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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 14 – Cap. 02 – Uma Audiência com Perugius

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O homem no trono exalava uma presença dominante. Ele tinha cabelos prateados brilhantes e pupilas douradas que eram pequenas, mas penetrantes. Havia um ar de realeza nele.

Então este é o Rei Dragão Blindado Perugius.

Minhas pernas começaram a tremer no momento em que coloquei os olhos nele. Eu soube na mesma hora o que estava me assustando. Ele é assustadoramente semelhante ao homem de cabelo prateado que me matou, de quem eu nunca esqueceria. É verdade que suas roupas, estilos de cabelo e características faciais eram todos diferentes, mas havia algo inconfundivelmente semelhante em Perugius e o Deus Dragão Orsted.

— Dêem um passo à frente — comandou Sylvaril.

Nanahoshi liderou o grupo, com Ariel logo atrás dela. Fui atrás delas, como se quisesse me esconder.

A câmara era vasta, com um teto alto e pilares que se assemelhavam a árvores enormes. Um lustre deslumbrante lançava luz em nós. A extravagância quase desequilibrou meu queixo. As paredes estavam enfeitadas com estandartes pintados com emblemas complexos. Alguns reconheci, como o brasão do Reino Asura e do País Sagrado de Millis. Outros pareciam familiares, mas havia alguns que nunca tinha visto.

Onze homens e mulheres se alinhavam de cada lado do tapete de veludo que estávamos atravessando. Estavam todos vestidos de branco, com apenas os modelos de suas roupas sendo ligeiramente diferentes. Mas cada um usava uma máscara diferente. Algumas foram moldados a partir de animais, outras cobriam apenas os olhos, lembrando a viseira que o Ciclope dos X-Men usava. Tinha alguns que usavam um capacete que os fazia parecer uma espécie de policial robô, e outros tinham o que quase parecia um balde na cabeça.

Deviam ser os doze familiares de Perugius. Não que a palavra realmente se encaixasse, já que todos pareciam humanos. Arumanfi, no entanto, tinha sido páreo para Ghislaine em combate. Isso provavelmente significava que todos tinham poderes no mesmo nível de um Rei da Espada. Definitivamente, não queria torná-los inimigos. É melhor tomar muito cuidado com a maneira como falo, apenas para garantir.

— Por favor, pare aí — disse Sylvaril.

Nanahoshi congelou no lugar.

O trono ficava a duas pequenas escadas e a dez passos de onde estávamos. Perugius olhou silenciosamente para nós. Mais especificamente, eu tinha certeza de que ele estava olhando para mim. Nossos olhos pareceram se encontrar e um calafrio percorreu meu corpo.

Sylvaril passou lentamente por nosso grupo e subiu as escadas, tomando seu lugar à direita de Perugius. Arumanfi estava à sua esquerda. O resto dos familiares se alinharam de cada lado de nós.

Perugius manteve seu olhar fixo em nós enquanto dizia lentamente:

— Eu sou o Rei Dragão Blindado, Perugius Dola.

Ele disse Dola! Igual à pirata do ar?! Espera, não. Castelo no Céu não tem nada a ver com isso.

— Já faz um tempo, Lorde Perugius. Eu vim, como prometi.

Nanahoshi abaixou a cabeça enquanto falava. Era raro ela se curvar assim e falar tão respeitosamente. Notei que Ariel estava fazendo o mesmo, enquanto Luke e Sylphie estavam ajoelhados. Hesitei sobre como deveria mostrar respeito, mas decidi fazer uma reverência normal, ao estilo japonês!

— Então você voltou, Nanahoshi.

Havia algo tão poderoso e intimidante em sua voz que senti um arrepio percorrer minhas costas. O medo ameaçou me engolir por inteiro. Meu coração batia tão forte que sofri para respirar. O suor escorreu pela minha testa. Isso é meio incrível. É como se ele realmente fosse um rei.

— Presumo que isso signifique que você encontrou uma maneira de invocar coisas de outro mundo?

— Sim — disse Nanahoshi. — Mas não tenho certeza se os resultados são os que você desejava.

— É a busca pelo conhecimento que dá um propósito a nós, o povo dragão, não as conquistas em si.

Espera, povo dragão? Então ele é um daqueles dragões?

Eu nunca tinha pensado muito nisso, mas até que fazia sentido. Deus Dragão, Rei Dragão Blindado. Eles não eram humanos. Eram dragões. Agora fazia sentido porque Orsted e Perugius se pareciam; eles eram da mesma espécie.

Imperturbável, Nanahoshi continuou sua conversa com Perugius. Ele foi surpreendentemente amigável com ela. Pelo menos o tempo que passou confinado neste castelo não o transformou em um velho rabugento.

— Como combinamos, gostaria que você me ensinasse sobre a magia de invocação neste mundo.

— Que seja — disse ele.

Os dois deviam ter feito um acordo muito antes disso. Nanahoshi estudaria como invocar objetos de outro mundo e, uma vez que seu trabalho desse frutos, iria compartilhar o que descobriu com Perugius. Por sua vez, ele iria ensiná-la sobre os mistérios da magia de invocação deste mundo.

— A propósito, este grupo que trouxe é bastante grande. Quem são essas pessoas?

— Na verdade, ajudaram na minha pesquisa. Os trouxe para visitá-lo como uma recompensa por sua ajuda.

— Ah. — Perugius soltou um suspiro entediado.

Chamar isso de recompensa não caiu bem para mim, mas ela não estava totalmente errada.

— É um prazer conhecê-lo — disse Ariel, dando um passo à frente. — Sou Ariel Anemoi Asura, a segunda princesa do Reino Asura. Fico honrada em estar na presença de alguém tão grande quanto você, meu lorde.

— Ariel Anemoi Asura, você disse?

— Sim, espero que possamos nos conhecer melhor em breve.

Ele bufou.

— Eu já sei quem você é. Você perdeu aquela batalha suja e dissimulada pela coroa que estão travando em Asura, mas se recusa a ceder. Em vez disso, está arrastando todos ao seu redor para as águas lamacentas do conflito. Garota tola.

Luke ergueu a cabeça. A raiva turvou sua expressão, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Ariel levantou a mão para detê-lo. Ela conteve a voz enquanto respondia:

— Essa é uma maneira dura de ver as coisas, mas você está correto. — Seus lábios se curvaram em um sorriso suave enquanto ela o olhava fixamente, sem vacilar.

— Suponho que você veio aqui esperando que eu lhe emprestasse minha força.

— De forma alguma. Você é um herói de renome mundial. Simplesmente queria te conhecer.

— Hmph. Posso ver através do seu teatro.

Como sempre, a voz dela exalava carisma, mas seu rosto havia perdido toda a cor. Um suor frio gotejou em sua pele. Perugius a leu como um livro aberto e claramente não teve uma boa impressão. Ela estava lutando para lidar com isso.

Perugius olhou para ela, sorrindo como se estivesse zombando de uma criança mal-comportada.

— Mas você veio aqui. Isso também deve ser o destino. Te darei uma chance. Você pode ficar aqui no meu castelo.

— F-Fico… grata por sua generosidade. — Ariel curvou-se uma vez antes de recuar. Sua expressão se dissolveu em alívio, mas ainda havia ansiedade em seus olhos.

 

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— Bem, então, e você?

Depois que Ariel deu um passo para trás, o olhar de Perugius mudou para mim. Era como se ele me considerasse o segundo na classificação após ela. Então olhei para o resto e percebi que todos os outros estavam sobre um joelho. Os únicos em pé eram Nanahoshi, Ariel e eu. Era natural que sua atenção se direcionasse a mim.

Coloquei a mão no peito e baixei a cabeça novamente.

— Prazer em te conhecer. Meu nome é Rudeus Greyrat.

— Rudeus Greyrat? — Ele falou meu nome como se estivesse ruminando. — Tive muitos problemas para te teletransportar para cá.

Inclinei minha cabeça, confuso.

— Normalmente, ao usar magia de teletransporte, você não pode invocar alguém com mana superior à sua. — Ele fez uma careta. — Sua mana parece bastante com a de Laplace. Se você estivesse determinado a resistir, eu provavelmente não poderia te teletransportar.

— Ah. Bem, peço desculpas pelo incômodo.

Laplace era o Deus Demônio que Perugius selou há 400 anos. Cada vez que alguém avaliava minha magia, sempre o mencionavam. Acho que nossa mana devia ser bem parecida.

— Não importa, mas te aviso a não tentar usar essa sua magia repulsiva no meu castelo.

— Eu nem sonharia com isso — falei.

Era como se ele estivesse tentando me convencer a não tentar qualquer coisa estúpida. Não, era mais do que isso – era um aviso. Mas por que estava tão desconfiado de mim? Eu não costumava ficar furioso sem motivo. Nem quando tenho motivos costumo ficar.

Ah, talvez ele se lembre do que aconteceu pouco antes do Incidente de Deslocamento. Especificamente, da parte em que Arumanfi tentou me matar. Talvez pensasse que eu guardava rancor e este era seu pedido para tratar isso como águas passadas.

— Hm, se isso é sobre o que aconteceu antes do Incidente de Deslocamento, eu não tenho nada contra você. Então…

— Hm? Do que você está falando? — Perugius inclinou a cabeça.

Arumanfi apareceu ao lado dele em um piscar de olhos, sussurrando os detalhes ao seu ouvido.

— Ah sim, agora me lembro. Havia um garoto tentando lançar magia no céu… protegido por uma Rei da Espada. Então aquele garoto era você, hein?

Ele não lembrava. Bem, isso significava que eu tinha me encrencado ainda mais. Abordar isso do nada foi como anunciar que eu tinha algum rancor. Pelo menos não parecia que usariam isso contra mim. Afinal, eu não tinha feito nada de errado… tinha?

— Rudeus Greyrat, pelo que ouvi, também é o nome da pessoa que conseguiu ferir Orsted.

Se por “ferir” ele quis dizer que dei a Orsted o equivalente a um corte feito com papel, então sim. Ele e Orsted devem ser conhecidos, para que saiba tanto. Achei que era esse o caso. Orsted era o único elo comum entre Nanahoshi e o rei deste castelo flutuante. Parece que eu estava certo.

— Aqueles com talentos como você, às vezes, confiam demais em suas habilidades. Ser capaz de ferir o Deus Dragão sem dúvidas te deu um ego extremamente inflado. No entanto, se escolher lutar comigo, a morte é tudo o que o espera.

Naquele instante, seus familiares começaram a irradiar sede de sangue. Pare, por favor. Não quero brigar com nenhum de vocês. Só vim aqui para aprender a respeito da doença de Zenith e compreender um pouco sobre magia de invocação.

Talvez Perugius tivesse a impressão equivocada de que eu lutei com Orsted como um igual e foi assim que o feri. Ainda assim, ele tinha doze familiares presentes. Eu sabia quais eram suas habilidades, mais ou menos, apenas pelo que tinha lido nos livros. Isso não era o mesmo que vê-los em ação no campo de batalha. Além disso, os números sempre eram uma grande vantagem em uma luta. Isso era o que tornava os zumbis tão assustadores: eram fracos por conta própria, mas em grande número, podiam facilmente dominar os outros. Se Arumanfi servisse de parâmetro, então os outros também seriam pelo menos tão capazes quanto Ghislaine. Para não falar das habilidades que o próprio Perugius possuía, ele sem dúvidas também era forte. Não havia como sobreviver enfrentando todos eles. Eu também não tinha intenção de fazer isso.

— Claro, não tenho intenção de tentar me opor a você, Lorde Perugius — falei.

— Sábia decisão. Gosto de pessoas inteligentes. Os tolos apenas cegam os outros, mas os inteligentes ajudam uns aos outros a crescer.

Em outras palavras, “pessoas inteligentes” eram aquelas que não se opunham a ele. Eu não me considerava do tipo inteligente, mas sou esperto o bastante para não começar uma briga com ele.

— Lorde Perugius. — Nanahoshi interrompeu. — Se me permite, hm… a enorme reserva de mana dele tem sido de grande ajuda em minha pesquisa. Ele não é inimigo. Você poderia, por favor, tratá-lo com um pouco mais de gentileza?

Eu sabia que podia contar com você para intervir! Sim, isso aí. Não tenho interesse em fazer inimigos. Vamos nos dar bem uns com os outros.

— Hm. — Perugius balançou a cabeça. — Muito bem, então serei “gentil”. Já que você ajudou Nanahoshi, o que deseja em troca? Dinheiro? Ou é poder que você busca?

Sua voz soou monótona, como se ele estivesse entediado com a conversa. Ele concordou em me tratar como hóspede, pelo menos, mas as pessoas geralmente eram tão hostis com alguém que tinham acabado de conhecer? Parecia especialmente desagradável, já que eu estava sendo tão respeitoso.

Não importa. Seria melhor fazer a pergunta que estava em minha mente.

— Se eu puder… Tenho uma coisa que gostaria de perguntar.

— O quê?

— É sobre a doença da minha mãe. — Passei a explicar os detalhes da condição de Zenith.

— Entendo. — Ele acenou com a cabeça depois que eu terminei de falar. — Ouvi dizer que existem velhos labirintos por aí que levam as pessoas em cativeiro. Essa pessoa se torna o “coração” do labirinto, permitindo que ele funcione. A mana que flui através dela, como resultado disso, a transforma. Todos perdem suas memórias, sem exceção, e em troca, seu corpo é infundido com um poder misterioso.

— Um poder misterioso? — repeti, confuso.

— Acredito que vocês chamam essas pessoas de Criança Amaldiçoada ou Criança Abençoada.

Então Zenith tinha uma maldição sobre ela? Uma que não a permitiria rir ou chorar?

— Mas por que esses labirintos usam pessoas?

— Não sei. Existe uma teoria de que os demônios antigos deram à luz a esses labirintos e suas criaturas em uma missão para criar um paraíso para eles. O cristal mágico no centro desses labirintos distribui mana a todos os seus habitantes. Lá, podem prosperar sem nunca passar fome. Não seria surpreendente se esses labirintos mais antigos levassem humanos em cativeiro para aumentar sua eficiência.

Então, os antigos demônios tentaram criar um paraíso onde nunca morreriam de fome? Pensando bem, havia um monte de monstros no labirinto de teletransporte. O lugar estava praticamente infestado por aqueles Demônios Vorazes assustadores. Imaginei o motivo pelo qual poderiam estar infestando aqueles túneis, mas essa explicação fazia sentido.

Mas, espera aí. Roxy disse que estava ficando sem mana no labirinto. Então, obviamente, é exagero dizer que estivesse dando mana para aqueles que o habitavam. A menos que os monstros tenham alguma forma de absorver mana do espaço vazio ou algo assim, não?

Bem, nada disso realmente importava no momento. Zenith era minha prioridade.

— Você conhece alguma maneira de curar minha mãe?

— Não sei os detalhes, entretanto… — A voz de Perugius cessou quando ele lançou um olhar para alguém atrás de mim. — Há uma mulher cujo destino seguiu um caminho semelhante. Uma que segue viva até hoje. Se é informação que você busca, ela seria a mais bem informada.

Segui seu olhar para a elfa com cabelos loiros deslumbrantes em nosso grupo.

Elinalise lentamente ergueu a cabeça.

— Elinalise Dragonroad, uma de minhas companheiras salvou você de um labirinto há cerca de 200 anos.

— Isso mesmo — disse ela.

— Você é a elfa que perdeu suas memórias. Já te encontrei antes. Você com certeza cresceu. Esqueceu de mim?

— Não, não esqueci. — Ela evitou olhar para mim, uma expressão estranha em seu rosto.

Mas o que diabos estava acontecendo? Isso significava que Elinalise tinha passado pela mesma coisa? Alguém a resgatou de um labirinto há 200 anos? Espera, calma aí. Eu não sabia sobre isso.

— Por que não conversou sobre isso com ele? — perguntou Perugius. — Já que vocês dois estão juntos aqui, suponho que devem se conhecer.

— Sim, mas…

— Você experimentou isso pessoalmente. Sabe mais sobre o assunto do que qualquer outra pessoa saberia.

As palavras dele acalmaram o protesto dela, mas ela permaneceu decidida na próxima vez que falou.

— Nunca recuperei minhas memórias. Não disse nada porque pensei que o caso de Zenith poderia ser diferente.

Seu rosto se contorceu de dor, apesar de quão bravamente ela falou. Cliff gentilmente passou o braço em volta do ombro dela. Fiquei confuso demais para falar. Claro, eu realmente achava que Elinalise tinha agido um pouco estranho naquela época, mas nunca imaginei que tal coisa também tivesse acontecido com ela.

— Sinto muito. Senti que precisava te dizer, mas você tem estado tão feliz que hesitei em tocar no assunto. Além disso, a maldição de Zenith não é um perigo para a vida dela. Pensei que ela talvez fosse uma Criança Abençoada ou que, caso se recuperasse, não haveria nenhum efeito adverso.

Ela continuou balbuciando desculpas, e fiz tudo o que pude para reunir forças para dizer:

— Podemos discutir isso mais tarde.

— Certo.

Eu não tinha intenção de culpá-la, sério. Ela podia não ter compartilhado sua história, mas deu alguns conselhos sobre a condição de Zenith quando estávamos no Continente de Begaritt. Na época, achei que ela estava apenas compartilhando a sabedoria que acumulou ao longo dos anos, mas, aparentemente, estava falando por experiência própria.

Conhecendo Elinalise, ela provavelmente tinha seus motivos. Talvez tivesse pensado que Zenith poderia ser diferente, que ela conseguiria recuperar suas memórias. Ou talvez simplesmente não quisesse torcer a faca depois que eu já havia perdido Paul. Ela só manteve isso para si mesma por consideração a mim, eu tinha certeza. Ainda assim, gostaria que ela tivesse falado um pouco mais sobre a maldição que poderia estar afetando Zenith.

— Mais alguma coisa? — perguntou Perugius, desinteressado.

Balancei minha cabeça.

— Não.

A conversa durou apenas alguns minutos, mas me deixou exausto, como se estivéssemos conversando por horas. Ainda havia mais o que eu queria perguntar: sobre magia de invocação, por exemplo, ou a Guerra de Laplace ou o Incidente de Deslocamento, mas meu cérebro estava tão cheio. Não poderia inserir mais nenhuma informação, mesmo se quisesse.

— E quanto a vocês? Existe alguma coisa que desejam?

Zanoba se levantou.

— Você me permitiria fazer uma pergunta?

— E você é?

— Peço desculpas por não me apresentar antes. Sou Zanoba Shirone, terceiro príncipe do Reino de Shirone.

— Um príncipe, hein? E você também deseja meu apoio para que possa assumir o trono de seu país?

— Não, tal coisa não tem valor algum para mim — respondeu Zanoba, sem pestanejar. Ele tirou um caderninho do bolso. Havia algo desenhado na capa, algo que eu reconheci.

Espera um minuto. É o que vimos no meu porão, nas plantas do fabricante de bonecas.

— Este brasão se parece tanto com o seu quanto com o de Lorde Maxwell. Vejo que há outros semelhantes naquela parede ali. Sabe a quem pertence este?

Segui seu olhar para a parede coberta por vários brasões. Vários deles pareciam familiares. Um deles era o mesmo que eu tinha visto esculpido no monumento aos Sete Grandes Poderes. Outro pertencia ao Deus Dragão Orsted. Outro foi esculpido em um instrumento mágico que ajudava a manter as ruínas de teletransporte escondidas. A julgar pelo encantamento que tivemos que usar para isso, o brasão provavelmente pertencia ao Imperador Dragão Sagrado, Shirad. O que estava ao lado era o mesmo brasão desenhado no caderno de Zanoba.

— Isso eu sei. Isso pertence ao Rei Dragão Maníaco, Caos.

— Ooh!

Aha, então foi isso que Zanoba viu no portão. Ele devia ter visto o brasão de Maxwell ali e percebeu sua semelhança com o das plantas. Naturalmente, presumiu que os dois deviam estar de alguma forma ligados. Incrível! Fiquei impressionado!

Zanoba deu um passo à frente, incapaz de conter sua euforia com a descoberta.

— P-Posso perguntar onde está este Deus Dragão Maníaco, Caos?

Perugius balançou a cabeça.

— Ele está morto. Faleceu há algumas décadas, e não sei se ele tem um sucessor.

O caderno escorregou entre os dedos de Zanoba, caindo no chão. Seus ombros desabaram.

— E-Então é isso… — Em um instante, seu rosto parecia ter envelhecido cinco anos. O que é bem impressionante, porque Zanoba já parecia muito mais velho do que era.

Perugius deslizou para a frente em seu assento.

— A propósito, onde você encontrou isso?

Zanoba continuou a parecer abatido enquanto respondia:

— Oh, encontrei isto na casa de meu mestre, em uma propriedade decadente na Cidade Mágica de Sharia. Foi desenhado em alguns projetos de um boneco automatizado.

— Hm. Um boneco automatizado, você diz. — Perugius acenou com a cabeça para si mesmo. — E como era o boneco? Incrível?

— Oh, sim, mais do que as palavras podem expressar! Os detalhes artesanais eram completamente encantadores. Só de olhar já poderia dizer quão grande era o amor do criador por bonecos! Eu compartilho o mesmo carinho, então pude sentir a profundidade de sua adoração!

Um sorriso se estendeu pelo rosto de Perugius, chegando até os olhos.

— Parece que você tem uma apreciação pelas artes. Isso me agrada. Tenho várias obras de Caos em meu tesouro. Depois vou mostrá-las a você.

Sua voz foi tão gentil, eu não podia acreditar que este era o mesmo homem que tinha falado tão rudemente comigo apenas alguns minutos antes. Por que Zanoba estava recebendo tratamento especial? Mas não era como se isso realmente me importasse.

— Você me honra! — O rosto de Zanoba iluminou-se quando ele caiu no chão, prostrando-se. Obviamente, estava tão feliz quanto Perugius. Melhor ainda, ganhou o favor do rei dragão. Eu o invejei por isso. Eu queria o mesmo.

— Mais alguma coisa? — perguntou Perugius.

Sylphie ergueu a mão.

— Sim, tenho uma… quero dizer, se você não se importar, há algo que eu gostaria de perguntar. — Ela curvou-se desajeitadamente.

— E você é?

— Sylphie Greyrat, esposa de Rudeus Greyrat e guarda-costas da Princesa Ariel.

Sylvaril se inclinou, sussurrando algo no ouvido de Perugius. O homem grunhiu, seu humor azedou.

— Então foram vocês dois… — murmurou ele.

Sylphie e eu? Nós dois tínhamos feito algo para aborrecê-lo? Sylphie tinha uma grande reserva de mana, mas não era tão vasta quanto a minha. Será que ele se incomodava por no passado ela ter cabelos verdes?

— Antes de responder à sua pergunta, quero que responda uma coisa para mim. Vocês dois têm um filho?

Sua pergunta apareceu tão do nada que Sylphie hesitou por um momento, confusa. Ela balançou a cabeça lentamente.

— Huh? Não, mas temos uma filha.

— Pois bem. Se algum dia tiverem um filho, tragam-no aqui. Eu o nomearei para você.

— Uh, hm, tudo bem…

Ele deu um sorriso estranho.

Bem, isso é um pouco desconfortável. Ele estava insinuando que haveria algo errado com nosso filho se tivéssemos um menino? Ou estava tentando dar ao nosso filho um nome super peculiar? Afinal, este era o homem que batizou sua fortaleza de Destruidora do Caos.

— Pois bem. — Perugius pigarreou. — Qual é a pergunta?

— Eu gostaria de perguntar sobre o Incidente de Deslocamento. Você sabe quem o causou?

Recentemente eu não tinha pensado muito nisso. O Incidente de Deslocamento foi o que teletransportou Nanahoshi do Japão para este mundo. A única coisa que fazia algum sentido era que foi uma magia poderosa o suficiente para arrancar uma pessoa de sua própria dimensão. No meu caso, por acaso reencarnei, mas talvez as leis da física ou da magia fossem diferentes quando alguém chegava com seu corpo original. Claro, o oposto poderia ser verdade. Talvez alguém estivesse tentando fazer outra coisa, e o efeito de sua magia acabou invocando Nanahoshi. O que significava que a coisa toda foi apenas um acidente.

— Não tenho certeza de nada. Na época, suspeitei que fosse obra de alguém conectado a Laplace, mas… — Ele olhou para Nanahoshi antes de continuar. — Nem mesmo eu sou capaz de convocar alguém como ela e, se não sou capaz, ninguém neste mundo é.

— Ou seja?

— Essa calamidade não foi causada pelo homem. Foi um acidente.

Imaginei que fosse o caso. Era possível que alguém mais capaz de invocar magia do que Perugius fosse o responsável, como Orsted. Embora fosse rude suspeitar de um culpado por trás das coisas quando Perugius já afirmou que não há um. Vou apenas manter meus pensamentos para mim mesmo. Não estou com vontade de deixar esse cara ainda mais irritado.

— Ah, certo. Obrigada. — Enquanto eu considerava diferentes possibilidades em minha cabeça, Sylphie baixou os olhos e encerrou a conversa.

— Alguém mais? — perguntou Perugius novamente. Desta vez, ninguém respondeu. Elinalise manteve os olhos grudados no chão e Cliff estava nervoso demais para se mexer. Quanto aos outros, Ariel já havia terminado e Luke ainda estava ajoelhado em silêncio.

— Nesse caso, aproveitem sua estadia aqui em minha bela fortaleza. — Ele deu um aceno exagerado e nossa audiência acabou.

 

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Sylvaril nos guiou até a área de hóspedes, onde quase vinte quartos idênticos estavam vagos. Dentro havia móveis de madeira escura, colchões de penas e enormes espelhos cristalinos. Cada quarto tinha um recipiente cheio com o que supus ser álcool. A única coisa que diferia entre eles eram as pinturas em cada um. As acomodações eram muito mais luxuosas do que um típico hotel de negócios. Para fazer uma comparação com minha vida anterior, era como uma suíte real no Empire Hotel. Não que eu tivesse alguma experiência em ficar em uma suíte ou no Empire Hotel, sabe.

— Há apenas doze de vocês gerenciando um castelo tão vasto? — Ariel deixou escapar.

Ela tinha um ponto. Quase não havia uma partícula de poeira nos cantos dos cômodos. Parecia quase como se ninguém nunca tivesse estado neles. Eu não chamaria isso de assustador, mas passava um ar de solidão, como comprar um controle extra para o seu console, embora não tivesse amigos com quem jogar. Ainda que Perugius tivesse insinuado que ocasionalmente recebiam alguns visitantes.

Depois de escolhermos nossos quartos, nos separamos para fazer nossas próprias coisas. Zanoba e Ariel partiram para ver um pouco mais do castelo. Luke e Sylphie acompanharam a princesa, é claro.

Quanto a mim, fiquei no meu quarto. Eu estava exausto. Nossa audiência durou pouco mais de uma hora, mas foi como se eu tivesse enfiado um dia inteiro de discussão na minha cabeça. Parte de mim queria ver mais da fortaleza, mas, por ora, iria descansar.

Desabei na cama.

— Ahh, tão macia.

Tão macia, na verdade, que senti que iria afundar até o chão. Me pergunto se poderíamos levar uma dessas camas conosco para casa…

Não. Deixe as camas de lado por enquanto. Fiquei surpreso com os brasões que vi. Um monte de nomes impressionantes que não reconheci surgiram em nossas conversas, como o Rei Dragão Abissal e o Rei Dragão Maníaco. Se bem me lembro, eles faziam parte dos Cinco Generais Dragões. Na era mítica, enfrentaram o Deus Dragão em uma batalha que ceifou todas as suas vidas. Mas, não eram as mesmas pessoas dos mitos? Os que estavam na história provavelmente eram de muitas gerações precedentes das pessoas que surgiram em nossa conversa.

Desses cinco, três foram mencionados: o Rei Dragão Blindado Perugius, o Rei Dragão Abissal Maxwell e o Rei Dragão Maníaco Caos. Havia também aquele cujo nome ouvi no encantamento para as ruínas de teletransporte, Dragão Imperador Sagrado Shirad. Isso somava quatro deles. Era para haver um Imperador Dragão e quatro Reis Dragões, o que significava que havia mais um Rei Dragão sobrando. Pensando bem nisso, só vi quatro brasões semelhantes ao do Deus Dragão naquela parede. Talvez o último de seu grupo estivesse em maus lençóis com Perugius?

Em todo caso, fiquei mais surpreso com a conexão com o boneco. Eu sabia que já tinha visto o brasão daquelas plantas em algum lugar antes, mas pensar que pertencia a um dos reis dragões… Eu não sabia nada sobre a linguagem daqueles memorandos, mas talvez pudéssemos pedir a Perugius para decifrá-los para nós. Isso nos colocaria muito à frente de onde estávamos no momento. Então talvez devesse pedir a ele.

Ou não. Ele não parecia gostar muito de mim. Na verdade, parecia desconfiado de mim. Vou pedir a Zanoba para importuná-lo sobre isso. Os dois pareciam compartilhar do mesmo apreço pela arte.

Espera. Se aquele brasão pertencesse ao Rei Dragão Maníaco, isso significava que ele já morou na minha casa. Um Rei Dragão, de todas as pessoas, se enfiou no meu porão para brincar com bonecos. Devia ter algo de errado com a cabeça dele. A maneira como aquele boneco operava era bem maluca. Bem, dado que Caos e Zanoba pareciam estar na mesma frequência, o título “maníaco” fazia muito sentido. Ele devia amar bonecos.

Tirando isso, eu esperava aprender magia de invocação com Perugius, mas nesse ritmo, não parecia muito provável. Ele foi tão hostil comigo. Se eu pedisse para me ensinar, ele poderia dizer: “O quê? Planejando convocar Laplace com aquela sua mana toda?”

Hmm. Imagino se algo assim é possível.

Perugius disse que era impossível convocar alguém cuja mana fosse maior que a sua. Já que a minha se equiparava à de Laplace, significava que eu realmente poderia invocá-lo? Poderia construir um altar sinistro no subsolo e trazer o Deus Demônio de volta à vida? Eu não faria isso, é claro, mas poderia entender sua animosidade em relação a mim caso isso fosse verdade.

— Bem, poderia ter sido pior. — Embora Perugius me odiasse, não me expulsou de seu castelo ou tentou começar uma briga comigo. No momento, eu poderia respirar com facilidade. Não foi tudo perfeito, mas correu tudo bem.

E assim meu primeiro dia na fortaleza flutuante terminou com uma contemplação silenciosa.

 


Tradução: Sahad

Revisão: Guilherme

 

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