No oitavo dia do mês de fogo, acordei bem cedo, talvez porque não dormi direito, e quando levantei, ainda estava escuro do lado de fora da janela. Olhando para o meu relógio de bolso vi que eram 6 da manhã.
Embora seja bastante cedo, não me sinto privado de sono porque fui para a cama mais cedo do que quando estava na Terra, onde costumava ficar acordado até tarde no meu computador ou assistindo TV.
Sei que é uma coisa boa viver um estilo de vida saudável, mas já está na hora de ter algo para me entreter um pouco. Da próxima vez que for à cidade, pode ser uma boa ideia comprar um livro ou coisa do tipo.
Tendo essa ideia em mente, quando saí do quarto e olhei pela janela do corredor, senti como se minha intuição de repente soasse um aviso dentro da minha cabeça.
Vai chover a partir do meio-dia.
Não sei por que tive esse pensamento. Até onde posso ver do céu tingido com a luz do sol, parece ser outro dia ensolarado, porém por razões que desconheço… Tive uma premonição quase certa. No final, não sei por que senti tal coisa, e tirando tal pensamento de foco, fui ao banheiro para lavar meu rosto.
Quando estava prestes a dar meio-dia conversei com Kuro, que balançava as pernas enquanto relaxava no sofá do meu quarto, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. É incomum que tenha vindo durante o dia, contudo estou acostumado com ela aparecendo de repente, para ser honesto, então não me dei ao trabalho de jogar um tsukkomi.
— Unnn? Pelo jeito vai chover!
— Hã?
Enquanto Kuro desfrutava um momento relaxante, murmurou, e voltando meu olhar para a janela… O céu, que estava limpo há pouco tempo, ficou nublado, e vi uma pequena gota d’água batendo na janela.
Quando vi a chuva começar a cair assim como tive a intuição que aconteceria no início da manhã, a pergunta que havia afastado da minha mente voltou e, ao mesmo tempo, outro pensamento semelhante me ocorreu.
A chuva vai parar à noite.
Aconteceu de novo… Não sei por que tais pensamentos vieram à minha mente, no entanto senti a sensação de quase certeza junto. O que diabos está acontecendo?
— Arehh? Kaito… Vejo que pode finalmente liberar seu “poder mágico”, hein.
— Hein?
— Unnn, tenho certeza. Não foi apenas uma sensação tênue, você parecia estar revestido com poder mágico. Enfim, está pronto para usar magia.
Embora Kuro tenha apontado que podia ver algo no meu corpo, não consigo ver nenhuma mudança na minha aparência porque o poder mágico essencialmente não é visível.
Entretanto, além dos aspectos físicos, de fato posso sentir alguma mudança. É muito menos diluído do que quando estava pseudo-vestido com o poder mágico de Kuro, e não tinha percebido até agora. Posso sentir que meu corpo está revestido por algo.
— De fato, agora que comentou, sinto como se estivesse de alguma forma revestido de poder mágico.
— Unn, unnn. Pode ser um pouco desconfortável porque seu corpo não está acostumado, e não acho que será capaz de movê-lo bem por agora… Mas depois de cerca de 2 dias deve conseguir sentir como mover sua magia. Depois disso, poderá começar a usar magia.
— Wow…
É certamente como Kuro disse. Posso sentir que estou envolto em poder mágico, todavia, não consigo fazê-lo se mover. Não, para ser preciso, posso sentir que conseguia, só que também sentia que não conseguiria fazê-lo se mover bem.
De acordo com Kuro, isso ocorre porque meu corpo não está acostumado a ser envolto em poder mágico. Em outras palavras, é como um bebê que acabou de aprender a ficar de pé sozinho e, depois de algum tempo, serei capaz de manipular meu poder mágico.
— Por sinal, ouvi algo interessante naquela época.
— Unnn?
— A maioria das crianças de outros mundos, ao que tudo indica, por terem crescido em um ambiente diferente, podem usar uma magia especial.
— Magia especial?
Quando fiquei comovido pelo fato de estar enfim na linha de partida do uso da magia, Kuro sorriu e disse as palavras que despertaram minha curiosidade.
Humanos de outros mundos podem usar um tipo especial de magia, mantendo algum tipo de habilidade única dos outros… De fato, pode-se dizer que é o básico das light novels sobre pessoas invocadas para outro mundo.
— Unnn. Por exemplo, Hikari, a Primeira Heroína, foi capaz de materializar seu poder mágico… Transformando-o em espadas ou escudos, ou para ser mais precisa, transformando-o em algum tipo de mineral. Existem alguns demônios, inclusive eu, que podem fazer coisas semelhantes, porém comparado a transformar magia em fogo ou água, transformá-la em ferro ou algo assim consome muito poder mágico. No geral seria impossível para ela usá-lo com a quantidade de poder mágico de um humano, contudo Hikari é capaz de fazê-lo com apenas uma pequena quantidade de consumo de poder mágico.
— Fumu…
— Além do mais, ela não precisava de nenhuma técnica mágica, como um círculo mágico, para usar essa magia. A materialização deveria ter sido uma magia de alto nível. Não é suposto ser possível omitir o uso de técnicas mágicas a menos que seja um demônio de alto escalão, no entanto, Hikari foi capaz de fazê-lo desde que aprendeu magia.
— Isso não significa apenas que o Primeiro Herói é especial?
O Primeiro Herói é capaz de usar essa magia melhor do que um demônio de alto escalão, o que deveria exigiria o poder de um grande consumo de poder mágico para usá-lo.
No entanto, ainda não tenho certeza se é porque ela é de outro mundo ou porque é o Primeiro Herói.1NT: Só pra constar, é o autor, ou os gringos que adotaram o termo masculino aqui. Suponho que estejam se referindo a visão generalizada que o mundo tem sobre a imagem do Primeiro Herói e não a pessoa em si.
— Unnn. Houve algumas outras crianças ocupando o papel de Herói no passado que não voltaram para seu mundo original e permaneceram aqui, e essas crianças conseguiram usar magia que é única para elas. A magia que cada uma possui é diferente. Lembro que tinha uma criança que podia usar Magia de Teletransporte assim como os demônios detentores de Nobreza fazem, embora consuma muito menos do seu poder mágico. Há também aquela criança que podia usar magia avançada, embora só pudesse usar do elemento água. Cada uma pode ser diferente, mas… No geral, foram capazes de usar magias que originalmente não poderiam ser usadas por humanos.
— Significa que também tenho algum tipo de magia incomum?
— Unnn. É bem possível. Você sentiu algum tipo de “sentimento estranho” depois que seu poder mágico despertou? Como sentir que pode fazer algo, ou uma parte sua que não se sente da mesma forma que antes…
— Agora que comentou…
O que veio à minha mente com sua pergunta foi aquele sentimento estranho que tive mais cedo esta manhã e agora. Aquele incidente em que eu sabia, por algum motivo, que o tempo mudaria com quase certeza… Quando a expliquei, Kuro colocou a mão no queixo parecendo estar considerando minhas palavras.
— Já sabia que o clima mudaria? Hmmm. Se estiver relacionado à previsão… Seria muito limitado considerar assim, quanto à manipulação do clima… Não é como se quisesse que o clima mudasse… Falando nisso, Kaito tem a “Bênção de Shiro”… Talvez…
Kuro começou a murmurar baixinho, e um pouco depois se virou para mim, talvez com alguma ideia em mente.
— Kaito, se importa se tentarmos uma coisa?
— Hã? Ah, claro.
— Então, me desculpe por isso.
— Nggh! Guuhhh, uuaagghh…
Acenei para Kuro quando me disse que queria tentar algo… Provavelmente relacionado à minha magia. Kuro então estendeu a mão em minha direção, e no instante seguinte uma tremenda quantidade de pressão pesou sobre meu corpo. É como se todo o ar ao meu redor tivesse virado chumbo, já que meu corpo não conseguia nem se contorcer.
Não sei o que estava pensando, todavia não conseguir mover meu corpo é mais intenso do que imaginei…
— Kaito, acha que consegue mover seu corpo nessa situação?
Não diga algo irracional… Como posso mover meu corpo quando é como se estivesse preso em uma pedra como essa… Não? Não sinto o peso que sentia antes, e sinto que consigo me mover se me esforçar.
Seguindo suas palavras, tentei mover meu corpo. No começo, não se moveu, contudo depois de um tempo, a pressão sobre meu corpo enfraqueceu, assim como meu corpo que estava preso em concreto endurecido por fim conseguiu resistir. Era como se o que estivesse grudado em meu corpo fosse lama endurecida, e consegui me mover de pouco em pouco.
Kuro continua me observando em silêncio.
— …
— !?
Pouco depois, um arrepio percorreu todo o meu corpo.
Não sei como descrever, é uma sensação incrivelmente desagradável. É como se todo o meu corpo estivesse sendo segurado por uma lâmina afiada… Não, até mesmo tal descrição empalidece em comparação ao medo avassalador que sinto agora.
No momento em que meus olhos encontraram os olhos dourados que me encaravam silenciosamente, uma escuridão profunda engolfou minha consciência.
Eu serei morto.
Junto com o momento em que esse sentimento surgiu, eventos do passado surgiram um após o outro na minha cabeça. As memórias de quando passei um tempo com meus pais, o dia em que os perdi em um acidente, os dias desbotados que se seguiram, e o tempo depois que vim a este mundo…
Logo depois notei que estava tendo lampejos da minha vida, aquele sentimento de desespero que atacava meu corpo inteiro desaparece, fazendo meu corpo perder a força e desabar sobre meus joelhos. Incapaz de exercer um pingo de força, a gravidade começou a me arrastar para baixo, desabando no chão… E fui pego nos braços de alguém, assim como antes.
— Sinto muito. Kaito. Foi bem assustador, não foi?
— Kuro?
A atmosfera ao seu redor voltou a ser calorosa e reconfortante como sempre, sem a sensação de medo que me atingiu antes. Segurando meu corpo em frangalhos em seus braços, sua voz gentil e reconfortante me conforta. Não tenho certeza do que aconteceu. Minha cabeça está confusa e não consigo pensar direito.
— Para verificar o seu poder, coloquei um pouco da minha intenção assassina no meu poder mágico. Sinto muito mesmo.
Enquanto acariciava gentilmente minha cabeça, Kuro profere um pedido de desculpas.
Apenas um pouco de intenção assassina? Isso é ultrajante o suficiente para minha mente quebrar. Como devo dizer, acho que é esperado do Rei do Submundo, hein…
— Você está bem? Dói em algum lugar?
— Estou me sentindo um pouco tonto.
— Acho que a pressão da alta densidade de poder mágico deve ter causado intoxicação mágica, hein… Vai melhorar depois de descansar um pouco.
Ouvindo sua explicação, meu corpo de repente flutuou e se moveu em direção à cama. Em seguida, Kuro também se moveu em direção à mesma cama e minha cabeça foi colocada em seu colo, usando-a como um travesseiro de colo.
Sua mão acariciou minha cabeça para me acalmar e sua voz adotou um tom gentil.
— Sinto muito. Mas, como você foi capaz de perseverar, agora sei que tipo de poder é o seu.
— Sério?
— Unnn. Kaito parece ser capaz de ler o poder mágico nos arredores de forma minuciosa. É tão sensível que pode até detectar as “emoções mais tênues” contidas no poder mágico ao redor. Imagino que deva conseguir ler ainda mais intensamente, já que agora consegue usar seu poder mágico, porém será que já o estava lendo inconscientemente antes?
— As emoções contidas no poder mágico ao redor?
Enquanto palavras gentis sussurravam em meu ouvido, concedendo alívio a minha mente fatigada, meus pensamentos, que estavam ficando nebulosos, começam a voltar ao normal.
— Unnn. O poder mágico é muito influenciado pelas emoções do usuário. Assim como a magia hostil pode intimidar os outros, enquanto o inverso pode fazer alguém se sentir seguro. Pelo que percebi, você é muito sensível às emoções contidas no poder mágico. Nunca sentiu isso desde que veio a este mundo? Como essa pessoa é fácil de conversar e, ao inverso, como essa pessoa é difícil de abordar, acho que você devia estar lendo subconscientemente as emoções que alguém estava sentindo em relação a Kaito com base em seu poder mágico.
Pelo visto tenho uma excelente habilidade de ler os poderes mágicos de outras pessoas.
De fato, agora que mencionou, tive esse sentimento já fazia um tempo. Mesmo entre as servas na mansão de Lilia, há pessoas com quem acho fácil conversar, contudo também há pessoas com quem, de alguma forma, achei difícil interagir.
Pelo jeito é porque estive lendo as emoções contidas no poder mágico ao redor sem me dar conta, assim como sinto presenças próximas e sinto o clima ao meu redor.
Entendo, também explica por que me sinto tão seguro perto de Kuro. É porque leio os sentimentos favoráveis que está me direcionando.
— Então está dizendo que tenho aptidão para magia de percepção?
— Hmmm. É apenas minha conjectura, no entanto não acho que seria apenas percepção…
— Unnn?
— O fato de conseguir ter uma “conversa adequada” com Shiro, e quando eu apliquei pressão no seu corpo pela primeira vez, pesando-o com poder mágico de alta densidade… Kaito, você conseguiu se mover um pouco, certo? Já seria impossível para um humano normal lidar com tal situação.
— Hein?
— É quase como uma ligação mágica. Um humano comum não conseguiria se mover um centímetro sob esse poder mágico, entretanto você “sentiu” que meu poder mágico não estava cheio de hostilidade e tentou se “adaptar” a ele aos poucos.
Pensando bem, acho que Shiro disse algo assim também. Se bem me lembro, creio que disse que “Poderia dizer que essa sua adaptabilidade é seu talento”… Poderia ser a isso que se referia?
Quanto àquela parte em que não consegui me mover como se estivesse preso dentro de uma pedra antes, não acho que Kuro tenha enfraquecido seu poder colocado para pesar sobre mim. Em vez disso, consegui me mover porque me adaptei a ele.
— Acredito que tenha conseguido ver a mudança no clima porque leu o poder mágico no ar… Embora me pergunto se foi graças à “Bênção de Shiro” que conseguiu fazer isso?
— Errr, então o que significa?
— Hmmm, bom, é um poder interessante, é o que quero dizer. Dependendo de como o usar, poderá fazer algumas coisas interessantes. Por exemplo…
Enquanto minha cabeça continuava a descansar em seu colo, Kuro me contou suas conjecturas sobre o poder que tenho.
De acordo com ela, eu deveria ser capaz de espalhar meu poder mágico por uma ampla área e detectar criaturas vivas. Também deveria ser capaz de ler os movimentos do poder mágico de alguém. E deveria ser possível me comunicar com seres que se comunicam sem palavras.
Uma magia que me permite sentir e me adaptar ao poder mágico… Se tivesse que chamá-la de algo, acho que seria algo como Magia de Simpatia, hein? Para ser honesto, os exemplos que Kuro me deu são bem absurdos, e estou cético se é possível fazer tudo, mas essa certamente é uma magia incomum.
— A propósito, por quanto tempo vou ficar deitado no seu colo?
— Unnn? Kaito pode ficar deitado aí o quanto quiser… Tudo bem se quiser tirar um cochilo, sabia?
— …
Parece que a forma com que falei foi mal interpretada, pois Kuro me respondeu com uma proposta tentadora. Quero dizer, para ser honesto, pode ter algo a ver com o fato de que acordei cedo esta manhã, mas essa sensação agradável me fez cochilar.
Não sei se foi devido aquela intoxicação mágica que mencionou, embora minha cabeça não esteja mais girando, sigo me sentindo cansado, então vou me dar ao luxo aqui.
No 13º dia do mês do Fogo, faz duas semanas que cheguei a este mundo. A primeira semana foi cheia de surpresas e confusão, e sinto que essa semana passou num piscar de olhos.
Porém, os humanos são de fato criaturas que se adaptam ao seu ambiente, e, aos poucos, estou me acostumando a viver neste mundo desconhecido.
Todavia, também mudei. A maior mudança é que agora posso usar minha magia, embora seja bastante simples.
Depois de receber orientação de Kuro, tornei-me capaz de usar magia mais rápido do que Kusunoki e Yuzuki, e nesse momento estou trabalhando no básico da Magia Não Transmutativa que usa poder mágico como ele é… Com minhas habilidades atuais, agora posso fazer coisas como fazer um objeto do tamanho da palma da minha mão flutuar.
Aliás, tanto Kusunoki quanto Yuzuki ainda estão praticando para se tornarem conscientes de seu próprio poder mágico enquanto olham para a Introdução à Magia criada por Kuro. Pelo que Lilia pôde dizer, estarão prontas para usar em outra semana.
De acordo com ela, esta Introdução à Magia que foi escrita por Kuro está no nível em que “se fosse levada para a academia de magia, causaria uma revolução”, e por causa disso, nós três estamos avançando em uma velocidade extraordinária no aprendizado.
Kuro segue vindo ao meu quarto todas as noites como sempre, me ensinando magia e se divertindo conversando comigo… Para mim, sinto que esses momentos foram os mais agradáveis da minha vida.
— Ahh, é verdade. Kaito, você está livre amanhã?
— Unnn? Em vez de apenas amanhã… Não estou livre até o dia que puder voltar ao meu mundo?
Depois que terminei a prática de magia, Kuro de repente abordou um novo tópico.
Ela vai vir com algum absurdo outra vez? Seria ótimo se fosse algo que não fosse muito cansativo, porém…
— Olha, falei que sairíamos só nós dois antes, certo?
— Ah, sim. Disse mesmo.
Foi o que havia sussurrado para mim quando estava prestes a ir embora da mansão de Lilia, quando nos visitou.
Lembrando disso, assenti para suas palavras, e Kuro continuou falando com um grande sorriso no rosto.
— Então, amanhã. Vamos a um “encontro” amanhã!
— Como?
Já tinha me acostumado com os seus absurdos usuais, contudo ouvi algo ainda mais ultrajante hoje. Como devo dizer… Pode soar patético, no entanto fui convidado para um encontro pela primeira vez na minha vida.
No dia 14 do Mês do Fogo, fiquei em frente à fonte na capital real.
Ontem, Kuro de repente me convidou para sairmos juntos, e antes que eu percebesse, estava indo passear pelas ruas da capital.
Kuro, que parece ter algumas informações estranhas sobre namoro, estava tendo um acesso de raiva, dizendo que “se não nos encontrarmos em um lugar marcado, não vai dar certo!”, então aqui estou, em frente da fonte onde a conheci.
O sol chegou ao zênite, e verificando as horas no meu relógio de bolso, é cerca de uma hora antes do meio-dia… São cerca de 10 minutos antes do horário que planejamos nos encontrar.
Em primeiro lugar, é bem estranho encontrar alguém que sempre surge quando menos espero, então é meio revigorante esperá-la dessa forma.
Pelo que entendi, Kuro quer fazer a famosa interação de “Desculpe, você esperou muito?” e “Não, acabei de chegar.”. Entretanto, realmente precisava elaborar sobre esse encontro como ontem? Como resultado, cheguei aqui primeiro e esperei por ela.
Depois de esperar um pouco, observando as pessoas passando, e embora também fosse um padrão, ouvi uma voz familiar vindo de trás de mim.
— Kaito. Desculpe, você esperou muito?
— Não, eu acabei de chegar… Aqui?
— Unnn?
Enquanto trocávamos cumprimentos, me virei, devolvendo as palavras que Kuro queria ouvir, mas meus pensamentos congelaram naquele instante.
Kuro, que tinha acabado de aparecer, não estava usando o casaco longo tão desleixado, que poderia ser confundido com um robe, de sempre. Túnica de renda de manga curta que dá a impressão de ser branca e elegante, e shorts marrons que parecem complementar suas belas coxas que são tão brancas quanto porcelana. O longo casaco preto que costuma levar mudou seu formato para uma jaqueta sem mangas, e a bainha que chega abaixo do joelho combina bem com sua túnica branca. E embora estivesse levemente vestida, sua aparência ainda transparecia um ar elegante.
O que devo fazer, ela é absurdamente fofa. Tão fofa que os lolicons fariam sinais com seus polegares para cima, e aqueles que não são, estariam mais inclinados a considerarem se tornar um…
— Kaito?
— Ah, não… Fiquei um pouco surpreso em te ver vestida de forma tão diferente.
— Ah! Entendo. O que acha? Combina comigo?
— Ah, sim. Fica muito bem.
— Ehehe, obrigada!
Acho que esse sorriso tímido de agora é jogo sujo. Ah, isto não é nada bom. Estou começando a ficar muito nervoso.
Pode ser algo que me envergonhe como um homem de 21 anos, porém só saí com uma mulher uma vez. Além do mais, aquela vez foi quando saí com Lunamaria, o que deve mostrar que minhas experiências no meu mundo anterior são equivalentes a zero.
É a primeira vez na vida que saí com alguém, e não importa o quanto reconheça como apenas sair com Kuro, seria mais estranho se não estivesse nervoso.
Além de tudo, ela é uma garota linda que me tem em alta consideração. Não importa o quão familiar sejamos, não consigo deixar de sentir um rubor tingindo minhas bochechas quando me mostra tão encantador sorriso.
— Fa-Falando nisso, você é bem famosa, está tudo bem em andar pela cidade?
Por ora, vou tentar escapar para outro tópico. Não é porque acho que não consigo pensar em maneiras de elogiar suas roupas e não ser capaz de falar nada decente, ou por algum motivo idiota como esse.
Kuro é o Rei do Submundo, um dos pináculos do Reino Demoníaco. Seu rosto é conhecido do Festival do Herói anterior, e é uma existência muito famosa… Se fôssemos traçar um paralelo de volta no meu mundo anterior, é como ter um primeiro-ministro ou o próprio Imperador aparecendo na cidade, o que causaria um grande alvoroço… Embora ninguém entre os arredores esteja causando qualquer confusão. Imagino por quê?
Quanto à Magia de Ocultação de Informações, deveria ter sido apenas uma magia que faz com que um terceiro não ouvisse informações sobre eles.
— Fufufu, eu não cometeria esse erro! Estou vestida com a Magia de Ocultação de Informações e Inibição de Reconhecimento, então poderiam notar se eu falasse com a pessoa pessoalmente, porém fora esse cenário não saberiam que estou aqui a menos que eu queira!
Kuro se gabou, estufando seu modesto peito cheia de orgulho… O olhar presunçoso que tinha no rosto é irritantemente fofo.
— Hmmm, ainda há muitas coisas que não entendo sobre magia, contudo significa que as pessoas próximas não reconheceriam Kuro como o Rei do Submundo?
— Unnn. Ou melhor, é mais como se não sentissem nada fora do lugar quando me veem… Bem, é mais como se me reconhecessem como uma garota da cidade comum, que veriam andando por aqui.
— Não sei se devo dizer que entendi…
— Ahaha, certo, vamos deixar esse assunto de lado e começar!
Pelo que me explicou, Magia de Inibição de Reconhecimento é, para simplificar, uma magia que os faria olhar para uma situação como o Rei do Submundo andando pela cidade e percebê-la como algo natural… Ou talvez, devesse descrever como uma magia que faria as pessoas reconhecerem tal cena como uma não diferente de sua vida cotidiana? Enfim, seria difícil entender a teoria se pensar sobre os mínimos detalhes… Nesse caso seria melhor apenas reconhecê-la como magia que faz com que outros não a reconheçam como o Rei do Submundo, a menos que Kuro interaja com eles. Portanto, durante nosso encontro, não fariam confusão sobre Kuro ser o Rei do Submundo
— E para onde vamos hoje?
Aliás, o acompanhante para esse encontro (?) é Kuro.
Numa situação normal seria eu, o homem, que deveria acompanhá-la, no entanto estou neste mundo há apenas duas semanas e só estive na cidade algumas vezes, o que dificulta que desempenhe esse papel.
Foi por esse motivo que Kuro, que costuma visitar o Reino Symphonia, é quem me mostrará a cidade.
— Há uma variedade de lojas por aqui e podemos dar uma volta por lá, mas já é quase hora do almoço. Há um lugar onde as barracas de comida se reúnem a uma curta caminhada daqui. Vamos passar lá primeiro.
— Oh, as barracas de comida deste mundo, hein… Soa divertido.
— Unn, unnn. O Reino Symphonia tem uma cultura alimentar avançada, há muita comida boa por aqui!
Vendo seu sorriso feliz no rosto, um inadvertido sorriso se espalhou pelo meu rosto enquanto balançava a cabeça em concordância.
Não sei se minha personalidade poderia ser descrita como sendo uma boa combinação para sua personalidade inocente e alegre, porém gosto de estar junto com ela, pois um sorriso surge no meu rosto das formas mais naturais possíveis.
Estou cansado depois de todas as coisas que aconteceram ontem, e hoje, vou aproveitar a oportunidade deste curto período de descanso que Kuro preparou para mim.
— Agora então, vamos lá!
— Hã? Espera, Kuro?
— Unnn? Qual é o problema?
Depois de sua alegre declaração, Kuro toma minha mão com uma ação que parecia óbvia.
— N-Não, minha mão…
— Não é esperado darmos as mãos em um encontro?
— Po-Pode ser, é só que…
— Então está tudo bem! Vamos lá, vamos lá!
— Si-Sim…
Depois de me responder como um gesto casual, Kuro começa a puxar minha mão e segue em frente.
Espere um segundo aí, Kuro. Sua guarda está um pouco frouxa! Ou melhor, suas mãos são pequenas e macias… Ah, estou começando a ficar nervoso de novo, embora estava começando a me acalmar… Acho que este também é um daqueles dias em que vou ter uma batalha mental pelo dia todo…
A área em que chegamos sob a sua guia é um tipo diferente de lugar movimentado do que aquele em que estávamos há pouco. Quando ouvi as palavras “barracas de comida”, não pude deixar de pensar como as barracas de festival que podiam ser encontradas no meu mundo, porém as barracas alinhadas aqui parecem mais com uma rua comercial. Havia muitas lojinhas alinhadas em ambos os lados da rua, e as pessoas que passavam transmitiam uma atmosfera aconchegante e agradável ao redor.
Ouvi dizer que a área onde estive fazendo compras antes é cheia de lojas grandes, especialmente aquelas que lidam com roupas e móveis, porque há muitas mansões de nobres erguidas nas proximidades.
Por outro lado, parece que a Guilda dos Aventureiros e muitos complexos de apartamentos ficam perto deste lugar, e é por essa razão que há muitas lojas aqui que lidam com comida e bebida.
Como era de se esperar, estamos na hora do almoço, então não só há muitas pessoas nesta rua, como também posso sentir o apetitoso cheiro de comida flutuando das lojas nos arredores. É uma boa hora para comer de qualquer maneira, então decidimos almoçar e depois dar uma volta pela cidade, e assim chegamos a um restaurante que Kuro recomendou.
Há bancos e mesas na frente do pequeno restaurante de madeira e, pelo menos da minha parte, prefiro a atmosfera de um restaurante que atende às massas.
— Boa tarde!
— Oya? Se não é o Rei do Submundo. Bem-vindos.
Quando Kuro parou na frente da loja e os cumprimentou com um sorriso brilhante, uma mulher de idade delicada que parecia ser humana saiu da loja.
A mulher, que aparenta ser a dona da loja, percebe Kuro e sorri de volta, como se já tivesse falado com ela antes.
— Estou aqui para almoçar!
— Obrigado pela sua preferência. Oya? Aquela criança ali é conhecida do Rei do Submundo?
— Unnn. Este é o Kaito, uma criança de outro mundo.
— Ah, falando nisso, houve rumores de que alguém de outro mundo veio este ano além do Sr. Herói. Bem-vindos. Venham e aproveitem.
— Ah, sim. Muito obrigado.
Vejo que não importa qual mundo seja, as habilidades de conversação das tias são muito boas. Fomos levados até nossos assentos com uma conversa casual. Embora tenhamos sido guiados até nossos lugares, este lugar não é realmente um café ou um restaurante, então não tinham um menu. Depois de nos acompanhar, a tia lojista voltou e começou a preparar nossas refeições.
Poucos minutos depois, enquanto o cheiro de carne se espalhava, carne e vegetais de cores diferentes entre dois pedaços de pão assados foram trazidos… Isso é um sanduíche de baguete?
É um prato deslumbrante, composto por um grande pedaço de pão recheado com carne e vegetais entremeados. Sem dúvida parece delicioso.
— Obrigada pela espera, este é o nosso sanduíche especial “Urso Vermelho”! Agora, coma.
— Yay!
— …
É só minha imaginação… Ou a tia lojista acabou de dizer que este é um sanduíche de urso vermelho? Quando mencionou urso, está dizendo que a carne neste sanduíche é de urso?
Nã-Não, pode ser que carne de urso seja um ingrediente comum neste mundo, mas… Se possível, você não deveria ter me contado antes de eu comer. Deveria ter me contado pelo menos depois que dei minha primeira mordida…
Sem saber do meu conflito interno, a tia foi embora depois de servir a comida, e Kuro estava como sempre, enquanto começava a comer seu sanduíche de urso vermelho como se fosse delicioso, como se não estivesse nem um pouco incomodada.
— Você não vai comer, Kaito? Está uma delícia.
— Obrigado pela comida.
Devo mudar minhas percepções. Este é um mundo diferente, um mundo com senso comum diferente do meu mundo anterior. Além do mais, no meu mundo… Ou melhor, no Japão, carne de urso pode não ser muito comum, porém ainda havia alguns lugares onde se poderia comê-la.
Isso mesmo, vamos pensar de uma perspectiva positiva. É melhor do que comida com carne de monstro misteriosa cujo sabor nem consigo imaginar.
— Delicioso.
— Não é? A comida que eles fazem aqui nesta loja é muito boa!
Ouvi dizer que a carne de urso tem um cheiro e sabor fortes, contudo esta carne não tem cheiro algum. Em vez de ter qualquer sabor residual de caça, é bastante refinado.
O sabor em si é muito leve, no entanto, é por isso que não é avassalador e, em contrapartida, combina com os vegetais e o molho doce e picante. Não é de forma alguma pesado, apesar do volume de sua aparência.
O aroma e sabor do pão, que foi assado até ficar um pouco crocante, combinam esplendidamente na minha boca, e o molho doce e picante aumentam meu apetite, me levando a dar outra mordida.
Kuro, que me observava devorar o sanduíche uma mordida atrás da outra com seu sorriso no rosto, de repente começou a olhar ao redor e murmurou enquanto inclinava a cabeça, como se tivesse encontrado algo estranho.
— Sinto que quase não há pessoas por perto.
— Sério? Pensei que esse lugar já estava bem movimentado, então costuma ter mais gente aqui?
— Unnn. A Guilda dos Aventureiros fica perto, afinal. Deveria estar mais lotado aqui na hora do almoço… Só que quase não vi nenhum aventureiro hoje.
De fato, agora que mencionou, acho que não vi muitas pessoas que parecem aventureiros portando armas e armaduras.
Então, a tia lojista, que pode ter ouvido o murmúrio de Kuro, parou de limpar outra mesa e se aproximou de nós.
— Ora, não está sabendo? Houve avistamentos de um bando de wyverns no norte, nas montanhas. A Guilda dos Aventureiros e a Ordem dos Cavaleiros estão trabalhando juntas desde esta manhã para abatê-los.
— Heehhh… É muito incomum para um wyvern construir seu ninho tão perto da cidade.
— Is-Isso não é algo muito ruim…
Wyverns… Um dragão voador com asas e mãos integradas. Um monstro que pode ser considerado um padrão em fantasias.
O nome do monstro em si parece bastante assustador, entretanto, pelo jeito que a tia falou a respeito, foram vistos perto da cidade. Um rebanho desses wyverns, eles não seriam capazes de causar grandes danos na capital?
Pensando nisso, perguntei timidamente, e Kuro deu um pequeno sorriso em resposta.
— Não se preocupe, os wyverns têm pouca inteligência em comparação aos dragões, e foram categorizados como monstros fracos.
— É-É mesmo…
— Jovem, você não deveria levar o que ela disse como verdade. Os wyverns são sem dúvida tão fracos quanto formigas para o Rei do Submundo, mas só um deles é um monstro aterrorizante para os humanos. É por esse motivo que a Ordem dos Cavaleiros e os Aventureiros formaram uma equipe de subjugação rapidamente e partiram para derrotá-los.
— …
Quando Kuro apenas se referiu aos wyverns como monstros fracos, a tia a corrigiu com um sorriso irônico no rosto.
Se for esse o caso, como esperado, será uma batalha bem grande para derrotar esses wyverns. Pode até haver alguns ferimentos e mortes entre a Ordem dos Cavaleiros e os Aventureiros.
Não é que eu conheça algum dos Cavaleiros ou Aventureiros, porém… Por exemplo, se Kuro derrotasse aqueles wyverns, não seria capaz de derrotá-los em um instante sem que ninguém precisasse se ferir?
— Kaito. Posso entender por que pensa assim, só que não é uma boa ideia.
— Hã?
Sentindo meus pensamentos, Kuro murmurou em um tom sério, diferente da leveza que tinha antes.
— Este é um problema que ocorreu neste país… No Reino Symphonia. Não devo me envolver descuidadamente nesse assunto.
— …
— Claro, assim como Kaito pensou, acabará em um instante se eu for lá. Não importa se há centenas ou milhares de wyverns, sou capaz de eliminá-los em um instante. Contudo não seria algo bom.
Uma voz baixa, embora de alguma forma solene, ressoou.
Seus olhos dourados olham direto para mim, com a majestade de um verdadeiro rei habitando dentro deles.
— Enquanto assumir a forma de uma monarquia, todos os problemas que ocorrerem em seu território devem ser resolvidos pelo poder deste país tanto quanto possível. Se continuassem confiando em demônios, perderiam a confiança de seus próprios cidadãos e o relacionamento “igual” entre Demônios e Humanos seria destruído. Claro, se me pedirem ajuda pelas vias formais, cumprirei o pedido, e se achar que é demais para as pessoas lidarem, vou ajudá-los… No entanto enquanto esse não for o caso, eu, como um dos Seis Reis, não posso só me envolver em cada problema sem um bom motivo.
— …
Sequer senti vontade de refutá-la. De fato, os pensamentos que vieram à minha mente foram baseados apenas em minhas emoções, e as palavras de Kuro estão corretas.
Esse tipo de situação me fez perceber que ela de fato é muito mais velha do que eu e suas ideias são mais sensatas do que as minhas.
Depois de ter dito tudo, a expressão séria de Kuro desmorona e um sorriso reconfortante volta ao seu semblante.
— Bem, vai ficar tudo bem. Há muitos cavaleiros excelentes neste país, e como estão perto da cidade, isso também os torna capazes de reabastecer com facilidade as coisas de que precisariam.
— Se é o que Kuro diz, suponho que é um alívio.
— Sim, isso mesmo. Também temos muitos aventureiros aqui, e com certeza não querem perder a chance de conseguir alguns materiais daqueles wyverns.
Terminamos de almoçar, nós dois nos levantamos de nossos assentos e fomos pagar a conta.
Barracas de comida são basicamente lugares onde se paga em troca de mercadorias, e de fato, esta loja parece ser um lugar onde se deve pagar por adiantado.
Entretanto, a confiança da tia lojista em Kuro é tão alta, sendo ela sua cliente regular, que ficou tudo bem em pagar depois de comermos.
— Obrigada pela comida! Estava delicioso.
— Ah, Kuro. Aqui está o dinheiro.
— Hã? Está tudo bem. Sou eu quem te convidou, então vou pagar pelo almoço.
— Não, como esperado, é meio…
Quando fomos até a tia para pagar a conta, chamei Kuro, que estava tirando sua bolsa, porém ela apenas disse que ficaria por sua conta. Contudo, mesmo que seja apenas um encontro e que seja mais velha do que eu, ainda estou me sentindo estranho ao ter alguém que parece uma menina me bancando.
— Está tudo bem. Depois de tudo, tenho uma quantia decente de dinheiro.
— Decente, você diz, existe alguém neste mundo que tenha mais dinheiro do que o Rei do Submundo?
— Hã? Kuro é tão rica assim?
Ouvindo a sua conversa, a tia respondeu com outro sorriso irônico no rosto.
Kuro não costuma usar muitos acessórios e só come doces de plebeus, então não tive a impressão de que fosse rica… Do jeito que a tia está falando, deve estar entre as pessoas com as maiores riquezas do mundo.
Acho que é o esperado do Rei do Submundo, hein? Não, espere, de onde tira sua renda pra começo de conversa?
— Você não sabe, rapaz? O Rei do Submundo é o “Criador de Ferramentas Mágicas”. É óbvio que ganharia uma quantia absurda de dinheiro por isso.
— Ahh.
Ouvindo o que a tia disse, comecei a entender o porquê.
A Companhia de Ferramentas Mágicas Seditch, que tem a maior fatia de mercado do mundo quando se trata de ferramentas mágicas… O presidente lá é subordinado de Sechs, e Sechs é da família de Kuro. E se pensar mais a fundo, Sechs pode ter dito que o presidente daquela empresa é seu subordinado, todavia nunca disse que a Companhia era sua própria empresa.
Para resumir, Kuro foi quem criou a Companhia de Ferramentas Mágicas Seditch, hein… Em outras palavras, está em uma posição de Presidente Honorária da maior empresa do mundo. Com uma posição como essa, é claro que teria dinheiro…
— …
— Kaito?
— Kuro, você se importa se eu pagar por isso?
— Hã? Por quê?
Entendo que Kuro é rica e posso entender o motivo pelo qual insiste em pagar.
Entretanto, como homem, também tenho meu próprio pequeno orgulho, então queria pelo menos pagar nossa refeição.
Certo, o dinheiro que tenho atualmente me foi dado por Lilia e não o ganhei sozinho, então realmente não acho que seja algo do qual possa me orgulhar…
Ouvindo minha proposta, Kuro inclinou a cabeça sem entender. Era bem incomum, já que ela costumava parecer saber tudo o que estou pensando… Em primeiro lugar, foi ela quem quis fazer a conversa padrão para um encontro, e seu conhecimento sobre as coisas costuma estar pela metade… Nesse caso, pode não estar familiarizada com esse tipo de relacionamento.
— Rei do Submundo. Não seria indelicado perguntá-lo o motivo?
— Eh? Sério?
— Sim, é isso mesmo, existem algumas coisas em que os homens não podem abrir mão. Não é, meu jovem?
— Uuuuh… Sim.
Pelo visto a tia notou minha vaidade mesquinha, olhando para mim com um sorriso entretido no rosto, deixando Kuro cada vez mais curiosa enquanto inclina a cabeça.
— Bom, então, com as duas refeições combinadas, será 12R… Mas já que o jovem está mostrando sua masculinidade, vou diminuir para 10R.
— Muito obrigado. Então, vamos embora.
— Sim. Obrigada. Volte quando quiser comer novamente.
O preço era cerca de 600 ienes por peça, o que é razoável, considerando seu volume. Também estava gostoso, e com certeza voltarei para mais.
Todavia, sinto que essa tia pode tirar sarro de mim por causa desse evento, então estou um pouco ansioso sobre voltar…
Depois de pagar, saí da loja enquanto puxava a mão de Kuro, que seguia me olhando sem entender.
— Certo, para onde vamos agora?
— Vejamos… Acabamos de almoçar, então que tal dar uma olhada por aí? Ah, acho que deveríamos beber alguma coisa.
Fiz uma pergunta enquanto caminhávamos pela rua alinhada com barracas, e fui respondido com um sorriso brilhante característico.
Assenti em resposta às suas palavras, dando um tapinha no meu peito em alívio, pois parece que enfim deixaria o assunto de lado, como aconselhado pela tia lojista.
Kuro também tinha algumas lojas recomendadas para bebidas. Segurado pela mão, fui levado até uma outra barraca… Para uma loja que de alguma forma me lembra uma pequena mercearia.
— Olá! Você tem alguma Fruta Selada?
— Ora, se não é o Rei do Submundo, seja bem-vinda. Fruta Selada, certo? Sim, tem uma boa aqui.
O homem que aparentava ser o lojista sorriu e devolveu algumas gentis palavras. Pelo que estou vendo, ela é uma visitante frequente desta área.
Atendendo ao seu pedido, o dono tira um objeto esférico preto com cerca de 30cm de diâmetro.
Essa é a tal da Fruta Selada? Parece uma bola de ferro…
— E o buraco?
— Eu mesma vou abrir. Vou colocar dois canudos nele.
— Certo.
Eu teria pago pela fruta também se pudesse, porém Kuro se recusou a recuar dessa vez, dizendo “Dessa vez é por minha conta.”, então apenas deixei pra lá.
Kuro recebe a misteriosa esfera preta e dois canudos do lojista e o paga.
Ainda assim… Quem diria que também há canudos neste mundo, hein. Imagino do que são feitos. Não acho que seja feito de plástico, e julgando com base em sua cor, serão de madeira? Ou talvez, seja feito com algum tipo de grama? Pode ser algo também passado por aqueles que desempenharam o papel de Herói em épocas passadas.
— A propósito, Kuro, o que diabos é essa coisa?
— Se chama Fruta Selada, selado dentro de sua casca há muito suco de fruta. A casca que o cobre é muito dura, então precisa fazer um furo para beber o conteúdo.
Resumindo, é algo como os cocos deste mundo? Com certeza se parecem bastante com base na sua explicação… Deixando de lado o fato de sua cor ser toda preta…
— A propósito, acho que a casca é tão resistente quanto aço. Ouvi dizer que às vezes eram usadas para fazer armaduras.
— E como pode fazer um furo em uma fruta com uma casca tão resistente quanto aço?
Correção, não é nem um pouco semelhante a cocos… Era completamente diferente de um coco.
Consegui tocar um pouco, e de fato parece absurdamente duro.
Porém se é tão forte quanto aço, sério, como vai fazer um furo nele?
Não seria impossível a menos que tivesse uma furadeira ou alguma coisa do tipo?
— Hã? Não posso só fazer isso?
— O quê?
Em resposta às minhas dúvidas, Kuro apenas apontou para a casca da fruta com o dedo e fez um furo como se estivesse furando papel… Espere um segundo, deixe-me ver se entendi.
A Fruta Selada, que é uma fruta parecida com um coco cheia de suco por dentro, tem uma casca tão resistente quanto aço, que é usada até para fazer armaduras.
E agora, um furo foi feito nela sem qualquer dificuldade com o dedo… O que significa que Kuro pode perfurar ferro apenas com o dedo? Caramba, é assustador.
— Pare, vamos deixar esse ponto de lado por agora. Kuro, bem… Você só fez um furo, então por que tem dois canudos nas mãos?
— Hein? Quero dizer, quando se está bebendo num encontro, as duas pessoas têm que beber no mesmo copo, certo?
— …
Aaahhhhhhhhhh, meeeeeerda! Deveria ter antecipado essa.
Kuro não só ganhou conhecimento unilateral sobre o meu mundo, também não é muito bem informada sobre casos amorosos.
E foi assim que acabamos nessa situação. Dois canudos para uma bebida, igual ao que os casais fazem.
— Vamos, Kaito. Beba comigo!
— …
Não, não, por favor, espere um segundo aí. Tenho algo muito importante para lhe contar.
Não estamos em um café, nem dentro de uma loja. É o começo da tarde, e estamos no meio de uma rua movimentada.
Hã? Sério, bem aqui? Quer que eu beba isso junto com você, bem aqui? Não parece algum tipo de jogo punitivo? Não, não, vou morrer de vergonha se tiver de fazê-lo!
— Não, é um pouco…
— Kaito você não gosta de… Beber junto comigo?
— Vou beber. Sim. Agora mesmo.
De alguma forma, tentei fugir daquela situação embaraçosa, mas imediatamente cedi quando vi os olhos de Kuro me encarando com uma expressão desamparada no rosto. Não havia para onde… Escapar!
Encurvando meus ombros e engolindo a saliva que se acumulou na minha garganta… Passei os próximos minutos relembrando a cena da minha humilhação, bebendo suco com Kuro bem no meio da rua.
Entendo. Ouvi dizer que o suco da Fruta Selada é muito gostoso… Porém nessa situação, não consigo sentir o gosto!

Vou responder a uma das perguntas mais absurdas deste mundo.
Acabei de ter uma das experiências mais embaraçosas da minha vida. É importante notar que não tenho gosto por coisas assim, nem tenho prazer em fazê-las.
Contudo, na rua principal no início da tarde, sofri um nível de dano psicológico que quase equivaleu a uma execução pública… É aí que existe a disparidade cruel.
No atual momento, Kuro está sob os efeitos de dois tipos de magia, Magia de Ocultação de Informações e Magia de Inibição de Reconhecimento, então as pessoas ao redor não a percebem como o Rei do Submundo, a menos que fale com elas diretamente. Era uma medida para evitar comoção ao redor da famosa Kuro quando estávamos passeando, no entanto isso resultou em uma explosão de dano concentrada em mim.
O fato de que as pessoas ao nosso redor percebem Kuro como uma garota comum da cidade significa que fui visto como um homem na casa dos 20 anos bebendo o suco da Fruta Selada como um casal no início da tarde com uma garotinha que tinha apenas 140cm de altura… Ser reconhecido como um lolicon pelas pessoas ao nosso redor já é inevitável.
— Kaito? Algum problema?
— Estou só pensando em como vou andar pela cidade de agora em diante…
— Unnn?
Meus ombros penderam enquanto respondia sua dúvida e ela inclinou a cabeça sem entender, ainda segurando minha mão.
Se estivéssemos apenas de mãos dadas, poderíamos ao menos ter nos passado por irmão e irmã… Não, espere. Pensando agora, não ouvi de alguém que a idade para casar neste país é baixa? Então, talvez aquela cena de agora não estivesse em um nível em que fosse perturbadora para as pessoas próximas… Se for o caso, talvez esteja tudo bem, certo? Não, deixando de lado o dano psicológico infligido à minha mente, o que fiz pode ser seguro para os olhos do público.
Enquanto andávamos por aí, continuei remoendo o pensamento, até que percebi que a atmosfera ao meu redor havia mudado um pouco.
O número de restaurantes que via diminuiu e as pequenas lojas que parecem vendedores ambulantes estavam aumentando.
— É impressão minha ou a atmosfera mudou um pouco?
— Unnn. Há muitas lojas vendendo “Ferramentas Mágicas Personalizadas” por aqui.
— Personalizadas?
— A maioria das ferramentas mágicas de subsistência que circulam no mercado foram feitas por uma das Companhias Comerciais, entretanto contanto que você tenha cristais mágicos, pode fazer suas próprias ferramentas mágicas também. A maioria das Ferramentas Mágicas feitas pela Companhia são econômicas, enquanto a maioria das criadas personalizadas são únicas, e há muitas incomuns entre elas, então você pode encontrar uma pechincha no meio.
— Heeehhhh… Soa interessante.
As ferramentas mágicas de subsistência são uma parte indispensável da vida neste mundo.
Há uma variedade de ferramentas mágicas que já vi e usei na mansão de Lilia, incluindo ferramentas mágicas que iluminam, liberam água e fazem fogo. Em certo sentido, pode ser triste que desempenhem o papel da tecnologia mecânica em nosso mundo, e algumas até têm um desempenho que supera em muito o do meu mundo anterior.
Por exemplo, no quarto que Lilia me designou, há uma ferramenta mágica que regula a temperatura dentro de uma faixa definida, o que pode deixar a sala instantaneamente mais quente ou mais fria com apenas um toque. Se tivesse de descrevê-la, seu desempenho poderia ser considerado o auge dos condicionadores de ar, gostaria que estivesse disponível no meu mundo também.2NT: eu posso tá enganado, mas baixar muito a temperatura de forma quase instantânea durante um dia quente não poderia levar a um choque térmico?
Pelo que entendi, muitas dessas ferramentas mágicas são vendidas por aqui, e algumas podem até ter efeitos especiais. A ideia de vasculhar e ver os diferentes tipos estava me deixando animado.
Há uma barraca que tem bolas de água se movendo pelo ar, enquanto outras têm ventos girando ao redor delas.
Quando minha atenção foi roubada por essa cena fantástica ao redor das barracas, meus olhos foram atraídos de repente para uma das placas.
— Ferramenta mágica de movimento espacial? Err, que tipo de ferramenta mágica é essa?
— Oh, o cliente tem ótimos olhos. Essa ferramenta mágica é ótima porque permite que você grave um determinado lugar e se teletransporte para lá em uma fração de segundo.
— Isso é incrível. Ela pode te teletransportar para lugares distantes?
— Claro. Como esperado, não conseguirá se teletransportar do Reino Humano para o Reino Demoníaco ou o Reino dos Deuses, porém se for dentro do Reino Humano, esse seria o forte dessa ferramenta mágica! Além do mais, pode usar essa gracinha várias vezes! O que significa que pode viajar o quanto quiser com essa ferramenta mágica.
Em resposta à minha pergunta, o lojista me dedicou uma resposta bem simples.
Pelo visto essa ferramenta mágica pode fazer o famigerado teleporte.
Acho que gravar um lugar significa que teria que visitá-lo pelo menos uma vez antes, no entanto ainda acho que é uma ferramenta mágica incrível… E, sendo honesto, estou interessado.
Todavia, se tem uma capacidade tão incrível… É bem provável que seja bastante caro…
— A propósito, quanto custa?
— Estamos em promoção hoje, então pode levar por apenas 30.000R!
— 30.000R, hein…
— …
Como pensei, é muito caro. Cerca de 3 milhões de ienes, mais da metade do valor que Lilia me deu antes… Entretanto, considerando que seria capaz de me teletransportar o quanto quisesse, poderia ser considerado barato.
Na verdade, mesmo tendo 50.000R, parece que nunca vou usar tudo, então deveria comprá-la?
— Hmm, posso…
— Pare aí, Kaito.
— Hein?
Fiquei curioso e ia pedir uma explicação mais detalhada, porém naquele momento Kuro me interrompeu.
Depois de olhar para a ferramenta mágica de movimento espacial uma vez, sua atenção se volta para o lojista.
— Uma ferramenta mágica descartável custa 10.000R, e está dizendo que essa ferramenta mágica de movimento espacial que pode ser usada várias vezes custa 30.000R?
— O que você… Está insinuando, ahh… R-R-R-Rei do Submundo?
O lojista pareceu surpreso quando viu Kuro. Entendo, como ela não tinha falado com ele antes, então não tinha notado sua verdadeira identidade até agora…
— Para uma ferramenta mágica com um desempenho tão alto, eu diria que custaria pelo menos 500.000R. Acho que são pelo menos 5 moedas de platina… A sua não é… Muito barata, não?
— Ah, bo-bom, is-isso… Errr…
O lojista que estava claramente tremendo, empalideceu… E pelo fluxo da conversa, suponho que havia algumas falhas nesta ferramenta mágica e quase fui enganado.
Ou melhor, uma ferramenta mágica para movimento espacial custaria na verdade pelo menos 50 milhões, hein…
— O cristal mágico usado aqui… Acredito que tenha cerca de 30% de pureza, certo? A técnica usada para fazê-lo também é desleixada, e o melhor que pode fazer é provavelmente permitir que você vá de uma cidade para outra, estou certa? Além do mais, com um cristal mágico desse tamanho e pureza, levaria meio mês para reutilizá-lo depois de usado, certo?
— Ah, não, errr…
— Ku-Kuro? O que quer dizer com pureza…
— Quanto maior a pureza de um cristal mágico, mais poder mágico ele pode armazenar, e a velocidade e eficiência de reposição do poder mágico reduzido do ar também aumentarão. Então, quanto maior a pureza do cristal mágico, mais caro será.
— Errr, isso significa que o cristal mágico usado para essa ferramenta é barato?
— Unnn. Seu tamanho também é bem pequeno. A magia de movimento espacial requer uma grande quantidade de poder mágico quanto maior a distância que percorrer, então, se for uma ferramenta mágica boa o suficiente para viajar de um país para outro, precisaria ter um cristal mágico com pelo menos 80% de pureza e cerca de três vezes esse tamanho para poder usá-la da maneira correta.
— …
Entendo, de fato o lojista não foi minucioso explicou a distância para a qual pode teletransportar você ou o tempo que leva para reutilizá-lo.
Em outras palavras, esta ferramenta mágica só pode lhe transferir por alguns quilômetros, na melhor das hipóteses, e além disso, uma vez que utilizada, levará mais de duas semanas antes que possa tornar a usá-la, ou o dono precisará reabastecê-la com uma grande quantidade de poder mágico.
O teletransporte de um lugar para outro é sem dúvida seu forte e, como disse, pode ser usado várias vezes, mas pensando na forma como elaborou suas falas, não disse nada específico sobre esta ferramenta mágica… Que astuto. Se não fosse por Kuro, eu teria me tornado um cliente fácil para ele.
— Quero que saiba que esta criança é um amigo muito importante meu…
— Po-Por favor, aceite minhas desculpas!
O lojista, que suava horrores agora e com um rosto tão pálido que parecia lamentável, depois de ouvir as palavras de Kuro, curvou-se em uma dogeza.3Dogeza é uma expressão japonesa que significa “prosternar-se” ou “kowtow”. É uma forma de deferência e expressão de remorso que consiste em ajoelhar-se no chão e curvar-se profundamente, tocando a testa no chão. H-Hmmm. É verdade que quase me enganou… Porém tudo que fez, afinal, foi descrever seu produto de forma inteligente, não mentiu sobre isso. Haveria uma linha tênue se está me pedindo para determinar se é um golpe ou não.
Embora tivesse tentado me enganar para comprá-lo, pode-se dizer que fui apenas descuidado por comprar algo sem verificar com cuidado prévio.
E, pra ser honesto, considerando que foi descoberto por um ser ultrajante chamado Rei do Submundo, não posso nem culpá-lo. Quero dizer, o homem já está chorando ali…
— Kaito, o que acha? Devo repreendê-lo?
— Hiiihhhh!
— Nã-Não, está tudo bem. Nenhum dano real foi causado, e já conseguimos uma desculpa, então…
— Certo, se é o que Kaito diz… Se da próxima vez que eu te ver você ainda estiver fazendo a mesma coisa… Vou ficar um pouco brava.
— S-S-S-S-Sim. Não farei de novo.
Sentindo um pouco de pena desse homem de quase trinta anos que estava chorando quase desesperado em uma dogeza, nós deixamos aquele lugar e caminhamos pela área novamente.
Graças a Kuro, nenhum dano real foi causado antes, e de certa forma aprendi uma boa lição.
— Ei, Kuro, poderia me ensinar como saber a pureza de um cristal mágico quando vejo um?
— Hmmm. É difícil dizer se quer detalhes claros sobre como saber sua pureza, contudo seria fácil se quisesse apenas saber de forma aproximada a pureza de um cristal mágico. Quanto maior a sua pureza, mais escura será a sua cor, você pode usar isso como critério para estimar a sua pureza.
— Entendo.
Aparentemente quanto mais valioso um cristal mágico for, mais escura sua cor se torna. Significa que o cristal mágico mais caro é preto… Hmmm? Espere um segundo…
O colar que Kuro me deu. Aquele colar com Magia de Detecção imbuída era todo preto… Não significa que este colar é absurdamente caro?
Kuro me deu algo tão incrível quando tínhamos acabado de nos conhecer? Sério, quão rica você é…?
Seguindo nossa caminhada pela rua cheia de barracas, percebi uma vez mais o quão incrível essa garotinha é, de muitas maneiras, de repente senti uma presença intensa.
— O que é aquilo?
— Hmmm. Algo está vindo.
Pelo visto Kuro sentiu também, quando paramos de andar, viramos nossos olhares para cima quase ao mesmo tempo.
Pouco depois, ouvimos um berro parecido com um grito, embora não faço ideia de onde veio.
— São wyverns!
— !?
Junto com esse grito, o ambiente ao redor ficou barulhento de uma só vez.
Diante da minha linha de visão… Sete grandes sombras se movem como se estivessem circulando acima da capital real, monstros com escamas verdes e asas enormes… As figuras de vários wyverns estavam lá.
— Por que os wyverns estão aqui?
— Eles falharam em subjugá-los? Não é possível!
— A-Alguém chame logo a Ordem dos Cavaleiros!
Esbravejos e gritos vieram de todos os lugares, com a anomalia óbvia de wyverns atacando a capital real.
Pelo que entendi, a estranha presença que senti há pouco foi a aproximação do wyvern devido à minha Magia de Simpatia.
Entretanto, imagino por que estou tendo esse sentimento… É que as emoções que estou percebendo dos wyverns são… Medo e inquietação?
— Eles fugiram do time de subjugação?
— Hmmm. Não acho que entrariam em batalha contra os wyverns sem criar uma barreira mágica primeiro… Mas sete deles são muito poucos para serem considerados um bando, então acho que é normal considerá-los como sobreviventes que escaparam para salvar suas vidas, hein? Devem ter escapado de algo que não era o time de subjugação.
Kuro respondeu inalterada aos meus murmúrios, porém a situação é bem tensa.
Por assim dizer, há feras feridas voando no céu, e não seria estranho se atacassem a qualquer momento.
Estão circulando no céu agora, contudo, se todos eles atacassem de uma vez…
— Ku-Kuro…
— Kaito. Lembra do que te falei antes?
— Hã?
— Eu te disse sobre como devo ficar longe dos problemas que envolvem este país se não tiver um bom motivo para agir… Ou seja, só me envolveria se tivesse uma razão.
Em resposta ao meu nervosismo, suas palavras soam como murmúrios baixos em meus ouvidos.
Ela parece indiferente quando responde baixinho, no entanto… Por que em meio a essas palavras… Eu sinto raiva?
— Mesmo que enfim esteja tendo meu encontro divertido com Kaito…
— H-Hmmm, Kuro… O quê?
Com palavras que soavam como se estivesse tentando conter sua raiva, Kuro estalou os dedos.
Em seguida, um enorme círculo mágico aparece no céu acima, preenchendo meu campo de visão.
— Eu estava realmente ansiosa pelo dia de hoje. Me preparei toda… Então… Quando alguém de repente se intromete… Vou ficar brava, sabe?
Imediatamente depois, o céu acima ficou preto, como se estivesse sendo tingido com tinta.
Instantes depois, o céu preto voltou à sua cor original, e os sete wyverns que circulavam no céu há pouco já não estavam mais lá, sequer suas sombras podiam ser vistas.
— …
— E com isso, aqueles obstáculos desapareceram… Vamos, Kaito, vamos continuar nosso encontro!
— H-Hmm, Kuro…? O que diabos aconteceu?
— Unnn? Como atrapalharam nosso encontro, me livrei de todos com “Magia de Aniquilação Espacial”.
— En-Entendi.
Magia de Aniquilação Espacial? O que diabos é isso, soa muito assustador, ainda sendo só o nome do feitiço! Você acabou de apagá-los? Acabou de aniquilar todos estalando os dedos?
Co-Como esperado do Rei do Submundo… Esse título não é só para se exibir… Essa deveria ter sido uma crise para o país, e acabou com um simples estalar de dedos. Quero dizer, aqueles wyverns que desapareceram segundos após sua entrada são lamentáveis. Nunca imaginei que chegaria o dia em que sentiria pena de wyverns.
Embora os problemas tenham surgido, a pessoa com quem estou é quase o ser mais forte nos diferentes reinos deste mundo, então nosso encontro continua sem problemas.
— Olha, olha, Kaito! Estão vendendo um condimento que foi popularizado por alguém que ocupou o papel de Herói.
— Maionese? Heehhh… Esse condimento foi passado para esse mundo também, hein.
— Acho que é uma boa hora para eu experimentar um novo sabor!
— Só não coloque em um bolinho castella.
— Hã?
— Não me venha com “Hã”…
Olhando ao redor do mercado onde os ingredientes alimentares são vendidos…
— Heeehhh… Há tantas flores de cores diferentes à venda. Olhar para elas me faz sentir como se estivesse realmente em um mundo diferente.
— Ah, Kaito. Essa flor pode “morder”, tome cuidado.
— O quê? Ou melhor, por que não me avisou antes?
— Ahaha, desculpe, desculpe. Mas essas flores têm um gosto ótimo também.
— Não, não, mesmo se me disser como se fosse um conhecimento comum, não tenho nem a mínima noção.
Quase fui mordido por uma flor de cor estranha em uma floricultura…
— Kaito, qual acha que combina mais comigo?
— Hmmm. Kuro costuma usar roupas pretas, sendo assim o colar de prata não combinaria melhor com você?
— Entendo! Porém este é bem curto. Vai quebrar se eu entrar no meu Modo Besta Demoníaca.
— E o que é esse Modo Besta Demoníaca?
— É quando assumo a forma de uma Besta Demoníaca. Acho que me transformaria em uma besta do tamanho de Acht.
— Desculpe, ainda que tenha me respondido, não faço ideia do que dizer.
Observando a vitrine em uma loja que vende enfeites…
— Kaito, comprei alguns espetos de carne! Vamos comer.
— Sim, obrigado… São bons, contudo essa carne tem um gosto meio incomum. Que tipo de carne é essa?
— Essa é a carne de um “Verme Tirano”.
— Pfuuu!
Surpreendido com os ingredientes usados no outro mundo…
— Que livro vai comprar?
— Hmmm. De preferência um que possa ler no meu tempo livre, no entanto qual deles seria uma boa opção?
— Então, que tal este? É um livro sobre a dramatização da história do Primeiro Herói.
— Heeehhh, a história do Primeiro Herói, hein, deve ser interessante. Eu sei que o Primeiro Herói é uma pessoa incrível, no entanto me pergunto como ela era?
— Unnn? Kaito já a “conheceu” antes.
— Quê?
Chocado com a verdade que veio à tona na livraria…
— Sra. Kuromu, desculpe-me por interromper.
— Uwhoaah! E-Ein? Quando você…
— Qual é o problema?
— Recebemos uma mensagem carregada por um beija-flor enviada do palácio real, pedindo para encontrá-la diretamente para agradecer por sua recente subjugação do wyvern.
— Estou no meio de um encontro…
— Entendido. Agora conduziremos um “banho de sangue”.
— Vou deixar com vocês!
— Não, não, não diga “Vou deixar com vocês!” tão despreocupadamente! Ein, pare, PARE!
Bem quando pensei que a ameaça dos wyverns neste país tinha se encerrado, percebi que outra ameaça (a empregada) está prestes a aparecer no palácio real…
Nós passamos nosso tempo assim, houve alguns momentos agitados e momentos cheios de diversão e, antes que percebesse, o tempo passou num piscar de olhos.
— Foi um dia e tanto! Eu me diverti muito!
— Sim. Sinto que algumas coisas absurdas aconteceram aqui e ali, mas com certeza foi divertido.
Sentado lado a lado com Kuro na fonte da praça enquanto o sol se põe, trocamos palavras como se estivéssemos nos imergindo nas memórias persistentes do dia.
O tempo voou tão rápido. Quando foi a última vez que passei um dia tão agitado e divertido?
— Kuro… Obrigado por hoje.
— Unnn? Também me diverti muito. Vamos sair juntos de novo!
Enquanto seu olhar era direcionado para mim com um grande sorriso no rosto, também a agradeci com um sorriso meu.
Hoje foi tão divertido e aprendi muitas coisas que não sabia antes.
Porém ao mesmo tempo, percebi mais uma vez que desde que vim para este mundo Kuro me deu muitas coisas… E como sempre estive sob seus cuidados.
E junto a isso, também percebi que não a conhecia de jeito nenhum.
É como se ela soubesse tudo sobre mim, contudo só sei uma pequena parte de quão grande ela é como Rei do Submundo. Até agora, estive bem com essa situação. Kuro é um ser em um nível muito além do meu, e é natural que não entenda essas coisas…
No entanto, passar um tempo juntos hoje me fez querer conhecê-la melhor. Senti que não queria ser apenas o único a receber, também queria retribuí-la.
— Ainda temos muito tempo, não há necessidade de pressa.
— Sim.
Enquanto refletia comigo, Kuro tornou a ver através dos meus pensamentos.
Estamos neste mundo há pouco mais de duas semanas, e acho que ainda não passamos muito tempo juntos.
Isso não é motivo para mim, o tempo que passamos juntos não importa… Pensei que essas coisas só aconteciam em histórias.
Admito.
Antes que sequer pudesse me dar conta, esse sentimento floresceu em meu coração tão naturalmente que nem percebi que estava ali.
Em relação a esse demônio inocente, alegre, de espírito livre, gentil e fora do normal… Estou me sentindo atraído por ela…
Penso que Kuro é alguém formidável e eu só poderia chafurdar em arrependimento. Afinal, ela é estranhamente perspicaz em relação aos meus hábitos, todavia irrefletida e entediante em relação a relacionamentos como esse. Acho que você poderia dizer que é um desafio imprudente de certa forma… Entretanto, como Kuro disse, não há necessidade de ficar impaciente porque ainda temos muito tempo.
Vou conhecê-la aos poucos, vou me aproximar do seu coração um passo de cada vez.
— Kuro, não sei quando será… Mas posso te convidar para sair na próxima vez?
— Unnn. Estou ansiosa por isso.
Por enquanto, vou começar me conscientizando desse sentimento hoje.
E depois, vou colocar esses pensamentos em ação… Sendo honesto, sou novato em tudo isso e tenho muitas preocupações… Porém, farei o meu melhor.
Talvez essa seja a maior mudança em mim que já vi desde que vim a este mundo. No meu mundo original, continuava escapando de me envolver com outras pessoas, contudo neste mundo, conheci um demônio misterioso, e aquela garota me salvou e me fez sorrir do fundo do meu coração.
Tradução: Shuraragi
Revisão: Matface
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