Roxy Migurdia , a mulher que era mestra de Rudeus, desembarcou de sua viagem marítima na cidade de Porto Vento no Continente Demônio.
Ela parou assim que desembarcou. A paisagem urbana de Porto Vento era muito parecida com a da cidade ao norte de Millis, Porto Zant. Mesmo aqueles que colocavam seus olhos nela pela primeira vez seriam acertados por uma sensação de déjà vu.
No entanto, o déjà vu não era a razão pela qual Roxy fez uma pausa. Era por haver uma clara diferença entre o ar do local e aquele do Continente Millis.
Já faz tanto tempo, pensou. A nostalgia surgiu lá do fundo de seu peito. Quando foi a última vez que ela esteve no lugar? Já deviam fazer cerca de quinze anos. Quando pensou nisso, percebeu quanto tempo havia passado desde que começou a invejar os humanos e fugiu de seu vilarejo.
Naquela época, quando foi parar no Continente Millis e comeu os doces feitos por humanos, ficou chocada em como aquela comida deliciosa poderia existir no mundo. Decidiu então que nunca iria comer comida do Continente Demônio novamente, e que também nunca iria voltar.
Parando para pensar, foi algo meio simplório, pensou.
Na verdade, ela não tinha retornado desde que trocou o Continente Millis pelo Continente Central, e nunca sequer considerou retornar. Havia muita coisa no Continente Central. Tudo o que viu lá era refrescante e excitante, e, antes que percebesse, já havia vivido no Continente Central por tanto tempo quanto viveu no Continente Demônio.
Em todo esse tempo, o Continente Demônio nunca apareceu em sua mente. E, mesmo quando estava desbravando labirintos e enfrentando a morte, não parou para pensar nos pais que havia deixado para trás, no Continente Demônio.
Apesar disso, agora ela havia retornado.
Nunca se sabe aonde a vida vai te levar, pensou.
— Roxy! Estamos indo!
Enquanto ela estava parada, uma mulher a chamou. As orelhas dela espreitavam de uma juba luxuriante de cabelo dourado, da mesma cor de pão recém assado. Era uma elfa, alta e esguia, com uma cintura fina e um traseiro redondo e bonito. O coração de Roxy se enchia de inveja cada vez que via a mulher à distância. Não havia nada que pudesse ser feito; era como os elfos eram, mas ela ainda desejava poder ter um corpo assim. E embora seus bustos fossem semelhantes, a elfa era bem equilibrada e bonita, enquanto Roxy parecia simples e infantil.
— Sim, já vou. — Um suspiro escapou de seus lábios.
O nome daquela mulher magnífica era Elinalise Dragonroad. Ela era uma guerreira elfa, perfeita para a vanguarda na linha de frente. Estava equipada com um escudo e uma estoque, que usava principalmente para atacar com estocadas. Suas habilidades eram tão magníficas quanto sua aparência.
Uma estoque não era uma arma comum entre os aventureiros. No Reino Asura, era usada pelos nobres durante os duelos, e na região norte era usada por guerreiros quando estavam totalmente equipados com armaduras. A que estava na posse de Elinalise era um item mágico encontrado nas profundezas de um labirinto. Era mais resistente do que a maioria das espadas e um único movimento poderia criar um vácuo de vento capaz de derrubar árvores a metros de distância. Seu broquel também era um item mágico com a habilidade de mitigar qualquer ataque que recebesse.
— A-aah… terra firme, é terra firme… — Um anão idoso saiu cambaleando do navio por trás de Roxy. Sua armadura pesada retinia e sua barba enorme balançava enquanto ele se agarrava a uma vara, com o rosto pálido feito um fantasma.
Seu nome era Talhand. Formalmente, era conhecido como Talhand do Arrojado Grande Pico da Montanha. Ele tinha quase a altura de Roxy, com mais de duas vezes sua circunferência. Este homem, com sua barba volumosa e armadura pesada por todo o corpo, era um mago.
Por que um mago estava usando tanta armadura? No começo até Roxy questionou. Mas os pés de Talhand eram lentos e sua agilidade inexistente. Se uma besta o atacasse, ele não teria como escapar. No entanto, com essa armadura volumosa o protegendo, poderia usar magia mesmo na linha de frente.
— Você está bem, Senhor Talhand? Devo lançar alguma cura em você?
— Não, não precisa. — Ele balançou a cabeça para frente e para trás e deslizou seu corpo lento para frente. O anão era normalmente um pouco mais ágil do que isso, mas ficou enjoado e isso o enfraqueceu.
Elinalise colocou a mão no quadril e pigarreou.
— Isso é sério? Que patético. Isso é só um barco.
O rosto de Talhand ficou vermelho de raiva. —
— Você… o que acabou de dizer…?!
Os dois eram rápidos em começar a brigar um com o outro, então cabia a Roxy intervir.
— Vamos brigar sobre isso mais tarde, por favor. Senhorita Elinalise, você não tem que comentar a respeito de tudo. Algumas pessoas são predispostas a enjoar.
Roxy os conheceu na cidade de Porto Leste, no Reino do Rei Dragão. Os dois estavam brigando na Guilda dos Aventureiros e, a princípio, ela os ignorou. No entanto, interveio quando ouviu em meio às brigas que estavam procurando por pessoas desaparecidas da Região de Fittoa e planejavam viajar para o Continente Demônio. Nenhum deles era bom com a geografia do Continente Demônio e, como resultado, tinha opiniões conflitantes. Talhand argumentou que deveriam ir para o Continente Begaritt, uma vez que conheciam a geografia do terreno, ou a parte norte do Continente Central. Elinalise, por outro lado, disse que ainda podiam procurar pessoas, mesmo se não soubessem o caminho, e que sempre podiam contratar alguém assim que chegassem. E havia Roxy, lidando sozinha com sua ansiedade, uma nativa do Continente Demônio. Era quase como se estivesse destinada a encontrá-los.
Enquanto a conversa continuava, descobriu que eram ex-membros do grupo de Paul e Zenith. Eram chamados de Presas do Lobo Negro. Roxy tinha ouvido falar deles. Foi um dos grupos mais famosos de todo o Continente Central: um grupo misto, cheio de membros com uma ou duas peculiaridades e que já foi assunto da cidade. Subiram para o rank S em poucos anos e se separaram logo depois, mas ela se lembrava bem deles.
Ainda assim, nunca percebeu que Paul e Zenith eram membros dos Presas do Lobo Negro. Foi impossível esconder sua surpresa. E os dois ficaram igualmente surpresos com ela. Afinal, era Roxy Migurdia, bem conhecida pelo povo como uma maga da Água do nível Rei, uma jovem garota de cabelo azul, nativa do Continente Demônio. Alguém que entrou na Universidade de Magia e dentro de alguns anos obteve o título de maga de Água de nível Santo, e então atravessou um labirinto nos arredores do Reino Shirone, um que tinha 25 níveis de profundidade. Depois disso, se tornou uma das magas da corte do Reino Shirone.
Um trovador cantou histórias de suas primeiras aventuras, transformando-as em versos que divulgaram ainda mais o seu nome. Era uma história sobre como uma jovem maga deixou sua cidade natal, encontrou três aventureiros novatos e viajou ao redor do Continente Demônio antes de partir para o Continente Millis. Seu nome não aparecia na rima. No entanto, os aventureiros que conheciam a música reconheciam Roxy graças à sua descrição.
Chamar os três (Roxy, Elinalise e Talhand) de um grupo de espíritos semelhantes seria um exagero, mas era verdade que seus objetivos coincidiam. Roxy estava indo para o Continente Demônio para procurar Rudeus, enquanto os outros dois estavam honrando o pedido de Paul para procurar seus familiares. E então formaram um grupo e seguiram para o seu destino.
Embarcaram em um navio tendo o Continente Millis como primeiro destino. Lá, na cidade de Porto Oeste, usaram uma enorme quantidade de dinheiro para comprar cavalos Sleipnir e uma carruagem. A despesa foi grande, mas era o de menos diante do tamanho de suas bolsas.
Evitaram a capital sagrada de Millishion, já que os outros dois não se davam muito bem com Paul. Ambos também tinham má reputação entre seus respectivos parentes, então se mantiveram longe do assentamento da Montanha Wyrm Azul, onde os anões residiam, assim como do assentamento dos elfos na Grande Floresta. Em vez disso, foram direto para Porto Zant.
De acordo com a dupla, a estação das chuvas logo chegaria à Grande Floresta, então deveriam se mover rápido enquanto podiam. Mas com a maneira como forçavam os cavalos a se moverem constantemente, mesmo à noite, parecia que apenas não queriam estar no Continente Millis por um segundo a mais do que o necessário. Roxy presumiu que o verdadeiro motivo era que simplesmente não queriam voltar para casa.
Quaisquer que fossem suas razões, chegaram ao Continente Demônio em tempo recorde, então ela não tinha queixas.
— Primeiro vamos passar na Guilda dos Aventureiros — propôs Roxy, e os três foram nessa direção. A guilda sempre era a primeira parada para os aventureiros.
— Espero que seja um lugar legal!
Roxy fez uma careta diante das palavras de Elinalise. A elfa podia até parecer casta, mas amava os homens. Com aquela silhueta era difícil imaginar, mas provavelmente tinha vários filhos. De acordo com a elfa, tudo isso era parte da maldição que foi lançada sobre ela, mas a mulher não parecia nada ofendida com isso. Na verdade, parecia até gostar. Roxy não conseguia acreditar.
— Senhorita Elinalise, não estamos procurando por homens.
— Eu sei disso.
Não, você não sabe, Roxy fez uma careta. Elinalise podia não ter nenhum problema com sua assim chamada maldição, mas Roxy desejou que ela pensasse no grupo com a qual estava viajando. Estava tudo bem para a elfa fazer o que quisesse em seu próprio tempo, mas esta era uma emergência. Além disso, se engravidasse, isso só atrasaria ainda mais a viagem.
Gostaria que você fosse com um pouco mais de calma, pensou Roxy.
— Talvez você devesse arranjar um ou dois homens e…
— Não posso fazer isso.
Mas se eu fosse tão linda quanto você, quem sabe, pensou amargamente. Infelizmente, nenhum dos homens por quem Roxy havia se interessado a via como mulher. Ela era popular entre as crianças, mas não tinha sorte quando se tratava de homens.
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A Guilda dos Aventureiros do Continente Demônio tinha uma atmosfera única em comparação com sua contraparte no Continente Central. Muitas raças diferentes eram emparelhadas no mesmo grupo.
Quando Roxy entrou, encontrou um grupo que obviamente era de novatos. Três meninos, todos vestidos com roupas de guerreiro. Eles se aproximaram dela timidamente.
— U-um, você… entraria em um grupo com a gente?!
Roxy sorriu ironicamente diante de seu pedido.
— Não, como você pode ver, já estou em um grupo.
Antes de se retirarem, os três sorriram amargamente diante de sua recusa. Não foi a primeira vez que ela foi convidada para um grupo parecido; foi convidada por diversos grupos de três garotos.
O trovador havia dito que escreveria canções sobre ela, mas Roxy nunca esperou se tornar tão famosa.
— Roxy, que tal pensar um pouco? Afinal, você está sendo convidado por ótimos garotos! — Elinalise deu um tapinha na cabeça dela.
Isso acontecia com frequência. Roxy não ia se incomodar em responder a isso. Ela não era uma criança.
— Nossos ranks são bem diferentes. Não há maneira pela qual poderíamos formar um grupo. — Ela estava atualmente no rank A. Os meninos seduzidos pela canção do trovador eram, em média, apenas de rank D. Nunca aconteceu de ser abordada por ninguém que estivesse acima do rank B.
Na primeira vez que recebeu um daqueles convites para um grupo, se gabou de como era a personagem principal daquelas canções, apenas para descobrir que não era nem nomeada nelas, e então ficou envergonhada. Era uma memória que preferia esquecer.
Ela nunca imaginou que o trovador deixaria de reconhecer sua raça. Em vez disso, ele presumiu erroneamente que ela tinha apenas doze anos e havia chegado ao rank A em apenas dois anos. Não apenas isso, mas a versão atual da música era tão dramatizada que dizia que ela viajou pelo Continente Demônio e chegou ao rank A em apenas um ano.
Não se iluda, pensou Roxy. Na realidade, ela levou cerca de cinco anos para chegar ao rank A. Com o Continente Demônio como sua base de operações, subiu ao rank B em três anos. A partir de então, passou dois anos pulando de grupo em grupo. Entretanto, essa ainda foi uma ascenção rápida. Se ela recomeçasse do rank F, poderia conseguir chegar ao rank A em apenas um ano, mas um grupo de crianças sem experiência nunca conseguiria fazer isso.
— Você poderia os moldar em homens que se ajustariam aos meus gostos. Que pena.
As palavras de Elinalise desencadearam um flashback para os três aventureiros novatos que a abordaram naquela primeira vez. Eles se chamavam de Gangue Rikarisu, eram três garotos que a ajudaram depois que ela deixou a aldeia Migurd, quando era nada mais do que uma caipira que não conseguia distinguir a esquerda da direita.
Um deles era muito sarcástico, sempre inventava mentiras para tudo, mas era muito bom em cuidar das pessoas. Outro adorava xingar as pessoas e tinha uma boca suja, mas também era muito determinado. O terceiro era incrivelmente inteligente e mantinha o grupo unido. Ele morreu durante a jornada.
Seu grupo se dissolveu quando chegaram a Porto Vento, mas ela se perguntou: Os outros dois ainda estavam vivos e bem? Depois de se aventurar pelo Continente Central, entendeu o quão severas eram as condições do Continente Demônio. Havia uma grande chance de que já estivessem mortos.
Nokopara e Blaze… Espero que ainda estejam bem. Ela se pegou rindo quando pensou nisso. Já fazia vinte anos. Os dois não tinham expectativa de vida particularmente longa, então talvez já tivessem se aposentado das aventuras há muito tempo. A única que permaneceu igual foi Roxy.
Vamos deixar a saudade para outro momento, decidiu, interrompendo as reminiscências. Ela estava em busca de Rudeus ou sua família.
— Tudo bem, vamos começar a coletar informações — propôs aos outros dois, e começou a verificar o interior da guilda.
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A partir das informações que coletaram, descobriram que o Fim da Linha estava na cidade — um novo e promissor grupo de aventureiros que rapidamente fez seu nome.
Fim da Linha. Não havia nenhuma pessoa no Continente Demônio que não conhecesse esse nome. Mesmo entre os Superds, eram considerados especialmente perigosos, bestas que visavam principalmente as crianças. Quando Roxy era apenas uma criança, sua mãe sempre a ameaçava com esse nome. “Se você não se comportar, o Fim da Linha virá para te levar embora”, ela sempre dizia.
Eles voltaram para a pousada. O rosto de Roxy azedou quando juntaram todas as informações que tinham sobre este “Fim da Linha”.
— É um pouco difícil de acreditar.
— Em qual parte?
— É difícil acreditar que alguém em sã consciência fingiria ser o Fim da Linha.
O que havia de tão assustador nisso? O fato de que o grupo real existia. Aqueles no Continente Central não sabiam disso, mas o nome definitivamente se referia a alguém lá fora. Claro, Roxy nunca os tinha visto, mas todos os rumores que ouviu eram aterrorizantes. Eram as criaturas mais terríveis do Continente Demônio.
A Guilda dos Aventureiros nunca listou seus nomes exatos, por medo de retaliação, mas se houvesse um pedido de extermínio para aqueles demônios, seria definitivamente classificado como rank S. Era o tipo de trabalho que daria o rank S instantaneamente aos aventureiros que o realizasse.
— Eu também não faço ideia — disse Elinalise.
De acordo com as informações que ela reuniu, o homem que afirmava ser o Fim da Linha tinha pele clara, era careca e carregava uma lança consigo. E também era muito bonito.
— Já que disseram que ele é um cara bonito, por que não o convido para minha cama para conseguir mais respostas?
Talhand se curvou e cuspiu com desdém.
— Essa informação é inútil.
De acordo com o que Talhand havia descoberto, o Fim da Linha era um grupo de três pessoas. Eles se referiam a si próprios, respectivamente, como Cão Louco Eris, Cão de Guarda Ruijerd e Mestre do Canil Ruijerd. Os dois últimos eram irmãos. O Cão Louco tinha cabelo ruivo, o Cão de Guarda era um varapau e o Mestre do Canil era um baixinho. O Cão Louco usava uma espada, o Cão de Guarda uma lança, e o Mestre do Canil um cajado que aparentemente era um item mágico. A reputação deles não era lá muito boa.
— O Cão Louco perde a paciência bem rápido, e o Mestre do Canil só faz coisas horríveis. Mas, pelo visto, o Cão de Guarda não é um cara mau. Ama crianças, tem um forte senso de justiça e se recusa a fechar os olhos ao mal.
Essa é uma avaliação muito estranha para as pessoas fazerem, pensou Roxy. Talvez o próprio grupo tenha criado os rumores. Se um grupo de malfeitores fizesse algo de bom, isso se espalharia como um incêndio. Mas, pelo visto, não eram apenas violentos, mas também astutos e espertos.
— Um bando perigoso. Vamos nos certificar de evitá-los.
— Aye — concordou o anão. — Não precisamos chamar a atenção do tipo de gente errado quando deveríamos estar procurando por pessoas.
— Tudo bem, então vamos passar para a agenda principal — disse Roxy, redirecionando a conversa. O propósito de irem para a Guilda dos Aventureiros não tinha sido reunir informações sobre o Fim da Linha. — Houve algum boato sobre pessoas da Região de Fittoa?
— Nenhum — disse Talhand.
— Não, não ouvi nada — falou Elinalise.
Devemos estar atrasados demais, pensou Roxy.
O Continente Demônio não era o tipo de lugar tranquilo no qual alguém poderia sobreviver ao ser teletransportado sem o equipamento adequado. Era uma terra onde simplesmente sobreviver durante um ano poderia ser difícil, mesmo para os habitantes locais. Além disso, já havia se passado um ano desde o deslocamento da Região de Fittoa.
Aqueles que foram teletransportados podiam já ter morrido.
— As pessoas que estamos realmente procurando são a família de Paul.
— Então são Zenith, Lilia, Aisha e Rudeus.
Roxy ensinou Talhand e Elinalise como eles poderiam identificar cada um deles. Aisha era a única sobre a qual não sabia nada, porque só soube sobre ela através das cartas de Rudeus.
— Bem, Zenith deve estar bem — disse Elinalise.
— Sem dúvida.
Os dois conheciam Zenith, então não expressaram nenhuma preocupação. Roxy, por outro lado, não sabia o quão capaz a mulher era, mas confiava nesses ex-membros do Presas do Lobo Negro que a apoiaram. Se Elinalise e Talhand achavam que Zenith ficaria bem, então ela ficaria bem.
— Rudeus também se destaca muito, então devemos ser capazes de encontrá-lo facilmente. — Roxy se lembrou do talento avassalador que seu pupilo de cinco anos demonstrara. Ele certamente seria o assunto da cidade, não importa aonde fosse.
Zenith e Rudeus seriam os mais fáceis de encontrar se saíssem em busca de informações. Eles também tinham a força para sobreviver no Continente Demônio, desde que pousassem em algum lugar perto da civilização. Por isso, desde o começo, priorizaram encontrar informações sobre Lilia e Aisha.
— Vamos definir um prazo. Dois dias para reunir o máximo de informações possível sobre Lilia e Aisha, depois, no terceiro dia, faremos os preparativos para ir aos outros assentamentos na área. Isso soa como um bom plano?
— Não será meio cedo?
Roxy balançou a cabeça diante das palavras de Elinalise.
— Há uma grande probabilidade de que já estejam mortos, e o Continente Demônio é grande. Faremos uma única passagem pelas principais cidades e colocaremos solicitações de busca por pessoas desaparecidas em cada guilda que encontrarmos ao longo do caminho.
O Reino Asura cobriria os custos incorridos durante a busca por residentes da Região de Fittoa. Contanto que seu grupo submetesse solicitações em cada guilda, a recompensa pela conclusão bem-sucedida seria fornecida pelo Reino Asura, então poderiam ficar tranquilos quanto a isso. Não era um processo automatizado, já que a guilda exigia que alguém assinasse um formulário de solicitação antes de poder publicá-lo. Por outro lado, se a guilda não postasse os pedidos, então o Reino Asura não teria razão para pagar qualquer coisa.
Roxy se sentiu genuinamente irritada com a forma atroz como o Reino Asura estava lidando com um desastre tão grande. Possuíam um enorme poder, então ela achou que deveriam tomar ações mais proativas. Na verdade, as únicas pessoas que realmente participaram dos esforços de busca foram Paul e as pessoas ligadas a ele. Em outras palavras, apenas aqueles afetados pelo desastre.
Parece que toda aquela conversa sobre o círculo interno do Reino Asura ser corrupto era mais do que um boato, pensou. Era o país com a história mais longa do mundo, então ainda estava se mantendo, mesmo com a deterioração de seu poder e tradições.
— Tudo bem, amanhã vamos nos ocupar com a coleta de informações.
— Certo, faremos isso!
— Entendido.
Roxy não era do tipo que enrolava com as coisas. Não importa onde estivesse, nunca perdia tempo. Ela sempre terminava as coisas rapidamente e então partia. Essa parte de sua personalidade transpareceu quando inicializou Rudeus, ensinando-lhe sua técnica especial e imediatamente partindo para outro lugar. Tomar decisões rápidas era seu forte, mas também parte do motivo pelo qual Rudeus a via como uma cabeça de vento. Outros haviam apontado para essa sua característica, mas Roxy ainda considerava isso um ponto forte.
Foi por isso que definiu um cronograma para enviar um pedido à guilda no primeiro dia, pesquisar no segundo e partir no terceiro. Uma programação rápida e concisa, sem furos. Se ficassem por uma semana, os resultados poderiam ser um pouco diferentes.
No segundo dia, a curiosidade de Roxy tomou conta dela e ela foi ver o que o Fim da Linha estava fazendo. O grupo deles se destacava, então foi fácil encontrá-los.
Dois deles estavam diligentemente treinando na praia. Como dizia sua informação, um era um varapau careca, enquanto o outro era uma jovem ruiva. Ela empunhava a espada com as duas mãos o tempo todo, balançando-a em uma velocidade assustadora enquanto o careca aparava os ataques sem qualquer dificuldade.
Sua informação dizia que o Fim da Linha era um grupo de três pessoas, com uma pessoa alta e duas baixas. Parece que o pequeno Mestre do Canil não está com eles, pensou.
O Cão de Guarda e o Cão Louco continuaram seu confronto testando ataque contra defesa em alta velocidade. Talvez confronto não fosse a palavra certa, visto que o Cão de Guarda simplesmente desviava os ataques do Cão Louco, mas as técnicas que ele usava estavam além do nível de Roxy.
Ela os observou de longe, espiando por trás da sombra de uma rocha. Era quase como se isso fosse um jogo de beisebol profissional e ela fosse a irmã mais velha de um arremessador que usava bolas de magia como sua arma na batalha.
Os dois eram fortes, até mesmo para Roxy, que havia viajado pelo mundo como uma aventureira. Essa não era uma força que poderia ser alcançada apenas pela técnica.
No final das contas, poderia acabar sendo bom entrar em contato com eles.
Assim que ela pensou isso, o Cão de Guarda olhou por cima do ombro.
Ah…!
Parecia que seus olhos se encontraram. Seu olhar era tão intenso que deu a Roxy um indescritível sentimento de terror. O suficiente para lhe dar a ilusão de que era uma presa sendo caçada.
Ela fugiu na mesma hora.
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Ruijerd a sentiu desde o início. Ele não tinha certeza do que ela queria, ou se estava apenas assistindo. Quando casualmente olhou em sua direção, viu o rosto de uma garota espreitando por trás de uma pedra.
Não, não uma garota, percebeu. Uma mulher Migurd adulta. Ele não poderia dizer só de relance, mas não havia como enganar o terceiro olho de Ruijerd. O homem não reconheceu a presença dela, mas também existia mais de um assentamento Migurd.
Ele percebeu que ela provavelmente estava apenas olhando por curiosidade, mas quando olhou para trás, a mulher se virou e saiu correndo para algum lugar. Hm. Eu a assustei? se perguntou.
Ruijerd baixou a guarda por um momento, e Eris atacou. Foi um ataque contendo todo o seu poder.
— Guh!
Depois de trocar três golpes, Eris atingiu as costas da mão de Ruijerd e o fez largar a espada.
— Yay! Eu fiz isso?! Eu fiz isso, certo?! Siiiim! — Eris pulou e balançou as duas mãos esbanjando alegria.
Ultimamente, suas habilidades estavam começando a tomar forma. No futuro, certamente seria uma boa espadachim, mas agora ainda era jovem. Se pensasse muito de si mesma nesse momento, no futuro isso poderia acabar resultando em um desastre. O homem não planejava deixá-la vencer uma luta por um bom tempo, mas aquela garota Migurd chamou sua atenção e ele baixou a guarda por um momento.
Ruijerd soltou um suspiro, baixo o suficiente para que Eris não ouvisse.
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Roxy olhou por cima do ombro inúmeras vezes enquanto corria de volta para a pousada. O tempo todo, temia estar sendo seguida e que um ataque pudesse estar chegando. Se fosse lutar contra alguém daquele calibre, precisava preparar um cristal mágico. Ela podia precisar até mesmo de um círculo mágico desenhado em um pergaminho.
Não parecia que iriam atacar só porque ela estava os observando, mas se eram loucos o suficiente para se chamarem de Fim da Linha, Roxy queria estar preparada.
— Aah! Sim! Bem aí! Mais forte, mais forte!
Ela ficou exasperada ao ouvir os gemidos de Elinalise por trás da porta. A elfa nem se preocupou em reunir informações; simplesmente encontrou um homem para trazer para a pousada com o qual pudesse se divertir.
— Sério…?
Talhand já havia mencionado o hábito de Elinalise, o de levar homens para o quarto. Independentemente das circunstâncias, a elfa sempre se apaixonaria por algum homem que conhecesse e passaria a noite com ele. Isso incluía seu tempo em Porto Zant. De acordo com Talhand, ela fez isso até quando estavam nas profundezas de um labirinto. A mulher não tinha princípios.
Ao mesmo tempo, Roxy se sentiu um tanto aliviada. Ela teria se sentido desamparada se tivesse sido deixada sozinha. Enquanto Elinalise estivesse no quarto vizinho, poderia se preparar para a batalha e esperar. Assim que a elfa terminasse, Roxy a agarraria pela orelha e sairia para retomar a coleta de informações. Dessa forma, também poderia ficar de olho na mulher, efetivamente matando dois coelhos com uma cajadada.
Mas duvido que viriam até a pousada, pensou, ao entrar em seu quarto para conduzir os preparativos para a batalha.
As paredes não eram particularmente finas, mas ainda podia ouvir os gemidos de Elinalise ressoando. Ouvi-los a deixou com um humor estranho.
Não, pare aí, pensou, e agarrou a mão direita com a esquerda bem no momento em que estava pensando em fazer alguma coisa. Ela não tinha tempo para isso agora.
Eles já estão fazendo isso há bastante tempo, pensou quando três horas se passaram. Roxy continuou esperando em silêncio. Parecia que o encontro de Elinalise jamais acabaria. Certo, também não havia indicação de que o Fim da Linha iria lançar qualquer ataque contra eles.
Roxy se sentiu uma idiota. Ela não só não conseguia fazer o que precisava, como também não conseguia expressar sua frustração por Elinalise ser tão egoísta. Foi especialmente enfurecedor, pois, ao contrário da elfa, Roxy estava demonstrando autocontrole e dizendo a si mesma que agora não era hora de se ocupar.
Quando sua raiva atingiu o auge, ela finalmente arrombou a porta de Elinalise.
— Por quanto tempo você vai continuar fazendo isso! Deveríamos estar reunindo…
— Ah, nossa! Roxy? Quando você voltou?
— Ah… eh?
Havia cinco homens dentro do quarto.
— Quer participar?
O cheiro de homem estava forte. Todos tinham sorrisos vulgares e Elinalise estava montada em cima de um deles, parecendo estar no auge do êxtase. O fato de haver várias pessoas, e de todas estarem de acordo com isso, estava além da compreensão de Roxy.
— Uh, o qu…
A cena diante dela era tão repreensível que a maga não conseguiu nem processar.
— Aaaaaaaaaaaaah!
Roxy soltou um grito inútil ao sair correndo do quarto. Ela voou para o primeiro caminho que encontrou, completamente sem fôlego e segurando seu cajado.
— Ó, espíritos das magníficas águas, suplico ao Príncipe do Trovão! Com sua majestosa lâmina de gelo, mate meu inimigo! Explosão de Sincelo!
A pousada ficou parcialmente destruída.
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No outro dia, partiram da cidade. Mal conseguiram reunir informações depois de tudo o que aconteceu e se esqueceram de enviar um pedido à guilda. Também destruíram uma pousada, o que lhes custou uma quantia considerável.
— Isso é tudo culpa da Senhorita Elinalise.
— Você não pode me culpar. Eu estava em um beco coletando informações quando me procuraram com seu apelo apaixonado.
— Mesmo assim, eram cinco… cinco pessoas, sabe?! — Roxy lembrou.
— Algum dia você vai entender. Uma aventureira forte e bonita como eu sendo subjugada e tratada como um brinquedo sexual por cinco daqueles bandidos? Ah, só pensar nisso já é o suficiente para me deixar grávida.
— Eu não quero entender.
Quando Roxy estava na Universidade de Magia, ainda era uma criança e não entendia o apelo de ter um amante ou ser casada. A primeira vez que pensou em querer algo assim foi quando viu como Paul e Zenith eram íntimos um com o outro. Foi quando finalmente decidiu que queria o mesmo para si mesma.
Ainda assim, como? Ela se perguntou na época. Então se lembrou do que uma conhecida da universidade lhe disse. Essa conhecida conheceu seu marido nas profundezas de um labirinto. A luta compartilhada e a maneira como a superaram levou ao casamento.
É isso, pensou Roxy. Se eu mergulhar em um labirinto, também devo ser capaz de encontrar um parceiro.
Essa fantasia tomou proporções cada vez maiores em sua cabeça. Ela iria de alguma forma esbarrar em alguém que era alto, viril e elegantemente vestido – um jovem homem com um apelo juvenil – nas profundezas de um labirinto, e ele a salvaria. Então os dois combinariam suas forças para escapar e, ao fazê-lo, seu amor germinaria e floresceria. O jovem descobriria que um de seus amigos havia morrido e Roxy o confortaria. Essa seria sua primeira noite juntos.
Mas quando realmente foi para um labirinto, essas fantasias foram rapidamente destruídas. Um labirinto era um lugar hostil, e os aventureiros que entravam nele eram muito brutos. A única pessoa de aparência jovem entre eles era a própria Roxy.
No quinto andar, não havia mais nenhum aventureiro solitário. No décimo, ela decidiu que as coisas estavam difíceis o suficiente para que precisasse de um grupo, mas as pessoas zombavam dela por sua aparência infantil e riram dela inúmeras vezes. Depois disso sua teimosia aumentou e ela continuou fazendo tudo sozinha. Ah, a estupidez da juventude. Roxy chegou perto da morte várias vezes, mas teve a sorte de escapar de suas garras. Ela nunca mais queria passar por aquilo.
— Bem, de qualquer forma, você devia encontrar seu primeiro homem logo. Que tal isso? Da próxima vez, nós duas podemos…
— Definitivamente não.
O sonho foi destruído. Ainda assim, ela mantinha alguma esperança. Talvez fosse impossível encontrar algo bom dentro de algum labirinto, mas ela ainda poderia acabar se apaixonando do método normal e tendo um casamento normal. Nesse meio tempo, não tinha absolutamente nenhuma intenção de entregar seu corpo a um homem cujo nome não sabia só porque Elinalise conseguiu atraí-lo.
— Além disso, não tenho tempo para tudo isso. — Bem, Roxy decidiu que era melhor ficar sozinha enquanto vagava pelo Continente Demônio.
Foi assim que deu o primeiro passo errado e começou sua aventura pelo Continente Demônio.
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