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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 18 – Cap. 07 – Capital de Risco

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— Haah… Haah…

O jovem cavaleiro Lienhard, que mal tinha quinze anos, encontrou-se no topo da Torre Atoleiro. Suas mãos estavam firmemente apertadas em torno do punho de sua espada enquanto ele ofegava.

— Kehehe. Qual o problema, herói? Isso é tudo que você tem?

Diante dele estava uma figura sinistra com um manto cinza, usando uma máscara branca suspeita.

— Você realmente acha que será capaz de derrotar o maligno e todo-poderoso mágico Rud… err, ahem… Ruato Leiro com esses ataques insignificantes?

— D-Droga! — Ele ajustou o aperto na espada. Enquanto avançava, suas pernas pareciam chumbo, mas ainda conseguiu cortar o ar com sua arma.

A facilidade com que Ruato Leiro evitou o golpe fez parecer que estava zombando de Lienhard, e então ele empurrou a mão direita em direção ao jovem cavaleiro. Em um instante, uma onda de choque invisível ondulou pelo ar, jogando Lienhard para trás.

— Gaah?!

— Ah! Lienhard! — gritou uma linda garota acorrentada no canto do lugar. Ela usava um vestido de cor pêssego claro e, no topo da cabeça, descansava uma pequena coroa dourada. Esta garota era a princesa de Toile, um pequeno reino nos Territórios Nortenhos.

— Não tema, princesa! Vou derrotar esse demônio pervertido rapidamente, e então nós dois voltaremos para casa juntos! — Ao fazer esse discurso estimulante, Lienhard forçou seu corpo instável a se levantar, dando o melhor sorriso que podia para Gertrude.

— E-ei! — Ruato Leito interrompeu, perturbado. — Quem você está chamando de pervertido, hein?!

— Você, obviamente! Roubou a calcinha da princesa, e como se isso não fosse ruim o suficiente, a colocou na cabeça! Não sente vergonha?!

— Você compreendeu tudo errado! Entenda, eu trouxe isso de casa. Sinceramente, que rude!

Não importava a quem pertencia aquela calcinha. Lienhard era o único cavaleiro que restava; se ele perdesse, a Princesa Gertrude cairia nas mãos sujas de Ruato Leiro. Era apenas uma questão de tempo até que ele realmente colocasse a calcinha da princesa em sua cabeça.

— Graaaah!

— Isso é tudo que você tem?

Lienhard atacou o mago, mas Ruato Leiro se esquivou com uma velocidade impressionante, quase como um inseto, e fez Lienhard voar de volta com outra onda de choque. Ele ficou fazendo a mesma coisa durante toda a luta.

— Ah… — Lienhard gemeu. — Droga. Não posso… deixar você fazer o que quiser… com nossa princesa.

O corpo de Lienhard estava coberto de cortes e hematomas, mas o espírito de luta nunca o deixara. Estimulado por um forte senso de dever, ele atacou Ruato Leiro mais uma vez.

— Kehehe! Você com certeza é leal, não é? Mas pense nisso. Mesmo que a filha do rei tenha sido sequestrada, ele enviou apenas um punhado patético de pessoas para resgatá-la. Esse é realmente um homem digno de tamanha lealdade?

— Isso não tem nada a ver com ele ou com o país. Estou fazendo isso porque… porque eu… Eu amo a princesa! — gritou Lienhard a plenos pulmões, sua voz ecoando por toda a torre.

Dominada pela emoção, Gertrude pressionou as duas mãos sobre a boca, uma lágrima escorrendo pela bochecha.

— Raahh! — Lienhard rugiu mais uma vez.

— Kehehe! Que demonstração comovente de amor. Para o seu azar, o amor não é suficiente para superar a diferença de poder entre nós!

— Gaaaah! — Mais uma vez, Lienhard foi arremessado pelo ar. — D-droga… Não consigo nem chegar perto dele. O que eu deveria fazer…?!

— Kehehe! — Ruato Leiro gargalhou. — Não há como você me derrotar. Talvez se possuísse a minha maior fraqueza… uma estatueta de Superd e o livro de ilustrações que a acompanha, retratando as muitas conquistas do homem… mas sem isso, é impossível! Bwahahaha!

— Ah! — Lienhard respirou quando a compreensão o atingiu. A menção de uma estátua de Superd o iluminou. Na verdade, no meio do seu caminho até aqui, um cartomante suspeito fez alguma adivinhação exagerada sem sequer pedir sua permissão, e então lhe forçou a estatueta do demônio. O vidente jurou que a estátua acabaria sendo útil, mas ele nunca teria sonhado que fosse a chave para essa luta!

Lienhard saltou para pegar sua bolsa, que havia deixado na porta. Encontrou a estátua – retratava um guerreiro com cabelo verde-esmeralda e uma lança branca na mão. Junto com ele, tirou o livro ilustrado que Ruato Leiro havia mencionado.

— Não! Não me diga?! — Ruato Leiro ofegou.

— Isso mesmo. Os itens Superd que você tanto teme!

— Sim! O homem que foi apresentado como vilão pelo mundo inteiro, mas na verdade é incrivelmente gentil e ama profundamente as crianças… Um herói lendário que desempenhou um papel vital na derrota de Laplace… A estatueta de Ruijerd Superdia!

Honestamente, Lienhard não sabia nada sobre o que ele estava dizendo. Não tinha lido o livro ilustrado, mas os itens ao menos pareciam ser eficazes.

— Não, meu poder… está diminuindo! — Ruato Leiro gritou, cambaleando.

— Lienhard! — gritou a Princesa Gertrude para seu herói. — Agora, faça!

— Raaaahh! — Lienhard pegou sua espada mais uma vez e se lançou contra o mago maligno. Ruato Leiro ergueu a mão direita para tentar impedir o ataque, mas já era tarde demais. A lâmina enterrou profundamente, bem dentro de seu pei… espere, não, não. Houve um estrondo metálico quando ele resvalou em algo sob o robe.

Urgh! Isso ainda não é suficiente? Lienhard estava prestes a desistir, mas então…

— Gwaaaaaah! — Ruato Leiro soltou um grito estridente enquanto a luz vazava de seu corpo, arremessando-o diretamente em direção à sacada. Ele bateu na grade, soltou um grunhido patético e caiu da borda.

Esta torre tinha três andares de altura, mas isso não era suficiente para matar um mago como ele. Convencido disso, Lienhard foi até a sacada e espiou por cima da borda. Naquele instante, uma enorme explosão irrompeu de baixo. O vento da explosão acariciou as bochechas de Lienhard, bagunçando seu cabelo.

— Uau! — ele ofegou.

Quando a fumaça se dissipou, Lienhard avistou uma cratera de impacto ao redor da área onde Ruato Leiro provavelmente havia caído. As árvores ao redor foram todas derrubadas pela explosão.

Foi quando Lienhard percebeu o que devia ter acontecido. Embora Ruato Leiro tivesse uma armadura sob seu manto, também devia haver um núcleo central que havia danificado durante seu ataque. Isso fez com que a mana do mago saísse de controle, estourando-a como se fosse um balão.

O que importava era que ele tinha vencido. Lienhard foi o vencedor.

— Lienhard! — gritou a princesa.

— Princesa! Você está bem? — Ele correu em direção a ela, embalando-a em seus braços.

— Lienhard, oh, Lienhard! Eu sabia que você viria me salvar!

— Vossa Alteza… estou plenamente ciente de como é vergonhoso que eu tenha sentimentos românticos por alguém tão nobre como você, mas eu… eu só…

Ela balançou a cabeça.

— Não, isso não é verdade. Porque sabe, Lienhard, eu… eu também te amo.

— Princesa… sou tão indigno dessas palavras! Mas venha, vamos nos apressar e voltar para o castelo!

— Claro!

E com isso, o grande e maligno mago Ruato Leiro encontrou seu fim sombrio. Lienhard foi recebido de volta ao seu país natal e aclamado como um herói, ganhando um alto posto entre a nobreza. O rei até permitiu seu relacionamento com a princesa. Os dois eventualmente se casariam e viveriam felizes para sempre.

Fim.

Rudeus

— Cara, isso foi cansativo.

Minha tarefa desta vez era garantir que o jovem cavaleiro Lienhard ficasse com Gertrude, a princesa de um pequeno país. Um de seus netos aparentemente seria útil para Orsted. Normalmente, seu relacionamento não seria permitido em virtude da diferença em seu status, apesar de seu amor ser mútuo. O rei sabia de suas afeições recíprocas e tentou encorajar os dois, mas a posição social o impediu de organizar uma união entre eles abertamente. Em vez disso, o rei esperava que Lienhard pudesse se destacar em uma batalha, para que ele pudesse usar seu valor como desculpa para selar o acordo. A questão era que Lienhard era um covarde de coração, então normalmente desperdiçava todas as oportunidades que surgiam.

Deixado sem outra escolha, e desesperado para que o garoto fizesse algum tipo de nome para si mesmo, o rei decidiu colocá-lo na linha de frente durante uma guerra com um país vizinho. Lienhard (sem surpresa) pereceria em batalha. A Princesa Gertrude seria então forçada a um casamento político como nada mais do que um peão para negociar a paz.

Esses eventos seriam, em anos posteriores, transformados em uma canção que relatava o rei zangado que enviou um jovem cavaleiro sem vergonha apaixonado pela princesa para as linhas de frente da batalha, onde inevitavelmente perdeu a vida. Como dizem, nenhuma criança sabe o quanto realmente é querida por seus pais.

De qualquer forma, meu trabalho era subverter o destino que os esperava e fazer com que Lienhard e Gertrude realmente acabassem juntos. Comecei entrando em contato com o rei do país. Propus um plano para sequestrar a princesa e mantê-la refém em uma torre cercada por uma floresta nos arredores do reino. Então, o rei só teria que enviar Lienhard para salvá-la. O rei estava cético no início, mas consegui convencê-lo invocando o nome de Ariel. E, assim, disfarçado como o mago maligno das trevas, Ruato Leiro, sequestrei a princesa.

Aliás, a torre na qual a prendi na verdade foi feita à mão. Foi algo que fiz rapidamente e que certamente desmoronaria caso ocorresse um terremoto, mas era firme o suficiente para servir ao propósito desejado.

Antes de Lienhard partir para a torre, me disfarcei de vidente e dei uma dica sobre como vencer Ruato Leiro. Este foi um tipo de acordo que consegui “matar dois coelhos de uma cajadada só”, já que aproveitei a oportunidade para distribuir minha estatueta e livro do Superd enquanto estava nisso. Então corri de volta para a torre antes que ele chegasse. Tudo o que restava era esperar que ele se intrometesse descaradamente e me envolvesse em batalha. Depois de uma longa e cansativa batalha, eu o deixaria me derrotar.

Era muito mais fácil falar do que fazer. Cuidar de tudo sozinho foi, na verdade, um trabalho árduo e ingrato – desde negociações e preparativos até a execução do plano propriamente dito. Parando para pensar, talvez não precisasse ser tão grandioso, mas ei! As coisas acabaram dando certo no final.

— Tô todo cagado.

Exaustão à parte, minha missão foi bem-sucedida. Comecei a me arrastar de volta para casa, onde o louvor e a gratidão de Orsted certamente me esperariam. O retorno para Sharia levaria cerca de um mês.

Talvez fosse melhor que Sylphie me ajudasse a aliviar a fadiga. Ver um casal tão jovem e revigorado me deixou desesperado para ver a expressão envergonhada de Sylphie novamente. Eu queria desfrutar de uma noite apaixonada, sabe? Libertar a besta carnal interna e…

Bem, a verdade é que Sylphie tinha ficado meio que acostumada com as minhas travessuras, então não agia mais tão envergonhada. A última vez que a espiei enquanto estava se trocando, ela apenas disse: “Ei, Rudy, poderia me passar aquelas calças ali?” Aparentemente, eu precisava aumentar a aposta para fazê-la corar. Mas mesmo que eu fizesse um pedido pervertido, ela poderia apenas responder casualmente: “Oh, Rudy, seu pervertido.”

Independentemente disso, voltei para casa, onde as coisas continuavam como eu me lembrava. Ente abriu a porta e Lucie fugiu de mim. Parei para acariciar a barriga de Eris, apalpei a bunda de Sylphie, dei um tapinha na cabeça de Lara e lambi a orelha de Sylphie. Então Leo lambeu minha mão, e Lucie correu de mim novamente…

Estar cercado por uma família como esta dava tanto alívio. Quando eu morava no Japão, meu pai voltava de viagens de negócios parecendo acabado, mas de alguma forma em paz. Talvez fosse assim que ele se sentia.

Como Norn deveria voltar para casa neste dia, pensei em descansar no sofá da sala e relaxar enquanto esperava por ela e Roxy. Quando afundei nas almofadas, uma ideia me atingiu.

— Huh? Não vejo a Aisha em lugar nenhum. Ela saiu para fazer compras?

No momento em que perguntei, a expressão de Lilia mudou, os olhos se estreitaram e os lábios franziram. Sylphie também fez uma careta, parecendo perturbada. Eris, no entanto, parecia a mesma de sempre. Um humor desconfortável pairava no ar. Ah, cara, qual será a razão para isso? Imaginei.

— Sabe — Lilia começou, parecendo apologética —, Aisha tem saído muito de casa ultimamente…

Saindo de casa… Ah, claro. Quase esqueci. Pedi para ela fazer um trabalho para mim, não pedi?

— Quer dizer que ela está fazendo o trabalho que pedi, certo? — questionei.

— Não tenho tanta certeza disso. Ela está cada vez mais se associando a alguns sujeitos terríveis e questionáveis. Não vejo como isso pode ser totalmente relacionado ao trabalho.

Sujeitos questionáveis, hein? A primeira imagem que me veio à cabeça foi de um bando de caras com cabelos moicanos e ombreiras. O tipo que dirige motos que gastam muito combustível, apesar dos problemas ambientais, o tempo todo gargalhando, “Gyahaha!” Quem quer que fossem, eu só podia supor que eram pessoas que Linia recrutou.

— Hum, sabe, Rudy — disse Sylphie —, ultimamente tem aparecido uma gente estranha na cidade. Se vestem de preto, e parece que Aisha tem estado muito com eles.

Fazia apenas um mês desde que confiei esse trabalho a Aisha e Linia. Era difícil para mim acreditar que tinham conseguido atrair pessoal suficiente para que pudesse identificá-los regularmente nas ruas.

Se vestindo de preto, hein? Hm… Aisha já tinha quatorze anos. Ela estava passando pela puberdade, o que significava que estava naquela fase rebelde e descontrolada. Adolescentes da sua idade costumavam atacar a família e agir como se fossem donos do próprio nariz. Talvez tenha sido porque a forcei a interagir mais com o mundo exterior que acabou se envolvendo com gente ruim assim.

— Minhas mais profundas desculpas, Lorde Rudeus — disse Lilia. — Nunca sonhei que Aisha faria algo assim. Ela estará em casa mais tarde esta noite, e vou ter certeza de repreendê-la por isso.

Enquanto pensava nisso, Sylphie deixou algo estranho escapar.

— Sabe, Aisha disse que tinha sua permissão para fazer tudo isso.

Eu a encarei. Aisha disse que tinha minha permissão? De repente, a pior cena possível apareceu em minha mente. Imaginei os recrutas de Linia reunidos em um armazém, sorrisos vulgares em seus rostos enquanto lambiam os lábios. Em quem esses bandidos nojentos estavam fixando os olhares? Ninguém menos que as lindas Linia e Aisha. Trancafiadas naquele pequeno armazém, os bandidos sem dúvida cercariam as garotas e… bem, eu só podia imaginar.

Claro, Linia era uma lutadora bastante decente, mas apenas contra adversários medianos. Ela podia acabar sobrecarregada em um cenário em que estivessem em menor número. Quanto a Aisha, sempre pensei nela como uma criança, mas seu corpo tinha começado a se desenvolver rapidamente. Seu peito seria do mesmo tamanho que o de sua mãe em pouco tempo. Além disso, mesmo sendo seu irmão, eu tinha que admitir que ela era bonita. Seu rosto era tão charmoso quanto o de Paul, reforçado pelos caninos que apareciam quando ela sorria.

Merda. Realmente estraguei tudo. Linia e Aisha eram ambas lindas, mas fui imprudente o suficiente para pedir-lhes que reunissem um grupo de pessoas sombrias. Basicamente joguei carne fresca em um oceano cheio de tubarões! Mas, só para esclarecer, não pedi especificamente que reunissem um bando de bandidos!

— Eris… Eris, você não a impediu? — perguntei, sentindo um nó na garganta.

— … Hã? Do quê? — Eris inclinou a cabeça.

Ah, certo. Ela talvez não tenha nenhum interesse em Aisha.

— Aqueles caras são tudo peixe pequeno.

Ou não. Estávamos falando da Eris. Para ela, não havia diferença real entre um gatinho e um leão. Mesmo que esses caras fossem suspeitos o suficiente para preocupar Lilia e Sylphie, eram pouco mais do que delinquentes quaisquer no que diz respeito a Eris.

Não, eu não devia acreditar cegamente nela. Ela está grávida. Além disso, fui eu quem começou tudo isso. Preciso ser aquele a lidar com as coisas.

— Certo — falei depois de pensar um pouco. — Vou tomar conta disso.

Eu não tinha intenção de ditar com quem Aisha poderia ou não sair. Às vezes, as pessoas que a sociedade considerava desagradáveis não eram tão ruins quando se falava com elas. Mas ainda havia limites. Aisha ainda não era adulta. Se esses caras estivessem tentando usá-la com pouca consideração pelas consequências, então eu, seu irmão mais velho, assumiria o fardo de intervir para salvá-la. Paul sem dúvidas faria o mesmo.

 Na verdade, Paul provavelmente seria classificado como um sujeito sombrio.

— Você sabe onde é o ponto de encontro deles? — questionei.

— Posso te levar até lá — disse Eris, sem perder tempo. Mas ela estava grávida. Devo deixá-la vir comigo? Ela provavelmente tentaria se jogar na luta se as coisas tomassem um rumo violento. Eu não podia arriscar.

— Também vou — disse Sylphie.

Por mais que eu apreciasse isso, balancei a cabeça.

— Não. Vou sozinho.

Eu estava imaginando o pior cenário em minha mente, mas quem sabia se algo realmente estava acontecendo? Com isso como justificativa, saí para ver esse ponto de encontro que Aisha vinha frequentando. Mal tive tempo de respirar desde que cheguei em casa da minha última tarefa, mas não adiantava reclamar disso.

 

Separador Tsun

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Sylphie me informou sobre a localização: o terceiro quarteirão do distrito dos aventureiros. O edifício de dois andares, construído de tijolos resistentes à magia, ficava longe da rua principal. Uma morada impressionante que se parecia um pouco com uma Guilda de Aventureiros ou um pub. A porta parecia muito nova para ser a original e foi pintada de um preto escuro com o emblema de um tigre feroz no meio.

Enquanto me movia em direção à porta, um grupo de homens saiu, totalmente vestidos de preto. Usavam casacos idênticos com aquele emblema de tigre estampado nas costas. Por razões que eu só podia imaginar, estavam todos carregando enxadas e foices.

— Certo caras, simbora! Whoo!

— Yeaaaah!

Eles se animaram enquanto passavam por mim, indo para a estrada principal.

Isso foi perturbador. Eram como um bando de fãs de esportes enlouquecidos saindo para torcer em um jogo de beisebol. Sem dúvida, estavam convencidos de que os tigres eram mais poderosos do que qualquer leão e estavam indo brigar com alguns leões como prática de combate. Isso é simplesmente aterrorizante. Eu vou ficar bem?

Graças ao treinamento de Orsted, fiquei ainda mais forte. Até parei no escritório para equipar minha armadura mágica para essa ocasião, só por precaução. Eu ficaria bem, com certeza. De jeito nenhum ia perder para um par de bandidos de baixo escalão. E, de qualquer forma, eu não podia recuar simplesmente porque eram assustadores. Minha adorável irmãzinha Aisha estava com esses valentões. Não importa o quão inteligente fosse, ela seria impotente em uma luta. Pelo menos a deixavam ir para casa à noite, mas não havia como saber o que estavam fazendo com ela durante o dia. Eu tinha que salvá-la, não importa quantos inimigos viessem até mim.

Isso tudo daria certo. Eu já sabia que táticas deveria usar quando confrontado com números esmagadores. Acerte três socos, depois gire por um segundo e jogue um punho no ar, e vire-se e dê mais três socos. Assim como no Final Fight – interrompendo o combo para que possa iniciá-lo desde o início e nocautear seu oponente. Isso seria o suficiente para acabar com eles.

— S-sinto muito pela intrusão… — Abri a porta e dei um passo para dentro.

Algo semelhante a um saguão se apresentou diante de mim: um amplo espaço pontilhado de barris de forma intervalada. Por que barris? Porque estavam servindo como mesas improvisadas. Havia várias pessoas sentadas ao redor delas com garrafas de bebida na mão, alegremente bebendo. Exatamente como um bar. Uma coisa se destacava, entretanto: cada pessoa presente usava o mesmo casaco preto com o tigre estampado nas costas.

Ah, droga. Agora estou tremendo de medo.

— Você tem algum negócio aqui? — Um deles, um homem-fera com o rosto de um leão, me notou e se aproximou. Ele era mais alto do que eu, e mais volumoso. Seu casaco mal cobria o que deveria ser uma musculatura impressionante. Para o azar dele, músculos não tinham relação com a capacidade de luta. Nem Orsted nem Ruijerd pareciam bombados enormes, mas ainda assim eram ridiculamente poderosos.

— Hm, bem, sabe… — murmurei. — Minha irmã. Vim vê-la. Poderia me dizer se ela está aqui?

Ser bem-educado era importante. Mesmo que o meu poder superasse completamente o desse cara, ainda havia um protocolo a ser seguido. Parte do segredo do meu sucesso neste mundo foi ser educado com todos que vi pela primeira vez. Definitivamente não era porque eu estava intimidado. Não senhor.

— Sua irmã, hein? — Desconfiado, o homem me examinou por um momento antes de conferir o saguão.

Assim que me acalmei um pouco e pude olhar ao redor, notei que havia um grande número de mulheres, mesmo entre aquelas vestidas de preto. Não pareciam necessariamente sombrias, mas todas pareciam guerreiras com algum passado. No máximo, viveram vidas muito mais difíceis do que os alunos da Universidade de Magia. Acho que isso as tornava um pouco sombrias. Mesmo assim, Aisha não estava ali.

— Com licença por um segundo — disse o homem enquanto se inclinava para mim.

O quê? Quer um pedaço meu, hein? Quem você pensa que é? S-só para você saber, sou um bom amigo do Orsted! Fiquei tenso, pronto para quando as coisas ficassem feias, mas o cara só cheirou o ar ao meu redor. Aparentemente estava verificando meu cheiro. Isso é meio embaraçoso. Inclinei a cabeça, confuso.

No meio do caminho, sua testa franziu. Ele congelou e estudou meu rosto por um momento, depois recuou alguns passos.

Merda. Eu realmente estou fedendo tanto assim? Mal cheguei em casa, então não tive a oportunidade de tomar um banho.

— Desculpe, mas uh, você é… o irmão da Senhorita Aisha? — perguntou ele. Aparentemente, foi capaz de descobrir isso pelo fedor de suor do meu corpo sujo.

— Hm, sim, isso mesmo. Meu nome é Rudeus Greyrat. A minha… quero dizer, Aisha está presente?

É claro. Se apresentar era importante. O primeiro passo da comunicação adequada era dar seu nome e deixar a outra pessoa saber a quem você estava afiliado. Eu era bastante famoso pela cidade, então me apresentar era uma boa maneira de desencorajar as pessoas de fazer qualquer coisa desagradável.

O barulho de repente irrompeu ao meu redor. No momento em que falei meu nome, a atmosfera local mudou. Todas as pessoas nas proximidades que ouviram minha voz de repente começaram a olhar para mim.

— Greyrat, ele disse.

— Então aquele cara ali é…

— Eu sabia que eventualmente o veria por mim mesmo um dia, mas pensar que hoje seria aquele dia…

Eu me senti muito, muito deslocado. Isso não pode ser bom. Havia algo de familiar nisso. Conforme lembrava, Eris já havia enlouquecido no passado, e tive que me desculpar com o grupo espancado por ela – um grupo como este. Essa atmosfera parecia a mesma.

Será que ela tinha agredido esses caras? Espera, isso seria estranho. Nesse caso, por que Aisha não voltou para nós? Talvez tivesse convencido Eris a se acalmar? Certo, mas calma aí. Isso significaria que ela está aqui por vontade própria, não? Impossível. Esses caras deviam estar a ameaçando.

Ugh. Talvez eu não devesse ter dado meu nome verdadeiro. Teria sido melhor ter falado meu pseudônimo, Ruato Leiro. Mas era tarde demais para arrependimentos.

— … quer dizer que você é o presidente!

— Ele é o nosso presidente!

— Presidente Rudeus!

Por alguma razão, todas as pessoas na sala começaram a se curvar. Não foi nenhuma curvatura habitual; todos ficaram em posição de sentido e se curvaram em quarenta e cinco graus, assim como solicitado na etiqueta japonesa. O que tornava tudo mais estranho foi que todos fizeram isso juntos.

— Uh? — Pisquei lentamente. Que diabos tá acontecendo aqui?

O homem na minha frente se curvou o suficiente para que eu visse o topo de sua cabeça.

— Minhas mais profundas desculpas por não reconhecê-lo de imediato, presidente — disse ele.

— Oi? — murmurei.

— A conselheira está por aqui. Irei te guiar até lá.

— Conselheira? Uh, então tá. — Eu estava tendo problemas para acompanhar o curso dessa conversa.

O homem endireitou os ombros, o rabo totalmente ereto enquanto me levava mais ao fundo do prédio. Posso não ter entendido o que ele disse, mas se estava disposto a me mostrar o caminho, o mínimo que eu poderia fazer era segui-lo. Subimos para o próximo andar, onde ele me levou para um dos cômodos mais internos e disse:

— Por ali.

Estava bem escuro lá dentro, e um retrato de um homem misterioso, mas bonito, estava pendurado na parede, dando uma vibração estranha ao lugar. Foi neste cômodo que as encontrei – as pessoas mais sombrias de toda a cidade. Usavam os mesmos casacos pretos do grupo que vi no primeiro andar, e apesar de ser quase verão, ostentavam o que se assemelhava a cachecóis brancos em seus pescoços. Embora o cômodo estivesse completamente fechado e mal iluminado, usavam óculos escuros. As duas estavam sentadas uma de frente para a outra, sorrindo diabolicamente enquanto contavam moedas de ouro.

— Mewhahaha! Comprar esses óculos de sol foi uma boa decisão mesmo. Ou o brilho dessas moedas de ouro poderia me cegar, miau!

Uma das duas gargalhou, um sorriso desagradável em seu rosto. Talvez fosse a falta de iluminação no local, mas seus dentes também pareciam brilhar como ouro. Os óculos escuros deixavam seu rosto impossível de se distinguir, mas eu não precisava ver para saber que o dinheiro havia subido à sua cabeça. Seus olhos provavelmente estavam em formato de cifrões. No que me dizia respeito, ela já estava cega.

— Ah, quase esqueci. Aqui estão as taxas deste mês, miau.

— Muito bom. — A jovem ao lado dela, também de óculos, assentiu. Ela se endireitou na cadeira, arrogantemente inclinando-se para trás, como se fosse a chefe de algum grande empreendimento. Ela manteve o queixo erguido enquanto a outra mulher cutucava a pilha de moedas de ouro. Devia haver pelo menos dez delas.

Pelo que pude perceber, não eram moedas de ouro Asuranas, mas do tipo usado no Reino de Ranoa.

A garota mais jovem contava o dinheiro que recebera de qualquer forma e o jogava em um saco de moedas vazio próximo. Ela anotou rapidamente a quantia entregue e assinou seu nome antes de passar o recibo para a mulher com orelhas de gato.

— Aqui, pagamento recebido — disse ela.

— Sim, miau!

— E? — A garota mais jovem sacudiu o queixo para a mulher com orelhas de gato, pedindo-lhe mais.

— Mewhahaha! E esta é a taxa de consultoria, miau. — A mulher de orelhas de gato passou por cima de uma das muitas mini-torres de moedas de ouro. Havia provavelmente cerca de cinco ou seis moedas por pilha. — Com isso, espero que você continue trabalhando comigo, me-oi, sim?

 

 

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— Ora, claro. Pretendo continuar trabalhando com você por muuuito tempo.

— Mewhahaha! — riu a mulher com orelhas de gato. — Você é mesmo completamente podre, não é?

Os lábios da garota mais jovem revelaram um sorriso tortuoso quando ela respondeu:

— Hehehe, não tão podre quanto você, Linia. — Ela despejou o dinheiro em um saco de moedas diferente antes de depositá-lo na frente do vestido, bem no vale entre os seios. — Oh!

Finalmente, notaram o jovem homem-fera e eu parados na entrada.

— O Presidente Rudeus está aqui para ver vocês, a Chefe Linia e a Conselheira Aisha.

Sim, de fato. As duas sujeitas de óculos escuros na minha frente eram, na verdade, Linia e Aisha.

As garotas me deram as boas-vindas e acenaram para que eu me sentasse, então me sentei em um sofá enquanto se sentavam na minha frente.

— O que é isso? O que está acontecendo?

Decidi que seria melhor primeiro ter uma ideia da situação, para só então falar sobre qualquer outra coisa. Afinal, ordenei que as duas reunissem um grupo de pessoas. Porém, não falei nada sobre alugar este edifício ou mandar todo mundo se vestir de preto. Também havia muito mais gente do que eu imaginava.

— Bem, sabe, Irmãozão… Fizemos o que você mandou. Reunimos pessoas e fizemos alguns negócios com elas — disse Aisha.

Assenti com a cabeça.

— Uhum. Quero detalhes.

Aisha me contou tudo. Depois que saí em minha missão, as duas começaram a recrutar pessoas na mesma hora. Se concentraram principalmente em estudantes que ainda estavam na universidade, graduados e pessoas da Guilda dos Aventureiros. Antes que percebessem, tinham trinta membros. Isso mesmo, trinta do nada. Com tantas pessoas, o pequeno armazém que comprei para servir como escritório ficou muito apertado. Aisha rapidamente o vendeu, então usou suas próprias conexões pessoais para solicitar patrocinadores para alugar este prédio. Quanto ao retrato do homem bonito na parede, na verdade era eu; Zanoba o havia pintado à minha semelhança. No entanto, ele glorificou tanto minha aparência que nem ficou parecendo comigo.

— Como você pode imaginar, não havia solidariedade entre nossos membros, desde que juntamos a equipe por aí… sem mencionar que nem tínhamos uma ideia concreta de como iríamos operar — disse Aisha.

Como não demorou nada para atrair as pessoas, tiveram muito tempo para esperar até que eu voltasse da minha missão. Se não decidissem a direção que queriam seguir com a empresa, perderiam pessoas. Por isso, Aisha visitou a Fortaleza Flutuante para consultar Nanahoshi. Ela pegou a flauta do meu quarto, a que Perugius me deu no caso de eu precisar dele, e convocou Arumanfi para levá-la lá. Então prestou seus respeitos a Perugius antes de ver Nanahoshi e receber alguma orientação.

A encarei por um momento, sem palavras.

— Hein? Você conheceu Lorde Perugius?

— Sim. Ele era um cara muito legal.

Isso com certeza foi um movimento ousado, e sem dúvida perigoso, para fazer sem dizer uma palavra para mim. Perugius poderia ter acabado com a vida dela em segundos se o tivesse irritado. Mas… não. Ele era bastante magnânimo, afinal, e muito equilibrado para sair do controle ao lidar com alguém tão jovem quanto Aisha. Além disso, se ela comentasse inocentemente sobre o quão “legal” Perugius era, Sylvaril provavelmente lhe daria um tratamento favorável.

— E assim, sabe… — Aisha continuou.

As sugestões de Nanahoshi eram uniformes e boas maneiras. Ao fazer com que todos usassem as mesmas roupas, aumentava o senso de solidariedade para que não abandonassem o barco tão facilmente, mesmo que não tivessem uma direção clara. Além disso, ensinar-lhes costumes militares e cortesias aumentaria a confiança dos clientes.

Aisha aceitou o conselho de Nanahoshi e comprou algumas roupas baratas e estocadas de uma das lojas de roupas de seus conhecidos. Por isso todos estavam com casacos pretos sombrios. Até Aisha percebeu que roupas completamente pretas formariam um visual ruim, então comprou um tecido amarelo na mesma loja, usando seu próprio dinheiro, e, depois, costurou emblemas de rato em cada um dos casacos.

Sim, emblemas de ratos. Ela se inspirou no nosso nome, Greyrat. Como era amarelo no preto, tive certeza de que eram tigres.

Ufa, foi por pouco. Ainda bem que não contei como achei os emblemas de tigre legais.

Uma vez que todos estavam com as mesmas roupas, Aisha começou a ensiná-los maneiras adequadas, tipo como se curvar adequadamente. A curvatura perfeita de quarenta e cinco graus que chamamos de “ojigi” em japonês. Era fácil o suficiente para qualquer um fazer, e as pessoas entenderiam à primeira vista que a pessoa estava tentando ser respeitosa.

De qualquer forma, foi assim que tudo se juntou; uma organização de pessoas vestidas de preto que inclinavam a cabeça para baixo.

Com isso fora do caminho, Aisha começou a considerar o que poderiam fazer com os novos funcionários. A maioria deles eram pessoas-fera que Linia havia recrutado. E, sendo sincero, não tinham nenhum talento além de lutar. Estamos falando de atletas viciados em supino, que não sabiam nem ler números, muito menos letras. Havia algumas mentes brilhantes entre eles, mas para cada pessoa inteligente havia pelo menos mais cinco que eram idiotas.

A única ideia que me veio à mente para um grupo desses era o trabalho mercenário, então foi isso que as garotas decidiram fazer. Isso também as ajudou a escolher um nome, que derivou do pseudônimo que eu frequentemente usava: Bando Mercenário Ruato.

Mas ainda havia uma questão. Sharia estava bem no meio das Três Nações Mágicas, que eram lugares relativamente pacíficos. Não havia guerras em andamento, e levaria muito tempo para enviar pessoas para lugares que estavam envolvidos em conflitos. Então Aisha teve a ideia de um empreendimento de guarda-costas. Por um preço fixo, uma pessoa poderia contratar vários de nossos mercenários por um período de tempo. Uma pessoa seria nomeada líder do grupo e daria as ordens durante um trabalho. Se alguém morresse ou se ferisse no processo, a empresa enviaria um substituto na mesma hora.

Em outras palavras, estavam alugando guarda-costas. Definitivamente não era uma gangue criminosa. Com certeza não.

— E uma vez que abrimos o negócio, imediatamente alcançamos a fama.

Com a princesa da Tribo Doldia atuando como líder da empresa, ela conseguiu ganhar uma quantidade peculiar de confiança do povo. Além disso, a publicidade de Aisha e as conexões pessoais dos membros rapidamente tornaram o grupo popular. Dentro de catorze a quinze dias da fundação do bando, já estavam recebendo solicitações de figurões como a Ordem dos Cavaleiros do Reino Ranoa, a Guilda dos Magos e a Oficina de Implementos Mágicos. Enquanto isso, o número de membros aumentava, e era por isso que atualmente tinham cerca de cinquenta pessoas na cidade.

Sharia tinha todos os tipos de pessoas: cavaleiros, estudantes, ferreiros e artesãos de oficinas, e assim por diante. Facções naturalmente se formaram dentro dessa diversidade, o que resultou em uma série de brigas e contendas. Isso criou a necessidade de uma indústria de nicho; um grupo neutro que poderia proteger qualquer um.

Se não tomássemos cuidado, o grupo mercenário poderia se tornar uma nova facção, mas foi por isso que Aisha achou melhor aceitar pedidos de qualquer pessoa, sem discriminação, a fim de manter essa neutralidade.

— Temos reservado parte do que ganhamos como taxas da empresa, mas mesmo assim ainda arrecadamos muito mais do que jamais imaginei — disse Aisha.

— Isso aí, miau. Todos nos pagam muito mais em taxas do que pensávamos. São todos pessoas honestas, miau.

Então criaram uma organização de guarda-costas ligeiramente diferente da Guilda dos Aventureiros. Também obtiveram um lucro bastante decente no processo, dando um bom começo ao nosso negócio. Claro, o valor total da receita não era grande; ainda levaria muito, muito tempo até que Linia pudesse pagar tudo o que devia. Mas, mesmo assim, se expandíssemos nossos negócios ou mudássemos nossos serviços depois de encher nossos cofres, ela poderia ser capaz de pagar rapidamente. Na verdade, eu não me importaria em descontar o resto da dívida quando devolvesse ao menos metade. Eu não estava atrás de dinheiro, de qualquer forma.

Apertei os lábios.

Honestamente, isso era completamente diferente do que eu havia imaginado na minha cabeça. Não, talvez isso não importasse. Se as coisas estavam indo bem, então era bom o suficiente. Nunca imaginei que as coisas iriam dar tão certo. Suspeitei que o toque habilidoso de Aisha fosse responsável pelo sucesso deste empreendimento. Ela era um gênio, e se não tivesse levado isso a sério, teria levado muito mais tempo para o negócio começar. Nunca pensei que ela seria tão dedicada.

— Eu não sabia que você amava tanto o dinheiro, Aisha — falei com um suspiro.

— Ei, não é nada disso. — Os lábios de Aisha se franziram em um beicinho, como se ela estivesse ofendida com a ideia. — A única coisa que eu amo muito é você, Irmãozão. Você disse que isso seria para meu benefício, então dei cento e dez por cento de mim.

— Aisha…

Seus olhos brilharam quando ela olhou para mim. Nossa, ela é tão fofa. Se não fosse minha irmã, eu ficaria tentado.

— Além disso, seria problemático se essa gata voltasse para casa — acrescentou Aisha.

Ah, esse é provavelmente o verdadeiro motivo. Pensei que pareciam estar se dando tão bem, mas acho que me enganei, né? Nah, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.

— Bem, seja lá qual for o caso, você fez um bom trabalho — falei, afagando a sua cabeça.

Aisha começou a sorrir.

— Ehehe, obrigada!

Circunstâncias à parte, pelo menos encontramos uma maneira de Linia começar a pagar sua dívida. Também devia haver algum talento promissor no escritório, considerando quantas pessoas haviam reunido. Alguém com certeza teria talento para o comércio. Talvez eu pudesse encontrar alguém para trabalhar na companhia Orsted, bem como alguém para ser balconista da nossa loja, para ajudar a vender as estatuetas de Ruijerd.

Acho que não deveria me surpreender por terem chegado tão longe em apenas um mês, essa era a Aisha que eu conhecia. Eu poderia ter subestimado o quão capaz ela era.

— Ainda assim, a Senhorita Lilia está preocupada, então vamos sentar e conversar um pouco em casa — sugeri.

— O quêê? — Aisha franziu a testa. — Mas a Mamãe é tão cabeça dura. Ela não vai entender, mesmo que eu explique, e eu quero continuar nesse tipo de trabalho por algum tempo.

— Vai ficar tudo bem. Vou explicar a ela que pedi para você fazer isso.

Me sentiria mal forçando-a a continuar se não quisesse, mas, estranhamente, Aisha estava animada para continuar. Eu a deixaria, se fosse isso que ela quisesse. Além do mais, ver o quanto ela havia conquistado me fez sentir como se fosse um desperdício simplesmente mantê-la como criada em casa.

— Tudo bem — disse ela. — Confio em você, Irmãozão. Sabe, ela fica muito mais mole quando você está envolvido. Então, certifique-se de explicar tudo corretamente, okay?

E com isso, eu tinha meus próprios subordinados sob o nome da empresa Bando Mercenário Ruato. Nunca tive gente trabalhando assim para mim. Eu poderia usá-los para todos os tipos de coisas no futuro. Tantas possibilidades se abriram diante de mim.

— Ah é, Chefe!

Perdido em meus pensamentos, eu estava prestes a levar Aisha para casa quando Linia chamou.

— O que foi? — questionei.

— Recebi uma carta recentemente da Grande Floresta, miau.

Huh. Da Grande Floresta? Escrita por Pursena, presumi.

Linia me entregou. Percebi que estava endereçada a ela, e ela já havia aberto e lido o conteúdo. Não havia nome para indicar quem havia enviado, o que me fez pensar como ela sabia que vinha da Grande Floresta. Talvez o cheiro? Sem perder tempo, puxei a carta do envelope e olhei o conteúdo.

Minha garganta trancou.

O escritor não perdeu tempo com saudações sazonais ou qualquer coisa do tipo. A mensagem era simples e curta, escrita na Língua Bestial: Grande problema! A Besta Sagrada desapareceu! Invocando busca e resgate de emergência!

— Mas a Besta Sagrada disse para deixar para lá e não se preocupar com isso, então provavelmente não é grande coisa, miau. — Linia entrelaçou os dedos atrás da cabeça e riu.

Silenciosamente, resolvi visitar a Grande Floresta. Provavelmente seria uma boa ideia levar um presente, como pedido de desculpas.

Bando Mercenário Ruato

PRESIDENTE: Rudeus Greyrat

CEO EM EXERCÍCIO: Linia Dedoldia

CONSELHEIRA E VICE-CHEFE: Aisha Greyrat

NÚMERO DE EMPREGADOS: Aproximadamente cinquenta

MARCA: Parte da Corporação Orsted

CONSULTORA: Setestrelas Silente

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: Guilherme

QC: Delongas

 

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