Havia-se passado três dias desde a batalha. Os feridos estavam curados e a paz havia retornado à Vila Superd. Durante esses três dias, descansamos, mas também ficamos em alerta contra possíveis inimigos. Não estávamos sem fazer nada, mas nada de notável aconteceu.
Foram dias verdadeiramente pacíficos e sem novidades. Zanoba estava tão exausto que dormiu mais da metade do tempo. Eu estava preocupado que ele tivesse sido gravemente ferido, mas os médicos disseram que era apenas dor muscular comum. Ele disse que foi a primeira dor muscular que experimentou na vida e começou a recitar suas possíveis últimas palavras:
— Parece que meu corpo vai se despedaçar… Julie, eu vou morrer em breve, ensinei-lhe tudo o que podia. Seja forte quando eu me for.
Julie chorou, mas assentiu com determinação nos olhos. Foi meio engraçado.
Até corri, segurei sua mão e disse:
— Zanoba, completarei a boneca autônoma, prometo. Eu juro por Deus! Que esse poder divino seja de nutrição satisfatória, dando a quem perdeu suas forças a força para se reerguer. Cura!
Depois disso, Zanoba se levantou, parecendo miraculosamente saudável, e começou a trabalhar na reparação da Armadura Versão Um. Julie ficou boquiaberta, coitadinha
Na aldeia, Atofe estava relativamente contida. Antes que eu percebesse, ela havia mandado os aldeões construírem um trono de madeira e estava iniciando os guerreiros nos caminhos da batalha. Não era nada sério. Até Eris se juntou.
Sándor parecia um pouco envergonhado com o comportamento de Atofe, mas de vez em quando, uma sombra caía sobre seu rosto. Claro, ele estava pensando em Alec. Eu perguntei se devia devolver a Espada do Dragão Rei, mas ele a descartou como uma ferramenta de guerra e me disse para fazer o que quisesse com ela.
Bem, depois de falar assim, eu não me sentia exatamente à vontade para simplesmente pegá-la. Eu dependia totalmente da Armadura Mágica, mas sentia que usar essa espada incrível seria ruim para mim. Além disso, eu não era espadachim e teria dificuldade em manejá-la efetivamente. Pedi a Orsted para cuidar dela por enquanto. Eu poderia emprestá-la às pessoas quando precisasse.
Ruijerd passava o dia inteiro com Norn. Ou melhor, onde quer que Ruijerd fosse, Norn o seguia como um patinho. Ver Ruijerd ensinando-lhe várias coisas me lembrava de Eris e eu antigamente.
Norn era uma aluna diligente.
…Eu poderia chamar isso de diligência, certo? Não conseguia nem imaginar já ter visto uma expressão assim no rosto de Norn antes. Era o mesmo jeito que ela olhava para pessoas que admirava, mas não exatamente igual… Quero dizer, não que importe. Ela poderia olhar para ele como quisesse.
Dohga era um sucesso com as mulheres e crianças. Quando chegamos à vila, tinham medo dele, mas parecia ter superado essa barreira. Acho que isso se deu em razão de como ele se esforçou para ajudá-los durante a praga.
Ultimamente, ele estava esculpindo coisas como bonecas de madeira e brincando com as crianças. Ele parecia a imagem da inocência o tempo todo.
As crianças pararam de jogar bolas em Orsted, então ele parecia um pouco solitário. A equipe médica disse que os Superd estavam progredindo bem, então começaram a pesquisar mais sobre a praga. Analisaram os alimentos da vila, procurando uma causa… bem, era mais como se estivessem coletando amostras. Provavelmente as levariam de volta ao Reino Asura e as armazenariam como referência.
Cliff, Elinalise e Ginger partiram para a Segunda Cidade de Irelil a meu pedido. Eles iriam repetir minhas exigências ao rei como condição para a libertação dos prisioneiros que fizemos.
Eu precisava de alguém que pudesse receber a resposta do rei. Enviei dois guerreiros Superd, ambos com cabeças raspadas, para servirem como guardas. Contudo, se Geese não tivesse desistido de seu plano, ele poderia tentar nos pegar um por um. Eu não conseguia relaxar.
Fiz uma reunião de revisão após a batalha. Havia muitas coisas para discutir. Em particular, o momento em que me joguei na ravina foi como: uau! E por que pensei que Geese não usaria Implementos Mágicos? Eu precisava estar pronto para essa possibilidade na próxima vez. Ser surpreendido na primeira vez por um truque é humano, mas esse truque não funcionaria em mim novamente.
Ah sim, a Mão de Atofe voltou para Atofe e um pergaminho de magia de cura restaurou meu braço direito à sua forma original. Sem pensar, estendi minha nova mão e dei um bom aperto nos seios de Eris. Ela deu um bom soco no meu queixo e meio dia se passou.
Havia também aquele feitiço que usei no final da minha luta com Alec. Achei que provavelmente era magia de gravidade, mas queria outra pista. Aquela luta me fez perceber o quão poderosa a magia de gravidade era.
Eu tinha muito a considerar com os círculos de teletransporte também. Se continuasse a configurá-los por toda parte como desta vez, nossos oponentes também poderiam usá-los. Eu tinha de tomar precauções contra isso no futuro.
Mesmo depois de três dias, os círculos de teletransporte ainda não haviam sido restaurados. No segundo dia, chamei Arumanfi e ele me disse que minha família estava segura. Contudo, mesmo assim, a recuperação dos círculos mágicos estava mais lenta do que eu esperava.
Talvez houvesse um problema com algo não relacionado ao Deus-Homem. Isso era preocupante. Preocupar-se demais não ajudaria, então eu precisava me ocupar fazendo o que podia.
No quarto dia, Eris e eu saímos para um encontro… Ok, fizemos uma caminhada pela vila. Eris havia passado o dia todo após a batalha dormindo como uma pedra, o que não era comum para ela. Pelo menos, não ultimamente. Seu estilo de vida hoje em dia era regimentado a um grau inimaginável, se comparado à quando ela era pequena. Eu quase nunca a via tirar uma soneca. Uma vez, ela se juntou a Linia para um cochilo, mas foi só isso. Pensei em me deitar com elas naquela vez, mas como Linia estava lá também, isso significava compartilhar uma cama com ela. Parecia uma forma de traição, então, após alguma agonia genuína, achei melhor não.
Enfim, quando Eris era criança, ela cochilava no estábulo o tempo todo. Naquela época, ela corria o tempo todo, mas como ainda era pequena e não havia terminado de crescer, então se cansava. Agora, ela tinha um tanque com muitas vezes a capacidade daqueles dias, com um motor ecológico de última geração. Ela não esvaziava mais. E ainda assim, dormiu por um dia inteiro. Isso mostrava o quão intensa havia sido a batalha.
Quando Eris acordou, estava em seu antigo eu. Viu as crianças Superd enquanto caminhávamos pela vila e exclamou animadamente: “Elas realmente têm caudas.” Ela até conseguiu que uma deixasse ela tocar. Seu alvo era uma menina. Se eu tivesse tentado, do jeito que os Superd eram protetores com crianças, teriam me carregado e me açoitado. Eu não sou um pervertido! Não me prendam!
Sylphie provavelmente estava bem cansada das minhas maluquices, mas se eu fosse por esse caminho, gostaria que ela estivesse em uma fantasia com uma cauda.
Enfim, talvez fosse por ver Ruijerd novamente depois de tanto tempo ou talvez ela tivesse relaxado com a luta recém finalizada, mas Eris estava tão animada que parecia ter voltado a ser criança. No entanto, enquanto passeávamos pela vila, ela de repente parou. Sentindo o perigo, eu também parei. Ela estava reparando em alguém, um homem de meia-idade que, sem o elmo, transmitia uma impressão meio infantil. Era Sándor von Grandeur, o codinome de Alex Rybak, Deus do Norte Kalman II.
Vi as pupilas de Eris se contraírem.
— Ei, não… — Quando tentei contê-la, já era tarde demais. Eris avançou com incrível velocidade e atacou ferozmente Sándor com sua espada.
— Ah!
Mas Sándor também foi rápido. Ele girou e bloqueou o golpe com a empunhadura. Foi quando finalmente os alcancei. Agarrei Eris pela cintura, pedindo desculpas a Sándor.
— Eris! Não importa o que Sándor tenha feito, recue, por mim! Sándor, desculpe, não sei o que deu no meu marido, quero dizer, minha esposa!
— Onde você acha que está enfiando o rosto? — Ela me chutou. Ok, talvez eu tenha pressionado meu rosto no traseiro dela, mas isso estava fora do meu controle!
— Desculpe, Eris, mas você não pode sair por aí arranjando briga com as pessoas. Especialmente Sándor, quando ele acabou de lutar ao nosso lado! Tipo, sim, esconder sua identidade e fingir ser um mercenário enigmático me irritou também, mas isso não é razão para atacar alguém!
— Eu sei disso — respondeu Eris.
Mentira. Se soubesse disso, não estaria atacando as pessoas pelas costas com uma espada, estaria? Eu não nasci ontem.
— Eris, você sabe, eu tenho visto você de maneira diferente ultimamente. Achei que você parecia mais calma do que costumava ser. Você cresceu, se tornou mais paciente, até aprendeu a ensinar outras pessoas como lutar com espadas. Norn estava grata por você ensiná-la. Não é fácil ganhar a gratidão das pessoas assim, sabia?! Eu vejo isso como prova do treinamento que você fez no Santuário da Espada. Olhando para você agora, eu nunca poderia imaginar que você cresceria e se tornaria uma pessoa tão maravilhosa.
Eu estava ficando um pouco palestrinha, mas era importante. Não importa o que tivesse a irritado, ela não podia atacar as pessoas pelas costas do nada. Quando Eris brandia sua espada, era em um nível diferente da violência comum.
— R-realmente? Mas Rudeus… — Eris parecia feliz, mas também um pouco desapontada. Eu tinha que convencê-la
— Ah bem, Mestre Rudeus — Sándor me interrompeu — Vamos deixar por isso mesmo. Acredito que a Senhorita Eris queria ver se a lenda era verdadeira
— A… lenda?
— Dizem que não se pode pegar o Segundo Deus do Norte Kalman de surpresa. Pronto para o combate o tempo todo, mesmo se você atacá-lo pelas costas, ele irá se virar como se tivesse olhos na nuca e acabará com a ameaça antes que o acerte.
Com isso, Sándor fez uma pose como se estivesse cortando uma flecha disparada em suas costas. Ignorando seu ar de superioridade, eu já tinha ouvido algo assim antes. Aparece na seção do meio de “A Épica do Deus do Norte”. Isso mesmo, acho que era o trecho onde, depois que o mundo começou a notar o Segundo Deus do Norte Kalman, o monarca do Reino do Rei Dragão enviou um monte de assassinos para eliminá-lo e ele matou todos?
— Eu queria ver se era verdade
— Mestre Rudeus, a Senhorita Eris foi devidamente cuidadosa. Quando eu segurei seu golpe, entendi que ela planejava parar no último segundo
— Oh, certo. Nesse caso… Mas Eris, se você for fazer algo assim, diga algo para mim. Você quase me deu um ataque cardíaco.
— Se eu tivesse dito algo, ele teria percebido.
Sério…? Bem, acho que se você planejava parar no último segundo, era apenas um jogo, então tudo bem, né?
E se Sándor tivesse ficado bravo e se juntado ao lado de Geese?
Hmm. Talvez eu estivesse pensando demais. Brincadeiras entre espadachins sempre pareciam mortais para mim.
— Então você realmente pode bloquear ataques mesmo quando vêm pelas costas?
— Oh, bem, eu não podia naquela época. Aquela parte na épica foi apenas meu aliado me protegendo. Só que, quando comecei a aceitar aprendizes, todos queriam ver se era verdade. Então aprendi naturalmente a mantê-los afastados.
— Então é isso! — disse Eris. Ela parecia comovida com as palavras de Sándor. Para ser justo, quando você ouve esse tipo de história, te faz sentir como se tivesse ouvido algo incrível.
Mesmo quando a história em si não é grande coisa.
— Agora, o que você diria de um duelo? — Sándor perguntou.
— Sério?!
— Eu ficaria honrado em testar minha habilidade contra a lutadora que derrotou Gall Falion. Os olhos de Sándor se viraram para mim enquanto falava e ele piscou.
O que está rolando aqui… Ah, entendi. Isso é um pouco de fanservice, hein? O Segundo Deus do Norte Kalman, herói de “A Épica do Deus do Norte”. Era peixe grande, provavelmente encontrava pessoas como Eris o tempo todo.
Talvez estivesse dando a ela um benefício especial porque ela era minha esposa? Pelo menos, foi o que pensei. No entanto, os olhos de Sándor permaneceram em mim.
— Você sabe que não vou participar, certo? Eris prefere lutar mano a mano, não é?
Pare de olhar para mim e dê atenção à sua fã.
Eris poderia ficar um pouco mal-humorada depois de perder, mas se enxergasse isso como uma experiência de aprendizado, ela ficaria feliz em absorver a lição. Ela era obediente a pessoas que eram mais fortes do que ela, que mulher!
— Oh não — disse Sándor. — Eu só tenho um pedido, em troca do duelo.
— Sem problema! Certo, Rudeus? — disse Eris.
Ela poderia pelo menos esperar até ele nos contar o que queria, não é?
— Não sei se vocês poderão atender, pois é bem difícil, sabem…
— …Difícil, você diz?
Começar assim é muito desanimador. Quero dizer, algo que o Segundo Deus do Norte Kalman diz diretamente que é difícil?
Eu não tinha certeza se isso estava ao meu alcance, mas me esforcei nos últimos vinte e poucos anos para chegar até aqui. Mesmo se não conseguisse, tinha certeza de que poderia ajudar de alguma forma.
— Acho que para vocês dois, pode ser possível.
— Você terá que nos dizer o que é.
— Vamos chamar de surpresa para quando a luta terminar.
Você sempre faz isso.
Tanto faz.
— Dependendo do que for, verei o que posso fazer — respondi. Se ele fosse ser enigmático, eu teria que fazer o mesmo.
Houve um clang quando a espada de madeira encontrou o bastão.
Bem, não. Era um efeito sonoro muito mais suave que um clang; um som percussivo estranho que não parecia nada com a colisão de uma espada de madeira e um bastão. Era mais como swboh, gwooong, calunk calunk. Eris lançou golpes rápidos em uma velocidade insana, intercalados com fintas e gingas, mas cada um deles foi bloqueado. Eu tinha muitas lutas simuladas com Eris, então podia dizer que ela estava levando a sério. Não tinha tanta certeza quanto a Sándor, mas dado o quão confortável ele parecia, não achei que ele estava indo com tudo.
Dito isto, de vez em quando uma expressão aparecia em seu rosto como se estivesse fazendo esforço, o que implicava que Eris estava chegando em algum lugar. Eles lutaram repetidamente. Nada marcava o início ou o fim. Eles apenas se distanciavam, e então um, geralmente Eris, atacava até que, em algum momento, paravam de repente. Ok, Sándor geralmente tinha seu bastão no pescoço de Eris ou em seu coração ou em algum outro ponto vital, o que suponho que significava que ele estava vencendo.
A cada três ou quatro troca de golpes, a espada de Eris acertava o alvo. Sempre que isso acontecia, havia um murmúrio de: — Ooh! Ao redor deles. Em algum momento, a audiência havia crescido. Cliff, Elinalise, Zanoba, Ginger, Dohga, alguns jovens Superd, e até os médicos de Asura estavam assistindo à batalha de Eris e Sándor com os olhos arregalados.
Compreensível. Isso valia a pena assistir.
Você não veria isso em uma luta entre Eris e eu. Era rápido demais para eu ver qualquer coisa, além de ser incrível, já que ela estava essencialmente no nível de um Deus da Espada. Eris conhecia a teoria bem o suficiente para ensinar luta de espadas. Então pode não estar em pé de igualdade com o Deus da Espada, que era o melhor em sua classe, mas estava apenas um passo atrás dele. Para Sándor, ela pode ter alguns pontos fracos, mas mesmo contando com isso, ela estava vencendo uma em cada três ou quatro partidas. Mesmo de fora, uma coisa era clara: você estava assistindo para ver como Eris conseguiria passar pelas defesas de Sándor e acertar um golpe.
Em resumo, era uma luta emocionante, até para os olhos de um amador.
— Gaaaah!
Esses confrontos estavam, finalmente, chegando ao fim. Eris havia vencido três rodadas consecutivas de Sándor.
Ela soltou um suspiro profundo e se sentou no chão:
— É assim, hein?
— Exatamente assim. Você fez jus ao seu nome, Rei da Espada Berserker Eris. Seus instintos estão em um nível diferente.
Apesar dos elogios que estava recebendo, a expressão de Eris era dura. Ela realmente odeia perder.
— Você é adaptável. Evita as coisas que viu que não funcionam e persegue ativamente as que funcionam. Mesmo quando as coisas que viu funcionarem se mostrarem falsas, você mantém a mente presente para seguir para a próxima coisa sem assumir que foi apenas azar. Quando a derrota parece iminente, você não desiste e aceita graciosamente. Você continua buscando um caminho para a vitória até o último momento… Eu vislumbrei o Estilo Deus do Norte em sua técnica. Quem foi seu mestre?
— Auber.
— Oh, ele. Que ironia. Sempre que ele via algo que não funcionava, tentava de tudo para encontrar uma maneira engenhosa de usá-lo. Seu crescimento foi todo distorcido.
— Mas sua arma secreta não era.
— Verdade. No fundo, ele era sincero. Tenho certeza de que ele sabia disso. Sua distorção era sua força, mas ele não podia contar com isso no final.
Isso estava se transformando em uma cena emocionante. Eu não sabia os detalhes, mas talvez o Imperador do Norte Auber, com quem Eris lutou no Reino Asura, tivesse sido aluno de Sándor.
— Bem, agora que nosso confronto acabou… — Sándor bateu palmas e os espectadores se dispersaram. Todos pareciam satisfeitos, como se tivessem visto algo espetacular. Cliff estava olhando para as mãos e cerrando os punhos. Talvez estivesse pensando que a luta com espadas poderia ser para ele também. Elinalise rapidamente envolveu suas próprias mãos ao redor do punho dele para mantê-lo sob controle.
Cliff, você já é incrível como é. Você não precisa aprender a lutar com espadas.
Depois do aplauso, Sándor imediatamente começou a esfregar as mãos enquanto se virava para mim.
— Agora, Mestre Rudeus, Senhorita Eris. Retornando ao meu humilde pedido a vocês.
Tudo bem, que tipo de pedido o poderoso Deus do Norte vai nos fazer?
A boca de Sándor estava se contorcendo. Ele parecia estranhamente nervoso. Como descrever isso? Era como se não soubesse como continuar.
— Gostaria que vocês me apresentassem novamente ao Mestre Ruijerd!
Para… Ruijerd?
— Mas… por quê? — Talvez Sándor gostasse de homens. Ele tinha um filho, então tinha certeza de que gostava de mulheres, como um cara comum… Talvez seus gostos tenham mudado com a idade? Ou talvez ele tenha adquirido alguns hábitos duvidosos depois de se juntar aos Cavaleiros de Asura. Talvez eu devesse relatar isso à mãe dele. Eu queria ver como Atofe reagiria.
Assim que eu estava pensando nessas linhas, Sándor disse:
— Agradeceria se pudessem pedir a ele para falar comigo sobre o que aconteceu quando derrotaram Laplace e o selaram de vez.
— Hum, Deus do Norte Kalman I era seu pai, certo? Você não perguntou a ele?
— Meu pai estava inconsciente nos momentos finais e não sabia os detalhes do que aconteceu. Uma vez, me esforcei para me encontrar com o Senhor Perugius e tentei perguntar a ele, mas ele não quis responder… e o Senhor Urupen encontrou seu fim antes que pudesse conhecê-lo…
Ah, isso faz sentido. Sándor queria saber sobre o fim da Guerra de Laplace e, especificamente, os detalhes da batalha final contra o Deus Demônio, mas ele não teve a oportunidade. Não conseguiu perguntar a nenhum dos Três Matadores de Deuses: Deus do Norte Kalman I, Rei Dragão Blindado Perugius e Deus Dragão Urupen, por isso desistiu. Agora, ele teve a sorte de encontrar o último, aquele esquecido pela história: o homem cujo golpe ajudou a virar a maré contra Laplace naquela batalha final, Ruijerd Superdia, o Fim da Linha.
Eu acho que ele saberia.
— O que você planeja fazer com a resposta?
— Huh? Você não quer saber?! Estamos falando de uma verdadeira épica heroica. Não é uma mentira barata, como a que fizeram sobre mim. Eu corri por todo o mundo enfiando meu nariz em situações que pareciam poder me render alguma fama até que as coisas simplesmente dessem certo. Não, aquela foi a conclusão de uma batalha travada por verdadeiros heróis enfrentando a morte certa contra um inimigo muito além de seus poderes, mas lutando mesmo assim para salvar o mundo!
Eu conhecia a história de “A Épica do Deus do Norte”. Quem sabia o quanto os escritores deste mundo haviam exagerado? Ainda assim, sua épica heroica era incrível. Os detalhes variavam de capítulo para capítulo, mas de um modo geral, era a história de como ele viajou pelo mundo derrotando o mal e resgatando os fracos. Ele salvou muitas pessoas. Não importa o que ele pensasse sobre isso, eu achava incrível. Em contraste, a história de Ruijerd era uma tragédia. Ele não havia feito o que disseram que fez, mas, ainda assim, sua família ainda havia sido morta e seu povo colocado em perigo de extinção.
Ele não salvou ninguém ou alcançou nada e foi por causa dele que os Superd foram forçados a viver uma vida tão restrita. Não havia nada de que ele se orgulhasse. Eu duvidava que ele trouxesse isso à tona por conta própria. Se eu perguntasse a ele… sim, ele poderia me contar, mas tinha certeza de que não era algo que ele quisesse falar.
Com isso, olhei para Eris. Seus olhos estavam brilhando.
— Eu quero ouvir sobre isso também! — Ela disse.
Quero dizer, estaria mentindo se dissesse que não queria saber também.
Ruijerd estava no meio de uma refeição. Sua casa estava muito arrumada. Chamar de impecável seria um pouco exagerado, mas dava para ver que era limpa todos os dias. Ruijerd não era do tipo que deixava coisas espalhadas, mas também não era do tipo que se incomodava com poeira acumulando nos cantos e ao redor das janelas. Até esses lugares estavam limpos neste momento.
Claro, sua inexperiência transparecia um pouco. Se minha irmã mais nova Aisha, que trabalhava como empregada, visse isso, exclamaria: “Meu Deus! Você chama isso de limpeza?” Ok, talvez não. Se visse cantos empoeirados assim, ela reviraria os olhos com um suspiro e diria algo como: “Você não sabe nem limpar?” Eu tinha quase certeza de que já tinha visto esse tipo de cena acontecer quando Linia trabalhava para nós como empregada.
Rodada relâmpago! Quem é o responsável por trás deste quarto não perfeitamente limpo?
Bzzt!
Ooh, uma resposta rápida! Bem, Rudeus?
Ela está ali ao lado de Ruijerd, servindo algo que parece uma sopa de arroz em tigelas: Norny Greyrat!
Isso mesmo! Você ganhou uma boneca Roxy, Rudeus!
Iupi!
Norn estava ali ao lado de Ruijerd, parecendo um pouco espantada ao nos ver. Acho que estava surpresa por ver todos nós entrando enquanto estavam comendo. Enfim, vamos não pensar muito sobre isso por agora.
— O que houve? Aconteceu alguma coisa? — Ruijerd perguntou, olhando de forma questionadora para nós.
— Mm, bem, primeiro de tudo, este cavalheiro diz que gostaria de se apresentar adequadamente a você.
Eu gesticulei com a palma da mão em direção a Sándor, que se levantou.
— Eu sou Sándor von Grandeur, anteriormente conhecido como o Segundo Deus do Norte Alex Rybak! Mestre Ruijerd Superdia, não posso expressar o quanto é uma honra conhecer o herói lendário que trouxe a vitória na Guerra de Laplace! À sua disposição!
Ele estava um pacote de nervos. Inimaginável quando comparado à sua usual despreocupação. Acho que fazia sentido. Do ponto de vista dele, os guerreiros que sobreviveram à Guerra de Laplace seriam lendas da geração de seus pais. Eu não entendia muito bem, mas presumivelmente era um pouco como os lendários membros mais velhos de gangues em mangás delinquentes, aqueles que uma vez dominaram a nação. Como o chefe de uma gangue que subiu ao topo em um tempo de relativa paz, ele teria que se curvar diante das grandes conquistas daqueles caras.
— …Em nome dos guerreiros Superd, agradeço sua ajuda na batalha.
Ruijerd era um cara educado. Ele se curvou como se fosse algo que havia esquecido de fazer antes.
— Oh não, por favor, levante a cabeça! — Sándor apressou-se em dizer. Curvando-se um para o outro assim, eles praticamente pareciam japoneses.
Eris, enquanto isso, prontamente sentou-se e pediu para Norn servir-lhe um pouco da sopa de arroz. Ela devia estar com fome depois de todo aquele exercício, pois começou a devorar, sem restrições. Parecia estar gostando. Norn colocou uma tigela na minha frente, então acompanhei e comecei a comer. Era um esforço sólido. Não era deliciosamente incrível, mas duvido que pudesse fazer melhor. Espere. Retiro isso, eu poderia fazer um pouco melhor… Era bom o suficiente para me deixar em dúvida, e isso era um sinal de progresso.
— Isso está ótimo!
— Obrigada.
— Você quem fez isso, Norn?
— Sim.
Após essa troca de palavras, olhei novamente para minha sopa. Acredite se quiser, esta era a culinária de Norn! Quando ela aprendeu técnicas avançadas de culinária?
Parte de mim pensou isso, mas tive que reconhecer que Norn havia se tornado uma menina crescida. Este mundo tinha treinamento de dona de casa, assim como no meu mundo. Ela saberia cozinhar, pelo menos. Entendendo o quão longe ela havia chegado, de repente o sabor se tornou incrível. Pouco a pouco, Norn estava crescendo. Vê-la crescer aquecia o coração de um irmão mais velho. Esses sentimentos eram como um tempero que amplificava o sabor da sopa em dez ou até cem vezes. Isso era basicamente uma droga.
Voltando ao assunto.
— Enfim, Ruijerd, trouxe Sándor aqui porque ele tem algo que gostaria de lhe perguntar.
— Ele quer me perguntar algo?
— Sim. Só que, você pode não querer falar sobre isso. — Com isso fora do caminho, contei a Ruijerd do que se tratava. Contei a ele sobre o respeito fanático de Sándor por ele… por todo o time que derrubou Laplace, e como ele queria a imagem completa de como aquela luta havia acontecido. Também inseri algumas coisas sobre como o pai de Sándor, o Deus do Norte Kalman havia morrido naquela luta e agora seu filho queria descobrir como ele realmente morreu e, se necessário, vingar-se. Além de como ele não conseguia nem falar sobre sua vida até agora sem chorar.
— Rudeus.
— Sim?
— Por que você está contando essas mentiras?
— Ah, Eu só… meio que me empolguei… — Era de conhecimento comum que o Deus do Norte Kalman havia sobrevivido à batalha contra o Deus Demônio Laplace. Depois, ele havia se infiltrado na morada da Rei Demônio Atofe sozinho, subjugou-a, depois casou-se com ela. Mais tarde, viajou pelo mundo e finalmente morreu nas Montanhas do Rei Dragão.
— É, você nunca muda, não é?
Se um cara trapaceiro como eu tivesse mentido para o velho Ruijerd, ele poderia ter surtado. Agora ele entendia que eu estava brincando. Acho que ele realmente confiava em mim.
— Bem, talvez os motivos de Sándor para querer saber não sejam tão grandiosos assim, mas se estiver tudo bem para você, espero que fale com ele.
— Não é nada de especial. — Qualificou Ruijerd. Então, começou sua história.
A maldição da lança foi removida de Ruijerd, apenas para ele cair sob outra: a maldição da vingança.
Impulsionado por esta maldição, apressou-se em ir até Laplace, apenas para descobrir que a batalha final já havia começado. Estava quase concluída quando chegou.
O Deus do Norte Kalman estava caído e os doze familiares de Perugius haviam sido eliminados, exceto um. O próprio Perugius estava de joelhos, gravemente ferido. Apenas Urupen ainda lutava bravamente, mas estava claro que Laplace era mais poderoso que ele. Laplace, em comparação, estava cansado, mas ainda tinha forças para lutar. Mesmo diante disso, Ruijerd manteve a calma. O Deus Demônio havia enganado os Superd e os levado quase à extinção, mas Ruijerd deixou de lado seu ódio e observou de perto seu oponente. Laplace era forte, mas Ruijerd tinha algum conhecimento vago dos três combatentes. Quando estava em seu juízo perfeito, cruzou espadas muitas vezes com o Deus do Norte Kalman e o Deus Dragão Urupen. Ambos eram lutadores poderosos. Urupen era tão forte que até mesmo Ruijerd não tinha esperança de vencê-lo. A mulher do povo do céu ao lado de Perugius parecia uma lutadora habilidosa também.
Apesar de tudo isso, Laplace era forte. Estava cansado, mas ainda podia lutar. Se Ruijerd atacasse cego pela raiva, poderia falhar. Então, observou Laplace, procurando uma abertura onde pudesse ter certeza de acabar com ele, foi quando encontrou algo no corpo de Laplace. Essa coisa corria dentro dele. Ruijerd não sabia o que era, mas com instintos nascidos de longa experiência, adivinhou que era o ponto fraco de Laplace. Não havia tempo para confirmar sua suposição. Laplace atacou para acabar com Perugius, apenas para Urupen se colocar entre eles e receber o golpe. Seria fatal. A vitória agora era impossível. Laplace sorriu triunfantemente.
Naquele momento, Ruijerd se aproximou sorrateiramente e atacou. Seu alvo era aquela coisa que ele havia notado. O resultado foi sensacional. Imediatamente, Laplace foi acometido de dor e, em uma raiva cega, ele revidou contra Ruijerd. Laplace não sofreu uma morte instantânea, mas algo havia mudado.
Ruijerd não podia fazer mais nada, Laplace o havia subjugado. Seu Olho Demoníaco enfraqueceu os movimentos de Ruijerd, então Laplace socou a guarda de Ruijerd para quebrar alguns ossos e, assim, interromper os ataques de Ruijerd. Laplace o neutralizou, por fim, espancando-o como se ele fosse uma criança. Achando que estava acabado, Ruijerd se lançou contra Laplace em um ataque suicida desesperado.
Naquele momento, o chão brilhou. Uma luz branco-azulada iluminou os arredores: era um círculo mágico. Ruijerd olhou e viu Urupen com as mãos no chão, recitando algo.
— Não pode ser! — gritou Laplace. Enquanto o círculo mágico brilhava com luz. Ruijerd foi cegado. Mesmo assim, seu terceiro olho Superd viu o corpo e a mana de Laplace se despedaçarem e se espalharem. Seus ouvidos captaram o grito de morte de Laplace.
— Não pense que isso foi suficiente para me matar! Homem…! Homem…! Eu vou te matar! Vou te destruir! Apenas espere, maldito bastardo, eu vou…
Essas foram as últimas palavras de Laplace.
— Eu não sei exatamente o que foi aquela técnica.
— Chama-se Remanescência Dracônica! O feitiço que o Senhor Perugius reviveu dos antigos tomos para usar contra Laplace na batalha final!
— É mesmo?
Outro nome de adolescente rebelde. Talvez o povo dragão simplesmente não ficaria contente a não ser que dessem nomes como esses a essas técnicas. Não que eu tenha alguma coisa contra.
— Bem, então isso realmente foi usado no final… Foi Sir Urupen quem a lançou… Ah, claro, deve ter sido a ativação do feitiço que levou à morte de Sir Urupen logo após a batalha final… Tenho certeza de que o plano era que Perugius a ativasse… Então, sim, claro, Sir Perugius não quer falar sobre isso. Está envergonhado por tê-los deixado na mão. Talvez veja a si como culpado da morte de Sir Urupen… Sim, tudo faz sentido…!
Sándor estava satisfeito. Estava murmurando para si mesmo como um otaku. Isso era um pouco assustador. Lembrava-me de mim mesmo em minha vida anterior. Ainda havia algumas lacunas na minha compreensão após ouvir a história, mas, pelo que podia perceber, este era o resumo: Perugius deveria usar essa técnica na batalha final, mas não pôde porque Laplace o derrotou. Além disso, Urupen havia tomado um golpe por ele e depois ativado o círculo mágico, falecendo repentinamente como resultado.
Isso seria insuportável. Se fosse comigo, eu provavelmente recusaria sair de casa até que Roxy viesse me confortar…
Fazia sentido que ele tivesse passado quatrocentos anos vagando pelos céus, esperando por um sinal do retorno de Laplace. Aposto que ele havia jurado que desta vez, faria o trabalho sozinho.
— Hã? Se o feitiço foi lançado na batalha final, isso não significa que Laplace morreu?
— Eles pensaram que o haviam matado, mas depois Sir Perugius fez uma busca no castelo de Laplace e descobriu que ele havia tomado medidas para que, se morresse, reencarnasse e retornasse. É por isso que começou a dizer que Laplace estava apenas “selado”.
— …Certo.
A expressão de Ruijerd estava sombria. Ele estaria pensando que, quando Laplace retornasse, ele teria que lutar também. Mesmo que Laplace eventualmente retornasse, reencarnação significava que estava atualmente morto. Logo, eles o mataram uma vez.
Desculpe, eu não deveria ter rido da ideia dos “Três Heróis (Não) Matadores de Deuses”…
— Eu não sei o que aconteceu depois. Depois disso, me despedi e voltei para o Continente Demônio.
Ele passou os últimos quatrocentos anos lutando para salvar os Superd. Ouvindo a história corretamente, senti que, embora sua vida tivesse sido difícil, era maravilhoso que ele tivesse encontrado este lugar para viver o resto de seus dias. Realmente maravilhoso.
Nós também estávamos no caminho certo para restaurar a reputação dos Superd, então ainda no meu tempo as pessoas parariam de dizer: “Vá dormir ou os Superd virão e te devorarão”. Na verdade, começariam a dizer: “Vá dormir ou monstros virão. Então, os Superd terão que te resgatar”.
Heh heh. Haveria crianças recusando-se a dormir em todos os lugares.
— Obrigado por nos contar uma história tão valiosa! Nunca pensei que teria a chance de conhecer você em um lugar como este, sabe?! Estou emocionado! Resolvi um mistério de uma vida inteira!
Sándor se curvou repetidamente, com o rosto radiante.
Enquanto comia sua sopa de arroz, Eris também ouvia com interesse. No passado, ela teria interrompido, de olhos brilhantes, para perguntar: “E então?! O que aconteceu depois?!” Talvez ela soubesse que estava envolvida em sua própria luta lendária. Pensando bem, ao longo dos anos, Eris também havia viajado para todos os tipos de lugares, vivido todos os tipos de aventuras e enfrentado todos os tipos de inimigos… Admito que na maioria dessas vezes, ela estava ao meu lado, então talvez não estivesse completamente satisfeita.
— Bem, isso é suficiente por…
— Prazer em vê-lo! — Alguém gritou quando a porta foi arrancada de suas dobradiças. Eris saltou para ficar em pé, chutou a porta que foi arrancada, depois usou o impulso para girar, avançar e sacar sua espada. Ela desceu para cortar o intruso ao meio.
— Hehehe, impetuosa, não é… Eu reconheço você como uma campeã por isso! A invasora pegou a lâmina entre suas mãos. A intrusa havia parado completamente o golpe ultrarrápido de Eris. — Acalme-se. Eu só vim para conhecer o mestre da casa.
Era a Rei Demônio Imortal Atoferatofe Rybak. Provavelmente a pessoa mais teimosa do mundo. Ela era tão teimosa que envergonhava Eris e Kishirika.
— Já faz tempo demais, Ruijerd Superdia. — Sua boca torceu-se em um sorriso enquanto ela olhava para Ruijerd, deixando a mostra a Rei Demônio que era. Sua voz era escorregadia como uma cobra enquanto falava a Língua do Deus Demônio.
— Faz sim, Rei Demônio Atofe. — Ruijerd respondeu, também em língua demoníaca.
— Hehehe. Eu me lembro bem de você. Pode não parecer, mas eu tenho boa memória. Foi quando eu estava te perseguindo pela região de Babynos, não foi?
Ruijerd ficou em silêncio.
— Pensar que você acabou construindo seu ninho em um lugar como este…
Ruijerd estava suando. Até mesmo o grande Ruijerd estava desconfortável ao redor de Atofe.
— Majestade, só um segundo, vamos todos nos acalmar. A fúria dos Superd na guerra de Laplace foi toda orquestrada pelo próprio Laplace.
— O que você disse?
Eu contei a Atofe sobre como os Superd haviam sido amaldiçoados. Todos choraram, tanto quem contava a história, quanto os ouvintes, enquanto eu explicava como tudo foi uma armadilha arquitetada pelo diabólico Laplace. Os Superd eram inocentes.
Atofe ouviu, assentindo como se estivesse absorvendo tudo. Eventualmente, ela gritou:
— Cale-se! Você não faz sentido, então cale-se!
Eu devo ter tornado tudo muito complicado. Olhei para Sándor em busca de ajuda e ele assentiu como quem dizia: deixe comigo!
— Mestre Rudeus… Foi pouco antes dos Superd receberem as lanças mágicas, ou talvez simultaneamente a isso, que minha mãe foi selada. Ela não sabe do que você está falando.
— Oh, certo… Então, por que você estava perseguindo-o?
— Ela não vai lembrar o motivo, tenho certeza. Certo, mãe?
— Hmm… Eu lembro sim! Foram os camponeses! Os camponeses pediram minha ajuda!
Isso fazia sentido. Provavelmente o que aconteceu foi que Ruijerd tentou ajudar alguma criança, algumas pessoas interpretaram mal, como se ele estivesse atacando a criança. Assim, mesmo temendo a Rei Demônio, os camponeses confiaram nela e apelaram diretamente a ela: “Faça algo sobre aquele Superd”.
— Bem, de qualquer forma, foi tudo culpa de Laplace, então por favor… perdoe-o desta vez. — Eu quase disse: “deixe o passado para trás”, mas me contive. Ela explodiria de novo se eu usasse mais expressões complicadas.
— Heh, hehe, fwaaahahahaha! Muito bem! Eu não sou como aqueles mesquinhos da Raça dos Dragões! Ele terá meu perdão!
Talvez fosse realmente Ruijerd quem não pudesse perdoá-la. De um certo ponto de vista, poderia parecer que Atofe havia perseguido ativamente os Superd.
— Mas Ruijerd, os aldeões aqui são tão fracos que não posso acreditar que sejam seu povo. O que aconteceu com os fortes Superd?
— Todos morreram.
— Oh? Agora que penso nisso, não vejo mais Superds no Continente Demônio.
Ruijerd não disse nada. Ele tinha uma expressão de compreensão. Ele havia percebido que lógica não funcionava com a Rei Demônio Atoferatofe Rybak. Ela talvez nem soubesse que estava perseguindo os Superd… Odiá-la só o faria parecer estúpido.
Quero dizer, sim. Não havia como Atofe tramar algo insidioso como uma perseguição. Ela era mais do tipo que esmagava seu oponente através de uma guerra direta.
— Hehehe. Ruijerd Superdia… Eu tenho grande estima por você. Se você se tornar meu servo, pouparei seus amigos na vila.
— Mãe, quando você diz “poupar”, o que exatamente está planejando fazer se ele recusar? Não vai dizer que irá matar todos eles, não é? Você sabe que ninguém aqui vai tolerar isso?
O olhar de Sándor era afiado. Ele havia abandonado seu ar de despreocupação e havia um frio gelado em seu rosto enquanto olhava para ela.
— Nngh…uhh…
— Eu entendo por que você o quer como servo. Eu cresci ouvindo do pai sobre a força dos guerreiros Superd. Faz sentido que queira recrutar o líder desses guerreiros, mas a maneira como você faz isso é importante, mãe. Acho que você tem um problema com esse tipo de coisa.
Uau, Atofe realmente ouvia seu filho.
Estava realmente impressionado. Sándor havia resolvido a situação em questão de segundos.
— Dito isso, Mestre Ruijerd, o que acha de aprender o Estilo Deus do Norte?
Não faça isso. Se disser sim, será arrastado para o Forte Necross. Essa oferta é golpe!
— Você se tornaria Rei do Norte ou Imperador do Norte em pouco tempo e se fosse um dos principais discípulos do Estilo Deus do Norte, isso melhoraria a impressão do mundo sobre os Superd. A governante do Reino Asura é próxima de Mestre Rudeus, então, como um dos principais discípulos do Estilo Deus do Norte, você poderia receber um título de cavaleiro, mesmo sendo um Superd. A proposta de Sándor escapou de sua boca. Eu podia ver seu motivo oculto: ele queria compartilhar um local de trabalho com este cara que admirava.
Pessoalmente, não via nada de errado nisso. No caso de o Reino Biheiril recusar aceitar os Superd, eles poderiam concordar em se mudar para o Reino Asura. Então, a autoridade de Ariel os protegeria. Teríamos que pensar um pouco sobre onde viveriam, mas uma ideia era a floresta no norte do reino. Passamos por lá quando nos infiltramos no Reino Asura em segredo. Isso poderia funcionar. Não pertencia a nenhum país em particular, então certamente ninguém reclamaria.
Eu não achava que os Superd gostariam de se mudar novamente, mas se um pouco mais de paciência os tornaria seguros, essa tinha que ser a melhor opção.
Então Ruijerd respondeu:
— Agradeço a oferta, mas não pretendo deixar a vila por algum tempo.
— Entendo… Desculpe, me adiantei um pouco.
Bem, a vila era um grande projeto por si só. As pessoas não gostam de sair depois que criaram raízes. Ruijerd queria dar o seu melhor a este lugar.
— Heh heh, mesmo assim. Ruijerd Superdia, estou aqui para vê-lo!
— Sim.
— Heh, eheheh… Não tenha medo. Somos aliados desta vez. Um rei demônio entra em confronto com outros guerreiros fortes do mesmo lado, mas no fundo reconhece sua força. Sim, é isso mesmo, eu reconheço sua habilidade! Eu não estava mentindo quando disse que tenho grande estima por você. Os guerreiros Superd eram poderosos, afinal.
— …Sim. Eles eram guerreiros excepcionais.
Talvez fosse porque Sándor a repreendeu, mas Atofe estava sendo bastante amigável para os padrões dela. Duvido que ela tivesse vindo procurar uma luta. Era mais como se ela tivesse visto um rosto familiar e viesse para dizer olá ou algo assim.
De repente, senti o olhar de alguém. Olhei para trás e vi Norn olhando para mim, com uma expressão preocupada.
Ela estava encolhida, então não tinha notado, mas ela estava sentada bem entre Atofe e Ruijerd. Seus olhos imploravam para que eu fizesse algo. Balancei a cabeça para dizer que isso estava fora do meu alcance, enquanto ela parecia estar prestes a chorar.
Tradução: Laplace
Revisão: NERO_SL
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