De Colega Tóxica a Metas de Namoro

De Colega Tóxica a Metas de Namoro – Vol. 01 – Cap. 05 – A Visita de Trabalho

 

O céu estava nublado e sombrio naquele dia.

Naoya parou na bilheteria da estação de trem e suspirou.

— Será que ela está bem? — ponderou ele em voz alta.

Fazia uma semana desde que eles saíram em seu encontro incrivelmente agitado e emocionante, e estavam se dando melhor do que nunca… até ontem, no caso.

O trem chegou e os passageiros logo começaram a inundar o portão de embarque. Uma distinta cabeça prateada se destacou do resto da multidão.

Naoya levantou a mão e gritou para ela:

— Bom dia, Shirogane!

Koyuki reagiu um tanto estranho à sua saudação. No início, seu rosto ficou tenso, mostrando uma expressão sombria, mas seu sorriso frio voltou rapidamente.

— Bom dia, Sasahara — respondeu ela com uma voz reservada.

Naoya piscou, surpreso com sua resposta incomum. Ele estava esperando sua língua adoravelmente venenosa. Talvez uma piada como: “Você está aqui para me encontrar de novo? Nem tem como estar mais desesperado, não é? Vejo que já está completamente acabado, entendo”. Algo não estava muito certo. Ele podia ver que tinha alguma coisa a incomodando, mas ela não estava sendo honesta consigo mesma.

— Você leu o que te mandei ontem? — perguntou Naoya em voz baixa.

Koyuki fez um barulho estranho, então começou a chorar enquanto se jogava dramaticamente no peito de Naoya. Ele ficou atordoado com suas ações; ao mesmo tempo, porém, não pôde deixar de notar o calor e o doce aroma dela. Ele sentiu um forte desejo de envolvê-la em seus braços e só conseguiu se conter ao saber que não era o momento nem o lugar para fazê-lo. Olhares sujos estavam sendo disparados por estudantes e adultos para eles:

— Briga de casal? A escola ainda nem começou. Credo…

— Ah, como é bom ser jovem…

— Malditos normies.

Naoya gentilmente, e com muita relutância, colocou as mãos no ombro de Koyuki e a afastou dele, certificando-se de mantê-la no comprimento do braço.

— Uh, por que não tentamos nos acalmar um pouco, pode ser?

— Acalmar?! Como vou me acalmar? — gritou ela enquanto vasculhava freneticamente sua mochila. Quando encontrou o que estava procurando, a coisa que Naoya lhe dera no dia anterior, ela pegou e acrescentou:  — Por que Fran teve que morrer?! Eu não entendo!

— Ahhh… — Naoya suspirou. Ele tinha imaginado que poderia ser o caso.

Tudo começou ontem.

 

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A caminho de casa, Koyuki mencionou que queria ir a uma livraria. Naoya concordou, pois também pretendia passar em uma, por isso se dirigiram para uma perto da estação juntos.

— É isso que você quer comprar, Sasahara?

— Sim? Por quê?

Naoya olhou para o livro que estava segurando, que atualmente era o assunto dos olhares de Koyuki. Era o último volume de uma série de light novels que ele acompanhava: Até o Fim do Mundo. A capa apresentava um elenco de garotas de cabelos coloridos vestidas com armaduras minúsculas e armas caricaturais grandes. Era uma série de fantasia bastante padrão, em que o protagonista era transportado para outro mundo, daquelas que existiam aos montes.

Koyuki continuou seu olhar aguçado para o livro e disse:

— Sakuya gosta desses tipos de livros. Eles têm… imagens o-obscenas e coisas do tipo, certo?

— Sim, não posso negar.

— Acho que você é um menino, afinal — murmurou Koyuki com um aceno grave para si mesma, como se aceitasse alguma verdade terrível.

Naoya poderia dizer que ela estava obviamente começando a formar a ideia errada, por isso tentou se explicar mais do que depressa.

— Não, não é isso. O conteúdo sensual não é o principal atrativo; a história é ótima. Tem até uma adaptação de mangá e tal. É bastante popular agora.

— Mas eu pensei…

— Às vezes, as garotas mostram um pouco de pele nas ilustrações, mas é basicamente isso. — Ele a assegurou. No geral, não havia muito em termos de fanservice. Naoya tinha até ouvido que a obra tinha uma base de leitoras femininas bastante considerável.

Também sabia que as palavras por si só não fariam muito para aliviar a situação atual, e foi por isso que decidiu pular diretamente para seu último recurso.

— Bem, eu sempre digo “não drope antes de experimentar”, por isso vou te emprestar o primeiro volume. Tenho ele aqui na minha mochila, pode pegar.

— Tudo bem, mas se for apenas obscenidade, não vou ler.

— Não é, mas você pode parar quando quiser. Só experimente.

Koyuki parecia ainda mais cética com o livro nas mãos; no entanto, Naoya sabia que o mal-entendido logo se resolveria.

Esse primeiro volume é meio dramático, entretanto. Espero que ela fique bem… ele pensou consigo mesmo, tendo a memória de seu choro pesado devido a um anime infantil em um cinema lotado ainda fresca em sua mente.

 

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E, assim como temia, a cena que se desenrolava à sua frente era muito parecida com o que havia ocorrido durante o encontro.

Koyuki fez várias tentativas inúteis de juntar seus pensamentos através de soluços altos.

— Eu gostei muito, e foi muito bom! H-Havia partes sensuais, m-mas, mas… por que Fran teve que morrer?!

— Ah, sim, isso também me pegou de jeito… — Naoya respondeu sem rodeios, seus olhos sem emoção enquanto tentava acalmar Koyuki chorando. Ele optou por não mencionar o fato de que Fran acabou retornando em um volume subsequente.

Naoya caminhou lado a lado com Koyuki até a escola. Embora esperasse que ela se acalmasse quando chegassem, viu que estava enganado.

— Acho que fui dura demais com light novels… Sinto muito — gaguejou ela em meio às lágrimas.

— Oooh, então finalmente admite — respondeu ele. Ele não esperava que o livro deixasse uma impressão tão grande nela.

— Desculpe ter tirado conclusões precipitadas sobre você ser fã de livros pervertidos. Isso foi grosseiro da minha parte…

— Ah, tudo bem. Não se preocupe com isso. — Naoya a assegurou com um sorriso. Ele propositalmente deixou de mencionar que só lhe deu aquele livro em específico porque não era um dos mais voltados ao público masculino que costumava ler. Possuía algumas comédias românticas bem radicais que achava que nunca poderia mostrar a ela; ele era um menino em crescimento, afinal.

— A história foi fantástica. Adorei ver Fran ficar mais confortável com o protagonista conforme o livro avançava… Eu deveria saber que ela não iria sobreviver… — Ela deu suas impressões com a voz trêmula.

— Sim… — respondeu Naoya vagamente, tentando ao máximo evitar dar qualquer spoiler a ela. Foi interessante ela ter gostado da personagem que parecia alheia e fria no começo, mas que aos poucos foi derretendo ao longo da história; talvez foi capaz de simpatizar por não serem tão diferentes.

— Então, vai ler o segundo volume? — perguntou ele. — Eu trouxe comigo apenas no caso de você querer…

— Obrigada, mas já estou na metade dele — respondeu Koyuki enquanto enfiava a mão em sua mochila e mostrava o livro em questão. — Sakuya na verdade tem toda a série. Mas acho que era de se esperar.

— Sakuya realmente tem bom gosto, não é? — comentou Naoya com aprovação. Descobriu-se que sua dama de companhia de encontro era uma espécie de otaku.

Koyuki olhou para baixo, acariciou a capa com um sorriso brilhante e disse:

— Hehe, acho que vou ler um pouco durante o intervalo e tentar terminar depois da escola. Quer conversa sobre ele depois, talvez?

— Oh sim, com cert…. oh espere, desculpe. Não posso. Tenho que trabalhar hoje. — Naoya se conteve. Ele não tinha percebido que era sexta-feira, o dia em que trabalhava em seu emprego de meio período.

— Oh… Que pena. Achei que poderíamos ter uma boa conversa — murmurou ela, os olhos voltados para o livro em suas mãos.

Nenhum homem poderia resistir a essa expressão, e Naoya não foi exceção. Ele bateu palmas e propôs:

— Beleza, vamos fazer o seguinte: por que não dá uma passada lá no meu trabalho? Dessa forma, podemos conversar o quanto quisermos.

— Oh, não, eu não quero atrapalhar. Isso não vai incomodar os clientes?

— Nah, não será um problema. O chefe administra o lugar como um hobby — respondeu Naoya. Ele trabalhava em uma livraria modesta que não atraía tantos clientes e fazia menos ainda em termos de entregas. Não deu lucro, na real. O chefe só usou o trabalho para dar alguma estrutura à sua vida.

— Hm, seu chefe parece uma pessoa estranha — comentou Koyuki desconfiada.

— Sim, se eu tivesse que descrevê-lo… — Naoya concordou, parando enquanto o rosto de seu chefe entrava em foco em sua mente. — Eu acho que teria que dizer que é como uma figura de irmã mais velha para mim.

O rosto de Koyuki endureceu, mas foi rapidamente substituído por um sorriso fino.

— Certo, vamos lá! Estou bastante ansiosa por isso.

— Shirogane, eu não quis dizer dessa forma. Não tem nada do tipo rolando entre nós — adicionou rapidamente. Ele logo entendeu o tipo de mal-entendido que acabara de causar, então tentou cortá-lo pela raiz o mais rápido possível.

— É casada? Tem namorado? — perguntou ela.

— Não, mas…

— Então eu vou.

— Você é a única em meu coração, Shirogane…

Você até pode se sentir assim, mas não sabemos o que ela sente, não é? — Ela bufou com raiva antes de sair na frente dele.

Agh, ela com certeza gosta de tirar conclusões precipitadas. Mas está tudo bem. Ela vai entender quando a conhecer, ele tentou acalmar a si mesmo. Sabendo que explicações extras entrariam por um ouvido e sairiam pelo outro, Naoya acelerou o passo para que pudesse alcançar Koyuki.

 

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Como prometido, assim que a escola acabou, Naoya levou Koyuki para seu local de trabalho, uma pequena loja de livros usados escondida em um canto do distrito comercial. Era uma casa isolada espremida entre uma loja de conveniência e um prédio de apartamentos que tinha uma placa na frente que dizia: Sebo Akaneya.

A loja abria de segunda a sexta, das dez da manhã às cinco da tarde. Ostentava uma única estante formidável que adornava uma de suas paredes. Nela havia uma grande variedade de livros, de romances ocidentais a manuais técnicos, bem juntos. Também havia um balão, e quem estivesse atrás dele ficaria de frente para uma grande sala no estilo japonês.

Uma voz rouca que era muito familiar aos ouvidos de Naoya veio da sala.

— Uau, ela é muito mais fofa do que eu esperava, Sasahara! É um prazer te conhecer!

— D-Digo o mesmo — gaguejou Koyuki. Ela se sentou ereta, sua postura correta e adequada, em frente a uma pessoa que não reconhecia. Seu rosto tinha uma expressão incomum ao observar a desconhecida.

Naoya falou casualmente:

— Então, sim, ela vai estar aqui hoje, caso não tenha nenhum problema.

— É claro que não tem. Este trabalho é bastante descontraído. Além disso, quem não ficaria feliz em ter clientes que se parecem com ela por perto? — Seu chefe riu. Era mesmo atraente e requintado. Com seu cardigã fino, calças justas e cabelo índigo escuro caindo sobre os ombros em um rabo de cavalo solto, eram a representação perfeita de uma “irmã mais velha”.

Estava sentado na frente de Naoya e Koyuki, apresentando-se com um sorriso.

— Meu nome é Kirihiko Akaneya. Fico feliz por ter vindo hoje!

— O-Obrigada — respondeu Koyuki, sem jeito.

Naoya colocou um biscoito na boca e deu de ombros.

— Viu só? Não tem nada rolando entre eu e Kirihiko, Shirogane.

— Aham. Apesar da minha aparência, gosto de meninas — comentou Kirihiko, completamente surpreso enquanto eles bebiam chá.

Kirihiko nasceu homem. Embora Naoya não estivesse totalmente claro sobre o gênero que se identificava, sempre foi uma boa pessoa para com ele, e Naoya não se importava com muito mais do que isso.

— Não vou chegar perto dele, Koyuki. Não precisa se preocupar. Eu gosto de manter este lugar agradável e limpo, afinal. — Kirihiko assegurou Koyuki.

— E-Eu não estava preocupada com nada. Não faça suposições tão ousadas, por favor — resmungou Koyuki, desviando os olhos. — V-Você realmente não gosta dele?

— Nem — respondeu ele. — Somos parentes distantes, e eu o conheço desde que estava na escola primária. É como se fosse meu irmão caçula.

Koyuki ficou visivelmente aliviada com a resposta de Kirihiko. Seus lábios cresceram em um sorriso travesso antes de dizer:

— Não há nada para se preocupar, Koyuki. Não vou roubar seu namorado.

— N-Namorado?! — Koyuki instantaneamente ficou rígida, sua xícara de chá chacoalhando em suas mãos.

Kirihiko virou-se para Naoya e continuou:

— Mas me conta, então, como conseguiu encontrar uma gatinha como ela?

— Eu já não contei? Ela estava sendo assediada por um cara na frente da loja, e eu a ajudei.

— Ooh, que belo começo! — cantarolou. — É como algo saído de uma comédia romântica. Então, há quanto tempo vocês dois estão saindo? Chuto que seja um mês, pelo jeito ingênuo que ainda têm.

— Não estamos namorando! — Koyuki quase gritou.

Os olhos de Kirihiko se arregalaram, então perguntou:

— Não estão? Estão de brincadeira, não é?

— Bem, não estamos saindo ainda, para ser honesto — respondeu Naoya.

— “Ainda”, hein? Gostei. Passa uma sensação de juventude! — exlamou Kirihiko com um sorriso de aprovação.

O rosto de Koyuki rapidamente ficou vermelho e ela começou a murmurar para si mesma. Talvez fosse porque estava na casa de um estranho, mas sua língua não parecia estar tão afiada hoje. Em vez disso, optou por apenas encarar Naoya por trás de sua xícara.

— Sasahara, você não deveria estar no balcão? Tipo, trabalhando? — comentou ela.

— Nah, tá tranquilo. Ninguém vem aqui mesmo — respondeu ele casualmente.

— Exato — adicionou Kirihiko. — Às vezes, Yui e Tatsumi visitam, e todos nós ficamos juntos, bebemos chá e jogamos… mas é só isso.

Embora Yui e Tatsumi não fossem funcionários da loja como Naoya era, vinham visitar e passavam o dia uma vez por mês mais ou menos. Assim como Naoya, o casal conhecia Kirihiko há muito tempo, então a livraria era como um clube para eles.

Enquanto Koyuki os ouvia, seus olhos endureceram. Ela se virou para Naoya e perguntou:

— Sasahara, posso te perguntar uma coisa?

— O quê?

— Acho importante trabalhar para viver, mas pelo que acabei de ouvir, parece que este é apenas um lugar para você e seus amigos vadiar e não fazerem nada. Pelo que me parece, só estão tirando proveito da gentileza de seu pobre chefe.

— Eita, eu não esperava por essa! — gritou Naoya. Ela tinha razão, no entanto, então ele se esforçou para lhe explicar a situação. — Bem, eu acho que você poderia dizer que eu sou como uma empregada doméstica?

— O quê? — respondeu ela, estupefata.

— Pois é. Kirihiko é, na realidade, um escritor; este é o principal trabalho dele. Mas, devido a isso, não tem nenhuma habilidade para passar o dia a dia.

— Verdade, mesmo. Nem sei cozinhar… Sempre queimo tudo até que pareça um pedaço de carvão — comentou Kirihiko casualmente. E não se limitava apenas a cozinhar, pois sequer era capaz de lavar a louça ou as roupas. Ao contrário de sua aparência polida e empertigada, era praticamente um monte desleixado. As aparências podem, de fato, enganar.

— Por este motivo, o que eu acabo fazendo aqui é o trabalho doméstico. Na realidade, administrar a loja vem depois disso — resumiu Naoya.

— Oh… Me desculpe por ter a ideia errada novamente.

— Sem problemas. É de se respeitar por ter se preocupado com algo assim, para ser honesto — respondeu Naoya com um sorriso. Admitir que estava errado não era tarefa fácil, por isso estava satisfeito que Koyuki estivesse confortável o suficiente para expressar seus sentimentos honestos e então admitir seu erro.

— Ah, qual é, minha gente, relaxem um pouco. Estão me fazendo sentir falta da minha juventude. — Suspirou Kirihiro taciturnamente.

Koyuki, como se de repente se lembrasse de sua presença, ficou envergonhada.  — V-Você disse que tem outro emprego. Tem certeza de que não vou atrapalhar aqui?

— Sou muito bom nisso. Meu prazo era ontem — respondeu Kirihiro, afastando as preocupações de Koyuki com um aceno de mão.

Até muito recentemente, a casa de Kirihiko parecia um local de bombardeio. Sempre que Naoya o visitava, encontrava o autor colado ao computador, suado e com a barba por fazer. Devia ter se vestido direito ao saber que eu estava trazendo uma garota, Naoya pensou consigo mesmo.

Kirihiko, ao se inclinar sobre a mesa e pegar a mão de Koyuki, não notou o olhar de Naoya.

— Então eu tenho todo o tempo do mundo hoje! Podemos fofocar, fofocar e fofocar um pouco mais, Koyuki!

— A-Acho que podemos, sim. — Koyuki assentiu com a cabeça, desconfortavelmente. Ela era uma garota tímida quase sempre, e Naoya poderia facilmente ver que ela nunca esteve perto de uma pessoa como Kirihiko antes. Sentindo que ela estava chegando ao seu limite, ele deu uma mão no sentido figurado.

— Sabe, Kirihiko, na verdade, trouxe Shirogane aqui por um motivo — informou ele.

— Sério? Não está aqui só para exibir sua nova namorada, entendo.

— Uh, eu não sou namorada dele. — protestou Koyuki.

— Não está errado, mas… — Naoya parou enquanto vasculhava sua mochila em busca de algo. Ele então encontrou o que procurava, o primeiro volume de Até o Fim do Mundo, e o pegou. — Shirogane adorou o primeiro volume e parece que quer ler o segundo agora.

Kirihiko não respondeu. Em vez disso, seu rosto endureceu em uma expressão séria.

O silêncio repentino pareceu deixar Koyuki desconfortável, já que ela rapidamente gaguejou:

— E-Está tudo bem. Eu posso ler outra hor…

Kirihiko silenciosamente se levantou, interrompendo a tentativa de Koyuki de preencher o silêncio na sala. Ele foi em direção à porta e, de repente, virou-se para os dois pombinhos para mostrar um sinal de positivo.

— Darei uma saída rápida! Certifique-se de ler um pouco, Koyuki. Você vai fazer o trabalho doméstico, certo, Naoya?

— Vou, sim. Cuide-se — disse Naoya enquanto observava Kirihiko sair da loja de maneira dramática.

Assim que saiu, Koyuki começou a entrar em pânico.

— Ah, não! Não era minha intenção fazê-lo ir embora!

— Está tudo bem, ele precisa sair mais de casa, mesmo. — Naoya assegurou-a e sorriu para si mesmo. Seu plano para fazer Kirihiko sair havia funcionado. — Se o deixar sozinho, ele não vai sair de casa durante um mês. É capaz de nem saber que estação é depois de um tempo.

— Então ele é um eremita…

— Bastante. Estou aqui para impedi-lo de ser completamente sugado por esse estilo de vida.

— Você parece uma mãe, de certa forma — comentou Koyuki. Ela ponderou sobre o que havia dito por um momento antes que percebesse a oportunidade que acabara de ganhar. Ao pegar o segundo volume de Até o Fim do Mundo da mochila, ela perguntou:  — Então posso começar a ler agora? Para ser honesta, parei numa parte muito boa…

— Claro. Ficarei no balcão. Se precisar de alguma coisa, só chamar.

— Entendido. Obrigada. — Koyuki assentiu e abriu o livro. Ao contrário de como ela normalmente era, estava sendo muito aberta com seus sentimentos e desejos durante aquele dia.

Eu adoro quando fica toda envergonhada e tal, mas caramba… seus níveis de fofura sobem de nível quando está apenas sendo ela mesma, admirou. Virou-se para a cozinha com um sorriso idiota estampado em seu rosto. Estava prestes a colocar a mão na porta de correr quando chegou a uma percepção profunda e congelou no lugar — Kirihiko morava sozinho e não possuía nenhum animal de estimação. Eu e Shirogane estamos sozinhos nesta casa…

 

 

 

Era só ele e ela, a garota de quem gostava, sob o mesmo teto. E com esse reconhecimento veio a consciência incrivelmente consciente da presença de Koyuki, o som de sua respiração, o folhear de páginas em seu livro. Esses ruídos sutis de repente se tornaram tão altos quanto uma sala de bingo no silêncio da casa vazia.

Autocontrole, Naoya, autocontrole. Ela está lendo agora. Não a incomode, Naoya se repreendeu mentalmente, surpreso por seus próprios desejos carnais. Ele fechou a porta de correr atrás dele e se deu um leve tapa na bochecha.

— Tudo bem, é hora de trabalhar.

Como Naoya havia explicado a Koyuki anteriormente, seu trabalho era cuidar das tarefas de Kirihiko. Cuidar da limpeza e da lavanderia era óbvio, mas seu trabalho também incluía cozinhar. Ele normalmente passava de duas a três vezes por semana e cozinhava uma série de refeições fáceis que Kirihiko poderia comer enquanto ele estava fora.

Colocou um avental e pôs a mão na massa. O lugar de Kirihiko era a típica casa antiga, a única diferença era que a cozinha havia sido reformada e ostentava um estilo integrado limpo e moderno.

Para começar, juntou os pratos que Kirihiko deixou acumular. Então fez um balanço dos temperos e ingredientes na cozinha. Isso lhe permitiu compilar mentalmente um pequeno menu das refeições que faria.

— Hmm… Eu posso fazer raízes de bardana assadas com cenoura e depois komatsuna, espinafre com mostarda, guisado… Talvez um pouco de rabanete daikon fatiado depois disso. Estamos quase sem molho de soja, então vou pedir para Kirihiko comprar um pouco para mim. — Naoya observou em voz alta. Com isso, ele logo preparou todos os vegetais e mandou uma mensagem para Kirihiko.

Quase que de imediato, recebeu uma resposta. “Entendido, chefe ☆” era o que dizia a mensagem. O ícone de Kirihiko era um prato de panqueca rechonchudo, que sempre dava a Naoya a vaga sensação de que ele estava falando com uma adolescente.

Naoya estava prestes a recomeçar a cozinhar quando recebeu outra mensagem. “Fui todo corajoso e deixei minha humilde morada hoje, então me faça um favor… não vá se sujar na minha casa, beleza?”

“Como se esse fosse o nosso plano!” respondeu Naoya rapidamente. Com sua mensagem de negação enviada, ele se agachou na cozinha, com a cabeça entre as mãos. Ele era apenas um garoto normal do ensino médio. Embora tivesse passado muito tempo com Koyuki recentemente, esta era a primeira vez que estavam sozinhos em um espaço fechado. Era apenas óbvio que ele estaria excessivamente consciente disso.

— Isso mesmo, essa mesma situação surgiu em uma comédia romântica que li recentemente. O que o protagonista fez? — Naoya pensou em voz alta para si mesmo enquanto forçava seu cérebro paralisado a entrar em ação.

Tentou ao máximo se lembrar da trama. Encontrou o protagonista sozinho em uma casa com a heroína. O que aconteceu então? Ah, isso mesmo, a heroína abraçou o protagonista e declarou suavemente: “Você pode fazer o que quiser comigo…”

— É cedo demais para isso! — gritou Naoya, balançando a cabeça em uma tentativa de limpar sua mente. Para piorar as coisas, a voz da heroína foi perfeitamente substituída na mente de Naoya pela de Koyuki. Ele não era especificamente contra qualquer coisa física que acontecesse, mas sabia que sua mente e seu corpo não aguentariam. Naoya balançou a cabeça mais uma vez para afastar seus pensamentos impuros. — Controle-se, Naoya. Ela nem é esse tipo de garota.

De jeito nenhum ela iria confessar seus sentimentos agora, muito menos se jogar nele. Embora ele estivesse ligeiramente decepcionado ao pensar nisso, decidiu deixar tudo de lado por enquanto. Era melhor ocupar sua mente com trabalho, tanto para sua segurança quanto para a dela.

Ele estava prestes a começar o primeiro prato quando foi interrompido por uma pequena voz chamando logo atrás.

— Sasahara?

— Wagh! — Naoya praticamente pulou com um grito estranho e abafado. Ao se virar para encará-la, ele se pegou pensando: Não tem como… Ela realmente não vai fazer isso

Koyuki estava lá, igual como sempre foi. Seus olhos brilhavam de curiosidade enquanto olhava para os legumes no balcão.

— S-Shirogane? Você precisa de algo? — ele falou de modo abafado.

— Nada em particular. Estou na metade do livro, então estou apenas fazendo uma pausa — respondeu ela calmamente. Apontou para os legumes e perguntou:  — Além disso, você está fazendo alguma coisa? Sabe cozinhar?

— Bem, o básico, eu acho…

— Uou! Isso é incrível.

— Nem é nada impressionante — respondeu Naoya com um sorriso desajeitado em seu elogio.

Ela realmente estava lá apenas para fazer uma pausa. Sua excitação pura e inocente, especialmente quando comparada aos pensamentos licenciosos atuais de Naoya, o apunhalou no coração como uma faca.

— Acho que já mencionei isso antes, mas meus pais estão no exterior. Estou morando sozinho agora, então eu meio que preciso ser capaz de me virar, sabe — explicou ele. Antes de sua mãe partir, ela lhe ensinou o básico da culinária. Ele também conseguiu trabalhar muito mais sozinho por tentativa e erro. Embora de vez em quando comprasse refeições prontas, costumava cozinhar o jantar para si mesmo e comia as sobras no almoço.

Koyuki pareceu muito surpresa com essa informação.

— Então, o que come no almoço é sua própria comida caseira?!

— Pois é. Mas não sou bom nisso. Tipo, eu ia fazer algo bem simples com esses vegetais aqui… — Ele vacilou.

— Isso é muito impressionante. Você está fazendo aquela coisa que os protagonistas fazem onde eles são super modestos o tempo todo?

— Aprendeu isso com a Sakuya, não foi?

— É óbvio.

— Imaginei que fosse o caso. — Naoya se perguntou como eram as conversas que aconteciam naquela casa.

Um curto silêncio ocorreu, durante o qual Koyuki continuou a observar o local de maneira distraída. No fim, apontou para os vegetais e perguntou:

— Ei, posso ajudar?

— Nah. Está tudo bem, valeu. Você é praticamente um cliente aqui, de certa forma.

Koyuki bufou levemente e sorriu.

— Sasahara, já que estou bem ciente do quanto você é cabeça de vento, estou apenas me certificando de que está fazendo seu trabalho corretamente. Deveria ser grato.

— Você só está tentando fazer parecer que sabe cozinhar porque acha que é isso que as mulheres devem ser capazes de fazer, certo? — perguntou Naoya incisivamente.

— Uh, não. Eu nunca disse isso, disse? E por que exatamente eu me importaria em me exibir para você? — declarou Koyuki em voz alta antes de recuar. — Na verdade, quando foi que eu disse que era ruim na cozinha? Como sabe disso…?

— Tipo, eu posso perceber só de olhar para você — respondeu ele. Seu desconforto óbvio perto de facas já deixava bem claro.

Ainda assim, o que devo fazer? Estou feliz que ela queira ajudar, mas tê-la tão perto de mim não é bom para o meu coração agora, Naoya ponderou consigo mesmo.

Koyuki juntou os dedos e sussurrou tristemente:

— Eu não sou boa em cozinhar, mas se eu ver que estou atrapalhando, vou embora.

— Não — afirmou Naoya. Sua resposta imediata e curta fez o rosto de Koyuki se iluminar. Como ele poderia negá-la quando agia assim? Ele lhe entregou um punhado de cenouras e um descascador. — Seria ótimo se pudesse descascar isso aqui para mim. Acha que dá conta?

— S-Sim. Não me dou bem com facas, mas já fiz isso antes — respondeu Koyuki com um aceno de cabeça resoluto, então ficou ao lado de Naoya. Ela era um pouco desajeitada, mas trabalhava diligentemente.

Enquanto Naoya a observava, ele se pegou pensando: É meio estranho que ela não esteja mais nervosa agora. Quer dizer, não que algo vá acontecer, mas ainda assim…

De repente, ele alcançou outra epifania.

— Ela ainda não notou. — Deixou escapar em voz alta.

— Disse alguma coisa?

— Nadinha. Cuidado com as mãos, a propósito — instruiu ele com um sorriso brilhante. Beleza. Agora só preciso deixar assim. Tudo ficaria bem, contanto que ele fosse o único surtando. Sabia que não faria nada, mas também não queria que ela tirasse conclusões precipitadas.

— Aliás, Sasahara, há algo que eu quero perguntar — disse ela.

— Sim, uh, qual é o problema?

— Por que está agindo tão estranho? — Koyuki observou com uma expressão confusa. — Enfim… Você preferia uma garota que soubesse cozinhar, não é mesmo?

— Hã? — Naoya deixou escapar. A pergunta o pegou completamente desprevenido. Ainda assim, logo percebeu o curso de ação correto e o tomou. — Bem, não ligo se é boa ou ruim em cozinhar… Ainda gosto de você.

— Eu não estava falando sobre mim. Era uma pergunta hipotética! — gritou ela antes de logo voltar a si de novo. — Ainda assim, caras gostam de garotas que fazem almoços caseiros e outras coisas, não é?

— Bem, sim, parece ser algo bacana — admitiu. Uma garota bonita entregando timidamente um almoço caseiro era o sonho de todo jovem. — Mas todo mundo tem seus pontos fortes e fracos, por isso eu não me preocuparia muito com isso. Você tem muitas outras qualidade, afinal.

— De volta às frases vergonha alheia com um rosto completamente sério, pelo que vejo. E não fique com a ideia errada, não suporto quando as pessoas dão respostas vazias como essa. Mas enfim, quer almoços caseiros, né? Interessante — altercou ela com seu vigor de sempre até ficar em silêncio. Depois de alguns segundos, sorriu como se tivesse decidido alguma coisa. — Certo. Eu vou estudar culinária e farei um almoço incrível para você um dia. Mas vai ser só para exibir minhas incríveis habilidades, entendeu?

— Parece ótimo. Fico no aguardo.

— Certo. Se quer tanto assim, vou fazer com que implore de joelhos. Pode ser até que tenha que lamber meus pés.

— Posso mesmo fazer isso? — perguntou ele.

— Hmm, não. — Seu sorriso destemido desapareceu.

O cérebro de Naoya estava acelerado. Pensamentos impróprios corriam de um lado para o outro em sua cabeça, então ele decidiu se refugiar no trabalho repetitivo de cortar legumes. Depois de um momento, sorriu e falou:

— Se quer aprender a cozinhar, posso te ensinar. Você poderia vir aqui e me ajudar sempre que eu cozinhar para Kirihiko.

— Isso não soa tão ruim, mas não vou atrapalhar?

— Nah. Kirihiko ficou feliz em tê-la aqui, certo? Além disso, ele mora sozinho, por isso gosta quando a casa está um pouco ocupada.

— Ah, tudo bem então. Talvez da próxima vez, eu trago alg… — Koyuki parou no meio da frase, congelando enquanto descascava os vegetais. Naoya deu a ela um olhar interrogativo. — Você acabou de dizer que ele mora sozinho, certo?

— Hm, sim.

— Isso quer dizer que agora… — Ela parou, seu rosto ficando com um tom brilhante de vermelho. Quando enfim atingiu a cor de um polvo cozido, continuou sua frase: — Estamos sozinhos nesta casa.

— Parece ser o caso, sim.

Ela finalmente percebeu. Seus ombros tremeram por um momento antes que ela corresse para a parede mais distante, colocando a maior distância possível entre ela e Naoya.

Obviamente, os sentimentos de Naoya foram bastante feridos por suas ações.

— Eu, hã, não vou fazer nada. Você não precisa fugir, beleza? — Ele tentou tranquilizá-la.

— M-Mas… — gaguejou ela em uma voz fina e aguda. — Sakuya me disse que todos os homens se transformam em lobos quando conseguem te pegar sozinha!

— Que preconceito é esse?!

— Quer dizer que é tudo mentira? — perguntou ela, aparentemente aliviada com sua negação das palavras de Sakuya. — Então você não quer fazer nada lascivo agora? É bom ouvir isso.

— Uh, bem, digo… Sabe como é… Sim, não quero. Nadinha.

— Você não soa muito confiante! — gritou ela.

Ele não queria mentir para ela; se tivesse dito que não havia desejo carnal em seu coração, então isso certamente seria uma mentira. Infelizmente, não tinha coragem viril para ser honesto com ela neste momento. Mas como dava para ver, seus olhos o entregaram mesmo assim.

— Eu sabia! Você quer fazer todas as coisas que Sakuya me mostrou naqueles livros!

— Por favor, tudo isso é apenas um grande mal-entendido! E que tipo de livros Sakuya está te mostrando, afinal?!

— Pare de tentar me fazer dizer coisas obscenas, seu pervertido!

— Eu não se… Parece que você é mais especialista neste campo do que eu! — Sério, que tipo de conversas essas irmãs estavam tendo em casa? Naoya fez uma pausa, sabendo que não faria nenhum progresso assim. Respirou fundo e continuou:  — Ouça, vamos nos acalmar. Eu não planejo fazer nada ass…

Uma dor aguda de repente percorreu seu dedo. Ele olhou para baixo e viu um fio de sangue vazando de um corte. Devia ter deixado a faca cair durante a comoção.

— Ai…

— Minha nossa, está tudo bem?! — gritou ela. Embora estivesse encolhida em um canto a um momento atrás, imediatamente correu até ele e olhou para seu dedo. — Ah não, ah não, ah não! O que devemos fazer?! Isso é minha culpa?!

— Não, está tudo bem. Não se preocupe. Não é nada sério. — Ele simplesmente precisava colocá-lo sob a torneira por um tempo, atar um curativo e pronto.

Quando estava prestes a fazer isso, Koyuki agarrou seu dedo e o enfiou na boca. Ela o chupou, olhando para ele com olhos de cachorrinho, e perguntou:

— Voxe estcha ben?

Ele ficou sem palavras. Finalmente, mal conseguiu se conter o suficiente para balbuciar:

— V-Você é mesmo mais obscena do que eu… — Ainda assim, seu dedo não doía mais.

 

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Uma hora se passou desde então.

— Estou de vooooolta! — gritou uma voz masculina.

— Oi. Bem-vindo de volta.

— Que climão todo é esse? Aconteceu alguma coisa? — perguntou Kirihiko.

Algo deve tê-lo alertado, talvez fosse o fato de que Naoya e Koyuki estavam sentados silenciosamente em lados opostos da sala, de costas um para o outro com expressões vermelhas correspondentes. O rosto de Kirihiko ficou vago por um momento, então um sorriso provocante surgiu em sua feição.

— Naoya, pensei ter dito que relações ilícitas estavam proibidas nesta casa.

Eu não fiz nada — protestou Naoya.

— Hmm, entendo.

— Por que eu fiz aquilo? — resmungou Koyuki para si mesma. Ela estava sofrendo de uma crise severa de desgosto consigo mesma.

Kirihiko assentiu em compreensão.

— Entendo. Deve ter sido uma daquelas situações malucas em que um de vocês acidentalmente apalpou o outro, certo?

— Qual é, Kirihiko. Cuida como fala — advertiu Naoya.

— Foi mal, é mais forte que eu. Ainda assim, eu não sabia que esse tipo de coisa acontecia na vida real. — Ele estava surpreso, como se tivesse acabado de ver o Pé Grande.

A cabeça de Naoya virou em direção ao chão, o que o levou a olhar para o dedo. Estava tão quente… ele lembrou. Estava quente, e quando ela falou com o dedo na boca, ele sentiu sua língua macia. Quando pensou no momento, um torpor percorreu seu corpo, e teve que sacudir a cabeça para apagar tais lembranças de sua mente.

Kirihiko olhou para os dois e supôs que não havia mais diversão às custas deles.

— Bem, desde que seja relativamente controlado, não há mal nisso. — Ele concluiu com um aceno.

— Ah, a propósito, Koyuki, terminou o livro?

— Não, ainda estou na metade — respondeu ela.

— Oh, que pena — disse Kirihiko enquanto suas sobrancelhas caíam tristemente. — Na próxima vez que estiver aqui, adoraria ouvir o que achou, pode ser?

— Parece ótimo… Ei, espera aí. — Koyuki parou para pensar por um momento. — Você também é fã dessa série?

— Sim. Por quê?

— É ótima, não é? Esta é a primeira light novel que leio, e já estou viciada. Fran, do primeiro volume, era a minha favorita… ela é tão fofa e… — Koyuki ficou em silêncio.

Depois de um tempo, arrastou-se até a mesa de centro no meio da sala e olhou para a capa do segundo volume. Parecia que enfim havia notado. Olhou alternadamente entre o livro e Kirihiko antes de ler a capa em voz alta.

— Autor: Kirihiko Akaneya… Você escreveu isso aqui?!

— Pois é. Nunca consegui me decidir sobre um pseudônimo, por isso optei pelo nome verdadeiro — respondeu ele.

— Sasahara, você tem que me dizer essas coisas de antemão!

— Para ser sincero, queria ver quando você percebesse — respondeu Naoya com um leve sorriso. Ele não conseguia mentir; uma pequena parte do motivo para trazê-la à casa de Kirihiko era para que pudesse surpreendê-la com isso. A reação foi tão engraçada que ele não pôde deixar de rir.

— De qualquer forma, estou feliz que tenha se divertido hoje, Koyuki. Volte a qualquer momento, você é sempre bem-vinda — disse Kirihiko com um sorriso gentil. Apesar de sua expressão amigável, Naoya viu seus olhos brilhando com uma misteriosa intenção sombria.

— Você só quer nos usar para escrever uma comédia romântica, não é? — perguntou Naoya, desconfiado.

— Me pegou. Mas quem liga? Não é grande coisa, certo? — respondeu ele, tranquilo.

— Bem, a fofura de Shirogane seria apreciada por todo o país, com certeza — admitiu Naoya. — Tudo bem. Em troca, você me deixa flertar com ela o quanto eu quiser. Combinado?

— Temos um acordo — concordou Kirihiko.

— Têm nada! — gritou Koyuki enquanto dava um tapa forte no ombro de Naoya.

Devemos parecer um casal agora, Naoya pensou calmamente consigo mesmo.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Guilherme

 

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