Dark?

Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva

Todos os capítulos em Matador de Goblins
A+ A-

 

O chilrear de um pássaro, cheep-cheep-cheep. A luz do sol que entrava pelas janelas. Uma atmosfera que só se encontra nas profundezas de uma floresta.

Qualquer um deles teria sido o suficiente para despertar Vaqueira de seu sono, mas não foi o que realmente a acordou.

— Mmn, hggh… ahhh…

Ela empurrou para o lado o cobertor de pele, espreguiçando-se bastante. O frio da manhã era agradável ao seu corpo nu.

Não houve tempo para saboreá-lo, no entanto.

Uma coisa a despertou do sono.

Clank, clank. Era o som metálico de raspagem que podia ser ouvido do quarto de hóspedes adjacente.

— Certo…! — Vaqueira deu-se um tapa revigorante em cada bochecha, em seguida, começou a enfiar seu corpo amplo em suas roupas. Ela vestiu a calcinha com pressa, fechou os botões da camisa e então…

Minhas calças! O que há com minhas calças…?

Ela não estava nem um pouco acima do peso, mas de alguma forma simplesmente não conseguia colocá-las. Seus dedos escorregaram, talvez por causa de sua pressa.

— Ohh, para…!

Ela estalou a língua e decidiu que não era algo com que normalmente se preocupava. Em vez disso, empurrou a divisória que a separava da sala de estar, vestindo apenas uma camisa por cima da roupa íntima.

— B-Bom dia!

— Hrm…

Como esperava, ele estava lá.

Ele estava com seu capacete de aço de aparência barata de sempre e uma armadura de couro encardida, sua espada de um comprimento estranho no quadril e seu pequeno escudo redondo no braço esquerdo.

Também estava carregando sua sacola de itens diversos; parecia pronto para partir em uma viagem a qualquer momento.

Ela murmurou um “Hmm” ou algo parecido como uma forma de distraí-lo e então abraçou o próprio braço.

— Você já está indo…?

— O esconderijo dos goblins é quase certamente rio acima — disse ele, assentindo com firmeza — Se colocassem veneno no rio, seria o fim.

— Sim, isso seria ruim — disse Vaqueira com um sorriso ambivalente. Sua cabeça cheia do clima, do sol e de seu tio. Tudo girando e girando… — Er, bem… Tenha cuidado, viu?

Essas foram as palavras que finalmente saíram de sua boca – aquelas palavras óbvias e banais.

Ele acenou com a cabeça e respondeu:

— Eu vou.

Então caminhou em direção à porta em um ritmo ousado.

Enquanto ela o observava ir embora, Vaqueira abriu a boca várias vezes, mas a cada vez, fechou novamente sem dizer nada.

— Você também… — Com a mão na porta, ele balançou a cabeça ligeiramente — Todas vocês.

Então houve um som quando a porta foi aberta e outro quando foi fechada.

Vaqueira soltou um suspiro. Ela pressionou a mão no rosto, em seguida, passou pelo cabelo.

Ah, pelos… O mais suave dos gemidos escapou dela.

De repente, houve um farfalhar de pano e uma voz atrás dela.

— Ele foi embora?

— Sim… — Vaqueira deu um pequeno aceno de cabeça e esfregou o rosto. Por fim, virou-se lentamente — Você gostaria de ter a chance de dizer adeus?

Garota da Guilda, ainda em suas roupas de dormir, murmurou:

— Na verdade não — e coçou a bochecha desajeitadamente. Ela deu um sorriso fraco —, não… quero que ele me veja antes de eu maquiar meu rosto.

— Não posso dizer que não simpatizo, mas…

Garota da Guilda podia não estar maquiada e podia não ter arrumado o cabelo. No entanto, tanto quanto Vaqueira poderia dizer, ela ainda ostentava uma beleza sem adornos.

Ainda assim, ela e Vaqueira tinham mais ou menos a mesma idade. Vaqueira sabia como se sentia e estava, de fato, dolorosamente ciente disso. E ainda assim…

— Gosto que ele seja capaz de ver a minha aparência normal.

— Invejo a sua coragem… — disse Garota da Guilda, de alguma forma triste.

Vaqueira tentou distraí-la com um aceno de mão desdenhoso.

— Só tento não pensar nisso, só isso.

Nenhuma delas disse no que estavam tentando não pensar:

Que cada despedida poderia ser a última.

***

O porto dos elfos: em uma coleção de folhas que saíram para o rio como uma ponte, os aventureiros foram reunidos.

— Mm… Hmm… — Alta Elfa Arqueira semicerrou os olhos como um gato e soltou um grande bocejo; ela ainda estava meio adormecida. Os outros aventureiros, porém, já estavam ocupados carregando a bagagem no barco.

Os barcos élficos eram elegantes vasos em forma de lágrima esculpidos nas raízes prateadas da bétula branca.

— E erga, e ho, e hup, e oh!

Anão Xamã estava ocupado alinhando tábuas de madeira ao longo da amurada como escudo, transformando a pequena casca em um navio de guerra tosco.

— Eles não poderiam ser feitos um pouco mais… bonitos? — perguntou o elfo com capacete brilhante, fazendo uma careta.

— “Mendigos temerários não podem escolher”. Não temos muitos deles e eu tive que preparar com pressa. Não há tempo para se preocupar com a aparência — bufou Anão Xamã, irritado, e coçou a barba branca. — Não que eu fique feliz em pendurar tudo dessa forma, de qualquer maneira.

Teria sido uma coisa se tivessem tido mais tempo, mas em um piscar de olhos, isso era o máximo que poderia ser feito. O elfo devia ter reconhecido isso, porque em vez de continuar reclamando, estendeu a mão para o vento.

Ó sílfides, belas donzelas ventosas, concedam seu beijo mais raro; abençoem nosso navio com uma bela brisa.

Houve um assobio quando o vento soprou no ritmo do cântico do elfo e começou a soprar ao redor do barco.

— Tenho uma certa afinidade com os duendes pelo fato de ser um elfo, mas ainda sou um patrulheiro, um rastreador. Peço-lhe que não espere milagres.

— Acredite em mim, eu não espero — disse Anão Xamã com um sorriso malicioso e um olhar pelo canto do olho para Alta Elfa Arqueira. — Todo mundo é bom em algumas coisas… e não em outras.

Yawn… — Alta Elfa Arqueira ainda esfregava os olhos, as orelhas compridas caindo tristemente. Parecia ainda precisar de algum tempo para ficar completamente acordada.

— E onde está a irmã mais velha dela? — perguntou Anão Xamã.

— Parece que as duas irmãs ficaram conversando até bem tarde na noite passada…

— Ainda está nos braços de Morfeu, hein?

O elfo com capacete brilhante soltou um suspiro, então franziu a testa como se sua cabeça doesse.

— Os humanos são bem trabalhadores… Minha nova irmã mais nova poderia aprender algo com eles.

Ele estava olhando para os dois clérigos, que já estavam a bordo do barco e oferecendo suas orações aos deuses.

Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, por favor, por sua mão reverenciada, guie a alma de nós que deixamos este mundo

Ó grande ovelha que caminhou pelo Cretáceo, conceda-nos um mínimo de seu sucesso longamente entoado em batalha!

Sacerdotisa estava se agarrando a seu cajado e implorando à Mãe Terra para mantê-los seguros em sua aventura.

Lagarto Sacerdote estava fazendo um gesto estranho com as palmas das mãos juntas e persuadindo seus ancestrais para ajudá-lo no combate.

Mesmo que esses não fossem pedidos de milagres propriamente ditos, não havia dúvida de que a proteção dos deuses estaria com eles.

— Uff… — Terminando suas orações por enquanto, Sacerdotisa se levantou e enxugou seu suor enquanto o barco balançava suavemente na correnteza. — Não tenho certeza de que devemos implorar aos deuses por favores como este. Devemos tentar por conta própria até entender onde somos insuficientes. — Ela parecia que ia cair a qualquer momento; agora uma mão com escamas a sustentava e Lagarto Sacerdote assentiu.

— Acho que tentar não vem com deméritos. Por que orar a um deus que não lhe conceda a vitória, mesmo depois de ter apostado tudo em uma batalha tremenda, despendendo todos os seus esforços?

— Acho que isso pode estar um pouco além do que estou falando.

Um deles era uma clériga devota e serva da Mãe Terra.

O outro era um Lagarto Sacerdote que venerava seus antepassados, os temíveis nagas.

Mas essa diferença não significava que necessariamente deviam estar em desacordo.

— De qualquer forma, vamos fazer o nosso melhor. — Sacerdotisa assentiu para si mesma, segurando seu cajado com vigor.

— Já terminaram? — perguntou Matador de Goblins ao emergir do convés inferior.

Seus braços estavam cheios de provisões e roupas de dormir e ele correu o olhar ao longo dos escudos que haviam sido colocados nas laterais da embarcação.

— Ah, sim, os escudos estão levantados, fizemos nossas orações e temos a bênção do vento também.

— Entendo — murmurou Matador de Goblins. — Obrigado pela ajuda.

— Ah, de nada!

Sacerdotisa tinha um sorriso brilhante no rosto; Matador de Goblins acenou para ela e então corajosamente desceu para o cais. As folhas grandes estremeceram ligeiramente sob o peso dele e de seu equipamento; uma ondulação correu ao longo da superfície da água.

— Fico grato por sua ajuda.

— Não precisa pensar nisso — respondeu o elfo com capacete brilhante uniformemente. — No entanto — acrescentou —, se deseja me agradecer, traga minha cunhada de volta em segurança.

— Muito bem — respondeu Matador de Goblins sem hesitação. Ele se virou para olhar para a garota em questão, que ainda parecia perigosamente instável.

Sacerdotisa estava se esforçando para calar Anão Xamã, que estava sugerindo que um mergulho no rio faria bem à elfa.

— Eu aceito — disse Matador de Goblins.

— Muito bem — respondeu o elfo. Seu rosto relaxou com o que poderia ter sido alívio, mas ele logo tornou sua expressão tensa novamente. Em seguida, enfiou a mão em uma bolsa de itens em seu quadril e retirou um pequeno frasco de mel dourado e encorpado. — Isso é um elixir — disse. — Um remédio secreto transmitido aos elfos. Dizem que é feito com uma combinação de ervas, variedades de seiva de árvore e sucos de frutas, junto com um ritual aos espíritos. A tampa foi selada com uma folha de papel de rei, então o elixir pode ser bebido apenas uma vez.

Matador de Goblins pegou a garrafa sem dizer uma palavra e a colocou em sua bolsa de itens.

— Se eu não voltar, por favor, cuide das duas mulheres.

— Eu irei.

— E dos goblins também.

— Mas é claro. — O elfo acenou com a cabeça e então, depois de pensar por um momento, acrescentou sombriamente: — Ela pode não ser perfeita, mas agora é minha cunhada e eu a conheço há muito tempo, cuide dela.

— Enquanto estiver ao meu alcance, farei isso.

Mesmo o elfo, durante toda sua longa vida, pareceu surpreso com a resposta de Matador de Goblins.

— Você não leva nada levianamente, não é? — disse ele, sua expressão suavizando um pouco, mas ele falou tão baixo que apenas as árvores puderam ouvir. Então continuou: — Os anciãos receberam algum tipo de notícia da cidade da água.

— Oh?

— Mas mesmo eu ainda não sou maduro o suficiente para os cálculos dos Alto Elfos. Não consigo adivinhar que movimento os anciãos podem estar planejando fazer.

A imaginação élfica abrangia um vasto período de tempo. A menor e aparentemente mais insignificante coisa podia dar frutos muitos anos depois.

As ações que eles tomariam ali, naquele momento, provavelmente seriam as mesmas. O elfo com capacete brilhante cerrou os dentes. Ele seria o próximo chefe e, ainda assim, sequer foi informado de quais eram as novidades.

Não que não pudesse adivinhar, é claro, mas um palpite ainda era um palpite. Não um fato.

Enquanto não soubesse o que as ondulações na superfície poderiam formar, ele só poderia ficar em silêncio.

Matador de Goblins olhou para o elfo silencioso e grunhiu. Então, lentamente, como se nada tivesse acontecido, abriu a boca:

— Além disso, tome cuidado com o rio.

— São vocês que precisam tomar cuidado — disse o elfo levemente, sentindo-se um pouco estranho com a indiferença das palavras de Matador de Goblins. — Acredito que hoje haverá alguma névoa.

Suas orelhas se contraíram como folhas quando ele ouviu o som do vento e olhou para a luz pálida do céu da manhã.

— Os goblins não são o único perigo nesta floresta. Na hora errada, a própria natureza pode ser sua inimiga. Tenha isso em mente conforme avança. — Porque, afinal… o elfo com capacete brilhante e Matador de Goblins olharam para a floresta. — Você estará viajando para a escuridão.

— Para a escuridão — repetiu Matador de Goblins suavemente.

O mar de árvores que se estendia até a nascente do rio abrigava uma escuridão impenetrável.

Uma brisa quente trazia um ar úmido e espesso. Como o interior de um ninho de goblins, pensou Matador de Goblins. E isso era um fato.

O que devia fazer, então? Considerou por um instante, então formulou seu plano.

— Tenho mais um pedido…

— Qual é? — O elfo olhou para ele interrogativamente.

— Prepare outro barco.

— Farei isso. — O elfo acenou com a cabeça, fazendo o sinal ritualístico de uma promessa de seu povo.

Vendo isso, Matador de Goblins disse:

— A propósito — como se tivesse acabado de pensar em algo —, estive pensando… É verdade que os elfos não conhecem o conceito de “limpar”?

— Nós conhecemos — respondeu o elfo com capacete brilhante, parecendo muito cansado —, mas algumas irmãs não.

— Entendo…

 


 

Tradução: Nero

 

Revisão: Kenichi

 

📃 Outras Informações 📃

 

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

 

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

 

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Tags: read novel Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva, novel Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva, read Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva online, Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva chapter, Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva high quality, Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 05.1 – Cruzeiro na Selva light novel, ,

Comentários

Vol. 07 - Cap. 05.1