Ainda nos primeiros anos de vida neste mundo, meu pai me disse: Há uma pessoa que você nunca deve fazer como inimigo.
Perguntei o motivo, mas ele não quis me contar, oferecendo apenas uma resposta vaga. Essas lembranças dos meus primeiros anos são raras e queridas.
O tempo passou e, no final da Segunda Grande Guerra Humano-Demônio, um certo ditado começou a se espalhar: Há três pessoas neste mundo que você não deve fazer como inimigos.
Bem, isso não era interessante? Um havia se tornado três. No entanto, quando ouvi os detalhes pela primeira vez, fui tomado pelo riso. Esses três eram o Deus Dragão, o Deus Demônio e o Deus Lutador. Não pude evitar perguntar genuinamente: “Não seriam quatro pessoas?” Por direito, o Deus Técnica deveria estar nessa lista.
Infelizmente, poucos haviam visto o Deus Técnica e sua existência era, no mínimo, duvidosa. Como um rei demônio sábio e todo-conhecedor, eu sabia que, fossem três ou quatro, a verdade permanecia a mesma. Na verdade, havia apenas uma pessoa a quem não se deve ter como inimigo, o Deus Dragão Demônio Laplace. Ele sempre foi o maior de todos, até ser dividido em dois na Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. Mesmo depois, continuou a tiranizar o mundo através do medo.
Ele era verdadeiramente o maior do mundo. Quanto a mim, sempre que encontrava um jovem embriagado com sua própria força, dizia-lhe: “Há três pessoas neste mundo que você não deve fazer como inimigos”. O Deus do Norte Kalman gostava tanto que supostamente repetia isso sempre que podia. Ele sempre foi tão suscetível à influência dos outros.
Ah, mas se você perguntasse aos jovens de hoje para nomear as três pessoas que não deveriam fazer de inimigos, você provavelmente teria um trio diferente. Acho que alguns até nomeariam o Deus do Norte Kalman. A ameaça de Laplace havia diminuído, pois mais de quatro séculos haviam se passado.
Mais do que a história contava, Laplace era terrivelmente poderoso. Eu vivi muito tempo, mas nunca encontrei uma ameaça maior do que ele.
No entanto, o Deus-Homem me disse que uma ameaça maior existe na forma do atual Deus Dragão: o Deus Dragão Orsted. Esse seria o homem a quem o grande Deus Dragão Urupen passou suas habilidades. Dizem que ele é o quê, o centésimo Deus Dragão? Eu mal podia acreditar que a linhagem continuou por tanto tempo, mas o grande Urupen sempre foi desleixado com número. O número real de gerações provavelmente era irrelevante.
De qualquer forma, esse Deus Dragão Orsted deveria ser terrivelmente poderoso, tanto que superava o Deus Demônio e o Deus da Técnica, e poderia até derrotar o Deus Dragão Demônio Laplace. Eu teria dificuldade em dizer que acreditava em tal história. Afinal lutei pessoalmente contra Laplace uma vez e sua crueldade estava além do meu poder de expressá-la. Um poder maior do que isso? Inconcebível! Fwahahaha!
Ainda assim, aquele deus covarde dos homens que nos olhava de cima a baixo como escória, aquele que era um modelo de arrogância que até Laplace não ousava desafiar, temia apenas este Deus Dragão. Ele se esforçou muito para matar aquele homem com aquela fisionomia temível e ainda assim nunca havia conseguido. Você acreditaria? Ele até veio e inclinou a cabeça para mim! Só isso já deveria ser suficiente para fazer alguém acreditar.
Agora, havia alguém por aí que pudesse derrotar um ser tão poderoso? A resposta era não. Não havia nem mesmo alguém que pudesse derrotar o Deus Dragão Demônio Laplace. Eu não tinha grande conhecimento do assunto, mas meu pai disse que ninguém rivalizou com o poder do Deus Dragão por mais de dez mil anos. Era de se esperar, não? Ele era o mais forte fisicamente, possuía uma armadura invencível e suas habilidades em artes marciais era incomparável, como alguém poderia vencê-lo?
Quatrocentos anos atrás, na Guerra de Laplace, foi apenas por pouco e com o poder dos Sete Heróis Lendários que o Deus Demônio Laplace foi selado e ele só tinha metade de seu poder naquele momento.
Não, não me diga! Você tem uma pergunta sobre isso, não tem? Você quer saber por que o Deus Dragão Demônio Laplace não está por aí hoje. Por que ele foi dividido em Deus da Técnica Laplace e Deus Demônio Laplace e por que Orsted herdou o nome de Deus Dragão?
Eu tenho uma resposta para você. Foi porque outro sujeito apareceu, levando o nome de Deus Lutador. Outro Deus Lutador, você diz? Bem, isso se resume a um simples caso de roubo de identidade. Um homem roubou a armadura suprema de Laplace: A Armadura do Deus Lutador, criada pelo próprio. Essa Armadura era terrivelmente poderosa, sabe?! Tão grande é o poder que ela confere ao seu usuário que você pode pensar que foi criada especificamente para derrotar um deus.
Sem dúvidas, qualquer pessoa comum morreria assim que a colocasse… Não só isso, mas essa armadura mataria qualquer um que a usasse por muito tempo, não importa o quão poderoso fosse. Mesmo o Deus Dragão Demônio Laplace lutou sem ela nos últimos dias da Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. Não era um item para brincar.
Se pensar sobre isso, o ladrão obteve o poder da armadura, lutou contra o Deus Dragão Demônio, e acabaram se derrotando mutuamente. Irônico, não é? Derrotado pela armadura que ele mesmo criou.
— …Cara, você fala muito. Qual é o seu ponto aqui? — reclamou Geese.
— Que se tivéssemos a Armadura do Deus Lutador, poderíamos até derrotar o Deus Dragão Orsted! Esse é o meu ponto!
— E se não a tivermos?
— Então certamente perderemos. O jovem Deus do Norte e o desdentado Deus da Espada podem pensar o contrário, mas eu que lutei contra o Deus Dragão e sobrevivi, sei melhor do que ninguém a sua força.
Geese ficou em silêncio.
— Embora eu seja um demônio imortal, morrerei se lutar contra Orsted, pois ele conhece maneiras de matar até aqueles da minha espécie.
— Então qual é o plano?
— Vamos pegá-la, é claro.
— Sim, é fácil falar, mas não é como se essa armadura louca estivesse apenas guardada em algum porão, certo?
— Dizem que está bem selada e a jornada até lá é traiçoeira!
— Bem, isso é uma dor de cabeça. Não dá para simplesmente aparecer e pegá-la, né?
— Fwahahaha. Para mim, é como se fosse meu porão!
— Sim, bem, não acho que vai parecer assim para mim…
Geese suspirou como se estivesse farto. Era tarde demais; diante de nossos olhos abria-se a boca de um grande buraco. Estávamos no meio do oceano. Vez ou outra, partes de um recife espreitavam. Aqui, em uma porção de oceano comum e despretensiosa, havia um buraco de cerca de cinquenta metros de diâmetro. A água brotava dele. Isso mesmo, não fluindo para dentro, mas brotando. Quem sabia de onde vinha e para onde ia? Aqueles com os olhos para vê-lo também notariam que o buraco emitia uma quantidade incrível de magia. Claro, isso me incluía.
— Este lugar está cheio de energia louca.
— Você sente isso, então!
— Eu invadi um Labirinto de Teletransporte de classe S e nem lá tinha nada comparado a isso…
— Fwahahaha! Mas é claro! Este labirinto, como você vê, é diferente de outros labirintos. É um ponto de coleta de mana que surgiu na Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. É onde um vasto continente desapareceu, habitado pelas almas errantes de muitos milhões de demônios.
— Este é um dos três grandes labirintos do mundo: a Caverna do Diabo!
De onde ele estava no meu ombro, Geese exclamou:
— Eita!
Labirintos eram propensos a surgir em áreas de alta concentração de mana. A verdadeira natureza da mana ainda era pouco compreendida, mas ela alterava animais e plantas e, às vezes, podia até mesmo causar mudanças em materiais inorgânicos. Os próprios labirintos eram cavernas e ruínas que haviam sofrido tais mudanças. À medida que mais e mais mana se acumulava, trazia efeitos desfavoráveis: monstros se multiplicavam, árvores cresciam densamente e, às vezes, doenças se espalhavam. Para nós demônios, era uma coisa, mas um corpo humano murcharia se exposto uma única vez a um grande volume de mana. Embora parecesse que os humanos tinham se tornado inesperadamente resistentes nos últimos tempos, pois agora raramente ouvia-se falar de tais casos.
As leis de como a mana se acumulava eram um mistério para mim, mas talvez a mana tivesse alguma propriedade que a atraía para si mesma, monstros atacavam humanos para se alimentarem de sua mana e os labirintos absorviam as criaturas que pereciam dentro deles. Por isso, os humanos construíam seus assentamentos e floresciam em lugares onde a concentração de mana era menor. Cidades e vilas dos dias atuais surgiam em lugares onde a concentração de mana era baixa. Até mesmo Rikarisu, onde ficava o castelo de Kishirika, era assim. Não havia nenhum outro lugar no Continente Demônio com uma mana tão fina. Ou pelo menos, tinha sido assim uma vez. As coisas pareciam diferentes agora.
Nada disso se aplicava à fortaleza de Atofe, a propósito. Imaginei que ela achava que viver em um lugar infestado de monstros parecia adequado para um rei demônio, minha irmã mais velha era simplista assim.
Voltemos a falar sobre os labirintos, no entanto. Labirintos frequentemente surgiam em lugares que fervilhavam com a alta concentração de mana, em outras palavras, os chamados poços de mana. Quanto mais densa a mana, mais vasto, profundo e enigmático o labirinto se tornava. Assim, os labirintos geralmente brotavam em florestas, lugares selvagens, montanhas, lugares afastados das pessoas. Tais lugares começavam ricos em mana e assim eram propensos ao desenvolvimento de poços de mana; que, embora fossem ocorrências naturais, tinham uma capacidade limitada. Os poços que excediam essa capacidade estabelecida eram, de certo modo, criações artificiais.
Morte. Quando uma pessoa morre, a mana permanece. Sob circunstâncias normais, a mana rapidamente se dissipa ou então é usada para transformar o corpo em um morto-vivo.
Se um grande número de vidas chegasse ao fim em uma pequena área, a mana, através de sua propriedade de atração mútua, não se espalharia, mas, em vez disso, começaria a convergir. No final da Segunda Grande Guerra Humano-Demônio, a explosão que ocorreu quando Laplace e eu nos abatemos mutuamente varreu o continente e, junto com ele, multidões de pessoas, animais e monstros. A mana produzida convergiu na origem da explosão e deu à luz a um labirinto. Esse labirinto era a Caverna do Diabo.
Era o pior dos piores, facilmente comparável ao Poço do Deus Dragão no Monte Lágrimas do Dragão nas Montanhas da Wyrm Vermelha e ao Inferno no Continente Celestial.
— Ufa… Então, é aqui que vamos descer?
Era perigoso se aventurar nas profundezas. Primeiro, havia um túnel vertical de cerca de vinte metros que conectava a entrada ao primeiro nível. As paredes eram cachoeiras fluindo ao contrário e atrás delas viviam grandes ninhadas de serpentes marinhas grandes o suficiente para facilmente engolir uma pessoa inteira. Mesmo para mim, levaria três dias para limpar adequadamente o lugar.
— O Deus-Homem disse alguma coisa?
— Pule! As serpentes vão atrás de qualquer tolo que vá pela superfície da água, mas se você cair pelo meio, elas não se importam.
— Fwahaha. Então isso será fácil! Hup!
— Oowah!
Eu pulei! Com Geese ainda no meu ombro, saltei e deixei o impulso nos levar ao centro do buraco. O vento soprava sobre meu corpo enquanto eu caía no abismo. Ah, a sensação de queda sempre era boa! Vamos ver, quando foi a última vez que saltei de um lugar alto? Foi quando pulei do penhasco nas Montanhas da Wyrm Vermelha ou foi quando pulei no grande cânion no Continente Demônio? Não posso voar pelos céus como Atofe ou Kishirika, então já fazia bastante tempo.
Ah ha, havia muitos olhos espiando na superfície da água. Eram as serpentes marinhas. Suponho que, se eu sequer tocasse a superfície com os meus dedos, elas iriam imediatamente emergir e atacar. Isso mesmo! Elas tinham um nome incrivelmente sem graça: Dragões do Outono. Os humanos tinham o péssimo hábito de colocar o nome dragão em qualquer coisa com a cabeça um pouco parecida com um lagarto, mesmo quando não se parecia nada com dragões.
Agora, enquanto alguns monstros sempre atacam, às vezes você encontra feras como essas que ficam à espreita. Engraçado como isso acontece.
— U-uau! Você consegue aterrissar, não é?
— Fwahahaha! Ao contrário do que você possa pensar, aterrissar é minha especialidade!
— É melhor que seja!
Que homem cético! Por outro lado, os medos de Geese eram justificados. O fundo do buraco era escuro e era difícil ver onde pousaríamos. Eu mesmo não sabia ainda, então suponho que ele não podia deixar de se preocupar que eu errasse.
— Leve como uma pluma!
Eu nunca erro nada. Aterrissei com ambas as pernas, usando os ligamentos dos meus joelhos ao máximo para absorver o impacto, mesmo enquanto os ossos rachavam. Meu osso do quadril também rachou. Usando meus órgãos internos como amortecedores, impedi a força do impacto de chegar à parte superior do meu corpo. Então usei seis dos meus dedos para levantar Geese e finalizei o restante da força do impacto com meu cotovelo.
Foi perfeito!
— Guh!
Pelo menos, eu achava que sim, mas Geese ficou azul quando todo o ar foi expulso de seus pulmões.
— Ack, ack… — Após alguns momentos de silêncio, ele deu uma tosse forte e começou a respirar novamente. Quão fraco ele devia ser em combate para respirar daquele jeito após um pequeno impacto como este?!
— Eu estava certo, não estava?
— Sim, eu acho. — Ele parecia descontente, mas não podia reclamar. Sua vida nunca esteve em perigo.
— Sendo assim.
Estávamos no primeiro nível. Espalhado no fundo do vasto buraco havia um lago subterrâneo igualmente extenso. Grandes pilares se erguiam para sustentar o teto. Por mais estranho que pareça, havia água acumulada no teto também. O lugar estava inundado acima e abaixo. Assim como o tipo de enigma que você encontraria em ruínas antigas. A terra era visível aqui e ali, mas a borda do lago estava fora de vista. Se fôssemos descer mais, não teríamos escolha a não ser submergir nas profundezas daquela água…
No fundo deste lago, havia pequenas criaturas semelhantes a caranguejos. Quero dizer, verdadeiramente minúsculas, não maiores que seu dedinho. Elas se acumulavam no fundo. À primeira vista, você pode não pensar nelas como uma grande ameaça, mas quando um inimigo mergulhava abaixo de uma certa profundidade, todas atacavam de uma só vez e arrancavam a carne dos ossos em segundos.
Se estivesse sozinho, poderia suportar. Geese seria transformado em um esqueleto.
A propósito, nenhum dos monstros daqui em diante tinha nomes. Se Laplace ainda estivesse vivo, o velho cão provavelmente teria vindo e nomeado cada um deles. Dizem que ele era meticuloso a esse nível.
— Fwahahaha! O que você fará a partir daqui?
— Me dê um segundo. — Geese disse, então desceu do meu ombro e fechou os olhos. Ele girou três vezes em círculo, depois ergueu o braço e disse: — Acho que é por ali.
— Fwahahaha! Fascinante! Algum pequeno encantamento que seu povo usa, é?
— Nah. O Deus-Homem disse que se eu fizesse isso, nós passaríamos.
— Fwahaha! Você pediu a resposta? Que tédio! Quando você explora um labirinto, faz um mapa, com todos os mínimos detalhes, não é?
— Eu não tenho tempo para isso!
Imaginei que ele não tivesse. Pessoalmente, eu era bastante parcial ao tipo de trabalho minucioso que seria necessário para buscar o único caminho para o fundo deste espaço vasto. As raças de vida mais curta sempre queriam cortar o tempo desperdiçado. Mesmo que desperdiçar tempo fosse o que tornava aquele tempo tão especial…
— Fwahahaha! Então vamos partir!
— Sim.
Eu ri, então coloquei Geese nas minhas costas e comecei a nadar pelo silêncio total do lago subterrâneo. Percebi algo se contorcendo longe, bem abaixo de nós, mas tinha certeza de que não subiria
Nadei assim por um longo tempo. Por volta do momento em que Geese começou a cochilar nas minhas costas, vi uma ilha surgindo do lago subterrâneo. Cautelosamente, fui para a terra e descobri que havia um piso de pedra e, no centro, uma escada que levava para baixo.
— Demorou tanto assim para passar pelo primeiro nível? Na velocidade máxima? Quão grande é esse lugar?
— De fato… — Enquanto ouvia as queixas de Geese, estreitei os olhos para a escada, parecia haver algo familiar nisso tudo.
Depois disso, continuamos descendo nível após nível. Geese tinha o método de “passar” cada nível memorizado perfeitamente, esses métodos, mostrados a ele pelo Deus-Homem, eram completamente insanos. Passei toda a jornada me perguntando como conseguimos passar de um nível ou por que não encontramos nenhum monstro em outro. Era incompreensível. Será que Geese alguma vez questionou isso…? Não, ele não questionaria. Esse homem não estaria vivo hoje se tivesse duvidado das palavras do Deus-Homem sequer uma vez. Sua gratidão a Ele devia ser absoluta.
— Fwahahaha! O que esta porta grandiosa está fazendo nas profundezas de um labirinto?
— Não sei. Acho que até os labirintos têm que manter as aparências.
— Fwahahahahaha! Exibindo-se, não é? Essa foi boa! Fwahahaha!
Diante de nós estava uma porta enorme com cerca de dez metros de altura. Era quase tão grande quanto a porta que havia sido instalada no castelo de Kishirika durante a Segunda Guerra Humano-Demônio. Desde que foi construída até quando foi perdida, essa porta nunca foi aberta. Veja, seu tamanho excessivo tornava muito difícil abri-la. Mesmo seres maiores do que eu, usavam uma entrada lateral para entrar. Isso me traz lembranças! Naqueles dias, eu reclamava sobre o porquê alguém faria uma porta tão grande que nem sequer abria, dizendo que deveríamos derreter o metal e transformá-lo em armas para os soldados.
Contudo, Kishirika rejeitou a proposta com um absurdo sobre como “Se um campeão aparecer e encontrar um portão em ruínas, isso arruinará minha reputação como Grande Imperatriz do Mundo Demônio.”
Será que ela alguma vez abriu, no final? Talvez Laplace a tenha aberto. Embora, se ele a destruiu, então isso queria dizer que havia algum significado em sua existência… Naquela época, pensava que estava certo sobre tudo. Só agora, no papel de desafiante, eu me perguntava sobre essa tal autoridade de Kishirika… Mas não, na verdade, eu não entendia isso de jeito nenhum! Fwahahaha! Esta porta era claramente grande demais! Parecia apenas uma parede! Um campeão enfrentando esta porta não tentaria forçá-la a abrir, apenas passaria pela porta lateral!
— Eles estão atrás disso.
— É o que parece.
Eu concordei com Geese. Labirintos tinham coisas grandiosas como essa em seu ponto mais profundo. Quanto mais forte o labirinto, mais forte era a inclinação para a grandiosidade. Dentre os que eu vi, o ponto mais profundo do Labirinto de Aço Negro era particularmente magnífico com sua porta dourada. Kishirika teria gostado.
Voltando ao assunto. O que estava por trás da porta no ponto mais profundo do labirinto era seu guardião, por assim dizer. Quando abríssemos essa porta, uma batalha com o monstro mais poderoso do labirinto começaria. Claro, o nível do guardião da Caverna do Diabo estaria além das minhas mais selvagens imaginações… Isso não era problema. Geese teria sido informado sobre como vencê-lo. Poderia ser uma luta difícil, mas sairíamos vitoriosos no final.
De repente, perdi a vontade de rir e examinei a porta de perto.
— O que foi, amigo? Perdeu a coragem, foi?
— Sim. — falei, brevemente. Geese se virou para me encarar.
— E-Ei, acorda! O que houve? Não posso ouvir isso de você. Sim, estamos prestes a enfrentar o guardião deste labirinto infernal, eu entendo, mas temos que levar isso a sério! Você é um rei demônio imortal, certo?! Como você tem algo a temer?
O tom do demônio com cara de macaco era irônico. Geese sempre usava uma voz de brincadeira quando tentava persuadir alguém. Então, quando o momento chegava, ele ficava sério e enfiava suas palavras direto no coração de seu alvo. Suponho que esse era o seu charme, mas não importava.
— …Hm.
— Não me diga que você está realmente intimidado?
Eu não estava, é claro. Em primeiro lugar, como um demônio imortal, não tinha nada a temer de uma batalha. O que quer que acontecesse, eu não morreria. Fwahahahaha!
Enfim.
— Observe! — Eu me virei. Atrás de nós, a morte estava em toda parte. Chamas surgindo do nada. Terremotos intermináveis. Fendas abriram-se no chão e engoliram tudo na superfície. Espalhados pelo espaço estavam os mortos-vivos. Ossos quebrados, fantasmas que desapareciam como névoa e pedaços espalhados de armaduras enegrecidas.
— Sim, bem, é um inferno. Se você chegou até aqui lutando, essa seria uma história para passar para as gerações. Só que desta vez, bem, eu não posso contar a ninguém e, mesmo se contasse, ninguém acreditaria…
— Este lugar me deixa nostálgico.
Geese olhou para mim chocado e disse:
— Desculpe? Você disse o quê, agora? Quer dizer que você já esteve aqui antes?
— De fato. Mas não neste lugar!
Foi no dia em que a Segunda Grande Guerra Humano-Demônio terminou. Para resgatar Kishirika, vesti a Armadura do Deus Lutador e retornei ao quartel-general dos demônios. Foi quando vi isso. Por causa da concentração incrivelmente alta de mana em frente ao novo castelo de Kishirika, todos que morreram ali se tornaram mortos-vivos antes de uma hora passar. Eu conhecia os rostos de todos eles. Eles eram verdadeiros guerreiros, que haviam jurado lealdade à Kishirika e tiveram seu poder reconhecido por ela: a guarda pessoal de Kishirika. Eu esperava que lutassem preparados para morrer, mas no final, todos caíram pela mesma espada. Eu sabia, porque todos foram transformados em Dullahans1Dullahans são figuras da mitologia irlandesa, conhecidas também como “cavaleiros sem cabeça”. sem cabeça.
Vestígios visíveis deles haviam sido deixados nos Mortos-Vivos que enfrentei. Eu vi muitos com o mesmo rosto, esses mortos-vivos haviam sido gerados como cópias. Eu vi claramente.
Agora que pensava nisso, todo o labirinto era familiar. Primeiro, havia a escada em espiral de pedra que conectava o primeiro nível ao segundo; depois a estrutura parecida com o interior de um forte; A sala com um teto que brilhava como se estivesse cheia de estrelas; a arma sendo carregada pelo monstro em forma de homem; a fratura na parede exterior colapsada; as pequenas flores que não cresciam em nenhum outro lugar, mas haviam florescido ao lado do caminho; os monstros que deveriam estar extintos… Eu já havia visto tudo isso antes, tinha uma forte sensação de déjà vu.
— Continue. — Para acalmar minha ansiedade, sentei-me e disse: — Vamos lá, sente-se.
Geese não disse nada, mas se sentou à minha frente. Sentar-se assim frente a frente com outro homem me dava vontade de beber, mas infelizmente não tínhamos nenhuma bebida. Esta não era o tipo de conversa para se ter sóbrio, mas enfim.
— Você já ouviu que o mundo costumava parecer diferente de como é hoje?
— Isso é sobre aquela história que o golpe do Cavaleiro Dourado Aldebaran não apenas derrubou Kishirika Kishirisu, mas também dividiu o continente e criou um oceano, né?
— Sim, isso mesmo.
Essa lenda era tratada como mera ficção nos dias de hoje. Era completamente inacreditável que um homem pudesse mudar a forma de um continente. As pessoas sabem, quando olham para a vastidão do mundo, que são pequenas e que a natureza é gigantesca. Eu me incluía entre elas! As montanhas, o oceano, toda a natureza sempre foram magníficos e muito além do nosso poder.
— Eu realmente não consigo ver isso, mas você estava lá, certo?
— Eu estava.
Geese seria o mesmo, por isso ele ouvia daquela forma.
— Nos dias do meu nascimento, não havia Mar de Ringus.
Ouvi Geese engasgar-se e com toda razão! Quem não faria essa cara ao saber que o oceano que eles haviam cruzado apenas alguns dias atrás uma vez não existiu? Suponho que ele acreditava porque as palavras vinham da minha boca.
— Monte Idatz, as Colinas de Ares, o Rio Mimishillan, o Lago Cabre… Já ouviu falar deles?
Geese balançou a cabeça.
— São todos nomes de lugares que costumavam existir. Cada um tinha sua própria história. O Monte Idatz, por exemplo, era renomado como a montanha onde o grande espadachim elfo Idatzleid aperfeiçoou sua arte.
— Uau…
Ele não sabia. Idatzleid morreu na Primeira Grande Guerra Humano-Demônio. Era um espadachim elfo que matou milhares de demônios. Finalmente, na batalha decisiva contra Necross Lacross, um dos Cinco Grandes Reis Demônios, ele morreu de forma heroica. Não restavam livros contendo aquele episódio, nem ninguém que pudesse contá-lo. Até a montanha que simbolizava isso desapareceu. Era natural que Geese fosse ignorante sobre isso. Parecia que todas as evidências de que aquele homem havia vivido desapareceram… e ainda assim, lhe digo, eu me lembrava.
A história do grande espadachim Idatzleid era muito popular durante a Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. Não a ponto de todos conhecerem, mas todos que empunhavam uma lâmina haviam ouvido alguma versão da história. Contudo, atualmente ninguém mais sabia disso.
— Pessoas, edifícios, e não apenas isso, mas até mesmo a forma da terra se foi. Perdemos tudo. — Quando disse isso em voz alta, senti um aperto no peito. — É assim que o poder contido na Armadura do Deus Lutador que estamos indo buscar é. — Pensei nas coisas e memórias perdidas; em todas as belas vistas que ninguém mais lembrava: — É o poder de destruir o mundo.
Será que Geese entendia o quanto poderia ser perdido daqui para frente?
— Se, no Reino Biheiril, chegar à mesma conclusão que teve da última vez, a totalidade do Continente Celestial e cerca de metade do Continente Central e do Continente Demônio serão aniquilados.
Geese escutou em silêncio.
— A grande explosão alterará as paisagens dos continentes restantes também. O Continente Central deixará de manter sua atual prosperidade. A Grande Floresta pode se tornar um deserto. Millis pode ser engolida pelo oceano e o Continente Begaritt pode ser empurrado ainda mais para longe.
“As raças seriam empurradas juntas e haveria conflitos. Embora não tenha sido registrado em nenhum livro de história, quatro mil e duzentos anos atrás, uma era de escuridão reinou por quase três mil anos. Todas as raças vagaram, procurando por uma terra para chamar de sua, lutando entre si…”
Tendo dito isso, foi alguns anos após o fim dessa guerra que acordei, então sabia pouco sobre essa época. Fwahahaha!
Lembro-me de como, após muitos anos, os humanos expulsaram os demônios do Continente Central e nos levaram ao Continente Demônio.
— A terra muda, as culturas mudam, os modos de vida mudam e assim estoura o conflito. Embora possa ser difícil ter uma noção de tais coisas apenas ouvindo falar delas. — Quando acordei, fiquei pasmo. O mundo parecia diferente de antes. Havia mudado de todas as maneiras. — Era um mundo totalmente diferente.
O fim do mundo é menos chamativo do que se espera. Depois de alguns milhares de anos, ninguém se lembra do mundo que já foi, exceto nós, demônios imortais. Eu mudei depois daquela guerra. Fiquei noivo de Kishirika e parei de me preocupar com problemas triviais. Vivemos em contentamento através dos dias de paz. Assim, tenho apenas lembranças agradáveis dos últimos quatro mil e duzentos anos, embora também tenha esquecido as más memórias quando era conveniente. Fwahahaha!
Geese estava em silêncio. Na posição dele, ele não podia entender.
— Com tudo isso em mente, eu simplesmente tive que parar. — Ao contrário de Atofe, eu sou relativamente rápido em perceber as coisas. Porém, agora que parei, não me moveria novamente até ficar satisfeito. Eu sou, afinal, um rei demônio sábio. Não posso agir a menos que seja racional. Fwahahaha!
O que significava que eu estava esperando ser persuadido. Esta era a provação para Geese, este era um julgamento de rei demônio.
— …Ei, amigo. — Após um período de silêncio, Geese falou: — Você é um demônio imortal, então acho que vê o mundo de forma diferente de mim.
— Acredito que sim.
— Quando a terra muda e as culturas mudam, bem… provavelmente, pode parecer um mundo diferente para você.
— Certamente pareceria assim para qualquer um, não?
— Nah, não pareceria. De jeito nenhum. — Geese balançou a cabeça. — Do jeito que vejo, mesmo que você não faça nada, só ir para o país vizinho é como… caramba, é como um mundo diferente. Se você voltar ao seu antigo país dez anos depois, ele parecerá totalmente diferente. Como uma nova realidade.
Dez anos, ele disse. Eu sabia disso em teoria, mas dez anos realmente eram muito tempo para a maioria das outras raças.
— Em apenas dez anos, há muitas coisas que não mudam tanto, então você tem momentos em que vê essas coisas e se sente à vontade. Contudo, passa a pensar em como você não mudou também e isso realmente te deprime. — Geese falou com a mesma indiferença de sempre, mas havia um peso por trás de suas palavras.
— Destruir o mundo? Se você me perguntar, isso é uma honra. Depois que o mundo acabar, eu gostaria de construir um monumento para mim. — Parecia uma piada, mas seu tom era sério. — Só que, se houver uma explosão tão grande, acho que não vou sobreviver. Droga! Provavelmente morrerei em um choque secundário no meio da luta.
Geese olhou diretamente nos meus olhos enquanto continuava:
— O chefe… quero dizer, Rudeus, ele é um cara excepcional. Sim, ele tem magia saindo pelos olhos, mas como eu, não pode usar aura de batalha. Contudo, não deixou isso o abater, pelo contrário, se esforçou e ficou esperto, além de ser humilde e saber como contar com os outros. As pessoas não contam com Rudeus, entende?! É o contrário. Mesmo que pensemos que pode fazer tudo sozinho, ele consegue dividir tarefas entre outras pessoas e elas o seguirão. Não há muitos caras que podem fazer isso.
“Eu, eu não sou forte o suficiente para enfrentar o chefe. Eu sei disso. Veja, desta vez, o que fiz foi reunir pessoas. Será uma luta em pé de igualdade. Faz você querer vencer, não é? Ao contrário do chefe, eu não tenho nada além disso. Eu tenho o Deus da Espada, o Deus do Norte, o Rei Abissal, o Deus Ogro e agora o Deus Lutador. Sim, peguei emprestado os poderes do Deus-Homem, mas acho que reuni uma força tão boa quanto poderia. Vamos entrar com uma formação como nunca se viu antes. Pensei nisso, eu os reuni, e estou indo para vencer. Então não é nada para mim se morrer no caminho. Vivi uma vida sombria, fazendo o que o Deus-Homem me dizia. Foi assim que valorizei minha própria pele; cuidei dela com muito cuidado, então não vou perdê-la, é assim que eu me sentia. Achei que era a coisa mais importante, mas também pensei que talvez houvesse algo mais importante em algum lugar por aí. De qualquer forma, termina aqui. Estou ciente de que posso morrer, mas não vou parar. Então você tem que se comprometer. Meu oponente é Rudeus? Bem, o seu é o Deus Dragão Orsted. Contra um inimigo ainda mais forte que Laplace, parece justo que o mundo acabe, sabe?”
Arriscar a vida era uma ideia desconhecida para mim, um demônio imortal. O Deus Dragão tinha o poder de matar demônios imortais, foi isso que matou meu pai. No entanto, não parecia real para mim. Até Atofe ainda estava forte depois de ser selada inúmeras vezes. Eu não estava familiarizado com a morte. Tendo dito isso, eu sabia que pessoas com vidas finitas a valorizavam. Pessoas como Geese a valorizavam especialmente. Eles não faziam nada importante com suas vidas, mas as valorizavam, no entanto.
… Isso era tudo. Agora ele tinha a chance de fazer algo importante e estava disposto a dar sua preciosa vida em troca. Não havia nada que obrigasse eu a me juntar a ele… Havia decidido me opor ao Deus Dragão. Decidi me juntar ao Deus-Homem. Embora tivesse dito para mim mesmo, no final da Segunda Grande Guerra Humano-Demônio, que nunca mais faria isso, explorei as profundezas da Caverna do Diabo para recuperar a Armadura do Deus Lutador. De fato, eu tinha que me comprometer, assim como Geese.
— Fwahahaha! Muito bem, vamos pegar a armadura que destrói o mundo!
— É isso que eu gosto de ouvir! Vamos lá!
Querido eu, fiquei um pouco enrolado em meus pensamentos! Depois daquele dia, deveria saber que era melhor avançar sem pensar no que poderia me esperar. Eu era esperto, mas também tolo, e achava que isso me faria um homem digno de Kishirika.
Bem, se for assim, é melhor começar! Fwahahaha!
Eu conhecia o guardião do labirinto. Ele era um daqueles que haviam sido chamados de os Cinco Grandes Reis Demônios durante a Segunda Guerra Humano-Demônio. Quando cheguei ao local da batalha final, esse homem já estava morto há muito tempo. Ele havia sido o capitão da guarda pessoal de Kishirika. Seu nome era… Não, não vou dizer seu nome. Este ser tinha a mesma forma, mas não era ele.
Estávamos no ponto mais profundo da Caverna do Diabo, então estava convencido de que encontraríamos alguém à imagem e semelhança de Laplace. Foi um anticlímax.
Que este homem, leal, mas rígido e do tipo que se jogava de cabeça em tudo, fosse o guardião da Caverna do Diabo… Não fazia jus ao nome do labirinto.
— O-ooy! Esse cara parece perigoso…
— Fwahahaha! É verdade, ele parece bastante assustador! Mas não é uma ameaça séria! — Diante de nós estava, é claro, um cavaleiro sem cabeça. O que havia mudado em relação aos velhos tempos era que ele não estava segurando sua cabeça. Usava uma armadura negra como breu e estava cravado de espadas. Sempre que se movia, as espadas faziam um barulho horrível de arranhões. Se a memória não me falha, ele nunca foi do tipo que se perfurava com espadas. O que significava… Sim, pensei que estava óbvio como ele havia morrido, mas claro, ele lutou até seu amargo fim. Não contra Laplace, entretanto. Ele liderou um exército meio destruído por Laplace contra os humanos. No final, cortaram sua cabeça. Quando você não é um demônio imortal, você morre quando sua cabeça é cortada! Achei que seu corpo havia sido destruído naquela explosão, mas acabou que estava aqui! Ah, que reencontro tocante. Me deixou emocionado!
Agora era a hora em que gostaria de compartilhar uma bebida e trocar velhas histórias de guerra. Naquela época, ele e eu não nos entendíamos de forma alguma, mas hoje em dia… Tenho certeza de que poderíamos ter aproveitado uma bebida juntos. Infelizmente, tínhamos que derrotar o guardião se quiséssemos obter o objeto que viemos buscar. Eu fui direto ao ponto. Não é como se ele tivesse uma cabeça para beber de qualquer maneira! Fwahahaha!
— Fwahahaha! Venha e lute comigo, se ousar! — Levantei meus punhos e avancei. No passado, eu poderia ter hesitado diante deste rei demônio. O capitão tinha sido um homem forte, especialmente em combate individual! Ele podia até mesmo conter Atofe. Ela era imortal e tinha uma reserva interminável de resistência, então ele só podia contê-la, mas ainda assim! Ele reinou supremo como o mais forte dos Cinco Grandes Reis Demônios. Era sem dúvida um poder a ser considerado. Eu, o velho estudioso, nunca o desafiei. Ele me mandaria voando num instante. Desde aqueles dias, treinei e treinei. Usando a memória do tempo que passei vestindo a Armadura do Deus Lutador, desenvolvi meu próprio estilo marcial único e aperfeiçoei meus músculos para que pudesse usá-lo. Fiquei com Atofe, que me espancava todos os dias. Trabalhei para que pudesse agir com arrogância imprudente também. Quem diria que o dia chegaria para eu mostrar os resultados? Fwahahaha!
— Nghuh! — Enquanto me aproximava, começando a ficar animado, o punho dele me golpeou e me mandou voando. Dei três cambalhotas! Meu rosto afundou, mas isso logo se curaria.
— Fwahahaha! Isso é ruim! Não vou vencer assim!
Levantei-me imediatamente, com os punhos erguidos, mas a diferença de força era evidente, como esperado do guardião de um labirinto de alto nível! Ele parecia ainda mais forte do que eu lembrava… mas não, ele tinha isso em si antes. Era claro que, mesmo com um pouco de treinamento e trabalho no meu estilo de luta pessoal, ele ainda me superava. Esta não seria uma batalha fácil.
— C-certo então, ouça bem, entendeu? Ele tem um ponto fraco!
— Fwahahahaha! Ridículo! Um ponto fraco, ele?
— Sim, só o que o que o Deus-Homem diz é… seu ponto fraco são palavras! Entendeu?
Na resposta de Geese, parei de avançar em direção ao rei demônio. No segundo em que parei, ele me atingiu com a lâmina plana e me mandou voando para trás.
Enquanto voava, pensei.
Palavras? Mesmo que eu as dissesse, ele não tem ouvidos para ouvir!
— …Ahah! Eu entendo!
Palavras. Palavras?
É verdade que ele e eu lutamos lado a lado por muito tempo na Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. Embora não tivéssemos entrado em confronto, é claro que trocamos palavras e muitas promessas. Muitas delas mantivemos e tantas outras quebramos.
Hmm, nesse caso… há muitas para escolher!
— Eu não sei! — Levei outro soco. Não, nem contou como um soco. Sua espada estava tão cega que não podia perfurar meu corpo.
Ahah, espadas! É isso!
— Há muito tempo, ele tentou dar à Kishirika uma espada como oferenda! No dia anterior, ele disse que alguém a quebrou, mas na verdade… quem a quebrou fui eu! Eu sinto muito! Eu ressentia a ideia de você subir ainda mais! Foi por impulso! Perdoe-me!
— Gyaaaaah! — Ele perdeu o controle. Embora não tivesse cabeça, um grito de raiva surgiu de algum lugar. Então ele podia ouvir sem ouvidos! As orelhas de sua raça não estavam nas cabeças antigamente, então talvez também não falassem com as gargantas?
Mas agora não era hora para tal questionamento.
Eu estava arrependido por não conseguir confessar meus erros, mas tudo o que se podia esperar de uma espada oferecida à Kishirika era que seria usada em um truque de festa e quebrada de qualquer maneira. Então não me sentia tão mal.
— Vamos, você deve ter outra coisa! — Geese gritu: — Você não é o rei demônio sábio?
— Há muitas possibilidades! Não consigo reduzi-las!
— Então apenas tente todas!
Então eu fiz.
— Lembra-se de quando sua filha…
“Aquele cavalo azul brilhante que encontramos na Ilha Ruson! Isso…
“Quando derrotamos o exército humano nas Colinas Kohiba…”
Nenhuma das minhas palavras conseguiu alcançá-lo. Toda vez que eu dizia algo, sua espada voava e me jogava longe. Se eu fosse um demônio comum, teria morrido centenas de vezes. Eu me chamava de rei demônio sábio e, embora tivesse minhas próprias opiniões sobre sabedoria e conhecimento, bem, era impressionante como as memórias continuavam surgindo. Era como se eu tivesse voltado a ser meu antigo eu, revivendo minhas memórias. Fiquei um pouco nervoso.
— Eh? — Eu já tinha passado por mais de cem lembranças quando percebi algo.
— O-oy! Ele desacelerou um pouco, não é?
O guardião, movendo-se com um barulho horrível enquanto sua armadura rangia e sua espada arranhava, havia perdido um pouco de seu vigor, com certeza. Eu não sabia qual das minhas palavras havia encontrado seu alvo, mas uma delas devia ter.
— Certo, agora é sua chance! Não dê tempo para ele se recuperar!
Não, isso não está certo. Assim pensei enquanto olhava para o guardião leal. Nada do que eu disse tinha sido a resposta. O guardião me olhava como se estivesse sofrendo, como se minhas histórias o levassem a lembrar de algo. Talvez minhas velhas histórias o fizeram perceber de alguma forma que eu não era um inimigo. Ele havia perdido seu senso de si mesmo, mas sabia que eu não era alguém contra quem deveria erguer sua espada. Por que ele tentava tanto continuar lutando? Ele era o guardião; isso fazia parte. Monstros estavam sujeitos a tais papéis. Certamente era algum arrependimento que o transformou no guardião. Assim sendo, sabia o que dizer a ele.
— Nós demônios perdemos a guerra, mas não fomos destruídos e Kishirika Kishirisu está viva e bem. Lutaremos outro dia, abaixe sua espada.
O guardião parou de se mover. Então, sem nenhuma palavra, lentamente se ajoelhou, depois caiu para frente. Era como se estivesse satisfeito. Ele estava dizendo que agora finalmente poderia descansar.
— Mesmo depois de se tornar o guardião do labirinto, ele ainda estava preso pela lealdade. Que cabeça-dura.
Espero não me tornar o guardião de um labirinto depois da luta com o Deus Dragão, pensei enquanto caminhava adiante.
No ponto mais profundo do labirinto estava o trono onde Kishirika havia se sentado. Atualmente, era ocupado por uma armadura. Era linda. O design era simples, com peitoral curvado, ombreiras e protetores de coxas. Não havia nada de especial nela, mas você podia ver que estava muito distante de algum produto fabricado em massa jogado na pilha do armeiro local.
Se tivesse sido exibida em uma loja de armeiros, não falharia em chamar a atenção com seu design perfeitamente eficiente. Seja qual fosse o metal de que era feita, brilhava em dourado e no escuro emitia um leve brilho. A eficiência e o dourado brilhante produziam um efeito impressionante que fascinava quem a visse.
Era um pouco menor do que a última vez que a vi. Não, não tinha como o tamanho ter mudado. Quando a vi pela primeira vez, o medo que ela inspirou em mim deve tê-la feito parecer maior. Agora, no entanto, parecia muito mais sinistra.
— E-Esta é a Armadura do Deus Luta… U-uau… Dá para perceber que é incrivelmente poderosa só de olhar para ela.
— Tenha cuidado para não tocá-la. Ela vai te consumir.
— C-Certo… — Geese então recuou cautelosamente, seus dedos estendidos.
— Fwahahaha! Eu estava brincando! Nada acontecerá simplesmente tocando-a!
— C-Cara, não me assuste assim… Honestamente, parece que algo aconteceria se você a tocasse…
A Armadura do Deus Lutador, construída por Laplace como a armadura suprema. Nada aconteceria se você a tocasse, mas amaldiçoava aqueles que a usavam, incitando-os à batalha. Lembrar dos velhos tempos era o suficiente para me dar arrepios.
— Geese.
— Sim?
— Eu não sei no que vou me transformar depois de vestir a armadura.
Geese ficou em silêncio.
— Farei o meu melhor para proteger meu senso de identidade, mas será apenas uma questão de tempo até que eu me perca. No pior dos casos…
— Pior dos casos? Caramba, o que diabos eu devo fazer então?
— Oh, não, você só precisa me levar até onde estão nossos inimigos. Eu cuido das coisas depois disso.
— Tudo bem, parece viável.
— Fwahahahahaha! Estou contando com você!
— Legal. Demorou um minuto, mas agora temos toda a força que precisamos para vencer. O Rei Abissal vai desestabilizá-los, então o Deus da Espada, o Deus do Norte e o Deus Ogro vão entrar primeiro… e então, no final, se o Deus Lutador derrotar o Deus Dragão, então a vitória está praticamente garantida.
Geese parecia satisfeito.
Muito bem então!
— Bem, então, pela primeira vez em quatro mil e duzentos anos, vou mostrar aos nossos inimigos como é quando eu fico sério!
— Yeeah! Você consegue, grandão!
— Fwahahahaha!
— Hahahaha! O riso de alívio de Geese ecoou pelas paredes da antiga sala do trono de Kishirika.
— Por mais que eu odeie fazer isso quando você está tão animado, seu tempo acabou.
Eu estava no meu caminho de volta cheio de espírito quando o Deus-Homem apareceu nos meus sonhos para me provocar. Que divertido!
Ah, mas que lugar peculiar, era branco e vazio. Onde poderia estar localizado sempre foi um mistério para mim. Você não podia dispensar com a desculpa de ser um sonho. O lugar era sempre o mesmo, e pelo que ouvi, isso era verdade para os outros com quem o Deus-Homem falava também.
— Tch. O que você se importa com isso? Tão irritante.
— Vamos lá, Deus-Homem, acalme-se. Você aparece do nada dizendo “o tempo acabou”, mas eu não tenho ideia do que isso significa. Posso ser o Rei Demônio Sábio, mas ainda preciso de conhecimento para entender.
— O Rei Abissal Vita foi derrotado logo no início. O Deus da Espada e o Deus do Norte descobriram e avançaram cedo demais. O Deus Ogro se juntou à luta, mas então Atofe veio apoiar Rudeus e tomou os ogros como reféns.
— Ahh… Você foi derrotado, então.
— Isso é culpa sua, sua e de Geese, por perderem tanto tempo no labirinto. Inúteis! Vocês deveriam ter passado por um labirinto como aquele facilmente! O que estavam fazendo? E Geese! Todo aquele papo de grandeza dele só para acabar assim? Que idiota fui ao contar com vocês!
— Bwahahaha. Eu entendo como é. As forças que você reuniu foram derrotadas, e você está amuado. Você pode ser chamado de deus, mas no fim, é apenas um homem.
— O que você disse para mim?
— O negócio sobre planos é que raramente vão como você gostaria. Uma olhada no Deus da Espada e no Deus do Norte deveria ser tudo o que precisava para adivinhar que eles avançariam cedo demais. Especialmente Alec. O garoto nunca soube esperar, desde que era um pirralho! Talvez as coisas não tenham ido como você queria, mas você deveria ter antecipado isso. Mas espere… sua dependência excessiva em ver o futuro significa que você nunca foi do tipo que espera qualquer outro resultado potencial. Esse tipo de coisa acontece o tempo todo.
— …Qual é o seu problema?
— Bwahahaha! Você só vai ficar mais irritado se ficar tão tenso por cada pequena coisa! Devo dizer, no entanto, que é inesperadamente refrescante ver você fazendo essa cara! Eu gosto disso! Outrora, uma olhada nesse rosto poderia ter me abalado, mas agora que estou ajudando você de bom grado, não tenho nada a temer! Bwahahaha!
— Dá um tempo. Claro, não posso ver o seu futuro, mas ainda posso tirar as coisas que você valoriza… e farei isso em lugares que seus olhos não alcançam.
— Aí está essa sua falha. Você não especifica as coisas que valorizo.
— Imperatriz Demônio Kishirika Kishirisu.
— Oho… Com certeza, a ideia de você colocar as mãos nela não é agradável, mas você não deve levar tudo isso tão a sério! Este é o tipo de brincadeira amigável que vem com ser aliados. Na verdade, você e eu somos camaradas agora, irmãos de armas. Descontar sua irritação em seus aliados só vai prejudicar a moral deles. Você não deve deixar transparecer para seus aliados quando está em pânico, não quando a derrota ainda não é certa.
— Não é certa? Você sabe que mais da metade dos aliados que trouxe a bordo estão caídos e só resta você agora, certo?
— Não, ainda não é certa, ainda não acabou. Afinal, Geese e eu ainda estamos aqui.
— O quê?! Ainda há algo que você pode fazer?
— Ah, sim! Essa é a coisa sobre planos, você sempre quer pensar duas ou três jogadas à frente. Geese e eu fomos capazes de antecipar que o Deus da Espada e Alec agiriam como tolos e avançariam antes. Temos outro plano.
— E você tem certeza de que vamos vencer com esse plano?
— Bwahahaha! Você não está ouvindo? Não existe plano garantido para vencer! Nesse sentido, nosso primeiro plano visava uma vitória total, mas este próximo… não. O próximo melhor plano é o que vem depois do melhor plano, sabe!
— Não me irrite e responda à pergunta: vai vencer ou não?
— Devemos ser capazes de satisfazer as condições para a vitória, mesmo que a vitória não seja total.
— Bom mesmo!
— Bem, mesmo que eu não tivesse outro plano, simplesmente lutaria com tudo que tenho.
— Isso seria inútil.
— Bwahahaha! Esse tipo de pensamento é o que te colocou nesta confusão!
— …E o que isso quer dizer?
— Geese dará tudo de si por você e pretendo fazer o mesmo. Não sei sobre o Rei Abissal, mas vamos supor que ele também deu tudo de si. Entretanto, e quanto ao Deus da Espada e o Deus do Norte? E o Deus Ogro? O Deus da Espada e o Deus do Norte avançaram cedo demais. Contudo, se tivessem dado tudo de si por você, se tivessem confiado em você e em nós, em quem você confiou, o que acha que teria acontecido? Eles poderiam não ter entrado em pânico e avançado quando ouviram que o Rei Abissal havia sido morto?
“O Deus Ogro disse que os ogros foram tomados como reféns. O trabalho dele é proteger os ogros. Como líder, é seu dever. Então, quando eles foram tomados como reféns, ele não teve escolha a não ser priorizá-los. Todavia, e se ele tivesse decidido dar tudo de si por você? Suponha que ele tivesse deixado de lado seu título de Deus Ogro e lutado por você como apenas mais um guerreiro desde o início. Ele não teria continuado a lutar em seu nome, mesmo depois que os ogros foram tomados como reféns?”
— …Eu não… não há sentido em “e se”.
— Bwahahaha! A vida é um “e se” atrás do outro! As pessoas fazem coisas umas pelas outras e ajudam os outros sem esperança de recompensa para transformar esses “e se” em realidade! De fato, assim como Rudeus Greyrat faz!
— Você está me dizendo para copiá-lo?
— Suas interpretações do que eu disse não são da minha conta. No entanto, vou lhe dar um conselho antes de ir: não é justo para mim estar apenas recebendo seus conselhos, não é? Eu sou o Rei Demônio Sábio! Devo retribuir o favor de vez em quando!
— Como se eu quisesse seu…
— Geese e eu provavelmente morreremos nessa batalha, mas a luta continuará. Além disso, mesmo que ganhemos, isso não significará o fim total da luta. Você pode ver o futuro, então acha que se ver a si mesmo sorrindo no final, isso significa que terá vencido. Porém, outros virão ameaçar esse seu futuro brilhante. Então, ouça-me: se quiser rir por último, preste atenção nos corações dos homens.
— Os corações dos homens? Isso é a coisa mais estúpida…
— E agora, me despeço! Bwahahaha! Bwa, bwa, bwaaahahahahahahaha!
Aviso:
Pessoal, parece que não teremos mais o Disqus na Tsun. Aparentemente rolou DMCA, mas vamos ver o que vai acontecer.
Tradução: Laplace
Revisão: NERO_SL
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Comentários
First!!
Zé.
O adm metendo essa
Parece que mudou mesmo
Quem diria um dia Hitogami receberia conselhos de alguém…
Oque é DMCA ?
Uma história muito interessante realmente, acrescenta um peso a mais a obra.
Muito Obrigado pelo capítulo.
Gostei do capítulo, mas oq aconteceu? Não entendi nada. Ainda vão publicar o próximo cap e o volume final?