Dark?

Fui Pego em Uma Invocação de Herói, Mas Esse Mundo Está em Paz – Vol. 01 – Cap. 02.4 – Salvação, Junto com a Árvore Brilhante

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Os sete copos tilintaram juntos com os gritos de nossas vozes… Como se fosse óbvio, Ein também estava lá ao lado, hein?

E então, tomei um gole do álcool levemente amargo, parecido com cerveja, para minha boca, e quando coloquei o copo de volta na mesa, de repente havia um churrasco recém-feito no pequeno prato na minha frente… Sua velocidade de resposta é tão perfeita que está começando a me assustar de verdade, sabia?

Peguei o espeto de carne e vegetais espetados em intervalos regulares e uniformes, dediquei um olhar para Kuro, que assentiu, antes de levar o churrasco à minha boca. E nesse momento, eu me lembrei. Essa não era carne de dragão? Sinto que um dragão teria gosto de lagarto… Wow, delicioso!

Assim que dei uma mordida, a carne estava tão macia que as fibras se soltaram e pude sentir uma grande quantidade de umami1É um dos cinco gostos básicos do paladar humano (como o ácido, doce, amargo e salgado), uma palavra japonesa que significa “gosto saboroso e agradável”. Foi descoberta pelo professor Kikunae Ikeda e divulgado para a comunidade em 1908, sendo reconhecido pela comunidade científica em 2000, após identificarem receptores específicos para o aminoácido glutamato. jorrando em minha boca. O sabor é como carne de alta qualidade, temperada apenas com sal e pimenta. A comida é tão requintada que me peguei devorando-a em segundos.

Honestamente, não era só a carne a melhor coisa que já comi, os vegetais coloridos no meio não poderiam ter sido mais primorosamente grelhados e pareciam intensificar o sabor geral do prato em muitas vezes.

— Como esperado de Ein-dono… Excelente trabalho.

— Muito bom! Sinto que todos os vegetais estão bem grelhados, realçando os sabores!

Sechs está comendo um espeto de peixe e Raz está segurando um espeto com apenas vegetais na mão. Cada um deles tem tamanhos diferentes de espetos e acho que isso significa que são feitos sob medida para suas preferências. Acht tem um espeto com um grande pedaço de carne preso e Neun tem o mesmo espeto ortodoxo que eu… Ou melhor, Neun, você ainda está usando a sua armadura completa? Como diabos consegue comer vestindo essa coisa?

No entanto, esse churrasco estava tão gostoso que não tive tempo para pensar em mais nada. Ou melhor, terminei o espeto num piscar de olhos. O que devo comer em seguida… Gostaria de experimentar os espetinhos de peixe que Sechs está comendo também.

— Aqui.

— Mu-Muito obrigado… Errr, acho que ainda não disse nada?

E na minha frente, um espeto de peixe é estendido, como se fosse óbvio que era o que eu queria comer. Você é uma esper? Ein está lendo minha mente por acaso?

— Saber o que uma pessoa quer é um dos mínimos necessários para uma empregada.

— É-É mesmo…

Essa empregada é incrível! Ela é de outro mundo!

Enquanto comíamos o delicioso churrasco, fui me sentindo atordoado pela grandiosidade de Ein. Depois conversei com Acht, enquanto este segurava um copo enorme na mão.

— Oh, Kaito. Você andou bebendo?

— Sim, esse álcool é delicioso, não é?

— Hahaha, beber um ótimo álcool enquanto olha para uma bela paisagem. Não acho que haja nada mais luxuoso do que isso!

Em resposta às suas palavras, que vieram acompanhadas de uma risada animada, assenti sem hesitar.

O sol poente brilhando no rio que flui suavemente, contrastando com as árvores verdes brilhantes… Este cenário espetacular, que pode ser descrito como o ar livre, proporciona uma agradável sensação de liberdade.

— Vejo que também está passando por momentos difíceis, não é? Ouvi algumas coisas de Kuromu, você veio do mesmo mundo que a pessoa que detém o papel de Herói, certo?

— Bem, sim.

— Não sou tão inteligente quanto Lorde Sechs, então não sei o que pensar a respeito, ainda que me dissessem que você veio de outro mundo, ser enviado para um lugar aleatório do nada e sem nenhuma razão clara, deve ser difícil, certo?

— Com certeza houveram várias coisas que me surpreenderam.

Acho que Acht está agindo como um irmão mais velho agiria, conversando enquanto bebe, como se estivesse preocupado comigo.

Talvez seja porque não tive muitas oportunidades de falar com pessoas do mesmo sexo desde que vim para este mundo, desviei meu olhar enquanto me sentia um pouco solene com sua atitude.

Quando vejo essas pessoas de espécies que nunca vi antes na Terra se banqueteando com comida… Uma vez mais percebo que vim para outro mundo.

— Bom, sei como é ser surpreendido por tudo isso. Neun ali disse antes que ela era a pessoa mais jovem deste grupo, certo? Também sou uma das pessoas mais jovens deste grupo, e fiquei surpreso no começo.

— Sério?

— Embora diga isso, estou vivo há mais de mil anos, então, Kaito, não vai pensar em mim como um velho? Hahaha.

Enquanto olho para Acht que está rindo e bebendo, uma pergunta vem à minha mente.

Pensando agora, os membros aqui são, de acordo com Kuro, sua família… Entretanto, pelo que parece, suas raças são bastante variadas, e ela não parece ser mãe nem irmã de nenhum dos presentes. Ou melhor, Sechs acabou de dizer que é um lich e Acht disse que era um ogro, então o que diabos há com essa mistura variada?

— Kuro apresentou todos como sua família, mas suas raças são diferentes, certo? É algo normal no Reino Demoníaco?

— Ah, não, não é como se fosse normal. Como devo explicar… Acredito que saiba que existem várias raças no Reino Demoníaco, certo?

— Sim, ouvi dizer.

— Existem algumas espécies como os humanos que se tornam pais e dão à luz a filhos, porém também existem algumas crianças que não têm pais, elas nascem da aglomeração de poder mágico. Resumindo é como a irmã Raz e eu, pessoas da raça das fadas e da raça dos ogros, somos de raças onde nos unimos uns com os outros. Por sua vez, Kuromu e a irmã mais velha Ein são de raças autônomas, que são em sua maior parte autossuficientes. É por esse motivo que é tão raro vê-las.

É exatamente como imaginei que seria, e acho que entendo a reunião das mesmas raças. Contudo, em relação à família de Kuro, ou para resumir, essas pessoas com quem estamos fazendo churrasco, parece que algo como essa reunião é raro até mesmo no Reino Demoníaco.

O que isso significa? Tenho minhas dúvidas, embora essa seja uma área em que eu, como um estranho, não deveria ter o descuido de adentrar, certo?

Enquanto pensava sobre, Acht pareceu ter percebido o que estava pensando e sentou-se no chão em vez de uma cadeira, e falou enquanto olhava para a paisagem com olhos que pareciam um pouco distantes.

— Então, como acompanhamento do álcool, por que não te conto algumas histórias idiotas sobre os velhos tempos?

— Claro.

— Como disse antes, sou um ogro, uma espécie de demônio com seu próprio nome. Exceto que, no meu caso, sou o que eles chamam de “indivíduo especial”.

— Um indivíduo especial…?

— Sim, é extremamente raro que alguém como eu nasça. Os ogros no geral são demônios de pele verde ou vermelha com um chifre, enquanto da minha parte tenho pele azul e dois chifres. E é por essa razão que sou chamado de indivíduo especial.

Talvez seja um pouco diferente, suponho que sejam como albinos ou algo próximo. De qualquer forma, Acht é diferente em comparação a um ogro normal.

— Pode soar legal ser chamado de especial… Todavia, no final, também significa ser diferente, e recebi não apenas das pessoas ao meu redor, como até da minha própria raça… impatia, medo, desprezo… Tudo era muito irritante.

— …

— Sou mais poderoso do que a maioria dos ogros e não tenho personalidade para me encaixar habilmente com os outros. Não demorou muito para que acabasse me isolando da minha própria tribo e abandonasse minha aldeia.

Ser especial significa que você é diferente. Posso entender isso. É o mesmo para os humanos… Claro, há algumas pessoas que ainda conseguem se encaixar em seus arredores, porém Acht não conseguiu. Como resultado, se isolou de sua própria tribo e escolheu viver sozinho.

— Então, fiz muitas coisas estúpidas quando ficava irritado: briguei, me revoltei e vivi minha vida do jeito que bem queria. Também encontrei uma parceira como eu. Aquele sujeito era um lobo preto, contudo assim como no meu caso, ela nasceu com cabelos prateados, o que a isolou dos outros lobos pretos. Como pode ver, nossos casos são semelhantes.

— …

— Um dia, nós saímos em fúria, vagando aqui e ali como se para desabafar nossa raiva. Felizmente, nós dois estávamos entre os fortes. E, bem, aqueles dias foram sem dúvida divertidos… No entanto, no fim, não importava para onde fôssemos, não mudava a maneira como tratávamos os outros. Já deveria saber na época, nós apenas nos transformamos em feras feridas que mordiam qualquer um que víamos, não importava quem era. Seria natural que fôssemos odiados onde quer que estivéssemos.

Acht esboçou um sorriso amargo, como se estivesse zombando de si mesmo naquele momento. A expressão em seu rosto era de alguma forma triste, como se questionasse seu antigo eu sobre por que não percebeu algo tão óbvio, mas não consigo ver nenhuma emoção como arrependimento em seu semblante.

— Todo mundo sempre nos olhava como se fôssemos lixo. A partir daí, nós iríamos atacar pela frustração, ficar isolados dos outros, atacar novamente em direção a eles, e continuamos repetindo essa estupidez de novo e de novo… E antes que pudesse me dar conta, me cansei disso. Cansei do loop infindável, então mudei e fiz algo mais estúpido ainda. Estraguei tudo, minha parceira e eu tivemos que fugir para uma ruína para salvar nossas vidas.

— …

— No tempo em que curávamos nossos corpos maltratados, pensei… “No fim, o que realmente queremos fazer? O que queríamos adquirir?” E… Não encontrei resposta. Quanto mais eu pensava, mais frio e pesado meu coração se tornava… Era como se o calor tivesse sido drenado do meu corpo. Não é engraçado? No final, posso parecer grande, mas ainda temos as mentes de pirralhos infantis… Levei mais de cem anos para perceber que estava apenas fazendo birra sobre coisas que não gostava e agi como um completo retardado.

Não sabia o que lhe dizer. Havia um muro na sua frente chamado “diferença” desde o dia em que nasceu, ele tentou contorná-lo, porém seguir por esse caminho só o levou a um beco sem saída. É fácil colocar em palavras. Todavia, palavras baratas como essas podem não ser capazes de expressar alguns dos sentimentos que Acht e sua parceira tinham.

— Foi quando conheci Kuromu. Sendo honesto aqui, foi a primeira vez que senti algo assim desde que nasci. Com um olhar, senti como se meu instinto, não minha cabeça, estivesse sendo pressionado para ceder em apenas um instante. Estava pronto para morrer naquele momento. Nunca venceria ela, a diferença entre nós era tão avassaladora que não poderia nem resistir, nem falar. É só que, ah, então é aqui que termina. Este demônio de alto nível que apareceu do nada será a própria morte para nós…

— …

— Curiosamente, pensei que seria um fim adequado para nós que fomos um bando de idiotas por tanto tempo. No entanto, não foi o que aconteceu. Kuromu nos olhou e colocou comida que tirou do nada na nossa frente enquanto dizia: “Deve ser algo como o destino que nos encontramos aqui. Venham, comam comigo.”, com um sorriso infantil no rosto.

— Não sei se devo dizer que é bem a cara de Kuro… Ela é muito surpreendente.

— Hahaha, realmente me fez rir! Quer dizer, por que não faria? Kuromu é um demônio de alto escalão que é muito mais poderoso do que nós, sabia? E embora seja o caso, ainda nos trata como se fôssemos seus amigos que encontrou por coincidência.

Não posso deixar de rir quando penso na cena do perplexo Acht e sua parceira depois que viram as ações absurdas de Kuro.

— Foi a primeira vez que senti algo assim na minha vida. Sem simpatia, desprezo ou hostilidade, apenas um sorriso puro e olhares afetuosos sem nenhuma intenção oculta… Antes que percebesse, nós dois estávamos chorando enquanto comíamos. Parecia quente, é como se nosso coração frio estivesse sendo segurado em seu abraço caloroso, o sorriso de Kuromu era acalentador.

— …

— E então, como já deve imaginar, começamos a segui-la. Ela nunca nos desprezou e nos tratou como se fôssemos iguais. Se coisas boas acontecessem conosco, ela ficava tão feliz quanto nós. Se alguém zombasse de nós, ficava muito brava por nós. Tudo isso me deixou absorto em uma felicidade inexplicável.

Acht, falando com uma voz bastante feliz, desviou o olhar para Kuro, que conversava com Ein.

— Não sei muito a respeito, mas ouvi dizer que os outros estavam passando por situações difíceis quando conheceram Kuromu. Porém, a única coisa que tínhamos em comum com os demais é que todos nós fomos encantados por sua pessoa.

— …

— Minha parceira e eu juramos nossa lealdade absoluta a Kuromu. Se nos dissesse para morrer, cortaríamos nossas próprias gargantas com prazer.

Acht parou de falar e sorriu após beber um gole de seu copo de uma só vez.

— Kuromu é um demônio de alto escalão com um poder incrível, porém, não menospreza ninguém… Seja a Irmã Mais Velha Ein, Lorde Sechs, Irmã Raz, Neun e, claro, minha parceira e eu, todos nós pensamos em Kuromu como nossa única e absoluta mestra. Entretanto, nunca fomos chamados ou tratados como subordinados, atendentes, membros de sua casa ou algo assim. Fomos considerados sua família como se fosse óbvio. Nunca recebemos ordem para fazer nada e tudo o que Kuromu nos pediu foi apenas “confiar” ou “pedir”… Fomos tratados como iguais do fundo do coração quando deveríamos estar seguindo-a por conta própria. Até mesmo a irmã mais velha Ein, agindo como sua empregada, é apenas algo que decidiu fazer por conta própria.

É verdade que Kuro chamou Acht e os outros de seus amigos, e se bem me lembro, pediu a seu conhecido para estender um convite a mim. Ela confiou a Ein os preparativos e pediu aos outros que trouxessem ingredientes. De fato não há nada como uma hierarquia entre eles.

Talvez esta seja a melhor prova para Kuro de que todos são sua família e não há hierarquia.

— A razão pela qual estamos todos aqui com Kuromu é simples. É porque a amamos de coração, aquela que é mais poderosa do que qualquer outra pessoa, contudo mais gentil do que qualquer um poderia ser… O desejo de Kuromu é o nosso desejo, e o seu sorriso é nossa melhor recompensa. E já que nos chama de família, então seremos, ainda que sejamos de raças diferentes.

— Isso é meio legal. Esse tipo de coisa…

Oi, oi, já te disse, Kaito. Não aja como se fôssemos estranhos, ok?

— Hã?

— Se você é amigo de Kuromu, então também é nosso amigo. Sendo assim, não precisa falar de forma tão polida. Pode só me chamar de Acht.

— Entendo, unn. Tudo bem. Acht.

— Ohh, esse é o espírito! Agora, vamos tomar outra bebida!

Quando vi Acht com um sorriso no rosto que me lembrou de Kuro, enfim percebi a verdadeira natureza da sensação de segurança que sentia vindo dela.

Sim, Kuro sinceramente pensa em mim como seu amigo. Não importa se sou um ser de outro mundo ou estou em uma situação peculiar, seu sorriso me diz que o Miyama Kaito na sua frente é seu amigo e igual. Acho que é por esse motivo que me sinto seguro quando conversamos e gosto de ser levado por sua influência.

Com essas ideias em mente, brindei com meu novo amigo de pele azul.

Talvez por causa da conversa que tive com Acht, agora me sinto mais à vontade falando com os outros.

Também me senti um pouco arrependido por estar deixando todo o trabalho da cozinha para Ein, no entanto quando falei sobre o assunto, antes que percebesse, estava participando da conversa, e nossas refeições e bebidas foram perfeitamente complementadas… Decidi não pensar sobre isso depois que aconteceu.

Quando o sol se pôs e a noite caiu, ferramentas mágicas flutuando no ar iluminaram a área ao redor. Observando com interesse o poder da magia que iluminava nossos arredores, embora sua luz não seja deslumbrante ao ponto de incomodar meus olhos, Neun falou comigo.

— Vejo que Miyama tem se sentido bem confortável com todos, hein.

— Sim, todos são boas pessoas. Mesmo que eu sinta que Ein e Sechs são peculiares e esquivos, Raz e Acht são fáceis de conversar.

Fufu, entendo o que quer dizer… Acho que já é hora.

Unn?

Neun está falando comigo com sua estranha voz aguda, quando murmurou suavemente ao ouvir o que eu disse.

Quando inclinei minha cabeça para perguntar o tempo de quê, Neun se virou para mim e proferiu algumas palavras surpreendentes.

— Como está o Japão agora? O Imperador já mudou e há um novo nome para a chegada da nova era?

— O quê?

Ele não apenas me disse a palavra “Japão” como se fosse de conhecimento comum, Neun também sabe sobre a existência de um imperador.

Poderia ser que essa pessoa é… Não, que esse humano seja…

— É como imaginou. Também sou um japonês que foi invocado para este mundo. Bem, na verdade sou mais um antigo japonês.

— É… entendo…

— Acho que é natural ficar surpreso. Foi por isso que não te contei sobre antes, pelo menos até que Miyama se acostumasse com a atmosfera.

Na frente do meu eu surpreso e sem palavras, Neun toca o capacete que cobria seu rosto. Então, ele se transformou em fumaça preta e o rosto de uma mulher com cabelos pretos longos e brilhantes e olhos da mesma cor apareceu.

Ela é uma beldade japonesa com uma combinação de fofura e beleza que pode ser descrita como o epítome de uma Yamato Nadeshiko.2Termo japonês que significa “mulher japonesa ideal”. É uma metáfora da flor que representa a feminilidade tradicional e conservadora.Sua idade parece próxima a minha, embora a atmosfera ao seu redor seja um tanto poderosa.

— Deixe-me me apresentar mais uma vez… Fui convocada para este mundo quando era uma estudante no Japão da Era Taisho. No fim, me recusei a retornar ao nosso mundo anterior, e através do poder de Kuromu, eu, que era uma antiga humana japonesa, fui reencarnada no corpo de um demônio… Para Miyama, poderia dizer que sou uma pessoa da era passada.

— Era Taisho…

— Sim. A propósito, como é chamada a era atual?

— Pegando os caracteres de paz (平和) e realização (成功の成), atualmente é a Era Heisei (平成).

— Heisei hein… Alcançar a paz soa bem.

Ouvindo sua explicação, senti que tal possibilidade certamente é viável. Neste mundo, a invocação de Heróis foi feita muitas vezes ao longo dos últimos mil anos. Por cálculos simples, deveria haver cerca de 100 pessoas que foram invocadas para desempenhar o papel de Herói até agora, e não seria surpreendente se algumas quisessem viver o restante de suas vidas neste mundo.

— Ah, não se preocupe. É verdade que sou da Era Taisho… Mas devido à natureza do círculo mágico de invocação, assim como você deveria retornar após um ano, pode retornar no momento exato em que foi invocado. Mesmo que não retorne naquele momento, pode pedir ao Deus Criador para mandá-lo de volta. Porém, nesse caso, o tempo no mundo diferente poderá ter mudado um pouco, contudo, décadas não passarão de repente de uma vez. Por exemplo, no meu caso, já deveria ter passado cem anos desde que fui invocada.

— …

— Entendo esse sentimento de não ser capaz de acompanhar o que está acontecendo. Também senti o mesmo quando vim para cá pela primeira vez.

Quando não consegui responder às palavras de Neun, que me explicou em uma voz feminina calma em vez de sua estranha voz de antes, ela apenas sorriu e me disse que podia entender como me sentia.

— Bem, por essa razão… Posso ser um caso especial, no entanto para Miyama, você poderia dizer que sou sua senpai em relação a ser invocado, e acho que poderia responder às suas várias perguntas.

— H-Hmm…

Com essas palavras, Neun começou a me contar aos poucos sobre suas experiências.

A história de sua chegada repentina em outro mundo e a confusão que sentiu, a diferença de cultura e senso comum que têm aqui em comparação com o Japão, e as coisas que descobriu desde que foi invocada… Ela me contou muitas coisas.

As palavras de uma veterana que experimentou a vida no outro mundo desde que foi invocada como uma Heroína, há tantas coisas que poderão ser úteis para mim no futuro que me peguei ouvindo-a pelo resto do dia.

Depois que nossa conversa acabou, Neun se levantou da cadeira deixando algumas palavras para mim mantendo seu sorriso.

— Não sei se isso preencheu o vazio dentro de mim ou não. Entretanto… O desejo que tinha em meu coração… Eu fui capaz de encontrar meu tesouro neste mundo. Portanto, tenho certeza de que será capaz de encontrar um também, Miyama. Sei que pode estar confuso e sua mente ainda está em caos, contudo, por favor, tente aproveitar este ano.

— Sim.

Entendi bem essas palavras. A pessoa de quem Kuro estava falando antes, a pessoa que se parece comigo deve ser Neun… E Neun foi capaz de encontrá-la. É por essa razão que escolheu permanecer aqui e reencarnar como um demônio.

E o fato de ter vindo hoje para compartilhar sua experiência comigo… Também pode ser um presente cheio de gentileza de Kuro. Esta deve ser uma maneira indireta de me aconselhar, uma vez que sigo sem uma resposta para meus próprios sentimentos.

Não sei o que vai acontecer no futuro. Se descobrirei o que quero fazer ou acabarei não conseguindo encontrar, não terei a resposta apenas pensando nisso. No entanto, mesmo que seja só um pouco, ainda que haja apenas uma pequena chance de acontecer… Vendo Neun sorrindo sem nenhuma perplexidade… Eu queria poder ser como ela.

Logo após nossa conversa, coloquei o copo na minha mão e me levantei. Movendo meu olhar, logo encontrei a pessoa que procurava.

Ela estava conversando com as pessoas e andando por aí com um espeto na mão há pouco, mas antes que eu percebesse já havia se afastado dos demais e sentado bem ao lado do rio.

Não precisei pensar muito para entender que era provável que estivesse me esperando. A prova disso é o espaço ao lado de onde estava sentada. Os outros devem ter percebido também, já que não se aproximaram de nós.

— Deixando meu monólogo interior de lado, por que tatame?

—Unnn? É aquilo, certo? O conceito de wasabi!

— Quer dizer Wabi-sabi3É uma filosofia japonesa que foca na beleza e apreciação das coisas imperfeitas e impermanentes.…?

Arehh? Que pena, estive bem perto de acertar esse, hein!

Bem, sinto que estender seu tatame na beira do rio não parece muito certo, porém já é tarde demais para comentar.

Senti um sorriso se desenhando em meus lábios quando percebi que Kuro era a mesma de sempre. Ela então deu uns tapinhas no espaço do tatame ao seu lado e me pediu para sentar junto.

O calmante som do rio fluindo e o leve aroma de folhas flutuando, o ar está quieto e calmo, como se a vivacidade anterior fosse apenas uma mentira.

— Já está na hora?

Unn?

Enquanto Kuro murmurava, as luzes se apagaram e minha visão ficou escura por um momento, mas rapidamente o cenário mudou.

— Wow…

É uma visão maravilhosa. As folhas das árvores do outro lado do rio emitiam uma luz fraca, como se toda a floresta começasse a se iluminar.

— As árvores por aqui são chamadas de Árvores de Luz. Elas armazenam um pouco de poder mágico do ar e emitem luminescência a cada mês ou mais.

— É incrível… Como devo dizer… é avassalador…

— Não é lindo?

— Sim.

A luz não é forte o suficiente para arder meus olhos, são suaves e fracas como a luminescência de um vaga-lume e, combinadas com a luz refletida na superfície da água, fazem com que pareça que estamos em um mar de estrelas.

— Se é tão bonito, esse lugar deve ser muito popular…

— É bastante popular. No entanto reservei o lugar todo, até a área oposta ao rio!

Uwaahhh, isso parece ruim.

— Ahaha.

Pelo que estou vendo, esse lugar é uma atração turística bem famosa. Entretanto, não sei como o fez, mas ela conseguiu reservar o lugar todo para nós.

Bom, tendo conexões com o presidente da maior empresa comercial, é possível que possa fazer essas coisas se quiser. Hmmm, como devo dizer, mais uma vez percebi o quão incrível Kuro é. Seria melhor começar a usar honoríficos quando conversamos?

— Hmm, não vou gostar se você parar de falar como sempre.

— Entendi.

— Então está bom.

— Hahaha.

Meus pensamentos, que de acordo com ela são fáceis de ler, transmitiram o que estive pensando, e Kuro virou os olhos para mim em protesto, suas bochechas inchando de maneira adorável. Pare com isso, é muito fofo.

Porém, sinto que devo dizer… Senti que esse tipo de conversa é boa. Uma sensação muito calmante e reconfortante, como se o peso em meus ombros fosse liberado, junto com a fadiga que estavam carregando.

— Obrigado, Kuro.

Unnn?

— Sabe como é, pela sua considereção e várias outras coisas comigo…

— Estou apenas fazendo o que quero fazer, ok?

— Ainda assim, quero agradecer adequadamente.

— Entendo… Nesse caso, de nada. Eu acho?

Mesmo o silêncio que veio depois daquela breve conversa não é desagradável, e o ambiente é calmo e confortável para mim.

— Ei!

— Hã? O quê?

Enquanto me deixava aproveitar a atmosfera gentil ao meu redor, Kuro de repente me puxou para baixo com uma força inimaginável de seu pequeno corpo, e fiquei sem palavras quando senti um toque suave na minha cabeça.

Um pouco depois, me encontro em uma posição onde olho para o rosto de Kuro. Percebi que estou no famigerado travesseiro de colo, contudo, além disso, iluminado pela luz fraca das árvores próximas, não pude deixar de suspirar, olhando para a sua expressão, pois havia um pequeno sorriso em seu rosto.

Não era o sorriso inocente e infantil que costumava mostrar, é como o sorriso de uma mãe olhando para seu filho… Acho que poderia chamar de expressão maternal. Está apenas sorrindo para mim, embora me sinta como se estivesse sendo envolvido em sua gentileza. E a sensação do colo macio e quente na parte de trás da minha cabeça.

— …

Sem dizer nada, Kuro começou a acariciar gentilmente meu cabelo, mantendo o sorriso no rosto.

Embora seja muito mais velha, a situação é que Kuro, que é uma beleza impecável, está me dando um travesseiro de colo. Em qualquer outra situação sinto que ficaria me remexendo de vergonha. Todavia, seus olhos dourados, que parecem ver tudo e o conforto de ser segurado em seu abraço, mantém meu corpo e minha cabeça imóveis.

— Se sente um pouco menos cansado agora?

— Hã?

— Sei que Kaito é uma criança gentil. Está sempre pensando nas pessoas ao seu redor.

— …

— De todas as crianças convocadas desta vez, Kaito é o mais velho. Se acabar parecendo ansioso, as outras crianças ao seu redor também ficarão ansiosas. E é por essa razão que tem engolido sua ansiedade e impaciência, e pensou que precisava se manter calmo.

— …

Ah, entendo… Não sei se devo dizer que é como eu pensava ou se deveria ser esperado dela, contudo… Kuro viu através de tudo.

Tenho esse sentimento há algum tempo. Ela tem sido assim desde o momento em que nos conhecemos. Sempre que estou prestes a ser tragado por algo, Kuro fala sobre algo do nada e todos os meus pensamentos desnecessários são levados embora… Por outro lado, nos momentos em que me sentia ansioso, ela ouvia e afirmava meus resmungos… É isso que me faz sentir tão confortável enquanto conversamos.

— Acho muito legal que uma criança possa fazer isso com naturalidade. No entanto, a fadiga pode ser encontrada não apenas no corpo, como também na mente. Pode até não perceber, mas aos poucos…

— Isto… Pode ser verdade.

— Kaito, você se divertiu hoje?

— Sim, sinto que faz muito tempo que não me surpreendo com tantas coisas e tenho uma conversa despreocupada sem tentar me encaixar no ambiente. É tudo graças a você…

— Entendo, se for esse o caso, fico feliz.

As maravilhosas luzes tênues, o toque gentil da mão acariciando minha cabeça e o sorriso afetuoso que olha direto para mim. Pode ser de fato como disse há pouco, posso ter acumulado minha fadiga por algum tempo. Desde que vim para o outro mundo, ou talvez, muito antes de vir…

— Kaito, só um pouquinho, mesmo que seja só um pouquinho… Pode contar comigo. Por que não descansa um pouco? Mesmo que seja só para que possamos fazer o nosso melhor amanhã de novo… Ok?

— Sim.

Sua voz gentil me envolve como uma canção de ninar, senti minhas pálpebras descerem com uma sensação de alívio que não consigo colocar em palavras.

Posso sentir o caloroso toque e a fragrância de seu perfume… Sua voz que parecia permear ao meu redor, repleta de gentileza…

— Está tudo bem. Estarei aqui ao seu lado.

Ouvindo tais palavras, lembrei-me do passado. Quando foi a última vez que fui mimado por alguém? Esta pode ter sido a primeira vez desde que mamãe e papai foram embora.

Aos poucos, senti minha consciência afundar no sono.

Não sei quanto tempo se passou, porém acordei e me juntei aos outros para compartilhar o churrasco novamente, conversei com todos e, antes que percebesse, o tempo passou num piscar de olhos.

Pensei em ajudar na limpeza, contudo não havia uma única partícula de poeira deixada na área pelas mãos de Ein. Com um espontâneo sorriso irônico que surgiu em meu rosto, ouvi Neun me chamar.

— Miyama. Se quiser, tenho algumas lembranças que pode levar para casa… Primeiro, aqui.

— O que é isto?

Ein me entregou uma… Joia preta em forma de bloco quadrado? Não parece haver nada de especial nela além do seu formato.

— Isso é, bem… Para simplificar, é como um depósito que pode levar junto por aí. Tem Magia Espacial e Magia de Preservação de Estado, o que a torna capaz de armazenar todos os tipos de coisas dentro.

— Ei, pelo que disse, essa joia é algo incrível…

Ou seja, seria aquilo, não é? Essa é a Caixa de Itens que é essencial para tudo em um Isekai! Entendo, Ein está usando uma ferramenta mágica como essa para preparar várias coisas em um instante… No entanto, um objeto desses não seria bem caro?

— Não, não, não é um grande problema. Eu o fiz com as sobras esta manhã, então não seja tímido e apenas aceite.

“Depois de tudo, Sechs é um mestre em fazer ferramentas mágicas.”

— O-Obrigado.

Talvez percebendo minha ansiedade em aceitar o presente, Sechs riu calmamente e me disse para não me pensar muito a respeito. Graças ao fato de que o conheci até certo ponto, notei que, embora ele pareça um esqueleto, sua expressão muda de forma perceptível. Pode ser estranho, mas ouvi dizer que há até demônios no Reino Demoníaco que têm corpos feitos de minério, então ficar preso em pequenos detalhes seria uma perda de tempo minha.

Muuu! Mesmo que eu estivesse pensando em fazer a Caixa Mágica do Kaito por minha conta!

— Por favor, dê uma folga a ele. Se Kuromu usasse seu poder mágico só para fazê-lo, se tornaria um tesouro nacional por si só…

Em resposta a Kuro, que murmurou suas reclamações enquanto estufava suas bochechas, Acht murmurou algo que soou perturbador por algum motivo.

Pelo que entendi, essa coisa é chamada de Caixa Mágica. Talvez percebendo a minha falta de compreensão, Raz acrescentou uma explicação adicional.

— A quantidade de coisas que podem ser colocadas na Caixa Mágica depende do poder mágico do criador!

— É mesmo?

— Sim, alguém com um poder mágico médio poderia fazer uma do tamanho de um armário tão grande quanto um quarto… Entretanto, com o poder mágico de Kuromu, seria uma quantidade ridícula de espaço que acredito que caberia uma metrópole inteira dentro.

Não sei se devo dizer que é o esperado de Kuro ou algo assim, mas sem dúvida não consigo ver nenhum futuro em que eu iria querer um item ultrajante como esse nas minhas mãos. O que me deixa duas vezes mais grato a Sechs.

— Bom, acho que o espaço na Caixa Mágica do Lorde Sechs seria maior que uma casa.

— …

Até o substituto já era ridículo o suficiente, hein?

Enquanto estou surpreso com as palavras de Acht, Neun fez algum tipo de objeto mágico parecido com um círculo aparecer na caixa e, apontando para o centro dele, ela falou:

— Toque no centro do círculo mágico. Então, a propriedade será registrada para Miyama. Ah, não precisa estar revestido em um poder mágico em particular.

— Ah, ok.

Tocando a caixa mágica como me foi dito, esta brilhou por um momento, todavia não houve nenhuma mudança particular em sua aparência. Será que fiz certo?

— Sim, a propriedade foi registrada com sucesso para Miyama. Próximo, bem… A maneira de usá-la é fácil. Segure a Caixa Mágica, pense na coisa que quer tirar e você será capaz de fazer. Se pensar em armazenar um item, basta tocá-lo enquanto pensa em armazená-lo, e assim será feito. Ah, não se pode armazenar seres vivos, então tenha isso em mente… Depois, também poderá verificar o conteúdo, e pode fazer a própria Caixa Mágica desaparecer e reaparecer ao se lembrar dela.

Recebendo a explicação de Neun, tentei guardar a caixa mágica em minha mão e, em um instante, a joia negra desapareceu. Quando pensei em fazer a Caixa Mágica aparecer novamente, ela surgiu em minha mão. Que diabos, é muito conveniente! Como seria de se esperar da magia!

Ao me ver impressionada com a Caixa Mágica, Neun sorriu e também fez uma aparecer em sua mão.

— Bem, então, mais uma vez, vou te dar algumas lembranças.

— Hã? A lembrança não é essa Caixa Mágica…?

— Ah, não, é só porque seria inconveniente carregá-las por aí… Deixando essa parte de lado, essas são as coisas principais!

— E-Esses são… Poderiam ser…

O que Neun tirou foi uma coisa branca maravilhosamente comprimida em um formato triangular e que parecia estar brilhando frente ao meu olhar. A cor amarela da guarnição fez um contraste fantástico e até parecia divina aos meus olhos.

— Sim, o coração dos japoneses… Onigiri e Takuan! Achei que sentiria falta deles.

Engoli em seco.

Não consegui evitar minha reação olhando para eles. Neun… Então você é uma deusa, na verdade…

É o quinto dia desde que vim para este mundo… A comida que temos na mansão de Lilia é extremamente deliciosa. Porém, acho que pode ser apenas uma coisa japonesa, e como esperado, quando me servem pão todos os dias acabo sentindo falta do arroz branco.

Por infelicidade, não há arroz branco na casa de Lilia. Ouvi dizer que ele existe. Contudo, comer pão é a norma neste mundo e o arroz raramente é distribuído. Estava até preparado para comer pão o ano todo.

— Tu-Tudo bem? Ouvi dizer que o arroz não é amplamente distribuído neste mundo, então deve ser valioso…

— Não precisa se preocupar. Este é o arroz que eu mesma plantei. Garanto que tem um ótimo gosto. Também sou ex-japonesa, então, como esperado, não gostaria de comer pão o tempo todo. Preparei bastante, sendo assim, por favor, aproveite com os outros.

— Muito obrigado! Estou muito feliz com o presente!

Que surpresa, Neun faz seu próprio arroz branco. Estou ciente de que eles lhe renderiam algum dinheiro, contudo, fiquei muito feliz com seu gesto. Até pude ver uma auréola brilhando atrás das suas costas.

Além do mais, a cor e o formato desses onigiris são maravilhosos. Posso dizer que é delicioso só de olhar. Não apenas em sua aparência, suas ações são como um espelho de uma japonesa.

— Ainda que ela tenha dito isso, foi a Irmã Raz quem fez o arroz e a Irmã Ein quem o cozinhou.

Uggh

— A propósito, não comemos muito arroz, então é quase só Neun que pede, ou melhor, senti que ela fez porque está fazendo birra sobre querer comer.

— Ela estava muito entusiasmada, dizendo “Se for café da manhã, não é bom se não tiver arroz branco, takuan e sopa de missô!”.

— Uuuuuh…

Ah, não foi Neun quem fez, hein…

Com o tsukkomi de Acht e Ein, os ombros de Neun caíram como se dissesse que tinha sido atingida em um ponto doloroso.

— Até tentei fazer sozinha no começo, só que comparada a Raz, que cultiva produtos da mais alta qualidade independentemente do clima ou topografia, ou Ein, que poderia realçar o sabor com mais habilidade do que um cozinheiro habilidoso, como eu deveria rivalizá-las…?

— Ahaha, bem, Raz também se divertiu cultivando arroz! Não precisa se preocupar com isso.

— Sou uma empregada, então, por favor, não me compare a um mero cozinheiro. Ser capaz de cozinhar todos os tipos de comida é o mínimo que posso fazer como empregada.

Pelo jeito, Raz é uma especialista em agricultura. Além do mais, não sei quantas vezes tive que questionar a mesma coisa… Mas o que exatamente é uma empregada? É algum tipo de título de um super-humano?

— Bem, independente de quem quer que esteja fazendo, é graças a Neun que eu consegui o arroz branco. Muito obrigado.

Ofereci palavras de conforto para a abatida Neun, e depois de um tempo, recebi sua lembrança após recompor seu estado de ânimo.

A caixa mágica tem uma magia que preserva o estado do arroz armazenado, e tem uma função maravilhosa que o mantém na mesma condição em que estava quando você o colocou, então posso comer arroz fresco sempre que coloco um pouco dentro.

Também, como Neun disse, ela preparou grandes quantidades, não preciso me preocupar com arroz branco ou takuan por enquanto.

E mais, recebi junto molho de soja, missô e outros temperos, assim como alguns doces japoneses como youkan. Pelo visto, Neun também pediu para Ein fazê-los… Essa pessoa pode fazer qualquer coisa.

— Muito obrigado por tudo.

— Por favor, não se preocupe. Como alguém do mesmo mundo, consigo entender as dificuldades das diferentes culturas alimentares mais do que qualquer outra pessoa… E você não é só um amigo inestimável para Kuromu, Miyama, como também é para nós. Pode sempre contar conosco para ajudar.

— Ela está certa! Raz está sempre disposta a ajudar. Quando se trata de plantas, pode deixar comigo!

— Sim, sim, não precisa se preocupar. Só o pensamento de retribuir esse favor algum dia é o suficiente para nós.

Ara? No entanto, não me lembro de vê-la envolvida com nenhuma das lembranças.

— Irmã mais velha, você prometeu que não diria isso…

Ugghh… Posso sentir o calor dessas pessoas envolvendo meu corpo. Quero dizer, elas são tão legais que estou quase chorando.

Recebendo tantos presentes, abaixei minha cabeça várias vezes enquanto elas me diziam para não me preocupar. Estou muito feliz e grato por me chamarem e tratarem como um amigo. De fato não posso agradecer o suficiente a Kuro por organizar esse churrasco.

Depois, enquanto conversávamos um pouco, Neun abriu a boca, parecendo um pouco relutante em dizer algo.

— Miyama. Não estou dizendo que é algo que estou pedindo em troca, e não me incomodaria se não souber do que estou falando…

— O que é?

— Você tem alguma ideia de como fazer tofu?

— Tofu, é?

Foi uma pergunta inesperada.

De acordo com o que ouvi, produtos semelhantes a arroz e takuan já existiam antes, e quanto ao missô e ao molho de soja, Neun os fez com o conhecimento que já tinha, porém não conseguiu fazer tofu apenas tendo a seu favor a noção de que são feitos de soja.

Como esperado, nem mesmo Ein saberia como fazer tofu apenas ouvindo as características do produto final, dessa forma estava interessada em tentar descobrir como fazê-lo.

Teria sido legal se pudesse perguntar aos Heróis anteriores, contudo, eles são basicamente convidados do Estado e viajam pelo país, então são poucas as oportunidades de falar com eles e se sentiria estranha abordando-os apenas para perguntar sobre como fazer tofu.

No entanto, esta foi a primeira vez que Neun teve a chance de falar comigo, um japonês, então decidiu me perguntar a respeito.

Pelo que me lembro, ela nasceu na Era Taisho e foi convocada quando era muito mais jovem do que eu. Naquela época havia poucas maneiras de indivíduos obterem conhecimento que não possuíam, ainda mais sem o recurso da internet.

Tenho certeza de que se sente mal por estar tentando obter informações em troca do arroz branco, entretanto, aprecio a oportunidade de retribuir o favor.

— É apenas algo que ouvi uma vez, mas se não me engano…

Embora tenha explicado, isso não significa que eu já tenha feito tofu antes. Todavia, quando comecei a viver sozinho como um estudante universitário, lembrei-me de ler alguns sites de culinária e vi uma receita para fazer tofu. Contei a ela sobre as coisas que consegui me lembrar.

Como só tinha lido sobre, avisei desde o início que não sabia muito sobre as quantidades necessárias para cada ingrediente ou coisas assim…

— Entendo, acho que agora compreendo mais ou menos como fazer. Neun me disse que era apenas um alimento branco e mole feito de soja, assim não pude ter uma boa noção, agora consigo imaginar mais ou menos depois do que Kaito explicou. Acho que conseguirei produzi-lo sem problemas.

Embora tenha sentido que expliquei mal o processo para fazê-lo, Ein afirmou ter entendido até certo ponto. Ela assentiu com a cabeça, dizendo que é possível reproduzi-lo. É assustador pensar que essa pessoa ultrajante seria capaz de fazê-lo tão rápido.

— Muito obrigada! Miyama! Com isso, finalmente poderei comer um pouco de tofu!

— Ah, não, eu é que deveria agradecer…

Ficando muito feliz em saber que poderia comer tofu, Neun segurou minhas mãos com um alegre sorriso estampado no rosto.

Tendo estado neste mundo há centenas de anos, esta pode ser a primeira vez que poderá comer tofu em um bom tempo, e como uma grande fã de comida japonesa, deve ser um verdadeiro deleite. De qualquer forma, estou feliz que fique contente.

Então, chegou a hora de dizer adeus e todos me viram sair quando entrei na carruagem que veio me buscar.

Depois de alguns acompanhamentos de Acht e dos outros, Kuro, que estava de mau humor, pareceu recuperá-lo e acenou para mim com um sorriso brilhante no rosto.

— Bem, até mais, Kaito. Irei visitá-lo amanhã de novo!

— Ah, obrigado por tudo, Kuro.

— Miyama, irei compartilhar um pouco do tofu com você quando estiverem prontos.

— Sim. Estou ansioso para experimentá-los.

— Ah, então irei visitá-lo algum dia. Ao contrário de Kuromu e Lorde Sechs, não sou famoso no Reino Humano, então posso visitá-lo sem problemas. Acho que minha parceira gostaria de te conhecer também, então seria perfeito.

— Ahaha, você tem que pelo menos tentar parecer humano, Acht.

— Raz também irá!

— Sim. Claro.

— Eu visitarei a Duquesa Albert junto com Sei mais tarde, então poderemos conversar durante a ocasião.

— Sim, estarei esperando sua visita.

— Kaito, por favor, cuide-se… Espero poder vê-lo outra vez.

— Muito obrigado. Ein.

Sorrindo com as palavras que todos disseram, entrei na carruagem e acenei de volta respondendo aos seus acenos.

Hoje foi muito divertido, e acho que foi uma boa mudança para meu estado mental também. Quando voltar para a mansão de Lilia, escreverei novamente em meu diário, que é na forma de uma carta para meus pais falecidos, e contarei a eles sobre os eventos de hoje. Hmmm, fiz alguns amigos em outro mundo… Ou algo assim.

 


 

Tradução: Shuraragi

Revisão: Pride

 

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