Foi na manhã seguinte quando Naoya notou o item misterioso em sua sapateira.
— Hm? — Naoya deixou escapar, perplexo.
— O quê?! — gritou Koyuki, igualmente perplexa, mas muito mais alto.
O objeto de sua confusão era uma carta selada com um coração e endereçada a Naoya. A caligrafia no envelope era bastante rígida, mas ainda inconfundivelmente feminina. Ele abriu o envelope e encontrou uma única página com apenas algumas linhas escritas.
Para Naoya Sasahara,
Eu gosto de você há muito tempo e gostaria de ouvir sua resposta.
Estarei esperando por você no telhado depois da escola hoje.
Koyuki estava de olhos arregalados enquanto contemplava.
— Eu não sabia que as pessoas ainda faziam esse tipo de coisa, muito menos com alguém como você. Acho que é seguro assumir que, seja lá quem for, é tão perdedor quanto você. Então, está planejando ir?
— Aham, provavelmente. Afinal, ainda se deu ao trabalho de entregar esta carta — respondeu ele.
— Oh… Muito bem. — Koyuki fez beicinho e virou-se para longe de Naoya. Ela fez um péssimo trabalho em esconder seu descontentamento. — E lá estava ele falando tudo aquilo sobre gostar de mim. Hmph, acho que é esse o tipo de cara que ele é. Bem, não é como se eu me importasse, né? Não tem nada a ver comigo. Espero que essas duas aberrações tenham uma vida longa e feliz com suas aberraçõezinhas…
Os olhos de Koyuki estavam apontados firmemente para o chão, impedindo Naoya de dar uma boa olhada em seu rosto. Mas a julgar pelo tremor em sua voz, estava prestes a derramar lágrimas. Ele sabia que tinha que intervir logo, então rapidamente a tranquilizou.
— Ei, ei. Calma. Eu… vou recusá-la.
— Hmph, quer dizer que ama el… Espera, vai recusar? Por quê?!
— Não é óbvio? — disse Naoya enquanto dava de ombros. O olhar no rosto de Koyuki parecia dizer que não era nada óbvio.
Naoya colocou as mãos firmemente em seus ombros e falou, sério:
— Você é a pessoa que eu gosto. Você. Então não precisa se preocupar com outras garotas, beleza?
— Mas e se ela for fofa? E divertida? E não for um fardo que nem eu? — perguntou ela.
— Do que está falando? Você é fofa e divertida. E se realmente existisse alguém assim, eu não acho que poderia sair com ela de qualquer maneira — respondeu ele seriamente.
— Por que não?
— Porque você já é tão adorável que chega a me dar diabetes. Se realmente houvesse alguém mais fofa, é provável que eu morresse de ataque cardíaco.
— Hmph, você tem bastante lábia — Koyuki fungou. Ela jogou o cabelo para trás e fez sua melhor performance de uma expressão composta. Cutucou o nariz de Naoya e acrescentou: — Ainda assim, aprecio isso. Mas se eu ver seus olhos se desviando algum dia, pode me esquecer.
— Claro, claro. Prometo que isso não vai acontecer — disse Naoya com um aceno de cabeça para mostrar sua convicção.
Ele poderia dizer que ela acreditou nele naquele momento, e uma onda de alívio o invadiu. De certa forma, ele estava quase feliz — estava muito consciente da tempestade de emoções, tanto positivas quanto negativas, que abundavam quando se importava profundamente com alguém. Sua pequena exibição tinha acabado de lhe mostrar que ela realmente tinha esses sentimentos por ele. Eu nunca soube que o ciúme poderia ser tão fofo. Uau, ficou maravilhado consigo mesmo. Ele estava tão tonto, na verdade, que tinha esquecido totalmente que estavam bem na entrada da escola, e que sua conversa tinha atraído uma grande audiência.
— Caramba, eles já estão nessa a essas horas da manhã?
— Só não faça contato visual.
Yui e Tatsumi estavam no meio da multidão, observando de longe. Ambos estavam certos de que os pombinhos desajeitados logo seriam o assunto da escola.
Koyuki, por sua vez, também parecia alheia à atenção que estavam recebendo. Ela arrancou a carta das mãos de Naoya e a examinou cuidadosamente.
— Obviamente você vai recusá-la, mas precisa fazer isso da maneira certa. Parece que ela gosta muito de você, por isso precisa rejeitá-la com calma.
— Sim, até eu sei disso — resmungou Naoya enquanto pegava a carta e a examinava mais uma vez.
Ele sabia que devia ter sido preciso muita coragem da autora para lhe enviar, mas não conseguia se livrar da sensação de que algo não estava certo — a sensação predominante que teve com a carta foi a de desconforto.
— Sabe, eu não acho que isso seja uma carta de amor de verdade…
— Quê? Se isso não é uma carta de amor, o que mais poderia ser? — perguntou Koyuki enquanto inclinava a cabeça para o lado, confusa.
Naoya não respondeu. Em vez disso, apenas deu a ela um sorriso enigmático. De qualquer maneira, ele descobriria a verdade do assunto assim que as aulas terminassem.
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A Escola Ootsuki era uma escola bastante tranquila — havia inúmeros clubes e sociedades, e era extremamente fácil conseguir uma sala emprestada. Depois das aulas, os jardins ficavam repletos de sons joviais de alunos conversando e rindo até tarde da noite. O terraço da escola, com sua ampla vista da cidade cênica, era um local até que popular. Foi por isso que Naoya ficou bastante surpreso quando abriu a porta do terraço e encontrou apenas um aluno lá.
— Ei. Foi você quem enviou a carta? — cumprimentou-a.
— Ah, s-sim, fui eu — gaguejou a garota enquanto fazia uma leve reverência para Naoya.
Ela era bastante pequena em estatura e parecia ser uma aluna do primeiro ano. Fora isso, Naoya não conseguiu distinguir muitos detalhes — estava usando uma grande parka sobre o uniforme, cujo capuz estava puxado para baixo para esconder seu rosto. Ele também não reconheceu a voz dela. Teve a sensação de que poderia ter passado por ela nos corredores em algum momento, mas esta era definitivamente a primeira vez que se encontravam adequadamente.
— O-Obrigada por vir. Há, hm, algo que eu quero te perguntar… — gaguejou a garota e cruzou os braços desajeitadamente sobre o peito enquanto falava. Ela era sinônimo de nervosismo. A maioria se sentiria compelida a interromper, mas Naoya esperou pacientemente que ela continuasse. Depois de um longo momento, ela conseguiu convocar sua coragem. — Eu gosto de você! Gosto desde a primeira vez que te vi. Se estiver tudo bem por você… sairia comigo?!
— Obrigado, mas não posso. Já existe outra pessoa que eu gosto — explicou Naoya com um sorriso gentil e um aceno de cabeça.
— Não pode ser! Que tipo de pessoa é?! Tenho certeza que se eu realmente tentasse, poderia ser melhor do que ela, então…!
— Sinto muito, mas não há nada que você possa fazer — interrompeu Naoya. A voz da garota soou incrivelmente dolorosa por sua resposta, mas algo estava estranho. Naoya rejeitou várias garotas no passado, e sabia que era sempre uma experiência dolorosa para ambas as partes. Desta vez, no entanto, ele não sentiu nada remotamente parecido com isso, apesar do que ela estava dizendo. — Você não gosta de mim de verdade, não é? — Quê? gaguejou ela.
— Você não gosta de mim. Na verdade, diria que me odiar estaria mais perto da realidade. Certo? — perguntou ele.
A garota remexia as mãos enquanto permanecia em silêncio. Eles permaneceram assim por um tempo, com as vozes jubilosas de outros alunos nos campos abaixo subindo para preencher o silêncio. Uma rajada fria soprou pelo telhado.
Finalmente, as mãos da garota caíram para os lados.
— Como descobriu? — perguntou ela em um tom monótono. A garota apaixonada que estava ali momentos antes havia desaparecido por completo.
No entanto, Naoya não ficou tão surpreso.
— Hmm, eu acho que foi a caligrafia que a entregou — respondeu ele. A maioria das pessoas ficaria surpresa com o quanto você pode ver a partir da caligrafia de alguém… como o tipo de pessoa que escreveu o texto ou em que tipo de estado mental ela estava. E quanto à carta que recebeu, tudo o que Naoya conseguiu deduzir da caligrafia foi hostilidade clara. — E agora que te encontrei, ficou óbvio que, na realidade, você não gosta de mim, só estava me testando.
— Correto. — A garota assentiu com calma e levou uma mão ao queixo. — Você percebeu minha artimanha e lidou com uma carta de amor repentina de maneira rápida e bonita. Passou no teste.
— Ah, sim, queria te perguntar uma coisa — acrescentou Naoya.
— O que foi?
— Você não seria a irm—
Naquele momento, a porta do terraço se abriu e uma voz alta soou:
— Sakuya?! — Koyuki correu em direção a eles, olhos ansiosos enquanto encarava a garota de pé na frente de Naoya.
Naoya sorriu para ela.
— Ah, eu sabia que você não poderia resistir em vir ver quem era. Eu respondi “não”, como disse que faria.
— Quê?! Só vim para ter certeza que não estava prestes a aborrecer uma aluna do primeiro ano! Mais importante-! — Ela se interrompeu para apontar para a garota. — Sakuya era o remetente misterioso?!
— Exatamente — declarou a garota com clareza enquanto removia o capuz.
— Eu sabia. Você é a irmã caçula de Shirogane. É muito bonita, assim como sua irmã mais velha — acrescentou Naoya.
— Vivem me falando isso — respondeu Sakuya com um tom desinteressado. Ela tinha um rosto inexpressivo e uma voz que combinava.
Naoya tinha ouvido de Koyuki que ela tinha uma irmã caçula e que elas eram e soavam parecidas. Foi por isso que Naoya não estava tão surpreso quanto Koyuki parecia estar.
— Prazer em conhecê-lo, Sasahara. Meu nome é Sakuya Shirogane, irmã caçula de Koyuki Shirogane — Ela cumprimentou Naoya.
— Prazer em conhecê-la. Mas voltemos ao nosso tópico anterior — disse Naoya. Ele estava curioso sobre o que ela quis dizer quando disse que havia passado em algum tipo de teste.
Infelizmente, ele foi interrompido por Koyuki.
— Ah, não, não precisa! — gritou ela enquanto agarrava o braço de Naoya e o puxava para mais perto, o que o fez perceber muito bem que estava pressionado contra seu peito. — Você realmente precisa checar seu gosto por homens, Sakuya — Ela se dirigiu a sua irmã mais nova. — Se você se apaixonar por um idiota assustador como este cara aqui, não vai acabar bem para você. Sério, eu sugiro que reconsidere.
— Que tipo de cara pensa que eu sou? — protestou Naoya.
Como Koyuki tinha acabado de chegar, não tinha ouvido o que Naoya e Sakuya estavam falando. Ele podia dizer que o aviso dela era meio por ciúme e meio por preocupação genuína por sua irmã. Droga, eu queria pelo menos setenta por cento fosse de ciúmes, Naoya reclamou para si mesmo.
Sakuya balançou a cabeça e assegurou a irmã.
— Não se preocupe. Eu não tenho nenhum sentimento amoroso por ele. Nem sei que tipo de pessoa ele é, na verdade.
— Quê?! Então, qual foi a dessa carta? — perguntou Koyuki.
— É simples — declarou Sakuya enquanto olhava fixamente para Naoya. Mesmo através de seus óculos, Naoya podia sentir que seus olhos estavam fixos diretamente nele. Eles eram como um oceano calmo. Ainda assim, também notou uma aguda cautela à espreita sob a superfície. — Eu só queria ver como era o cara que conquistou seu coração, isso é tudo. Peço desculpas por ter feito isso de maneira tão furtiva.
— Está tudo bem. Aquela carta deixou claro que você não estava sendo nem um pouco “furtiva” — respondeu Naoya.
— Oh, entendo por… não, espere um segundo! — gritou Koyuki. Ela limpou a garganta e então continuou em um tom altivo: — Você parece estar entendendo mal a situação, Sakuya. Sasahara nada mais é do que um amigo. Não há como eu me apaixonar por ele.
— Quê? Mas você fala comigo e com Moela sobre ele o tempo todo lá em casa — disse Sakuya em um tom confuso.
— Moela não era o seu gato? — acrescentou Naoya.
— Sim. Koyuki não para de pegar nosso gato e conversar com ele. Ela fala sobre como você elogiou o cabelo dela, como parece arrojado de lado e coisas assim. O gato não parece gostar disso, pelo que me parece — explicou Sakuya.
— O que quer dizer com isso? Moela adora ouvir sobre isso! — gritou Koyuki, seu rosto rapidamente ficando vermelho.
Talvez ela tivesse baixado a guarda porque sua irmã estava lá, mas normalmente não deixaria essa informação escapar. Com base em sua expressão, Naoya poderia dizer que sua irmã caçula estava dizendo a verdade: ela realmente falou sobre ele para o seu gato. Ele estava extremamente interessado nos detalhes suculentos, mas percebeu que outra linha de questionamento era mais apropriada agora.
— Por isso quis descobrir mais sobre o cara que sua irmã estava falando, mas seja honesta… Como estou indo até agora? — perguntou a Sakuya.
— Pode-se dizer que passou. Por enquanto — respondeu Sakuya secamente. — Você ganha pontos por ignorar uma aluna do primeiro ano e manter o foco na heroína principal. A maioria dos protagonistas das comédias românticas não consegue chegar tão longe. Muito bem.
— Vou aceitar isso como um elogio, embora soe como uma review da Amazine de alguma light novel…
— Então, Sasahara, o que acha da minha irmã? — perguntou Sakuya.
— Uh, ela é fofa, e é divertida de se ver, e, uh… — Ele se esforçava para pensar.
— Sim, ela é muito fofa, não é? Podemos concordar com isso — acrescentou Sakuya.
— S-Sério? Haha, parece que vocês têm bom gosto, mesmo. Haha — Koyuki se intrometeu, estufando o peito com falso orgulho.
Sakuya apenas deu um olhar de soslaio antes de continuar: — Se você pode ver o quão fofa ela é, então também deve ser capaz de dizer que ela é bem… simples.
— Pois é… — concordou Naoya.
— Ei! — exclamou Koyuki, mostrando os dentes como um tigre furioso.
Naoya se virou para ela e sorriu se desculpando. — Desculpe, desculpe, talvez seja exagero. Você é meio pura, sabe? Leva tudo ao pé da letra e se preocupa muito com os sentimentos dos outros. Não estou dizendo que isso é uma coisa ruim, no entanto.
— Eu acho que não… Bem, não posso dizer que nunca faço coisas assim — admitiu Koyuki, parecendo um tanto descontente ao concordar.
Sakuya olhou para sua irmã, suspirou e se virou para Naoya. — Todo mundo pensa que minha irmã é alguém de língua afiada e gelo nas veias. Mas eu sabia que chegaria o dia em que um homem malicioso perceberia que ela é, na realidade, uma garota doce e pura e tiraria vantagem dela.
— Você tem um jeito engraçado de mostrar isso, mas acho que realmente se importa com ela. — Naoya concluiu. Claramente, Sakuya estava preocupada com o bem-estar de sua irmã.
Koyuki ainda estava de mau humor, mas nem Sakuya nem Naoya lhe deram muita atenção.
— Então você acabou de dizer que eu passei “por enquanto” — acrescentou Naoya. — Isso significa que ainda não confia em mim.
Sakuya assentiu com convicção e respondeu:
— Exatamente. — Atrás de sua expressão quieta, ele notou uma chama bruxuleando em seus olhos. — Minha irmã gosta de você, mas e você? Se planeja brincar com os sentimentos dela e depois deixá-la de lado em um piscar de olhos, farei tudo que me é possível para removê-lo de nossas vidas na mesma hora.
— Sakuya! Você não pode dizer uma coisa dessas! — gritou Koyuki.
Sakuya continuou a encarar Naoya. Ela realmente se importa com Shirogane, ele reconheceu. Fazia sentido, de fato; Naoya ainda não conhecia Koyuki há um mês. Sakuya queria saber se seus sentimentos eram verdadeiros — ele abandonaria o navio quando colocado sob pressão? Naturalmente, não tinha intenção de fazê-lo. Tudo o que restava era garantir que sua irmã também soubesse disso.
Naoya encarou Sakuya e declarou com uma expressão séria:
— Entendo onde quer chegar, Sakuya, por isso tenho algo importante a dizer.
— O quê, exatamente?
— Eu gosto de Shirogane! — declarou ele, em voz alta.
A voz de Koyuki ficou presa em sua garganta, produzindo uma espécie de grito bizarro e estrangulado, e os olhos de Sakuya se arregalaram. Naoya percebeu que essas duas irmãs, aparentemente, eram muito expressivas com os olhos.
Naoya continuou:
— Eu gosto dela por completo. Gosto quando ela esconde seus sentimentos e quando pensa demais nas coisas. Gosto de todas suas imperfeições.
Quanto mais falava, mais certeza tinha: ele realmente gostava dela. Já sabia disso há alguns dias, mas agora tinha certeza de que esse sentimento não mudaria. Ele olhou nos olhos de Sakuya e declarou:
— Então, independentemente do que você pensa, e não importa o quanto tente impedir, não vou desistir de Shirogane.
— Hm. Muito bem, então. — A resposta de Sakuya foi monótona, como já esperado dela. Sua expressão facial não havia mudado, mas Naoya tinha certeza de que algo em seus olhos havia mudado. Ela pensou por um tempo, então continuou: — Tudo bem, vou te dar uma chance.
— Uma chance?
— Uma chance de me mostrar que sua determinação é genuína — anunciou ela, empurrando seu dedo indicador para Naoya como uma lança levantada para declarar guerra. — Você vai levar minha irmã para um encontro. Se eu achar que combinam um com o outro, reconhecerei seu relacionamento.
— Um encontro?! — gritou Koyuki, de novo.
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Era domingo e não havia uma nuvem sequer no céu. Naoya estava esperando do lado de fora de um shopping local, distraidamente aproveitando o clima agradável.
— Cheguei. — Uma voz atrás dele anunciou, tirando-o de seu devaneio.
— Agh! — berrou ele. Virou-se e viu Sakuya lá, parada. — Ah, é só você, Sakuya. Quase me matou de susto. Não faça mais isso, por favor.
— Sinto muito. Adquiri o hábito de andar silenciosamente — informou ela.
— Você não é algum tipo de criança-soldado ou assassina mortal, é? Não importa, por que está usando seu uniforme em um domingo?
— Porque estou atuando como juíza hoje — respondeu Sakuya com uma pitada de orgulho em sua voz. Ela estava usando uma parka sobre o uniforme, assim como no outro dia na escola, e estava examinando Naoya minuciosamente por trás de seus óculos brilhantes. — Suas roupas lhe dão um ar de confiabilidade e limpeza. Isso, e você chegou cedo. Ganhou pontos extras.
— Suas palavras me honram muito. Mas de qualquer forma, onde está Koyuki?
— Aqui, mas está com muito medo de aparecer. Ela provavelmente vai esperar até o último momento.
— Imaginei que fosse esse o caso.
Naoya entrou e procurou pelo shopping. Era equipado com um cinema, um centro de jogos e uma infinidade de lojas. Não só era o lugar perfeito para um passeio em família, mas também era um ponto de encontro famoso e que fazia jus.
Naoya viu uma figura familiar sentada em um banco no meio da grande multidão de alunos e famílias. Ao ter certeza de que era ela, aproximou-se com cautela. Podia ver com facilidade de onde estava que ela murmurava de maneira frenética.
— Minhanossaminhanossaminhanossaminhanossa, um encontro?! O que eu faço?! Não estou tão pronta assim para is…
— Bom dia, Shirogane — chamou Naoya em uma voz amigável.
Com base na maneira como Koyuki pulou, foi como se ele tivesse gritado diretamente em seu ouvido. Ela logo recuperou a compostura e se levantou, tentando ao máximo parecer refinada e calma.
— Ah, olá, Sasahara. Eu não sabia que você já tinha chegado. — Ela o cumprimentou com indiferença. — Você veio bem mais cedo. Espera… não me diga que estava tão animado assim para vir a um encontro comigo. Isso é fofo… de uma forma patética. É como um cachorrinho que perde a cabeça quando seu dono volta para casa de uma viagem.
— Sim, eu estava super animado por isso. Au au. — Naoya seguiu com a brincadeira.
— Tenha alguma dignidade! — gritou Koyuki enquanto seu rosto ficava vermelho como um tomate, então começou a recuar.
Naoya colocou a mão em sua mandíbula e a examinou.
— Você realmente emite uma vibração diferente quando não está em seu uniforme, Shirogane — comentou ele.
— S-Sério? — Koyuki piscou e então se olhou desconfortavelmente.
Ela estava vestindo uma blusa branca e uma saia azul na altura do joelho. Era uma roupa simples, mas elegante e bem planejada. Como acessórios, ela tinha uma fita combinando no cabelo e usava um conjunto de brincos de bom gosto que brilhavam ao sol. Todo o conjunto se encaixou bem e realmente combinava com uma linda garota com ótima postura como ela. Naoya poderia dizer que ela se esforçou muito em sua aparência neste dia.
— Você parece ótima. O seu senso de moda é mesmo muito bom — elogiou ele.
— Do que está falando? Só estou usando roupas normais. Isso me faz pensar se você já saiu com uma garota antes — altercou Koyuki com um brilho diabólico nos olhos. Apesar disso, ela também se remexia demais. Arrumou o cabelo atrás da orelha e batia o pé no chão sem parar.
Ele pôde ver que ela ficou feliz, o que também o deixou feliz. Era bastante cativante que ela gostasse de ser elogiada por sua aparência.
— Você parece tão bonita e madura. Ficou muito bem, de verdade — adicionou.
— B-Bajulação não vai te levar a lugar algum… — murmurou ela.
— Não é bajulação, sério mesmo, você parece uma modelo. Estou feliz por ser visto com você e estou ansioso para passarmos o dia juntos. — Naoya assegurou-lhe com um sorriso.
Koyuki gemeu de vergonha. Ela se virou e começou a se afastar, mas Naoya foi mais rápido e agarrou sua mão antes que ela pudesse sair.
— Ei, aonde vai? — perguntou ele.
— Para casa! Não consigo fazer isso! — gritou ela.
— Quê? Ainda nem fizemos nada.
— E olhe só para mim! Já estou acabada! Tenho que ir! Koyuki tinha lágrimas nos olhos enquanto puxava a mão de Naoya. Eles deveriam estar em um encontro, mas agora parecia mais um sequestro.
— P-Por que nós ainda precisamos ir a um… um e-encontro, hein?!
— Para que eu possa julgá-lo — interrompeu Sakuya com seu tom monótono de sempre. — Preciso ver como vocês dois se comportam em um ambiente de casal de verdade. Isso significa que os dois precisam fazer coisas juntos. Como encontros.
— Você ouviu a senhorita. — Naoya entrou na conversa. — E acho que será bom se conseguirmos a aprovação de sua família. Vamos dar um jeito nisso.
— E a minha aprovação?! — gritou Koyuki, ficando mais alterada a cada segundo. Em contraste, os outros dois tinham expressões calmas. Depois de se debater um pouco, ela parecia ter enfim se esgotado. — Por que tenho que fazer isso?
— Porque disse que faria, Koyuki — informou sua irmã.
— Nós meio que a coagimos, Sakuya…
— Isso aí! Foi isso mesmo! Como devo lidar com isso estando na frente de vocês?! — gritou Koyuki em protesto.
Apesar de sua relutância teimosa, ela finalmente conseguiu se mexer após um fluxo constante de garantias de sua irmã caçula e de seu parceiro de encontro. Ela era simplória, afinal.
Sakuya suspirou e olhou para sua irmã.
— Tenha cuidado. Não seja sugada para um esquema de marketing multinível ou um culto enquanto estiver fora hoje, pode ser?
— Eu vou cuidar dela, Sakuya. Não precisa se preocupar — assegurou Naoya.
— Ainda não confio em você com ela, mas fico grata — disse Sakuya enquanto se curvava rapidamente em apreciação.
— Ou não! — retrucou Koyuki, então virou as costas para os dois com raiva. Às vezes era difícil saber qual delas era a mais velha. Ela enfim olhou por cima do ombro para Naoya e fez beicinho. — Tudo bem, vou participar desse seu encontro idiota. Mas em troca… — Ela fez uma pausa para mostrar o dedo dramaticamente para Naoya, quase acertando o nariz dele. — Se você me entediar um pouco que seja, te darei um pé na bunda e irei para casa. Pelo menos tente tornar o dia de hoje divertido.
— Beleza, entendido — disse Naoya. — Então o que você realmente quer dizer é: “eu nunca estive em um encontro antes, então se eu o deixar no comando, não terei que me preocupar em não ser uma completa ignorante e estou meio empolgada para ver o que ele planejou”. Na mosca, não é?
— Passou muito longe! Pare de falar por mim! — protestou ela.
— Mas ele foi certeiro. Mesmo a maioria da nossa família não consegue entendê-la tão bem assim — adicionou Sakuya, aplaudindo com sua inexpressividade padrão.
— Obrigado, Sakuya. Tudo bem então, Shirogane, eu realmente tenho um pequeno itinerário pronto, caso vá me acompanhar — falou Naoya.
— Ugh, beleza… — resmungou Koyuki e relutantemente começou a andar ao lado de Naoya. Ela deu passos leves e hesitantes enquanto Sakuya seguia um pouco atrás. O encontro supervisionado havia começado.
Primeiro, foram para o terceiro andar do shopping. Koyuki notou a variedade chamativa de pôsteres na parede e inclinou a cabeça para o lado.
— O cinema? — perguntou.
— Sim. Pensei que algo assim seria um bom início hoje — respondeu Naoya. Um encontro no cinema era a mais básica das ideias básicas de encontro. Ainda assim, este era o primeiro encontro deles. — Nós meio que pulamos muitas etapas em nosso relacionamento, então acho que fazer coisas normais como essa pode ser uma boa ideia. Então, sim… vamos ter um encontro normal.
— Está bem. Acho que isso não soa tão ruim — supôs Koyuki. Ao contrário do que ela estava dizendo, porém, parecia mais do que ligeiramente satisfeita por trás de seu rubor.
Sakuya, no entanto, virou um olhar desconfiado para Naoya e avisou:
— O que você está planejando fazer no escurinho do cinema? Se tentar algo engraçado, não hesitarei.
— Eu estava planejando assistir ao filme — respondeu Naoya incrédulo, como se fosse óbvio.
Koyuki parecia não entender e inclinou a cabeça novamente.
— De qualquer forma, que filme vamos assistir?
— Estava pensando em deixá-la escolher um. — Naoya se arriscou.
Koyuki examinou cuidadosamente os pôsteres na parede e parou quando chegou a um que mostrava um ator e uma atriz famosos em um abraço apaixonado. Ela apontou e disse:
— Este aqui. O romance.
— Eu evitaria esse. Ouvi dizer que parece um romance normal, mas na verdade é um slasher para maiores de dezoito — acrescentou Naoya.
— O quêêêêê?! Isso não é propaganda enganosa? Tudo bem então, e este? Aquele com o casal estrangeiro na costa.
— Nem, eu também pularia esse. Na verdade, é um filme de tubarão com CG horrorosa. Foi um sucesso global com os fãs de tubarões, no entanto.
— Tem algum filme bom neste cinema, hein? — resmungou Koyuki. Ela estava começando a ficar irritada. — Tudo bem, e que tal esse aqui? Oh não, é um filme de monstros…
— Se não gosta de filmes de terror, então eu não recomendaria. Não quero que você associe nossos encontros diretamente a experiências traumáticas.
— E-Eu gosto de filmes de terror. Não tenho medo de um filme desde o jardim de infância, na verdade. — Koyuki bufou. Ela tentou agir com coragem, embora fosse incrivelmente evidente que não conseguia nem olhar direto para o pôster. No fim, desistiu e se virou para Naoya.
— Então, o que vamos assistir?
— Vou pegar os ingressos. Vem junto, Sakuya?
— É claro. Vamos ver do que você é capaz — respondeu ela com sua típica estoicidade. Ainda assim, Naoya podia sentir um entusiasmo sutil.
Os três foram até o balcão. Naoya ficou na frente da garota que trabalhava lá e declarou:
— Três ingressos para adolescentes para A Aventura de Senhor Mittens: Mãe Está a 30.000 Anos-luz de Distância, por favor.
— É para já! — respondeu a garota alegremente.
— Um anime infantil?! — Koyuki quase gritou.
A garota no balcão não se importou com ela enquanto entregava os ingressos junto com três chaveiros promocionais.
Koyuki pegou seu ingresso e chaveiro com uma expressão sombria nublando suas feições.
Ela olhou para ele por um tempo antes de falar em voz baixa:
— Sasahara, isso aqui é um encontro… né?
— Ah, enfim reconheceu como um encontro? Ótimo. E sim, é.
— Mas qual é a dessa escolha de filme?! Não podemos assistir a um anime para crianças em nosso primeiro encontro! — protestou ela, erguendo o chaveiro como se quisesse fazer uma observação. — Tipo, qual é a desse gato idiota?!
— Quê? Esse é o Senhor Mittens, o herói de nossa história — informou Naoya.
Senhor Mittens era um jovem gato malhado macho com olhos caracteristicamente reprovadores. Se fosse algo que você gostasse, ele parecia maneiro e distante. E, no caso de não gostar, talvez só parecesse distraído.
Koyuki mexeu o chaveiro no rosto de Naoya, um símbolo de sua insatisfação.
— Não consigo acreditar numa coisa dessas. É o nosso primeiro encontro, mas você escolheu isso? Sakuya, me apoie aqui. Sakuya?
Koyuki olhou para sua irmã e a encontrou olhando sem parar para seu próprio chaveiro. Ela cuidadosamente colocou dentro de sua bolsa antes de se virar para Naoya e apresentá-lo com um claro polegar para cima.
— Bela escolha, Sasahara. Pontos importantes foram ganhados com isso — afirmou ela.
— Bom gosto, Sakuya — disse Naoya.
— Sakuya?! — gritou Koyuki, a sensação de traição evidente em sua voz.
Naoya sorriu e deu uma explicação:
— Ouvi dizer que este filme é ótimo para todos os públicos, mesmo para adultos. E os personagens são todos super populares.
— Sério?
— Sim. Bem, isso é o que eu ouvi. E você gosta de gatos, não é, Shirogane? Achei que poderia gostar desse. Estou enganado?
— Bem, eu gosto de gatos… — admitiu Koyuki com um suspiro, a tensão deixando seu corpo. Ela levou o chaveiro até os olhos. — Você escolheu este para mim — murmurou baixinho para si mesma. Houve um breve lampejo de felicidade em seu rosto antes de sua marca registrada de expressão arrogante logo tomasse seu lugar. — Está bem. Acho que não tenho escolha a não ser assistir, já que você escolheu.
— Legal. Vou pegar algumas bebidas para nós, então vamos entrar — disse Naoya.
— Estou muito empolgada, ouvi dizer que esse filme é emocionante. Já vai deixando alguns lenços de prontidão, Koyuki — afirmou Sakuya.
— Eu não vou chorar em um filme infantil, Sakuya. Não choro em filmes — respondeu Koyuki com uma bufada. Ela se virou e partiu galantemente em direção à sala de cinema.
Sakuya e Naoya trocaram um olhar compreensivo e foram atrás dela.
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Uma hora e meia depois, os três saíram da sala com uma multidão de pais e filhos.
— Senhor Mittens! Waaaaaa! Você enfim encontrou sua mãe! — Koyuki quase gritou em meio a inundações de lágrimas.
— Pegue aqui, é um lenço — Naoya ofereceu enquanto o entregava.
Ela agradeceu enquanto fungava e enxugava o nariz. Em um período de tempo assustadoramente curto, o lenço ficou saturado de líquido.
— Você vai se desidratar chorando tanto. Aqui — comentou ele, entregando o suco que ele não havia terminado durante o filme. Ela aceitou e começou a tomar pequenos goles fracos. Naoya cautelosamente esperou que ela se acalmasse antes de continuar sobre o filme. — Cara, as críticas não estavam mentindo. Podem até ter subestimado um pouco.
— A parte em que Lorde Patinhas fingiu trair Senhor Mittens só para deixá-lo pegar a última cápsula de fuga da nave foi realmente comovente. Isso me pegou de jeito, direto no coração — acrescentou Sakuya rapidamente. A leve descarga de adrenalina em sua voz, além do leve tom rosado em suas bochechas, desmentiu sua empolgação. Ela ainda estava animada por causa do filme. — O diretor também está trabalhando em um anime de TV nesta temporada. É uma fantasia, eu acho. Você deveria assistir. A heroína principal é fofa demais.
— Já ouvi falar, mas não vi. Mas parece legal — respondeu Naoya.
— Você estará perdendo uma das grandes experiências da vida se não o fizer. Eu também vou te apresentar o material original, para que possa escrever um relatório sobre ele para mim.
— Eu amo pessoas apaixonadas, haha… — respondeu Naoya. Ela era uma garota divertida, de certa forma.
Naoya sentiu um puxão em sua manga e se virou para ver Koyuki segurando o copo vazio. Embora inicialmente suspeitasse que ela iria pedir-lhe mais, seu pequeno beicinho e ombros caídos deixaram seu descontentamento evidente.
— Nós deveríamos estar em um encontro. Falar com outras garotas vai… fazer você perder pontos — resmungou ela em um tom baixo.
Naoya não respondeu, em vez disso, ele e Sakuya trocaram um olhar significativo e acenaram um para o outro.
— Por que vocês dois estão tão quietos? Parem com isso — respondeu Koyuki.
— Quer saber, Sakuya? Garotas 2D são ótimas, mas eu sinto o mundo 3D me chamando. — Naoya de repente declarou com bravura.
— Entendo. O mundo real tem um certo “je ne sais quoi”, não é?
— Ah, qual é! Pare de falar apenas com Sakuya! — Koyuki fez beicinho. Parecia que ela enfim havia terminado de chorar por causa do filme e retornou ao seu estado normal. Koyuki empurrou o copo agora vazio de Naoya de volta em suas mãos e cruzou os braços, indignada. — Escuta aqui, Sasahara, você deveria estar me divertindo aqui. Se só vai falar… com…
Não foi capaz de terminar seu raciocínio, pois algo chamou sua atenção atrás de Naoya e Sakuya. Eles se viraram para seguir seu olhar e encontraram o misterioso canto da sereia que capturou sua atenção: uma máquina de jogos de garra em frente ao centro de jogos do shopping. E, após um exame mais detalhado, Naoya conseguiu identificar um personagem familiar na pilha de pelúcias.
— Eles têm o Senhor Mittens! — gritou Koyuki, dramática. Sem esperar pelos outros dois, ela trotou rapidamente na direção do centro de jogos.
Naoya não teve tempo de detê-la. Ele apenas sorriu para si mesmo e murmurou:
— Como vou ajudá-la a se divertir se você já está? Você vem também, Sakuya?
— Vou colocar alguma distância entre nós e observar de longe para não incomodar mais a Koyuki — respondeu Sakuya friamente. Ela se afastou, mas algo a fez mudar de ideia. Virou-se para Naoya e o informou em seu tom monótono de sempre: — Koyuki tenta agir de forma madura, mas como pode ver, ela é bem infantil e meio chorona. Mesmo assim, ainda acha agradável estar perto dela?
— Sim, com toda certeza, acho. — concordou Naoya. Ele cruzou os braços e começou a contemplar as palavras de Sakuya. Era verdade que Koyuki era certamente difícil de agradar, sem mencionar um pouco egoísta, mas Naoya nunca se sentiu irritado com ela. Percebeu que Sakuya ainda o observava, por isso deu um sorriso envergonhado e continuou: — Quero dizer, sempre que ela age assim, está baixando a guarda e sendo ela mesma. Fico feliz em ver isso.
— Você pode mesmo ser estranho o suficiente para Koyuki, afinal — supôs Sakuya. Seu rosto sofreu a mais breve das mudanças, tão breve que qualquer um que não fosse Naoya teria perdido. Por apenas uma fração de segundo, um leve sorriso apareceu em seus lábios. — Nos vemos depois. Não me decepcione.
— Deixa comigo. Eu vou tomar conta da sua irmã agora — brincou Naoya
Naoya examinou o centro de jogos em busca de sua parceira antes de encontrar Koyuki presa contra o vidro da máquina de jogo de garra respirando pesadamente. Ela estava olhando para a montanha de pelúcias de gato do outro lado com uma fome intensa.
— Pelúcias do Senhor Mittens… São tão grandes… — Ela estava incrédula.
— Quer uma? — perguntou Naoya.
— Si…. — Ela quase exclamou, mas rapidamente parou e virou os olhos para os pés. — Quero dizer, não, pois são para crianças. Eu não gosto de pelúcias nem nada do tipo.
— Sério?
— O que foi? — Koyuki pareceu surpresa com sua pergunta. Quando ela olhou para cima, viu Naoya sorrindo.
— Você disse que começaria a ser honesta consigo mesma, certo? — Ele pressionou. — E foi muito bem quando estávamos com Yui e Tatsumi. Não há necessidade de se segurar comigo.
Koyuki desviou os olhos. Ela percebeu que Naoya não deixaria isso passar. Seus ombros caíram e ela confessou:
— Eu amo pelúcias. Tenho um monte no meu quarto, e estão todas em cima da minha cama.
— Imaginei que fosse esse o caso.
— Mas é tão infantil…
— Quê? Não! É fofo. Não vou rir de seus hobbies ou qualquer coisa — assegurou Naoya.
Apesar de responder honestamente, isso só fez Koyuki se calar. Ele ficou perplexo com a resposta dela. Será que foi algo que eu disse? Talvez a parte de “não rir dela”? ele ponderou e inclinou a cabeça para o lado. Seja qual for o motivo, parecia que havia tocado em uma ferida. O melhor curso de ação era superar isso e trabalhar para colocar o clima de volta nos trilhos.
Ele arregaçou as mangas e virou-se para o jogo de garra.
— Qual vai querer?
— Hmm… Uh, o… o sorridente… no canto direito — respondeu ela calmamente.
— Entendido. Só um segundo.
Nesta situação, havia apenas uma coisa que um homem poderia fazer em um encontro. Ele colocou a moeda na máquina com vigor e determinação. A máquina ganhou vida com uma alegre música mecânica e um movimento de sua garra. Infelizmente, sua primeira tentativa terminou em derrota total — ele não chegou nem perto da pelúcia.
— Você não é tão bom nesse tipo de coisa, é? — perguntou Koyuki, meigamente.
— Pois é, acertou em cheio — admitiu Naoya. Ele era bom em jogos sociais como Lobisomem, mas quando se tratava de jogos de máquina com entradas simples… — Tive a sensação de que teria sorte hoje, mas sem chance, eu acho — disse enquanto abaixava a cabeça em derrota. Não tentou disfarçar seu fracasso, mas tinha certeza de que Koyuki ficaria decepcionada. Quando enfim olhou para cima, no entanto, encontrou-a sorrindo para ele. — O que foi?
— Não, é só que… você estava tão confiante e tudo mais — respondeu ela com uma voz trêmula. Seus ombros tremeram enquanto seu sorriso se alargava. Sim, ela estava rindo. Para ele. — Então até você tem pontos fracos, hein? Não me sinto mal por saber disso.
Naoya permaneceu em silêncio, levando Koyuki a perguntar:
— Que foi?
— Eu estava pensando que estou meio feliz por ter estragado tudo agora — respondeu.
— Pare de ser tão estranho, Sasahara — retrucou Koyuki. Ainda assim, ela lhe ofereceu outro sorriso.
Naoya ficou satisfeito que seu humor parecia ter melhorado. Vê-la feliz me deixa feliz também, pensou consigo mesmo. Sabia que não deveria expressar sua conclusão, no entanto, isso só iria estragar o bom humor dela, então guardou isso para si mesmo.
— Pare de ficar sorrindo por nada. É assustador. Você vai tentar de novo?
— Acho que vou, sim… — Naoya verificou a carteira, mas viu que não tinha troco. Ele procurou um caixa eletrônico, mas foi rapidamente interrompido por uma voz familiar em meio ao barulho dos frequentadores de fliperama e sons eletrônicos. Virou-se para Koyuki e disse: — Vou a um caixa eletrônico rapidão. Só um segundo.
— Eu pago esse, Sasahara. Não se preocupe — respondeu ela.
— Não, deixa que eu pago. Já volto. Não vá a lugar nenhum.
Koyuki parecia querer reclamar, mas Naoya não lhe deu tempo para isso. Ele se foi antes que as palavras pudessem sair de sua boca.
Seu destino não era um caixa eletrônico; na verdade, ele estava indo mais fundo no centro de jogos. Era uma área com menos multidões e ausência de funcionários. Foi lá que encontrou quem estava procurando — Sakuya.
Ela estava com um homem — um jovem adulto, pelo jeito — que estava conversando com ela. Na verdade, seria mais correto dizer que ele estava dando em cima dela. Deixá-la ir sozinha tinha sido uma má ideia. Enquanto ele estava com Koyuki, ela deve ter sido abordada por esse cara.
— Desculpe interromper, mas você tem algum assunto a resolver com ela? — falou Naoya. No momento em que as palavras saíram de seus lábios, Sakuya correu em sua direção e agarrou sua manga. Foi uma ação não muito diferente da de sua irmã, mas notou que não era o momento para tais comparações. Ele examinou o homem e percebeu que o reconhecia de algum lugar. — Você de novo? Não aprendeu sua lição da última vez?
— Quê? Ai, merda! É o carinha de antes! — gritou o homem. Era o delinquente loiro com os piercings que estava incomodando Koyuki naquela vez.
De certa forma, esse cara era o Cupido responsável pelo relacionamento de Naoya e Koyuki. Naoya nunca pensou que o veria de novo, e o homem parecia igualmente surpreso — se não mais — por essa coincidência.
Sakuya falou em voz baixa:
— É algum conhecido seu?
— Acho que se pode dizer que sim. Mais importante, está tudo bem, Sakuya?
— Estou bem, mas você deixou Koyuki sozinha. Estarei removendo pontos por isso.
— É justo, mas não podia deixar você em paz quando percebi que estava com problemas — protestou ele.
— Estou surpresa por você ser tão impaciente. Mas isso não é algo ruim — respondeu ela. Seu rosto suavizou um pouco quando ele olhou para ela.
O homem ficou de lado enquanto os dois conversavam. Depois de um tempo, no entanto, ele enfim decidiu entrar na conversa.
— Hah. Tentando bancar o herói quando você é igual a mim, hein? — Ele sorriu de maneira zombeteira e retrucou.
— Quê? — Naoya deixou escapar. O comentário o pegou legitimamente desprevenido.
O homem apontou para Sakuya e disse:
— Essa é a garota que eu estava tentando pegar mais cedo, certo? Então, depois disso, a “resgatou” das minhas garras e a arrebatou você mesmo. De nada, amigo.
— Quê? — Sakuya e Naoya falaram ao mesmo tempo.
Naoya ponderou as palavras do homem por um momento antes de enfim entender. Esse idiota acha que Sakuya é Koyuki. Para ser justo, elas pareciam semelhantes, especialmente quando se tratava de seus distintos cabelos prateados. E o homem não havia mentido — era verdade que Naoya e Koyuki se aproximaram por causa desse incidente.
— Você a ajudou, mas está claro que conseguiu algo com isso, não é? Então não está em posição de me dar um sermão de santinho.
— Essa é uma maneira de ver as coisas — admitiu Naoya. Um crescente sentimento de culpa começou a crescer dentro dele. O homem estava certo, Naoya a ajudou, mas ele realmente apenas a “arrebatou” para si mesmo? Ele não seria melhor do que este perdedor, então.
— É cem por cento diferente. — Uma voz resoluta soou atrás do homem.
Todos se viraram e viram Koyuki, um ar de comando permeia ao seu redor. Sua expressão era sombria, e seus braços estavam cruzados de maneira severa. Junto com sua aparência incrível, sua presença tornava-se intimidante.
— Espere, são duas? Então a que eu encontrei não era…
— Isso mesmo, não era ela. Fui eu. Se não consegue juntar as peças ou mesmo se lembrar da garota com quem está saindo, você é mais idiota do que parece. Para ser honesta, isso é legitimamente impressionante — zombou Koyuki.
— O que diabos você acabou de… — altercou o homem, seu rosto contorcido de raiva. Apesar de sua presença intimidante, ela não se moveu um centímetro.
— Ele me vê como eu realmente sou — continuou ela, com raiva. — Ele é legal, e nunca tentaria coagir as mulheres como você faz. Por favor, não o coloque na mesma categoria que você.
— Oh, nossa. Antes você estava morrendo de medo, mas agora tá toda falante? Isso é ótimo. — O homem resmungou antes de sua mão disparar para Koyuki.
No entanto, o ataque não atingiu o alvo, pois Naoya rapidamente interceptou. Ele agarrou o delinquente pelo colarinho espalhafatoso e o empurrou contra uma parede próxima.
— Estou lhe dizendo isso para sua própria segurança. Não coloque a mão nela — ameaçou ele.
— U-Uou, amigo, quer mesmo brigar? — provocou o homem, trêmulo. Sua expressão de surpresa, um sinal momentâneo de fraqueza, foi rapidamente coberta por um sorriso arrogante e ousado.
Naoya sabia que, se a situação escalasse, isso resultaria na chamada da polícia, e ele acabaria se metendo em mais problemas do que isso valia. Ele poderia resolver as coisas sozinho. Respondeu com um sorriso próprio e disse:
— Sim, quero. Mas não vou usar meus punhos.
— De que diabos você está falando? — perguntou o homem com uma expressão confusa.
Mal sabia o homem que não demoraria muito para que a única coisa que restasse em seu rosto fossem as lágrimas de desespero total.
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Pouco tempo depois, o homem estava sendo levado pela polícia. Ao contrário de sua atitude agressiva anterior, ele não ofereceu resistência. Na verdade, estava abaixando a cabeça em derrota e murmurando:
— Mãe, sinto muito… Eu sempre fui um merda…
O oficial que o segurava parecia confuso.
— Qual é a desse cara? Está bêbado? Ei, amigo, diga isso para sua mãe, não para mim.
Naoya e os outros observavam enquanto o homem era levado.
Um homem mais velho de terno, talvez o gerente do fliperama, aproximou-se do grupo e curvou-se profundamente.
— Obrigado por nos informar sobre este homem — disse ele em um tom educado. — Ele parece estar bastante perturbado. Foi bom tê-lo encontrado.
— Sem problemas. Ele começou a agir estranho demais de repente — explicou Naoya com um sorriso amigável.
Logo atrás dele, Sakuya e Koyuki estavam trocando palavras em um sussurro baixo. Naoya mal conseguia distinguir suas palavras através do barulho do fliperama.
— Ele o dizimou por completo. Sinto que acabei de testemunhar um assassinato verbal.
— Como ele sabia de onde era? E sobre sua vida doméstica e sua educação?
Assim como ele disse que faria, Naoya tinha “brigado” sem levantar os punhos. Havia identificado com precisão os pontos fracos de seu oponente e espetado o homem até ele quebrar.
— Você está jogando sua vida fora e tem agido como um saco de lixo por um tempo, não é? Agora, o que seus pais pensariam de tudo isso?
— Deixa minha mãe fora disso!
— Ela choraria se o visse agora. Você sabe que é verdade.
E assim, Naoya arrasou seu oponente. Tinha sido incrivelmente fácil, a ponto de se perguntar se tinha sido muito duro com ele. Bem, pelo menos não vai incomodar nenhuma garota por um tempo depois disso, eu acho, supôs para si mesmo.
Claro, nenhum desses pensamentos íntimos o incomodou enquanto aceitava a gratidão do homem de terno. O rosto do homem de repente ficou envolto por uma expressão sombria enquanto ele explicava:
— Para ser honesto, esta não é a primeira vez que esse homem causa problemas aqui. Você tem certeza absoluta de que nada aconteceu entre vocês dois?
— Sim. Nada mesmo. — Naoya o assegurou.
— Fico feliz em saber disso. Ainda assim, fico me perguntando como ele acabou daquele jeito… — O homem ponderava. Algo brilhou em seus olhos antes que se virasse para olhar diretamente nos de Naoya. — Isso não tem nada a ver com o assunto, mas qual é o seu sobrenome?
— Hmm, é Sasahara.
— Eu sabia. — O homem assentiu antes de olhar para o teto e massagear as têmporas. — Sabe, eu conhecia seu pai. Ele me ajudou em muitas coisas.
— Oh. Entendo. — Foi tudo o que Naoya disse depois de uma pausa.
— Por isso sei o que fez com aquele homem. Não se preocupe, eu cuido dos relatórios. Pode ir.
— Obrigado. Desculpe se lhe causei algum problema — desculpou-se Naoya.
— Não foi nada. Diga olá ao seu pai por mim — respondeu o homem. Com isso, ele deu um pequeno aceno e saiu.
Koyuki inclinou a cabeça para o lado e perguntou:
— O que você e aquele cara estavam falando?
— Na verdade, nada. Não se preocupe com isso. Mas o mais importante, Shirogane…
— O-O quê? — gaguejou Koyuki. Seus olhos corriam de um lado para o outro enquanto ela tentava ao máximo evitar contato visual direto.
Naoya aproveitou a oportunidade para pegar sua mão na dele.
— Obrigado por nos ajudar, mas… por favor, não se empolgue assim de novo. Eu estava tão preocupado que pensei que meu coração fosse parar — repreendeu-a gentilmente.
— Hã, hm… Tudo bem. Sinto muito. — Ela se desculpou com um aceno de cabeça tímido. O fogo rapidamente voltou a seus olhos, no entanto. — Mas ele estava tirando sarro de você, e… eu tinha que fazer alguma coisa. Eu não me importaria se ele estivesse incomodando outra pessoa, mas era você.
— Fico feliz em ouvir isso. Sério mesmo. Mas é perigoso.
— Eu sei disso, mas tinha certeza que você me protegeria, então não estava com medo. Por isso agi.
— Bem… sim, mas… — Naoya parou. Foi a vez de ele ficar envergonhado com a honestidade de Koyuki.
— Hah. Você é sempre tão distante, Sasahara, então vê-lo assim é bem revigorante. Mas, sim, naquela hora, você foi muito, hm, m-manei…
— …
— Você foi maneiro — intrometeu-se Sakuya.
— Ah! Eu queria dizer isso! — exclamou Koyuki.
— Ahahaha… — Naoya riu enquanto observava a discussão das irmãs. Com cada risada, ele podia sentir a tensão drenar de seu corpo. Estava feliz por todos estarem bem.
Koyuki suspirou e olhou para o chão.
— Ainda assim, você salvou um par de irmãs da mesma situação. Definitivamente vai haver alguma rivalidade entre irmãs agora…
— Koyuki? — Sakuya deixou escapar, seus olhos arregalados em choque.
Os ombros de Koyuki caíram e ela perguntou:
— Você não vai se apaixonar por ele, vai, Sakuya? Por favor, diz que não. Eu não permitirei. Ele é meu… meu escravo. Jamais te darei ele, então nem tente, beleza?
— Oh. Bem, nesse caso, não há com o que se preocupar. Ele é um pouco estranho demais pra mim. — Ela informou sua irmã de maneira direta.
— Está falando de mim?! — Naoya não pôde deixar de se intrometer.
Sakuya se virou em resposta e deu a Naoya um olhar perscrutador.
— Não digo como namorado, mas… poderia se dar bem como meu cunhado.
— Como assim? — perguntou Naoya.
— Está bem. Eu aprovo. — Sakuya aceitou com um aceno de cabeça.
— Por favor, cuide bem da minha irmã, cunhado.
— Credo, e ainda dizem que sou eu que ajo rápido demais. — Naoya brincou.
— Sakuya?! Você queria um irmão mais velho? — Koyuki deixou escapar.
Naoya não pôde deixar de sorrir. Ele era filho único, então o pensamento de ter uma irmã caçula o agradou muito.
Sakuya não entendeu a pergunta. Em vez disso, ergueu a mão e declarou:
— O encontro supervisionado termina aqui. Aproveitem o resto do seu dia, vocês dois.
— Sakuya, espere! Ei, aonde está indo? — exclamou Koyuki.
— Vou comprar um mangá e depois voltar para casa. E mais tarde quero que me diga como foi hoje. Ah, e se for beijá-lo, faça isso depois que escurecer.
— Não vou! — gritou Koyuki quando Sakuya voltou para a multidão.
Eles a observaram ir antes de Naoya comentar:
— Ela é uma boa irmã, não é?
— Ela é, mas realmente precisa tomar cuidado com a boca às vezes… — Koyuki parou com alguma hesitação. Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, porém, seu estômago a interrompeu com um ronco, e ela abaixou a cabeça de vergonha.
Naoya decidiu fingir ignorância.
— Agh, estou morrendo de fome! Quer ir almoçar?
— C-Claro. Não parece uma má ideia — respondeu ela em sua melhor voz indiferente, prendendo o cabelo atrás da orelha e tentando parecer fria e calma.
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Os dois foram para uma rua repleta de restaurantes e começaram a discutir o que iam comer.
Uma vez que finalmente escolheram um lugar, logo se acomodaram para a refeição. Por azar, a comida de Naoya acabou saindo muito mais tarde que a de Koyuki. Quando ele tentou pedir a Koyuki uma mordida dela, ela parecia estranhamente envergonhada com a ideia. Ele a lembrou que já haviam trocado um beijo indireto antes quando ele lhe deu seu suco, o que não diminuiu seu constrangimento nem um pouco.
Houve muitos acontecimentos semelhantes enquanto eles seguiam o dia, e o primeiro encontro terminou como um grande sucesso.
Tradução: Taiyo
Revisão: Guilherme
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