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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 04 – Cap. 06 – As Crianças do Povo-Fera

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O quarto estava escuro. Dentro das sombras estavam meninos e meninas com olhares nervosos em seus rostos, seus corpos se contorciam. Havia quatro garotas e três garotos, um total de sete crianças. Todos tinham mais ou menos a minha idade. Estavam nus, e tinham orelhas de feras ou de elfos. Suas mãos foram amarradas atrás deles, e todos se encolheram quando eu apareci.

Mas que visão – foi como uma versão jovem de Kannon, a Deusa da Misericórdia, uma Bodisatva budista. Este era o Éden. Não, talvez fosse o paraíso. Finalmente cheguei ao céu? Não, eu ainda nem tinha encontrado o bebê verde!

Não era hora para ficar excitado. Com apenas uma exceção, seus olhos estavam todos inchados de tanto chorar, e vários tinham hematomas preto-azulados em seus rostos. Minha cabeça esfriou na mesma hora. Estavam chorando e gritando, então provavelmente apanharam por fazerem barulho.

A mesma coisa aconteceu quando Eris e eu fomos sequestrados. Neste mundo, os sequestradores não demonstravam nenhuma preocupação com as crianças que tomavam como cativas. Ruijerd deve ter as ouvido sendo impiedosamente torturadas, já que estava no quarto vizinho. Foi por isso que não conseguiu se conter.

Olhando de relance, não pareciam ter sido sexualmente abusadas. Talvez porque ainda eram jovens, ou talvez porque isso diminuiria seu valor de venda. Seja qual fosse o motivo, era a única misericórdia em meio a tanta desgraça.

Normalmente, eu olhava para garotas nuas e meus olhos logo eram atraídos para seus seios, mas agora, meu pervertido interior estava enfraquecido. Afinal, antes de desembarcar do navio eu tinha recém decidido virar um eremita. Infelizmente, minha nova profissão não havia aumentado minha inteligência em nada.

Três das meninas ainda choravam, as lágrimas escorriam pelos seus rostos. Dois dos meninos me olharam com olhares aterrorizados em seus rostos.

O terceiro estava debruçado no chão, mal respirando. Eu o curei antes de remover as algemas de seus pulsos. Sua boca estava amordaçada com tanta força que não consegui soltar. Sem outra escolha, tive que queimá-la. Pode ter o queimado um pouco, mas achei que ele poderia lidar com isso. Fiz o mesmo com os outros dois meninos, curando-os e tirando suas amarras.

— U-um… quem é…?

As palavras foram ditas na língua do Deus Fera, então fiquei um pouco surpreso, mas pelo menos conseguiria manter uma conversa.

— Eu vim para te salvar. Vocês três, vigiem a porta. Se virem alguém chegando me avisem na mesma hora.

Os três trocaram olhares nervosos.

— Vocês são homens, certo? Podem fazer ao menos isso, não podem?

Suas expressões endureceram e assentiram, correndo em direção à porta. Não havia outro significado para minhas instruções. Não era como se eu apenas quisesse tirá-los do caminho para que pudesse cobiçar as meninas sem ninguém para atrapalhar.

Ruijerd estava causando uma confusão no andar de cima, então provavelmente ninguém apareceria. Ainda assim, não podíamos correr nenhum risco. Antes de entrar no quarto, ajustei meu olho de demônio para me mostrar um segundo no futuro, mas não seria capaz de ver nada se não prestasse atenção.

Comecei a remover as amarras das garotas. Algumas eram mais fartas do que as outras, mas não as classifiquei. Admirei todas da mesma forma e tirei tudo que as prendia. Também não toquei em nada além do necessário. Queria que pensassem no Rudeus diante delas como nada menos que um cavalheiro.

Também curei seus hematomas. Era a minha hora de desfrutar – err, digo, tratar suas feridas. Afinal, seria necessário tocar nas pessoas para curá-las. Portanto, não havia outro significado por trás disso. Sim, uma das meninas tinha hematomas no peito, mas juro que não tive segundas intenções.

Outra tinha uma costela quebrada. Isso não podia ser algo bom… E uma delas teve o fêmur quebrado. Aqueles homens foram realmente cruéis.

As meninas se esconderam com as mãos ao se levantar. Elas mesmas removeram suas mordaças. Era minha imaginação ou a garota de temperamento forte e com orelhas de gato estava olhando para mim?

— Obrigada por… hic… nos salvar. — A garota com orelhas de cachorro me agradeceu enquanto timidamente escondia o corpo. Ela falou na língua do Deus Fera, é claro.

— Só para ter certeza, todas vocês conseguem me entender, certo?

Quando todas concordaram, soltei um suspiro de alívio. Pelo visto, dava para entender tudo o que eu falava na língua do Deus Fera.

Parecia que Ruijerd ainda não havia terminado, e eu não poderia levar essas crianças a um matadouro. Isso poderia causar ainda mais traumas, então talvez devesse apenas admirar o cenário um pouco mais… ou não. Provavelmente deveria perguntar o que aconteceu.

— Se não se importar com a pergunta, por que foram trazidas aqui?

— Mew?

Dirigi minha pergunta para a menina com orelhas de gato, aquela que parecia a mais teimosa. Ela era a única entre os sete que não tinha um rastro de lágrimas escorrendo pelo rosto. Em vez disso, seu corpo parecia o mais surrado, quebrado e machucado. Não sofreu tanto quanto Eris naquela ocasião, mas seus ferimentos ainda eram os piores. O segundo pior era o primeiro menino que ajudei, mas, ao contrário dele, ela ainda tinha um brilho vivo nos olhos.

Essa garota poderia ser ainda mais obstinada do que Eris. Não, ela provavelmente era mais velha do que Eris era naquela época. Se tivessem a mesma ideia, sem chances de que Eris perderia.

Certo, por que diabos eu estava ficando tão competitivo?

— Estávamos brincando na floresta quando um homem estranho de repente nos agarrou, mew!

Foi um choque para o meu sistema. Mew! A frase dela terminou em “mew”! Um verdadeiro mew! Completamente diferente da imitação de Eris. Essa garota era uma verdadeira e genuína gata. Não era apenas porque estava falando na língua do Deus Fera. Definitivamente disse “mew” no final da frase. Sensacional.

Não. Eu não podia me distrair.

— Então isso significa que todos vocês foram levados contra sua vontade? — Tentei conter minhas emoções e permanecer calmo enquanto perguntava.

As meninas fizeram que sim com a cabeça. Bom. Se tivessem sido vendidas por pais passando por necessidades, ou se tivessem sido vendidas porque não tinham mais meios de viver, nossos esforços para libertá-las teriam sido em vão. Bom. Estávamos salvando pessoas. Fiquei muito feliz com isso.

— Acabou. — Ruijerd retornou. A cor verde musgosa tinha sumido de seu couro cabeludo e um protetor de testa foi colocado em volta de sua cabeça. Suas roupas estavam imaculadas. Não havia uma única gota de sangue nelas. Eu não esperava nada menos.

— Bom trabalho. Havia mais alguém sendo mantido em cativeiro? — perguntei.

— Ninguém.

— Então vamos encontrar algumas roupas para eles. Vão pegar um resfriado se os deixarmos assim.

— Entendido — respondeu Ruijerd.

— Certo, gente — falei. — Por favor, esperem mais um pouco.

Nós nos separamos e começamos a procurar roupas adequadas. Não encontramos nada para crianças. Suas roupas deviam ter sido tiradas e descartadas quando seus captores as sequestraram. Mas para quê? Eu não entendi. O motivo para terem deixado as crianças nuas era um mistério para mim. Não ter roupas era um problema sério. Não poderíamos nem levá-las a uma loja de roupas se estivessem nuas.

— Hm? — Por acaso, olhei pela janela, apenas para ver uma montanha de cadáveres. Cada um deles tinha um único ferimento de faca, no coração ou na garganta. Há algum tempo, uma cena dessas me deixaria apavorado, mas desta vez foi até reconfortante. Ainda assim, não esperava que houvesse tantos deles. O forte cheiro de sangue pairava no ar. Isso atrairia monstros.

Vamos queimá-los logo, pensei, e saí do prédio.

Fiquei diante da montanha fedorenta de cadáveres e criei uma bola de fogo. Uma com um raio de cinco metros parecia ser boa o bastante para a finalidade. Na magia de fogo, aumentar o poder de um feitiço também serviria, por algum motivo, para aumentar seu tamanho. Eu não queria sentir o fedor de carne queimada, então decidi incinerá-los com uma única explosão.

— Opa!

O fogo resultante foi claramente muito poderoso, já que se espalhou por todo o prédio na mesma hora. Rapidamente lancei uma magia de água para extinguir as chamas.

Essa foi por pouco. Quase me transformei em um piromaníaco.

Que merda, talvez devesse ter tirado suas roupas primeiro, pensei. Elas provavelmente cheirariam a sangue e fariam meu estômago revirar, mas ainda poderiam ser usados depois que eu as lavasse.

— Rudeus. Terminei.

Enquanto eu estava preocupado com esses pensamentos, Ruijerd saiu do prédio. As crianças estavam todas com ele, todas vestidas. Por vestidas, quis dizer que estavam todas usando robes.

— Onde você encontrou essas roupas?

— Arranquei as cortinas.

Oho. Você é inteligente, pensei. Uma verdadeira fonte de sabedoria.

 

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O próximo objetivo de nossa missão era levar as crianças de volta às suas casas. Isso significava levá-las para a cidade e guiá-las até seus pais.

Acendi as tochas na entrada da frente do prédio e fiz cada uma das crianças pegar uma. Decidi seguir um caminho diferente no retorno. Seria problemático se outro contrabandista nos encontrasse, e aquela rota subterrânea provavelmente foi criada para proteger as pessoas das feras da floresta. Nós não precisávamos disso.

— Mew! — De repente a garota com orelhas de gato gritou. O barulho ecoou pela escuridão ao nosso redor.

— Qual é o problema? — perguntei, desejando que ela não fizesse tanto barulho.

— Mew! Havia um cachorro naquele prédio de onde acabamos de sair?! — Ela se agarrou à perna de Ruijerd. Havia uma clara expressão de desespero em seu rosto.

— Havia um.

— Por que não o resgatou?!

Isso mesmo, havia um cachorro. Espera, era um cachorro? Era assustadoramente enorme.

— Vocês ficaram em primeiro lugar.

Seus olhos reprovadores se fixaram em Ruijerd.

Ah, vamos, pensei. Nós salvamos vocês. Não há razão para nos olhar assim.

— Só para você saber, foi ele quem te salvou.

— B-bem, eu sou grata por isso, mew. Mas…

— Se você está grata, então deveria dizer “obrigada”.

Quando eu disse isso, todos curvaram suas cabeças para o Superd. Bom, pensei. Todos deviam ficar ainda mais gratos.

Essa podia ter sido uma missão que recebemos de um contrabandista da organização que os sequestrou, mas também era verdade que Ruijerd estava genuinamente preocupado com as crianças. Embora isso também fosse verdade, exigimos sua gratidão mesmo sem nunca terem pedido para serem salvas.

— Eu vou voltar e soltar o cachorro. Ruijerd, você leva as crianças para a cidade.

— Entendido. Para onde devemos ir quando chegarmos lá?

— Espere do lado de fora da cidade. — Dei algumas instruções. E então refiz meus passos.

Para onde deveríamos levá-las depois disso? Era uma pergunta difícil. No início, pensei em levá-las para a Guilda dos Aventureiros. Então, poderíamos fazer um pedido dizendo: “Temos crianças sob nossa custódia; por favor, procurem por seus pais” e confiar as crianças à guilda. Isso poderia representar o fim de tudo.

No entanto, Gallus disse que a organização de contrabando não era um grupo único. Se nos movêssemos muito abertamente, seríamos descobertos. Considerando nossas conversas, o contrabandista não seria capaz de nos ajudar se isso acontecesse. Seria melhor terminarmos tudo sem deixar qualquer rastro de nosso envolvimento. Isso seria tanto para o nosso bem quanto para o dele.

Nesse caso… e se deixássemos as crianças com a guarnição da cidade e fugíssemos do lugar o mais rápido possível? Não, se elas falassem, nossas identidades seriam descobertas. Então a organização de contrabando descobriria tudo. Além disso, a estação das chuvas estava quase chegando. Se saíssemos da cidade, não teríamos mais para onde ir. Podíamos até mesmo ser confundidos com sequestradores.

Hmm. Isso era preocupante. Talvez eu não tivesse pensado o bastante nas coisas. Eu tinha certeza de que poderíamos libertá-los, mas pensei muito pouco no que viria depois disso. Será que devíamos culpar outra pessoa pelo ataque? Sim, talvez fosse uma boa ideia. Se escrevesse que “O Grande Imperador do Mundo Demônio Kishirika esteva aqui” na parede, poderiam realmente acreditar. Afinal, Kishirika disse para contar com ela se acabasse precisando de alguma coisa.

— Que seja. — Retornei ao prédio, ainda indeciso sobre o que fazer a seguir.

 

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Encontrei o lugar onde tinha visto aquele círculo mágico. Quando entrei, a besta me cumprimentou com um olhar suspeito. Ela não abanou o rabo nem latiu. Estava letárgica.

— Definitivamente é um cachorro.

Havia um cachorrinho acorrentado dentro daquele círculo mágico. À primeira vista qualquer um poderia dizer que era um cachorrinho, mas era enorme. Tinha cerca de dois metros de altura. Por que todos os cães e gatos deste mundo eram tão grandes?

Quando o vi pela primeira vez pensei que seu pelo era branco, mas ao ver mais de perto, percebi que na verdade era prateado. Parecia brilhar, mas provavelmente era só por causa da iluminação. Um grande Shiba Inu bebê prateado, com um olhar refinado e inteligente em seu rosto.

— Eu vou te ajudar – aaaaai!

No momento em que tentei entrar no círculo mágico, ele me repeliu. Não foi algo como um choque. A sensação seria difícil de explicar, mas era como se os receptores de dor em meu cérebro estivessem sendo ativados. Parecia que o círculo mágico era na verdade uma barreira. Uma barreira do tipo de cura mágica – um tipo de construção desconhecido para mim.

— Hmm. — Estudei as bordas do círculo mágico. Ele emitia uma luz branco-azulada, iluminando um pouco do lugar. A luz proveniente dele indicava que havia circulação de mana. Se eu pudesse cortar a fonte de seu combustível, o círculo desapareceria. Roxy me ensinou isso. Era o método quintessencial de remoção de armadilhas mágicas.

A fonte de combustível… Em outras palavras, um cristal mágico.

No entanto, pelo que pude ver, não havia tal cristal para ser encontrado. Não… isso só indicava que eu ainda não tinha o encontrado. Onde o esconderam? Provavelmente no subsolo. Será que devia usar magia de terra para remover o círculo? O que aconteceria no caso de tentar forçar a dissipação de um círculo mágico como este?

Hm, espere, pensei. Espera, espera, espera. Vamos pensar nisso de forma mais simples.

Em primeiro lugar, como planejavam tirar esse cachorro do círculo mágico? Não havia nenhum mago no meio dos cadáveres que eu tinha visto. Então devia haver alguma maneira para um iniciante poder remover essa armadilha.

Primeiro, considerei onde poderia estar o cristal mágico. Pensei que só poderia estar no subterrâneo. No entanto, se estivesse lá, aqueles caras não seriam capazes de retirá-lo. Tinha que estar em algum lugar do qual pudessem extraí-lo. Mas também tinha que estar em algum lugar onde ainda pudesse aplicar mana na armadilha.

— Hm, então está acima?

Decidi verificar no andar de cima. Fui para o cômodo logo acima, onde encontrei um círculo mágico menor e o que parecia ser uma lanterna de madeira. Nela estava o que eu presumi ser um cristal mágico.

Muito bom. Tive a sorte de encontrá-lo ao seguir meu primeiro palpite.

Levantei a lanterna com muito cuidado e o círculo mágico abaixo dela se dissipou suavemente. Quando voltei ao andar inferior, vi que aquele que estava ao redor do cachorro havia sumido por completo. No final das contas, parecia que os círculos superior e inferior estavam ligados. Ótimo, ótimo.

— Grrr…!

O cachorro me olhou de um jeito ameaçador e começou a rosnar quando me aproximei. Bem, os animais nunca gostaram de mim, pelo menos desde que eu lembrava. Isso não mudou.

Estudei a condição física do cachorro. Seu rosnado ainda era poderoso, mas seu corpo já não estava forte como costumava. Parecia exausto. O animal sem dúvidas estava com fome.

Ainda assim, as correntes eram suspeitas. Provavelmente havia algum significado no padrão gravado nelas. Talvez eu devesse as remover. Não, isso poderia ser perigoso. Se aquelas correntes estivessem restringindo seu poder, então no momento em que eu as soltasse, ele poderia me atacar. Uma mordidinha poderia ser curada, mas…

— O que devo fazer para que você não me morda?

Quando perguntei isso, o cachorro respondeu:

— Woof? — Ele apontou a cabeça para mim como se entendesse as palavras.

Hm.

— Se não me morder, vou tirar essa coleira de você e devolvê-lo ao seu mestre. O que acha disso? — Falei com ele na língua do Deus Fera e, quando o fiz, o cachorro parou de rosnar e se deitou silenciosamente no chão. Parecia estar entendendo. Bem, estar em um mundo diferente era algo conveniente. Era possível falar até com cães.

Tentei usar magia para cortar a corrente. Quebrou facilmente. Assim que isso foi feito, o poder instantaneamente retornou ao corpo do cão. Ele se levantou na mesma hora e tentou sair correndo, mas eu o parei.

— Espere, espere, você ainda está com uma coleira.

Ele olhou para mim e obedientemente voltou a se deitar.

Tentei o meu melhor para remover a coleira, mas não tinha nenhuma fechadura nela. Se não houvesse fechadura, não havia como destrancar. Que coisa estranha. Como pretendiam removê-la? Ou nunca tiveram a intenção de fazer isso? Foi bem difícil, mas consegui encontrar uma junta na coleira. Pelo visto, era uma daquelas que só seria possível remover se conhecesse o truque.

— Vou tirar ela, então não se mova. — Conjurei magia da terra com todo o cuidado e apontei para a pequena junta da coleira, usando a magia para forçar uma abertura. Houve um tinido e, finalmente, saiu.

— Isso aí.

O cachorro balançou o pescoço.

— Woof!

— Ei!

Ele colocou uma de suas patas dianteiras em um dos meus ombros e seu peso acabou me derrubando. Eu caí no chão, todo mole, e o cachorro começou a babar sobre o meu rosto.

— Woof!

Aah! Você não pode, cachorrinho! Eu tenho mulher e marido…!

Tentei empurrar a grande bola de pelo prateado de cima de mim, mas ela era muito pesada e, além disso, macia e fofa. Sedosa e macia. Isso parecia tudo muito bom e gostoso, mas era pesado. Seu peso sobre o meu peito foi o suficiente para fazer meus ossos rangerem. Movê-lo parecia ser algo difícil. Desisti de não ser lambido, pois não havia nada que eu pudesse fazer. Em vez disso, concentrei-me em apreciar a sensação de seu pelo até que o animal cansasse de lamber meu rosto.

E cara, como era fofo. Ou, como dizem as crianças, “fofinho”.

Para ser tão macio assim… Ei, espera… Você usa algum tipo de amaciante, não usa? pensei, apenas para outra voz na minha cabeça responder na mesma moeda. Aww, mas eu não estou usando nada…

 

 

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— Bastardo! O que você fez com a Fera Sagrada?!

— Hein?

Assim que a bola de pelo finalmente pareceu satisfeita, uma voz ressoou. Ainda jogado no chão, olhei para cima, me perguntando se um daqueles contrabandistas havia conseguido sobreviver.

Fui saudado por uma pele cor de chocolate, orelhas de animal e cauda de tigre. Ghislaine…? Não, não era. Eram parecidos, mas não era ela. A parte peluda e a musculosa eram as mesmas, mas havia algo um pouco diferente. A maior característica de Ghislaine estava ausente. O peito – o desta pessoa era plano. Esta pessoa tinha peitorais enquanto Ghislaine tinha seios fartos. Um homem.

O homem levou a mão à boca, como se fosse gritar.

Ah, merda! Ele está prestes a fazer algo. Eu preciso fugir. Mas não posso me mover!

— Cachorrinho, sai. Preciso fugir desse cara! — O cachorro se mexeu.

Eu me levantei e ativei meu olho demoníaco. Pude ver o que estava prestes a acontecer.

O homem ainda está com a mão pressionada contra a boca.

Achei que não fosse fazer nada, mas de repente ele rugiu.

— Graaaaah! — O grito tinha um volume insuportável. Foi um grito muito mais estridente do que qualquer um que já ouvi Eris soltando. O som parecia ter até massa. Meus tímpanos rangeram e meu cérebro tremeu.

Quando percebi o que estava acontecendo, desmaiei. Não aguentei. Isso era ruim. Eu tinha que me curar, mas não conseguia mover minhas mãos. O que diabos foi aquilo, algum tipo de mágica?

Merda. Merda, merda, merda. Eu não poderia usar magia? Tentei canalizar minha mana, mas… não adiantou.

O homem me agarrou pelo colarinho e me ergueu no ar. Ele estava franzindo as sobrancelhas e me elevou ao nível de seu rosto.

— Hm. Ainda é só uma criança. Não consigo te matar.

Ah, eu parecia estar seguro. Graças à deusa. Fiquei feliz por parecer uma criança.

— Gyes, o que foi?

Outro homem apareceu. Ele também parecia com Ghislaine, mas tinha os cabelos brancos. Um homem mais velho.

— Pai. Subjuguei um dos contrabandistas.

— Um contrabandista? Não é uma criança?

— Mas ele estava tentando atacar a Fera Sagrada.

— Hm.

— Ele estava com uma expressão obscena no rosto enquanto a acariciava. Talvez não tenha a idade que parece.

N-não, você está errado. Tenho doze anos. Não sou um homem de quarenta e cinco anos por dentro, pode confiar, protestei balançando a cabeça.

— Woof! — Quando a fera latiu, Gyes e o outro homem se ajoelharam diante dela.

— Peço desculpas. Devíamos ter nos movido antes, mas, em vez disso, nos atrasamos para vir ao resgate.

— Woof!

— E pensar que esse garoto colocaria as mãos sobre vossa santidade… Gah…!

— Woof!

— O quê? Ele não te incomodou? Que benevolente…!

Eles pareciam estar conversando, embora o cachorro só estivesse dizendo “woof woof” o tempo todo.

— Gyes, eu encontrei o cheiro de Tona em um quarto do porão. Ela esteve aqui. Isso é certo — disse o velho.

Quem era Tona? Pelo contexto da conversa, imaginei que fosse uma das crianças do povo-fera.

— Vamos levar esse menino de volta para a aldeia e interrogá-lo. Ele pode tê-los levado para algum lugar. E assim que o fizermos abrir a boca, partiremos novamente e voltaremos a procurar…

— Não temos tempo. O último navio parte amanhã. — Gyes cerrou os dentes.

— Não temos escolha a não ser desistir. Considere que tivemos sorte, já que conseguimos resgatar a Fera Sagrada.

— E o que vamos fazer com isso?

— Leve-o para casa conosco. Ele pode ser uma criança, mas se estava trabalhando com aqueles contrabandistas, então será punida.

Gyes assentiu e amarrou minhas mãos atrás de mim usando uma corda. Então me colocou em seu ombro. O cachorro cambaleou por trás do homem, olhando para mim com preocupação.

Tudo bem. Não se preocupe. Esses caras não parecem ser contrabandistas, disse a mim mesmo. Só vieram até aqui para resgatar aquelas crianças. Então, se eu falar com eles,  vão entender. Só tenho que esperar até que me libertem.

— Hm… — Quando saímos, o velho torceu o nariz. — Ainda há cheiro.

— Cheiro? O fedor de sangue é tão forte que não sei dizer.

— Está fraco, mas é o cheiro de Tona e dos outros. E há mais um. O cheiro daquele demônio.

No momento em que mencionou “aquele demônio”, a expressão de Gyes endureceu.

— Você está dizendo que aquele demônio levou Tona e os outros?

— Difícil dizer. Talvez ele tenha os salvado — sugeriu o velho.

— Sem chances. Não pode ser isso.

Parecia que tinham sentido o cheiro de Ruijerd.

— Gyes. Eu vou seguir o rastro. Você pega o menino e a Fera Sagrada e volta para a aldeia.

— Não, eu vou com você — protestou Gyes.

— Você é muito temperamental. E no final das contas o garoto pode não ser um daqueles contrabandistas, sabe? — Como esperado, as palavras do velho transbordavam sabedoria.

Isso aí, pensei. Eu não sou um contrabandista, por favor, deixe-me explicar.

— Mesmo assim, não há dúvidas de que ele tocou a Fera Sagrada com suas mãos imundas. O garoto cheira como um humano excitado. Por mais inacreditável que pareça, ele mostrou sinais de excitação sexual em relação à Fera Sagrada.

O quê?!

Mas que completa mentira! pensei. Não tenho nenhum interesse sexual por cães! Mas por jovenzinhas… Não! Essa também não é uma boa defesa!

— Nesse caso, jogue-o em uma cela. Mas não coloque suas mãos nele até eu voltar para casa.

— Sim senhor!

O homem mais velho acenou com a cabeça antes de correr em direção da floresta.

Enquanto Gyes o observava partir, me disse:

— Hmph, ele acabou de salvar a sua pele.

Sim, ele realmente o fez.

— Então, Fera Sagrada, vamos correr um pouco. Tenho certeza de que você deve estar exausta, mas…

— Woof!

— Foi o que pensei!

E assim, deitado sobre o ombro de Gyes, fui carregado para o fundo da floresta.

 

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Ponto de vista de Ruijerd

 

Ruijerd estava perto da cidade, mas Rudeus ainda não tinha voltado. Será que se perdeu? Não, ele teria usado magia para enviar um sinal para o céu. Então isso significava que se deparou com problemas? O Superd havia se livrado de todos os humanos naquele prédio, mas talvez o garoto tivesse encontrado algum remanescente que surgiu de um local diferente. Ele provavelmente deveria voltar e verificar, só para ter certeza.

Não. Rudeus não era uma criança. Mesmo se um inimigo aparecesse, ele seria capaz de lidar com os problemas. As defesas do menino podiam ser fracas, talvez porque era jovem, mas não era tão ingênuo a ponto de baixar a guarda em território inimigo.

Além disso, Eris não estava lá, então ele não teria motivos para se preocupar. Se Rudeus usasse toda a extensão de seus poderes, não poderia ser derrotado. O único problema era que estava em conflito sobre tirar a vida de uma pessoa. Se limitasse muito os seus poderes, poderia acabar levando a pior. Não… ele com certeza não era tolo.

Rudeus não precisava de sua preocupação. Ainda assim, Ruijerd ficou preocupado. Se continuasse no mesmo lugar com as crianças, tinha um mau pressentimento sobre o que poderia acabar acontecendo.

Ele havia enfrentado circunstâncias semelhantes em muitas outras ocasiões. Resgatava crianças de mercadores de escravos e tentava devolvê-las à cidade, apenas para ser confundido com um sequestrador. Sua cabeça estava raspada e a joia em sua testa escondida, mas ele ainda tinha dificuldades para escolher as palavras certas. Se a guarnição o detivesse para interrogatório, não tinha confiança em sua capacidade de explicar o que havia acontecido.

Os humanos da cidade certamente cuidariam das coisas se o homem deixasse as crianças ali, certo? Não, Rudeus definitivamente apresentaria algumas objeções se ele fizesse isso.

— Mew, Senhor, sinto muito por antes, mew.

Enquanto ele se preocupava, uma das garotas se aproximou e deu um tapinha em sua perna. As outras crianças pareciam igualmente apologéticas. Nesse momento parecia até que eram elas quem o resgataram.

— Está tudo bem.

Mas já fazia muito tempo desde que ele usara a língua do Deus Fera. A última vez em que a usou… Hmm, quando foi mesmo? Desde a Guerra de Laplace ele não lembrava de ter a usado muito.

— A Fera Sagrada é um símbolo de nossa tribo, mew, então não podíamos simplesmente deixá-la para trás, mew.

— Então é isso. Eu não sabia disso, mas ainda assim, peço desculpas. — Ela sorriu para Ruijerd quando ele disse isso. O homem realmente gostou do modo como as crianças não demonstraram medo diante dele. — Hmm…

De repente, seu terceiro olho sentiu alguém se aproximando em alta velocidade. Sua velocidade era incrível e sua aura era forte. Estava vindo da mesma direção do prédio onde estiveram. Era um aliado dos contrabandistas? Mas parecia ser muito competente para isso. Não pode ser, pensou. Realmente derrotaram Rudeus…?

— Afastem-se. — Ele colocou as crianças em proteção atrás de suas costas enquanto preparava a lança.

O vencedor seria aquele que atacasse primeiro. Ele cuidaria de tudo com um único golpe.

Ou assim pensou, mas o oponente de Ruijerd parou bem perto de seu alcance. Era um homem-fera, segurando uma machadinha grossa na mão. O homem estava claramente cauteloso ao assumir sua postura. Ele era velho, mas tinha um ar calmo, sereno e digno. O ar de um guerreiro. Ainda assim, Ruijerd o mataria se o sujeito estivesse em alguma aliança com aqueles bastardos de antes. Alguém que deixasse algo assim acontecer com crianças de sua própria raça não era um verdadeiro guerreiro.

— Ah, Vovô, mew! — A garota gata falou com o guerreiro velho e correu para ele.

— Tona! Você está bem!

O guerreiro recebeu a garota em seus braços, com uma expressão de alívio cruzando seu rosto. Ruijerd abaixou sua lança. O homem, aparentemente, estava buscando salvar as crianças. O Superd errou ao duvidar dele como guerreiro; era claramente um homem honrado.

A garota com orelhas de cachorro também parecia conhecê-lo e correu até ele.

— Tersena, você também está segura. Fico feliz.

— Aquele homem ali nos salvou.

O velho guardou sua espada. Então se aproximou de Ruijerd e fez uma reverência. Parecia que ainda estava desconfiado do homem, mas isso era de se esperar.

— Obrigado por salvar minha neta.

— De nada.

— Qual é o seu nome?

— Ruijerd. — Superdia, pensou em acrescentar, mas hesitou. Se o homem soubesse que era um Superd, isso o deixaria em guarda.

— Ruijerd, não é? Sou Gustav Dedoldia. Sem dúvidas pagarei por essa dívida. Mas, primeiro, preciso devolver essas crianças aos seus pais.

— Sim, você deve.

— Mas é perigoso andar com crianças por aí à noite. Primeiro gostaria que você explicasse exatamente o que aconteceu. — Ao dizer isso, o homem começou a caminhar em direção à cidade.

— Espere — gritou Ruijerd atrás dele.

— O que foi?

— Você visitou aquele prédio?

— Sim. Um lugar depressivo e fedendo a sangue.

Ruijerd continuou com suas perguntas:

— Não tinha ninguém lá?

— Havia uma pessoa. Um homem com forma de criança. Ele parecia manter um sorriso depravado enquanto acariciava a Fera Sagrada.

Na mesma hora ele notou quem era. Rudeus. Então o garoto ainda mostra aquele tipo de sorriso, pensou.

— É meu companheiro — disse Ruijerd.

— Ah não!

— Você o matou?

Não importava se isso tivesse sido causado por algum mal-entendido. Se Rudeus estivesse morto, Ruijerd buscaria vingança. Mas primeiro entregaria as crianças aos seus pais. Eris também. Isso mesmo… Eris estava sozinha no momento. Isso o preocupou.

— Nós o levamos para nosso vilarejo para interrogá-lo sobre a localização de seus co-conspiradores. Mas vou libertá-lo o quanto antes.

Rudeus, o idiota, baixou a guarda. Aquele garoto… Suas defesas sempre foram fracas, mesmo com sua resiliência mental sendo alta. Então, novamente, Ruijerd não podia falar nada, visto que sua resiliência mental era de terceira classe se fossem comparar.

— Rudeus é um guerreiro. Se você não planeja o matar, então não há razão para se apressar. Primeiro vamos cuidar das crianças.

O povo-fera não costumava fazer o mesmo que os humanos, coisas como tortura não eram opções. Iriam, no máximo, tirar suas roupas e jogá-lo em uma cela. E, bem, Rudeus não se importava em ser visto nu pelos outros. Outro dia, até disse algo estranho para Ruijerd: “Se Eris tentar me espiar enquanto estou tomando banho, não precisa impedir.”

Além disso, Eris era um motivo para preocupação. Rudeus sempre confiou a proteção dela ao Superd. Ele sempre se preocupou mais com a garota do que consigo mesmo. O Superd faria melhor protegendo-a do que perseguindo Rudeus.

— Tenho minhas razões para não expor minha verdadeira identidade — disse Ruijerd. — Mas gostaria que você levasse as crianças ao encontro de seus pais.

— Hm… tudo bem. — Gustav acenou com a cabeça e Ruijerd partiu para a cidade.

 


 

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Vol. 04 – Cap. 06