Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 02 – Cap. 01.2 – Aventuras e Vida Cotidiana

 

— Por favor, deixe dessa vez… Por favor, por favor, me deixe avançar dessa vez…

No corredor fora da sala de entrevista, uma prece soou entre os aventureiros que estavam esperando.

O interlocutor era um homem de meia idade vestido com trapos.

Provavelmente um monge, bem, não qualquer monge.

Sua pele já estava enrugada devida à idade. Com ele estava um cajado de madeira surrado, provavelmente uma espécie de arma. Sua testa estava raspada, mas aparentemente ele não tinha óleo para colocar, e o resto de sua cabeça estava coberta de cabelos finos.

— Cale a boca, vovô! Você não precisa cantar o tempo todo só porque você é um monge. Você está me incomodando pra caramba!

O crítico era um jovem com olhos frios muito parecido com um guerreiro.

Suas palavras foram grosseiras, mas ele mesmo se mexia como se incapaz de manter a calma. Cada vez que ele fazia isso, sua armadura bem usada e seu machado de guerra colidiam um com o outro, com um barulho de metal raspando. Eles não estavam enferrujados, mas eles estiveram em dias melhores. Não eram equipamentos da melhor qualidade.

— Maldição. Eu deveria pelo menos ter limpado eles…

— Tarde demais. O velho é a única pessoa aqui com casa própria. Faz você querer ter religião — sussurrou tranquilamente uma jovem quase maga ao homem com o machado. — E um pouco de polimento não teria feito muita diferença, de qualquer maneira.

Com as orelhas superficialmente pontudas escapando para fora de seu capuz rasgado, uma meia-elfa. Seu grimório, que ela paginou de uma ponta a outra agitadamente, também parecia bem usado. A capa estava caindo e tinha sido reatada com cola.

— Ahh, pega leve. Não faz nada bem ficar aborrecido…

O interlocutor então deu uma gargalhada. Ele era jovem, baixo, de fato, mal sendo a metade do tamanho de qualquer outra pessoa ali. Ele vestia uma armadura de couro impecável, uma adaga no quadril e botas revestidas com pele em seus pés.

Ele era um rhea batedor, ou de qualquer forma, assim se assumia.

— Sim, eu sei — disse o guerreiro com machado. — Mas há um grande salto entre Aço e Safira, tanto em pagamento quanto em missões.

— Se pudermos avançar hoje, podemos finalmente parar de caçar ratos nos esgotos — acrescentou a elfa maga.

O guerreiro continuou, rápido como um machado se movendo: — Nós podemos finalmente fazer mais do que os juros sobre nossas dívidas. O velho aqui será capaz de se manter. Isso é importante.

— Eu também preciso disso. Os grimórios são caros. Se uma oração é o que é necessário para conseguir esse ranque, eu vou rezar todos os dias — murmurou a elfa filosoficamente. Ela encarou o rhea batedor sob seu capuz. — De qualquer forma, não aja como se isso não te preocupasse.

— Sim, ha-ha-ha… — O rhea coçou a cabeça de constrangimento. — Eu estou, sabe, eu estou bastante assustado com o perigo. E eu não tenho nenhuma dívida, então…

— Seu vagabundo.

— Covarde.

O guerreiro e a maga pareciam irritados, mas o batedor apenas deu de ombros.

— Próximo, por favor!

A voz animada de Garota da Guilda flutuou da sala de reunião.

— Oh! Esse sou eu! — O rhea batedor avançou agilmente.

O monge calvo se agarrou a sua armadura, praticamente de joelhos. — Por favor… Por favooor seja forte…

— Eu sei, eu sei, dá o fora — disse o batedor, afastando a mão do monge. Ele abriu a porta…

— …Caramba.

…e seus olhos se arregalaram.

Três pessoas sentadas na sala de reuniões. A primeira, era uma funcionária da guilda, a recepcionista de olhos brilhantes. (Um dia ele espancaria ela até que chorasse). A segunda era outra mulher magra vestindo o uniforme da guilda. Quem era essa? O rhea batedor inclinou a cabeça. Ele não conseguia se lembrar se tinha a visto antes. E então, havia um aventureiro de ranque alto, mas com um aspecto muito estranho.

Um capacete de aparência barata. Uma armadura de couro suja. Equipamentos pouco adequados para uma aventura. Ele não tinha uma espada ou escudo, mas não havia como se enganar.

— M-Matador de Goblins…

— Há algum problema? — perguntou ele.

— N-nenhum, senhor. — O batedor respondeu ao homem brusco com um riso obsequioso, voltando para trás para fechar a porta.

A verdade era que o rhea não odiava o homem chamado Matador de Goblins, o homem que tinha chegado ao ranque Prata mediante a simples trabalhos envolvendo goblins. O rhea precisava de dinheiro. Ele queria fama. Ele queria ser reconhecido. Mas, ele odiava ter medo, e ele não queria morrer. Ele estava seguro de que Matador de Goblins devia se sentir de forma semelhante. Se ele realmente não gostava de alguma coisa sobre o homem, era aquele capacete inexpressivo…

Matador de Goblins observou o rhea batedor se sentar de frente para ele.

O batedor tremia levemente. Ele não odiava Matador de Goblins, mas ele também não achava fácil encarar ele.

— Então, hum, é agora, né? O teste de avanço. — O rhea deu uma risada fraca e esfregou as palmas das mãos. — Vamos atravessar Safira, além de Esmeralda, Rubi… O que vocês acham de irmos direto a Cobre?

— Eu duvido irmos tão longe — respondeu Garota da Guilda com um sorriso. Ela folheou alguns papéis em sua mão. — Não posso deixar de notar a sua armadura e botas novinhas em folha.

— Oh, você notou? — Os cantos dos lábios do batedor se ergueram, e ele colocou os pés em cima da mesa. Suas botas estavam completamente reluzentes, sem arranhões, e mesmo a luz negra quase não conseguia escapar de sua superfície. — Elas são de qualidade bastante elevadas. Eu as tinha atapetado e tudo mais. Elas são perfeitas para mim.

— Sério!

Ele falhou em perceber o que estava por vir.

— Por que você é o único a ter se dado tão bem quando todos vocês assumiram as mesmas missões? — Seu tom era terrivelmente simples e sistemático. — Esses equipamentos são bastante luxuosos mesmo na perspectiva da recompensa agregada do seu grupo. Espero que não tenha havido um erro de cálculo.

Garota da Guilda disse em seguida, ignorando a forma do rhea batedor que subitamente ficou rígido.

— Alguns relatórios bastante ambíguos sugerem que, ao contrário de seus amigos, você está pegando missões por contra própria.

— Oh, isso é, bem, é…

O batedor puxou apressadamente os pés da mesa.

Ele olhou para a direita, para a esquerda. Não havia nenhum lugar para correr. Ele falou o mais rápido quanto poderia pensar.

— S-sabe, eu tive recentemente uma encomenda em casa…

— Uma mentira.

A palavra afiada veio da funcionária que tinha permanecido em silêncio até aquele momento.

O sorriso congelou no rosto do batedor, mas ele se amaldiçoou interiormente.

Ela usava a espada e a balança em volta do pescoço, o símbolo do Deus Supremo.

— Eu juro em nome do Deus Supremo. O que ele acabou de dizer foi uma mentira.

O milagre Discernir Mentira. Malditos sejam esses videntes!

É por isso que ele não tinha a reconhecido. Ela era uma inspetora, uma funcionária da guilda, mas também uma sacerdotisa do Deus Supremo, governante da lei e da justiça.

O que era isso? Eles tinham suspeitado dele? Mas, por quê?

Garota da Guilda fez um show através de seus papéis. Nós sabemos tudo, a atitude dizia.

— Parece que você obteve equipamentos novos depois da invasão nessas ruínas outro dia… Ah, entendo.

Com um sorriso e uma risadinha, ela bateu as mãos e assentiu.

— Você disse aos outros que você estava indo em frente explorar, encontrou um baú do tesouro, manteve o conteúdo para si e os vendeu!

— Tsc…

Isso era exatamente o que ele tinha feito.

Adentrar de repente em ruínas, monstros e armadilhas eram muitas e letais. Era apenas natural que o rhea batedor se voluntariasse a fazer o reconhecimento, e que seus companheiros concordassem. Ele tinha entrado nas ruínas sutilmente, explorou vários caminhos, e então…

Ele encontrou um baú do tesouro.

Ele não estava com armadilha, e abrir a fechadura foi fácil. No seu interior havia dezenas de moedas antigas, mas douradas. Baús do tesouro vazios não eram uma coisa rara. E ainda havia muito espaço em sua mochila.

— T-tipo assim, is-isso foi… eu…

Ele riu desajeitadamente, coçou a cabeça como uma criança repreendida e assentiu. Seria muito benéfico para si simplesmente se desculpar, ele decidiu.

— Eu… sinto muito.

— Bem, isso torna as coisas difíceis. — Garota da Guilda riu.

Era muito óbvio que ela folheava as páginas apenas por atuar.

Ela já havia antevisto tudo isso. A guilda tinha uma pousada e um bar, e eles não eram apenas para benefício dos aventureiros de ranque baixo. O fluxo de dinheiro não mentia.

— São pessoas como você que dão um nome ruim aos rheas e batedores. — Ela balançou a cabeça em desgosto. — Bem, esse é o seu primeiro delito… Eu acho que o rebaixamento para Porcelana e ser impedido de se aventurar nessa cidade é apropriado.

— E-espere um pouco! Quão justo é isso?! — Por impulso, o rhea se encontrou inclinado sobre a mesa e gritando. — Eu apanhei um pequeno baú do tesouro e você vai me expulsar?

— Perdão? — O tom de Garota da Guilda estava frio, e sua exasperação era óbvia. Certamente, ela estava realmente enfadada dele. — Apenas um baú do tesouro? Não seja ridículo. Você não pode reparar uma confiança violada com dinheiro.

E aquele que traísse a confiança dos outros, não tinha o direito de ser um aventureiro.

É claro, ser um aventureiro significava lutar. Ninguém perguntava sobre sua história. Havia pessoas malcriadas entre os aventureiros. Não havia fim para os argumentos, de todos, o mais importante então, que ele fosse o mais sincero quanto possível. Um aventureiro que não fosse confiável era apenas um patife.

E a guilda negociava com confiança e fiabilidade.

O rhea era suficientemente capaz de ser promovido e tinha apenas sido concedido clemência porque essa era a sua primeira vez. Ele não entendeu isso?

— Você está rebaixado por motivos de falsificar uma recompensa. Se você quiser permanecer aqui, entretanto, você pode.

— Tsc…

O rhea batedor estava sem palavras. Ele se esforçou para pensar em alguma forma para transformar essa situação em sua vantagem.

Todo mundo faz isso. Não. Isso não o tiraria de seu castigo. Talvez se ele dissesse que alguém o ameaçou, o forçou a fazê-lo…

— Não te ajudará tentar qualquer coisa engraçada.

Ela estava certa. A ministra que rege a justiça estava o observando, com os olhos brilhando.

Sua única esperança… Ele se virou para a sua única saída, a pessoa na sala que mais se parecia com ele.

— V-vamos, Matador de Goblins… eu estou pedindo a você, como um companheiro aventureiro…

Com olhos suplicantes. Sorriso bajulador. Esfregando suas palmas em uma súplica desesperada.

O aventureiro, que tinha ficado com os braços cruzados silenciosamente ao longo de toda a cena, respondeu com um toque de aborrecimento: — Companheiro? — Sua resposta foi direta. — Eu sou um observador. Nada mais, nada menos.

— Mas, você… Você é uma aventureiro também…

— Sim, eu sou. — Matador de Goblins olhou para o rhea que suplicava. — Assim como os que você enganou.

— …!

O rhea batedor ficou vermelho-vivo e olhou feio para os dois. Por um breve instante, ele teve uma visão de si mesmo tirando sua adaga e saltando em Garota da Guilda.

Era mesmo possível.

— ……

Mas ele teria que passar por Matador de Goblins, um guerreiro forte o suficiente para fazer sozinho missões relativas a goblins, que normalmente exigiam um grupo inteiro. Quanta chance o rhea realmente teria no combate corpo-a-corpo?

— ……

Sentindo o olhar de Matador de Goblins fixo nele por debaixo daquele capacete, ele engoliu em seco. Ele era tão inteligente quanto qualquer batedor e certamente não era tolo.

— …Vocês vão se arrepender disso.

Seus sentimentos fluíram em suas palavras de despedida quando ele recuou a cadeira e saiu da sala.

Garota da Guilda soltou um suspiro quando a porta se fechou. — Recusado para promoção. Ufa… Isso foi terrível…

O sorriso perpetuamente colado no rosto de Garota da Guilda finalmente saiu, e ela se abaixou no assento. No fim, sob a cara feia do batedor, ela começou inconscientemente a tremer. Ela não sabia o que poderia ter acontecido se Matador de Goblins não estivesse ali.

— Muito obrigado, Sr. Matador de Goblins.

Ela olhou para o capacete de aço próximo a ela, com suas tranças um pouco suspensas.

— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça calmamente. — Eu não fiz nada.

— De maneira alguma! Eu me lembro de quão ruim foi quando eu estava fazendo o curso de preparação da associação na Capital.

Ainda cabisbaixa, Garota da Guilda deu um sorriso fraco.

— Todos aqueles crápulas que não podiam abrir a boca sem fazer uma observação indecente. Achei que eles tinham me escolhido só porque eu era bonita e jovem.

— Há muitos deles, não há? Especialmente na Capital. — A inspetora deu um suspiro de exasperação e acariciou gentilmente a espada e a balança.

— Então, nós temos que confrontar pessoas assim como esse por nós mesmos… sabe? — Com um pequeno aceno, ela colocou uma mão na mesa e se impulsionou para cima. Suas tranças balançaram. — Realmente faz você se sentir muito melhor ter alguém que você confia como seu observador!

— É mesmo?

— Sim, é.

Ela sempre mostrava muita confiança ao falar sobre Matador de Goblins. Ele deve ter entendido, porque ele se aquietou um pouco, então se levantou lentamente de seu assento.

— …Se nós terminamos aqui, eu vou voltar.

— Ah, certo. Se você passar pela recepção, eu tenho certeza de que eles podem pegar para você sua remuneração…

— Está bem.

Matador de Goblins se dirigiu para a porta com seu casual passo ousado.

Vendo ele, Garota da Guilda se viu falando repentinamente.

— A-ahn!

Ela já tinha feito. Ela havia dito isso. Garota da Guilda sentiu uma pontada de arrependimento.

Matador de Goblins, com sua mão na maçaneta da porta, se virou lentamente. — O que foi?

Garota da Guilda hesitou.

A coragem que a inspirou a chamá-lo, tinha desaparecido tão rápido quanto havia chegado. Ela abriu a boca, parou, depois decidiu dizer apenas o que era apropriado.

— …Bom trabalho hoje.

— Claro — disse ele enquanto girava a maçaneta. — Você também.

A porta se fechou com um suave clac.

Garota da Guilda, abandonada, se esticou sobre a mesa novamente.

— Ufaaa…

A superfície da mesa dava uma boa sensação contra sua bochecha.

— Bom trabalho. — Sua colega, a inspetora, deu um tapinha nas costas de Garota da Guilda com um abrandamento de sua expressão implacável.

— Eu estou com medo de que o cara simplesmente faça qualquer outra coisa.

— Bem, aventureiros vivos são um recurso precioso. E ele não fez nada claramente ilegal… — Seria muito pior se ele jogasse fora toda a conjuntura de aventuras e se tornasse um encrenqueiro sério. — Certamente, existem todos os tipos de aventureiros, desde Leal e Bom até Caótico e Mau.

— Enquanto são aventureiros, eles são permitidos fazerem essa escolha… De qualquer forma, bom trabalho.

— Sem problema. Isso é simplesmente o meu dever como sacerdotisa do Deus Supremo. — A inspetora sorriu e acenou para Garota da Guilda em gratidão, mas ela só pôde suspirar de novo.

— E da perspectiva do Deus da Lei, o que eu fiz agora foi… correto?

— Muitas pessoas entendem mal o Deus da Justiça, até mesmo os escritores dos nossos concursos. — A inspetora limpou a garganta com um “hum-hum”, um gesto em si bastante teatral. — A justiça não é para punir o mal, mas para conscientizar as pessoas.

A lei era uma ferramenta e instrução para viver bem. Nada mais e nada menos. Foi por isso que o Deus Supremo não transmitiu revelações. A intenção não era que eles seguissem a palavra sagrada de Deus, mas que eles pensassem por si mesmos e usassem seu próprio julgamento.

Garota da Guilda ainda estava estabelecida deselegantemente sobre a mesa, seu rosto se virou apaticamente para a sua amiga.

— Esse é um bom raciocínio.

— Se você puder o colocar em prática. Ainda não estou nem pouco perto de Donzela da Espada.

— Essa não é uma comparação muito justa.

Donzela da Espada.

Dez anos já se passaram desde que esse nome se tornou familiar.

Garota da Guilda tinha doze ou treze naquele ano, quando um dos Senhores Demônios retornou à vida.

Donzela da Espada era uma lenda desde o momento em que a humanidade estava lutando por sua sobrevivência, desejando o advento de um herói, um aventureiro ranque Platina.

Um grupo de ranques Ouro tinha ousado desafiar o Senhor…

— E eles conseguiram. Um deles era uma humilde serva do Deus Supremo, Donzela da Espada.

A inspetora ruborizou ligeiramente e suspirou como um devaneio de menina. — Eu a amo — murmurou ela. — De qualquer forma, tudo o que faço é usar Discernir Mentira. Não é difícil. Há mais trabalho a fazer, não é?

— Muitas entrevistas de promoção à espera. E eu tenho que preencher a papelada para rebaixar esse cara…

— Você consegue, aguente firme! — A amiga de Garota da Guilda bateu nas costas dela novamente, mas não foi confortante.

Mesmo assim, ela a trouxe um pouco de volta a realidade. — Certo. Ela assentiu e olhou para cima.

— Então. — Um sorriso provocante veio ao rosto da inspetora. — Era aquele rapaz que você gosta?

— Ah, hum…

Discernir Mentira ainda estava em efeito? Garota da Guilda olhou para o teto, mas o Deus Supremo estava em silêncio. Ela não conseguiu encontrar o olhar de sua amiga, mas ela assentiu honestamente.

— S-sim, é ele… Então?

— Hmm. Bem, eu não posso dizer que a culpo. Você sempre teve uma coisa por ajudar ele, desde a Capital.

 

 

 

— Eu sempre estive procurando por mais um, sabe, tipo de aventureiro estoico.

Ela não havia encontrado um. Naquele tempo, ela estivera desapontada, mas agora parecia uma benção. Eles se conheceram depois que Garota da Guilda havia terminado seu treinamento e foi designada para essa cidade na fronteira. Um aventureiro recém-registrado tinha encontrado uma recepcionista recém-formada, e eles tinham se conhecido desde então.

Ele estivera completamente focado em caçar goblins, ignorando todo o resto. Para ela, farta dos fanfarrões mal-intencionados na Capital, ele era um alento de ar fresco.

— Eu admito, talvez esse rapaz seja um bocado estoico…

É ótimo que eu possa falar com ele, mas talvez ele poderia pelo menos me convidar para uma refeição ou algo assim… Nem.

Garota da Guilda balançou a cabeça.

Ele a convidando para uma boa refeição depois de uma aventura?

Ela não podia imaginar isso. E ela também não tinha coragem de lhe convidar. Se, pelo menos, pudesse ter um pequeno… impulso.

— Bem, você está feliz, isso que é o importante… Então, quanto tempo você pode se dar ao luxo de parar com seu trabalho?

— Boa pergunta. Hora de deixar de sonhar acordada e voltar para o trabalho.

Ela se sentou lentamente, se recompondo. Ela arrumou os papéis em cima da mesa. Havia muito o que fazer; o relatório sobre o rhea batedor e a promoção do guerreiro com machado, a maga elfa e o monge calvo.

Ela também estivera adiando uma grande quantidade dos muitos trabalhos diários. Bem, ela começaria com o que estava bem na sua frente. Ela pegou decididamente uma pena, abriu a tampa de seu tinteiro e começou a escrever com a pena sobre o velino.

— Ei.

— Ooo que?!

Garota da Guilda se assustou completamente com a voz tão próxima, e a pena saltou ao longo da página.

Enquanto ela tentava liquidar o golpe em seu coração, ela viu aquele elmo de aço inexpressivo. Ela se apressou em arrumar seu cabelo, controlar sua respiração e não derramar a tinta no processo. Ela também jurou obter um pequeno troco da inspetora sorridente mais tarde.

— O-o que foi, Sr. Matador de Goblins?

— Eu acho que você sabe. — Sua voz soava tão mecânica como de costume, mas, de alguma forma, animada. Ele mantinha um papel de missão em sua mão.

Ele o pegou do quadro de anúncios depois que saiu? Não, ela não se lembrava de haver missões disponíveis.

E esse papel… Foi lhe solicitado pelo nome?

De quem era? De onde era? Ela não sabia, mas foi de uma forma especial, de modo que ele fora entregue por um cavalo correio distante.

Aparentemente ignorando Garota da Guilda enquanto ela olhava com curiosidade para o papel, ele disse brevemente:

— Extermínio de goblins.

Garota da Guilda lhe deu um sorriso fraco.

 

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— A recompensa é um saco de peças de ouro. Vir ou não, é sua escolha.

Em algum lugar na taverna da guilda, Matador de Goblins estava sintetizando.

Era quase meio-dia, mas alguns tipos sequiosos tinham saído para beber, e o lugar estava barulhento.

Com exceção de quando eles estavam lutando, os aventureiros prestavam naturalmente pouca atenção para a hora do dia. Depois de um longo tempo em algumas ruínas ou labirintos, ao retornarem, poderia já ser noite, poderia já ser o amanhecer; não importava. Algumas vezes, eles iam fundo em uma masmorra de manhã com a intenção de retornarem naquela noite, mas acabava por ser a noite do dia seguinte. A escolta das caravanas podia partir ao meio dia. Por todos os tipos de razões, as luzes da taverna nunca paravam de queimar.

Hoje, como sempre, a taverna estava barulhenta com os aventureiros almoçando e se deleitando com vinho.

Em contraste, Sacerdotisa estava massageando suas têmporas por um longo tempo enquanto escutava.

— Está bem, eu entendi… eu acho.

— Entendeu?

— Sim, a maior parte. Eu entendo que se eu agir surpresa assim cada vez que você fizer algo que não espero, não resistirei.

Os outros três companheiros também estavam sentados na mesa redonda. Seu grupo. Amigos dela.

Alta-Elfa Arqueira assentiu junto de Sacerdotisa apesar de seu ar exasperado.

Sacerdote Lagarto mastigava pensativamente um pouco de queijo, balançando levemente a cauda.

Anão Xamã sorria, ocupado costurando pedras preciosas na parte de trás da sua roupa.

— Escute — falou Sacerdotisa, como se estivesse lecionando para uma criança no Templo, balançando seu dedo indicador formoso para ele: — Eu te disse antes. Se nós não sentimos de fato que não temos uma opção, isso não conta como nos consultar.

— Mas vocês têm uma alternativa.

— De ir ou não ir. Essa é uma opção muito limitada.

— É?

— Sim, é.

— Hmm.

Matador de Goblins inclinou a cabeça com desconfiança. Talvez ele tenha entendido, talvez não.

Recordando, Sacerdotisa considerava a possibilidade de que ele na verdade não tivesse pensamentos em sua cabeça.

— Se nós dissermos que não vamos nos juntar a você, você vai prosseguir sozinho de qualquer jeito, correto? — disse Alta-Elfa Arqueira.

— Claro.

— Bem, sendo assim, isso realmente não é um debate — disse ela com uma risada.

— Pelo menos Corta-barba se flexibilizou o suficiente para tentar ter uma conversa conosco. — Anão Xamã tinha acabado de costurar as gemas e as examinava criticamente enquanto eles interceptavam a luz.

— Absolutamente delicioso! Doce como néctar! …Er. Sim, isso é uma tendência promissora. — Lagarto Sacerdote estalou a língua quando falou. A maior parte do queijo havia sumido.

— Bem, então nós faremos nossa escolha. — Sacerdotisa agarrou seu cajado de monge com as duas mãos de onde ele fora encostado na parede.

— Ótimo — disse Matador de Goblins.

Sacerdotisa suspirou pela enésima vez, fechou os olhos e disse deliberadamente:

— Eu vou com você.

— ……

Ele ficou calado com o sorriso gracioso de Sacerdotisa, então depois de um momento murmurou: — Entendi.

— Bem, você veio em minha aventura no outro dia. Embora tenha acabado sendo extermínio de goblins.

Alta-Elfa Arqueira balançava suas orelhas para cima e para baixo entusiasmadamente. Sendo do tipo impaciente, ela já estava examinando seu arco, se certificando de que tinha flechas, deslizando a bolsa sobre seu ombro e se pondo de pé. — Heh-heh — riu ela, que inflou seu peito com orgulho e piscou. — Eu vou te ajudar de novo… em troca de outra aventura. Tudo bem, não é, Orcbolg?

— Sim. — Matador de Goblins assentiu. — Sem problema.

— E sem bombas de gás venenoso dessa vez!

— Hmm…

— Isso é justo — disse ela, com o dedo no peito de Matador de Goblins.

Depois de um tempo, ele murmurou:

— Mas ela é tão eficaz.

— Não importa. Sem fogo e inundações também. Pense em outra coisa!

— Mas…

Alta-Elfa Arqueira não estava mais escutando.

— Esqueça. Quando essas orelhas grandes começam a balançar assim, o que quer que você disser vai entrar em uma e sair pela outra — murmurou Anão Xamã aborrecido.

Lagarto Sacerdote estreitou os olhos alegremente e tocou o nariz com a língua.

— Mesmo a astucia de cobra de meu senhor Matador de Goblins é ineficaz diante dessa bárbara.

— …Não posso fazer nada sobre isso então. — Com quase uma tentativa de resposta, Matador de Goblins ficou quieto.

Se era isso que Alta-Elfa Arqueira exigia para ir com ele, não há contestação.

Ele é uma pessoa bastante direta, não é?, pensou Sacerdotisa enquanto encontrou os olhos de Alta-Elfa Arqueira com um sorriso suave. Elas assentiram uma a outra.

— Muito bem então… — Depois Lagarto Sacerdote abriu sua mandíbula. Ele meditou cuidadosamente suas palavras, como se para mostrar o quão cuidadosamente ele tinha as considerado. — Nesse caso, parece que você precisará de todos os conjuradores que você conseguir.

— Espere, Escamoso — disse Anão Xamã reprovadoramente, acariciando seu cabelo. — Com essa lógica, eu também não deveria ir?

— Oh-ho, quão indelicado sou. — Lagarto Sacerdote revirou seus olhos grandes.

Anão Xamã lhe deu uma cutucada amistosa com o cotovelo. — Deuses, você tem me apoiado muito em problemas. Eu não posso recusar agora, posso? — Repetindo exasperadamente “deuses”, Anão Xamã deixou de lado seu trabalho de costura e começou a guardar suas ferramentas.

Não era incomum trocar peças volumosas de ouro por pedras preciosas, e depois as costurar nas roupas para que não fossem roubadas. E os dedos ágeis de um anão significava que você nunca saberia onde elas poderiam estar escondidas.

Passando os braços entre os buracos de sua veste e penteando sua barba branca abundante com a mão, ele sorriu para os outros. — E eu acabei de cuidar das minhas despesas de viagem. Eu acho que vou me juntar a vocês.

— Oh? — disse Alta-Elfa Arqueira, estreitando os olhos como um gato. — Se você apenas acha, você não precisa vir.

— Fale por si mesma. Não precisa vir se você está tão desesperada para me evitar.

— Hum…!

As orelhas compridas de Alta-Elfa Arqueira balançaram para trás; ela colocou ambas as mãos na mesa e se inclinou na direção de Anão Xamã.

— Ah, agora eu estou realmente irritada. Certo, anão, você e eu!

— Ho-ho, lhe surgiu um pouco de coragem, não é? Não espere que eu pegue leve com você. — Seu sorriso pareceu descabido conforme ele colocou duas garrafas de vinho e dois copos sobre a mesa. — Vinho de fogo para mim. Vinho tinto para você. Soa justo?

— Perfeito!

Nesse momento houve um rebuliço. Os concorrentes serviram suas bebidas e se curvaram para trás.

— Oh, ei, olhe. Alguma coisa está acontecendo!

— Heh-heh… Querem apostar?

É claro, nenhum aventureiro poderia resistir a uma aposta entre amigos.

Lanceiro sorria alegremente; Bruxa tirou o chapéu e se proclamou imediatamente agente de apostas. Um som de felicidade veio à tona, e um aventureiro depois do outro, instigado pela bebida, soltavam suas moedas.

As primeiras peças de ouro a cair no chapéu de Bruxa vieram da mão de Cavaleira. Próximo a ela, um Cavaleiro de Armadura Pesada se levantou, parecendo perturbado. — Meu dinheiro está na garota. Três peças de ouro!

— Ei, isso é bastante ousado. Você tem certeza disso?

— Heh-heh-heh. Chame isso de apostar em um talento desconhecido. Eu sou Leal e Bom depois de tudo, então tenho a benção dos deuses…

— Sim, ganhar ou perder, o Deus Supremo não é do tipo que pune jogos de azar, hein?

— Eu estou a favor do anão então. — Não, a garota! — Bebe! Bebe! Bebe!

Assistindo à competição pegar embalo em meio ao clamor, Sacerdotisa tinha um olhar ansioso.

— Não devíamos parar eles…?

— Eu duvido que continuem por muito tempo — respondeu brevemente Matador de Goblins.

Afinal de contas, Anão Xamã era um bebedor experiente, e Alta-Elfa Arqueira mal conseguia aguentar o álcool. O vencedor parecia óbvio.

— Não, não, nossa bárbara é muito teimosa. A conclusão não é clara.

Lagarto Sacerdote observava com alegria a arqueira, com a face brilhando em vermelho, indo beber outro copo de vinho tinto.

— Mais! Eu aguento muito mais…!

— É para já!

Ela ainda não tinha começado a enrolar as palavras; seus olhos não tinham começado a vaguear.

Copos golpeavam a mesa. Glub, glub, glub, em que passou o vinho.

Um som apreciativo surgiu da multidão quando ela agarrou o copo e o drenou em um único gole.

Conforme os momentos na vida avançam, isso não seria grande coisa; ninguém iria se lembrar disso. Mesmo assim, eles passariam alegremente.

Próximo a Alta-Elfa Arqueira, que estava bêbada que nem uma gambá estendida sobre a mesa, Anão Xamã ergueu os punhos e rugiu em vitória. Ele não parecia questionar quanto prestígio realmente havia em vencer uma elfa em um concurso de bebida.

— Muito bem então, sou a próxima — disse Cavaleira, mas Guerreiro de Armadura Pesada a impediu loucamente. (“Você é furiosa quando bêbada”). A garota e o garoto meio-elfo em seu grupo riram e se burlaram.

Assistindo nas proximidades, Lanceiro arregaçou as mangas, instigado por Bruxa. Para não ficar para trás, Cavaleira deu um empurrão em Cavaleiro de Armadura Pesada.

Uma competição de queda de braço começou em seguida. Os participantes talvez tenham estado indispostos, mas uma vez que tinham começado, eles não perderiam.

Um cântico emergiu. Anão Xamã se dispôs em ser o árbitro, e Bruxa estendeu o seu chapéu pontudo de novo. Isso parecia que não haveria fim. Quem ganharia, quem perderia? De novo houve uma chuva de moedas.

Lanceiro ganhou. Depois, Guerreiro de Armadura Pesada ganhou.

— Muito bem! Sou o próximo! — gritou Guerreiro Novato, mas ele foi recebido com um “oh, pare” de Sacerdotisa Aprendiz.

Guerreiro de Armadura Pesada assentiu com sua aprovação para a bravura do rapaz, então o agarrou enquanto ele tentava fugir e bagunçou seu cabelo.

Dois jovens inexperientes eram os próximos para a queda de braço.

Com os aventureiros na expectativa, torcendo alegremente pelo seu favorito, Anão Xamã deu o sinal para começarem.

— Matador de Goblins, senhor…

Parecia o momento adequado. Quando Sacerdotisa olhou para ele, a palavra “certo” escapou por dentro do capacete, e ele assentiu.

— Dois! Três!

— Hmm.

Ele ergueu a figura mole, que de alguma forma era tão bonita quanto um ramo. Matador de Goblins grunhiu com o peso, embora o corpo fosse tão magro que ele parecia que poderia quebrar no meio.

Ele olhou para Sacerdotisa. Ela estava sorrindo. O que se pode fazer?

— Não fique zangada depois — murmurou ele tão silenciosamente que ninguém mais poderia ter ouvido, então ele se dobrou ligeiramente e se posicionou debaixo de Alta-Elfa Arqueira.

Então ele se levantou, com a mão atrás dela, e a levantou nas costas com um movimento que sugeria um lance violento.

— Vuoo, wah…

— Não tenho ideia do que você está tentando dizer.

— Hmm? Fooo…

Era a linguagem comum que ela estava falhando em dizer? Ou élfica? Ou era simplesmente a linguagem dos sonhos?

Com as palavras breves de Matador de Goblins, um sorriso se formou no rosto de Alta-Elfa Arqueira.

— Eu irei a levar de volta ao seu quarto — disse sucintamente Matador de Goblins, balançando gentilmente a elfa como se fosse uma criança. — Mas você tem que a ajudar a se trocar.

— Sim, senhor. Deixa comigo.

Sacerdotisa formou um punho, a pessoa mais natural para ajudar.

— Hmm! Hoje descansar, amanhã cavalgar e depois trabalhar… — disse Lagarto Sacerdote alegremente, esticando o pescoço como se pudesse enxergar tudo isso. — Que divertido será arrastar a nossa amiga de ressaca.

— Se ela ainda estiver bêbada de manhã, eu vou lhe dar um Antídoto.

— Matador de Goblins, senhor, isso é um pouco demais…

Sacerdotisa parecia surpreendida, mas Matador de Goblins disse suavemente:

— Isso foi uma piada.

Sacerdotisa e Lagarto Sacerdote trocaram um olhar, então caíram na risada.

Não foi a piada que os deixou alegres, mas o fato de ele ter feito.

Era raro que ele estivesse com tão bom humor.

 

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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