Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 50 – Keithwood também atinge o ápice do desempenho mental!

Sion Sol Sunkland estava praticando sozinho no campo de treino. Cada golpe da sua espada era rápido e suave, demonstrando um verdadeiro domínio da arma. A sua habilidade tinha atingido tais alturas que facilmente ultrapassava os adultos. A maioria dos soldados não eram páreos para ele.

Com um passo rápido para a frente, ele desfere um golpe lateral com sua espada que foi recebido com aplausos.

— O sol ainda mal nasceu e já está trabalhando arduamente, meu senhor?

— Ah, Keithwood. Você anda que nem um fantasma como sempre. Eu nem reparei em você.

Achando que era uma boa hora para fazer uma pausa, Sion guardou a sua espada de treino e encostou uma toalha à testa. Enquanto secava seu rosto, ele sacudiu a cabeça rapidamente. Seu cabelo liso e sedoso soltava algumas gotas de suor que brilhavam ao sol da manhã.

Keithwood o ficou assistindo durante algum tempo, observando que este era provavelmente o tipo de coisa que fazia as moças desmaiarem, antes de perguntar:

— Então, já decidiu de quem é a lancheira que vai aceitar?

— Não planejo aceitar a de ninguém — disse Sion, respondendo à pergunta abrupta de Keithwood com uma resposta igualmente abrupta. Ele já havia sido convidado por algumas dezenas de garotas e, educadamente, havia recusado cada uma das ofertas.

— Oh? Devo interpretar isso como se você estivesse secretamente esperando que eu faça o seu almoço?

Sion sorriu com a brincadeira de Keithwood.

— Hah. Uma ideia interessante. Na verdade, acho que não me importaria de provar uma de suas criações culinárias. Quando foi a última vez que você cozinhou para mim? Deve ter sido quando ainda estávamos em Sunkland.

A educação de elite que Sion recebia desde a infância se estendia a todos os aspectos de sua vida. Até a alimentação que comia era estritamente gerenciada. O jovem Sion tinha sido uma criança obediente e sempre teve uma sabedoria além de sua idade. Mais de uma vez ele abertamente reclamou sobre a falta de graça de suas refeições. No entanto, seu amigo íntimo, Keithwood, muitas vezes era feito de terapeuta para suas queixas particulares. Keithwood fazia excursões clandestinas noturnas à cozinha, onde preparava lanches noturnos e os trazia de volta para seu mestre. Sion se lembrava com carinho de como ele havia acabado com uma cárie que, depois de descoberta, fez com que os dois levassem uma boa bronca.

— Engraçado você falar isso, porque eu acho que me lembro de ter recebido muitas críticas sobre minha comida apesar dos muitos atos de filantropia altruísta que realizei.

— Mas é claro. Eu sou o príncipe herdeiro de um vasto reino. Sua filantropia não me isenta da minha obrigação de fazer um alvoroço sobre o gosto da minha comida, — brincou Sion com um sorriso de canto.

— Tudo bem, brincadeiras à parte, presumo que você já tenha providenciado a entrega do almoço?

Sion não tinha intenção de aceitar a lancheira de ninguém. Ele não podia – não como o príncipe herdeiro de Sunkland. Seu título era de peso. Muito pesado. Qualquer ato de simpatia explícita em relação a qualquer indivíduo em particular…

…pode acabar prejudicando os interesses do nosso reino no futuro. Sim, posso imaginá-lo pensando assim. Keithwood soltou um suspiro e deu de ombros. Não que ele esteja errado, mas, sinceramente, não o mataria ter um pouco mais de calma.

Príncipe herdeiro ou não, Sion ainda era um garoto na adolescência. Houve um tempo em que a comida sem graça o levou a reclamar. Agora, ele estava perdendo a chance de receber pessoalmente uma bela lancheira. Quem poderia dizer se ele não estava se sentindo um pouco triste por dentro?

— Então, há alguma razão para você estar olhando tão pensativamente para o meu rosto? — perguntou Sion.

Keithwood deu de ombros.

— Não sei dizer, senhor. Acho que você tem um rosto muito instigante — respondeu ele antes de se afastar, deixando um Sion perplexo sozinho no campo de treinamento.

— O fato é que há um número limitado de pessoas para as quais ele pode razoavelmente dizer “sim”, ponderou Keithwood ao considerar as possíveis candidatas a lancheira de Sion. A primeira que lhe veio à mente – e sem dúvida a mais promissora –- foi a Princesa de Tearmoon, que estava à altura de Sion tanto em título quanto em prestígio.

“Tenho a impressão de que, se a Princesa Mia pedisse, Sion não diria não…”

Infelizmente, a princesa, em toda a sua sabedoria, aparentemente havia prometido levar sua lancheira para o Príncipe Abel. Até hoje, Keithwood não consegue entender o que Abel tinha de tão fascinante para Mia.

— Ah, Keithwood, em boa hora.

Ao ouvir alguém chamar seu nome, Keithwood parou e se virou na direção da voz.

— Ah, vejam só se não é a Senhorita Rudolvon. — Ele disse, cumprimentando educadamente a filha do Conde das Terras Distantes de Tearmoon, Tiona Rudolvon. — Em que posso ser útil neste belo dia?

— Bom, veja bem…

Tiona começou a explicar o esforço do grupo para preparar as lancheiras. Depois que ela terminou, ele não pôde deixar de sentir uma crescente sensação de admiração ao perceber as implicações do plano.

Portanto, é o esforço combinado de três garotas, entre as quais uma é uma nobre de baixo escalão e outra é a filha de um comerciante que se tornou nobre. Além disso, há um segundo destinatário, Sion não seria o único foco de atenção.

Um acordo como esse era de fato à prova de rumores. Ninguém sairia por aí fofocando sobre como viram Sion se aproximar de uma garota em particular. No entanto, Mia teria conseguido transmitir seu desejo de ser amiga.

Princesa Mia, hein…

Keithwood assentiu com admiração, sentindo-se como se estivesse testemunhando um plano mestre sendo apresentado diante de seus olhos. As camadas e mais camadas de seu intrincado projeto se tornaram visíveis, e ele pôde ver seu delicado fio de lógica tecendo habilmente o perigoso labirinto que era a paisagem social de São Noel.

A Grande Sábia do Império, de fato. Vejo que você faz jus ao seu…

Então, de repente, seus pensamentos foram interrompidos por um arrepio subindo por sua espinha. Pode ter sido um palpite. Ou talvez uma premonição. Ele não conseguia identificar o que era, mas algo não parecia certo, como se um terrível infortúnio estivesse prestes a acontecer com seu mestre… De alguma forma, ele suspeitava – não, ele sabia, com uma certeza que surpreendeu até a si mesmo – que, se ele permitisse que as coisas prosseguissem como planejado, algo terrível aconteceria no torneio de espadachins.

Ele olhou para Tiona. Não parecia haver malícia em seu sorriso inocente. Mesmo assim…

É melhor dar uma olhada. Afinal, a prudência é a melhor parte do valor. Não custa nada ter certeza.

E assim, sentindo que a saúde de seu querido mestre estava em péssimas condições, Keithwood se ofereceu para se juntar à equipe de cozinheiros de Mia. Embora nenhum dos envolvidos jamais viesse a saber, era verdade que a decisão de Keithwood naquele dia seria fundamental para proteger a saúde gastrointestinal de Sion e Abel.