Dark?

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 14 – Cap. 10 – Ponto de Virada (Parte 4)

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Os dias passaram voando.  Assim que Sylphie se recuperou o suficiente, voltamos para Sharia. O sol estava se pondo quando chegamos em casa. Me senti estranhamente nostálgico, de pé na frente de nossa propriedade, embora apenas alguns dias se passaram desde a última vez que estive aqui.

— Estamos em casa!

— Sim, sim. Bem-vindos de volta… ei, espera, Irmãozão?

No momento em que entramos pela porta da frente, Aisha entrou correndo na sala. Parecia totalmente pasma, o que não era surpreendente depois do discurso que fiz sobre a possibilidade de ficar longe de casa por um longo tempo.

— Já voltou? Você salvou a Senhorita Nanahoshi? Ou… era impossível? — perguntou Aisha ansiosamente.

Estendi a mão e baguncei seu cabelo.

— Whoa, ei! — Aisha arquejou, parecendo uma atriz ruim lendo a linha de um roteiro. Ela não parecia nem um pouco chateada com a minha demonstração de afeto. — O que foi isso de repente?

— Nada. Nanahoshi já está bem. Explicarei em um minuto. Roxy já está em casa?  E quanto a Norn?

— Norn ainda está na escola. Senhorita Roxy está em seu quarto, acredito. Quanto à minha mã… — Ela fez uma pausa e se corrigiu. — Mamãe, a Senhorita Lilia, quero dizer, está lavando a roupa. A Mãe, Senhorita Zenith, está descansando.

— Tudo bem, então Norn ainda está na escola. Desculpe te dar mais trabalho, mas poderia buscar a Roxy?

— Sim, sim, capitão!

Poucos minutos depois, Roxy desceu as escadas. Ela devia ter cochilado em sua mesa, já que seu cabelo estava todo bagunçado e desgrenhado, e havia uma marca vermelha em sua bochecha.

— Bem-vindo de volta, Rudy. Como foi?

— Estou prestes a explicar isso. Mas antes disso… — Deslizei minhas mãos sob seus braços e a levantei, envolvendo-a firmemente em meu abraço. Prometemos que faríamos isso quando eu voltasse para casa.

— Uau! Hm… — Embora inicialmente pega desprevenida, Roxy cautelosamente colocou os braços em volta de mim e retribuiu o abraço. — Bem-vindo de volta.

— Estou feliz por estar de volta.

 Depois de uma aventura tempestuosa, estava finalmente em casa.

 

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— E foi isso que aconteceu.

Contei tudo a elas; foi muita coisa. Não entrei em detalhes, mas incluí tudo o que era pertinente. Dediquei um tempo especial para transmitir tudo o que aprendi em relação à maldição de Zenith. Teríamos de ficar de olho nela.

— Vou continuar na fortaleza flutuante por enquanto, mas voltarei para casa pelo menos uma vez a cada três dias — falei.

Ariel e Sylphie também ficariam na fortaleza até que seus esforços dessem frutos.  Sylphie também pretendia voltar para casa a cada poucos dias. Nenhum de nós seria capaz de frequentar a escola, mas… bem, contanto que aparecêssemos para a aula mensal, com certeza estaria tudo bem.  Eu não tinha assistido nenhuma aula recentemente.

— Muito bem, Lorde Rudeus. Cuidarei bem da casa e de Zenith na sua ausência, então não precisa se preocupar. — Lilia me assegurou. Coloquei um grande fardo em seus ombros.

Enfim, esse foi o fim do meu relatório. Nossa reunião de família foi encerrada.

— Ufa, estou completamente exausta — disse Sylphie. — Acho que vou descansar. E você, Rudy?

— Vou cair na cama depois de tomar um banho.

— Hm… devo te esperar na cama?

— Nah, hoje não precisa se preocupar com isso.

— Certo.

E, com isso, deixei Sylphie descansar.

Percebi que não tinha tomado nada além de banhos frios nos últimos dias. Senti falta de mergulhar em água morna. Fui direto para o banho e usei minha magia para aquecer a água. Robô de Aquecimento de Água Roombaus: Ativar!

Eu realmente deveria me enxaguar antes de dar um pulo, mas… ah, bem.

Tirei minhas roupas e deslizei para a banheira.

— Ufa.

A água quente fumegante me envolveu e pude sentir o cansaço se esvair do meu corpo. Realmente, não tinha percebido o quanto os últimos dez dias tinham me desgastado.

Mesmo assim, dez dias. É difícil acreditar que já faz esse tempo desde que fomos para o castelo de Perugius.

Tanta coisa aconteceu nesse curto espaço de tempo. Nanahoshi desmaiou, então fomos para o Continente Demônio, encontramos Kishirika e irritamos Atofe de uma forma majestosa…

Atofe com certeza era forte. Tive a sensação de que nunca poderia derrotá-la. Era tolice até mesmo considerar superar um oponente do nível dela. Fiquei surpreso com a minha magia de eletricidade ter realmente funcionado. Talvez eu tivesse uma chance, contanto que meu oponente baixasse a guarda…

Talvez valesse a pena fazer mais pesquisas para aprimorar minha magia. Pelo menos para que mesmo se eu estivesse cercado por água, não fosse atingido pelos efeitos do meu próprio feitiço. No momento, eu não tinha ideia de como poderia evitar isso.

E se eu cobrir meu corpo com borracha? Igual o Homem Elástico daquele programa de TV para crianças.

O subordinado de Atofe, Moore, também era muito forte. Não importava o feitiço que eu lançava, ele sempre parecia ter um contra-ataque. Como se soubesse de todas as magias que existiam e como se defender contra elas.  Até agora, o único outro mago forte que eu conhecia era Roxy, mas ela era mais especialista em enfrentar monstros. Foi a primeira vez que vi alguém que era um especialista em lutar contra outros oponentes humanos.

Talvez enquanto tivesse o Atrapalhar Magia e meu braço protético, poderia encontrar uma maneira de lidar com um inimigo como aquele. Realmente não havia uma estratégia determinada para enfrentar adversários fortes como ele.

Independentemente disso, se existem pessoas tão poderosas no mundo todo, realmente preciso trabalhar para ficar mais forte. Nunca pensei que seria confrontado com oponentes como aqueles, mas eu sempre os encontrava regularmente.

Havia apenas um problema: como deveria ficar mais forte? Eu aparentemente não era capaz de usar a Aura de Batalha, então havia um limite para o quanto poderia treinar fisicamente. Ainda assim, não importava se fosse fisicamente fraco, contanto que pudesse me sobressair sobre meu oponente. Nesse caso, talvez estivesse indo na direção certa ao aprender magia de invocação com Perugius.

Se eu continuasse mudando de marcha sem decidir por um caminho fixo, acabaria sendo um idiota sem especialidade alguma. Sabia bem disso graças à minha vida passada. Embora houvesse tanta coisa acontecendo neste mundo e existissem tantas possibilidades, era realmente benéfico adquirir uma ampla gama de habilidades. Preferia assim a como era o Japão, onde tinha que escolher uma única profissão e segui-la por toda a vida.

Oh, sim, também gostaria de aprender a desenhar círculos de teletransporte. Pois então, se algo assim acontecesse novamente, poderia fugir rapidamente.

A magia em si podia ser proibida e acho que o teletransporte era bastante assustador, mas o medo não me ajudaria a aprender nada. Afinal, conhecimento é poder. Ter uma maneira de se comunicar à distância também seria bom. Ariel nos emprestou seus anéis, mas acabamos não usando. Talvez pudéssemos aprimorá-los para que pudessem enviar mensagens simples de um lado para outro. Embora provavelmente não funcionassem em todo o mundo, poderiam pelo menos ser algo parecido com um pager.

Vejamos, o que mais… Eu tinha certeza de que algo mais me veio à mente quando fui para o Continente Demônio.

— Ah, isso sempre acontece — resmunguei.

Eu sempre esquecia das coisas. Tive uma ideia, jurei para mim mesmo que faria isso mais tarde, e, então, surgia outra coisa e esqueço completamente dos outros planos que tinha na minha cabeça. Queria poder dizer que tinha uma memória muito boa, mas com certeza estava falhando bastante.

Merda. Se continuar assim, posso acabar cometendo sempre os mesmos erros.

Tive sorte de as coisas terem corrido bem desta vez, mas posso não ter tanta sorte na próxima. Se não consigo lembrar em que preciso melhorar, não seria capaz de cuidar de meus pontos fracos antes do próximo incidente imprevisto.

Certo, mas então o que devo fazer? Hmm…

Depois de pensar por um bom tempo, tive uma ideia.

É isso! Lembro de alguém me dizendo que deveria escrever as coisas se quisesse lembrar delas.

— Tudo bem, acho que devo começar a escrever um diário.

A ideia pareceu ainda melhor depois que falei em voz alta. Poderia registrar os detalhes do que aconteceu, o que aprendi, o que precisava trabalhar e qualquer outra coisa que eu precisasse. Então, poderia chegar a uma solução, decidir o que priorizar, estabelecer uma meta clara e selecionar meu próximo objetivo. Ao fazer isso, não teria mais que confiar na sorte e poderia refletir sobre qualquer erro para que não acontecesse novamente. Isso diminuiria minhas chances de repetir os erros do passado. Isso também levaria a erros menos graves a longo prazo. É certo que manter um diário não era uma garantia de que tudo sairia perfeitamente bem, mas não era um ponto de partida ruim.

Sim, acho que vai funcionar muito bem. Então, vamos escrever. Agora mesmo!

Com esse pensamento em mente, saltei da banheira.

— Se bem que, na verdade, não vendem diários por aqui.

 Me enxuguei antes de ir para o meu escritório. Afundei na cadeira e tirei um maço de papéis do fundo da minha prateleira. Embora não fosse um diário encadernado, ainda poderia escrever. Anotar as coisas era a parte mais importante.

Mas apenas escrever em alguns papéis soltos é um pouco deprimente. Vamos fazer um pequeno projeto com isso.

Não que começar com estilo fosse o objetivo principal, mas não custaria nada customizar a aparência do meu novo diário.

Juntei os papéis soltos e os coloquei na minha mesa. Usei magia para fazer furos na borda. Então, usei magia de terra para criar anéis para inserir através deles. Em seguida, precisava de três placas e uma articulação. Poderia colocar tudo junto em forma de livro, para que pudesse abrir com minhas folhas de papel encadernado do lado de dentro.

E, com isso, meu diário encadernado estava completo. Quanto acha que me custou? Nada, completamente caseiro! Tá, bem, o papel custou dinheiro.

Gostaria de saber se alguém aqui compraria um perfurador de papel se eu fizesse um para venda. Valia a pena escrever. Se eu não anotasse todas as minhas ideias, acabaria me esquecendo delas.

Então, como se faz um perfurador de papel? Uhh…

Não. Eu tinha coisas mais importantes para escrever primeiro.

— Hm, por onde devo começar…

Quanto tempo se passou desde a última vez que tive um diário? Quando era um recluso na minha vida anterior, tentei usar um daqueles sites de texto, mas não usei por muito tempo. Eu poderia seguir o mesmo caminho se não fosse consciente a respeito disso. Felizmente, este meu corpo era bastante receptivo às rotinas, então provavelmente faria isso automaticamente, desde que fizesse disso um hábito.

Certo, provavelmente devo parar com isso. Parece estranho falar sobre este corpo em terceira pessoa, como se não fosse meu.

O que eu deveria ter dito era: sou do tipo que faz as coisas cuidadosamente, desde que as torne um hábito, então não deve ser um problema.

Bem melhor.

Enquanto eu ia e voltava em meus pensamentos, comecei a rabiscar os eventos dos últimos dez dias. Estava bocejando quando terminei. Antes que eu percebesse, fui dominado pela sonolência.

 

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A área ao meu redor ficou toda branca. Não havia nada além de uma total falta de cor. Eu conhecia bem este lugar. Tinha visto isso quando Perugius usou sua magia de teletransporte para me mandar através do espaço.

Mas, onde exatamente eu estava? Nunca tinha pensado muito nisso, mas comecei a me perguntar se este era um lugar real em algum lugar deste mundo.

Tirando isso, gostaria de não voltar a esta forma toda vez que venho aqui.

Eu estava de volta ao corpo que tinha antes de reencarnar, de volta à época em que era um recluso sem esperanças e obeso. Não tinha intenção de evitar a verdade de que esta já foi minha vida, mas ainda assim me dava nojo. Não estava dessa forma na vez que Perugius me transportou.

— E aí.

De repente, lá estava ele. Seu rosto sempre branco com um sorriso esguio, um mosaico cobrindo toda sua face. No instante em que o vi, foi como se a lembrança de sua aparência tivesse sido apagada de minha mente.

Era o Deus Homem.

— Já faz um tempo.

Sim, com certeza faz.  Acho que já passaram dois anos, hein?

— Já faz tanto tempo?

Da última vez que recebi seus conselhos foi antes de partir para o Continente Begaritt. Então, sim, dois anos.

— Então não faz tanto tempo.

Quando eu era um aventureiro, você ficou sem mostrar a cara por uns três anos. Nossa, que nostalgia… Naquela época eu era um sem noção.

— Sim. Você agora parece estar comparativamente bem consigo mesmo.

Acho que sim. Casei e estou me dando bem com minha família. Definitivamente estou curtindo minha vida muito mais desta vez.

— E você também conheceu Perugius, pelo que vejo.

Perugius, né? Ele com certeza é incrível. Na minha vida anterior, jamais sonhei que algum dia encontraria alguém como ele. Parece também ter gostado de mim. Sabe, ele disse que compraria uma de minhas estatuetas se eu fizesse uma boa. Nunca cheguei perto de um nível em que pudesse vender minhas coisas antes de reencarnar.

— Atofe também gostou de você.

Uh, sim, mas com ela estou muito menos feliz. Embora eu ache que meu treinamento valeu a pena, já que está tão interessada em mim. Trabalhei em minha força física e minhas habilidades mágicas. Se Roxy nunca tivesse me ensinado magia de água de nível Rei, eu teria acabado em sérios problemas desta vez. Meu feitiço elétrico foi bastante eficaz contra Atofe e seu guarda.

— Com certeza foi. Aquela magia que você usou foi incrível. Tenho certeza de que você poderia usá-la até contra Orsted.

Contra Orsted?

— Não há muitas magias no mundo que possam ignorar a Aura de Batalha e paralisar o corpo de uma pessoa.

Faz sentido. Acho que as pessoas daqui não têm como se defender contra choques elétricos. Mas, ainda assim, é de Orsted que estamos falando. Ele apenas usará Atrapalhar Magia para tornar tudo ineficaz.

— Mesmo que seu poder não supere o de seu oponente, não significa que você não tem chances de conquistar a vitória.

Você tem razão… Espera, não. Impossível. Eu poder usar um pouco de magia anormal não muda o fato de que Orsted me esmagaria feito panqueca. Além disso, não tenho interesse em lutar com ele. Não tenho nada contra o cara.

— Ah, é mesmo?

De qualquer forma, você realmente me ajudou durante toda a missão de Begaritt. Estaria mentindo se dissesse que não tenho arrependimentos, mas não foi tão ruim. Embora eu não tenha seguido seu conselho.

— Bem, foi a sua escolha.

Só por curiosidade, o que teria acontecido se eu não tivesse ido?

— Se não tivesse ido, seu pai teria encontrado uma maneira de salvar sua mãe, e não teria morrido. Além disso, você teria duas princesas do povo-fera para você e viveria feliz para sempre.

Mas que porra? Então está dizendo que ele só morreu porque eu fui?

— Isso mesmo. Por você estar lá, ele ficou determinado a se exibir na sua frente, e foi isso que ferrou com tudo.

É, mas mesmo assim, isso não pode…

— Se tivesse deixado as coisas como estavam, ele teria reunido seus companheiros para salvar sua mãe. Roxy também, é claro.

Então… quê? Está dizendo que tudo que eu fiz foi inútil? E, ei, quando a encontrei, Roxy estava à beira da morte. Acho difícil acreditar que ela estaria bem sem o meu envolvimento.

— Ela realmente ficaria bem sem você. Afinal, estava destinada a sobreviver.

O que quer dizer com isso? Que porra de destino é esse? Explique-se.

— Lembra daquele comerciante que você salvou? Se não estivesse lá, a entrega dele teria sido atrasada. No dia em que ele chegou, um certo aventureiro saiu andando pelo mercado e comprou sua mercadoria, pedras mágicas. No entanto, se o comerciante não tivesse chegado, aquele homem teria comprado outra coisa.

Tipo o quê?

— Tipo um mapa que o guiasse pelo Labirinto de Teletransportação.

Ah, qual é, por que venderiam algo tão conveniente?

— Depois de não conseguir atrair pessoas para se juntarem a ele na guilda, Geese teria bolado um esquema para aumentar o número de pessoas interessadas em conquistar o labirinto. No processo, venderia um mapa que guiasse-os pelo Labirinto por um preço baixo.

Agora entendi. Está dizendo que ele venderia o mapa que fez. É verdade que existem poucas pessoas que gostariam de ir com Paul e os outros, mas poderia haver quem pensasse que poderia explorar por si próprio. Então está dizendo que o cara que compraria o mapa reuniria seus companheiros, entraria no labirinto e salvaria Roxy?

— Precisamente. Ele toparia com seu pai na entrada, e entrariam todos juntos. Por sorte, também encontrariam Roxy.

Quer dizer que, pelo fato de terem mais pessoas com eles, seria mais fácil atravessar o labirinto e resgatar a minha mãe?

— Correto. Embora fossem demorar muito mais tempo do que você. Cerca de dois anos, para ser mais preciso. Já que já faz mais ou menos esse tempo que você partiu, seria agora que eles a tirariam de lá.

Isso é meio difícil de acreditar. Parece tão conveniente.

— Talvez, mas é o destino.

Tudo bem. Acho que você tem razão. Dizem que a verdade é mais estranha que a ficção. Acho que isso significa que teria sido melhor se eu não estivesse lá. Droga, isso é deprimente.  Embora, se isso acontecesse, acho que não teria sido capaz de me casar com Roxy.

— Verdade. Ela teria se apaixonado pelo homem que a resgatou, em vez disso. Embora ele a recusaria.

Bem, não parece tão ruim quando você pensa dessa forma. Afinal, eu amo a Roxy. Embora tenha resultado na morte de Paul. Fico muito confuso ao pensar que tive que perdê-lo para poder me casar com ela. Não é como se eu me arrependesse de nosso casamento… Só que, se tivesse um relacionamento semelhante com Linia e Pursena, imagino que também teria ficado feliz com esse resultado. Não que eu esteja bem em ser parceiro de qualquer pessoa, mas se tivesse seguido esse caminho, provavelmente não teria conseguido algo melhor, não saberia que poderia ter estado com Roxy, em vez disso. Ah, caramba…

— Agora isso é passado.

Sim, você está certo. Arrependimentos não vão me fazer bem. Decidi ir para Begaritt e está feito. Agora estou feliz. A escolha que fiz pode ter sido um erro, mas isso não muda como as coisas são agora. Tenho arrependimentos, mas não acho que foi de todo ruim.

— Você com certeza é otimista.

Enfim, qual é o motivo para sua visita hoje? Algo mais preocupante está vindo ao meu encontro?

— Não, nada tão grande. Na verdade, é muito menos um conselho e muito mais um favor.

Um favor? Vindo de você? Isso é incomum. Nunca me pediu nada antes.

— Até eu às vezes preciso de um favor.

Hmm. Certo. Seja o que for, diga. Não parece que seria ruim ouvir o que tem a dizer e seguir seus conselhos de vez em quando. Acho que tenho desconfiado um pouco de você.

— Ah, sério? É bom te ouvir dizendo isso.

Bem, você não mediu esforços para me ajudar. Na verdade, me sinto mal por ter duvidado tanto de você. Só pensei que você estava gostando de me ver sofrer, por isso que agi assim.

— Você me magoa. Por meu nome, deve perceber que sou um deus. É verdade que fico entediado e quero assistir quando algo interessante está acontecendo, mas não tenho o hábito de enganar as pessoas apenas para ter prazer em sua infelicidade.

Sim, acho que sim. Não existe muita gente assim.

— De fato.

Então? O que quer de mim?

— Nada muito importante. Apenas quero que desça ao porão quando acordar. Verifique e certifique-se de que não há nada estranho lá embaixo. Se não encontrar nada, não se preocupe com isso.

Algo estranho? Mas… Nah, não importa. Entendi. Não o questionarei desta vez, simplesmente farei isso.

— Hehe, tudo bem. Você tem meu agradecimento.

Quando minha consciência começou a sumir, um sorriso doentio se abriu no rosto do Deus Homem.

 

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Abri meus olhos. Uma vela cintilava no limite da minha visão. Olhei pela clarabóia e vi a lua no céu. Não havia outros sons. A casa estava em silêncio. Eu tinha adormecido enquanto escrevia meu diário. Um pouco de baba escorria pelo meu queixo e pela página meio escrita.

Acho que vou reescrever isso.

Rasguei a página e a deixei no canto da minha mesa. Depois copiei o que tinha escrito em uma nova folha.

Me pergunto por quanto tempo dormi. Meu corpo parece tão lento, é como se tivesse ficado inconsciente por dias.

Quando levantei, algo caiu de meus ombros, um cobertor. Sylphie ou Roxy devia ter jogado em cima de mim. Quem quer que tenha sido, apreciei o gesto.

— Certo, então…

Eu ainda me lembrava do meu sonho. O Deus Homem me disse para dar uma olhada no porão.

Um conselho meio estranho.

Apesar de tudo, achei que não havia nada de errado em concordar com isso. Ele nunca me deu conselhos ruins no passado, então decidi realizar seus desejos ocasionalmente. Isso beneficiaria nós dois. Além disso, o Deus Homem devia estar cansado de me ver falando mal dele toda vez que tentava me dar um conselho. Mesmo que nosso relacionamento fosse do tipo de dar e receber, caberia a mim me dar bem com ele, caso precisasse de sua ajuda.

Enquanto me dirigia para o porão, deixei um espirro enorme escapar.

— Atchim! Uff, com certeza está frio…

A primavera ainda estava longe e a neve continuava a cobrir o solo, por isso estava frio. Eu não deveria ter cochilado ali. Precisava me apressar e ir para a cama para que pudesse me aconchegar sob um cobertor quente.

Peguei meu robe de um gancho na parede, onde estava pendurado, e puxei-o sobre meus braços.

Imagino que horas são.

Devia ser por volta da meia-noite, considerando que não ouvi nenhum outro som na casa. Se eu entrasse furtivamente no quarto de Roxy ou Sylphie e deslizasse para debaixo das cobertas com elas, provavelmente gritariam de surpresa. Não me importava se não fizéssemos sexo; só queria um pouco de calor. Na verdade, estava me sentindo muito solitário. Provavelmente foi graças ao Deus Homem. Não devia ter perguntado a ele o que teria acontecido se eu não tivesse ido para Begaritt.

Não, quem perguntou fui eu. A culpa é minha. E se a culpa é minha, eu deveria apenas dormir sozinho.

Estava preocupado com esses pensamentos enquanto empurrava a porta para abrí-la

— Hm?

De repente, senti uma presença atrás de mim e me virei. Tudo que vi foi a cadeira vazia que deixei para trás. Ninguém estava lá.

Claro que não.

— Deve ser só a minha imaginação.

As únicas coisas na sala eram uma escrivaninha, uma cadeira e uma estante de livros. Não havia nenhum lugar para alguém se esconder. Tinha uma janela, mas não era grande o suficiente para alguém entrar e sair furtivamente. A única entrada era a porta diante da qual eu estava parado. A sala era pequena o suficiente para que uma vela fosse suficiente para iluminar todos os cantos e recantos. A única pessoa que poderia estar ali era eu.

Então, por que achei que outra pessoa estava aqui, embora seja praticamente impossível?

Apesar de meu ceticismo, continuei sentindo uma presença na sala. Foi estranho. Talvez houvesse um besouro embaixo da minha estante ou algo assim?

— …?

Havia algo de desagradável nisso. Meu coração batia de forma irregular. Era ansiedade? Por que eu estaria ansioso?

— Bem, tanto faz. Vou apenas passar pelo porão e dar uma olhada…

Terminei de abrir a porta e comecei a sair.  E então imediatamente me virei e exclamei:

— Aha, te peguei!

Não havia lógica em minhas ações; tinha feito isso por impulso. Só estava tentando me certificar de que não havia ninguém ali. Ainda assim, olha só, tinha alguém lá.

— Huh…?

Um homem com um robe velho e esfarrapado estava sentado em minha cadeira, a única cadeira da sala. Ele era velho, com rugas no rosto, cabelo branco como a neve. O início de uma barba cobria seu queixo, dando a impressão de que não se preocupava muito com sua aparência. Tinha o ar de um veterano experiente, mas havia algo rude e nada refinado nele, como se tivesse saído de uma longa batalha. A luz em seus olhos era nítida e as cores das pupilas direita e esquerda eram diferentes uma da outra.

Seus lábios tremeram de surpresa.

— Então… eu consegui?

Ele olhou ao redor, semicerrando os olhos enquanto sua expressão se enchia de emoção. No entanto, então olhou para sua mão, tocou seu estômago e encolheu-se. Seu sorriso se tornou autodepreciativo.

— Não, eu fracassei. Acho que não tinha esperança de ter sucesso…

Me senti como se já o tivesse visto em algum lugar, mas não tinha lembrança dele. Havia algo familiar, entretanto, como se ele parecesse com alguém. Quem poderia ser? Paul, talvez? Não, ele não. Sauros, então? Mas ele não exalava o mesmo nível de ousadia de Sauros. Este velho parecia muito mais tímido.

 

 

 

— Q-Quem é você? Hm, o Deus Homem, talvez?

No momento em que falei esse nome, seus olhos, agora arregalados, voltaram-se para mim.

Reconheci essa reação. Orsted teve a mesma reação exagerada quando eu disse esse nome. Eles eram iguais. No entanto, este homem não se parecia em nada com Orsted.

— Não.

Ele balançou a cabeça lentamente, olhando diretamente nos meus olhos. Havia força em seu olhar. Ele se recusou a desviar o olhar. Era como se eu estivesse sendo sugado, quase como se estivesse olhando para um espelho.

O homem velho olhou para a porta atrás de mim e franziu a testa. Apontou um dedo ossudo e desgastado para ela e a porta se fechou. Dei um pulo por causa do barulho.

Como ele fez isso?

Confuso, me virei para ele. Havia um brilho em seus olhos quando olhou para mim.

— Não vá até o porão. Você está sendo enganado pelo Deus Homem.

— O quê? — Enganado? O que ele estava falando? Não entendi. — Espere um segundo. Quem diabos é você? Como entrou aqui?

— Eu sou…

Ele abriu a boca para falar, mas de repente a fechou. Após um momento de contemplação, finalmente disse:

— Eu sou _____.

Esse nome me deu um choque, um que eu nunca havia sentido antes. Eu era a única pessoa neste mundo que conhecia esse nome. Um que eu levaria para o túmulo sem nunca compartilhar com mais ninguém, um que eu queria esquecer, um que não deveria existir neste mundo.

Meu nome em minha vida passada.

— Eu vim do futuro — disse ele.

 


 

Tradução: Herói Tavin

Revisão: Guilherme

 

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