Passaram três dias desde o desmaio de Nanahoshi. Ela ainda não tinha recuperado a consciência e ainda não sabíamos o que a fez vomitar sangue.
Arumanfi apareceu instantaneamente depois que Sylphie saiu para buscar ajuda. Ele olhou Nanahoshi e a carregou direto para a enfermaria. Nesse meio tempo, reuni todos para explicar a situação. Disse a eles que a condição de Nanahoshi havia piorado, e quando Sylphie tentou lançar magia de desintoxicação nela, ela cuspiu sangue e desmaiou. Também lhes disse que estava sendo tratada na enfermaria. Tudo aconteceu tão rápido, e isso era tudo que eu sabia. Todos ficaram surpresos, mas pelo menos entenderam o que estava acontecendo.
No momento, Yuruzu da Redenção era quem estava cuidando de Nanahoshi. Yuruzu possuía um poder de cura especial que lhe permitia transferir o vigor e a saúde de uma pessoa para outra. Como isso funcionava de maneira muito diferente da magia de desintoxicação, poderia ser eficaz no tratamento de doenças que não podiam ser curadas por meios normais. Era o que se esperava, pelo menos. O único problema era que Yuruzu não conseguia fazer isso sozinha. Ela precisava da cooperação de alguém para realizar sua mágica.
Sylphie imediatamente se ofereceu. Yuruzu a fez deitar ao lado de Nanahoshi e começou a trabalhar sua magia. O rosto de Nanahoshi se contorceu de angústia durante o processo todo, e suas crises de tosse foram incessantes, mesmo que ainda estivesse inconsciente.
— Karowante, como ela está? — Perugius olhou para Nanahoshi antes de ordenar para que um dos seus subordinados a inspecionasse. O homem sob seu comando era Karowante da Compreensão, cuja habilidade lhe permitia perscrutar o desconhecido, identificar os segredos de uma pessoa. Isso também significava que poderia analisar a condição de um indivíduo se este não estivesse bem, quase como uma visão de raio-x.
Ele olhou para Nanahoshi, ou talvez através dela, e balançou a cabeça.
— Não é algo que Yuruzu pode curar com seus poderes.
— Então procure nos registros — disse Perugius.
— Como ordenar.
Com isso, seu subordinado passou a buscar informações sobre a doença e como curá-la. Karowante iria comparar os sintomas que observara em Nanahoshi com a literatura mantida na fortaleza. Ofereci-me para ajudar, mas Perugius recusou categoricamente; ele não tinha intenção de deixar um estranho se meter em seus arquivos. Nesse ínterim, Yuruzu continuou seu tratamento e Sylphie permaneceu na enfermaria.
Fiquei sem nada para me manter entretido. É claro que não passei os três dias sem fazer absolutamente nada. Voltei para casa e atualizei Roxy sobre nossa situação, informando-a de que Nanahoshi havia desmaiado e Sylphie estava ajudando a tratá-la. Assim, contei que demoraríamos um pouco para voltar para casa.
Depois de ouvir tudo, Roxy entrou em ação imediatamente. Entrou em contato com a universidade e pediu licença, depois explicou tudo para nossa família em meu lugar. Também prometeu cuidar de todos enquanto estivéssemos fora. Ela estava muito mais calma e controlada do que eu. Não havia dúvida de que estava acostumada com essas situações.
No final, eu realmente não fiz nada. Roxy fez tudo em meu lugar. Tudo o que fiz foi lembrar Aisha e Norn, mais uma vez, que demoraríamos para voltar. Então peguei uma muda extra de roupa e corri de volta para a fortaleza flutuante. Não que houvesse algo que eu pudesse fazer quando voltasse, exceto orar para que Nanahoshi escapasse dessa situação em segurança.
— Será que ela vai ficar bem?
Assim como eu, Cliff não tinha nada para fazer além de remexer os polegares. O castelo tinha uma capela, e era onde Cliff ia para oferecer suas orações fervorosas.
— Que seja feita a tua vontade, Lorde Millis — disse ele, com as mãos juntas e os olhos fechados.
Pessoas de fé frequentemente oravam assim em tempos de dificuldade. Quanto a mim, nunca acreditei em nenhum tipo de poder superior. Eu só colocava fé nas pessoas que me ajudaram neste mundo. E sabia que mesmo se orasse para Roxy ou Sylphie, não aliviaria a ansiedade que sentia.
À medida que o silêncio se estendia, de repente me lembrei de um filme que vi há muito tempo. Era uma história famosa sobre alienígenas dominando o mundo. Seus avanços científicos permitiram que dominassem a humanidade e nos eliminassem. Mas, no final do filme, todas as suas máquinas pararam bruscamente. Eles não tinham imunidade ao vírus do resfriado comum, que dizimou a todos.
Nanahoshi tinha sido teletransportada para este mundo. Ela não reencarnou, como eu. Além disso, não envelhecia e não podia usar magia ou implementos mágicos. Talvez não fosse simplesmente de mana que ela carecia, mas também de imunidade a agentes patógenos deste mundo.
Não, se fosse o caso, deveria ter adoecido muito antes. Já se passaram oito anos desde o Incidente de Deslocamento. Foi tempo demais sem ser afetada.
Estreitei os lábios.
Ela realmente vai morrer?
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Já era o quarto dia desde o desmaio de Nanahoshi. Fomos todos chamados a uma sala com uma mesa redonda. Perugius e todos os seus familiares estavam presentes, exceto Yuruzu da Redenção. Eles estavam atrás de seu lorde enquanto este se sentava em uma cadeira extravagante.
— Por favor, sentem-se — disse Sylvaril.
Fizemos o que ela pediu, acomodando-nos em nossas cadeiras. Sylphie ainda estava ajudando Yuruzu com o tratamento de Nanahoshi, então, sem ela, restavam apenas seis de nós.
— Descobrimos o que aflige Lady Nanahoshi — disse Sylvaril, dando um passo à frente assim que todos nós nos sentamos.
Enfim descobriram o que é.
— O nome da doença dela é Síndrome de Esgotamento.
Síndrome de Esgotamento? Foi a primeira vez que ouvi a respeito. Olhei ao redor; parecia que eu não era o único. Cliff provavelmente tinha o maior conhecimento médico entre nós, mas até ele parecia confuso, balançando a cabeça.
— Não é de se surpreender que não conheçam. Era uma doença ativa há eras, quando humanos possuíam menos mana do que hoje em dia. Naquela época, várias crianças nasceram sem mana. Quando chegavam aos dez anos, mais ou menos, morriam devido a essa síndrome, sem exceção.
Bem, isso parecia combinar com aquilo que Nanahoshi enfrentava. Embora não fosse uma criança de dez anos, já estava neste mundo há oito anos e não possuía mana. Então, a doença dela definitivamente não era culpa de Sylphie.
— De acordo com a literatura, aqueles que não possuem mana própria não têm a capacidade de neutralizar a mana externa que é filtrada. Assim, ela se acumula dentro deles ao longo de uma década e causa essa doença.
Não entendi muito bem o que isso significava, mas parecia semelhante ao conceito de bactérias boas e más. Ter sua própria mana significava ter bactérias boas para eliminar as ruins, mas aqueles que não tinham mana apenas acumulariam bactérias ruins em seus corpos. Embora eu não tivesse certeza do quanto poderíamos confiar nessa literatura de que Sylvaril falava, sua explicação fazia sentido.
— Você descobriu alguma coisa sobre como curar essa doença? — perguntei.
— Não havia nada. Isso aconteceu há 7.000 anos. À medida que a mana natural dos humanos se fortalecia com o tempo, a síndrome desapareceu.
Esse período significava que a síndrome estava ativa antes da primeira Grande Guerra Humano Demônio. Se não me falha a memória, dizem que essa guerra durou um milênio. Um conflito tão vasto que resultou em uma grande evolução. Seja como for, a humanidade devia ter conseguido se fortalecer. Faz sentido a Síndrome do Esgotamento ter desaparecido como resultado disso.
No entanto, 7.000 anos era muito tempo. Não era de se surpreender que tivessem pouca literatura sobre o assunto. Foi um milagre terem conseguido descobrir o nome do que atormentava Nanahoshi.
— Então, o que faremos? — perguntei.
— Congelaremos ela no tempo. — Não foi Sylvaril quem respondeu a mim desta vez, mas sim Perugius, cuja forma imponente estava rigidamente sentada em sua cadeira de luxo. — Casacossustador do Tempo pode usar seu poder para congelar o relógio de Nanahoshi.
Um homem deu um passo à frente enquanto Perugius falava. Ele usava uma máscara que se projetava na boca. Parecia um pouco os lábios enrugados de uma máscara Hyottoko, não, talvez mais como uma máscara de gás? Então esse é o Casacossustador do Tempo, hein?
Eu tinha certeza que sua habilidade era congelar o tempo de qualquer pessoa que ele tocasse. Isso pararia seu tempo também, mas pelo menos se o usasse em Nanahoshi, a impediria de morrer ou piorar.
— Muito bem. O que faremos depois disso?
— Entraremos em contato com as pessoas na superfície e procuraremos uma maneira de curá-la.
Tudo bem. Essa era uma das formas de dar um jeito nisso. Com a reputação de Perugius, certamente não havia muitos que nos rejeitariam.
— Embora eu não tenha ideia de quantas pessoas lá fora vão querer tentar salvá-la — acrescentou Perugius.
— Não pode usar sua influência para ajudá-la? — perguntei.
— O vínculo entre mim e Nanahoshi é apenas contratual. Não vou me colocar em dívida com outras pessoas para ajudá-la.
Isso soou terrivelmente frio para mim.
Dito isso, eu não sabia nada sobre o relacionamento deles, então não iria enfiar o nariz onde não deveria.
— Espera, não me entenda mal. Vocês são meus convidados, então farei o que puder para ajudar. No entanto, o propósito de toda a minha vida é procurar Laplace e derrotá-lo. A minha ajuda se limita a isso. Não posso ajudá-la às custas de meu próprio objetivo.
Então, basicamente, já que cuidar de Laplace era o seu trabalho, ele não faria nenhum esforço extra para ajudá-la. Se pedisse ajuda a outra pessoa, isso o colocaria em dívida, o que acabaria tendo que pagar. Seria uma dívida pesada demais, considerando que precisávamos de uma cura para uma síndrome que não existia há milhares de anos. Não havia como dizer que tipo de preço seria exigido por um favor desses.
Perugius não tinha obrigações para com alguém como Nanahoshi. Não, na verdade, já tinha feito mais do que era sua obrigação. Tratou de sua condição e a estava mantendo viva. Era por isso que estava fazendo essa declaração, dizendo que não faria mais do que já fizera. Se algum de nós quisesse salvá-la, poderia ficar à vontade. Não achei que houvesse nada de errado nisso.
— Está planejando abandonar Nanahoshi, é isso?! — gritou Cliff, pondo-se de pé.
— Eu nunca disse que iria abandoná-la.
— Mentiroso. Você tem este castelo incrível e todos esses familiares excepcionais à sua disposição! Se alguém pode procurar uma cura, esse alguém é você!
A sobrancelha de Perugius se contraiu.
— Ter a capacidade de fazer algo não significa que sejamos obrigados a fazê-lo.
— Cansei dos seus joguinhos! — rosnou Cliff. — É dever de quem tem poder ajudar quem precisa!
— Hmph. Não empurre a irritante baboseira religiosa irritante de Millis para cima de mim.
— O que disse?
Eu sabia que Cliff estava apenas falando com raiva. Ele acreditava em Millis, que lembrava o cristianismo do meu mundo anterior. Talvez um dos ensinamentos de Millis fosse que as pessoas deveriam estender a mão da misericórdia aos cordeiros que precisam de socorro. Achei, entretanto, um erro dizer isso a Perugius. Ele estava agindo em seu próprio senso de moralidade. Nos últimos 400 anos, ele está trabalhando em prol de um objetivo. Estava interessado na pesquisa de Nanahoshi sobre invocação de coisas de outros mundos, mas isso não tinha prioridade acima de Laplace. Era, no máximo, uma forma de matar o tempo.
— O que você está dizendo é o mesmo que abandonar Nanahoshi! Se vai ajudá-la, deve se comprometer a fazer da maneira certa!
— Cliff, chega! — berrou Elinalise depois que ele chutou a cadeira. Ela o agarrou pelos ombros e o segurou com força para que não pudesse se mover. — Eu sei como se sente, mas controle-se.
Seus lábios se contraíram.
— Não quero te perder por algo assim — continuou ela.
Pelo cômodo, todos os onze familiares de Perugius se colocaram em posição de batalha. Perugius deu uma olhada em Cliff, que era comparativamente impotente, e seus lábios se curvaram em um sorriso zombeteiro.
— Se está tão incomodado com a condição dela, por que não toma uma atitude? Seu Deus diria o mesmo, não é? “Não confie nos outros para ajudar os necessitados”, se não estou enganado, não é?
— Grr… — Cliff fez uma careta ao deslizar de volta para sua cadeira, irritado com as palavras de Perugius. Certamente não era sua intenção pular na garganta de Perugius. Só estava aborrecido com o fato de que alguém tão poderoso, que parecia capaz de qualquer coisa, não tentar nos ajudar.
— Huff. — Expirei profundamente. Beleza, e agora? Quero ajudar Nanahoshi, mas não tenho ideia de por onde começar. O resto do grupo parecia igualmente perplexo. Na minha família, Aisha, em particular, passava muito tempo com Nanahoshi e ficaria muito triste se ela falecesse. Além disso, se não fizéssemos nada e víssemos Nanahoshi definhar, Sylphie se culparia.
Não há algo que eu possa fazer?
— Com licença — disse uma voz quando a porta da sala se abriu. Yuruzu da Redenção entrou. — Lady Nanahoshi recuperou a consciência.
No momento em que ouvi isso, pulei da cadeira.
— E… E? Como ela está?
— Pelo que parece, os sintomas parecem ter melhorado.
— Como assim?
— A Síndrome de Esgotamento causa um acúmulo de mana, que altera o corpo levando a contrair a doença. Conseguimos tratar esses sintomas.
Ao que parece, a Síndrome de Esgotamento parecia se assemelhar à AIDS. Toda a tosse dela até o momento devia ser um sintoma. Foi por isso que nossa magia de desintoxicação foi eficaz em tratar seus sintomas superficiais, mas em momento algum se livrou do problema.
— Você não pode absorver a mana do corpo dela ou algo assim? — perguntei.
— Não sou capaz de fazer isso.
— E não conhece ninguém que possa?
Yuruzu balançou a cabeça lentamente.
— Ah, bem, então…
Eu me perguntei se havia alguma outra maneira de drenar o excesso de mana do corpo. Por exemplo, poderíamos fazer um implemento mágico com tais propriedades. Decerto nossa capacidade de fazer tais objetos progrediu nos 7.000 anos desde o aparecimento da Síndrome de Esgotamento. O que podíamos fazer? Poderia usar a Pedra de Absorção de Mana para purificá-la?
Nem, essa coisa não é capaz de absorver mana de dentro do corpo de uma pessoa. Embora eu tenha a sensação de que não é impossível usar dessa forma. Talvez devêssemos fazer algo em vez disso? Mas quanto tempo levaria para fazer algo com essas coisas? E não há nenhuma garantia de que isso funcionaria. Merda.
— De qualquer forma, vou ver como Nanahoshi está — falei, caminhando até a porta. Os outros logo me seguiram.
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A enfermaria estava deserta. Tinha a mesma mobília dos quartos de hóspedes, mas o interior era feito de pedra e sem janelas. Uma espécie de mesa de operação ficava no centro da sala, e também havia um gabinete contendo uma faca, bandagens e outros suprimentos médicos.
O silêncio pairava no ar.
Nanahoshi estava em uma cama no canto do quarto. Todo o sangue que havia expelido tinha sumido. Em algum momento, Sylphie e Yuruzu lhe deram um vestido branco imaculado, como se fosse algum tipo de paciente de hospital. Por fora, não havia indicação de que estava em perigo, mas a vida parecia ter sido drenada dela.
— Nanahoshi? Você está bem?
Ela olhou para mim.
— Pareço bem para você?
Não, ela não parecia. Seu rosto estava mortalmente pálido e havia olheiras. Só de olhar já dava para ver que estava doente. Talvez os poderes de Redenção de Yuruzu também estivessem drenando o paciente.
A propósito, a cama ao lado da Nanahoshi estava vazia. Yuruzu levou Sylphie para seu quarto de hóspedes assim que entramos. Vi Sylphie passando, e ela parecia fraca. Esteve ajudando no tratamento de Nanahoshi nos últimos quatro dias. Embora não tivesse ficado sem comida e água, ainda teve um impacto notável em sua constituição.
— Yuruzu disse que não podem me curar.
— Eu sei — falei enquanto me sentava ao lado dela. Parecia que a Senhorita Yuruzu não tinha escondido nenhum detalhe de Nanahoshi. — Bem, tenho certeza que você vai melhorar logo.
— Nós dois sabemos que não vou. — Ela voltou o olhar para a parede e ficou quieta.
Talvez dizer isso tenha sido um pouco imprudente da minha parte.
Depois de um longo e prolongado silêncio, Ariel e os outros tentaram conversar com Nanahoshi. Alguns deles tentaram consolá-la, alguns a encorajaram a manter o ânimo e outros prometeram que ela iria melhorar em breve. Todos estavam apenas tentando melhorar o humor dela, mas, infelizmente, em momentos como este, às vezes isso tem o efeito oposto. Para quem sente dor, não há nada mais desprezível do que uma garantia vazia.
Nanahoshi não respondia a nada, então todos eventualmente ficaram sem o que dizer. Um silêncio opressor permeou o ar, sufocando a atmosfera.
— Bem, então, Nanahoshi, eu devo voltar para o meu quarto. Virei para te ver de novo — disse Ariel. Ela foi a primeira a sair, e os outros logo seguiram atrás dela.
Cliff demorou. Foi apenas com a sugestão de Elinalise que enfim desocupou o quarto. Quando saíram pela porta, eu a ouvi dizer:
— Não há palavras que possamos oferecer a ela.
Fui o único que restou. Não sabia por que tinha ficado, mas senti que precisava estar junto com ela, que seria perigoso deixá-la sozinha. Não havia nada que eu pudesse dizer a ela, no entanto. Não quando estava sofrendo de algo incurável. Qualquer coisa que eu dissesse seria inútil.
Nanahoshi devia estar repleta de ansiedade. Sua pesquisa sobre magia de invocação estava indo pelo caminho certo. Ela ficou estagnada no primeiro estágio, mas avançou além do segundo e chegou ao terceiro estágio. A julgar pelo que Perugius disse, ela já tinha tudo de que precisava para passar para o próximo estágio. Eu não fazia ideia de quão perto ela estava do quinto estágio de sua pesquisa, mas se as coisas continuassem do jeito que estavam, provavelmente poderia ir para casa em mais ou menos em um ou dois anos. Mas assim que as coisas finalmente começaram a melhorar para ela, isso aconteceu. Foi como um diagnóstico de câncer. Mesmo que o câncer não fosse mais considerado intratável em meu mundo, a taxa de mortalidade continuava bastante alta. Foi o suficiente para encurralar Nanahoshi e enchê-la de desespero.
Não seria surpreendente se ela explodisse novamente. Se de fato fosse verdade que essa doença não tinha cura, então não havia um futuro à sua frente. Se isso significava que nunca poderia voltar para casa, então talvez merecesse o direito de ficar furiosa. Talvez se liberasse sua fúria até que não houvesse mais nada, pudesse se acalmar e encontrar uma maneira de aproveitar o pouco tempo que lhe restava. Se decidisse extravasar, eu ficaria ao lado dela até o fim.
— Para começar, nunca tive um corpo forte, sabe — disse Nanahoshi com um suspiro enquanto eu permanecia sentado em silêncio. Sua voz soou mais alegre do que eu esperava, mas era do tipo vazio e insincera. — Eu não diria que sou do tipo doente, mas pegava pelo menos um resfriado por ano.
Fiquei quieto e ouvi enquanto suas palavras saíam.
— Minhas notas eram boas, mas eu não era muito atlética. Preferia ficar dentro de casa.
Após uma breve pausa, mudou de assunto.
— Este mundo não fez muito progresso na frente médica, não é?
Quando não respondi, ela continuou:
— Talvez seja porque dependem muito da magia neste mundo, mas você sabia que as pessoas daqui nem mesmo lavam suas feridas depois de se machucarem? Como resultado, muitos recebem o tratamento tarde demais e morrem ou perdem um membro. Idiotas, não acha? Apenas limpar as feridas com água já preveniriam que tais infecções acontecessem…
Esperei e ela mudou para um assunto diferente.
— Desde que percebi que não posso usar magia, tenho tomado uma série de precauções. Evito lugares lotados para não contrair doenças. Também me recuso a comer alimentos que desconheço.
Essas pausas continuaram, intercaladas com seus pensamentos aleatórios.
— Posso parecer muito doente, da sua perspectiva, mas na verdade tenho feito exercícios no meu quarto. Tenho estado o mais em forma que posso, à minha maneira. Quer dizer, eu sabia que se ficasse doente, poderia não ser tratável. Na verdade, imaginei que provavelmente seria incurável. E provavelmente seria alguma doença da qual eu nunca tinha ouvido falar antes.
“Para começo de conversa, não acha que este mundo é muito estranho? Existem monstros aqui, pesados o suficiente para te esmagar, e eu não sei se é a magia ou o quê, mas este mundo parece ignorar as leis da física. Tipo, beleza, claro, achei este lugar muito legal quando cheguei. Na verdade, eu mesma já joguei alguns videogames e não posso dizer que odeio espadas, magia e outras coisas do tipo. Estaria mentindo se dissesse que não acho isso empolgante. Parte de mim uma vez sentiu inveja de você por ser capaz de reencarnar em um mundo como este…”
A voz dela sumiu de repente, os ombros tremendo. Lentamente, ela virou o rosto para mim. Seus olhos estavam vermelhos e inchados enquanto se enchiam de lágrimas.
— Não quero morrer.
As lágrimas começaram a cair, uma após a outra, como se uma represa tivesse estourado dentro dela.
— Não quero morrer em um lugar como este! Não neste mundo bizarro e estranho! Por quê?! Merda, por que isso está acontecendo comigo?! Não faz sentido algum! Sabia que o meu corpo não mudou em nada nos últimos oito anos? Eu não cresci mais e meu cabelo está do mesmo comprimento de sempre! Mas meu estômago ronca e, se eu comer, ainda faço cocô. Mesmo assim, minhas unhas não crescem e eu também não menstruei mais!
Ela agarrou um jarro ali perto, então o arremessou para o outro lado do quarto. Atingiu a parede oposta e se espatifou, espirrando água por todo o chão.
— Eu não sou um humano deste mundo! Não estou vivendo aqui! Sou como um cadáver ambulante! Então, por quê? Por que posso ficar doente?! Isso não faz sentido. Por que isso tem que acontecer comigo? Não quero morrer! Não quero morrer neste mundo estúpido e estranho!
As lágrimas surgiram cada vez mais rápidas enquanto ela chorava.
— Quer dizer, nem beijei ninguém! Ainda não disse ao cara que amo como me sinto! Sinto tanta inveja de você. Você aproveita cada dia, vivendo cada momento ao máximo. O que você tem para se sentir triste? Ah, então seu pai morreu e sua mãe está gravemente doente? E daí? Quem liga! Não vou nem ver meu pai antes de morrer. Minha mãe nem vai saber que eu sumi. Sinto falta deles, tanto da minha mãe quanto do meu pai!
“Ainda me lembro da manhã antes de me teletransportar para cá. Meu pai disse que voltaria para casa mais cedo naquele dia, e minha mãe disse que iria fazer peixe grelhado para o jantar. Eu disse a ele que tinha amigos indo lá pra casa, então preferia que não voltasse para casa mais cedo, e disse à minha mãe que estava enjoada de peixe. Por que… por que eu disse essas coisas? Tenho certeza de que os dois estão muito preocupados. Sinto falta deles. Quero ir para casa. Não quero morrer. Não quero morrer aqui…”
Ela colocou os braços em volta das pernas, enfiando o rosto nos joelhos. Um choro abafado soava, junto com soluços e gritos tristes.
A dor em sua voz foi como uma adaga em meu coração. Quando vim a este mundo, provavelmente não teria empatia por ela. “Sinto falta deles. Quero ir para casa. Quero ver minha família novamente”. A pessoa que eu era naquela época ficaria perplexa se alguém dissesse essas coisas. Eu teria pensado: Eh, esqueça-os de uma vez e aproveite o novo mundo em que você está.
Agora as coisas eram diferentes. Compreendia ela querer voltar para casa e ver sua família de novo. Sabia o quão preciosos aqueles dias aparentemente monótonos podiam ser. Depois que eles passam, é impossível recuperá-los. Impossível mesmo.
Paul estava morto. As memórias de Zenith podem nunca mais voltar. A calorosa família que eu conhecia de Buena Village se foi. No entanto, em seu lugar, agora eu tenho uma nova família para proteger: Sylphie, Roxy, Lucie, Lilia, Aisha, Norn e Zenith. Se eu fosse de alguma forma separado das minhas garotas para sempre, isso iria rasgar meu coração ao meio. Se alguma delas desaparecesse, eu iria até os confins da terra para encontrá-la novamente. E se eu fosse transportado de volta para o meu antigo mundo, não importaria se eu pudesse usar magia lá ou se chovessem garotas na minha horta para me encherem de afeição. Eu ainda estaria decidido a voltar para este mundo.
— Hic… hic… — O corpo inteiro de Nanahoshi tremia enquanto ela apertava os joelhos com os braços.
Ela nunca tinha se aproximado mais do que era absolutamente necessário de Zanoba, Cliff ou Sylphie, mas sempre me ouviu. Quando eu lhe pedia algo, ela ajudava. Quando eu dava uma festa, ela comparecia. Parando para pensar, nunca me tratou mal. Ficava um pouco animada sempre que falávamos em japonês. Como a única pessoa que falava sua língua materna, eu era seu único porto seguro.
— Por favor, alguém, me salve… — Nanahoshi chorava baixinho.
Levantei da minha cadeira.
Voltei para a sala com a mesa redonda para encontrar Perugius ainda sentado lá dentro. Todos seus familiares haviam partido. Ele estava lá, sozinho, como se estivesse esperando por mim.
— O que foi? — perguntou ele.
— Eu vou salvá-la. Apreciaria muito se você pudesse me dar qualquer ajuda, mas não vou pedir mais do que está disposto a dar.
Suas sobrancelhas levantaram em surpresa, mas ele acenou com a cabeça.
— Oh? Vai procurar uma maneira de salvá-la?
Ele olhou fixamente para mim, como se tentasse verificar o quão sincero eu estava sendo e o quão determinado estava. Senti ceticismo nele, como se achasse que eu não faria nada a menos que isso me beneficiasse, mas eu não era do tipo calculista. Já que não tinha nada a esconder, encarei-o de volta.
— Muito bem — disse ele. — Eu também ficaria magoado em vê-la morrer.
Ótimo, já decidi o que vou fazer, mas agora, por onde começo?
Trata-se de uma doença extinta há mais de 7.000 anos. Nenhum de nós tinha ideia de como poderíamos encontrar uma cura para ela. Tudo o que sabíamos com certeza era que a magia de desintoxicação e a magia de cura eram ineficazes. Perugius teria dito algo se a cura fosse tão simples.
Talvez um implemento mágico? Mas também não faço ideia se isso funcionaria.
Se estivéssemos procurando por um implemento mágico que pudesse afetar alguém internamente, Cliff havia arquitetado um para Elinalise. No caso dela, ele o aprimorou ao longo do tempo enquanto verificava sua eficácia, mas, mesmo assim, não tinha acabado com a sua maldição.
Ainda assim, talvez pudéssemos fazer o mesmo com Nanahoshi e trabalhar aos poucos em sua condição enquanto adicionássemos melhorias ao dispositivo. Isso, no entanto, exigiria que monitorássemos sua constituição quanto às mudanças ao longo do tempo, e Nanahoshi provavelmente não tem muito tempo. Ela vomitou sangue durante as crises. Yuruzu curou os sintomas superficiais, mas sem dúvida reapareceriam em breve. Pode ser que não sobreviva ao próximo surto. Além disso, com seu corpo congelado no tempo, não havia oportunidade para fazermos experimentos.
Portanto, não poderíamos usar um implemento mágico. Talvez pudéssemos fazer um eventualmente, mas agora precisávamos de algo com efeitos imediatos. Talvez alguém conhecesse tal tratamento, como o Deus Homem ou Orsted. Eles eram os candidatos mais prováveis em minha mente. O problema é que eu não tinha como entrar em contato com o Deus Homem. Com um pouco de sorte, ele poderia me visitar em meus sonhos nesta noite e dar seus conselhos, mas nossa comunicação era inteiramente por lazer; eu não tinha como entrar em contato. Além disso, não tínhamos tempo para esperar e torcer para que aparecesse.
— Lorde Perugius, há alguma maneira de entrarmos em contato com o Deus Dragão Orsted? — perguntei.
— Não. Não sei sua localização atual.
Então, até mesmo Orsted estava fora de nosso alcance.
— Em qualquer caso, também duvido que ele saiba de uma solução. Ele apareceu neste mundo há apenas cerca de 100 anos. Por mais sábio que seja, não teria como saber sobre uma doença de 7.000 anos atrás.
Orsted tinha cerca de 100 anos então, hein? Achei que já existia há mais tempo. Comparado a Perugius, ele era muito jovem. Mesmo que ainda fosse muito mais velho do que eu.
— Tudo bem, mas quem no mundo saberia sobre uma doença de 7.000 anos… — Minha voz foi parando.
Espere. Existe alguém assim. Acabei de lembrar.
Sim, de fato. Existe alguém que viveu todo esse tempo. Eu não tinha a impressão de que saberia muito sobre doenças e afins, mas não custava nada perguntar.
— Na verdade — falei —, há alguém que me vem à mente.
— Oh?
Dito isso, eu não tinha ideia de como encontrar essa pessoa. A última vez que nos encontramos foi inteiramente por coincidência, e nos separamos não muito depois de nos encontrarmos. Nossa conexão era pouca, além de não ter meios de contato.
Ainda assim, precisava fazer algo. Nada mudaria se ficasse esperando.
— Seria possível você me mandar para o Continente Demônio?
— Continente Demônio? E o que planeja fazer lá? — perguntou Perugius.
Só nos vimos uma vez no passado. Aparentemente, também se encontrou com Roxy, mas ninguém sabia onde estava. Mesmo assim, eu sabia o nome dele — ou melhor, o nome dela — há muito tempo, tendo estudado sobre suas façanhas quando morava na Região de Fittoa. Nunca esquecerei nosso encontro.
— Eu gostaria de rastrear o Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu.
Kishirika, esse era o nome da mulher responsável pela primeira Grande Guerra Humano Demônio que aconteceu há 7.000 anos.
Tradução: Taiyo
Revisão: Guilherme
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