fora uma luta. Ela lutara com ele por uma questão de segurança de Ariel. Ele se sentia assim todo esse tempo? Pensando bem, Dohga fora um pouco gentil com Isolde. Ele sempre confiara nela. Não confiscara sua arma quando ela entrou nos aposentos de Ariel. O fato de ambos estarem nos Sete Cavaleiros de Asura devia ser parte disso, mas talvez essa não fosse toda a história.

Enquanto ela pensava nisso, Dohga observava com um rosto sincero – um rosto que agora parecia cerca de 20 por cento mais atraente. Nada mal. Até mesmo impressionante do ângulo certo. Além disso, ele geralmente usava um capacete, então na maior parte do tempo nem se via seu rosto.

— Espere, espere…! — Isolde balançou a cabeça. — Sinto muito, mas vou me casar com um membro da família real apresentado a mim pela Rainha Ariel.

Se ela se envolvesse com Dohga agora, poderia acabar trazendo vergonha para Ariel. Isolde era uma cavaleira. Não jurara lealdade absoluta, mas jurara lealdade. Não podia envergonhar sua suserana apenas para satisfazer seus caprichos.

— Você é um dos cavaleiros de Sua Majestade — continuou ela. — Você também não pode ir contra os desejos dela, pode?

Dohga pareceu um pouco perturbado, mas disse:

— Mm. — Assim como Isolde, Dohga também era um cavaleiro. Ele também era diligente. Mesmo não sendo da realeza, foi isso que lhe conquistou a confiança de Ariel e lhe permitiu se tornar seu porteiro. Ele também não trairia Ariel.

— Você pode ir para casa agora — disse Isolde.

— Mm.

Ela pensou que ele protestaria um pouco, mas Dohga se levantou de uma vez e se virou de costas para Isolde. Assim, simplesmente. Ele até parecia estar de bom humor. Era como se ele soubesse que seria recusado desde o início e estivesse satisfeito apenas por ter dito. Isolde ficou um pouco desapontada com isso.

Ela suspirou e olhou para a mesa. Uma pétala azul jazia ali. O buquê se fora. Ele devia tê-lo levado para casa.

— Eu gostaria de ter pelo menos ficado com as flores… — Ela murmurou, pegando a pétala.

Isolde recusou o próximo pretendente real que veio naquele dia.

No dia seguinte, Isolde estava no campo de desfiles, instruindo. Enquanto passava pelas formas, ela ruminava sobre o dia anterior.

Seu pretendente real fora Fraser Caecius Asura. Suas perversões eram horríveis, assim como as dos outros, embora ele não fosse uma má pessoa. Comparado a Dohga, no entanto, ele pareceu insincero. Ainda assim, se ela tivesse pelo menos adiado sua decisão em vez de recusá-lo, poderia ter evitado ofendê-lo.

De qualquer forma, restavam dois. Apenas dois. Ela tinha que julgá-los cuidadosamente e escolher um, pensou ela. Nesse momento, um mensageiro se aproximou dela.

— Senhora Isolde! Sua Majestade deseja discutir urgentemente um pedido de desculpas! — Com isso, Isolde supôs que Ariel iria repreendê-la por recusar um pretendente após o outro. Ela aguentaria a bronca. Devia um pedido de desculpas a Ariel.

— Muito bem — disse ela, e depois deixou o campo de desfiles. Entrou na sala privada dos cavaleiros na saída e tirou o pó de si mesma. Deveria ter se lavado com água, mas como era urgente, podia se safar sem fazê-lo. Partiu para os aposentos reais em um ritmo acelerado.

— Hm? — À medida que se aproximava das partes mais internas do palácio, sentiu que algo estava errado. Estava mais barulhento que o normal. Geralmente, não havia soldados ou cavaleiros aqui, apenas corredores vazios se estendendo. Mas ela podia ver soldados agitados se movendo. Aconteceu alguma coisa?, ela se perguntou. Não, a convocação da rainha tinha prioridade. Sem parar para lhes fazer perguntas, ela se apressou para os aposentos reais.

Isolde franziu a testa. Alguém que deveria estar na porta estava ausente – um homem enorme, construído como uma rocha e vestido com uma armadura dourada, o mais poderoso porteiro de Asura nunca deixava este palácio enquanto Ariel estivesse em seus aposentos – Dohga. Ele não estava em lugar nenhum.

Como se para compensar sua ausência, cavaleiros estacionados no palácio estavam em filas ao redor dos aposentos reais. Todos tinham armas em seus cintos. Que alvoroço! Cada um deles era um veterano também. Havia até cavaleiros oriundos de nobres de baixo e médio escalão que normalmente nunca teriam permissão para se aventurar tão longe. Isso seria liderança de Sylvester. Ele nunca considerava as repercussões de suas decisões.

— Lorde Ifrit! — disse Isolde, avistando uma figura familiar. Era o chefe da guarda do palácio, Sylvester Ifrit, a Fortaleza Real.

— Senhora Isolde, você chegou rápido.

— O que diabos está acontecendo? — Ela perguntou. Sylvester fez uma careta como se estivesse tentando pensar por onde começar.

Alguns segundos se passaram, então ele deu de ombros e disse:

— Sua Majestade deseja se desculpar.

Ele poderia muito bem ter dito Vá lá e pergunte. Desistindo de obter uma explicação aqui, Isolde bateu na porta.

— Isolde Cluel para ver Sua Majestade!

— Por favor, entre. — Ariel soava como sempre. Em contraste com o alvoroço, sua voz estava perfeitamente serena.

— Com licença — disse Isolde enquanto abria a porta e entrava.

Uma cena estranha a encontrou. Ariel estava sentada em sua escrivaninha. Ao seu lado estavam Luke, com os braços cruzados e o rosto exausto, e seus guarda-costas, que a fuzilavam com o olhar, com as armas em punho, prontos para lutar. E então havia Dohga. Dohga quase nunca deixava seu posto, mas lá estava ele. Ele segurava seu capacete dourado sob um braço e um buquê de aparência um pouco triste na mão.

— Bem-vinda, Isolde. Você foi rápida.

— Eu estava apenas no campo de desfiles… Vossa Majestade, o que é tudo isso?

— Dohga me diz que pretende renunciar como meu cavaleiro — respondeu Ariel, casualmente.

— O quê?! — Isolde olhou para Dohga. Seu rosto estava sério. Então isso não era algum tipo de brincadeira. — Ele… Você quer dizer… Por que ele faria isso?

— Por todos os meios, pergunte a Dohga… — disse Ariel, e depois acrescentou: — Dohga, por favor, repita suas razões.

O olhar de Dohga se moveu para Ariel, e então ele assentiu.

— Isolde… disse que o cavaleiro da Rainha Ariel… não pode se casar com ela.

Eh?! Com essas breves palavras de Dohga, Isolde adivinhou por que fora convocada.

— Não! Eu só disse “Você também não pode ir contra os desejos dela, pode?” Porque eu não queria trazer vergonha para Sua…

— Isolde, fique quieta e deixe-o terminar — disse Ariel suavemente. Isolde se calou, mas por dentro, sentia tudo menos paz. Se a conversa fosse para o lado errado, poderia parecer que ela havia incitado Dohga a trair Ariel. Na verdade, a julgar pelo alvoroço lá fora, todos já viam dessa forma.

— Dohga.

A pedido de Ariel, ele começou a falar hesitantemente.

— Eu… penso muito. Eu… prometi ao papai proteger minha irmã. A Senhora Ariel disse que proteger o reino significa proteger minha irmã. A Senhora Ariel é rainha, então protegê-la significa proteger o reino. Mas minha irmã me diz, ela diz que eu a protegi o suficiente. Ela não tem problemas, então agora eu protejo quem eu amo. Eu… amo a Senhora Ariel. Eu amo este… reino. Mas meu amor por Isolde… é mais especial. Então eu renuncio… como cavaleiro da Senhora Ariel. Então… eu protejo Isolde. — Ele colocou seu capacete na mesa com um baque. Então se virou e estendeu o buquê para Isolde.

Isolde olhou para as flores azuis na sua frente, com as pétalas ligeiramente murchas. Era o mesmo buquê de ontem.

— Então é isso que Dohga tem a dizer… mas o que você diz, Isolde?

— Hã?

Diante dessa súbita profissão de amor, Isolde piscou com força.

— Não sei que termos você estabeleceu, mas aparentemente, ele a escolhe em vez dos Sete Cavaleiros de Asura. O momento que todas as mulheres anseiam, hm? O que você diz?

Ariel não ia acusá-la de incitar traição. Além disso, estava pedindo a Isolde que respondesse a Dohga.

— M-mas todos os homens que Vossa Majestade me apresentou…

— Ah, eles. Deixe-os para lá — disse Ariel.

O coração de Isolde bateu em seu peito ainda mais forte do que quando enfrentou o Deus da Luta no Reino de Biheiril. Ela sentiu que ia desmaiar.

 

 

 

— Eu… eu… — De repente, ela se lembrou da lenda do primeiro Deus da Água e da princesa que jogou tudo fora para ser sua esposa. Com base no que ele lhe dissera ontem, Dohga era um homem com quase nada. Ele tinha seu tamanho, sua força, alguns parentes e seu posto nos Sete Cavaleiros de Asura. Era tudo.

Ele havia escolhido Isolde.

Mesmo que isso significasse deixar sua família e seu posto. Fazia apenas um dia. Ele disse que pensara muito, mas sua decisão fora quase imediata. Dohga lhe dissera que a valorizava acima de tudo. Ele não era como os outros nobres ou os pretendentes reais que Ariel lhe enviara. Nenhum deles teria perseguido Isolde a ponto de descartar o maior de seus bens, assim como a princesa que se casou com o primeiro Deus da Água. Dohga poderia ser a única pessoa no mundo que amaria Isolde tanto assim.

O que mais ela poderia querer? Quem se importava com a aparência dele?

Antes que percebesse, Isolde havia pegado o buquê, aquele enorme maço de flores azuis. Elas estavam um pouco passadas. Dohga ainda amaria e guardaria as flores, mesmo que murchassem. No final, a juventude e a beleza não duravam.

— Sou sua, se me quiser — disse Isolde.

— Mm! — Dohga sorriu para ela enquanto aplausos irrompiam ao redor deles.

A história da proposta nos aposentos reais estava na boca de todos depois disso, chegando até os mais baixos escalões de soldados. Os antigos camaradas de Dohga choraram de alegria, e todos os admiradores de Isolde choraram em seus travesseiros. Dohga renunciou aos Sete Cavaleiros de Asura para se tornar o marido de Isolde. Em vez de Dohga dos Sete Cavaleiros, ele era agora Dohga, o dono de casa… ou esse era o plano.

— Você diz que pretende renunciar como cavaleiro. Isolde também é uma cavaleira deste reino. Ela é muito forte, mas se eu morresse e o reino se tornasse instável, ela poderia ser assassinada. Você a protegerá, é claro, mas mesmo assim… Claro, isso não acontecerá enquanto eu não morrer. O que me diz, Dohga? Enquanto você protege Isolde, poderia me proteger também?

Levado pelas palavras doces de Ariel, Dohga permaneceu um cavaleiro. Ariel era gananciosa. Ela não ia deixar o Imperador do Norte Dohga escapar por entre seus dedos. Ela o repreendeu por criar uma cena nos aposentos reais e lhe atribuiu trabalho como punição, mas não era nada muito árduo.

Foi assim que tanto Isolde quanto Dohga conseguiram fincar raízes. Os Sete Cavaleiros de Asura se tornaram mais unidos, o que foi um grande sucesso para Ariel. Ela devia favores aos membros da realeza que havia solicitado, mas isso não era nada. No entanto, por causa de seu casamento, o tempo de Dohga para guardar os aposentos reais despencou. Ele ia para casa na hora certa todas as noites, e quando Isolde viajava, ele a acompanhava sem falta. Como resultado, Isolde acabou assumindo um papel de algo como guarda pessoal de Ariel.

Isolde, embora desajeitadamente, concordara em se casar com Dohga. Ela impôs um período de namoro antes de se casarem, então levou um ano até que a feliz ocasião acontecesse. Por causa do atraso, mesmo depois de casados, corriam boatos de que era tudo afeto unilateral da parte de Dohga, e Isolde não se importava muito com ele. Sua atitude em relação a ele no palácio permaneceu tão fria como sempre. Os boatos rapidamente se dissiparam após um incidente em que Isolde acidentalmente chamou Dohga de “querido” na frente dos soldados, antes de ficar vermelha como um pimentão e tentar se corrigir. As pessoas especularam que ela se aquecia quando estavam sozinhos.

E foi assim que Dohga e Isolde se tornaram marido e mulher.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Pride

 

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Solo Yuusha
Solo Yuusha
1 mês atrás

Casal fofinho ☺️

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Vanir
Vanir
1 mês atrás

Bom saber que até o Dohga teve um final feliz, e inesperadamente com Isolde. Espero que tenha algo envolvendo o Sandor

Gomes Rudeus
Gomes Rudeus
1 mês atrás

Adorei cada minuto. Há continuação?

PsyCross
PsyCross
1 mês atrás

Kkkkk quase que a Ariel fica sem soldado kkkk

Alguém aleatório
Alguém aleatório
1 mês atrás

Lindo, triste que os haters só vejam somente as relações sexu@is do anime em vez dessas.

Tartarugakk
26 dias atrás

1 mês sem ler pra agora vir aqui, amo esse casalzinho e so desejo coisas boas no futuro. Tomara que saia algum personagem que participe do six faced world no futuro (proxima obra do rifujin baseada no verso de mushoku)

22092012
15 dias atrás

Que bom que deu tudo certo pro Dohga, casal inesperado mas bem vindo.

supremacy
Vol. 01 – Cap. 09