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Matador de Goblins – Vol. 02 – Cap. 05.2 – Avance Até a Morte

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— Eles estão vindo… Eles estão vindo… Um enxame deles! — murmurou Anão Xamã com uma careta. Suas mãos se moviam com velocidade cegante, abastecendo sua funda com pedras tão rapidamente quanto elas podiam voar.

Flechas e pedras, lamentos e berros, todos se misturaram no ar. Mas a ida e volta através da porta não durou muito. A porta ébano podia ter sido antiga para além da memória, mas mesmo ela não podia suportar eternamente contra as armas rústicas e força bruta. Apesar da sustentação do caixão de pedra, ela finalmente deu um belo último suspiro.

— GORORB!!

— GROOROB!!

Goblins inundaram para a sala em meio a uma chuva de lascas de madeira. Embora os equipamentos fossem brutos, eles carregavam espadas, lanças e arcos. Até tinham armadura de couro e cota de malha.

— Eles estão bem equipados.

Matador de Goblins reparou que uma criatura excepcionalmente grande os estava liderando.

— Um hob… Não.

Com um grunhido baixo e um movimento rápido de seu braço direito, ele arremessou sua adaga contra a criatura.

Ele realmente a acertou, perfurando o ponto vital de um ombro exposto, mas a ferida claramente não era fatal.

Goblins são referidos frequentemente por “diabinhos”, mas não havia nada pequeno em relação a esse. Sua pele verde-escura repleta de músculos, muitos deles pareciam aptos a explodir. Ele segurava uma clava. O sorriso pérfido em seu rosto era certamente de um goblin, mas…

— GORAORARO!!

— Então. Um campeão goblin.

O campeão tinha cambaleado ligeiramente quando a adaga o atingiu, mas agora ele puxou a lâmina e deu um sorriso escancarado.

Sem hesitar um momento, Matador de Goblins sacou sua espada estranha.

— Vou avançar.

— Certo! Me permita adicionar uma lâmina ao seu número!

Lagarto Sacerdote — berrando — sacou sua espada-presa e, seguindo seu Guerreiro Dragãodente, avançou para a luta.

Espadas ressoaram, gritos e berros. A pequena câmara funerária foi encharcada rapidamente com o fedor de sangue. Os goblins se pressionavam para o campo de batalha em enxames. Os abatiam, e só viriam mais. Eles tinham que alcançar o chefe.

Espada e escudo firmemente na mão, Matador de Goblins se preparou corajosamente para avançar.

— A-ahn!

Uma voz veio de trás dele.

Era Sacerdotisa, ainda segurando seu cajado no peito.

Ela olhou para ele, protegida pelas pedradas e flechadas de Anão Xamã e de Alta-Elfa Arqueira.

Ela abriu sua boca para dizer alguma coisa, mas nada saiu.

Matador de Goblins não olhou para trás.

Em vez disso, ele mergulhou diretamente para a batalha, e logo ela já não conseguia mais o ver.

Ele se movia continuamente para que não pudesse ser agarrado por trás, visando sua espada nas gargantas dos goblins. Ele impulsionou sua espada para trás e trespassou mais um. Quem ele não podia cortar, ele golpeava com o escudo e o enviava ao chão.

Ele não estava sozinho. O Guerreiro Dragãodente lutava ao seu lado. Uma criatura rastejou a ele com uma adaga, mas ele deu ao monstro um chute e o enviou pelos ares. Suas garras esmagaram o maxilar do goblin.

Matador de Goblins se virou e lançou sua espada em uma criatura armada com uma lança. Ele pegou uma clava aos seus pés.

— ORARAGA?!

— Cinco.

Caso ele fosse forçado a cruzar espadas com cada monstro na sala, ele provavelmente terminaria como picadinho em pessoa. Não havia como dizer quantos goblins havia nessa horda e lidar com todos eles diretamente iriam o deixar exausto.

Bem, então ele não lidaria com eles diretamente. Matador de Goblins estava disposto a usar todas e quaisquer táticas.

— Deem a eles tudo o que você tem! — disse ele.

— Com prazer! — berrou Lagarto Sacerdote. — Ahhh! Observe minhas ações, meu antepassado!

Com sua cauda, ele varreu um inimigo se aproximando por trás, depois agarrou um à frente e o girou antes de o lançar em uma parede.

— GORARA?!

— GROOROBB?!

Garras, presas e cauda. Todo o corpo de Lagarto Sacerdote era uma arma, sua forma de combate era tão brutal quanto um turbilhão.

Seus inimigos eram uma legião. Todos os seus quatro membros golpeavam a esmo incessantemente, procurando algo para acertar. O Guerreiro Dragãodente ajudou abrir um buraco nas linhas inimigas, e Matador de Goblins avançou através dele.

— Céus, há tantos!

— É por isso que é chamado de uma horda! Continue disparando!

Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã lançavam seus projéteis em quaisquer oponentes que os três combatentes corpo-a-corpo tinham deixado passar.

— Como você está se saindo, moça?

— Estou… aguentando…

O milagre que Sacerdotisa tinha convocado da Mãe Terra ainda estava em efeito, e os aventureiros estavam se saindo muito bem sozinhos contra os goblins que pressionavam e se apertavam através da porta.

Mas, isso nunca poderia durar para sempre. Matador de Goblins sabia isso melhor do que ninguém.

Ele atravessou o campo de batalha, esmagando um crânio de goblin com uma clava em sua mão direita. Ele usou seu escudo para dar um golpe em um monstro que veio investindo contra ele com uma espada longa, depois quebrou a criatura com sua clava.

Então ele atirou a clava, terminando com um terceiro monstro, antes de pegar a espada longa daquele que ele tinha acabado de matar.

— Dezessete…

Finalmente ele se inclinou, se cobrindo com o escudo, e correu ao longo da parede atrás da proteção do caixão de pedra. Ele estava indo diretamente para o campeão goblin, que estava protegido por vários dos seus subordinados.

O campeão era um colosso reduzido, usando armadura com uma cor de chumbo opaca, brandindo uma clava e uivando. Ele tinha de ser pelo menos tão forte quanto três goblins e podendo até mesmo derrotar duas pessoas.

Um campeão goblin era em muitos aspectos semelhante a um hobgoblin. Hob era originalmente uma palavra antiga que significava um andarilho, um gigante, um chefe ou um demônio. Os músculos enormes dessa criatura justificavam plenamente todos aqueles nomes, uma herança de seus ancestrais. Ele tinha treinado esse corpo se movendo de ninho para ninho, encontrando aventureiro após aventureiro em batalha. Era como um aventureiro com talento natural abundante que tinha ganhado uma grande quantidade de pontos de experiência, o goblin equivalente a um ranque Platina.

Isso, em suma, era um campeão goblin.

Uma dessas criaturas tinha assumido Cavaleiro de Armadura Pesada e Cavaleira inexperientes juntos na fazenda. Muito provavelmente, essa criatura era um guerreiro experiente.

— No fim, no entanto, goblins são goblins…

Isso não queria dizer que Matador de Goblins estava subestimando a criatura. Ele nunca subestimava um goblin.

— ……

— ORGOORORB!!

O campeão gritou alguma coisa intimidante aos seus capangas trêmulos para os encorajar a maiores feitos de valor.

Matador de Goblins, que tinha passado com êxito por trás da criatura, ajustou ligeiramente sua mão na espada.

Uma antiga história afirmava que um certo rhea tinha uma vez arrancado a cabeça do rei goblin com um único golpe de sua clava. Matador de Goblins não fazia ideia se a lenda era verdadeira, mas isso não o impedia de tentar algo semelhante.

Especificamente, matar a criatura com um golpe só.

Ele pretendia o apunhalar por trás, diretamente através do seu cérebro vulnerável.

Ele preparou sua lâmina para atacar.

— OROAGA?!

Ele sentiu a resposta complacente da carne, viu o jato de sangue…

— Hmm!

Mas, Matador de Goblins grunhiu repentinamente.

Ele tinha certamente perfurado alguma coisa. Mas, foi um goblin diferente, um dos que fora jogado em sua direção.

— GORAGAGA!!

O campeão usou um dos seus aliados como um escudo.

Não que isso fosse surpreendente. Matador de Goblins achou isso perfeitamente normal. Não há nada nesse mundo tão egoísta quanto um goblin.

Tudo o que eles queriam era ganhar. Se isso significasse sacrificar um dos seus companheiros ou sua horda, mesmo toda a sua raça, que seja. Esse era um ponto crucial da diferença entre o pensamento dos goblins e daqueles que possuíam palavras. Essa tendência, combinada com a raiva completamente injustificada que sentiam quando seus companheiros eram mortos, os faziam bastante desagradáveis.

— GOROROROB!

Ele tinha perfurado o goblin no estômago entre as peças da armadura da criatura, e a besta gritou alguma coisa enquanto sangue eclodiu da ferida.

— Tsc…

Matador de Goblins puxou a espada e se preparou para o próximo ataque. Os olhos amarelos nojentos do campeão viram o aventureiro que queria o emboscar. Talvez ele tenha reconhecido o homem que tinha lançado a adaga contra ele há pouco, pois um sorriso horrível se espalhou pelo seu rosto.

— GROOOOORB!!

Seus braços poderosos levantaram sua clava em um movimento de gancho.

— Uggh?!

Metal, carne e osso retorceram; houve um som dilacerante terrível.

Leveza, impacto, nada. Um calor surgiu de suas entranhas. Dor.

Em um instante, Matador de Goblins se deparou com a situação. O escudo que ele tinha erguido instintivamente para se proteger tinha sido lançado pelos ares.

E ele mesmo tinha se chocado contra um dos caixões que revestiam a sala. A pedra quebrou com um grande estalo, poeira voou por todo o lado. O lampião caiu de seu cinto e quebrou, liberando suas chamas.

— Matador de Goblins! Senhor! — gritou Sacerdotisa para ele, de onde observava a batalha, da fileira traseira.

— Orcbolg! Você está bem?!

Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã olharam para ele com o grito de Sacerdotisa.

Mas, não houve resposta.

— Não! Matador de Goblins… senhor…?

Suas pernas tremiam debaixo dela, como se estivesse em um navio balançando.

Ele estava bem. Ele tinha que estar. Ele mesmo tinha retornado do golpe daquele ogro. Ele dizia: Não vamos fazer nenhuma loucura ou bobagem. Assim como ele sempre fez.

Mas, ele estava apenas ali deitado na nuvem de poeira, como um boneco descartado. Com um som de líquido, sangue espesso saiu da viseira do capacete de metal.

Não tinha como se confundir; tinha sido um golpe crítico.

— N…!!

Seu cajado chacoalhou fracamente quando ele escorregou de suas mãos e caiu no chão. Ela trouxe suas mãos trêmulas ao seu rosto. Suas feições delicadas distorceram.

— Arrrrgh! Matador de Goblins, senhor! Matador de Goblins!

— GORB! GRROB!

— GROROB!

O choro da garota ecoou por toda a sala. Os goblins riram horrivelmente; esse era um dos seus sons preferido.

A vanguarda foi prejudicada. O espírito do usuário de magia foi despedaçado. A odiosa Proteção desapareceria também. O grupo tinha perdido o líder, isso era o que importava. Os goblins, obviamente, não deixariam esse momento passar. Foi assim que eles tinham sepultado aventureiros antes.

— O que é essa coisa…?! — gritou Lagarto Sacerdote, mesmo ele que lutava com o tipo de força que apenas um homem-lagarto possuía.

Embora tivesse matado um número considerável de goblins, o Guerreiro Dragãodente foi subitamente eliminado.

Lagarto Sacerdote logo seria encurralado. Os três defensores tinham se tornado um. Mesmo que ele mantivesse sua posição e usasse toda a sua força, ele não podia deter todo um exército goblin.

— Fiquem calmos! Mantenham a concentra… Quê?!

Desse modo, Alta-Elfa Arqueira se tornou a primeira captura do dia.

Ela estivera disparando suas flechas sem parar, e nenhum goblin fora capaz de chegar perto dela.

Mas, quando seu ritmo diminuiu por um instante, em apenas um piscar de olhos, um goblin se aproveitou disso para avançar na direção dela.

Elfos eram criaturas inerentemente elegantes e magras. Sua agilidade era imensa, mas lhes faltavam força bruta. Ela se esforçou para sacudir o goblin das suas costas, mas era um gesto fútil face a horda invadindo.

— Me deixe ir! Saia… hã? Ahh! Ahhhh!

Ela foi levada ao chão, e com um grito, ela desapareceu sob uma montanha negra de goblins.

Por um segundo, uma perna magra saiu para fora debaixo da montanha, chutando o ar.

— Orelhuda!

Anão Xamã foi o primeiro a notar o que estava acontecendo, e o único capaz de reagir. Ele pôs de lado sua funda e, com um berro, pegou um machado de mão do seu cinto.

— Suas bestazinhas! Pelos deuses, saiam de cima dela!

Seu julgamento foi incontestável; não haveria tempo para usar uma magia. Se Anão Xamã não tivesse avançado imediatamente, Alta-Elfa Arqueira poderia muito bem ter sido arrastada para quem sabe que destino.

Mas sem qualquer ataque a distância para apoiar o lutador corpo-a-corpo solitário, não havia nada para conter a investida goblin.

Isso era uma situação crítica.

Agora…

— Oh… ahh…

Já não havia nada entra Sacerdotisa e o campeão goblin.

— Não… Oh… Ah, não…

Seus dentes rangiam e todo seu corpo tremia de medo, ela mal se aguentava de pé. Houve um barulho baixo quando ela deslizou ao chão; então ela sentiu alguma coisa quente e molhada se espalhar por suas pernas.

— GROB! GROORB! GORRRB!

O cheiro disso fez o campeão goblin sorrir debochadamente para ela. Seria muito mais fácil se ela pudesse simplesmente perder a consciência. Ironicamente, foi toda a experiência que ela tinha adquirido que impediu de acontecer isso.

Os braços carnudos do campeão se estenderam e agarrou sua cintura.

— Hrr…?! Ahh…! — Ela gemeu quando a criatura esmagou seus órgãos internos.

Ela estava aterrorizada. E se ele simplesmente a espremesse até que seus ossos partissem?

— Hrr…?! O-o qu…? O quêêêê…?

Mas, não foi o que aconteceu.

O campeão aproximou seu rosto para perto dela. Sua respiração fedia a carne podre.

— Erryaaaaaaargh!

E então, ele deu uma grande mordida em seu ombro, com vestes, cota de malha e tudo mais. Sangue jorrou, manchando de vermelho através de sua pele branca.

— Ugggh! Ahhh!!

Ela nunca tinha experimentado tamanha dor. Ela estava no limite da sua resistência. A cor se esvaia de sua visão. Ela não conseguia falar e apenas chorou como uma criança. Ela estava em um estado horrível, seus olhos escorriam com lagrimas, seu nariz com ranho, com saliva pendurada em seus lábios.

— Parem…! …ldição, me… deixem… ir…! Ahh!

Alta-Elfa Arqueira acrescentou seus próprios gritos por debaixo da pilha de goblins.

Houve o som de roupa rasgando. Pancada. Gritos. Gemidos.

— Isso não vai funcionar! Mestre conjurador, temo que se não reunirmos esses três e se retirarmos, estaremos todos perdidos!

— Oquevocê acha que estou…? Ei! Caiamfora, seus monstros! Fora!

Lagarto Sacerdote e Anão Xamã continuaram a lutar corajosamente, mas não conseguiriam continuar para sempre.

— GOROROB!

— GORRB! GORB! GOB!

O campeão e seus goblins apontaram para eles e gargalharam alto o suficiente para despertar os mortos. Esse era o destino de qualquer coisa assaltada pelos goblins, seja um aventureiro ou uma aldeia.

Sua sorte, seu destino. Devido ao acaso. Uma jogada de dado.

Baboseira.

— ……………

Tudo isso ressoou com alguma coisa bem dentro dele.

Quando ele pôs uma mão no chão para se levantar, ele descobriu uma escadaria que ia ainda mais fundo para o subsolo.

Alguém podia ter chamado isso de um golpe de sorte que o caixão de pedra fosse oco para ocultar uma escadaria secreta. Que não tinha contido um corpo ou relíquias funerárias como os outros.

Se tivesse, não teria sido capaz de suavizar o choque e ele teria morrido.

Mas, por agora, ele ignorou tudo isso. O que importava era que ele estava vivo. E se ele estivesse vivo, então ele iria lutar.

Ele alcançou sua bolsa e pegou um frasco de poção rachado. Ele se esforçou para puxar a rolha com um pulso que dobrou em um ângulo estranho, depois tomou o seu conteúdo. Os efeitos de cura do medicamento eram sutis. Não era como um milagre divino que fecharia ferimentos instantaneamente.

Mas, se a dor seria amenizada, ele poderia se mover. E se ele pudesse se mover, ele poderia lutar.

Não havia nada em seu caminho.

Com a mão direita ele apalpou a área ao redor, procurando qualquer coisa que pudesse servir como uma arma. Sua mão agarrou o que ele encontrou, e então ele forçou seu quadril para se levantar.

Vários goblins que tinha reparado que ele ainda estava vivo e se movendo, vieram na sua direção. Cada um tinha uma arma na mão e uma risada cruel na garganta; sem dúvida, eles vinham com o pensamento de acabar com ele.

Mas, e daí?

— ………!

Ele moveu seu escudo em sua mão esquerda com toda a sua força e bateu nos goblins até à morte.

— GORARO?!

A borda polida do escudo redondo era uma arma suficiente.

Ele partiu seus crânios, com sangue e cérebro voando por todo o lado. Avançar. Avançar. Ele não iria gritar até o último momento. Ele não podia. Tal como antes. Ele não deve ser notado.

O campeão goblin estava concentrado em atormentar sua nova presa. Ele pareceu alheio ao fato de que o intruso que ele tinha dado cabo há pouco estava por trás dele. Sacerdotisa tinha ficado mole nos braços do demônio, apenas se contorcendo de vez em quando. Seus lábios, se tornaram ainda mais vermelho pelo sangue que escorria do seu pescoço branco.

Nenhuma voz saia.

Era me salve?

Ou meu Deus?

Ou mãe? Ou pai?

Não, corra. Isso iria o denunciar.

Ele… Ele…

Matador de Goblins…

— Y-yaaaah!

Matador de Goblins saltou sobre o campeão por trás.

No início, o campeão certamente não sabia o que estava acontecendo.

Alguma coisa envolveu o seu pescoço, a coluna vertebral e a pele da mulher, que tinha caído no chão durante o combate.

A criatura ficou aborrecida ao tentar retirar o que tinha sido, por ele, uma isca…

— …!

Mas, no instante seguinte, a coisa foi apertada contra a sua garganta.

— GO-ORRRRBBBB?!?!?!?!

Ele não conseguia soltar bem o grito de sua garganta.

O campeão arranhava os ossos, incapaz de respirar. Alguns cabelos saíram, mas isso não mudava coisa alguma. Ele já não podia ver a sacerdotisa que ele estivera perto de ter seus maus modos. Ela tinha caído no chão como um brinquedo abandonado.

— Ahh…

Uma voz muito fina. Ela ainda estava viva.

E isso era tudo que Matador de Goblins precisava saber.

— Haa… haaaaa!

Ele tinha os ossos em sua mão direita e os cabelos da mulher enrolados na esquerda. Ele puxou o mais forte que podia; o cabelo atravessava suas luvas de couro e entravam em sua carne.

Mas, a mesma coisa estava acontecendo com o campeão goblin.

Era dito que os assassinos faziam fio de cabelo humano e os usava para matar; esse era o mesmo princípio. Não era nada fácil se desemaranhar dele.

O campeão contorcia seu corpo, lutando. Ele bateu de costas contra a parede.

— Hum…!

Sangue fluiu de novo do capacete de Matador de Goblins. Ele deu um grito quando seu interior foi esmagado. Ainda assim, suas mãos não soltaram.

— GOROROB?! GROORB?!

O campeão tinha ficado aterrorizado.

Naturalmente, os outros goblins não ficaram só esperando e assistindo seu líder ser estrangulado. Vários deles levantaram suas armas e começaram a avançar para matar esse inimigo ressuscitado.

Até que, de repente, suas cabeças saíram voando, substituídas por jorros de sangue.

Eles foram mortos pela clava do campeão enquanto ele a brandia em sua luta desesperada. Os corpos dos goblins decapitados caíram no chão.

Isso foi demais, mesmo para eles.

Goblins não mostravam medo da morte quando eles acreditavam que conseguiriam ganhar. Se o saque e a devassidão os esperavam do outro lado da vitória, melhor ainda.

Mas aqui, eles poderiam ganhar?

— Yaaaaaaahhhhh!

Um grande rugido.

Um momento de indecisão, um instante de hesitação, significou a derrota dos goblins.

Com um urro para honrar seus ancestrais, Lagarto Sacerdote, agora livre mais uma vez, atacou os monstros. Sua espada-presa, encharcada com sangue de goblins, girava como uma tempestade em suas mãos escamosa.

— GRRB?!

— GORORB?!

Com cada movimento rápido da lâmina, uma mão, um pé ou uma cabeça saia voando. Com sua cauda, ele derrubava os que tentavam fugir, e com sua presa, finalizava eles.

Lançados em confusão, os goblins correram para cercar Lagarto Sacerdote, só para verem uma chuva de flechas de madeira.

— Vá!

Uma voz familiar ressoou.

Ela estava cobrindo seu peito exposto e encharcado com sangue de goblin, mas ela estava ali. Enquanto ela atirava ajoelhada com seu arco, Alta-Elfa Arqueira gritou: — Eu vou lidar com esses caras!

— Meus agradecimentos! — gritou Lagarto Sacerdote e começou a abrir caminho através dos agressores.

Ele estava tentando chegar a Sacerdotisa deitada no chão. Ele ainda tinha algumas magias sobrando.

Isso significava que a garota ia ficar bem, Alta-Elfa Arqueira pensou com um suspiro aliviado.

— …Obrigada.

— Por que isso tão de repente?

Foi Anão Xamã ao lado dela que respondeu seu murmúrio.

Coberto com marcas de sangue, respirando ofegante, e ainda segurando seu machado, ele despachava facilmente quaisquer goblins que vinham esperando matar a arqueira inimiga.

— Não consigo acreditar que devo a minha vida a um anão. Não vou ser capaz de esquecer isso. — Ela se virou, se esforçando para esconder seu peito pequeno. Suas orelhas estremeceram. — Para um elfo, a única coisa mais vergonhosa que isso seria não dizer obrigado.

— Deixe isso para um elfo chorando por ajuda com sua superioridade moral — disse Anão Xamã, com uma risada mal reprimida.

Ela piscou para ele. — Melhor que a sua baixa moral, certo?

Enquanto ela tentava infligir indiferença, ela soltou uma flecha no campeão goblin e deu um grito.

— Pegue ele, Orcbolg!

— Hrrr!

Matador de Goblins segurava o monte de cabelo como as rédeas de um cavalo. Ele se agarrou na parte de trás do campeão, que o balançava para esquerda e direita como um garanhão dando pinotes. No início, cada sacudida tinha o ferido tanto que ele achava que seu corpo talvez voasse em pedaços. Mas agora, ele não sentia nenhuma dor, nada. Tudo o que restava era uma leveza estranha, como flutuando na água.

Alguma parte objetiva de sua mente estava soando um aviso. Dor era a prova de que estava vivo. E agora ele não sentia nenhuma dor. Talvez os seus nervos tivessem sido sobrecarregados.

Ele tinha feito a escolha errada?

Ele quase pensou ter ouvido um sussurro:

Avance até a morte. Martele o prego no seu próprio caixão.

Mas, a falta de dor também acaso era conveniente para ele.

Qualquer que seja a coisa louca ou boba que for preciso para vencer, eu o farei.

— Ei…!

Sua voz saiu espremida por entre seus lábios.

Poderia as palavras que ecoaram em sua mente ter alcançado a mente do campeão goblin?

A criatura se forçou em virar sua cabeça e ver o inimigo que se agarrava em suas costas. Um elmo de metal sujo com sangue já seco refletiu seus olhos amarelos e imundos.

— Dê uma boa olhada, goblin.

Matador de Goblins ergueu seu braço direito quebrado e o enfiou em seu olho. Ele agarrou alguma coisa bem macia, arranhou e arrancou para ele.

— GRORARARAB?! GROOROROROB?!?!

O campeão uivou incoerentemente de agonia, se curvando para trás.

Matador de Goblins foi com ele, rolando no chão de pedra. Ele evitou por pouco ser esmagado pelo corpo gigante quando ele desabou no chão com uma pancada ressonante.

Respirando irregularmente, Matador de Goblins usou os ossos próximos para se levantar. O guerreiro estava coberto de sangue e ferimentos, à beira da morte, mas os goblins só o viam de longe.

Não havia uma boa razão para eles o fazerem. Teria sido fácil acabar com ele naquele momento.

E ainda assim, eles estavam indubitavelmente com medo dele.

— Quem é o próximo…? — A voz era calma, inexpressiva e fria, como o vento soprando através de um vale. — É você…?

Matador de Goblins jogou o pedaço de carne de sua mão direita. O globo ocular do campeão acertou o chão e estourou com um som molhado.

— GORB…! GARARARAB!!

O campeão debateu os pés e começou a balbuciar. Sangue e pus escorriam como uma cascata em sua face, do seu olho esquerdo perdido.

— GOB…

Os goblins ficaram congelados. Um deles deixou cair sua lança. Seus olhos se moviam de um lado para outro, entre o campeão goblin e Matador de Goblins, ambos envoltos em sangue.

Esse foi o gatilho.

— GORROROROB!!

O campeão goblin deu um rugido que só poderia ser uma ordem para retirada.

— GORARAB! GORAB!

— GROOB! GROB!

Gritando, os goblins se esqueceram de todo o resto e fugiram.

Nisso, como em todos as coisas, o campeão goblin os liderou. Um campeão ele era, mas ainda assim um goblin.

Cada goblin estava muito interessado na sua própria sobrevivência; tudo o que queriam era escapar desse lugar. Desse modo, a ideia de manter suas posições contra todas as probabilidades nem sequer lhes passou pela cabeça, e a derrota ganhou ímpeto rapidamente. Primeiro dois, depois quatro, então oito fugiram…

Um após outro, os goblins mergulharam para a saída, chorando e gritando. Por fim, apenas as pilhas de corpos de goblins e os aventureiros arfando restaram.

Nenhum deles sugeriu que deveriam perseguir o inimigo. Todos eles estavam feridos e exaustos; eles mal podiam pensar em se mover.

— ……

Só Matador de Goblins era diferente.

Ele revirou cambaleante através dos ossos e usou a lança que encontrou como uma bengala improvisada para se arrastar pela sala. Arrastando seus pés lamentavelmente enquanto se movia, ele começou a verificar cada um dos corpos.

Enquanto ele andava, deixava um rastro de sangue, como se fosse um pincel passando ao longo de uma tela.

— ………hrr…

Um passo. Dois. Um tremor violento, então o corpo de Matador de Goblins se virou em um ângulo estranho.

— Orcbolg…!

Alta-Elfa Arqueira foi até ele e o apoiou de lado. Ela não se irritou com seu sangue que escorria por cima de suas roupas rasgadas e sua pele exposta.

Com uma voz extremamente fraca, Matador de Goblins perguntou: — Você está… bem…?

— De alguma forma… Mas… — A voz de Alta-Elfa Arqueira estava tensa também. — Não tenho tanta certeza quanto a você…

Para ela, ele parecia como um saco cheio de peças soltas.

Mesmo assim, ele conseguiu sussurrar “talvez”, e acenou. — E quanto a menina…?

— …Por aqui. Você consegue andar?

— Posso tentar.

Alta-Elfa Arqueira se esforçou para apoiar Matador de Goblins, que parecia poder colapsar a qualquer momento. Ela sentiu um calor em suas bochechas e de repente percebeu que lágrimas estavam se formando em seus olhos.

Ela mordeu os lábios.

— Tentem ter alguma… dignidade, vocês dois.

Enquanto eles andavam juntos, eles encontraram os braços de Anão Xamã apoiando eles.

Ele não estava em um estado melhor que eles. Sangue encharcava ele desde o topo de sua cabeça até a ponta de sua barba querida, e sua bolsa de catalisadores, assim como seu cinto, foram bem rasgados.

Ainda assim, o anão conseguiu manter Matador de Goblins erguido com suas mãos grandes.

— Afinal de contas, ainda… temos de ir para casa…

— …Certo.

Então, juntos, eles caminharam pela distância aparentemente grande, mas terrivelmente curta. Logo eles estavam no centro da sala, ao lado do caixão destruído. Uma espada-presa quebrada repousava ali, com Lagarto Sacerdote sentado ao lado.

— Bem, agora. Foi por um triz, mas acho que ela vai ficar bem.

Sacerdotisa estava deitada a seus pés, envolvida em sua cauda.

As chamas do lampião quebrado era a única iluminação, com a luz brincando sobre sua forma.

Suas vestimentas e cota de malha ensanguentadas foram retiradas; ataduras envolviam seus ombros e peito pálidos. Seu cabelo estava grudado em suas bochechas suadas, e seus olhos ainda estavam fechados. A subida e descida pouco perceptível do seu peito era o único sinal que ela estava viva.

 

 

 

— Como ela está?

Lagarto Sacerdote semicerrou seus olhos e levantou gentilmente a cabeça de Sacerdotisa com sua cauda.

— Hmm. Sua vida não está em perigo. Entretanto, se a ferida tivesse sido um pouco mais profunda, poderia ter sido para além das minhas habilidades.

— Entendi.

— Aqui, espere. Eu vou te ajudar a sentar. Isso vai ser mais fácil, certo? — disse Alta-Elfa Arqueira, quase sussurrando, enquanto Matador de Goblins lutava para respirar. — Anão, fique com esse lado.

— Claro.

Juntos, eles abaixaram ele para perto do caixão de pedra, ao lado de Sacerdotisa.

Parecia como se ele pudesse tombar no momento que eles tiraram suas mãos. Até a forma como ele se sentou parecia mais como se ele tivesse caído de costas.

— M… Me… d-de… scul…

— Não se preocupe com isso.

Matador de Goblins estendeu sua mão, enluvada com couro que estava esfarrapado, suja, em um estado completamente lamentável. Ele descansou ela no chão ao lado dela. Sacerdotisa a tocou debilmente com a sua própria mão pequena.

— Mat… G…blins… senhor…

Por fim, ele murmurou:

— Essas coisas acontecem.

— Vamos voltar para cima — disse Alta-Elfa Arqueira. — Não queremos estar aqui quando eles voltarem. Orcbolg, consegue se levantar?

— Ahh, vá encontrar um casaco ou algo assim, moça. Eu posso ajudar Corta-barba.

— Parece que terei de o suportar em meus ombros — disse Lagarto Sacerdote. — Se preparem. Estaremos em segurança em breve…

Alguém estava dizendo algo.

Mas, Matador de Goblins sentiu a consciência desaparecer, e então tudo ficou escuro.

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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