Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 49 – Princesa Mia… Atinge o Pico da Performance Mental! (2)

Após ouvir a resposta de Anne e ter todos os tipos de alarmes soando em sua cabeça, Mia correu em busca de ajuda. Apesar de conhecer muitas pessoas, poucas delas se provaram úteis. Afinal, as meninas que a acompanhavam eram todas nobres e provavelmente poderiam contar nos dedos o número de vezes em que estiveram numa cozinha. Na verdade, o mesmo se aplicava a, essencialmente, todo o corpo estudantil de São Noel. Quase nenhum dos alunos aqui havia cozinhado antes. 

Quase nenhum. 

Mia seguiu em direção ao quarto de uma das exceções: Chloe. Embora os Forkroads fossem nobres, seu título havia sido comprado. Até hoje, seu estilo de vida se assemelhava mais ao de comerciantes ricos. Havia uma boa chance de que soubesse cozinhar. 

— Oh, Princesa Mia… Hã? Cozinhar? — Chloe inclinou a cabeça curiosamente diante do pedido inesperado. — Bem, sim, estou familiarizada com o assunto. Quer dizer, já li sobre isso antes —,  respondeu com um sorriso. 

Note sua escolha de palavras: “familiarizada com o assunto” e “li sobre isso antes.” 

Parece que não terei sorte com ela também. 

Os instintos de sobrevivência de Mia estavam afiados naquele dia, e eles lhe diziam que a resposta de Chloe também exalava perigo. No entanto, decidiu recrutá-la para a equipe das marmitas; afinal de contas, pedintes não podem ser exigentes. 

— Claro, estarei livre nesse dia. Posso vir ajudar. 

Após receber a confirmação de Chloe, Mia saiu novamente. Sabendo que precisava procurar mais pessoas, seguiu em direção à… 

— … Ninguém. Absolutamente ninguém mais me vem à mente! 

As coisas mal começaram e já havia encontrado um beco sem saída. Ela estava realmente orgulhosa de todo trabalho árduo que teve para conhecer pessoas, então isso a atingiu em cheio. 

O problema é cozinhar! Encontrar alguém nesta academia que saiba cozinhar, em primeiro lugar, é impossível! 

Justo quando estava voltando para seu quarto para ficar emburrada por um tempo, Anne apareceu. 

— Milady! Encontrei alguém que sabe cozinhar! 

— Sério?! Espere, deixe-me adivinhar… alguém que você conhece que sabe cozinhar… — Após uma breve reflexão, exclamou: — Oh, é a Liora? 

A acompanhante de Tiona logo veio à mente. Ela parecia uma possibilidade. 

— Eh, não… Até pensei nela, quero dizer, ela é boa… mas em coisas como pegar lebres selvagens, limpá-las no local e assá-las inteiras… 

Embora fosse tecnicamente uma forma de cozinhar, parecia um pouco demais… 

— Alguém da natureza —, por assim dizer. Para os povos da floresta, essa habilidade provavelmente era extremamente útil, mas sua relevância para preparar marmitas era questionável. 

— Na verdade, foi Tiona quem disse ser boa na cozinha. 

— T-Tiona?! 

Mia recuou chocada, talvez horrorizada também. Na vida de Mia, Tiona era a inimiga pública número um. Ela a evitava ativamente, fazendo de tudo para garantir que tivessem o mínimo de interações. Afinal, ser levada à guilhotina era o tipo de coisa que deixava uma impressão duradoura. Mas… 

— Sim. Aparentemente, às vezes ela ajudava na cozinha em casa. 

Fazia sentido. Os Rudolvons eram tão pobres que era quase ridículo chamá-los de nobres. Além disso, tinham muitas terras que usavam para agricultura. Com a maioria dos seus servos trabalhando nos campos, era possível que Tiona tivesse de ajudar na cozinha. Ela seria uma adição crucial à equipe. 

— Ummm… E-Está bem —, disse Mia, fazendo uma expressão como se tivesse acabado de engolir o remédio mais amargo da história. 

Assim, ela fez uma visita relutante à Tiona. 

— Ah, Princesa Mia? O que houve? — perguntou Tiona, pega desprevenida pela visita inesperada. 

— Senhorita Tiona, ouvi dizer que você é boa na cozinha. Isso é verdade? 

— Sim, diria que sou. 

Ao vê-la assentir com confiança, Mia estava prestes a soltar um grito de alegria… 

— Estou sempre picando coisas, então, se precisar de legumes à julienne, deixe comigo. 

Apenas para se sufocar novamente ao ouvir as palavras de Tiona. 

— … E quanto às outras coisas? 

— Consigo moer também. 

Mia não sabia nada sobre culinária mas, mesmo assim, tinha a sensação de que algo não estava certo. Tiona também não parecia inteiramente confiável. Contudo, ajuda duvidosa ainda era ajuda, e ela precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir. 

— Senhorita Tiona, veja bem, estou planejando preparar uma marmita e entregá-la ao Príncipe Abel no dia do torneio de esgrima. Gostaria de fazer isso juntas? 

— Hã? Juntas? Mas… Você é a princesa, e eu sou apenas… Além disso, não tenho ninguém para entregar… 

Ao ouvir essas palavras, Mia teve um lampejo de inspiração maliciosa. 

— Ah, é mesmo? Hum, nesse caso, que tal aquele idio… Cof cof. Quero dizer, que tal prepararmos a mais para você poder levar uma para o Príncipe Sion? 

Para Mia, as chances de seu grupo improvisado conseguir preparar uma marmita com sucesso pareciam bem baixas. Se as coisas dessem errado, qualquer mistura que conseguissem criar poderia ser tão ruim a ponto de deixar Abel doente e arruinar sua performance no torneio. Nesse caso, contanto que fizesse Sion comer a mesma coisa… 

Pelo menos o derrubarei também! É a oportunidade perfeita para minha vingança! 

Ela já havia ido longe demais para parar agora. A Operação Marmita aconteceria de qualquer jeito. Se estivesse destinada a falhar, que assim fosse. Entretanto, não falharia sozinha. Derrubaria seu arqui-inimigo junto. 

Quando a vida te dá limões, esprema seus sucos amargos nos olhos de seus inimigos! Isso mesmo! Mia sabia como aproveitar ao máximo o que tinha! Era otimista! Uma pessoa positiva! Era isso que essas palavras significavam, certo? 

Além disso, a culpa não será apenas minha. Tiona terá sua parcela também. Isso significa que, não importa o quanto o Príncipe Sion nos odeie, não poderá me acusar sozinha. Ah, que maneira perfeita de me vingar! 

Um sorriso maligno rastejou pelos lábios de Mia. Mal sabia ela que envolver Sion acabaria descarrilhando todo o seu plano e o levaria para uma direção completamente diferente.