— Bem, esse é exatamente o plano!
— Oh, você é muito gentil.
Estavam na casa de um nobre, que ficava às margens do rio que corria pela capital. Era tão tarde da noite que até as luas haviam escondido seus rostos.
Dois homens estavam sentados bebendo à mesa de uma sala cujo luxo cabia a um oficial de alto escalão.
Um dos homens usava roupas cortadas para acomodar seu corpo robusto; fazia parte da nobreza desta nação.
Em frente a ele estava sentado um homem com uma estranha marca sagrada na forma de um único olho ameaçador; era um daqueles que seguiam um culto maligno.
Em suma, era um daqueles eventos que acontecem repetidamente desde a própria fundação do mundo, um banquete entre companheiros do mal.
— Controlar os goblins usando a pedra de fogo do céu, fazendo com que sequestrem a princesa e a sacrifiquem para ressuscitar o Demônio Superior…
— Se pudéssemos cruzar o Demônio Superior com a coisa além das estrelas, poderíamos criar um verdadeiro horror — concordou o cultista.
— Ele poderia personificar a princesa, mas estaria sob nosso controle, então poderíamos manipular o rei de alguma forma. — O nobre soltou uma risada de sacudir a barriga. Ele não parecia ter dúvidas sobre sua capacidade de controlar uma entidade desconhecida de outro reino.
— Se pelo menos um desses enredos der certo, excelente, mas mesmo que todos falhem, se espalharmos o boato de que a princesa foi violada…
Então ninguém iria querer se casar com ela. O poder da linhagem de sangue diminuiria, a glória real do rei seria ofuscada e a balança da Corte se inclinaria dramaticamente.
— Por que aquele filhote de aventureiro deveria comandar o governo só porque tem algumas gotas de sangue real nele? — disse o nobre, balançando a cabeça em intenso descontentamento. Foi um gesto que transbordava de piedade pelo mundo, de justa indignação, completamente característico de muitas pessoas de alta classe da cidade. Dizia mais sobre quem ele pensava estar apto a controlar o governo do que mil discursos jamais poderiam.
— Quanto a mim, estou perfeitamente satisfeito em deixar Sua Majestade sentar-se no trono, contanto que minha fé continue a se espalhar — disse o nobre seguidor do Deus de Sabedoria com simpatia. — Afinal, conhecê-lo é bom para meus lucros.
— Mas o que fazer com a herói?
— Bastante fácil. Ela é uma garota doce que podemos envolver em nosso dedo mindinho com um pouco de bajulação: Ó Platina!, vamos dizer. Ó grande herói!
O primeiro nobre permitiu que o cultista lhe servisse mais vinho, enxugando algumas gotas vermelhas com a manga.
— Se ela jogar conosco depois disso, tudo bem — continuou o cultista. — Caso contrário, encontraremos uma desculpa conveniente para enviá-la em uma missão suicida.
— Não consigo me ver me dando muito bem com o tipo dela.
— Nem ela com você, suspeito. Como gostaria de ver ela e suas amigas implorando lamentavelmente por suas vidas.
O nobre sorriu com a imagem desagradável em sua mente. O cultista, percebendo sua diversão, riu e tomou um gole de sua própria bebida. Fazia pouca diferença para ele o que acontecia a alguma suposta Herói, ou Sábia, ou Santa da Espada, todas mulheres.
Mas se sua prole ganhasse seus poderes, que incrível seria. Sim, isso era tudo com o que ele se importava.
Conhecimento era poder, e o poder governava o mundo. Poucos podiam entender de verdade que coisa doce e linda era isso.
Esse pensamento poderia ter provocado, de alguma forma, um pequeno factoide que passou pela mente do cultista e então desapareceu.
— Estava pensando, já faz algum tempo que não ouvi qualquer boato sobre aquele intruso.
— Heh heh… o quê, acredita no que as pessoas dizem? Não me faça rir. Isso são apenas fantasias de camponeses ociosos.
Foi então que aconteceu.
O terremoto, o vento, o trovão.
Por um momento, pensaram que talvez fosse o som do rio ficando especialmente violento, mas então soou o rugido.
Era, literalmente, o som de um aríete nos portões do castelo, a proa de um navio batendo em uma parede.
Atravessando a parede da sala de visitas chegou, de fato, a proa de uma balsa.
— Q-Qual é o significado disso?! — O nobre e o cultista gritaram.
Da mesma forma, houve uma resposta da balsa:
— Já faz muito tempo, escória.
O remador parecia mais como uma silhueta pequena e indistinta do que qualquer coisa, a julgar pelas linhas nas roupas pretas da figura, poderia ser uma jovem? Mas esta espiã não era a fonte das palavras.
Em vez disso, o orador era um homem, parado ao lado da remadora com uma dignidade que parecia deslocada. Ele olhou para os vilões atônitos e rosnou ironicamente:
— Já faz muito tempo, escórias. Sentiram minha falta?
Veja, sim, veja, seus acessórios cintilantes. Brilhando intensamente, mesmo ali, no escuro, estava sua armadura, seu escudo, seu capacete e suas luvas, bem como a espada pendurada em seu quadril. Ele carregava itens mágicos suficientes para surpreender qualquer observador: uma bênção de Cura, uma Luz de Banimento do Mal, um amuleto Anti-Congelamento, uma Chama Primordial e um Vento Giratório. E o nome dele era…
— O Cavaleiro dos Diamantes…!
Ele deveria ser nada mais do que um mito, um conto de fadas divulgado entre as pessoas comuns. Um fantasma sobre o qual boatos se espalharam pela cidade nos últimos anos. Um homem que escondeu o rosto e puniu o mal nas trevas, um verdadeiro cavaleiro das ruas.
Mas ele não podia ser real; não havia ninguém tão louco.
Para começar, massacrar mercadores desonestos, nobres e cultistas por conta própria, isso não o tornava um simples assassino? Como aquele garoto brincando de ser rei, com toda sua conversa de retidão, permitiu que tais atos passassem sem controle?
No entanto, lá estava ele, bem na frente deles. Mas quem exatamente era? Ou o quê?
Deve ser um simples desviante.
Assim o nobre pensou. Havia se lembrado de sua própria posição e honra ou concluído que seu visitante era um simples vagabundo. Sentindo que tinha uma melhor compreensão de sua própria posição, disse vigorosamente:
— Idiota impudente! Em que residência você pensa que está? Remova seu capacete, de uma vez!
— Oh ho. Então você quer ver meu rosto, hein? — O Cavaleiro dos Diamantes parecia quase se divertir; riu com o som de um leão afiando suas presas. — Fico feliz em atender, mas não acho que vá gostar.
Com isso, aquelas manoplas brilhantes alcançaram seu visor, levantando-o sem fazer barulho.
Então seu rosto foi revelado. Tanto o nobre quanto o cultista sentiram seus olhos se arregalarem.
— O qu…?!
— Não pode ser…!
Isso foi tudo que puderam dizer.
Estavam testemunhando algo que não poderia ser real. Algo inacreditável, algo que não deveria existir, mas conheciam muito bem o rosto do cavaleiro.
Seus joelhos ficaram fracos e ofegaram, esquecendo-se de si mesmos enquanto balbuciavam:
— Venham! Venham aqui!
A gritaria fez homens armados da guarda pessoal do nobre correrem. O cultista, enquanto isso, distorceu o espaço enquanto convocava demônios e carniçais de outro reino. O fato de os guardas não vacilarem era prova suficiente de que eram co-conspiradores dos homens.
Deuses. O Cavaleiro dos Diamantes gemeu.
Sim, era preciso ter a mente aberta o suficiente para aceitar todos os tipos de pessoas, mas isso não era motivo para fechar os olhos ao mal. E não havia como discutir com homens assim; simplesmente tentariam distorcer tudo em seu benefício. Além disso, considerando como as apostas eram pessoais neste caso, tudo parecia feito sob medida para deixar o cavaleiro de mau humor.
A jovem nas sombras, parecendo sentir os pensamentos do cavaleiro, soltou um suspiro de exasperação e resignação simultâneas. O Cavaleiro dos Diamantes a ignorou completamente, rindo alto.
— Parece que você está muito longe de falar. Seu destino está selado.
Ainda olhando para o nobre lamentável à sua frente, o cavaleiro baixou a viseira mais uma vez e desembainhou a espada.
A lâmina era como um clarão cegante, o golpe tão violento e tão preciso que até mesmo o vento da espada que passava poderia decapitar um homem.
Como que para enfatizar aos homens que não podiam fugir de sua lâmina, o Cavaleiro dos Diamantes declarou:
— Em nome dos céus, reivindico suas vidas!!
Ali, agora, não havia mais lugar para misericórdia.
Tradução: Nero
Revisão: Guilherme
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