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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 24 – Cap. 07.2 – Interlúdio: Vita e Raxos

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Os slimes já foram considerados monstros uma vez.

Nas profundezas de uma floresta no Continente Demoníaco, vivia determinada espécie de slime. Eles penetravam frutas e carcaças de animais, parasitavam as criaturas que se alimentavam desses resíduos e formavam uma relação de simbiose com seus hospedeiros. Essas criaturas eram os ancestrais do que um dia se tornaram os atuais slimes.

Um dia, uma delas foi capturada, e seu captor realizou uma série de experimentos. Ele a fez parasitar todo tipo de ser e absorver uma variedade de substâncias. A criatura adquiriu sapiência. Seu captor estava satisfeito com os resultados, e a devolveu para a natureza. Ela retornou para sua manada e compartilhou seu conhecimento com seus iguais. Assim, os antes parasitas irracionais tornaram-se inteligentes. Ser inteligente, no entanto, não era sinônimo de ser resiliente. Foram reconhecidos como demônios unicamente em decorrência de suas habilidades de comunicação e melhorar a cura e a resistência a enfermidades em seus hospedeiros. Eles ajudaram de forma relevante os reis demônios e as lideranças superiores na Guerra Humano-Demônio, parasitando seus corpos para emprestar-lhes sua abundante sapiência. Em celebração a essa conquista, uma das criaturas foi até mesmo presenteada com um Olho Demoníaco pela Grande Imperatriz do Mundo Demoníaco, Kishirika, e veio a ser um Rei Demônio. Não obstante, com todos esses feitos, eles não chegaram a gerar figuras heroicas da maneira que a história geralmente relembra… até que a criatura nomeada Vita nasceu.

Os slimes eram parasitas. O mais forte de sua raça podia sobreviver sem um hospedeiro até certo ponto, mas em geral sua vida dependia simbioticamente de seus hospedeiros e morriam com eles. Emprestavam seu conhecimento e conselhos para os parasitados, porém não podiam controlá-los a seu bel prazer. Não era impossível tomar por completo um corpo, contudo isso requeria que o hospedeiro passasse anos e anos sem oferecer resistência. A menos que a pessoa parasitada tivesse sofrido morte encefálica, não era de todo impossível usurpar o corpo de seu dono por direito.

Vita era diferente: uma Criança Abençoada. Desde o momento em que nasceu, ele era especial. Usando de ilusões, podia mostrar sonhos a seus hospedeiros. Esses sonhos não tinham fim. Ele era capaz de induzir em seus parasitados comas que duravam vários anos, como um verdadeiro estado de morte cerebral. Vita foi o primeiro slime da história capaz de controlar seu hospedeiro. Mesmo assim, não nasceu com grandes ambições. Não era nem mesmo consciente de sua força. Ele, então jovem e cheio de curiosidade, veio a descobrir isso quando deixou a caverna onde vivia para ir em uma aventura, e quase morreu.

Ao encontrar o primeiro “rio”, movido pela curiosidade, saltou nele. O fluxo da água dissolveu seu muco, deixando apenas o núcleo. A gosma que forma o corpo dos slimes é um órgão vital. Suas mãos e pés, sua boca e estômago, até mesmo sua pele. Um núcleo desnudo, dentro do corpo de outro ser vivo, simplesmente morreria, incapaz de se proteger do ácido estomacal do hospedeiro.

Sem ter como se mover e tendo perdido sua proteção, Vita esperou a morte. Ele foi transportado ao mar, onde poderia terminar no estômago de um peixe. Enquanto sua consciência desvanecia, começou a sonhar. No sonho, ele encontrou um deus. Com seus conselhos, aprendeu a regenerar seu muco a partir da umidade. Esse deus o revelou seu verdadeiro poder. Vita induziu pesadelos no peixe para que o vomitasse, e então reconstruiu sua gosma a partir da água do mar. Daí, quando outro peixe o engoliu, usurpou o corpo e mente. Ele fez aquele peixe ser devorado por um outro maior, então foi devorado por um pássaro que foi comido por um rei demônio, cujo corpo Vita tomou.

Tudo isso foi realizado por ele com orientação do Deus-Homem. O rei demônio, de quem Vita roubou o corpo, era extremamente poderoso e havia lutado na Guerra de Laplace.

Agora sou onipotente, pensou Vita. Consumido pela soberba, ele cometeu todo tipo de atrocidades. Assassinou, roubou e deleitou-se em tudo isso. Não imaginava que a destruição traria a ele tanta felicidade. Talvez porque fosse da natureza de seu hospedeiro.

O reinado de terror de Vita estava para ser interrompido. Alguém veio para pará-lo, e esse alguém chamava-se Raxos.

Raxos era um lacaio do tirânico rei demônio possuído por Vita. Os dois, como camaradas, lutaram juntos na Guerra de Laplace. Sua força era tal que recebeu o vulgo de “Deus da Morte”. Ele havia voltado de uma longa jornada e, ao retornar, dirigiu seu olhar ao tirano rei, dizendo: “Quem é você? O que fez com ele?”

Vita se apresentou:

— Aquele rei demônio idiota está morto — respondeu. — Eu sou o Demô… Não, eu sou o Rei Abissal Vita.

Enfurecido, Raxos o desafiou para um duelo. Vita imaginou que isso seria uma vitória fácil, mas Raxos o derrotou antes dele sequer perceber o que estava acontecendo. A luta terminou em um piscar de olhos. Logo antes de seu hospedeiro morrer, Vita transferiu seu núcleo para outro e fugiu.

Tomar controle do novo ser deu a Vita algum descanso. Seu novo corpo não era o de um rei demônio, mas ainda era poderoso. Além disso, possuir um rei demônio permitiu que aprendesse sobre as pessoas e sua sociedade. Ele tinha ideia de como conseguir um hospedeiro superior. Deixou o passado de lado e recomeçou.

Vita esqueceu-se de algo: quando abandonava seus hospedeiros, eles recobravam a consciência. O rei demônio, embora portando ferimentos quase fatais da luta, não era exceção. Quem sabe o que Raxos disse ao rei demônio quando ele retornou a si? O rei deve ter contado a seu subalterno sobre sua humilhação, pois o próprio este passou a perseguir Vita aonde quer que fosse. Não importava quem o slime faria seu hospedeiro, Raxos o via através de todos e os matava. Não muito tempo depois, ele percebeu sobre como seus disfarces eram descobertos. Raxos usava um implemento mágico de autoria própria para detectar criaturas parasitadas por slimes e as matava. À medida em que continuava, impiedosa e incansavelmente, acabou chegando à caverna de onde Vita nasceu. Ele massacrou todos os slimes lá.

Este titã incutiu medo em Vita. Ele havia criado um monstro. Embora tivesse medo, não iria simplesmente fugir. Convenceu-se de que matar seu caçador era a única forma de sobreviver, então planejou tudo. Até mesmo Raxos poderia ser imobilizado e indefeso se Vita apenas entrasse nele e provocasse suas alucinações. Confiante em seu plano, pensou em parasitar um amigo em quem Raxos já havia utilizado seu implemento mágico antes, usá-lo para aproximar-se dele, e então transferir-se para o próprio Raxos. Esse plano nunca veio a se tornar realidade, pois este amigo possuía um certo artefato mágico — o Anel de Ossos. Era um anel que Raxos havia forjado a partir dos ossos de seu amigo, o tirânico rei demônio, unicamente com o propósito de assassinar Vita. Com efeito, ele quase morreu. Felizmente para o slime, o amigo era mais leniente do que Raxos.

— Raxos me matará, mas fiquei feliz de poder vê-la de novo após tanto tempo. Eu agradeço — disse ele, antes de deixar Vita ir.

Vita possuiu um cão nas proximidades e foi embora, remendando seu fracasso. Ele decidiu fugir. Quando estava em posse do corpo do amigo, percebeu o quão implacavelmente Raxos o perseguia. Tinha certeza que ele o mataria, e não tinha qualquer plano para impedi-lo. Fugiu para o lugar onde o Deus-Homem lhe concedeu seus conselhos. Trocou o cão por um Wyvern, e o Continente Demônio pelo Continente Celestial, indo em direção ao Labirinto do Inferno. Era um lugar inóspito. O tipo de lugar onde, não importa aonde fosse, você nunca mais sairia depois de entrar. Vita era um slime, entretanto. Nada disso importava para ele. Dentro do Labirinto, iria de um corpo a outro até que finalmente parasitasse o guardião do labirinto. Ao menos, ele encontrou um porto seguro.

Uma variedade de armadilhas supergigantes aguardava em espera no Labirinto do Inferno do Continente Celestial. Não era o tipo de lugar em que as pessoas simplesmente entrariam. Até mesmo o Deus da Morte Raxos não conseguiria chegar ao centro, e Vita, com medo de Raxos, não planejava sair tão cedo. Ele poderia esperar quanto tempo quisesse.

Assim que chegou ao guardião e tomou seu corpo, ele deixou os dias passarem. Vita tinha todo o tempo que queria para olhar para o passado e refletir em sua vida.

O Deus-Homem, rindo, disse a Vita que todos os slimes além dele e algum outro, haviam sido mortos. “É sua culpa que os slimes morreram todos,” ele caçoou, e gargalhou. Vita não tinha qualquer apego à sua raça, mas estava envergonhado que sua própria idiotice provocou o extermínio de todos. Antes, ele nunca pensaria daquela forma, talvez isso fosse graças à natureza atenciosa do monstro que guardava o labirinto. O que quer que fosse, o fez refletir no que o Deus-Homem disse e decidiu passar o resto da eternidade dentro do labirinto.

Toda essa determinação durou até um novo chamado do Deus-Homem.

— Ei, desculpa por rir de você outro dia — disse ele. Vita não estava incomodado. Ao contrário, estava feliz em vê-lo. O Deus-Homem, que salvou sua vida duas vezes anteriormente.

— Na real, eu estou numa enrascada e estava esperando que você pudesse me dar uma mãozinha. — Vita hesitou a essa altura. O Deus-Homem decerto havia o ajudado, e agora estava pedindo pela sua ajuda. Ele sabia que ajudar era a coisa certa a se fazer, mas tinha medo de Raxos.

— Raxos já está morto. Você vai ficar bem — disse o Deus-Homem, e contou a ele sobre o quão humilhante e desonroso havia sido o fim do Deus da Morte. Vita não se importava sobre humilhação e desonra, mas saber da morte de Raxos foi reconfortante. Assim, decidiu ajudar o Deus-Homem.

O problema é que ele era o guardião do labirinto, então não poderia deixar a sala do chefe. E mesmo se o guardião, que ele hospedou durante todo esse tempo morresse, Vita não poderia ir a qualquer lugar por conta própria.

Ele explicou a situação ao Deus-Homem, que disse: “Não se preocupe. Chamei alguém para vir buscá-lo. Ele está cuidando desse plano por mim, então tenha certeza de escutá-lo, ok?”. Então desapareceu.

Pouco tempo depois, um demônio chamado Geese surgiu. Vita mal podia acreditar que ele conseguiu passar pelas entranhas do labirinto, mas quando viu que o demônio estava montado em um estranhamente familiar rei demônio, conformou-se. Vita colocou o guardião para dormir, então o obrigou a cuspi-lo e entrou em uma garrafa que Geese carregava consigo.

— Você é o Vita? Prazer em te conhecer — disse Geese. — Ops, será que dá para me escutar daí de dentro?

Geese explicou em linhas gerais o plano enquanto andavam. Eles iriam ao vilarejo dos Superd, conseguiriam completo controle sobre os moradores e esperariam por um homem chamado Rudeus, que sem dúvida tentaria curar a praga, então usariam isso para ganhar tempo. Quando Geese e seus aliados estivessem para invadir, Vita se transferiria para Rudeus e o incapacitaria. E era isso.

Porém, Geese adicionou um último ponto. Isso sobreveio do nada, quase como se Vita não estivesse ali. “Mas… Essa doença. Não sei, o velho Ruijerd salvou minha vida um tempo atrás. Voltando de batalha apenas para encontrar seu povo exterminado… Tudo isso é demais para aguentar.”

Vita lembrou-se dos slimes, todos mortos por sua causa. Embora não fosse apegado a eles, lembrou de como se sentiu arrependido por causar suas mortes. Ao refletir, decidiu que se pudesse garantir que o plano fosse bem-sucedido e ao mesmo tempo curar os Superd, ele faria isso.

Mal sabia Vita que a obsessão de Raxos significaria a sua morte.

 


 

Tradução: Banguela

Revisão: Merovíngio

 

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