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Império Tearmoon – Vol. 02 – Cap. 41.2 – Capítulo Extra: O Rei Penal e o Súdito Leal de Mia

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O Palácio da Lua Branca era um castelo ornamentado que abrigou gerações de imperadores de Tearmoon. Mesmo quando todo o império foi engolfado pelas chamas da revolução, ele permaneceu firme, sua beleza imaculada por fogo e fuligem. O exército revolucionário acabou ocupando o palácio, seus líderes o reaproveitando como quartel-general. Assim que as batalhas cessassem e os nobres corruptos fossem todos mortos, eles planejavam reverter a extravagante estrutura à sua função original como o núcleo administrativo da nação.

Ludwig entrou na câmara de audiências. Ele se ajoelhou e curvou a cabeça diante do trono. Sentado nele estava o jovem que o havia convocado.

— Sinto-me honrado por esta oferta graciosa, Alteza. Como ex-oficial do império, é uma honra e um privilégio continuar servindo aos interesses de seu povo. Mas… imploro que me conceda um pedido.

Com olhos vazios, ele olhou para o jovem no trono, que o observava com perplexidade por entre alguns fios soltos de um resplandecente cabelo prateado.

— Um pedido, você diz? Fale, então. É minha intenção cumpri-lo da melhor forma possível—

— Tenho apenas um desejo, Alteza — disse Ludwig, a emoção surgindo em sua voz enquanto ele sustentava o olhar de Sion. — Poupe a vida dela. Por favor…

Uma sombra caiu sobre o rosto de Sion.

— Infelizmente, a execução da Princesa Mia é um assunto encerrado. Não pode ser revogado.

Ele balançou a cabeça, impassível ao apelo de Ludwig. Então ele soltou um suspiro pesado e continuou.

— Sangue demais… — disse ele, sua voz perdendo um pouco do vigor. — Sangue demais foi derramado. O povo está com raiva, Ludwig, mais raivoso do que nunca com a tirania da família imperial e seus semelhantes. Se eu cancelar a execução, isso desencadeará indignação contra a liderança da revolução.

O Reino de Sunkland poderia manter um certo grau de agitação sob controle através da pressão militar, mas fazer isso prolongaria o caos e esgotaria ainda mais o império. Seu povo apenas sofreria mais.

— É imperativo que a ordem seja restaurada e o caos eliminado o mais rápido possível. Para esse fim, o exército revolucionário precisa ser visto como um campeão da justiça que corrigirá o sistema corrupto. Portanto, precisa ganhar amplo apoio entre o povo.

Um novo líder em quem o povo confiasse se ergueria. Sob a direção desse líder, um novo império ressurgiria das cinzas. Esse era o roteiro mais fácil — o caminho mais suave para a recuperação. Estava correto. Sua lógica era sólida. Era inegavelmente a decisão mais justa que poderia ser tomada. E Ludwig sabia disso. Ele sabia disso muito bem. Foi por isso que ele suspirou e se levantou.

— Entendo… Que assim seja.

Ele balançou a cabeça um pouco, virou-se e se afastou. Foi um gesto de profundo desrespeito para com a realeza de uma nação estrangeira. O guarda ao lado de Sion quase desembainhou a espada, mas Sion fez um gesto para que ele parasse. Ele ergueu a voz ligeiramente e falou na direção da figura de Ludwig que se afastava.

— Você não me emprestará sua força? Para reconstruir o império?

— Príncipe Sion… Você é um governante ideal. Você é sábio. Você é justo. Não há dúvida em minha mente de que você é um homem de competência e virtude.

Ao contrário daquela princesa com cérebro de ervilha, acrescentou ele em sua mente.

A princesa que, alheia ao significado político de frequentar a Academia São Noel, passava seus dias lá sem prestar atenção às consequências diplomáticas de suas ações… e, como resultado, não conquistou o afeto de uma única alma. Apesar de ter frequentado a escola ao mesmo tempo que a princesa de uma nação amiga, ela havia esquecido o nome da garota e, durante uma reunião diplomática quando o império mais precisava de ajuda, fez o impensável — olhou para sua colega de escola e perguntou: “Ora, quem poderia ser você?”

O incidente quase o fez desistir da princesa desastrada para sempre. Em vez disso, ele engoliu suas frustrações e ficou com ela. Mas não antes de lhe dar uma boa bronca.

“Pelo amor de— Olha, se você vai para aquela escola, tem que pelo menos se lembrar dos nomes dos alunos proeminentes e de suas respectivas nações!”

Por mais que tentasse, no entanto, ele não conseguia ficar com raiva. Especialmente depois que notou o bloco de notas que ela começou a carregar consigo após sua repreensão severa. De vez em quando, ele a encontrava andando com ele em uma mão, murmurando para si mesma, com o rosto contraído em concentração. Uma vez, ele chegou perto o suficiente para vislumbrar o que estava escrito — os nomes de seus colegas de classe com suas nações de origem, que ela continuava recitando para si mesma na tentativa de memorizá-los.

A partir daquele dia, algo nele mudou. Ele a viu de forma diferente. Ela era tão tola e pouco confiável como sempre… mas estava tentando.

Sua Alteza… Ela se esforçou. Ela tentou melhorar.

Ele parou seus passos e se virou para estudar o jovem no trono. O Príncipe Sion era a própria imagem da virtude. Mia era sua inimiga, e ainda assim ele teve a tolerância de buscar a ajuda de Ludwig, seu ex-vassalo. Ele demonstrou bom senso e acuidade política.

Ludwig sorriu. Era um sorriso triste e irônico. Ele sabia com dolorosa clareza que não poderia encontrar pessoa melhor para servir. Ninguém era mais merecedor de sua devoção do que o jovem diante dele. E ainda assim…

— Você já esteve errado, Príncipe Sion? Mesmo que uma vez? Duvido. E é por isso que…

Ele balançou a cabeça, deixando seus pensamentos finais por dizer.

Você provavelmente nunca entenderá… como ela se sentiu… e o quanto ela tentou…

Fazer o que é certo quando o certo é factível — essa era uma característica valiosa e louvável de um governante. Se recebessem uma quantia de dinheiro que pudessem gastar livremente, quantas pessoas poderiam realmente afirmar saber como gastá-la corretamente? Sion Sol Sunkland era, sem dúvida, o tipo de pessoa que daria o melhor uso a esse dinheiro. Era mérito dele… mas também sorte dele. Havia muitas vezes em que o certo não podia ser feito — quando o mundo o encurrala, colocando-o entre a cruz e a espada. Mesmo quando se deseja dar comida às massas famintas, pode não haver comida para dar. O desejo de governar com integridade e enriquecer seu povo poderia ser frustrado pela falta de recursos ou habilidade.

Essa era a história de sua regente — uma princesa que lutou contra seu destino nos piores momentos, quando todo o mundo parecia empenhado em sua ruína. Ele suspirou mais uma vez e disse a Sion: — Não consigo imaginar que você precise da minha força. Certamente, você não tem falta de conselheiros capazes?

Ele sabia que era seu sentimentalismo falando. Esforço e empenho não desculpavam o resultado. A verdade fria era que inúmeras pessoas haviam perdido suas vidas devido à incompetência da família imperial e à tirania de nobres corruptos. Os enlutados ficaram apenas com espaços vazios onde seus entes queridos costumavam estar. Nenhuma mera palavra, por mais sincera ou lógica que fosse, poderia trazer de volta o que haviam perdido nem aliviar sua angústia e fúria.

Mas mesmo assim… apesar de tudo, ele sentia uma profunda tristeza pelo fato de que tudo o que ela havia feito — todos os seus esforços sinceros — seria em vão, para nunca ser reconhecido.

— Eu… não me vejo servindo a você ou à Dama Tiona. Adeus — disse ele em voz baixa, surpreso com o toque de raiva que fervia em sua voz.

Então ele partiu.

Sion o deixou ir sem pausa ou penalidade.

Dois dias depois, na Grande Praça da capital imperial, Mia Luna Tearmoon, Princesa de Tearmoon do Império Tearmoon, foi executada. A partir de então, Ludwig desapareceu do palco da história, para nunca mais ser visto.

— Suponho que isso signifique que a Princesa Mia era mais bem conceituada do que eu pensava, pelo menos por alguns… — ponderou Sion em seu escritório após a execução.

A Mia Luna Tearmoon que ele conhecia era uma garota egoísta que abusava de sua autoridade. Ela tratava os nobres inferiores de quem não gostava com desdém aberto e era transparentemente superficial em todos os assuntos. Violentamente desinteressante e rasa, ela era filha de um governante tolo que minou seu próprio império por meio de seu desprezo por seu povo. Não havia nada nela que pudesse extrair dele nem um pingo de afeição, mas…

— Havia um lado dela que… eu não vi?

O pensamento veio com uma breve visão da Princesa de Tearmoon que ele conhecia. Eles frequentaram a mesma escola. Eles conversaram um com o outro. E sob seu comando, ele acabara de ver a cabeça dela se separar do corpo. Não foi uma sensação boa, e deixou um sentimento feio em seu peito — não simples sentimentalismo, mas algo muito mais amargo.

Com o passar do tempo, a queda do Império Tearmoon provou ser o início de um período de caos para o continente. Primeiro, o assassinato de Rafina mergulhou o Sagrado Principado de Belluga em desordem. Em seguida, a revolução consumiu o Reino de Remno. A onda de caos cresceu e cresceu até varrer até mesmo o Reino de Sunkland. Diante de numerosas guerras e lutas internas de poder, o círculo de vassalos capazes do Rei Sion se uniu em torno dele, e eles conseguiram guiar Sunkland através do caos.

Isso lhes custou uma boa parte de seu território e a vida de muitas, muitas pessoas, mas mesmo assim, suas perdas foram mínimas em comparação com as de outras nações. Foi uma demonstração inquestionável de forte liderança e bom governo. No entanto, tempos tão conturbados provaram ser tóxicos para os ideais, e Sion logo descobriu que um reino não poderia subsistir apenas de moral. Repetidas vezes, ele foi forçado a fazer escolhas difíceis. Naquelas noites sem lua, quando se sentia preso entre a consciência e a realidade, ele invariavelmente se lembrava daquele dia fatídico, quando o sol sangrou carmesim e a lâmina da guilhotina caiu.

Eu… não estava errado. Eu tive que fazer. Não havia outra escolha.

Ele repetia essas palavras para si mesmo, arrancando a casca de uma velha ferida que nunca cicatrizaria. Ele tentava ignorá-la. Fingia que tinha sumido. Mas ela permanecia com ele, forçando-o a suportar sua coceira e dor persistentes.

Em seus últimos anos, Sion Sol Sunkland — o Rei Penal — conquistou a reputação de um governante justo, mas ele morreria em seu leito de morte sozinho. Essa foi sua vida — uma de respeito, mas pouco amor, na qual seu nome evocava em seu povo não o respeito do afeto e do favor, mas o do medo e da admiração.

Assim concluiu sua história em um futuro ainda por vir. Era uma possibilidade — um final entre muitos — que Mia lançou para o além com um chute fraco, mas completamente transformador.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Matface

 

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