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Império Tearmoon – Vol. 02 – Cap. 48 – História Curta Bônus: A Deliciosa Visita de Mia

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Existe um artefato conhecido como a Panela de Mia.

Escondida em uma floresta remota perto da fronteira do Reino de Remno, havia uma pequena aldeia chamada Vila Doni. Uma família de caçadores na aldeia possuía uma panela que fora passada de geração em geração. Eles se referiam a ela como a “panela dos milagres”, e havia várias histórias ao seu redor.

A mais famosa delas afirmava que a panela uma vez salvou o povo da área de um governante cruel. Segundo a história, o governante fora uma vez uma pessoa gentil, mas quando toda a sua família foi quase morta por veneno, ele ficou traumatizado. Desde aquele dia, sua disposição branda se transformara em crueldade. Ele parou de confiar nos outros, submeteu seu povo a pesados impostos e sentenciou aqueles que não podiam pagar à prisão e a açoitamentos.

Um dia, ele foi sozinho à floresta para caçar, não levando consigo nem mesmo um único assistente devido à sua desconfiança dos outros. Sua natureza solitária voltou para mordê-lo, pois ele acabou se perdendo na floresta. Depois de muito vagar, ele se deparou com a Vila Doni. Os aldeões o trataram com um requintado ensopado de lebre em uma panela, tão delicioso que descongelou seu coração congelado. Ele viria a reverter tanto seu comportamento quanto suas políticas, e foi lembrado como um governante benevolente.

A panela que fora usada durante sua estada era, claro, a já mencionada Panela de Mia. Era um item caro, fabricado com técnicas desconhecidas em Remno na época, que fora presenteado pela então Princesa do Império Tearmoon, Mia Luna Tearmoon.

Há muito tempo, quando o Reino de Remno estava nas garras de uma revolução iminente, a Princesa Mia marchara pessoalmente para o acampamento do exército revolucionário e resolvera a situação sem derramar uma única gota de sangue. O episódio se tornara matéria de lenda em Remno, contado e recontado por seu povo.

Quando a Princesa Mia entrou em Remno para acalmar a agitação, havia um caçador de cuja hospitalidade ela desfrutara. Uma história igualmente famosa contava a vez em que ela retornara ao reino para presentear o caçador com a panela em troca de sua generosidade. Ao ouvir a história pela primeira vez, muitos franziriam a testa com este detalhe, perguntando-se por que ela escolhera uma panela como presente. Aqueles que conheciam os modos de Mia, no entanto, sem falha expressariam compreensão por sua escolha. Em vez de um presente em dinheiro, ela escolheu aquilo que melhor se adequaria ao destinatário. Ao selecionar presentes, a Grande Sábia do Império levava em consideração não apenas as qualidades inerentes do item presenteado, mas os sentimentos da pessoa que o receberia.

A seguinte, então, é a história de Mia e da excepcional panela que ela deu de presente.

Um dia, no Salão de Jantar Noite Branca do Palácio da Lua Branca, Mia estalava os lábios em expectativa por um cardápio especial preparado pelo chefe de cozinha.

— O prato principal de hoje será ensopado de tomate lua amarela.

Um prato de sopa foi colocado na mesa diante dela. O vapor subia dele, carregando a fragrância de vegetais frescos. A acidez dos tomates lua amarela, misturada com o aroma rico de tubérculos de solanum assados e a doce fragrância das cenouras de Perujin, era ainda mais realçada por uma mistura de especiarias, produzindo o que só poderia ser descrito como um deleite para os sentidos.

— Nossa! Mmhmhm, este é um dos meus pratos favoritos. Estive pensando nisso o dia todo!

Ela olhou cobiçosamente para a tigela de alegria líquida e prontamente levou uma colherada à boca. Um pedaço quente de tubérculo rolou por sua língua, seguido por um pedaço de cenoura embebida no ensopado, e seus olhos se arregalaram enquanto suas papilas gustativas ganhavam vida.

— Isto… está ainda melhor do que antes…

— Ohhh! Então Vossa Alteza notou.

O chefe de cozinha sorriu com o comentário de Mia. Ele então recuou para a cozinha antes de reaparecer com um carrinho, sobre o qual estava uma grande panela.

— Na verdade, o ensopado de hoje foi cozido usando uma nova panela.

— Oh? Uma nova panela, você diz?

Mia observou a panela com curiosidade.

— De fato — disse o chefe de cozinha com um sorriso satisfeito. — O coração de um ensopado começa em sua panela. Verdadeiramente, a qualidade do recipiente desempenha um papel significativo na determinação do sabor resultante.

Então, com todo o entusiasmo de olhos brilhantes de uma criança que recebeu um brinquedo novo, ele começou a cantarolar enquanto explicava os detalhes de sua nova panela.

— Esta panela foi feita com tecnologia de ponta. Olhe aqui. Vê as pequenas reentrâncias na superfície? Que artesanato fino… É feita de materiais de primeira qualidade que garantem uma transferência de calor uniforme por toda parte…

— Hm, hm, entendo. Então essas qualidades que você menciona são o que afetam o sabor… A propósito, quanto custou esta panela?

— Custo? Cerca de um crescente de ouro, mais ou menos…

— Nossa! Tanto assim? Bem, então. Como fico feliz em saber disso! — exclamou ela antes de solicitar ansiosamente que Ludwig a visse o mais rápido possível.

Ultimamente, Mia vinha lutando com um certo problema. Ela estava tentando pensar em uma demonstração adequada de apreço por Muzic, da Vila Doni, cuja hospitalidade ela desfrutara quando fora apanhada no caos em Remno. O velho caçador fora um verdadeiro salva-vidas, vindo em seu auxílio quando ela acordara completamente perdida após quase se afogar em um rio. Nem é preciso dizer que algum tipo de presente de agradecimento era necessário, mas…

— O que devo enviar a ele…?

Aí é que as coisas ficavam complicadas. O presente mais simples era dinheiro. Tinha um valor claro e definido, e era rápido e fácil de dar. Ela poderia simplesmente entregar-lhe um belo saco de dinheiro como recompensa e terminar com isso. Havia um problema com essa ideia; seu valor era muito definido. Por exemplo, se ela lhe desse uma moeda de ouro, representaria exatamente o valor de uma moeda de ouro em agradecimento. Considerando que era a Princesa de Tearmoon agradecendo ao homem que salvara sua vida, uma moeda de ouro parecia mais do que um pouco mesquinha. Se outros descobrissem, mancharia a reputação do Império. Pior ainda seria o cenário em que Sion acabasse dando dez de ouro, o que pintaria Mia como uma miserável mesquinha.

Ela também não podia simplesmente cobrir o homem de dinheiro. A guilhotina podia não estar mais em seu horizonte, mas as finanças de Tearmoon mal estavam em melhor forma. Não havia absolutamente nenhum lugar para gastos imprudentes. Considerando tudo, expressar seus agradecimentos na forma de dinheiro muito provavelmente acabaria custando-lhe mais do que ela gostaria.

Sua melhor opção, então, era um objeto valioso. Assim como cavaleiros excepcionais recebiam espadas de alta qualidade como recompensa, e comerciantes nomeados pela realeza que se saíam bem recebiam roupas régias, presentear pessoas com itens caros como sinal de apreço era uma prática difundida. Este método ainda vinha com o problema do custo. Seja joias, roupas ou espadas extravagantes, a carteira ia sofrer. Economizar na qualidade era arriscado demais; a última coisa que ela queria era que se revelasse que seu presente supostamente imponente se desfez durante o transporte ou algo assim. Ela nunca superaria um incidente como esse. O que importava era o equilíbrio.

— A pergunta de um milhão de moedas, então, é como obter um item de alta qualidade mantendo os custos baixos…

Por três dias inteiros, ela ponderou sobre este problema. Então, em um flash de inspiração, ela encontrou sua resposta — na panela do chefe de cozinha! Ou melhor, era a panela!

— É isso! Eu só tenho que pegar algo que normalmente é barato e fazê-lo de uma forma cara!

Pegue, por exemplo, um vestido que é moderadamente caro. Por ser moderadamente caro, também deve ser de qualidade moderadamente boa. Como presente, provavelmente será recebido com entusiasmo moderado, o que, no grande esquema das coisas, não é terrivelmente impressionante. “Moderado” carece de impacto. No entanto, e se você pegasse o dinheiro que teria gasto naquele vestido e comprasse um lenço com ele? Certamente será um lenço da mais fina qualidade, e quando você o der a alguém como presente, qual você acha que será a reação deles? Sem dúvida, será algo como “Que lenço caro!” ou “Isso sim é um lenço de qualidade!”. Em outras palavras, usar uma quantia moderada de dinheiro para adquirir um item normalmente barato em altíssima qualidade é como você cria aquela sensação premium sem quebrar o banco.

Na verdade, quando o chefe de cozinha disse a Mia quanto a panela havia custado, a primeira coisa que ela pensou foi: “Nossa, você pode fazer um ensopado tão delicioso com algo tão barato?”. Uma moeda de ouro era muito dinheiro para uma pessoa comum, mas empalidecia em comparação com o custo de joias preciosas e vestidos de grife. Ela sabia disso, porque passara os últimos dias pesquisando todos os tipos de presentes em potencial. Então o chefe de cozinha apareceu com um sorriso orgulhoso e a resposta que ela procurava: uma panela premium feita com tecnologia de ponta.

— Além disso, o fato de ser uma panela torna-a um presente mais significativo também!

Na verdade, considerando as circunstâncias do homem, dar a ele algo como joias era exatamente o tipo de movimento que faria parecer que ela pensou muito pouco em seu presente. Uma panela, enquanto isso, teria grande utilidade para um caçador como ele. Finalmente, Mia encontrara a resposta para seu problema.

— Bem, então, não adianta ficar esperando. Vou pedir a Ludwig para enviá-la imediatamente — disse ela, cantarolando alegremente para si mesma enquanto se lembrava com carinho dos eventos na Vila Doni. — Espero que ele goste… Mas, hã. Quanto mais penso nisso, mais sinto falta daquele delicioso ensopado de lebre… Era tão bom… Aposto que ficará ainda melhor se for feito com uma panela premium… Mmph…

Ela enxugou um pouco de baba. Então, uma ideia lhe ocorreu.

— Hã, sabe de uma coisa…

Seu sorriso adquiriu um ar travesso.

 

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— Minha nossa. Entrem, entrem. Deve ter sido uma jornada e tanto — disse o chanceler de Remno, Dasayev Donovan, ao cumprimentar o grupo que entrava por sua porta.

Seu sorriso genial não escondia totalmente a apreensão em sua expressão. Embora sua mansão fosse tão luxuosa quanto se esperaria da residência de um nobre de Remno, ele ainda não conseguia deixar de se preocupar que pudesse ser inadequada para receber adequadamente convidados de tão alto escalão.

Caminhando na vanguarda do grupo estava a realeza encarnada — a filha do Imperador de Tearmoon, que reinava sobre uma das duas nações mais fortes do continente. Com um sorriso surpreendentemente desprovido de arrogância, Mia Luna Tearmoon ergueu ligeiramente a saia em uma reverência respeitosa.

— Muito obrigada por providenciar nos ajudar em tão pouco tempo, Lorde Donovan.

Entendo. Então esta é a Grande Sábia do Império… A garota que mudou o Príncipe Abel…

Um sopro de admiração escapou de seus lábios enquanto contemplava a charmosa jovem princesa.

— De nada. Por favor, desculpem meus modestos aposentos e sintam-se em casa. Devo trazer doces?

— Nossa! Que atencioso de sua parte, Lorde Donovan!

Seu rosto floresceu em um sorriso brilhante. Considerando seu status, Donovan não tinha dúvidas de que ela se fartava de doces no dia-a-dia, mas ainda assim ela fez questão de mostrar apreço sincero quando eles foram oferecidos como refresco. Só isso já lhe deu uma ótima impressão da garota. Para sua surpresa adicional, ela respaldou suas palavras com ações, não deixando um pedaço de bolo ou uma gota de chá para trás. Durante todo o processo, ela nunca pareceu não estar gostando. Isso cimentou sua opinião positiva sobre ela.

Discrição e modéstia, geralmente consideradas virtudes, eram, em última análise, situacionais. Usando esta mesma troca como exemplo, se ela tivesse praticado a modéstia social e evitado consumir os refrescos oferecidos, poderia ser interpretado como um sinal de suspeita. Talvez, seria assumido, ela estivesse preocupada que a comida tivesse sido envenenada. Se ela desejasse demonstrar confiança, seria necessário que ela desse pelo menos uma mordida. Presumivelmente, ela entendia essas normas sociais, e foi por isso que escolheu comer até o último pedaço. Como tal gesto seria recebido dependia do observador, mas Donovan achou cativante. Ele preferia muito mais ver uma mordida vigorosa do que uma mordidinha reservada.

Se eu tivesse uma neta… ela seria como ela?, pensou ele, enquanto um sorriso afetuoso surgia em seus lábios. Ele a observou de novo. Então entendo. Esta é a garota que mudou o Príncipe Abel…

Abel Remno não era um estranho para ele. Como chanceler, ele tivera muitas chances de ver o rapaz. Na verdade, ele o vinha observando de perto. Embora Abel parecesse ser de uma estirpe mais gentil que o violento Primeiro Príncipe, Gain, sua indecisão tornava a ideia de deixar o reino a seus cuidados mais do que um pouco preocupante. Essa sempre fora a opinião de Donovan sobre o Segundo Príncipe — um rapaz que ficava aquém de seu irmão em liderança, decisão, proeza marcial e praticamente todos os outros aspectos na formação de um governante.

Mas… ele mudou. Ainda me lembro como se fosse ontem… A maneira como ele se portou no campo de batalha, e a destreza com que pacificou a agitação da cidade depois de me resgatar… A criança magra e pouco assertiva que eu conhecia agora é um verdadeiro leão de rapaz.

Embora não soubesse o que acontecera na Academia São Noel para promover um crescimento tão transformador em Abel, não era difícil imaginar que a garota diante dele estava intimamente envolvida.

Agora, então. Vamos descobrir que negócios uma garota como ela tem com alguém como eu.

Dasayev Donovan respirou fundo para se recompor e falou.

— Por favor, perdoe minha demora. Eu deveria ter expressado minha gratidão no dia em que fui resgatado. Obrigado, por se preocupar com este velho saco de ossos… e, mais importante, por impedir o derramamento de sangue que o povo poderia ter sofrido — disse o velho conde em um tom de profunda sinceridade.

Mia balançou a cabeça gentilmente.

— Aceitarei sua gratidão, mas apenas em nome daqueles que são mais merecedores. Foi um esforço conjunto de todos – incluindo você, Lorde Donovan, que acredito ter contribuído muito para a limpeza posterior.

Discrição e modéstia, na opinião de Mia, eram extremamente importantes. O idoso conde diante dela era o chanceler de Remno, a quem até mesmo a Dama Sagrada, Rafina, reconhecia como um homem de benevolência e integridade. Ela só tinha a ganhar ficando em bons termos com ele.

O irmão de Abel parece me odiar por algum motivo, e não tenho ideia se suas irmãs ou pais gostarão de mim, então, se eu quero uma vida de casada feliz com Abel, vou precisar de amigos em Remno!

De acordo com sua inabalável “Mia Primeiro”, ela prontamente se engajou em uma sinalização extrema de modéstia, esquivando-se e desviando todos os elogios enviados em sua direção para demonstrar sua profunda discrição e contenção social. Nem uma vez lhe ocorreu que o prato vazio à sua frente, desprovido de seu conteúdo assado, de certa forma manchava o efeito.

— Na verdade, é por isso que voltei a Remno, para agradecer a todas as pessoas que me emprestaram sua força. Há uma pessoa em particular para quem tenho um presente que gostaria de entregar pessoalmente.

— Um presente a ser entregue pessoalmente? — Os olhos de Donovan se arregalaram.

— Claro. — Ela assentiu com firmeza. — Esta pessoa salvou minha vida.

A conversa entre Donovan e Mia arrancou um suspiro de admiração de Ludwig, que os observava da lateral.

Como sempre, Sua Alteza é uma maravilha de se ver.

Mia preparara um presente e o carregara ela mesma em sua jornada até aqui. Foi um pequeno gesto, mas um que renovou sua fé nela.

Normalmente, alguém em sua posição simplesmente entregaria o presente a um mensageiro e o enviaria com seus cumprimentos. Ela não fez isso.

Ela é a princesa de um vasto Império, mas é sincera em seu apreço e está disposta a expressá-lo com as próprias mãos. Só isso já certamente influenciará a opinião de Lorde Donovan sobre ela.

Não foi muito. O presente em si não mudou. O máximo que ela conseguiu foi adicionar candura à sua mensagem. A política, no entanto, não era praticada através das emoções, e era um deslize inserir os próprios sentimentos em assuntos diplomáticos. Era imperativo que as nações fundamentassem suas decisões na base da lógica. Como ela era vista por um chanceler estrangeiro menor deveria ser irrelevante. Contanto que as negociações entre as nações prosseguissem com calma e racionalidade, nenhuma das partes deveria se preocupar indevidamente com os sentimentos da outra.

…Ou, pelo menos, essa seria a perspectiva de um racionalista linha-dura. Mas a realidade era diferente. Você podia pregar as virtudes do julgamento racional na política o quanto quisesse, mas no final do dia, eram pessoas por trás daquelas políticas — pessoas que estavam à mercê de seus corações. Políticos tinham seus preconceitos, e se eram amigáveis ou detestavam alguém claramente influenciaria sua tomada de decisão. Tais influências às vezes tinham pouco peso. Se um príncipe gostasse de uma princesa, mas a nação dela estivesse à beira do colapso, ele não poderia simplesmente enviar-lhe um monte de tropas, a menos que houvesse algo a ganhar. Da mesma forma, se a nação dela estivesse sofrendo de fome, a paixão por si só não poderia permitir que ele oferecesse comida sem compensação. Mas isso não significava que não fazia diferença alguma. Era como fazer compras; se o mesmo produto estivesse sendo vendido por vários comerciantes pelo mesmo preço e qualidade, você o compraria do comerciante com quem tem um relacionamento estabelecido. Na verdade, você poderia até estar disposto a pagar um pouco mais para comprar da pessoa de quem gosta. Eram esses tipos de pequenas diferenças que, embora tivessem pouco peso individualmente, poderiam se acumular até serem pesadas o suficiente para inclinar a balança.

Sua Alteza é verdadeiramente um paradigma de diligência. Não apenas ela está garantindo que aqueles que a ajudaram sejam recompensados, mas também está usando isso como uma oportunidade de estender seus contatos, para fortalecer os laços entre Tearmoon e Remno no futuro. Os esforços que ela faz por sua nação são uma maravilha de se ver!

Ludwig se viu comovido quase às lágrimas pela Grande Sábia que era tão sábia em seu serviço ao Império. Enquanto ele estava ocupado se deleitando em suas fantasias cada vez maiores, Mia continuou sua explicação.

— Ele é um caçador chamado Muzic de um lugar chamado Vila Doni, e eu desejo muito entregar este presente a ele pessoalmente. Seria pedir muito um guia?

— Vila Doni… O nome não me soa familiar…

— Não fica longe da cidade onde o resgatamos. Há uma aldeia de caçadores na floresta próxima.

— Entendo. Se é nessa área, então… Perguntar aos locais seria o melhor. Talvez alguém da guarnição de Senia possa ajudá-la… — Donovan se levantou e foi até um armário de onde retirou um pedaço de pergaminho. — Se me der um momento, terei prazer em escrever-lhe uma carta de apresentação para o prefeito de Senia. Também farei com que alguém de minha casa a acompanhe como guia no caminho até lá.

— Você tem minha gratidão, Lorde Donovan — disse Mia com um sorriso alegre.

As coisas continuaram tranquilamente depois disso, e Mia logo estava desfrutando do balanço suave de uma carruagem bem suspensa, a carta de apresentação de Dasayev Donovan firmemente em sua mão.

Pensando bem, pedir ajuda ao chanceler foi definitivamente a escolha correta…, pensou Ludwig. Considerando a opinião desfavorável do Rei de Remno sobre Sua Alteza, ir diretamente a ele teria tornado as coisas muito mais difíceis.

Ele olhou para Mia, que olhava alegremente para a paisagem que passava. Sua jovialidade se mostrou contagiante, e ele sentiu seu próprio humor melhorar.

É como se um fardo pesado tivesse sido tirado de seus ombros. Ela deve ter ficado profundamente preocupada por ter deixado tal dívida por pagar, embora poucos, se é que algum, ficariam chateados ou mesmo surpresos se ela — a princesa de uma grande nação — simplesmente tivesse se esquecido de reconhecer um ato de bondade de um plebeu… Aquece meu coração saber que Sua Alteza sem dúvida tem as qualidades de uma governante benevolente.

Ele levou os dedos à ponte do nariz, como se ajustasse os óculos, e fungou um pouco.

…Aqueles de vocês que por acaso trouxeram uma faca podem prosseguir com o corte, porque a ironia é tão espessa que todos podem pegar um pedaço para si.

 

Separador Tsun

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Quando finalmente chegaram à Vila Doni, a Guarda da Princesa ficou sem palavras com a visão.

— Você está me dizendo que… ela ficou em um lugar como este com o Príncipe Sion?

Os soldados trocavam sussurros espantados e expressões boquiabertas. Não se podia culpá-los. A Vila Doni era um assentamento minúsculo, e não havia nada no lugar que sugerisse que seria remotamente adequado para hospedar a realeza. Aqueles familiarizados com o caráter de Mia, como Anne e Ludwig, poderiam ter esperado tanto, mas os guardas não puderam deixar de encarar com incredulidade. Mia observou o mar de olhares perplexos e riu com alegria.

— Ah, parem com esses olhares. A vila pode ser pequena, mas garanto que é bastante agradável, e é agraciada por toda sorte de maravilhas da floresta.

Com o que ela queria dizer lebres. Ou melhor, o que as lebres se tornam depois de serem deixadas para cozinhar em uma panela por algumas horas.

Mia foi direto para a cabana de Muzic. Ao se aproximar da porta, ocorreu-lhe que ele poderia estar caçando, mas sua preocupação foi rapidamente dissipada quando o velho caçador apareceu ao seu chamado.

— Bem, que me parta um raio, se não é a mocinha. — Ele sorriu para sua convidada inesperada. — Bom saber que você encontrou seus amigos.

— Certamente encontrei, e tudo graças à generosa ajuda que você ofereceu. Na verdade, devo minha vida a você, e você deve me permitir expressar minha gratidão. — Ela lhe ofereceu um sorriso caloroso e curvou a cabeça graciosamente. — Veja, eu na verdade sou…

Ela então revelou sua verdadeira identidade.

— Huuuuh, é mesmo? Recebi notícias do seu amiguinho também. Nunca pensei que vocês fossem um par de tipos reais. Príncipe e princesa, hã.

Aparentemente, Sion estava um passo à frente dela, já tendo despachado um enviado.

Ele com certeza é diligente quando se trata dessas coisas. Parece que me passou a perna.

Ela relutantemente tirou o chapéu mental para Sion. Então ela apresentou seu presente.

— Vim trazendo um presente. Considere-o um sinal do meu apreço.

Muzic ergueu as mãos e deu um passo para trás.

— Nah, não se incomode. Não preciso de presentes. Ajudei você porque quis. É só isso. O príncipe me ofereceu algo também, e eu recusei.

Seu gesto fez com que o guia de Remno que os acompanhava inspirasse bruscamente — e por um bom motivo. A Princesa de Tearmoon se dera ao trabalho de fazer uma visita pessoal para lhe dar seu presente, e ele apenas respondeu com o equivalente a “Meh, não, obrigado”. Foi uma afronta ultrajante, e ninguém ali teria ficado nem um pouco surpreso se Mia, em um acesso de raiva, tivesse gritado: “Cortem-lhe a cabeça!”

Ela não o fez, no entanto. Não havia um único sinal de raiva em seu rosto. Em vez disso, ela franziu a testa em gentil desapontamento.

— Ora, que lamentável. Eu esperava pedir a você para usar a panela que trouxe para fazer mais daquele delicioso ensopado de lebre — disse ela, desanimada.

Todos trocaram olhares intrigados, imaginando qual era o problema com aquele ensopado. Todos, exceto Muzic, que gargalhou.

— Sério? Você veio até aqui só por um ensopado de lebre?

— Certamente. Ouvi dizer que cozinhar com esta panela deixa a comida ainda mais saborosa, então pensei que simplesmente tinha que experimentar — disse ela enquanto, de forma muito despretensiosa, tirava a panela de sua bolsa. — Ah, eu estava ansiosa por isso.

— Bem, agora. Tenho que dizer, essa é uma panela bem chique.

— Sim, foi fabricada pelos melhores artesãos do Império usando o mais recente passo-a-passo de fabricação de panelas. Aparentemente, é muito boa em deixar o calor passar, e pode realmente fazer mágica quando você está cozinhando carne e outras coisas — disse ela, exibindo orgulhosamente a panela como se a tivesse projetado. — Poderia lhe dar o trabalho, então, de experimentá-la? O que quer que você faça, eu pagarei pela minha parte, claro. Então, por favor, faça um pouco daquele ensopado… E já que estamos nisso, na verdade, poderia lhe dar o trabalho de colher alguns cogumelos comestíveis? De preferência, que sejam fáceis de cozinhar. Eu adoraria comer alguns cogumelos também… Você pode cozinhar cogumelos?

— Bem, sim, claro, você pode fazer ensopado de cogumelos… mas eu não te disse para ficar longe dessas malditas coisas?

Ludwig observava a troca entre Mia e Muzic da lateral.

Verdadeiramente, Sua Alteza é uma maravilha de se ver.

Ele vinha tendo esses mesmos pensamentos com tanta frequência nesta jornada que estava começando a se repetir, mesmo em sua cabeça. Na Terra de Ludwig, a inflação se tornara a norma.

Apesar de o destinatário recusar sua recompensa, ela, no entanto, conseguiu colocar o presente em suas mãos. E tudo pareceu tão natural… Para remover quaisquer reservas remanescentes, ela reorientou a questão para o que era supostamente seu próprio desejo egoísta por comidas finas, fazendo parecer que ele estaria lhe fazendo um favor ao aceitar seu presente…

Foi uma demonstração magistral de manobra social. Ele começou dizendo que não a ajudara por ganho pessoal. Ela rebateu com a alegação de que ele estaria lhe fazendo um favor. Diante de sua modéstia taticamente impenetrável, ela simplesmente virou o jogo. Ela queria comer, e era ela quem estava pedindo. A panela não era um presente; era uma ferramenta para atender ao seu pedido. Foi um xeque-mate brilhante, e ela o inventara na hora.

Agora, tudo o que lhe era pedido era que fornecesse uma única refeição. Como ela era uma convidada de longe, a própria etiqueta exigiria que ele fornecesse tal, e o fardo sobre ele seria mínimo, desde que não houvesse fome. Foi como testemunhar a arte em movimento — uma sequência calculada, planejada e executada com perfeição. Pelo próximo tempinho, a cabeça de Ludwig se encheu de pouco mais do que admiração por Mia.

É bater em cavalo morto a esta altura, mas obviamente, Mia não estava fazendo nenhuma manobra social. Não havia cálculo, nenhum subtexto de batalha de inteligência em sua troca. Ela quis dizer cada palavra que disse. Literalmente. Ela estava honestamente apenas desejando um delicioso ensopado de lebre. O que estava bem, na verdade. Nada de errado com um pouco de gula de vez em quando. Além disso, boa comida era a base para uma boa vida. Por que questionar a busca de uma garota pela felicidade?

E felicidade ela encontrou, com fartura para todos. Todos os presentes, de Ludwig e Anne à guarda da princesa e seu guia de Remno… Todos que comeram um pouco daquele delicioso ensopado se viram compartilhando um ar de alegria e riso calorosos. Uma boa refeição era uma fonte de felicidade, e alguns goles foram o suficiente — pelo menos por um tempo — para libertá-los de suas preocupações.

— Deixarei essa panela aos seus cuidados, Muzic. Se eu tiver a chance de visitar novamente, estarei ansiosa por outra tigela de ensopado — disse Mia, enquanto dava ao velho caçador um aceno de despedida animado.

— Pode apostar. Volte quando quiser. Vou te tratar com o melhor ensopado que você já comeu.

Muzic acenou de volta e sorriu como se estivesse se despedindo de sua própria neta.

Mia partiu da aldeia, sem saber se algum dia voltaria. Seu futuro era incerto, e o caminho à frente ainda estava envolto em névoa. Então, ela semeou sementes, espalhando-as aos ventos do destino enquanto prosseguia. Um dia, elas floresceriam, e talvez — apenas talvez — ela colheria os frutos que elas deram.

A revolução de Tearmoon acabou agora… mas ainda preciso de um plano B caso algo aconteça. A Vila Doni é um lugar minúsculo no meio de uma floresta, o que a torna perfeita para quando eu precisar me esconder. Além disso, contanto que tenham aquela panela, terei todo tipo de comida deliciosa para comer, então não terei que me preocupar em passar fome.

O tímido sempre buscava refúgio; nenhum covarde ficaria sem um esconderijo preparado. Não fazia muito tempo que seu diário desaparecera, e Mia ainda estava planejando cuidadosamente seus próximos passos. Conhecendo-a, porém, a diligência provavelmente não duraria. Em breve, ela provavelmente começaria a relaxar…

Assim concluiu-se a visita de agradecimento de Mia, durante a qual todos se divertiram. Todos, isto é, exceto as lebres que foram comidas. Elas não se divertiram muito.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Matface

 

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