Dark?

De Colega Tóxica a Metas de Namoro – Vol. 01 – Cap. 02 – A Rainha dos Espinhos

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Na manhã seguinte, Naoya tinha acabado de sair da bilheteria da estação quando por acaso viu uma pequena figura.

— Bom dia, Sasahara.

— Ei.

Não era outra senão Koyuki. Naoya ficou surpreso por um momento, e Koyuki parecia ter aceitado isso como algum tipo de pequena vitória.

— De boca aberta e sem graça como sempre, hein? — Brincou ela, orgulhosa. Sua língua ácida continuava bem treinada. — Desculpe, mas você parece mais sem vida do que os velhotes passeando pelo parque. Se não consegue se endireitar, nem pense em chegar perto de mim.

Vendo que Koyuki tinha pequenas olheiras, Naoya lentamente cobriu a boca e sussurrou:

— Droga, você é fofa demais…

Koyuki corou e gritou:

— Poderia parar de falar essas porcarias aleatórias? O que quer dizer com “sou fofa”?!

— Só achei que é adorável demais ver você acordar tão cedo para ir à escola comigo — explicou Naoya.

O rosto de Koyuki ficou ainda mais vermelho do que antes, se isso fosse possível, mas ela ficou em silêncio em vez de gritar. Quando ele a examinou mais de perto, notou que ela parecia ainda mais bonita do que o normal — havia prestado atenção extra ao seu cabelo e maquiagem agora. Ela se esforçou ainda mais só porque estaria indo para a escola com ele.

O fato de que Naoya era capaz de ver tudo isso logo de cara só confirmava sua suspeita.

— Oh, qual é, você gosta mesmo de mim, não gosta? — perguntou ele.

— Hã, nem! Às vezes, só acordo mais cedo do que o normal, o que me dá tempo extra para me preparar. Não tem nada a ver com você, entendeu?! — retorquiu Koyuki antes de se virar e sair bufando. Naoya podia ver que ela só fez isso para esconder seu constrangimento.

Ele se pegou pensando no que tinha acontecido no dia anterior.

 

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Depois que Koyuki fez sua declaração, passaram mais algum tempo na loja de donuts antes de partirem juntos. A cidade estava tingida pelo vermelho do crepúsculo, e as ruas estavam cheias de mães comprando mantimentos e estudantes voltando para casa.

— Uau, que brilhante — murmurou Koyuki enquanto protegia os olhos do brilho urbano. Naquele momento, seu cabelo estava tingido de carmesim pelas luzes refletidas da cidade.

Ela é, sem dúvidas, linda, Naoya não conseguia deixar de pensar.

O momento mágico foi rapidamente arruinado, no entanto, quando Koyuki de repente se virou e começou a se afastar com uma fala rápida:

— Tudo bem, tchau.

Naoya gaguejou um pouco antes de gritar para pará-la:

— Ei, Shirogane. A propósito, onde você mora?

— Yotsumori. Por quê?

— Ah, eu moro na direção completamente oposta. Só estava pensando em te levar para casa. É bem longe e tal.

— Nem se estresse. Não é como se estivéssemos namorando nem nada do tipo — respondeu.

— Vai escurecer em breve. Tipo, se preocupar com garotas é natural para nós garotos, sabe? — comentou ele.

— Ugh, eu adoraria se parasse de dizer porcarias vergonhosas como essa.

Koyuki abaixou a cabeça e respirou fundo várias vezes. Ela então levantou-a, encarou ousadamente os olhos de Naoya e declarou:

— Você não vai dizer coisas assim por muito tempo! Estou começando meu contra-ataque hoje. Não será capaz de viver sem mim quando eu te destruir!

— Fico no aguardo por isso. Nunca gostei de uma garota antes, então, pois é… Estou animado para ver como vai ser — respondeu ele.

— Ha, isso foi patético demais… Espera, eu sou a sua primeira?! — Os olhos de Koyuki se arregalaram.

— Sim. Tenho toda essa habilidade de “ler as pessoas” desde de criança, então, sabe como é — explicou Naoya. Ele sempre reprimiu quaisquer avanços que recebeu, e nunca foi aquele que agiu. Podia-se dizer que não tinha experiência alguma em namoro. Seus amigos na escola muitas vezes zombavam dele por isso, e nem ele mesmo se orgulhava de tal coisa.

O sorriso de Koyuki só cresceu.

— Oh, sério? Parece que você sempre foi um perdedor patético, então.

— Sim, acho que pode considerar dessa maneira. De qualquer forma, acredito que somos os primeiros um do outro.

— Como que soub…?! Quero dizer, ugh! Escuta aqui! Eu já disse que não gosto de você! — gritou ela. Sua raiva foi interrompida pelo toque de um telefone. Enfiou a mão na bolsa, puxou-o e verificou. Isso pareceu ter refreado seu temperamento, pois então disse:  — Por mais que eu adoraria esmagar você na calçada agora mesmo, tenho que ir para casa. Minha irmã caçula está esperando por mim.

— Ah, você tem uma irmã caçula? Acho que não preciso me preocupar, já que já está indo para casa com ela.

— Sim. Ela é uma menina exemplar, sabe. Recentemente, em casa… — A mão de Koyuki de repente congelou acima da tela do telefone. Seus olhos começaram a mover-se rápido entre a tela e Naoya. Um sorriso fino surgiu em seu rosto, fazendo-a parecer uma criança que tinha acabado de pensar em uma pegadinha marota.

Por outro lado, Naoya ficou parado, sem ter ideia do que fazer.

— Beleza, escuta aqui, Sasahara — começou ela. — Vou agraciá-lo com o meu número.

— Espera, sério?

— Sim, sério. Pegue o seu celular. Agora.

— Já entendi. Caramba — murmurou Naoya enquanto procurava apressadamente pelo celular dentro da mochila.

Logo, o nome “Koyuki Shirogane” apareceu nos contatos de Naoya. Seu ícone era um gato branco com um olhar afiado — de certa forma, Naoya sentiu que se parecia muito com ela.

— Não que eu esteja chorando de boca cheia nem nada, mas por que está me dando o seu número mesmo? — perguntou ele.

— Bem, se eu puder te enviar uma mensagem, isso significa que posso atacá-lo a qualquer momento, não é? — disse Koyuki, agora segurando o celular no alto como uma arma. — E seus poderes esquisitos não podem funcionar através de mensagens de texto, correto? Então, mesmo se eu ficar envergonh… quero dizer, uh! Você não será capaz de controlar a conversa! Sim, foi isso que eu quis dizer!

— Ah, te entendo. Boa ideia.

— Isso eu tenho de sobra. Não estarei mais do lado perdedor, entendeu?

Ela estava certa em um aspecto; quando alguém estava mentindo, Naoya podia ver principalmente pelo movimento de seus olhos, seus tiques verbais e gestos. Diálogos por meio de mensagens limitavam essas informações, dificultando a leitura das pessoas. Além disso, no entanto, ela havia revelado algo enorme.

Então admite que fica envergonhada perto de mim, hein, Shirogane? Aposto que não queria deixar isso escapar. Suas notas são sempre altas, mas talvez não seja tão perspicaz assim.

— Beleza, então, Sasahara, vejo você mais tarde. A partir de amanhã, você está tão ferrado na minha mão.

— Tudo bem, cuide-se.

Koyuki não percebeu os olhos de Naoya seguindo-a enquanto ela partia em direção à estação.

Naquela noite, trocaram mensagens por um tempo e acabaram decidindo ir para a escola juntos no dia seguinte.

 

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Ainda era de manhã cedo, então as ruas ainda estavam um tanto vazias. Isso significava que estavam sozinhos na maior parte do tempo enquanto caminhavam. Koyuki parecia mais bonita ao amanhecer, aproveitando o brilho do sol da primavera.

Ela pigarreou e começou:

— Beleza, você foi me buscar até a bilheteria, mas não fique se achando agora. — Ela lhe mostrou um sorriso diabólico antes de puxar o celular. — Então, como se sentiu ao receber uma mensagem da grandiosa e toda poderosa Koyuki Shirogane ontem? Aposto que isso fez seu coração disparar.

— Hmm… — respondeu Naoya, tranquilo, o que pareceu decepcionar Koyuki.

— Quê? Pensei que tinha te mandado várias mensagens ontem à noite — disse ela.

— Tipo, uh, sim, mandou, com certeza — respondeu Naoya enquanto pegava seu celular e navegava até o aplicativo de mensagens que usaram. Uma declaração concisa apareceu na tela: “Vamos para a escola juntos amanhã”. Isso foi seguido por uma enxurrada de fotos de gatos e comida. — Como exatamente essas fotos deveriam fazer meu coração disparar?

— Não fizeram?! — Koyuki ficou pasma.

Que tipo de cara ela pensa que sou? Naoya ponderou consigo mesmo. Ele estava sem palavras e ficou ali sem jeito por um tempo enquanto Koyuki estudava a tela do celular atentamente.

— Hmm, mas minha irmã disse que esses eram os tópicos mais adequados para postar nas redes sociais — murmurou ela.

— Sim, se você é uma celebridade ferrada tentando se esconder, talvez — respondeu ele. Agora, estava ainda mais curioso para saber que tipo de garota a irmã de Koyuki era.

Ainda assim, isso conseguiu responder a algumas perguntas que tinha. As fotos de gatos mal-encarados e comida — enviadas a ele sem motivo algum — o deixaram surpreso. Também indicavam que Koyuki estava realmente tentando ter uma interação positiva com ele.

Isso era ela dando o seu melhor para se dar bem comigo, eu acho.

Naoya gostou muito dessa seriedade desajeitada. Koyuki parecia não perceber que tinha acabado de fazer um progresso significativo em conquistar o coração de Naoya enquanto ela continuava olhando para o celular e murmurando para si mesma.

Naoya mostrou-lhe um pequeno sorriso e tentou manter a conversa.

— Não fez o meu coração disparar, é claro, mas achei o gato fofo. É seu?

— Hm? Ah, sim, é. Temos apenas um animal de estimação. Um gato filhote mimado é o suficiente.

— Oh, maneiro. Qual é o nome dele?

— Moela.

— Ei, ótimo nome! Realmente, tipo… uh, único! — gaguejou ele.

— Hehe, né? Todos em nossa casa o chamam de “Rei Moela”. Dá uma olhadinha aqui, ele não é o mais fofo quando está tirando o cochilo depois da refeição? Vou deixar que olhe, mas só porque é você, Sasahara.

— Ah. Valeu.

Quando Koyuki começou a mostrar a Naoya fotos de seu gato, seus corpos naturalmente se aproximaram cada vez mais. Chegou ao ponto em que ele podia sentir o cheiro doce dela e ficou muito consciente de seu peito pressionando contra ele. Além disso, podia sentir a felicidade dela, que estava contente apenas por passar tempo com ele desta forma. E ele se viu sentindo o mesmo.

Fiquei sabendo que era assim que seu primeiro amor é… você fica feliz só de estarem pertos, pensou Naoya. Por causa de suas habilidades, normalmente não sentia vontade de passar tanto tempo com as pessoas, exceto familiares e velhos amigos que o conheciam bem. Koyuki era diferente, no entanto. Ele queria passar mais tempo com ela e ver todos os seus diferentes humores e expressões.

Naoya rapidamente perdeu o interesse nas fotos do gato e começou a olhar para o rosto de Koyuki de perfil. Ela é tão adorável. Sem mencionar que é apenas uma garota normal. De onde veio toda essa coisa de “Rainha dos Espinhos”? Não combina com ela, pensou. Começou a se perguntar sobre a imagem dela na escola — sobre o que seus colegas pensavam sobre ela.

Era normal passar o intervalo do almoço com a pessoa que o acompanhava até a escola. Koyuki e Naoya estavam em turmas diferentes, então fazia sentido para ele garantir que passassem algum tempo juntos na escola. Decidiu prosseguir para combinar isso antes de chegarem.

— Você trouxe seu próprio almoço hoje? Quer comer comigo, talvez? Só nós dois.

— Uh, bem, sim, tudo bem… — murmurou Koyuki, aparentemente oprimida pelo convite repentino. Ataques surpresa pareciam ser super eficazes contra a “A Rainha dos Espinhos”.

Assim que chegou a hora do intervalo para o almoço, Naoya foi até a turma de Koyuki, mas ficou surpreso quando não a encontrou. Será que foi ao banheiro?

— Ei. Você aí — chamou uma voz familiar.

Naoya virou-se para o som e encontrou Koyuki, mas não estava falando com ele. Ela estava se dirigindo a uma garota que Naoya não reconheceu. Ela usava óculos e tinha uma aparência empertigada — um verdadeiro modelo de estudante de honra. Estava sofrendo para carregar duas caixas de papelão que estavam cheias até a borda com papéis e coisas do tipo.

A garota olhou para Koyuki com os olhos arregalados.

— Hm, o que foi, Shirogane?

— Isso parece pesado. Deixe-me pegar metade — comandou Koyuki.

— Mas o professor me pediu para fazer isso, e eu não quero…

— Só me dê logo a maldita caixa — ordenou Koyuki enquanto arrancava a caixa da outra garota, parecendo estar a assaltando.

A quatro-olhos pareceu atordoada por um momento antes de abrir um sorriso.

— Obrigada, Shirogane. Isso é muito gentil da sua parte — disse ela.

Koyuki parecia perturbada em resposta às palavras gentis da garota, tanto que se perdeu em meio às palavras por um momento antes de conseguir se recompor.

Hmph. Eu só estou te ajudando porque estava ficando cansada de te ver sofrendo, entendeu? Sério, você parecia uma macaca idiota tentando bater dois galhos. Agora pare de falar e vamos acabar com isso. Você já desperdiçou o suficiente do meu tempo.

— Hahaha… Tudo bem. Sinto muito, eu acho… — A garota visivelmente ficou cabisbaixa, e seus olhos se fecharam com tristeza.

Outros estudantes ao redor trocaram olhares já costumeiros e deram de ombros. A atmosfera no corredor estava longe de ser leve.

Ahhh, agora entendi. Então é daí que vem o nome “Rainha dos Espinhos”, Naoya percebeu. Toda a discussão ficou óbvia para ele: Koyuki estava tentando esconder sua vergonha, mas os outros viram as coisas de modo diferente. Naturalmente, levaram suas palavras e ações a sério. É óbvio que teria uma má reputação se agisse assim o tempo todo. Isso é triste, no entanto. Ela é uma garota de bom coração.

Naoya chegou a uma conclusão; sabia o que tinha que fazer. Começou a caminhar em direção às duas garotas com um sorriso largo e despretensioso.

— Ei, Shirogane! — chamou ele.

Koyuki se virou, viu Naoya, gritou e quase deixou cair a caixa que estava segurando. Quatro-olhos inclinou a cabeça para o lado, sem saber o que fazer com o intruso repentino que não reconheceu.

— Qual é, Shirogane, esse não é o jeito de fazer essas coisas — continuou Naoya.

— Hã? — Koyuki piscou.

— Então, posso saber o que está sentindo, por isso não fiquei tão incomodado com o que disse, mas o pessoal ao redor não sabe disso. Percebi que você fez tudo isso por causa da vergonha que sentiu, mas precisa ser mais honesta com o que sente, beleza?

— Eu não estava envergonhada! — gritou ela.

— Fico muito chateado em saber que todo mundo te interpreta tão mal… — Naoya lamentou, segurando o peito dramaticamente e abaixando a cabeça. Ele sabia que sua atuação exagerada e forçada teria um efeito imediato em Koyuki.

Sem demora, Koyuki resmungou e gaguejou para si mesma diante das palavras emocionais de Naoya. Ela se virou para Quatro-olhos e inclinou a cabeça.

— Hm, sinto muito. Acabei sendo rude agora há pouco, mas não era minha intenção. Eu queria ajudar, só isso — desculpou-se ela.

As garotas que viam toda a situação começaram a gritar em descrença em um coro agudo:

— Seeeeeem chaaaance!

— Minhaaaaaa nossaaaa!

— Como ééééé?!

Até Naoya ficou surpreso, pois não esperava que ela acabaria sendo tão submissa e educada. Sua única intenção era fazê-la pensar um pouco mais sobre suas ações, mas não esperava que fosse tão longe.

Ah, talvez só esteja assim por minha causa.

Quatro-olhos ficou compreensivelmente perturbada com a demonstração de honestidade de Koyuki e mais do que depressa tentou suavizar a situação.

— Oh! Não, não, sério. Está tudo bem — ela assegurou a outra garota. — Não me incomodei nem um pouco. Não se preocupe, tudo bem?

— Mesmo? — perguntou Koyuki.

— Sim. Sei que você sempre diz coisas assim, mas ajuda de qualquer maneira. Entendo muito bem — acrescentou Quatro-olhos com um sorriso brilhante. — Ainda assim, obrigada por ser honesta. Estou falando sério. Fico feliz em conhecê-la melhor.

— M-Mas… — Koyuki não sabia o que dizer.

Quatro-olhos virou-se para Naoya e disse:

— E obrigada a você também! Vou pegar a Shirogane emprestada por um tempinho, posso?

— Claro, divirtam-se — disse Naoya com um aceno. Com isso, as duas garotas foram em direção à sala dos professores, Koyuki resmungando o tempo todo. Todos os outros alunos no corredor olhavam boquiabertos para Naoya, como se ele fosse um domador de leões em um circo. Ele fingiu não notar.

Koyuki voltou cerca de dez minutos depois. Naoya estava a esperando em um banco a céu aberto no pátio da escola.

— Bom trabalho, Shirogane — cumprimentou ele, jovialmente. — Essa é sua boa ação do dia, haha.

Koyuki respondeu com silêncio.

O pátio estava localizado entre dois prédios escolares e ostentava uma grande área gramada. Havia um grande número de alunos que normalmente almoçavam lá. O tempo estava particularmente bom no momento, então havia ainda mais alunos do que o normal.

Koyuki sentou-se ao lado de Naoya, com a lancheira na mão. No entanto, não começou a comer de imediato, em vez disso, ficou sentada em silêncio.

Naoya podia sentir uma aura de desagrado emanando dela. Ah, droga. Será que fui longe demais antes? Sim, acho que falar com ela assim na frente das pessoas foi um pouco… ponderou.

— Ei. — Koyuki enfim falou, em voz baixa. Ela levantou a cabeça, e Naoya notou uma expressão séria que nunca viu ela fazendo antes. — Sobre antes… Valeu.

— Oh — ele respondeu simplesmente.

Isso não era o que esperava. Não conseguiu detectar qualquer falsidade ou arrogância em seus olhos — ela realmente apreciou seu conselho e levou a sério.

Koyuki respirou fundo antes de continuar:

— Eu sou sempre assim. Acho que pode dizer que sou ruim demais em me socializar. Como resultado, sempre acabo dizendo coisas horríveis para as pessoas.

— Bem, admitir é o primeiro passo, certo? Não é isso que dizem?

— Sei que é ruim, mas acabo dizendo sem perceber, e não consigo me conter… — confessou com um tom de dor em sua voz. Ela estava sendo verdadeiramente honesta. Continuou olhando para Naoya entre as palavras, e ele podia ver sua expressão perturbada. — Mas por causa do que disse antes, finalmente consegui falar com as meninas da minha turma pela primeira vez. Então só quero dizer… obrigada.

— Bem, de nada — respondeu Naoya com um sorriso brilhante. No fundo, porém, estava um pouco preocupado. Koyuki já estava naquela turma havia um mês. Mas esta tinha sido a sua primeira vez conversando com as outras garotas? Ele teve que concluir que estava certo desde o começo: ela não passava de uma garota desajeitada. Sua língua afiada era, na maioria das vezes, produto de seu constrangimento ou um mecanismo de defesa. Não era uma tática particularmente incomum, mas no caso de Koyuki, parecia ser ruim demais.

Hmm… O comportamento dela me leva a pensar que houve algum tipo de evento em seu passado que a levou a agir dessa maneira… Oh não, não, nem. Não entra nessa, Naoya. Naoya malvado. Ele rapidamente parou em seus caminhos mentais. Sabia que, se seguisse essa linha de pensamento, acabaria se intrometendo demais na vida pessoal dela, então baniu isso de sua cabeça. Não conseguia parar de ir mais a fundo no cérebro de uma pessoa depois que começava. Era incrivelmente rude, para não dizer antiético, fazer isso só porque era capaz.

O rosto de Koyuki escureceu enquanto Naoya continuava em silêncio.

— Eu sabia. Eles me chamam de “A Rainha dos Espinhos”, mas na verdade sou apenas uma pessoa ruim — disse ela com a voz trêmula. Então abaixou a cabeça sobre a lancheira.

Vendo que estava à beira das lágrimas, Naoya rapidamente interveio e a tranquilizou:

— Você não é uma pessoa ruim.

— Quê?

Naoya olhou em volta por um momento antes de apontar para uma passarela do outro lado do pátio. O orientador da escola, Iwatani, estava lá. Ele era conhecido como o professor mais rígido e rigoroso da escola, e, para combinar com isso, tinha uma aparência sombria. Era um verdadeiro defensor dos regulamentos escolares sem sentido, e nenhum aluno jamais o viu sorrir.

— Olha… aquele ali é Iwantani. Está vendo? — Naoya apontou.

— Sim. O que tem ele?

— Ele é um grande coração mole. Trabalha muito duro como conselheiro.

— Você está brincando comigo.

— Estou falando sério. Fique olhando.

Ele tinha acabado de chamar alguns alunos por pequenas infrações com base no regulamento do uniforme. Quando terminou, todos se espalharam como um ninho de aranhas recém eclodido. Enquanto os observava partir, a expressão normalmente dura de Iwatani vacilou por um momento. Sua fachada desmoronou de exaustão, e ele soltou um longo suspiro. O momento de vulnerabilidade foi de curta duração, no entanto, e sua habitual expressão severa foi reconstruída em um piscar de olhos. Ele se virou e voltou para dentro da escola.

Naoya se virou e encontrou Koyuki com os olhos arregalados de surpresa.

— Ele realmente parece muito cansado. Eu não fazia ideia — Ela estava surpresa.

— Né? Ele está sempre escondendo isso de todo mundo — respondeu Naoya.

Naoya tinha certeza de que apenas ele e alguns professores estavam cientes desse fato. Iwatani era rigoroso com os alunos, seus colegas de trabalho e consigo mesmo. Estava ciente de que isso o tornava difícil de estar por perto, por isso jogou na percepção de si mesmo como uma figura de autoridade estrita para melhor desempenhar seu trabalho.

— Eu sei disso porque tenho esse conjunto de habilidades — explicou Naoya. — Também sei que praticamente todo mundo esconde como de fato se sente. Eles atendem às expectativas das pessoas até certo ponto… assim como você.

Alguns se escondiam atrás da máscara de um professor malvado, alguns se escondiam atrás do rosto sorridente de um estudante perfeito e popular, e outros mantinham todos à distância com um verniz de cinismo e ironia. Todos tinham essas máscaras, múltiplas fachadas que se adaptavam e usavam dependendo da situação. Naoya não acreditava que isso fosse uma coisa ruim — era uma habilidade necessária para passar pela vida, afinal.

— Então não acho que você seja uma pessoa ruim — continuou ele. — A maneira como age é só outro jeito de viver. Isso não é nem um pouco ruim.

— Então, por que me repreendeu mais cedo? — perguntou ela.

— Bem, só achei que era um desperdício.

— Como assim? — A voz de Koyuki era baixa e triste.

Naoya pegou a mão dela e esclareceu:

— Achei um desperdício que, embora você seja uma pessoa tão boa e esforçada, acabe levando a pior. As pessoas sempre têm a impressão errada de você.

— Não sou boa… — murmurou Koyuki, esforçando-se para fazer contato visual.

— As pessoas más ajudam seus colegas de turma? — perguntou Naoya com um sorriso. — Quer mesmo se dar bem com os outros, não é? Se continuar sendo honesta consigo mesma e com os outros, vai ganhar tantos amigos que logo não saberá o que fazer com todos.

— Acho que não há ninguém que queira ser meu amigo, no entanto…

— O que quer dizer com isso? Eu estou bem aqui.

— Você não conta. Você é um esquisito — retorquiu Koyuki com o rosto vermelho.

Naoya sentiu que ele tinha acertado em sua avaliação, então iria apoiá-la e ajudá-la a conseguir exatamente isso.

— Isso não é algo que muda da noite para o dia, mas podemos trabalhar para ajudá-la a articular melhor seus sentimentos a partir de agora. Eu te ajudarei o quanto precisar — disse ele, gentilmente.

— Sasahara… — Koyuki parou ao encarar Naoya. Levou um tempo, mas então assentiu em resposta. — Tudo bem! Vou mostrar isso a todos! Vou ser muito honesta! E nunca mais serei chamada de “Rainha dos Espinhos” de novo!

— Sim, isso é o que eu gosto de ouvir! — comemorou ele.

Podia ver que ela estava falando sério sobre mudar. Quando a maioria das pessoas é confrontada com suas falhas, optam por ignorá-las e continuar como são. Koyuki não era assim. Em breve chegaria o dia em que aquele apelido impróprio não a assombraria mais.

E enquanto Naoya pensava isso, uma percepção veio a ele: eu realmente gosto dela. Podia sentir isso no fundo de seu coração. Sempre pensou que o amor era apenas algo que convenientemente cairia em seu colo um dia. Levou um tempo para perceber que era o que tinha acabado de acontecer.

— Obrigada, Sasahara — disse Koyuki.

— Pelo quê?

— Se não fosse por você, eu teria continuado sendo a mesma pessoa que sou agora, e sei que acabaria me arrependendo de tudo isso mais tarde. Quero que saiba que sou grata por isso.

— Claro, mas eu realmente não fiz nada — respondeu ele, um pouco sem jeito. Apesar de sua tentativa de um sorriso natural, Naoya ainda estava um pouco tímido por sua súbita percepção.

 

 

 

— Só te dei o empurrão que precisava — disse Naoya. — A partir de agora, você será aquela que fará amigos.

— Amigos, hein? Não sei se realmente consigo, no entanto… — sussurrou ela, hesitante.

— Calma, calma. Fique sabendo que não precisa fazer nada em particular. Basta ser você mesma.

— Ser eu mesma? Que tipo de coisa devo fazer? — perguntou ela.

— Tipo, uh… — Ele se atrapalhou. Não era como se Naoya fosse alguém cheio de amigos; não era bem um especialista no assunto. — Vocês podem ir para a escola juntos, comer juntos, ir para casa juntos…

— Isso soa como uma amizade de alto nível… Sasahara? O que foi? — perguntou Koyuki enquanto inclinava a cabeça para o lado em perplexidade.

Naoya percebeu que estava basicamente descrevendo o que ele e Koyuki começaram a fazer no dia de hoje. O que significa que somos, basicamente, apenas amigos, concluiu em sua mente. Naoya tinha algumas amigas, então sabia que a amizade entre um homem e uma mulher era totalmente possível. Para colocar de outra forma, nunca teve nenhum outro tipo de relacionamento com uma mulher. No passado, sempre que uma garota se aproximava, ele a dispensava.

Gostava de passar tempo com Koyuki; de verdade mesmo. Eu gosto dela, mas de que forma? Amor? Ou não passava de uma amiga?

Naoya percebeu que não sabia dizer exatamente o que era.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Guilherme

 

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