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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 25 – Cap. 09 – Fazendo as Pazes com o Deus Ogro

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Quatro dias após a batalha, o grupo que havia ido para a Segunda Cidade de Irelil como emissários retornou trazendo uma resposta do Reino Biheiril. Estava tudo escrito em uma longa carta que tratava de várias coisas

“O Rei diz que vai se encontrar com você. Disse também que se você fizer algo a respeito da tropa na Ilha dos Ogros, ele considerará a questão dos Superd.”

Esse era o resumo geral. Pelo menos, ele parecia inclinado a permitir que a Vila continuasse a existir. Apesar da rapidez de seu retorno e da caligrafia desleixada, como se tivesse sido escrita às pressas, o selo era genuíno. A tropa na Ilha dos Ogros seria Moore e os outros deixados lá por Atofe. Eles haviam feito todos os aldeões da ilha reféns e se barricaram lá, sob as ordens de Atofe. Neste ponto, não parecia que o Deus Ogro vencê-los pela submissão… Eu acho que isso significava que teríamos de discutir como resolver a situação.

— …Tudo bem.

Não é como se eu tivesse algum pedido urgente além dos Superd. Eu ainda precisava perguntar sobre Geese, mas era só isso.

— Então vamos lá!

Eu levaria alguns Superd comigo. Ainda tínhamos negociações a serem feitas, mas se os Superd fossem continuar vivendo no Reino Biheiril, deveriam se revelar para que os cidadãos os aceitassem. Caso contrário, poderiam acabar em outra situação como esta. Também era possível que grupos de cidadãos que vissem os Superd pudessem organizar um protesto. Por mais que eu quisesse ter uma cerimônia onde o Deus Ogro e o chefe da vila dos Superd apertassem as mãos…

De qualquer forma, enquanto pensava sobre isso, escolhi meus membros da equipe para levar à capital. Primeiro, em caso de batalha, levaria Eris, Atofe, Sándor e Ruijerd; Cliff da Igreja Millis seria o negociador e Elinalise o acompanharia. Por fim, levaríamos dois guerreiros Superd conosco.

O resto ficaria para trás, caso a vila fosse atacada. Eles não eram membros da equipe, mas levaríamos os prisioneiros para devolvê-los. Para falar a verdade, o rei não havia pedido a devolução deles. Era trágico, mas eu era um homem de palavra. Bem, digo isso, mas sempre havia a possibilidade de as negociações fracassarem, assim deixaria um para trás como moeda de troca.

Com isso, fui até a cabana onde os prisioneiros estavam hospedados. Dois deles estavam sentados em silêncio e atordoados. Eles me olharam com suspeita.

— O que vocês acharam da vila dos Superd? — perguntei. Houve silêncio. — É um lugar muito agradável, não acham? Muitas mulheres bonitas e crianças felizes. A comida é um pouco pesada em vegetais, mas ainda tem um bom gosto. Os guerreiros são um pouco bruscos, mas não são hostis aos humanos. Vocês entenderam isso?

Nos poucos dias em que estiveram aqui, os prisioneiros estiveram livres para circular pela Vila. Eu me certifiquei de que fossem vigiados, claro, e eles entregaram suas armas. Para verificar se não estavam disfarçados, nós os despimos, mas, fora isso, foram tratados com hospitalidade.

Depois de enfatizar aos Superd que deveriam cuidar dos prisioneiros como convidados, foram gentis com eles. Não os mantivemos amarrados nem nada. Andaram pela vila à vontade e até os deixamos sair da vila, desde que houvesse um guarda Superd com eles. Eu não estava preocupado com eles escapando, estava preocupado que fossem atacados por Lobos Invisíveis.

Enquanto estavam fora, os Superd caçaram os Lobos Invisíveis nos últimos dois dias e mostramos aos prisioneiros o tipo de monstros que eram. Eles recebiam a mesma comida que os aldeões. Ainda havia alguma preocupação com a praga, mas não havia outra coisa para comer, então tivemos que nos virar. Por enquanto, dávamos a eles chá de Sokas para beber com as refeições.

— Acho que percebi que fomos enganados por rumores. — Os cavaleiros pareciam desesperados quando os capturamos, mas agora fiquei feliz em ver que se sentiam à vontade.

Eu ainda não havia contado a eles todas as grandes coisas sobre os Superd, mas eles certamente sairiam daqui com uma boa impressão. Eu manteria um deles aqui para aproveitar um pouco mais. Era assustador pensar que no momento que eu fosse embora, ele poderia tirar a máscara e declarar: “Haha! Eu era o servo do Deus-Homem o tempo todo!” Para ser justo, escolhemos eles aleatoriamente e fizemos uma verificação física minuciosa quando os trouxemos de volta para a vila. Orsted e Cliff os examinaram bem e garantiram sua integridade e eu estava deixando alguns de meus aliados aqui… Deveria ficar tudo bem.

— Vamos negociar com o reino, então vou levar um de vocês para casa. Eu preferiria deixar o de maior patente de vocês aqui, se estiver tudo bem.

— Tudo bem! — Um dos cavaleiros assentiu e o outro se levantou. Eles apenas faziam o que eu dizia.

Seria péssimo se tivessem algum tipo de rixa entre si e o liberto simplesmente abandonasse o outro. Contudo, o rei havia, em teoria, aceitado minhas condições, não restava nada além de nos encontrarmos e discutirmos.

Com isso, partimos da Vila Superd.

 

Separador Mushoku

 

Mais quatro dias se passaram, as negociações com o rei aconteceram sem problemas. O rei do Reino Biheiril estava apavorado, mas se comportava como um rei e prestava atenção em cada palavra e gesto meu. A presença de Eris, Ruijerd e Atofe deixava-o nervoso. Era mais óbvio quando ele tinha que lidar com Atofe. Poxa! Ela me deixava ansioso, era verdadeiramente assustadora.

Isto é o que o rei disse: Tudo o que aconteceu foi que o Deus da Espada e o Deus do Norte o ameaçaram. Ele usou muitos eufemismos pomposos, mas essa era a explicação dele. Eu o fiz remover todos os anéis e ele permitiu que eu usasse a Pedra de Absorção só para garantir, mas parecia que Geese não havia trocado de lugar com ele.

Entretanto, Geese tinha se envolvido. Fomos enganados.

De qualquer forma, depois de algumas negociações difíceis em que mencionei o nome do prisioneiro, o rei disse que, desde que fizéssemos algo sobre o exército na Ilha dos Ogros, ele daria reconhecimento total aos Superd. Não é como se estivéssemos pressionando por algo irracional como enormes reparações ou terras. Tudo o que pedíamos era reconhecimento para as pessoas que viviam neste país desde o começo e que ajudaram o reino.

Além disso, iniciar a expedição de caça que nos trouxe esta situação, foi um feito de Geese. Acho que tudo o que o rei pôde fazer foi suspirar e aceitar.

Acho que o fator decisivo foi que, se recusasse nosso pedido aqui, isso significaria cortar laços com os ogros. Pareceria que o Reino Biheiril estava abandonando os prisioneiros ogros. Este país dependia de seus laços estreitos com os ogros, então cortar as relações com eles significaria seu fim.

 

Separador Mushoku

 

Com as negociações concluídas, seguimos para a Terceira Cidade de Heirelil. Era bem distante, uma cidade portuária de onde você podia ver vagamente uma ilha como um vulcão. Eu esperaria aqui enquanto Sándor e Atofe iam até a ilha para negociar, servindo como meus emissários na Ilha dos Ogros. Eu queria ir também, mas esbarrei no fato de que a Versão Um não podia ir em um barco. Não havia barcos que pudessem suportar seu peso.

Ficou acertado que, como não sabíamos o que o Deus Ogro faria, eu deveria ficar perto da Versão Um. Se as negociações com o Deus Ogro prosseguissem sem problemas e libertássemos os reféns na Ilha dos Ogros, nossos negócios no Reino Biheiril estariam concluídos.

Além do mais, os Superd obtiveram permissão para viver longe da Ravina do Dragão da Terra e mais perto da entrada da floresta. Ainda não sabíamos o que havia causado a praga, mas isso poderia afastá-la deles. A mudança daria um pouco de trabalho, mas meu envolvimento ali estava concluído. Embora ainda não pudesse descartar a possibilidade de que, após tudo isso, pudéssemos acabar lutando contra os Ogros…

O Deus da Espada e o Deus do Norte estavam mortos, devia haver uma chance de vencermos. Mesmo se Geese estivesse mantendo algumas de suas forças em reserva, sempre poderíamos retornar à floresta e nos reagrupar se as coisas parecessem complicadas.

Pensei em tudo isso enquanto estava no topo de um farol, olhando para o oceano com Eris e Ruijerd como guarda-costas.

Era bom ver o oceano depois de tanto tempo, era vasto e amplo. O grande campo de água se estendia sob o céu claro e, além dele e do horizonte, você podia ver uma ilha, aquela era a Ilha dos Ogros. Com base no nome, pensei que poderia ter a forma de um ogro, mas era apenas uma ilha vulcânica clássica. Uma fumaça tênue subia do pico da montanha. De onde estava, parecia imponente e inquietante, mas não dava medo. Parecia rústico, como um lugar onde havia fontes termais. Acho que era chamada de Ilha dos Ogros apenas porque os ogros viviam lá.

Não subi em um farol apenas para olhar o oceano. Não, eu estava procurando algo. Havia um barco solitário se aproximando da Ilha dos Ogros: o barco em que Atofe e Sándor estavam. Do farol, usaria o Olho da Visão Distante para acompanhar as negociações. Se as coisas desandassem, se o Deus Ogro começasse a se descontrolar ou se Geese aparecesse no local das negociações, a ideia era atacar nossos inimigos com magia de grande escala daqui.

Era um plano que poderia facilmente envolver ogros inocentes da Ilha dos Ogros e arruinar nossas negociações com o Reino Biheiril, mas se Geese realmente aparecesse, eu atacaria.

— …Ei, Rudeus. Você consegue vê-los?

— Consigo. Quer que eu descreva?

— Não precisa.

Com um sorriso irônico para Eris, retomei minha vigilância. Usando o Olho da Visão Distante, eu só conseguia ver parte da ilha, a costa. As pessoas estavam reunidas em um ponto particularmente visível lá. Esse era nosso local de negociação escolhido.

Na costa, avistei um ogro muito maior que os outros: o Deus Ogro Marta. Perto dele estavam vários ogros que pareciam guerreiros. Eles deviam ter lutado algumas batalhas, pois vários deles estavam enfaixados. Enfrentando-os, em armaduras negras, estava um grupo de cavaleiros assustadores. Eram a guarda pessoal de Atofe. Moore estava entre eles.

Talvez também tivessem algumas lesões, mas, pelo que eu pude ver, estavam ilesos. Certamente, sua força era esmagadoramente superior à dos guerreiros ogros. Ainda assim, as coisas poderiam ser diferentes se o Deus Ogro Marta se juntasse à luta, mas eles haviam feito os aldeões de reféns. Suas mãos estavam atadas. Atrás da guarda pessoal de Atofe, vi o que deviam ser os reféns: cerca de cinco mulheres e crianças ogros amarradas. Se a luta começasse, haveria baixas. Isso poderia ficar complicado.

Eu observava com o coração na boca. Quando Atofe e Sándor chegaram, metade dos reféns foi libertada imediatamente. O Deus Ogro e Sándor discutiram algo, então a reunião se dispersou. Sobre o que haviam falado, não sabia, mas o Deus Ogro parecia abatido. A maior dificuldade de usar Olho da Visão Distante era que você não podia ouvir as vozes.

 

Separador Mushoku

 

— Rudeus! — Estava dormindo na pousada na Terceira Cidade de Heirelil quando a voz de Eris me acordou.

 — O que houve, querida? Me deixa dormir mais um pouco. — Estendi a mão para apertar seus seios, mas minha mão foi afastada. Boo, você é tão cruel! Tipo, isso é violência. Eu sou o culpado, eu acho… Eu toquei, mesmo sendo um suposto celibatário.

— Eles estão aqui!

— Eles?

— Eles! — Eris gritou e então saiu correndo do quarto. Gostaria que ela parasse de falar com suas emoções. Uma pessoa racional como eu nunca poderia descobrir o que ela queria dizer com aquelas palavras vagas.

— Eles…?

Ainda sem entender, levantei-me. Esfreguei os olhos, turvos de sono, e olhei pela janela. Lá fora, vi um grupo com cabelo vermelho-escuro reunido em frente à pousada.

— Eles! — Corri para fora do quarto até o primeiro andar.

O Deus Ogro estava sentado de pernas cruzadas em frente à pousada. Os jovens ogros ao seu redor o observavam com expressões de dor. Encarando-os estavam Eris e Ruijerd com armas desembainhadas e prontas. Quando avancei, a multidão se abriu para abrir caminho. Caminhei em direção ao Deus Ogro. Quando cheguei lá, Sándor sussurrou no meu ouvido:

— O Deus Ogro quer fazer as pazes. Não parecia uma armadilha, então eu o trouxe.

— …Tudo bem!  — Eu não ia dizer não se ele dissesse que não iria lutar mais. Quem sabe o que Sándor esperava, mas não parecia nada como um esquema de Geese. Pelo que vi, Eris, Ruijerd e Atofe também não estavam em guarda. Eu imaginei que algo havia acontecido que os convenceu a baixar a vigilância.

O Deus Ogro me olhou, então disse, em um tom investigativo:

— Você, chefe?

— Sim. Eu sou Rudeus Greyrat. Estou no comando.

— Eu Marta. — Eu me curvei e Marta, ainda sentado, se curvou de volta e disse: — Quero conversar.

— …Eu tenho algumas perguntas também. — Imitando o Deus Ogro, sentei-me no chão e cruzei as pernas. Ele estava na mesma posição, então espero que isso não pareça rude… pensei. Em seguida, um jovem ogro ao lado do Deus Ogro prontamente se ajoelhou ao meu lado e colocou uma xícara larga e rasa no chão diante de mim e do Deus Ogro, eram xícaras de saquê.

As xícaras foram preenchidas imediatamente, a minha com o que parecia ser um licor local. Na xícara do Deus Ogro foi um líquido preto, provavelmente era molho de soja.

Entre o molho de soja e o missô, a cultura aqui parecia com a do Japão.

— Beba! — Ele disse.

— Obrigado. — O Deus Ogro bebeu e eu o imitei. Poderia ser educado esvaziar o copo, mas seria ruim se eu ficasse bêbado, então parei após um gole.

Agora, por onde devo começar? Suponho que perguntando sobre Geese. Se ele é um apóstolo.

Mestre Deus Ogro não parecia muito inteligente. Eu teria que fazer minha explicação de questões difíceis de maneira simples, fácil de entender. Gentilmente, como quando ensinava algo a Eris.

— Ouvi uma história. — O Deus Ogro hesitou por um momento, então disse: — O Rei Demônio atacou a Vila. Roubou comida. Não perdoo. Mas não-lutadores todos vivos. — Ele olhou para os ogros ao nosso redor.

Todos vivos…? Se houvesse qualquer luta, por menor que fosse, certamente haveria mortes…? Ah, ele deve estar dizendo que nenhum não-combatente morreu.

Aparentemente, até Atofe era capaz desse tipo de julgamento, embora obviamente Moore tivesse sido quem esquematizou dessa forma.

— Eu quebro, sua casa. Mas seus não-combatentes eu deixo. De verdade.

Eu não disse nada.

— Ogros protegem o reino. Reino admite, perdeu para você. Eu sou ogro chefe. Sem mais razão para lutar. Fazer paz.

Ele não ia perdoar Atofe por atacar a vila. Ele havia atacado o escritório. Ao mesmo tempo, ele não havia atacado nenhum não-combatente, com isso, estamos quites. Os ogros tinham o dever de proteger o reino, mas o reino já havia admitido a derrota. Como chefe dos ogros, ele não via razão para lutar, então queria fazer as pazes. Algo assim.

— E sobre Geese? Ele pediu algo a você?

— Geese disse que você destruiria reino. Então eu ajudo. Mas Geese fugiu. Você não destruiu. Continuar assim, reino e ogros destruídos.

Geese havia dito que eu destruiria o Reino Biheiril, mas não fiz isso. Além disso, Geese havia fugido. Se isso continuasse, o reino e os ogros seriam destruídos sem dúvida.

— Geese mentiu. Não mais confiança.

Eu não havia destruído o reino. Tudo eram mentiras de Geese.

— Eu me render. Mim pronto para morrer. Mas não-combatentes vivem. — Com isso, o Deus Ogro prostrou seu enorme corpo no chão, foi como uma reverência. Os jovens ogros ao nosso redor estavam todos em silêncio. Eles deviam pensar que eu provavelmente mataria o Deus Ogro ali. Obviamente, você mata seu inimigo. Contudo, mesmo não gostando disso, os ogros estavam dispostos a seguir em frente.

O Deus Ogro morreria e eles viveriam. O que era aquela nobreza trágica? Então, eu entendi. O reino havia admitido a derrota, o que significava que o Deus Ogro e os outros não tinham apoio. Meu lado era mais forte. Se decidíssemos lutar, poderíamos devastar a Ilha dos Ogros… Não que eu visse muito sentido nisso.

De qualquer forma. Eu deveria matá-lo? Ou não? O Deus Ogro havia dito que não confiaria mais em Geese. Ele não parecia um homem que mentia, então confiaria nele. Ele não era eloquente, mas não parecia estúpido. Se interpretasse corretamente o que ele disse, tudo estava claramente fundamentado. Ele tinha um QI mais alto do que uma certa rei demônio imortal.

Mas se ele fosse esperto, poderia estar mentindo.

Pensei por um minuto, então perguntei a ele uma última questão:

— Mestre Deus Ogro, você não é um apóstolo do Deus-Homem, é?

— Não. Geese disse o nome do Deus-Homem. Eu não saber. Mesmo que eu saber, ilha é preciosa.”

O olhar do Deus Ogro era claro e poderosamente direto. Se estivesse mentindo, eu nunca mais poderia confiar em nada novamente.

— Então eu aceito. — falei. O alívio ao nosso redor era palpável. Eu deveria deixá-lo viver, isso seria melhor para o futuro.

— Uma coisa, porém, Mestre Deus Ogro, quero que você lute contra Geese. Eu odiaria fazer isso, mas se você fugir ou me trair, atacarei a ilha.

Se estivéssemos pensando em frustrar a armadilha de Geese, esta era nossa melhor chance. A conexão do Deus Ogro com os membros de sua ilha era profunda. Eu não gostava de fazer ameaças, mas não podia permitir que ele me traísse na última hora.

— Entendido. Eu lutar sozinho?

— Não, conosco.

— E se eu morrer, o que acontece com os não-combatentes?

— Em relação aos ogros sobreviventes, um de nós… bem, quem sobreviver cuidará deles.

— Não minta. — O Deus Ogro assentiu. Com isso, o jovem ogro de antes despejou mais molho de soja na xícara do Deus Ogro e mais álcool na minha. Ele ergueu sua xícara e eu, imitando-o novamente, ergui a minha.

— Pelos chifres do ogro!

— …Em nome do Deus Dragão. — falei aleatoriamente, mas o Deus Ogro me olhou seriamente e assentiu com um grunhido de concordância. Então, esvaziou sua xícara.

Assim terminou nossa guerra com o Deus Ogro.

 

Separador Mushoku

 

Naquela noite, houve um banquete na costa perto de Heirelil.

Os ogros trouxeram seu licor do porão e serviram a todos, inclusive a nós. Notei que os ogros tinham o costume de compartilhar uma bebida depois de fazer as pazes com um oponente após uma batalha. Eles bebiam e limpavam a lousa, esse era o estilo de pacificação dos ogros.

Por incentivo dos ogros, bebi um bom número de copos. No meio da noite, quando não aguentei mais, cedi o lugar para Atofe. Uma competição de bebida estava em andamento entre ela e os ogros, então ela estava livre para continuar a festa.

Toda a bebida me fez sentir mal, então usei um antídoto para aliviar a náusea e depois vaguei pelo banquete por um tempo. Percebi que uma certa pessoa não estava lá, então me dirigi à costa. Lá encontrei Sándor, bebendo sozinho.

— Bom te ver! — Ele disse.

— Posso me sentar?

— Claro. — Sentei-me ao lado dele e soltei um suspiro. O que ele estava pensando, todo o caminho até aqui? Eu podia adivinhar, mesmo no meu estado embriagado. Ele estava pensando em Alec. No final, ele havia chamado Alec para se render, mesmo como Deus do Norte, quando enfrentava seu filho, ele não sentia nenhum prazer em ter que matá-lo.

Isso não significava que eu iria me desculpar por ter feito o trabalho. Se tivesse desistido daquela luta e deixado Alec ir, talvez não estivéssemos tendo este banquete. O Deus do Norte poderia ter se encontrado com Geese, se reunido ao Deus Ogro e, por fim, nos atacando novamente. Apesar de sua reflexão, eu não tinha a impressão de que Sándor achava que minha decisão estava errada. Ele não havia dito nada, mas não deixaria seus sentimentos atrapalharem seu julgamento sobre isso.

— É uma pena sobre Alec.

— Sim.

Estar certo era uma coisa, mas ficar quieto sobre isso era outra.

— Aquele garoto… Ele sempre foi talentoso. Coloque uma espada em suas mãos e ninguém poderia manejá-la melhor. Quando ele lutava contra monstros, via os  pontos fracos deles na hora. Ninguém em sua geração poderia superá-lo.

Eu não disse nada.

— Eu tinha grandes expectativas, sabe. Disse a ele para pegar a Espada do Rei Dragão e o nome de Deus do Norte. Eu me pergunto se isso não foi um erro.

Alec havia se envolvido em fantasias de heroísmo até o ponto de ficar obsessivo.

— No final das contas, Deus do Norte é apenas um título e ele acabou se perdendo. — Sándor esvaziou seu copo.

Eu não tinha nada que pudesse dizer a ele. Com mais experiência, ele teria adquirido o que precisava para merecer o título de Deus do Norte.  Contudo, eu não poderia dizer isso a ele, Alec se foi.

— O que está feito, está feito. Vai pesar em mim por um tempo, mas você não precisa se preocupar com isso, Mestre Rudeus. Foi uma batalha, nada mais do que isso.

 — …Você acha?

— Ouvi dizer que você tem muitos filhos. Bem… um dia, você pode ter que lidar com isso.

Os sentimentos de um pai que perdeu seu filho ainda eram desconhecidos para mim e esperava que continuassem assim.

— De qualquer forma. Espero que você lamente meu filho.

— Eu lamentarei.

Nossa conversa cessou. Eu ouvi o som das ondas diante de nós e as vozes festivas atrás. Conversas sobre a última batalha acompanhadas de música comemorativa, isso deixava claro que a batalha realmente havia terminado. Nós não havíamos derrotado Geese ou sequer visto ele. Mesmo assim, estava acabado. Isso lançava uma leve sombra de inquietação sobre o fim da batalha.

A luta acabou sendo quase uma vitória limpa, mas houve muitos momentos em que a sorte determinou o resultado. E da próxima vez? Poderíamos repetir o mesmo desempenho e vencer? Isso era pedir muito. Geese estaria de volta com um novo plano em breve.

— Eu me pergunto quem é o último apóstolo do Deus-Homem. — Foi o que eu disse no final. Não era o Deus da Espada, nem o Deus do Norte e, aparentemente, nem o Deus Ogro.

Se Geese e o Rei Abissal Vita eram dois deles, então havia mais um que eu não sabia ainda. O Deus Ogro disse que Geese havia fugido. Se minhas previsões estivessem corretas, ele tinha levado quem não apareceu na última luta e fugido, mantendo suas forças intactas para a próxima vez.

Algo me incomodava, porém, eu parecia estar deixando algo passar, uma peça faltando. Deveria haver alguém que parecia um apóstolo e eu deveria ter ouvido algo sobre possíveis candidatos, mas nada passou pela minha mente.

— De fato! Para ser honesto, também não faço ideia. Talvez haja um outro apóstolo trabalhando em um lugar diferente.

Outro apóstolo em um lugar diferente? Com isso, pensei na minha casa. O Deus Ogro não havia atacado, mas alguém mais poderia ter feito algo contra ela. Ainda não tínhamos como voltar para casa. Fizemos as pazes aqui, mas demorou mais do que o planejado. A guerra poderia ter estourado em Sharia enquanto estávamos aqui celebrando nossa vitória.

Eu suspirei. Não adiantava ficar remoendo isso. Estava preocupado, mas precisava deixar essas coisas para as pessoas em Sharia. Só que também não queria saber como era perder um filho. Eu estava lutando porque não queria saber como era essa sensação.

Tomei outro gole para limpar essas preocupações. Queria voltar para casa em breve.

— O que é aquilo? — Sándor olhou para cima. Seu olhar estava voltado para o oceano. — Há algo ali, não é?

Eu olhei também. Era noite e o oceano estava totalmente escuro. Não conseguia ver nada, havia apenas o som das ondas. Usei o Olho da Visão Distante, mas ainda não conseguia ver nada.

— Onde?

— Olhe, ali! Está se aproximando. — Meus olhos ainda não conseguiam ver nada. Esforcei minha visão por um tempo, mas ainda nada. Talvez Sándor estivesse bêbado e vendo coisas.

— Devo pegar uma luz?

— …Você não consegue ver?

— Não vejo nada. Talvez seus olhos sejam apenas bons demais, Sándor.

Sándor franziu a testa, cheio de dúvidas. Justo, eu não podia realmente falar isso porque eu tinha o Olho da Visão Distante. Talvez estivesse olhando na direção errada ou porque estava bêbado. Poderia ser mais acima?

— …Não pode ser! Mestre Rudeus, desative seus olhos demoníacos!

— Hã? Oh, ok!

— Não assim, pare de colocar magia nos seus olhos demoníacos! Absolutamente nada!

Eu não respondi, mas fiz o que ele disse e cortei a magia para os olhos demoníacos, tanto o Olho da Previsão quanto o Olho da Visão Distante. Agora eu estava vendo com meus olhos normais.

— …O quê?! — Eu vi! Algo estava surgindo do oceano para a praia ali mesmo. Era grande, dois metros e meio… quase da mesma altura que o Deus Ogro. Usava armadura dourada, tinha seis braços e em seus ombros… em seus ombros havia uma pessoa. A pessoa, vestindo um manto com um desenho estranho, abaixou o capuz e se revelou um rosto muito familiar.

— Bem, bem! Que coincidência encontrar você aqui, chefe!

Era um homem com rosto de macaco.

Geese. Geese Nukadia!

— Puxa vida! Eu pensei que iríamos desembarcar sem você nos ver, mas aqui está você. Que falta de sorte, hein?

— Fwahahaha! Você deve sempre esperar que seus planos falhem!

— Ah, essa é a mais pura verdade.

O homem com a armadura dourada respondeu à provocação de Geese. Eu reconheci aquela voz, jamais poderia esquecer aquela risada.

— Lorde Badi… — falei.

Era Badigadi.

Por que ele está aqui? Por que está usando isso? Por que está com Geese? O Deus Ogro nos traiu? Sándor os chamou? Certamente não, mas… o que está acontecendo…?

Um milhão de pensamentos diferentes passaram pela minha mente, mas não consegui dizer uma única palavra. Um tremor insondável subiu das profundezas do meu corpo. Aquela armadura dourada era má notícia. Eu não sabia exatamente de que maneira, mas podia dizer que era sinistra. Este era um oponente que me mataria em um instante se lutasse contra ele.

— Já faz muito tempo, Rudeus! Você também, Alex!

 

 

 

Sándor estava olhando para Badigadi com uma expressão de descrença, mas sua testa escorria suor. Eu tinha a sensação de que ele sabia que deveria atacar agora, mas não conseguia se mover.

— Tio, o que o traz aqui?

— O que mais? Sou um apóstolo do Deus-Homem! — declarou Badigadi. Sem hesitação, com a cabeça erguida, afirmou ser o último apóstolo.

— …Entendo.

Então era isso, fazia sentido. Todos haviam sugerido isso, tanto Orsted quanto Kishirika me disseram que havia uma boa chance de que Badi fosse um apóstolo. Aquele que trouxe Ruijerd para a Vila Superd foi ninguém menos que Badigadi. Como pude esquecer? Eu senti a última peça se encaixar.

— A pedido do Deus-Homem, entreguei Ruijerd à Vila Superd. Então, em preparação para a batalha, fui buscar esta armadura que havia afundado no meio do oceano. Você não tem para onde fugir! Com isso, o Rei Abissal Vita, o Deus da Espada, o Deus do Norte, o Deus Ogro e eu, com nossos poderes combinados, derrotaremos você e o Rei1Não é erro nosso. Badigadi chama Orsted de Rei Dragão e não Deus. Dragão Orsted…

— Ei, ei, amigo!

— O que foi agora? Justo quando eu estava entrando no clima.

— Muita conversa, não há necessidade de contar tanto.

— Tsc, você não tem graça. Qual o sentido de ter um plano se não for para se gabar ao revelá-lo no final?

Geese coçou o rosto e deu de ombros.

Com o que Badi disse, tudo fez sentido para mim, eu estava certo. O Deus da Espada, o Deus do Norte e o Deus Ogro não eram apóstolos do Deus-Homem. Se tivesse deixado o Deus do Norte Kalman III ir, a batalha teria continuado. O grupo de caça não teria se dissolvido e ainda estaríamos presos em um impasse na floresta.

Enquanto isso, esses dois teriam chegado à Ilha dos Ogros, eliminado a guarda pessoal de Atofe e aliviado os temores do Deus Ogro. Lutar apenas contra o Deus do Norte e o Deus Ogro já era difícil o suficiente, se Badi tivesse se juntado a eles, estaríamos condenados.

Agora era diferente: O Rei Abissal Vita, o Deus da Espada e Deus do Norte estavam mortos. Além disso, O Deus Ogro havia se abstido, só tínhamos que lidar com Geese e Badi.

— Oh, sim, eu sei sobre tudo isso, chefe. O Deus-Homem me contou como você venceu na floresta. Aposto que pensou que não temos chance, aparecendo aqui agora.

Geese não seria de muita utilidade em uma luta. Isso significava que podíamos vencer… Podíamos vencer, certo? Por que ele estava tão relaxado?

— Eu não teria tanta certeza disso. Este cavalheiro aqui, ele é uma lenda viva, sabe?

Com a palavra “lenda”, Badi recostou-se com arrogância.

— Há quatro mil e duzentos anos, eu, o mais forte dos reis demônio, derrubei o Rei2Mais uma vez, não é erro nosso. Dragão Demônio Laplace…

Engoli em seco. A armadura de Badi, como se quisesse mostrar sua presença, começou a brilhar.

— Eu sou o Deus Lutador Badigadi, posso enfrentá-lo sozinho.

Claro, claro! Aquela era a armadura do Deus Lutador. Todo o seu corpo irradiava uma aura sobrenatural. Era como o frio que senti ao enfrentar Orsted quando ele estava lutando a sério. Eu instintivamente sabia que não podia vencer.

Naquele momento, Badigadi descruzou os braços e gritou selvagemente:

— Eu sou o Deus Lutador Badigadi! Servo do Deus Dragão, Rudeus, o Atolei…

— Eu sou Alex Kalman Rybak, Deus do Norte Kalman II! Rei Demônio Imortal Badigadi, eu desafio você a um combate um contra um! Em nome dos demônios imortais, confio que honrará meu desafio!

Badi congelou. Então olhou para Geese ao seu lado com uma expressão de conflito.

— Hrmm… Eu estava prestes a desafiar Rudeus para um duelo — murmurou Badi

— Recuse! — ordenou Geese.

— Eu não posso fazer isso. É uma regra antiga que um rei demônio não pode recusar um desafio — explicou Badi.

Geese parecia não acreditar no que estava ouvindo.

Quem sabe quanto controle o Deus-Homem tinha sobre Badi, mas pelo menos Geese não o controlava totalmente. Não que eu acreditasse que se poderia controlar alguém como Badigadi e Atofe.

— Mestre Rudeus! — Enquanto eles conversavam, Sándor sussurrou no meu ouvido: — Eu vou ganhar tempo para você. Enquanto faço isso, por favor, recue, reúna suas forças e elabore um plano.

— E você?

— Morrerei aqui.

Minha respiração parou, não consegui responder imediatamente. Finalmente consegui consentir. No momento, eu não estava armado. A Versão Um estava por perto, mas eu não estava usando, isso não era uma questão de cautela. Eu não tinha absolutamente nenhuma chance de vencer e, mesmo se lutasse ao lado de Sándor, só atrapalharia. Não havia vantagens em eu lutar aqui, apenas desvantagens.

— Obrigado! — agradeci, então corri de volta para a vila.

Atrás de mim, o feroz choque de espadas ecoou.

 


 

Tradução: Laplace

Revisão: NERO_SL

 

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