“15° dia, 2° mês, 1548° ano, Calendário Continental — Laboratório do Calabouço de Genia.”
Nesse dia, eu visitei o laboratório do calabouço de Genia próximo à capital com Aisha.
Estava lá para ver o progresso atual no projeto conjunto entre o Reino de Friedônia, o Império Gran Caos e a República de Turgis: a broca.
Hoje eles iam realmente girar a broca e testá-la.
Ela era o trabalho da ultracientista do reino, Genia, a alto elfa, Merula, Trill Euforia, que era a irmã mais nova tanto da Imperatriz Maria quanto da irmãzinha general Jeanne do Império, e Taru, a ferreira da república.
Além dessas quatro, o noivo e guardião de Genia, Ludwin, estava presente, assim como os camaradas de Taru, Kuu e Leporina.
A propósito, a líder desse projeto da broca era a Trill.
Trill fora a primeira a começar o desenvolvimento da broca, e possuía experiência como pesquisadora no Império, então dessa vez Genia e as outras estavam atuando com suas assistentes.
Eu fui falar com ela.
— Pois bem… Madame Trill.
— Pode me chamar só de Trill. Posso ser uma princesa do Império, mas me mandaram aqui para se livrar de mim.
— Ok. Trill, então. Por favor, comece o teste e explicação.
— Farei exatamente isso. Pode ser perigoso, então não fique em frente ou atrás da broca experimental, a “Pequena Furadeira Mark XII.”
— Tem vários problemas com esse nome…
Como quão preguiçoso era, ou como estava me perguntando o que aconteceu com a Mark I até XI…
A máquina de perfuração de teste que Trill apontava não era no formato de cone que todos poderiam imaginar, mas sim uma broca do tipo carimbo como aquelas usadas em tuneladoras para cavar túneis de metrô. O tipo cônico tinha um certo charme, mas isso provavelmente era mais prático.
Quando perguntei, acabou que Taru foi quem propusera esse formato.
— Com um formato de cone, a ponta é frágil e quebra enquanto está cavando. Se essa quebra deixar a ponta plana, seu poder de penetração cai, então a fizemos plana para começo de conversa e usamos múltiplas lâminas para cavar.
— Ookyakya! — Kuu riu. — Pensei que parecia incomum, mas tem um bom motivo para isso.
Ouvindo a explicação de Taru, Kuu parecia impressionado.
— Ah, ei — ele completou. — Você acha que podia fazer uma versão menor para colocar na ponta do meu porrete?
— Se eu fosse fazer isso, uma ponta de lança afiada seria mais rápida — Trill retrucou. — Para uma arma, você quer a força para perfurar em um instante. A broca, por outro lado, vai continuamente ficar cavando um objeto duro, então sua forma precisa priorizar a sustentabilidade. Não é adequada para ser usada em uma arma.
— Hum… parece cilíndrico, então pensei que se escondesse uma na ponta, poderia pegar de surpresa qualquer um que achasse que eu estava usando um porrete normal. Ookeekee, é uma pena.
Kuu deu de ombros, mas não parecia tão desapontado assim. Ele tendia a viver o momento, então pode ser que ele estivesse dizendo qualquer coisa que viesse à cabeça na hora.
Saímos do lado da broca experimental para um lugar um pouco mais longe. Disseram que Trill quebrara todo tipo de coisas enquanto esteve no Império, então estava preocupado que estivesse muito perto, mesmo a essa distância.
Aparentemente, Aisha tinha a mesma preocupação.
— Senhor, por favor, fique atrás de mim.
Ela colocou a mão na empunhadura de sua espada grande enquanto posicionava-se entre mim e a broca. Se aquilo quebrasse e mandasse cacos voando na nossa direção, provavelmente pretendia cortá-los.
Genia e Trill tinham ambas cometido infrações no passado, então aceitei a gentil oferta de Aisha e me escondi atrás dela.
— Agora, vou começar — Trill disse, erguendo a mão.
Um pesquisador de jaleco branco apertou um botão de algum tipo.
Bwun, een, eeeen, eeeeeeeen, eeeeeeeeeeeeeen…!
A parte dianteira da broca começou a girar enquanto fazia sons estranhos.
Ela era lenta no começo, mas a velocidade gradualmente aumentou, e logo, as incontáveis lâminas embutidas na frente revolviam rápido demais para ver com os olhos.
— …Parece estável — eu disse depois de talvez um minuto.
Trill encheu o peito, que, em relação a sua altura, era bem grande, com orgulho.
— Sim. É tudo graças à irmãzona Genia.
Ela então abraçou o braço esquerdo de Genia.
Apesar de ser mais nova, Trill era a mais bem-dotada das duas, então o braço de Genia estava enterrado no corpo suave dela.
— A maior tarefa foi fornecer o poder mágico armazenado ao aparato de uma maneira estável, mas o sistema de armazenamento de poder mágico que a irmãzona Genia forneceu deu conta de tudo. Ahh, quão maravilhosa é a tecnologia da Casa de Maxwell! — Trill disse entusiasmada. — Viva Maxwell!
— Você está gostando demais disso — Genia disse. — Além disso, seu cabelo em formato de broca está em cima da minha cabeça.
Trill não estava apenas esfregando a bochecha na de Genia, mas também seu cabelo, amarrado num rabo de cavalo lateral distintamente parecido com uma broca, estava em cima do topo da cabeça de Genia, então ela não estava achando muita graça.
Entretanto, Trill não soltou.
— Ahh, se eu fosse um homem, juro que tomaria a irmãzona Genia como minha esposa…
E ela estava dizendo umas coisas bem incríveis também.
Eu sabia que ela era uma grande fã dos ultracientistas do reino, a Casa de Maxwell, mas isso já estava menos para ela como fã e mais como adoradora.
Parecia que nem Ludwin podia deixar essa linha ser ultrapassada. Ele tomou Genia pelo braço e separou as duas.
— Por favor pare, Madame Trill. Genia é a minha noiva.
Genia, com um olhar mostrando que sentia como se tivesse sido finalmente libertada, escondeu atrás de Ludwin.
Trill olhou para Ludwin e ficou de cara emburrada.
— Me dizem que você é o amigo de infância da irmãzona Genia, mas eu vejo que você não tem muito apreço pelas coisas que ela desenvolve. Eu, no entanto, consigo entender direito a forma como ela pensa!
— É verdade. Compreender a grandeza de Genia é difícil para mim.
Ludwin, que era um homem sério por natureza, rebateu o argumento de Trill diretamente.
— Mas estou com Genia faz tempo. Se você afirma entender a grandeza de Genia, eu entendo tudo que tem de errado com ela. Fica reclusa, desinteressada em qualquer coisa fora de sua pesquisa, falta-lhe bom senso, e não tem interesse em como se apresenta aos outros. Apesar de ser uma garota, não cuida de sua aparência, deixa a roupa suja acumular, e se você a deixar só, ela até desmaia porque esquece de comer. Não posso dizer que não tenho minhas ressalvas sobre nossa vida de casados.
— Grande irmão Luu, se você levar a esse ponto, até meus sentimentos vão se ferir, sabe?
Ela apertou os lábios em descontentamento, mas…
Uau, Ludwin realmente passou por muita coisa, hã?
Parecia que Trill estava incomodada com quão ruim era.
— M-Mesmo assim, a grandeza da tecnologia dela ganha!
— Porque você compreende sua grandeza — Ludwin disse — Eu posso apenas vagamente entendê-la. Apesar disso, mesmo confrontado com os pontos negativos de Genia e não conseguindo compreender seus positivos, ainda assim quero que ela fique comigo. Eu ainda quero que seja minha esposa.
— Grande Irmão Luu…
Enquanto Genia agarrava a capa de Ludwin, suas bochechas coraram e seu rosto derreteu em um grande sorriso idiota. Era uma expressão incomum para quem era normalmente tão indiferente.
Acho que se ele fosse falar tão seriamente sobre quanto a amava, isso seria o suficiente para qualquer um sorrir.
Parecia que Trill não estava achando divertido, porque faíscas voaram onde seus olhos e se encontraram com os de Ludwin.
…Espera. Porque isso estava virando um triângulo amoroso? Era um incomum, além disso, onde apesar de ter duas mulheres e um homem envolvidos, Genia era quem estava no centro.
Bem, no interesse das relações amistosas com o Império, não podia deixar que a relação entre o comandante da nossa Força de Defesa Nacional e a embaixadora do império azedasse, então teria que bater meu pé.
Entrei no meu modo rei só um pouquinho, e falei com Trill com um tom amedrontador.
— Madame Trill. Se você quer ver problemas no casamento de uma de minhas vassalas…
— O-O que vai fazer a respeito? — ela devolveu defensiva.
— Relatarei suas palavras e ações de agora, sem nenhum detalhe omitido, para Madame Maria e Madame Jeanne. Madame Jeanne me disse: “Por favor, diga-me se ela fizer qualquer coisa para envergonhar o Império. Trarei ela de volta, mesmo que tenha que amarrar uma corda no seu pescoço.”
Dessa vez, foi Trill que se escondeu atrás do grande corpo de Ludwin.
— E-Essa é a única coisa que eu não quero!
A distância entre ela e Genia, que já estava se escondendo ali, diminuiu, e Genia parecia incomodada por isso.
— Estou finalmente numa posição de aprender com a Irmãzona Genia! — Trill lamentou — Não quero que ninguém me leve de volta pra o Império! Poupe-me disso, pelo menos!
— Então, por favor, evite fazer confusão sobre o casamento de qualquer um de meus vassalos, ok?
Olhei para ela um pouco.
Trill rapidamente bateu continência.
— Entendido, senhor!
Minha nossa.
Vendo esse vaivém entre nós, Kuu sorriu pretensiosamente.
— …O que foi? — perguntei.
— Não, só estava pensando que você realmente faz o que diz, mano.
— O castelo está num frenesi preparando para a minha coroação e casamento agora — disse cansado — Mais do que isso, eu tenho um plano de organizar casamentos para vários de meus vassalos em lugares ao redor da capital ao mesmo tempo. Já estão faltando casais. Se alguém tentar ficar no caminho do casamento de Ludwin e Genia, isso é um problema para mim. Eu não preciso de mais trabalho.
— Não é um rancor muito pessoal para se basear para agir? — Kuu questionou.
— Não vou negar.
Já estava ocupado, então não tinha tempo para isso. Para ser franco, queria passar mais tempo cuidando de Cian e Kazuha. Ahh, como eu queria uma licença-paternidade!
Enquanto eu pensava sobre isso, Kuu ficou com um olhar pensativo.
— Casamentos, hã…
Parecia que ele estava planejando algo, mas, bem, eu provavelmente podia deixá-lo em paz por ora.
Agora, eu tinha que me concentrar no que estava na minha frente: a broca, “Pequena Furadeira.”
Enquanto ficamos batendo papo que nem idiotas, ela ficou girando.
Um dos magos da terra que estava de pé perto carregou a Pequena Furadeira para a frente de uma grande parede de pedra que fora preparada, e então moveu a broca em frente.
Estávamos movendo a Pequena Furadeira com a magia de manipulação da gravidade de um mago da terra por ora, mas na prática, ela seria empurrada por um animal grande como um rinossauro.
Enquanto a parte dianteira da Pequena Furadeira fazia contato com a pedra, ela continuava girando e desgastando.
O poder para continuar girando quando batia na parede de pedra era incrível. No entanto, a velocidade com a qual ela estava cavando a pedra parecia bastante baixa. Apesar de estar fazendo progresso constante, ela se movia tão lentamente quanto um jabuti andando.
— Bem… é um começo, eu acho? — eu disse — Não dá pra fazê-la cavar mais rápido?
— É isso que vamos ter que resolver daqui para frente — disse Merula, que apesar de ser parte do time de pesquisa parecia ter sido deixada de lado um pouco. — Atualmente, esse é o mais rápido que ela consegue cavar. Se aumentarmos a velocidade em que se move sem aumentar a velocidade que pode cavar, a máquina quebrará. É por isso que suspeito que teremos que melhorar o feitiço para o eixo central girar mais rápido.
— Você acha que isso é possível? — perguntei.
— Acho que levará um tempo. Porém, nós vamos fazer isso.
Se Merula, uma expert em feitiços mágicos, estava encarregada do trabalho, eu poderia deixar isso com ela com segurança.
Felizmente, parecia estar girando estável.
— O rotor em si está estabilizado, certo? — perguntei — Gostaria de pensar em outros usos para ele também.
— Ookya! — Kuu exclamou — Nesse caso, mano, estou interessado naquele “esqui de lazer” que você estava falando antes. Se tivermos um mecanismo de rotação, podemos fazer o que você estava chamando de teleférico, e é isso que você disse que faria esse “esqui de lazer” possível, certo?
Os olhos de Kuu estavam brilhando. Agora que ele mencionou, tínhamos discutido isso.
É verdade. Se tivesse esqui de lazer, a república, com sua neve e termas, poderia atrair turistas do reino e do Império para conseguir moeda estrangeira.
Quer dizer, eu gostaria de ir esquiar com a minha família também… mas ainda assim.
— Eu teria que dar essa máquina a Turgis para isso, sabe… — comecei.
— O que você está dizendo, mano?! Esse é um projeto de desenvolvimento conjunto entre nossos três países. Ninguém vai deixar o reino monopolizá-lo!
Kuu soava ofendido, mas tentei acalmá-lo enquanto explicava.
— Não, eu sei disso, é claro. Mas alguns dos materiais usados nessa máquina são sensíveis. Se eu não for cuidadoso, isso pode causar um conflito por causa deles. Com o Estado Papal Ortodoxo Lunariano particularmente.
O material em questão era, é claro, o elemento central do sistema de armazenamento mágico, o minério de maldição.
O minério de maldição, que tinha a propriedade de anular (na verdade absorver) a magia próxima, era odiado nesse mundo onde a magia tendia a ser vista como a obra de espíritos ou deuses. Essa tendência era especialmente prevalente em países como o Estado Papal Ortodoxo Lunariano e o Reino Espiritual de Garlan, então se eles descobrissem que estávamos usando minério de maldição, estaria fadado a causar sérias dores de cabeça.
Parecia que era comumente encontrado no sudeste deste continente, e nosso país tinha reservas em abundância. Eles provavelmente também poderiam minerá-lo no leste da república. Eu poderia manter isso em segredo se usássemos somente em nosso país, mas se compartilhássemos a informação com outros países também, havia o risco de uma hora ela vazar para terceiros.
Quando isso acontecesse, quantos países da humanidade estariam dispostos a apoiar seu uso que determinaria como as coisas se desenrolariam depois disso?
Em vista da resistência de pessoas conectadas ao Estado Papal Ortodoxo e Reino Espiritual, o Império e a república realmente poderiam continuar cooperando conosco?
Eu teria que sondá-los sobre isso enquanto negociava.
Foi isso que disse a Kuu:
— É certamente verdade que essa máquina terá um grande efeito positivo na República de Turgis. Se o país lucrar, será mais fácil calar aqueles que apoiam a política da expansão ao norte, então eu gostaria muito de vê-lo instaurar essa tecnologia.
— Mano…
— É só que precisamos falar mais sobre como os materiais usados nela devem ser lidados primeiro. Então, Kuu, gostaria de organizar conversas entre o reino, Império e república. Tudo bem ter você como representante da república lá?
Kuu bateu no peito.
— Sim! Meu velho me deixou encarregado de quaisquer negociações envolvendo essa broca. Não sou muito esperto, mas posso ver que essa máquina abrirá um caminho para o futuro da república. Então, se isso fizer essa coisa entrar na república, farei tudo que puder para ajudar!
Os olhos de Kuu estavam sérios.
Ele fora meio bobalhão quando o conheci, mas em um certo ponto, tornara-se muito confiável. Havia um ditado sobre quão rápido garotos cresciam. Sentira isso com Julius também. Parecia que contanto que as pessoas permanecessem vivas, elas continuavam crescendo.
Tinha que continuar dando o meu melhor também… ou assim pensava, mas…
— Ookyakya! Não consigo parar de pensar no que é esse negócio de “esqui de lazer”. O nome soa bem — Kuu acrescentou com um olhar diabólico.
Parecia que o amadurecimento dele era meio irregular.
Apertei sua mão meio por estar irritado.
Nem notei os olhos fixos sérios de Taru e Leporina em Kuu.
Alguns dias depois, as coisas estavam movimentadas na oficina de Taru na cidade dos artesãos em Parnam.
— Ei, Taru — Kuu disse — Terminamos de lixar a bigorna. Onde você quer que coloque?
— Ahhh, é bem pesada. — Leporina gemeu.
Kuu e Leporina estavam carregando uma bigorna de aparência pesada. Eles tinham fizeram manutenção dela fora da oficina até agora pouco.
Ouvindo suas vozes, Taru, que limpava as cinzas da fornalha, parou e limpou a mistura de fuligem e suor da testa. Ela apontou para um lugar perto dela.
— Aqui perto da fornalha.
— Saquei — Kuu disse.
Kuu e Leporina deixaram a bigorna onde foi pedido.
Os três estavam atualmente fazendo uma grande limpeza na oficina de Taru.
A oficina ficara vazia recentemente por causa do trabalho dela no projeto de desenvolvimento da broca, então Taru estava usando seu dia de folga para limpar o lugar e fazer manutenção em suas ferramentas lá.
Kuu se oferecera para ajudar, e trouxe Leporina junto também.
Desde que estavam na república, Kuu queria mostrar seu bom lado para Taru, então ele costumava ajudá-la a limpar a oficina, e estava acostumado a fazer manutenção nas ferramentas dela.
Leporina, que era levada junto para ajudar, também estava acostumada.
Taru antecipara que o trabalho levaria o dia todo, mas com a ajuda extra, eles terminaram antes do sol se pôr.
Como agradecimento pela assistência, Taru serviu aos dois chá preto que ela tinha deixado esfriar depois de fazer. Ainda era antes da primavera, frio, mas os três estavam suados do trabalho, então o chá frio tinha um gosto especialmente bom.
— Obrigado por hoje — Taru disse com vergonha, escondendo a boca com a xícara — Mestre Kuu, Leporina.
— Ookyakya! Não foi nada — Kuu disse energicamente — Certo, Leporina?
— Sim. — Ela parecia meio exausta, com as orelhas caídas — Já faz tempo que estou acostumada a ficar acabada por causa do Mestre Kuu.
Taru observou esses dois indivíduos contrastantes por um momento.
— Então, Mestre Kuu. Ainda não ouvi o que você veio fazer aqui — ela disse finalmente — Por que veio me ver hoje? Você não veio só para ajudar a limpar a oficina, suponho?
— Ookya? Ah! Certo, certo!
Kuu deu um tapa no joelho como se tivesse acabado de lembrar.
Ah! Ele realmente veio a negócios… Os olhos de Taru arregalaram-se de surpresa.
No caso de Kuu, era mais do que possível que ele tivesse só passado por puro capricho. Ou melhor, antes disso, isso seria exatamente o que Kuu estaria fazendo. Entretanto, hoje ele falava com Taru com um olhar sério.
— Queria ouvir sobre aquela broca em detalhes. E aí? Como está o desenvolvimento?
— Indo sem problemas — Taru disse — Mesmo quando tem um problema, se Madame Genia e Madame Trill discutirem sobre por um tempo, elas têm um grande avanço em pouco tempo. Aquelas duas são espertas. Daí, é simplesmente uma questão de eu fazer partes da qualidade que elas demandam, e Merula fornecer os feitiços.
— Simplesmente…? Mas tenho certeza que não é tão fácil quanto você faz soar. Ele soltou um suspiro.
Não havia dúvida de que Genia e Trill eram gênias, mas para Taru poder responder às demandas dessas gênias certamente significava que ela era uma artesã de primeira.
Kuu sorriu satisfeito.
— Ookyakya, é tudo graças a você. Se não estivesse aqui, nosso país não teria entrado no projeto de desenvolvimento da broca. Estou muito feliz que veio comigo ao reino.
— …Claro.
A resposta de Taru foi seca, mas suas bochechas coraram um pouco. Ela provavelmente não se incomodou com o elogio.
Leporina estava observando Taru com um olhar tranquilo.
Pondo uma mão no joelho, Kuu levantou e pegou a broca operada a mão para uso na madeira. Enquanto a girava, Kuu soltou um leve suspiro.
— O problema agora é: nosso país vai conseguir colocar em uso a broca que foi desenvolvida? A questão de se temos pessoas que conseguem ou não… terá um efeito no seu futuro.
— MESTRE KUU?
Kuu não estava agindo como si mesmo, então Taru e Leporina ficaram preocupadas. O normalmente bobalhão estava agindo completamente como outra pessoa.
Quando Kuu desdobrou um mapa do continente na frente das duas, ele sorriu como uma besta que tinha o olho em sua presa.
— Tenho pensado sobre o que está por vir desde que conheci Fuuga no Norte. O futuro da República de Turgis.
— O futuro da república… — Taru sussurrou.
Leporina ficou em silêncio.
Taru ficou surpresa com a seriedade da discussão de repente, mas Leporina vira Fuuga na União das Nações Orientais com Kuu, e já lhe tinha sido dito tudo isso.
— No futuro, o Malmkhitan de Fuuga se erguerá no Norte — disse Kuu — Ele tem a ambição, assim como a habilidade, para fazer isso acontecer. O Reino de Friedônia do mano está no Leste, e o Império Gran Caos da Imperatriz Maria está no Oeste. É provável que os eventos futuros no continente girem em torno desses três países.
Kuu apontou para o mapa enquanto dizia isso, então apontou para a República de Turgis.
— No meio de tudo isso, o que nosso país fará? Estamos envolvidos na aliança médica e projeto de desenvolvimento conjunto da broca, então temos relações amistosas com o reino e o Império. Mas isso não é suficiente para relaxarmos. Se o Malmkhitan de Fuuga engolir a União das Nações Orientais, e então aliar-se com ou invadir e destruir o Estado Papal Ortodoxo Lunariano e o Estado Mercenário Zem, suas presas podem alcançar até a república. Não é possível assegurar nem que o reino e o Império ficarão a salvo para sempre.
Kuu sentou-se, pondo os cotovelos em cima das pernas cruzadas enquanto gemia.
— Se isso acontecer, nosso país conseguirá enfrentar isso? A terra fica presa em gelo e neve durante o inverno, tornando difícil que inimigos se aproximem, mas isso não nos dá muita esperança de vitória. A neve e o gelo abaixam nossa produtividade também, fazendo difícil desenvolver nosso país. Dito isso, não é realista pensar que poderíamos expandir ao norte e reivindicar alguma terra que não congele. Não temos uma força aérea devido ao frio intenso e às correntes de ar violentas, então teríamos dificuldades para manter qualquer terra que pudéssemos tomar.
A república era tão fria que wyverns e dragões a odiavam, as correntes de ar violentas mantinham forças aéreas longe, e no inverno as estradas ficavam fechadas pela neve, tornando difícil que inimigos estrangeiros entrassem.
Entretanto, pensando por outro lado, isso também significava que eles não podiam construir sua própria força aérea, e no inverno as linhas de suprimentos para a terra natal eram cortadas, então era difícil invadir outros países também.
Muitos da geração mais velha da república ainda acreditavam na política de expansão ao norte, mas Kuu pensava que eles precisavam apressar-se e acordar desse sonho impossível.
Considerando o futuro da república, precisamos de um novo caminho para substituir a política de expansão ao norte — disse Kuu — Estou pensando que esse projeto de desenvolvimento da broca pode ser o avanço que precisamos.
— Um novo caminho, você diz? — Leporina perguntou.
Kuu assentiu firmemente.
— Nosso povo é habilidoso com a mãos. Os acessórios que eles criam quando enfiados em suas casas no inverno são detalhados, e eu acho que é justo dizer que somos os melhores no continente quando se trata de fazer coisas assim. Quero aprimorar isso ainda mais. Quero fazer a república ser indispensável ao reino e Império, da mesma forma que sua habilidade como artesã é absolutamente vital para a broca.
Basicamente, o que Kuu estava pensando era nacionalismo tecnológico.
A habilidade de fazer partes complicadas podia, por vezes, ser a carta diplomática mais poderosa.
Se ele conseguisse fazer com que as partes construídas na república fossem indispensáveis para o reino e Império, poderia esperar que os outros dois países fizessem várias coisas em retorno para beneficiar seu país.
Além disso, se a broca fosse desenvolvida e abrisse as estradas no inverno, isso significaria que eles poderiam importar grandes quantidades de comida. Ela ajudaria a arrecadar os fundos para isso também.
— A melhora de nossa tecnologia por fim tornará a república rica — Kuu disse — Para conseguir isso, é importante que o país apoie artesãos como você, Taru, que criarão essa tecnologia. Portanto, preciso mudar mentes na república.
As pessoas da república eram habitantes de um país com tecnologia avançada, mas somente pensavam nos acessórios que faziam como uma forma de passar o tempo durante o inverno. Até que esse pensamento mudasse, ele não poderia esperar mais avanço tecnológico.
— Planejo falar com meu pai sobre isso também, mas devíamos saudar artesãos que façam algo incrível, e reprimir aqueles que produzem um monte de lixo malfeito — Kuu disse — Isso desenvolverá o desejo de criar algo melhor no país, e cresceremos. Esse é o caminho que a república deve tomar.
Taru assentiu para Kuu, que fez punhos com as mãos enquanto falava.
— Acho que é uma boa ideia. Nossas técnicas são um tesouro.
— Mestre Kuu, você consegue dizer coisas impressionante, afinal!
Leporina estava até chorando.
Kuu riu envergonhado.
— Eu não vim ao reino só para brincar, sabe? Estive observando as políticas do mano, e absorvendo o que acho que devo delas. É por isso que eu sei o que precisa ser feito.
Então, Kuu coçou a nuca, incomodado.
— A habilidade de criar tecnologias superiores requer adaptabilidade. Isso é algo que nos falta.
— Hã? Adaptabilidade? — Leporina perguntou.
— É. A forma como o mano usou as joias da Transmissão de Voz para criar programas de transmissão. Ele usou algo que só tinha sido usado para discursos para fornecer entretenimento ao povo do seu país. Ninguém nesse mundo pensou nisso antes, certo? A habilidade de adaptar e aplicar tecnologias existentes é garantida ser importante daqui para frente. Como o mecanismo de rotação na broca. Tenho certeza que o mano está pensando em todo tipo de usos para ele.
— Você pode estar certo. — Taru assentiu com o olhar pensativo — Tenho certeza que Madame Genia e Madame Trill pensarão em todo tipo de usos para ele. Mas eu não posso bolar ideias assim.
— É, nem eu. É por isso que, embora talvez não sejam do mesmo nível do mano, precisamos achar pessoas nossas que possam pensar nessas coisas. Muitas delas, também.
— Se vamos achar essas pessoas, tem alguma ideia de onde procurar? — Leporina perguntou.
Kuu sorriu maliciosamente.
— Não, agora não. Mas com algum tempo, podemos fazê-las.
— Hum? O que você quer dizer?
— Reunimos algumas pessoas inteligentes de nossa nação, jovens e cheios de motivação, e os enviamos para o reino e Império para estudarem. Assim como estou aprendendo com o mano. Daí, se eles voltarem para casa para ensinar, isso deve aumentar o número de pessoas que conseguem pensar com adaptabilidade na república.
A ideia de Kuu era reunir estudantes para estudarem fora no reino e Império. É claro, ele precisaria conseguir a permissão de Gouran Taisei depois, o homem que era seu pai e o chefe da república, mas Kuu planejava convencê-lo, não importa como.
Leporina ficou impressionada.
— Uau. Isso é incrível, Mestre Kuu. Nunca soube que você esteve pensando sobre tudo isso.
— É, bem, pode continuar me elogiando, sabe? — Kuu disse rindo envergonhado — Bem, eu sou nosso futuro chefe de Estado. Eu ficaria numa má posição se todo mundo fosse inútil quando eu assumir. Tenho que contratar qualquer pessoa útil que eu encontrar, independente de raça ou idade.
— Acho isso maravilhoso.
Taru parecia genuinamente impressionada, o que só fez Kuu mais feliz.
— Ookyakya! Está se apaixonando por mim de novo?
— Você se deixa levar muito rápido — ela suspirou. — Como você tirou essa conclusão?
— Bem, porque eu quero que você seja a esposa do futuro chefe de Estado.
Ouvindo-o expressar seu afeto por ela diretamente assim, Taru ficou sem palavras.
A forma como ele disse foi despreocupada como sempre, mas seus olhos estavam sérios e focados diretamente nela.
— Sou sempre sério, sabe? — Kuu disse — Sei que não podemos agora, mas tenho toda a intenção de fazê-la minha esposa quando voltarmos para a república. Afinal, quero que você aja com uma representante dos artesãos da república. Quero que ande comigo.
Ela ficou em silêncio.
— Bem, não precisa ter pressa para responder. Pense nisso.
Com isso, ele levantou-se com um “Opa” e deixou a oficina.
Deixadas para trás, Taru e Leporina encararam vagamente a porta por onde ele saiu.
Por fim, voltando a si primeiro, Leporina perguntou a Taru:
— O jovem mestre parecia sério. O que você vai fazer?
Tendo voltado a si, também, Taru respondeu essa pergunta com outra:
— Hã?! O que eu vou fazer…? Você está de acordo com isso, Leporina? Você também ama o Mestre Kuu, não?
Depois que ela perguntou isso, tentando ler a expressão dela durante, Leporina assentiu.
— Certamente, é verdade que eu tenho sentimentos por Mestre Kuu. Entretanto, Mestre Kuu será um dia o chefe da república. Se ele fosse pedir a minha mão por si mesmo, isso seria uma coisa, mas eu não posso pedir para ele me tomar como esposa por mim mesma. É por isso que, honestamente, tenho inveja de você.
— Leporina…
Vendo o olhar preocupado de Taru, Leporina deu uma risadinha.
— Até você deixar seus sentimentos claros, por lealdade a você, Mestre Kuu não olhará outra mulher. Independentemente de você aceitar ou rejeitar o pedido de casamento dele, acho que ele finalmente vai poder olhar para mim também. Não vou pedir que case comigo, mas posso atraí-lo para que ele queria me fazer sua esposa por conta própria. Só quero ficar ao lado de Mestre Kuu, seja da forma que for.
Taru ficou sem palavras.
Leporina levantou-se e pôs a mão na porta.
— Agora, é só uma questão do que você quer. Não me importo de ficar em segundo lugar, então estou torcendo por vocês dois. Dito isso, se você rejeitar o pedido dele, vou trabalhar para aliviar o coração ferido de Mestre Kuu, e ter certeza de que ele vai me tomar como sua primeira.
— Você consegue se assumir e falar sobre seus sentimentos honestamente. Entendo — Taru disse baixo.
— Porque quero ficar com Mestre Kuu, do fundo do meu coração.
Quando Leporina disse isso, como se colocando suas palavras em prática, ela seguiu Kuu pela porta. Deixada para trás, Taru perguntou-se.
O que eu quero…?
Era um dia de inverno quando eu ainda tinha dez anos.
Eu odiava o inverno quando era menor. A República de Turgis ficava parada pela neve e gelo no inverno, e quando eu abria a porta, a neve estava empilhada até a altura do meu peito, então não conseguia sair.
Durante essa estação, os adultos ficavam perto do fogo, com as cabeças baixas, fazendo bicos como artesãos.
Isso era porque não era possível trabalhar nos campos ou pegar os barcos para pescar no inverno, então eles não tinham mais o que fazer. Eles pareciam tão deprimidos, que era maçante.
Eu ficava só olhando vagamente enquanto meu avô ferreiro batia no ferro.
Nessa estação, ferreiros ficavam ocupados arrumando todas as ferramentas que os fazendeiros davam para reparar. Os pedidos chegavam durante o outono, e eles tinham que ser reparados durante a baixa temporada para que ficassem prontos para serem devolvidos na primavera.
Era por isso que, embora fosse inverno, meu avô estava atualmente em frente a uma fornalha ardente, vestindo roupas leves.
Tan, tan, tan…
Ouvia o bater do martelo e encarava as chamas dançantes. Pensei que meu avô era maneiro quanto estava batendo no ferro.
Mas quando eu tinha que ver essa mesma cena dia após dia, inevitavelmente ficava entediante.
Estou entediada…
Enquanto pensava isso, soltei o mais recente de sabe-se lá quantos suspiros naquele inverno.
Bwoon! Meus pensamentos foram interrompidos pelo trombetear de alguma grande besta lá fora.
Era um Mamute-Lanudo?
Mamutes-Lanudos era grandes criaturas cobertas de lã, e eles se arrastavam, sem se deixar abater, pela grossa neve, então eram primariamente criados como grandes montarias para o exército.
Quando corri para a porta, os pés do Mamute-Lanudo estavam bem diante dos meus olhos. Era tão grande que eu precisava olhar para cima para vê-lo, então fiquei de queixo caído.
— Ookyakya! — uma voz jovem e enérgica riu de cima — Estou certo em dizer que essa é a Oficina Ozumi?
Por um momento, pensei que o Mamute-Lanudo na minha frente falara, mas logo notei que um jovem garoto da raça macaco da neve que tinha por volta da minha idade estava espiando pelo lado do Mamute-Lanudo.
— Quero que repare a espada do meu velho, já que eu a quebrei balançando-a.
Parecia que a voz pertencia ao menino.
— Ela… Ela é… — consegui dizer.
Uma garota da raça coelho da neve que parecia um pouco mais jovem que eu, espiou depois do garoto.
— Ei, Jovem Mestre — ela disse — Assustamos a pobre garota chegando de repente de Mamute-Lanudo. Além disso, esse Mamute-Lanudo é um do exército que o seu pai está criando, e o pegamos emprestado sem permissão, também, então ele vai ficar bravo de novo, sabia?
— Ookyakya! Que mal tem? Seria exaustivo andar pela neve.
O garoto macaco da neve não parecia nem um pouco interessado na repreensão da garota coelha branca. Provavelmente havia uma diferença de status entre eles. O garoto estava agindo como se fosse mais importante do que ela.
Então, o garoto agilmente pulou do Mamute-Lanudo.
— Ookya?!
Ele não era mais alto do que eu, então ele ficou com a neve até a altura do peito.
Talvez se sentindo teimoso, o garoto gritou “Fungh!” e arrastou-se pela neve em minha direção.
Quando ele ficou na minha frente, o garoto finalmente deu um sorriso aberto e disse:
— Sou Kuu. E aquela lá em cima é Leporina. E você?
— …Taru.
— Você se chama Taru, hã? É um prazer conhecê-la, Taru.
Quando ele disse isso, o garoto que se apresentara como Kuu pegou minha mão e a apertou com força.
O garoto cortara a neve que me impedia de sair como se não importasse se ela estava lá.
Esse foi meu primeiro encontro com Mestre Kuu.
— É de manhã… — murmurei.
Eu tinha o dia de folga, mas por força de hábito, acordara antes do nascer do sol. Como de costume, ainda estava escuro fora.
Enquanto saía da cama, lembrei-me do sonho que acabara de ter. Era um sonho de quando eu era pequena, a primeira vez que encontrei Mestre Kuu e Leporina.
Depois daquele dia, Mestre Kuu e Leporina tinham repetidamente vindo a minha casa para brincar.
Havia limites para a diversão de podíamos ter dentro de casa, no entanto, então Mestre Kuu sempre era rápido em me levar para fora. Andávamos de Mamute-Lanudo e íamos a todo tipo de lugares.
Porque Mestre Kuu era imprudente por natureza, ele levava Leporina e eu para lugares perigosos onde ficávamos presos em avalanches, éramos perseguidos por criaturas selvagens, levávamos bronca de adultos que descobriam, e passávamos por todo tipo de situações um tanto injustas.
Boas memórias.
Tentei comparar o Mestre Kuu de então com o de agora.
Acho que… Mestre Kuu realmente mudou.
Senti que vir a esse país — entrando em contato com vários mundos — ajudara-o a ampliar seus horizontes.
Ele fora junto para a União das Nações Orientais, então era tão imprudente como sempre, mas em meio a tudo isso, ele tinha a consciência de que era o filho do chefe de nossa república e estava vendo o que era bom para o nosso país, e o que nos ameaçava lá fora.
Acho que ele cresceu.
Porém, algumas coisas nunca mudam.
Mestre Kuu sempre tentava derrubar obstáculos no nosso caminho.
Como quando ele tinha atravessado a neve para chegar a mim na nossa infância, agora ele estava tentando usar a broca para abrir um buraco e trazer ar fresco para a república, que parecia presa em neve e gelo.
Era porque Mestre Kuu era do jeito que era que, mesmo depois de todo sofrimento que ele tinha feito ela passar, Leporina amava e o adorava, e o seguiria para qualquer lugar.
Eu… queria ajudar Mestre Kuu também.
Não podia lutar, então não podia acompanhá-lo no campo de batalha como Leporina, mas pelo menos poderia ver Mestre Kuu avançar detrás dele.
Assim como Mestre Kuu tinha cruzado a neve para me levar para fora, se houvesse um obstáculo no caminho dele, dessa vez, eu queria ser quem o derrubasse.
Já que eu não tinha força no campo de batalha, eu o faria usando toda a tecnologia a meu dispor.
— …Ok.
Tendo encontrado minha determinação, tomei o café da manhã e deixei a oficina.
Dez dias depois…
— Eeeei, Taruuuu. Estou aquiiii! — Kuu chamou.
— Taaaaruuuu? — Leporina chamou.
Taru acabara de chamar Kuu com uma carta dizendo que ela tinha algo importante a discutir, então ele estava aqui na oficina dela com Leporina.
A fornalha não estava ligada hoje, e era meio dia, então sem luz iluminando o interior do prédio, estava escuro.
Os dois entraram na oficina e olharam em volta.
— Honestamente, aquela Taru — Kuu disse — O que ela está fazendo tão sorrateiramente?
Leporina ficou em silêncio.
Taru tinha agido estranho ultimamente.
Parecia que ela estava sempre ocupada, então era comum ela estar fora quando Kuu vinha visitar a oficina.
Ela parecia estar tramando algo, mas quando Kuu perguntou, tudo que ela dizia era:
— Ainda é segredo.
O “ainda” nessa frase sugeriria que ela queria contar-lhe alguma hora, então ele deixara de lado, mas isso o incomodava.
Tinha uma outra coisa que era estranha também.
Cerca de uma semana atrás, Taru tinha vindo para pegar o porrete que era a arma favorita dele. Ela era quem tinha feito-o para começo de conversa, e dissera que queria fazer uma manutenção, mas ele ainda não tinha pego de volta. Ela chamara-o aqui hoje para devolver?
Enquanto Kuu pensava nisso, Taru saiu de dentro da oficina.
Em suas mãos, ela segurava um objeto que era bem longo e estava enrolado num pano.
— Mestre Kuu, Leporina. Sejam bem-vindos.
— Ei, Taru — Kuu disse casualmente — Esse é meu porrete em que você estava trabalhando?
Taru balançou a cabeça um pouco pesarosa.
— Sinto muito, Mestre Kuu. A manutenção era mentira.
— Ookya? Você não mexeu nele? Por quê?
— O que eu fiz não foi manutenção. Foi uma melhoria.
Quando ela disse isso, puxou o pano do objeto longo.
Dentro estava o porrete de Kuu, que tinha mudado.
A parte central que tinha o design de uma centopeia dourada não era perceptivelmente diferente. No entanto, as duas pontas tinham dois canais cavados nelas, com partes de metal exposto saindo delas.
Se Souma tivesse podido vê-lo, talvez teria pensado que parecia com o Porrete do Dente do Lobo ou Langyabang que apareciam nos jogos de ação inspirados no Romance dos Três Reinos.
— O-O que é isso?! — Kuu gritou de surpresa.
Taru apontou para a parte da cabeça da centopeia.
— Aperte o botão ali.
— Hã? Isto?
Quando Kuu apertou o botão como lhe foi dito, as partes de metal em cada ponta do porrete fizeram Gweeen! e começaram a girar rapidamente.
Enquanto Kuu e Leporina encaravam, chocados com o que viam, Taru explicou, soando um pouco orgulhosa:
— Adicionei a função de broca que você disse que queria, Mestre Kuu.
— Não… Não, não, não, não, não!
Kuu apertou o botão mais uma vez para parar de girar, e então voltou-se contra Taru.
— Não, você disse que não era possível quando falamos antes?
— Foi bem difícil. Se você vai balançá-lo como um porrete, um formato cilíndrico é melhor do que um cônico, então eu consultei Madame Genia e Madame Trill, e isso foi o que pensamos. Espalhar incontáveis lâminas pela ponta foi ineficiente, então usamos dois sulcos, similares a uma broca de mão para fazer buracos na madeira, num formato que cavaria coisas. A seção da broca foi reforçada com a magia de Merula, então é bem forte.
Colocando as mãos na cintura, Taru estufou o peito orgulhosa.
— Se eu fosse nomeá-lo, seria… o Porrete Broca.
Enquanto Taru continuava simplesmente explicando a mudança na arma, Kuu segurava as próprias têmporas.
— Não, é mais do que eu esperava, e fico feliz que fez para mim. Jamais esperava que você fizesse o que queria uma realidade. Você é bem teimosa, hein, Taru? Eu esperava que você ignorasse um pedido idiota como esse.
— Isso é… uma mostra da minha determinação — Taru tocou no Porrete Broca levemente e falou num tom sério — As coisas que você quer fazer, os desejos que você quer se sejam realizados, as coisas que quer alcançar… Eu quero apoiá-lo em todas elas. Mesmo se as pessoas disserem que é imprudente ou maluco, não vou rejeitá-la. Farei tudo que puder com minhas habilidades, e farei acontecer com certeza.
— Taru… Você…
Kuu estendeu a mão para ela. Quando ele fez isso, Taru pegou a mão dele e a pressionou contra o próprio peito.
— Enquanto você continuar olhando para frente, indo em direção a seus sonhos, estarei logo atrás de você o apoiando. Porque em meu coração, quero atravessar com você.
— Isso significa que… você aceitará o noivado?
Taru assentiu levemente.
Kuu estava tão cheio de emoção que tentou abraçá-la, mas quanto ele estava prestes a fazê-lo ela disse “Espere” e levantou uma mão para impedi-lo.
Kuu parou de repente.
Taru perguntou:
— Posso colocar uma condição?
—C-claro! Se for algo que eu possa fazer, qualquer coisa!
— Certo, então…
Taru andou até Leporina, tomando a sua mão.
— Hã? Taru? — Leporina perguntou.
— Venha comigo — ela disse.
Então, de mãos dadas com Leporina, as duas ficaram em frente a Kuu, e Taru disse:
— Se formos casar, quero que seja com Leporina também.
— HÃ? QUEEEEEE?!
Isso fez os olhos de Kuu e Leporina se arregalarem de surpresa.
— U– Um. Taru? Por que isso de repente…? — começou Leporina.
— Posso apoiar Kuu na frente tecnológica, mas tenho muitas fraquezas em outros lugares. Posso fazer armas, mas não posso lutar ao lado dele, e sou muito tímida para ser útil em situações sociais também. Você poderá ajudá-lo em horas assim, certo, Leporina?
Enquanto Leporina a encarava confusa, Taru bufou.
— Talvez chegue uma hora que eu precise aceitar que ele tome uma esposa que possa fazer as coisas que eu não. Se for assim, quero que seja você.
— Taru… — Leporina disse, comovida.
— E-ei! Não decida isso por conta própria… Taru é a que eu…
Kuu tentou interromper, mas Taru cutucou o nariz dele com o dedo.
— Você é sempre tão imprudente. Ouvi dizer que você foi imprudente na União das Nações Orientais também.
— B-Bem, sim, mas…
— Não importa quanto eu me preocupe, não posso ajudá-lo no campo de batalha. Mas Leporina pode defendê-lo, e lutar a seu lado. Se Leporina estiver com você, posso ficar mais calma esperando. Vou apoiá-lo em casa, Leporina irá apoiá-lo fora. Você não odeia Leporina, certo?
— Bem, não, eu não a odeio… mas isso não significa…
Enquanto Kuu gaguejava, Taru continuava pressionando-o.
— Antes, você estava dizendo “Seja minha esposa?” para a irmã mais nova do Rei Souma.
— Estava apenas tentando chamar a sua atenção! — ele gritou.
— Eu sei. Você sempre ficava flertando com garotas, e depois olhando para mim. Eu meio que sabia que você queria me deixar com ciúmes.
Ela estava certa. Quando ela disse todas essas coisas que viam através do orgulho dele, Kuu queria achar um buraco e esconder-se nele.
Enquanto ele se sentia assim, Taru encarou-o de frente e disse:
— Mas você nunca tentou dar em cima de Leporina. Embora ela seja uma garota bonita, e a conheça ainda há mais tempo do que me conhece. É porque sabia como ela se sentia, certo? Se desse em cima dela quando não tinha planos de seguir adiante, acabaria a machucando. É por isso que você nunca fez isso.
Kuu ficou em silêncio.
— Me-mestre Kuu…? — Leporina perguntou hesitante.
Ela acertou em cheio de novo. Viu completamente através de Kuu. Isso era provavelmente porque, embora o tratasse rispidamente, Taru estivera assistindo Kuu todo esse tempo.
— Leporina sempre esteve pensando em você — Taru disse — E você não odeia ela. Eu gosto dela também. Então… Não quero que se sinta excluída.
— Ah, tá, entendi! Me rendo. Me rendo!
Kuu ergueu as mãos em sinal de rendição. Então, desajeitadamente, olhou para Leporina.
— Erm… Então é isso. Você seria minha esposa também?
Leporina deve ter sido dominada pela emoção. Ela estava sorrindo enquanto grandes lágrimas desciam pelo seu rosto.
— Mestre Kuu… Sim! Sei que tenho muito defeitos, mas por favor cuide bem de miiim!
Taru esfregou as costas dela. Leporina que ficara tão feliz com o noivado, e Taru que estava tão ávida por protegê-lo que ela a aceitaria.
Quando essas duas garotas maravilhosas em frente dele, Kuu parecia ter tomado uma decisão.
— Ookyaaa! Se for assim, serei um homem e cuidarei de vocês duas!
—Isso está errado — Taru disse — Nós que cuidaremos de você.
— Taru está certa — concordou Leporina depois de fungar.
Com as duas caçoando dele até o fim, Kuu não foi capaz de agir de uma forma maneira.
Tradução: Enzo
Revisão: Merovíngio
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