Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 09 – Cap. 04 – Conclusão

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Fim da tarde. O ataque dos monstros cessou. Quando ouvimos que Fuuga havia retornado do campo de batalha, levamos Yuriga para o pátio, onde era provável que ele teria pousado.

Chegando lá…

— Ha ha ha! Ótimo! Me dê mais! — Fuuga bradou.

— Não me subestimeeee! — Hal gritou de volta.

Hal e Fuuga estavam envolvidos em uma intensa troca de golpes.

Kaede e Ruby também estavam lá, por isso…

— Ei, por que eles estão lutando? — Perguntei, mas elas deviam estar absortas assistindo à luta, porque nenhuma resposta foi devolvida.

As Lanças das Cobras Gêmeas de Hal e a Lança da Lâmina Crescente de Fuuga tilintavam quando colidiram, o som do impacto ecoando várias vezes.

Julgando pela atitude enfeitiçada dos soldados que assistiam, presumi que fosse uma batalha amistosa, mas como os dois estavam usando suas armas favoritas, a intensidade era de outro nível.

Hal lançou uma série de estocadas com suas duas lanças, mas Fuuga alternava entre a ponta da lâmina e o cabo de sua Lança da Lâmina Crescente desviando-as para longe. Desta maneira, vendo uma abertura, ele retaliou com um golpe de sua arma, mas Hal cruzou suas Lanças das Cobras Gêmeas para bloqueá-lo.

Após uma batalha de ida e volta incrível, eu não podia determinar quem tinha a proeza marcial superior. No entanto, Fuuga era quem parecia mais composto.

— Você tem um bom espírito! Mesmo no meu país, não há muitos guerreiros tão corajosos quanto você! — Fuuga gritou.

— Chega de tagarelice! Não aja como se isso fosse fácil para você!

Hal, por outro lado, parecia estar se animando. Ele era meio que o rei de outro país, então eu apreciaria se escolhesse suas palavras com cuidado, mas… bem, Fuuga não era do tipo que se importa.

Hal deu um salto para trás ao receber um golpe poderoso de Fuuga, desviando o ataque com uma lança enquanto lançava sua gêmea em resposta. Embora o lançamento tenha sido feito de uma posição desequilibrada, Fuuga, após seu ataque, não conseguia reagir tão subitamente.

— Uau, isso é perigoso! — Ele inclinou seu corpo para trás, saindo do caminho. Era possível desviar assim?

Para acompanhar o primeiro ataque, Hal estocou novamente com sua outra lança.

— Isso resolve! — Ele gritou.

— Halbert, não é? Você realmente tem um bom tato para isso. — Fuuga soltou sua Lança da Lâmina Crescente e pegou a Lança das Cobras Gêmeas que havia caído no chão. — Mais cinco anos de treinamento e talvez me alcance.

— O quê! Uau?!

Quando Fuuga agarrou a corrente, ele girou seu corpo para lançar Hal ao redor. Como se estivesse fazendo o arremesso de martelo olímpico, ele o fez correr em círculos ao seu redor. Depois de uma volta e meia, soltou a corrente, e o impulso em excesso fez Hal colidir com o chão.

Fuuga juntou as palmas das mãos e disse:

— Mas até lá, eu estarei ainda mais à frente.

Ele era forte. Tinha literalmente girado Hal por aí.

Tinha uma proeza marcial tão aterradoramente superior que eu podia facilmente entender porque Aisha estaria atenta com ele.

— Hal! — Kaede chiou.

— Calma lá, você está bem?!

Kaede e Ruby correram para o seu lado ao mesmo tempo.

Os olhos de Hal deviam estar girando, porque ele segurou a testa enquanto murmurava, “Ele é forte…” para si mesmo.

— Hm? Ah, se não é o Souma. — Ao nos perceber, Fuuga se aproximou. — Você tem minha gratidão por ter cuidado da Yuriga. Foi de grande ajuda.

— Não foi nada, mas… por que exatamente você estava lutando com o nosso Halbert?

— Era uma amistosa, só uma batalha amistosa. Se eu não lutar com nada além de monstros fracos, as minhas habilidades vão apodrecer. Tinha um cara que parecia ter alguma noção do que estava fazendo, então eu fiz ele me enfrentar.

Monstros fracos…? Ele provavelmente era o único que os via desse jeito.

No Reino de Lastânia, não sabíamos que características cada monstro tinha, então observamos suas formas e comportamentos, nos preparamos e encontramos uma maneira eficaz de combatê-los.

Hakuya, Kaede, Julius e eu fritamos nossos cérebros para criar uma estratégia, com a ideia de que monstros eram horripilantes.

No entanto, para Fuuga, tudo isso não passava de truques bobos.

Se ele tivesse a habilidade marcial para atravessar qualquer problema e a audácia para acreditar nesse poder, poderia enfrentar qualquer inimigo sem medo. Não era apenas um cabeça de vento.

As pessoas se reuniam porque eram atraídas pelo caráter de Fuuga e acreditavam que, com ele, poderiam superar qualquer coisa.

Fuuga olhou para Aisha ao meu lado enquanto dizia:

— Gostaria de pedir permissão para enfrentar a jovem ali também.

— Você quer dizer Aisha?

— Posso dizer pelo rosto dela. Ela é bastante habilidosa. Acho que seria uma boa luta.

— Não, mas isso seria… — Olhei para Aisha.

Seus olhos ardiam com o desejo de lutar.

— Majestade, também desejo lutar com o Senhor Fuuga. Não é sempre que tenho a chance de enfrentar um homem deste calibre. Será uma boa oportunidade para refletir sobre minha própria técnica.

Ela estava pronta para entrar em ação. Nenhum dos dois parecia disposto a recuar.

— …Muito bem. Mas não quero que você se machuque, nem que o machuque.

— Sim, majestade. Ele é o rei de outro país, afinal. Eu entendo.

— Fuuga. Aisha é a mulher que será minha rainha. Seria um problema se ela se machucasse.

— Entendi. Vou me segurar.

Ah… Quando ela ouviu as palavras “se segurar”, Aisha deve ter interpretado como uma provocação, porque ficou irritada.

…Estava começando a duvidar de que tinham me entendido.

Aisha assumiu uma postura com sua espada larga, e Fuuga preparou sua Lança da Lâmina Crescente.

— Então, vou começar!

— Vamos fazer isso!

Os dois se lançaram simultaneamente do chão, lâmina colidindo com lâmina. Naquele instante, um ruído ou onda de choque ressoou, e todos os soldados próximos tiveram suas cabeças jogadas para trás.

 

 

 

A partir daí, os dois trocaram golpe atrás de golpe. Não era uma disputa de habilidade como a batalha de Fuuga com Hal; era uma luta para esmagar o inimigo com pura força bruta.

A parte aterrorizante era que, além de dominar Hal com técnica, Fuuga não estava ficando para trás contra a força estúpida da Aisha. Ele tinha tanto poder quanto destreza. Era o que eu só podia chamar de guerreiro nato.

Enquanto trocava golpes com Aisha, ele soltou uma risada de divertimento:

— O seu Reino é uma masmorra? Você tem de tudo brotando daquele lugar!

Enquanto Fuuga parecia estar se divertindo, Aisha estava chateada.

— Se você está rindo durante uma luta, deve estar fácil para você.

— Nem tanto. Cada golpe é incrivelmente pesado. Mas…

Quando a espada larga de Aisha tentou derrubá-lo com um golpe horizontal, Fuuga se posicionou, uma perna dobrada, a outra esticada (como durante exercícios de aquecimento) deslizando por baixo e saindo do caminho. Em seguida, com um golpe horizontal completo de sua Lança da Lâmina Crescente, ele visou o torso desprotegido de Aisha.

— Urkh!

Talvez por ter percebido que não chegaria a tempo se usasse a lâmina da espada para bloquear, Aisha reagiu com o cabo longo, resultando em um estrondo alto. Mas, em sua postura vulnerável, não pôde absorver o impacto completamente, sendo arremessada por uns cinco metros.

— Espere, Aisha foi lançada?! — Eu gritei.

— Não, para evitar o impacto, ela pulou para trás por conta própria. — Juna explicou ao meu lado.

Olhando para ela, Aisha pousou agilmente, então ser arremessada deve ter sido parte de seu plano o tempo todo.

— Bem, então é uma luta equilibrada?

— …Não — Disse Juna. — Quando Sir Fuuga foi para cortar o torso de Aisha, ele não o fez com sua lâmina, mas com o cabo. Ele deve estar mantendo sua promessa de não a machucar.

— Ah! É por isso que ela conseguiu bloquear com o cabo?

— Sim, exatamente. Se ele tivesse acertado com a lâmina… embora o cabo do montante tenha um núcleo de aço, ela provavelmente não conseguiria pará-lo com ele.

Ela tinha sido salva pelo quão surpreendentemente honesto Fuuga era? Provavelmente a explicação para a expressão deveras frustrada que apareceu no rosto de Aisha depois que ela defendeu o ataque.

Fuuga girou sua Lança da Lâmina Crescente acima da cabeça como um moinho de vento antes de prepará-la novamente.

— Você depende demais de sua força inata, Jovem Senhorita Aisha. Isso te trouxe até aqui, tenho certeza, mas quando você enfrenta um oponente com a mesma força, a superioridade é determinada pela técnica.

— Sou inexperiente… é o que você está dizendo. O mundo realmente é vasto.

— Você ainda quer continuar?

— Claro! Porque como a lâmina de Sua Majestade, como seu escudo, eu não posso perder!

— Ha ha ha! Esse é o espírito! Você é bastante amado, Souma!

— Aqui vou eu! — Aisha se pôs a enfrentar Fuuga novamente.

Embora estivessem trocando golpes mais uma vez, Fuuga parecia estar com a vantagem.

Não havia dúvidas de que ele estava entre os melhores guerreiros do continente. Aquele homem era um rei, que governava um país. Era um pensamento aterrorizante.

No entanto, Aisha não era a maior guerreira de nosso reino à toa, de modo que conseguia se manter firme contra Fuuga de alguma maneira.

Enquanto eu estava absorvido assistindo à luta, Mutsumi, que observava ao nosso lado, falou:

— Ambos têm uma técnica maravilhosa. Só de assisti-los, meu sangue ferve.

Ela olhou para Juna:

— Pelo que posso ver, você também pratica artes marciais. Se importaria de ter um duelo comigo?

Dito isso, ofereceu a Juna uma espada de madeira.

— Eu me especializo em ataques surpresa, não frontais. — Mesmo dizendo isso, Juna pegou a espada. — Mas eu estava igualmente interessada em você, Madame Mutsumi.

— Você estava?

— Sim. Em seu lindo rosto e habilidades de luta que deixam os comandantes da união obcecados. — Juna preparou a espada com uma piscadinha para mim. — Porque deixar Sua Majestade obcecado por mim é meu trabalho.

Não pude deixar de me fascinar pelo seu sorriso travesso.

— Eu não esperava ver você começar a flertar. — Mutsumi sorriu ironicamente enquanto, também, preparava uma espada de madeira. Parecia que a sua tinha uma lâmina mais comprida. Agora que eu pensava nisso, ela possuía uma espada longa em suas costas, então deve ter preparado uma parecida com a que estava acostumada a usar. — De qualquer forma, se isso significa que posso lutar com você, então é conveniente. Vamos lutar de forma limpa e justa.

— Tudo bem… Lá vou eu.

Suas espadas colidiram, e o som estridente da madeira estalando ressoou.

Mutsumi parecia ter a vantagem devido ao alcance poderoso que dava mais peso a cada um de seus ataques, mas Juna fazia um bom trabalho rebatendo os ataques com movimentos rápidos e uma variedade de golpes.

Se uma partia para o ataque, a outra era forçada a se defender. Quando o atacante e o defensor trocavam de papéis, a pessoa se saindo melhor também mudava. Uma batalha de idas e vindas.

Enquanto lutavam, ambas sorriam como se estivessem adorando aquilo.

— Impressionante — Disse Juna. — Posso ver como todos os soldados ficariam encantados com essas técnicas maravilhosas.

Mutsumi retribuiu o elogio:

— Eu poderia dizer o mesmo sobre você. Não é justo que você tenha habilidades tão afiadas acompanhando esse rosto adorável.

Quando as duas se afastaram para recuperar o fôlego, Mutsumi soltou um suspiro.

— Pelo que parece, meu pai quer que eu seduza o Senhor Souma, mas… com alguém como você ao seu lado, não vejo como eu conseguiria ganhá-lo com habilidades marciais de sedução.

— Suas técnicas são bastante diretas — Disse Juna. — Duvido muito que você tivesse qualquer intenção de seguir adiante com isso.

Mutsumi deu uma risada preocupada.

— Não para mim, não. Mas quando você vem de uma família de conspiradores, há momentos em que não se tem escolha. Hee hee, felizmente, agora vou ter mais facilidade recusando. Eu mesma quero escolher o homem com quem vou casar.

— Como uma mulher, quero apoiá-la nessa empreitada.

Ainda existiam limites para o avanço das mulheres na sociedade deste mundo. Elas tinham a força para não perder para eles. Ver as duas me lembrou isso mais uma vez.

Depois de uma pausa, voltaram as trocas de golpes.

Aisha e Fuuga, Juna e Mutsumi. Não parecia que qualquer um dos quatro pararia de lutar facilmente, então fui para onde Kaede e Ruby estavam cuidando de Hal.

Ele franziu a testa quando me viu chegando.

— …Souma. Parece que você me pegou num momento vergonhoso.

— Se me perguntarem, qualquer um que saiba lutar já é bastante louvável, não acha?

Como Aisha e Juna, ou se Liscia estivesse lá também, ela teria se envolvido na ação, sem dúvidas.

Queria ter uma conversinha só entre nós homens, então pedi para as mulheres se retirarem.

Assim que Juna e Naden levaram Kaede e Ruby, sentei ao lado de Hal.

— Então, como ele parece para você? Aquele cara chamado Fuuga, digo.

Hal soltou um suspiro.

— …Assustador. E não só a força que ele tem, mas o ar ao redor dele também.

— O ar ao redor dele é assustador?

— É. Quando me separei de vocês e o segui, antes que eu notasse, me senti sendo puxado pela atmosfera ao redor dele. Pensei em como seria ótimo se pudesse lutar como ele, ou que, se fosse para morrer assim, eu não teria arrependimentos. Foi só por um momento, mas pensei. Mesmo que não tenha como aquilo ser verdade.

Halbert riu ironicamente de si mesmo. Eu ouvi silenciosamente enquanto ele falava.

— Se morresse e deixasse Kaede e Ruby para trás, mais do que qualquer um, eu não teria a capacidade de me perdoar. Mas naquele momento, estava aceitando isso. Se você não tivesse me dito para me lembrar dos rostos delas, e se Ruby não tivesse me impedido, talvez eu tivesse me envolvido ainda mais profundamente com ele. Você me deu aquele conselho porque sabia que isso ia acontecer?

— Dificilmente — eu disse —, estava apenas colocando um tipo de seguro porque me preocupava. Afinal, de todas as pessoas que conheço, você é o mais próximo de Fuuga.

Quando disse isso com um sorriso sarcástico, Hal inclinou a cabeça para o lado.

— Somos próximos? Quer dizer que somos parecidos?

— Em termos de personalidade, sim. Ambos são excepcionalmente corajosos e estão sempre atrás de seguir em frente, não é?

— É difícil responder isso por mim mesmo…

Enquanto Hal coçava o nariz envergonhado, sorri ironicamente e disse a ele:

— É assim que parece para uma pessoa de fora. E pessoas assim atraem aqueles que lutarão ao lado delas. Como você. Você é visto como alguém especial na Força de Defesa Nacional, não é?

— Hã? Sou?

— Você tem lutado ao meu lado desde a batalha perto de Randel, certo? Eu acho que você fez muito para se destacar na batalha contra as forças do Principado de Amidônia, e até se tornou um cavaleiro dragão na Cordilheira do Dragão Estelar.

— I-Isso meio que aconteceu por conta própria, sabe?!

— Eu te disse, não é? Isso é sobre como você parece para os outros. Então, no Reino de Lastânia, muitos soldados testemunharam o dragão vermelho voando pelos céus. É claro que você acabaria com um apelido.

— O quê?! Espere, o que você quer dizer com apelido?!

Huh? Hal não sabia?

— O Demônio Vermelho… É isso que os soldados da Força de Defesa Nacional te chamam, sabia?

Hal ficou em silêncio. Ele realmente não sabia.

Ah, certo.

Levantei-me e fui até a gôndola que Naden havia trazido aqui. Então, tirando algo da bagagem, voltei para Hal e apresentei a ele.

— O que é isso? — ele perguntou.

— É um hachigane1O Hachigane era uma bandana de armadura flexível para proteger a testa. Foi usado tanto por samurais quanto possivelmente por shinobi (ninja). Seu principal uso era proteger o guerreiro de cortes na testa.. Com chifres de Demônio.

Era um hachigane com chifres de Demônio decorando a parte de metal.

— Parece que você se tornou famoso como o Demônio Vermelho, então pedi para Taru, a ferreira, fazer isso para você. Estamos tão ocupados ultimamente que esqueci de entregar. Se você colocar isso na cabeça, todos saberão que você é o Demônio Vermelho imediatamente. Acho que isso aumentará a moral dos aliados e irá desmoralizar o inimigo. Será perfeito para esconder essa ferida vermelha na sua testa, então por que não experimenta agora?

Hal aceitou o hachigane de Demônio, mantendo uma expressão de estarrecimento. Ao que parece, sua mente ainda não havia entendido o que estava acontecendo.

Este foi o momento em que Hal, o Demônio Vermelho, nasceu, mas ele aparentava estar totalmente fora de si.

Bem, se ele continuasse a se destacar daqui para frente, tenho certeza de que os dramaturgos de uma era posterior encontrariam alguma maneira de dramatizar essa cena e torná-la legal.

“Portanto, dê o seu melhor, Hal.”

Naquela noite…

— Você ficou bem legal, Hal — Kaede disse.

— Eu gosto de como os chifres da sua cabeça meio que combinam com os meus — Ruby concordou.

— S-Sério?

Hal colocou o hachigane de Demônio imediatamente, mas não parecia nada infeliz com os elogios que Kaede e Ruby estavam lhe dando por isso. Ele gostava de qualquer coisa que o servisse. Bom, não que eu pudesse culpá-lo por se sentir assim.

 

 

 

Comigo na sala estavam Aisha, Juna, Naden, Halbert, Kaede, Ruby, Kuu e Leporina. Nós estávamos prestes a fazer uma confirmação final das ações a serem tomadas a partir de agora.

Eles disseram que queriam assistir, então a pequena Tomoe e Ichiha estavam sentados nas cadeiras perto da parede.

Desdobrei o mapa da área ao redor de Wedan que peguei emprestado do Duque Chima sobre a mesa.

— Agora, eu gostaria de começar.

Dito isso, dei uma espiada na direção de Tomoe. Por algum motivo, Yuriga estava sentada lá como se tivesse todo o direito de fazê-lo.

— Você não tinha voltado com Fuuga? — Perguntei.

— Bom, eu não tenho nada melhor para fazer. Meu irmão cai no sono rápido nos dias em que ele enlouquece no campo de batalha.

— Isso não significa que você tem que vir com a gente.

— Esse é o único lugar com crianças da minha idade. Por favor, eu não vou atrapalhar! — Yuriga juntou as palmas e implorou.

Se a tratasse mal, eu provavelmente feriria minha relação posterior com Fuuga… Parece que não tinha outro jeito.

— Só observe em silêncio, está bem? — Suspirei.

— Eu sei disso.

— Hahh… Certo, Kaede, pode seguir em frente com a explicação, por favor.

— Entendido. Por favor, observem o mapa, tudo bem? — Minha oficial Kaede se levantou, apontando para o mapa enquanto falava. — Este é o destacamento atual da União das Nações Orientais. Estaremos nos unindo com os reforços do Reino de Friedônia, então não nos juntaremos a este destacamento. O fluxo geral é simples. Enquanto as forças da União das Nações Orientais estão contendo os monstros invasores, nós, nas forças do Reino de Friedônia, atacaremos por trás, cercando e eliminando rapidamente os monstros. Isso é tudo.

— …Huh? Isso é tudo? — Hal soou desapontado. Ele devia estar esperando uma explicação mais detalhada.

Ao vê-lo assim, Kaede o interrompeu:

— Hal, nossas forças superam em número os monstros, e nosso equipamento em qualidade. É um plano simples, mas na situação atual, é a tática mais certa e eficaz que podemos usar.

— C-Claro! Entendi. — Tendo recebido uma explicação razoável, Hal ficou quieto.

Bem, Kaede dava seu selo de aprovação, então ela provavelmente estava certa.

Eu disse a todos:

— Nós nos juntaremos à força principal liderada por Ludwin esta noite. Hal, Kaede, Ruby, vocês estarão lutando sob o comando de Ludwin. Quanto a Tomoe… eu ficaria preocupado em deixá-la neste castelo, então acho que vou mantê-la ao meu lado mesmo.

— Tudo bem, Irmãozão.

— Aisha, Juna, Naden, por favor, juntem-se à força principal também.

— Entendido.

— Entendi.

— Pode deixar.

— Alguma outra pergunta? — Perguntei.

— Aqui, irmão. — A primeira mão a se levantar foi a de Kuu. — Tudo bem se nós lutarmos desta vez?

— Não, isso não vai acontecer. Eu estava com tão pouca mão de obra que queria sua ajuda no Reino de Lastânia, mas agora temos forças suficientes para afogar os inimigos. Desta vez, gostaria que vocês ficassem quietos.

Kuu colocou as mãos atrás da cabeça e apertou os lábios.

— Tch. Bom, podemos ficar aqui no Castelo de Wedan, então? Quero ver como as forças da União das Nações Orientais lutam deste lado.

— Eu não me importaria, mas… não vá se juntar à linha de frente só porque não estamos por perto para ver. Se algo acontecesse com você, eu nunca poderia encarar o Senhor Gouran.

— Ookyakya! Eu sei disso! — Kuu assentiu, mas não pude deixar de me preocupar.

Olhei para Leporina.

— Leporina. Sinto muito por dar a impressão de uma ordem quando você não é minha serviçal, mas fique de olho em Kuu por mim. Se ele parecer que vai se juntar à linha de frente, posso contar com você para fazer o que for preciso para impedi-lo?

— Urgh… Não sei se poderia impedi-lo, mas vou fazer meu melhor — ela disse.

— Por favor, faça isso. Se quiser, você está convidada a atirar nas pernas dele com esse seu arco.

— Ookya?! Irmão, isso não é meio severo?! — Kuu protestou, mas decidi ignorá-lo. Se Kuu se machucasse gravemente, poderia resultar em um incidente diplomático, então eu queria que ele tivesse um pouco de autocontrole.

Decidi que, por enquanto, tinha terminado de dar ordens.

Mas…

— Uhm, Souma. — Ichiha, que estava presente na reunião, levantou a mão hesitantemente.

— O que foi?

— Ahn… Estaria tudo bem se eu fosse também? Acho que se eu estivesse no acampamento do Reino de Friedônia, poderia observar os monstros de perto sem perigo.

— Huh? Não tenho certeza…

Sabendo do talento raro de Ichiha quando se tratava de monstros, eu queria dar a ele a oportunidade de observá-los. Porém, bem… era verdade, o acampamento principal seria seguro, mas seria certo para mim, como adulto, trazer uma criança pequena de outro país comigo?

Eu hesitei, mas parecia que Ichiha estava sério sobre isso.

— Vou pedir permissão ao meu pai pessoalmente. O que acha?

— Se o Duque Chima der permissão, acho que está tudo bem — Eu disse lentamente.

Pessoalmente, queria que Ichiha aprendesse mais sobre os monstros, então se ele conseguisse permissão, presumivelmente estaria tudo bem.

Enquanto pensava nisso, de repente Yuriga se levantou.

— Então eu também vou! Quero ver como o Grande Rei do Sul luta!

Ela estufou o peito mirrado enquanto fazia essa declaração, mas se ela estava atrás de me ver lutar, uhh…

— Eu vou só ficar sentado no acampamento principal, sabe? — eu disse. — Seria um incômodo para todos os outros também.

— Você vai? Então eu quero ver como você comanda…

— Deixo o comando para Ludwin. Sério, eu só vou estar lá.

— …E tem algum motivo para você estar no campo de batalha? — Com um olhar exasperado no rosto, ela foi direto ao ponto me atingindo onde doía.

— Espera aí, Yuriga, você não acha que está sendo meio rude com o Irmãozão Souma? — Tomoe reclamou, parecendo chateada.

No entanto, Yuriga bufou com desprezo, sem mostrar sinais de que isso a incomodava.

— Quando meu irmão vai ao campo de batalha e realiza feitos corajosos, todos o seguem prontos para lutar até a morte. Não é isso que liderar as pessoas significa?

— As pessoas lutam pelo Irmãozão sem vê-lo lutar — Tomoe disse. — Aisha, Hal, e todos os outros, estão lutando por iniciativa própria.

— Deixando tudo para os outros? Isso não é meio esfarrapado para um rei? — Yuriga reclamou.

—Não é!

Quando Yuriga deu de ombros como se estivesse provocando-a, Tomoe revelou as presas com raiva óbvia. Talvez tenha sido a primeira vez que a vi fazer essa expressão.

Eu afaguei a cabeça da Tomoe que rosnava com um “está tudo bem”, antes de dizer a Yuriga:

— Bem, se estamos falando sobre quem é mais legal, Fuuga vence, com certeza. Eu adoraria poder lutar como ele faz, e admiro a sua força.

— Bom, obviamente — Yuriga disse com um olhar convencido.

Fofo ver uma criança tão orgulhosa de sua família assim. Embora isso significasse que ela estava me subestimando.

— Mas eu não sou Fuuga e não posso me tornar como ele. Isso vale para todos os outros também. Não importa o quanto eles admirem e o sigam, ninguém pode ser Fuuga além de Fuuga. Se insistirem em tentar se tornar como ele, vão morrer cedo.

Algo sobre o que eu disse deve ter soado como verdade para Yuriga.

— Isso é… — Ela não conseguiu responder.

Isso porque Fuuga agia como se estivesse vivendo rápido demais.

Ele entrou no Domínio do Lorde Demônio sozinho; e avançou para o meio de enxames de inimigos sozinho… Fuuga ainda estava vivo por causa de quem ele era, e qualquer um que tentasse imitá-lo morreria.

— Por mais que eu tente, só posso ser eu mesmo — disse a ela. — É por isso que vou defender o país e minha família do meu jeito. Isso significa pedir ajuda às pessoas nas áreas em que sou fraco. De alguma forma, isso me permitiu manter o país funcionando através de tudo o que aconteceu até agora. Não me importo se é esfarrapado; se eu puder defender o que é importante para mim, acho que é o suficiente.

Yuriga me olhou perplexa.

— Você é… Um rei estranho, né.

— Estou bem ciente disso.

— Hmm… Bom, agora quero ainda mais que você me leve junto para o acampamento principal.

— Por quê?! Eu te disse que não luto, não disse?!

— Quero dizer, você é um tipo completamente diferente de pessoa do meu irmão, então estou curiosa para saber por que as pessoas te seguem. Vamos lá, está tudo bem, não está? Vou conseguir permissão com ele.

Quando ela me olhou com olhos suplicantes, dei de ombros. Acho que não tive escolha. Acabei de dar permissão para Ichiha, então não podia dizer a Yuriga que ela era a única que não podia.

Se eu recusasse, era possível que ela suspeitasse que eu estava dando tratamento favorável a Ichiha.

— Se você realmente tiver permissão de Fuuga…

— Tudo bem! Então irei conseguir permissão! — Mal disse isso, ela saiu correndo da sala.

A iniciativa dela para agir no momento em que dizia as coisas talvez fosse algo em comum com Roroa.

Ambas eram irmãs mais novas também.

Mais tarde, porque tanto o Duque Chima quanto Fuuga deram permissão, acabamos trazendo três crianças de volta ao acampamento principal conosco.

Felizmente, Tomoe (uma loba mística), Ichiha (um humano) e Yuriga (algum tipo de corvo homem-fera estilo tengu) me lembravam um cachorro, macaco e faisão.

Estávamos indo matar Demônios? Quem era Momotarou2É um popular herói do folclore japonês.?

Nós tínhamos um Demônio Vermelho ao nosso lado, no entanto.

 

Separador Herói Realista

 

Nuvens espessas cobriam o céu, e o vento forte era frio ao tocar na pele naquele dia.

Nos acampamentos das forças da União das Nações Orientais perto dos muros que cercavam a cidade de Wedan, os comandantes de cada país que lideraram um exército até aqui estavam levantando suas vozes para inspirar suas tropas.

— Escutem! Reforços do Reino de Friedônia chegarão logo!

— Esses reforços são um grande exército de cinquenta mil, e a batalha por Wedan certamente terminará hoje! Resumindo, hoje será nossa última chance de ganhar glórias no campo de batalha!

— Quando as forças do Reino de Friedônia chegarem, não haverá mais lugar para nos distinguirmos! Não podemos deixar a cavalaria de Malmkhitan ficar com toda a glória!

— A recompensa são os seis filhos do Duque Chima. Isso significa que apenas seis países podem ser recompensados. Todos nós devemos lutar para ser um desses seis!

“Ohhhhhhh!”

Gritos de batalha surgiram dos acampamentos aqui e acolá.

Ao descobrirem sobre a chegada iminente das forças do Reino de Friedônia, os generais da União das Nações Orientais estavam tentando aumentar seu fervor para um último show em busca de glória.

Os soldados entraram em ação em resposta ao incitamento de seus generais.

No topo dos muros que cercavam Wedan, observando aquelas forças da União das Nações Orientais, estava Kuu.

— Ookyakya! Todos enlouqueceram! Eles devem querer conquistar a Madame Mutsumi com todas as forças!

— Você diz isso, mas a verdade é que também quer participar. Não é, Jovem Mestre? — Leporina disse, parecendo exasperada com o brincalhão Kuu. — Senhora Mutsumi era bonita, afinal.

— Hmm? Eu adoraria me divertir lá embaixo, mas não estou muito interessado na Jovem Senhorita Mutsumi. Eu gosto mais do tipo de garotas fofas que me fazem querer protegê-las.

— É esse o tipo de garota que a Taru é?

— Ela costumava ser uma bebê chorona, lembra? Mas hoje em dia é só teimosa.

— Agora que você disse isso… É verdade.

Kuu, Taru e Leporina eram amigos de infância. Leporina se lembrava daqueles dias de muito tempo atrás.

Quando crianças, Taru era tímida e chorona, sempre se escondendo atrás de Kuu ou Leporina. Ele tentava fazê-la rir com brincadeiras travessas para matar o tempo e apenas fazendo Taru chorar ainda mais. Então Kuu era repreendido por seu pai Gouran e Leporina por sua falha em controlá-lo.

Deve ter sido por volta da puberdade que a relação deles tomou outro rumo.

Kuu só conseguia expressar seu afeto por Taru com brincadeiras. Taru não conseguia ser sincera com seus sentimentos mesmo sentindo afeto por Kuu, e como Leporina conhecia os sentimentos deles um pelo outro, ela mantinha uma posição que não era cruel com Taru, mas que a permitia permanecer ao lado de Kuu.

Antes que percebessem, uma estranha relação tripla havia se formado entre eles.

“Será que essa relação também vai mudar um dia? Se possível, espero que possa tomar a forma que nós três desejamos. Para isso, será que eu sou quem precisa tomar uma atitude?”

Isso aconteceu enquanto Leporina estava ponderando essa questão.

— Oh! Aquele lá é ele?! — Kuu se levantou, dizendo isso enquanto olhava para um ponto específico no campo de batalha.

Quando Leporina seguiu o olhar dele, percebeu um tigre branco correndo pelo campo de batalha. Era Durga, a montaria de Fuuga. Aquela mancha em suas costas era ele?

Fuuga e Durga pareciam um navio navegando suavemente por um mar de monstros.

Enquanto assistia aquela cena, Kuu soltou um suspiro.

— Fuuga Han, não é? Eu consigo entender por que ele deixou o Irmão preocupado. Cara, o mundo aqui fora é realmente vasto. E pensar que havia um cara incrível como ele escondido nele.

— Ele é incrível? Certamente é forte, eu concordo…

Em resposta ao ceticismo de Leporina, os cantos da boca de Kuu se curvaram em um leve sorriso.

— Ele não é apenas forte. O cara é puro. Você poderia chamá-lo de o homem mais ganancioso do mundo. Ele vai tentar alcançar o que quer repetidamente, tentando agarrá-lo. Mesmo que esteja em chamas, e seja algo que o queimaria gravemente se ele tentasse pegar. Sério, ele é assustador.

Apesar de dizer que o homem era assustador, Kuu parecia estar se divertindo.

— Até mesmo quando se trata de coisas que o Irmão ou a Imperatriz Maria hesitariam em tocar, ele vai atrás delas sem hesitação. No dia em que ele tiver mais poder do que tem agora, sua ganância pura pode cobrir todo este continente. Ohh, isso é assustador, coisa tenebrosa.

O que Kuu estava tentando dizer era um pouco abstrato demais para Leporina entender. No entanto, uma coisa que ela podia dizer com certeza era que ele estava convencido de algo.

— Essa é sua intuição, Jovem Mestre?

— Bem, algo do tipo, mas estou confiante. Ele personifica a vida que idealizo. Está perseguindo um grande sonho, e tem o poder de torná-lo realidade. Se eu pudesse viver assim, seria ótimo… mas se ele se tornar um inimigo, será um problema.

Ao dizer isso, o sorriso de Kuu desapareceu, e ele olhou diretamente na direção de Fuuga.

— A República de Turgis é fria, e as correntes no ar fazem com que os wyverns não consigam voar. Isso tem sido um problema para nós, mas ao mesmo tempo, trouxe o benefício de evitar que países externos nos atacassem. Mesmo que pudessem nos conquistar, seria difícil de nos governar, então há poucos pontos positivos. É por isso que o Irmão e a Madame Maria não pensariam em nos atacar.

— …E Fuuga seria diferente? — Leporina perguntou hesitante.

Kuu sentou-se e cruzou as pernas.

— O sonho dele se torna o sonho daqueles que o seguem. Se ele estivesse sonhando em unificar o continente, se isso significasse algumas… Não! Nem que significasse muitas perdas sem retorno, tenho certeza de que ele invadiria. Apenas para tornar seu sonho realidade.

— Não…

— Se você fosse perguntar ao Irmão, ele poderia ter uma perspectiva diferente, mas é isso que eu sinto. Não podemos ficar tranquilos. Não há garantia de que o Irmão ou a Madame Maria vão impedi-lo por nós. Temos que construir um país para nós mesmos que não perderá, mesmo se ele vier nos invadir.

Leporina ficou em silêncio.

Já havia indícios de uma dignidade régia nos olhos de Kuu, fazendo com que ela se perdesse neles sem perceber. Ela não sabia se ele próprio estava ciente disso, mas ao sair da República de Turgis, Kuu estava amadurecendo constantemente.

Leporina pressionou o peito enquanto seu coração batia forte.

“Para ficar ao lado do Mestre Kuu por toda a minha vida, devo… estar preparada.”

Em algum momento, chamas de determinação começaram a queimar nos seus olhos.

Naquela brecha de tempo, as forças da União das Nações Orientais começaram a se movimentar. Isso porque eles avistaram as forças de cinquenta mil soldados do Reino de Friedônia do outro lado do enxame de monstros.

Assim, a onda demoníaca avançou para sua etapa final.

 

Separador Herói Realista

 

Aconteceu um pouco depois do meio-dia?

— E agora? Vocês conseguem ver melhor?

No momento em que as Forças de Defesa Nacional do reino terminaram de se posicionar, cercando e exterminando os monstros, Aisha estava de pé no acampamento principal com Tomoe e Ichiha sentados em seus ombros.

O motivo de estarem montados em seus ombros era porque tinham dito:

— Não conseguimos ver muito bem a batalha daqui.

Estávamos posicionados em terreno elevado, então podíamos ver os movimentos de todo o exército, mas como tínhamos escudos montados na nossa frente para parar flechas, entre outras coisas, a baixa estatura das crianças tornava impossível que vissem.

— Está bom, agora podemos ver bem melhor — Disse Tomoe. — Muito obrigada.

Em contraste com a alegria de Tomoe, Ichiha parecia mais hesitante.

— S-Sim, é verdade que podemos ver melhor, mas… não tenho tanta certeza sobre fazer a candidata a segunda rainha principal do Reino de Friedônia fazer isso…

No entanto, Aisha disse:

— Isso não é nada — E riu. — Vocês dois pesam quase nada, então não se preocupem com isso.

— Não, é que… não é sobre o peso, é sobre o quanto isso é inapropriado…

Ele estava fazendo uma mulher que ia ser rainha deixá-lo montar em seus ombros, então eu entendia como Ichiha se sentia. Nosso país era bem tranquilo quanto a esse tipo de coisa, sabe. Eu inclusive. Agia de acordo com minha posição quando estava desempenhando deveres oficiais, mas não gostava nem um pouco da ideia de agir com arrogância o tempo todo. Se não desse uma folga quando podia, meus ombros enrijecidos.

— A Aisha está dizendo que está tudo bem, então provavelmente está tudo bem, não concorda? — Eu disse para Ichiha com um sorriso cínico.

— S-Souma! — ele protestou.

— Vamos lá, você veio desenhar monstros, não veio? — Eu disse. — Você precisa desenhar de verdade.

— Urgh… Está bem.

Ichiha colocou a prancheta em volta do pescoço, e o carvão começou a correr pelo papel.

— Ela não precisa deixá-los sentar em seus ombros — Naden, que estava observando os três ao meu lado, sugeriu, cruzando os braços. — Não posso simplesmente me transformar e voar? As crianças ficariam seguras na gôndola.

Eu não ia para o campo de batalha desta vez, então ela estava presa no acampamento principal sem ter o que fazer. Dei um leve tapinha na cabeça de Naden, que estava insatisfeita.

— Se você fizesse isso, eu teria que designar a Cavalaria de Wyvern para escoltá-la, não é? Todos os membros da cavalaria que trouxemos estão participando da batalha, então não podemos causar mais problemas para eles.

— Tenho certeza de que comigo e Aisha lá, ficaríamos bem, não importa quais monstros voadores aparecessem.

— Se você estivesse levando as duas crianças, seria em uma gôndola. É perigoso lutar enquanto carrega uma gôndola, não é? Quer dizer, se algo acontecesse com Ichiha enquanto estamos cuidando dele para o Duque Chima, seria um grande problema.

— Você tem um ponto. — Parecia que Naden estava convencida.

Mas, enquanto conversávamos…

— Vocês não estão um pouco relaxados demais aqui? — Yuriga, que também estava ao meu lado, nos olhou com olhos frios. — Esta é a batalha final com esses monstros, não é? Não deveriam estar mais tensos, mais…? É isso, sérios! Vocês não deveriam agir de forma séria?

— Você diz isso, mas agora é apenas uma questão de cercá-los e esmagá-los — eu disse.

Desta vez, enquanto as forças da União das Nações Orientais estavam segurando o inimigo, as forças do Reino de Friedônia iriam atacar em formação de asa de garça. As unidades nas asas esquerda e direita gradualmente se espalhariam, cercando e eliminando o inimigo. Era um plano simples.

Para sumarizar, “Cercá-los com tudo o que temos”.

Se quisesse evitar que monstros escapassem, eu deveria ter me juntado com os outros países para dividir o trabalho, mas as forças da união estavam no meio de uma última luta para se destacarem.

Pode até não ser impossível, mas eles não estavam em posição de coordenar de perto conosco no momento.

O que podíamos fazer era dar o nosso melhor para cercar o inimigo e eliminar o máximo de monstros possível aqui.

O importante era que os monstros não escapassem em grupo. Se alguns deles escapassem e fossem separados, enviar um pedido para as forças de defesa de cada país e para a guilda de aventureiros seria suficiente para lidar com eles.

— Só precisamos desempenhar nosso papel — eu disse. —, o que para mim, significa ficar no acampamento principal, e é isso. Se eu tentar ir para a linha de frente, só estarei causando problemas desnecessários.

— Realmente é um mistério — disse Yuriga. — Sem mostrar força ou ferocidade, é um milagre que os soldados estejam dispostos a segui-lo, sabia disso?

— Escuta aqui você. Não acha que a maneira que anda falando é um pouco rude? — Naden olhou fixamente para Yuriga. Ela estava emitindo um pouco da sua intimidação de ryuu, então uma criança comum poderia ter começado a chorar só de olhar para o rosto dela.

No entanto, Yuriga encarou Naden nos olhos e disse:

— Fala sério! As pessoas se submetem a alguém mais forte que elas, mas se você mostrar um momento de fraqueza que seja, elas te abandonarão. Quando meu pai morreu, eu vi vários clãs deixando a Casa de Haan ou tramando nos trair. Esses clãs foram todos aniquilados pelo meu irmão quando ele assumiu o controle, é claro.

Ao ser atingida por um assunto tão pesado como se fosse algo trivial, Naden ficou sem palavras.

— Yuriga, você…

Parecia que não era apenas Fuuga; Yuriga também tinha vivido uma vida diferente da maioria das pessoas.

— As pessoas devem ser unidas e lideradas com força. — Insistiu Yuriga. — Isso é o que meu irmão sempre diz.

As estepes de Malmkhitan eram como a União das Nações Orientais em miniatura. Havia uma variedade de pequenas e médias facções disputando poder, se unindo e separando novamente. Num mundo assim, ele provavelmente não tinha escolha senão uni-los através do poder. Ninguém poderia dizer que era um erro fazê-lo.

— Tenho certeza de que governar através da força era a maneira certa de fazer as coisas em Malmkhitan. — Eu agachei na frente de Yuriga, me colocando no nível de seus olhos enquanto falava. — Mas o mundo é mais do que apenas as estepes ou a União das Nações Orientais. Os valores são formados pela natureza da região e pela história compartilhada, então é mais complicado do que isso. Há uma nação governada pela autoridade religiosa e uma nação unida pelos vínculos monetários de mercenários contratados. Há um país como o Império Gran Caos que levanta a bandeira de ideais para confrontar o Domínio do Lorde Demônio também.

— Eu não sei se entendi.

— Ah, hum… Bem, talvez essa não fosse a melhor conversa para se ter com uma criança de treze anos.

— Não me trate como uma criança!

— Isso é algo que uma criança diria.

— Grr… — Yuriga rangeu os dentes.

Eu não estava sendo muito adulto na forma como estava tratando uma criança, huh?

Ainda assim… Ouvindo sua história, eu me senti um pouco mal por ela. Sentindo-me incapaz de deixá-la sozinha, eu queria oferecer alguns conselhos, mas se ela não ia entender, não fazia muito sentido.

Agora, como eu poderia dizer isso…?

— Eu sei. Se você tiver a oportunidade, você deveria vir para o meu país. Assim, você vai conhecer vários tipos de pessoas e entrar em contato com as diferentes vidas que elas levam. Se fizer isso, tenho certeza de que encontrará sistemas de valores diferentes dos seus.

— Hmm… É assim que funciona? — Yuriga perguntou.

— É assim que funciona.

Yuriga não parecia totalmente convencida, mas eventualmente ela assentiu.

— Vou manter isso em mente, pelo menos.

E naquele momento, um grito de vitória se ergueu do campo de batalha. O cerco aos monstros acabara de ser completado.

Os enormes monstros como os rinossauros zumbis estavam sendo derrotados por um ataque focado da Cavalaria Temsbock liderada por Fuuga e Durga, assim como a Cavalaria de Wyvern liderada por Hal e Ruby.

Raios enormes percorriam todo o campo, e chamas intensas se espalhavam descontroladamente.

Os monstros tentaram fugir ao verem os maiores sendo derrubados, mas o cerco já estava completo. A grande maioria se lançou contra os soldados na formação e foi morta, ou foi esmagada pelo cerco sem ter para onde ir.

Foi um massacre unilateral.

O que antes eram tantos monstros se retorcendo, se transformou em um campo de corpos sem vida. Gradativamente, o som de gritos e de morte desapareceu do campo de batalha.

As densas nuvens que cobriam o céu se dispersaram, e o sol se pondo pintou o céu de vermelho, os soldados aplaudiram.

— Viva, viva!

Esse foi o grito que anunciou o fim da onda de monstros.

 

Separador Herói Realista

 

Era tarde no campo de batalha enfeitado com corpos de monstros, o céu estava tingido de vermelho.

Com o extermínio dos monstros completo, ordenei que as forças do Reino de Friedônia montassem acampamento enquanto eu montaria Naden e voltaria ao Castelo de Wedan com um seleto grupo de companheiros. Isso porque precisava devolver Ichiha e Yuriga aos seus respectivos guardiões.

Pousamos no pátio como fizemos ontem, e o Duque Chima também como ontem, nos recebeu com um largo sorriso.

— Ohh, Senhor Souma! Graças ao Reino de Friedônia, os monstros foram eliminados e meu país foi libertado da crise. Não sei como lhe agradecer.

Só pude sorrir ironicamente enquanto o Duque Chima segurava minha mão e fazia um show exagerado de gratidão. Muito provavelmente ele estava apenas enchendo linguiça com bajulação, então eu só ouvia para ver o que sairia da boca dele.

— Nós apenas contamos com nossos números para nos permitir fazer o último avanço — disse hesitante. Não queria que ele exagerasse demais no que eu tinha feito. — Não se compara aos esforços dos que estiveram lutando todo esse tempo.

Yuriga, que estava ao meu lado, cruzou os braços e assentiu.

— É verdade, o Senhor Souma ficou só largado no acampamento principal observando o campo de batalha.

— Grrgh, lá vai você, dizendo isso de novo, Yuriga… — Protestou Tomoe, mas Yuriga apenas olhou irritada para o outro lado.

— Hmph! Bem, é verdade, não é? Nesse ponto, meu irmão Fuuga realmente se destacou no campo de batalha de hoje. Você viu, não viu, Tomoe? A maneira como aquele rinossauro zumbi gigante foi assado. Aquilo foi sem dúvidas o tiro do meu irmão.

— Eu vi, mas… isso é o que meu professor chamaria de coragem impulsiva, sabia?

— Não importa que tipo seja, coragem é coragem! Ele é valente e forte! Verdadeiramente um rei entre reis!

— Grrrgh… Reis fracos também podem ser grandiosos. O Lorde Albert e o Irmãozão podem tomar decisões por todos.

Possível ver faíscas saírem voando quando os olhos de Tomoe e Yuriga se encontraram… mas elas eram apenas crianças, então só parecia que estavam tendo uma competição de encarar.

— Vamos lá, Tomoe, Yuriga, vocês duas se acalmem. — Ichiha se colocou entre elas e tentou apaziguá-las.

Com seus olhos perspicazes, o Duque Chima notou o que o menino estava fazendo e:

— Ohh! — Exclamou com o sorriso de um homem de meia-idade afável. — Parece que nosso antes tímido Ichiha se tornou amigo da sua irmãzinha! Eles são tão próximos em idade, era esperado que se aproximassem rapidamente!

— Ahaha… É assim que funciona? — Eu ri ironicamente.

Será que o Duque Chima não conseguia ver Tomoe e Yuriga encarando uma à outra com os dentes à mostra apesar da proximidade de idade?

Mesmo que fossem apenas crianças, a amizade entre Ichiha e Tomoe poderia dar ao duque uma conexão com nosso reino. O que eu tinha certeza de que ele estava pensando.

Deveria ter esperado isso de um homem cujas capacidades diplomáticas permitiram que seu país mantivesse independência em uma região repleta de guerras entre potências pequenas e médias. Ele não devia ser subestimado.

— Estou grato à sua irmãzinha por se dar bem com Ichiha. — Acrescentou o Duque.

— Ahaha…

Eu sabia que não deveria me envolver profundamente com um sujeito astuto como ele, mas agora que eu tinha visto o quão habilidoso Ichiha era, não podia tratá-lo muito mal. Se ele soubesse que eu estava tão interessado em Ichiha, poderia tentar usar isso.

Por enquanto, não tinha escolha senão mascarar meus sentimentos internos com risos educados.

Em seguida, o Duque Chima pegou minha mão novamente e disse:

— Esta noite, teremos um pequeno banquete para celebrar esta vitória. Farei a entrega das premiações lá, então gostaria muito que você participasse, Senhor Souma.

— Ah, certo. Eu estarei participando. — Assenti.

O Duque Chima assentiu satisfeito com minha resposta e levou Ichiha de volta para dentro do castelo com ele. Quando estávamos prestes a voltar para nosso quarto também…

— Ah! Irmãozão! — Yuriga disse olhando para o céu.

Quando olhei para cima, um grande tigre branco estava no processo de aterrissagem.

Era Fuuga e Durga.

Durga deve ter ficado coberto de sangue de monstro, porque seu pelo branco estava manchado de vermelho escuro em alguns lugares. Enquanto eu olhava para o enorme Durga, Fuuga pôs a cabeça para fora.

— Ei, vejo que vocês também estão de volta.

— Sim — eu disse —, parece que você fez um ótimo trabalho lá fora.

— Bom, sim. Quando as forças de Friedônia apareceram, de repente notei que todas as minhas presas desapareceram. Eu queria me soltar um pouco mais, mas o que posso fazer? Ah, certo! — Fuuga pulou de Durga, trazendo seu rosto perto do meu. — Ei, Souma. Você também tem uma montaria voadora, não é? Aquela preta.

— …Uh, sim. Embora ela seja tanto minha montaria quanto minha noiva.

— Noiva…? Bem, seja lá o que for. Por que não temos uma pequena conversa lá em cima? Vamos ter um bate-papo, como colegas governantes.

Antes mesmo de eu responder, Aisha interferiu.

— Como guarda-costas de Sua Majestade, não posso permitir isso!

Fuuga jogou seu arco e aljava de flechas para Yuriga, cravando sua Lança da Lâmina Crescente no chão.

— É só uma conversa casual. Vamos deixar todas as armas aqui. Minha lâmina que quebra pedras, Zanganto, também.

Aquela arma que se parecia com a Lança da Lâmina Crescente do Dragão Verde se chamava Zanganto? Pelo peso que demonstrou ter quando foi cravada no chão, certamente parecia capaz de dividir rochas.

— Além disso, mesmo que sejamos apenas nós dois, aquele dragão forte estará lá, certo? — Perguntou Fuuga. — Se eu tentar algo, ela pode voar para longe, ou me atacar, ou algo assim.

— Mas… — Aisha ainda tinha uma expressão de incerteza no rosto.

Eu podia entender sua preocupação.

Este era Fuuga. Mesmo desarmado, poderia facilmente me matar. Aisha estava pensando que, se ele tentasse algo, Naden talvez não conseguisse me defender sozinha. Isso era simplesmente a quantidade de cautela que Fuuga merecia.

Exatamente por isso que não era uma boa ideia deixá-lo perceber que estávamos cautelosos em relação a ele.

— Está tudo bem, Aisha — eu disse. — Tenho certeza de que ele só quer conversar.

— Majestade…

— Aisha. — Juna colocou suavemente uma mão em seu ombro. Sussurrando algo em seu ouvido. Eu não conseguia ouvir daqui, mas conhecendo Juna, provavelmente era algo como “Vamos deixar isso para Sua Majestade”. Ela estava persuadindo Aisha por mim.

Embora relutante, Aisha recuou.

— …Entendo. Madame Naden, peço que faça tudo o que puder para cuidar de Sua Majestade.

— Estamos deixando Sua Majestade sob seus cuidados, Naden. — Concordou Juna.

— Entendido, Aisha, Juna.

Desse modo, Naden assumiu sua forma de ryuu, revelando aquele corpo maciço diante de Fuuga. Tinha cerca de trinta metros de comprimento, por isso mesmo com os pés no chão, ela era maior que Durga.

Olhando para cima, Fuuga soltou um assobio de admiração.

— Uau… Ela é grande! Eu já pensava isso vendo-a de longe, mas realmente causa um impacto tão de perto! Ela é forte, como eu pensava?

— Eu sou — disse Naden em um tom intenso —, então se você pretende machucar Souma, não vou me segurar.

Fuuga riu da ameaça.

— Ela fala diretamente dentro da sua cabeça? Eu achei que parecia estranha, mas é como os dragões que ouvi falar. Entendi, garota dragão! Se eu agir de forma estranha, você pode me esmagar com essas suas mandíbulas gigantes!

Eu só podia me impressionar com a coragem que Fuuga de dizer isso sem medo quando enfrentado com um ryuu. Esse homem não conhecia medo?

Naden olhou para ele com seus olhos de ryuu dourados.

— Farei exatamente isso — Disse ela em um tom sério.

Durga deve ter ficado cauteloso com o aparecimento repentino de um ryuu, porque estava emitindo um rugido baixo. De alguma forma, acabamos com a possibilidade de um confronto entre dragão e tigre flutuando no ar.

Para mudar a atmosfera geral, bati palmas.

— Então, íamos conversar, certo? Vamos começar.

Eu pulei nas costas de Naden, e nós voamos para o céu. Fuuga e Durga correram atrás de nós.

Naden nadou pelo ar e Durga saltou pelos céus. O dragão e o tigre se movendo pela amplitude azul de Wedan lado a lado. Subimos bem alto, para que pudéssemos ver o Rio Dabicon, a fronteira entre a União das Nações Orientais e o Domínio do Lorde Demônio.

Foi quando aconteceu.

— Hey, Souma. Como você vê este país, a União das Nações Orientais? — Fuuga perguntou de repente.

— …O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer, você não acha que é uma causa perdida? Em uma área com todos esses países pequenos e médios, eles têm uma história de unificação e divisões repetidas, alianças e traições. Assim como meu país nas estepes. Além disso, por causa de todas essas alianças matrimoniais complicadas, eles estão todos irremediavelmente interligados. Quando você tem parentes por todos os lados, ninguém vai levar a sério a unificação do país.

Fuuga praticamente cuspiu essas palavras. Dessa maneira ele se sentou de pernas cruzadas nas costas de Durga, descansando os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos.

Aqueles olhos que observavam a terra abaixo estavam completamente frios. Como se ele estivesse olhando com desprezo para o país como um todo.

— Eles finalmente conseguiram juntar tudo na União das Nações Orientais, mas isso não mudou nada fundamentalmente. Olhe para essa onda de demônios. Se tivéssemos nos unido para lutar como um, teria acabado facilmente. Quando o interesse próprio e a autopreservação de cada país se envolvem, entretanto, não podemos trabalhar juntos. Se as forças do Reino de Friedônia não nos socorressem, teria levado mais tempo para eliminá-los e talvez alguns dos países médios até cairiam. É por isso que sou grato a você.

— Você está sendo exageradamente sincero sobre isso — eu disse, surpreso. Nunca esperei palavras de agradecimento de Fuuga.

No entanto, pensando bem, as ações de Fuuga mostravam uma tendência a ser sincero com seus sentimentos. Por ser franco, ele não mostrava medo diante de outros reis, e podia ser direto sobre seu afeto por Madame Mutsumi. A franqueza deve ter vindo de uma força que o permitia não se preocupar com a opinião dos outros.

Enquanto eu refletia sobre isso, Fuuga sorriu.

— Se vocês não tivessem aparecido, quem sabe por quanto tempo essa batalha por Wedan se arrastaria? Todos estavam apenas lutando por conta própria, cheios de avareza pelas recompensas potenciais.

— Não finja que você não está envolvido nisso — eu disse —, isso incluía você também, não é?

— Está tudo bem quando sou eu. Mesmo se eu fizer o que quiser, ainda sou quem mais contribui.

— Suponho que tudo depende da maneira que você fala…

Porém a verdade é que ele estava certo. Mesmo se ele fizesse o que quisesse, Fuuga conseguia resultados. Se os outros agissem como ele, não havia garantia de que as coisas aconteceriam da mesma forma. As conquistas de Fuuga eram em grande parte um produto de sua aptidão inata.

Pensando bem… Os homens que tinham brigado com Tomoe também foram feridos. Pessoas que, julgando pelo tamanho de suas atitudes, deviam ser figuras de alto escalão razoáveis em seus países que foram feridas. Normalmente, eles não precisariam ir para a linha de frente com tanta frequência. Poderia essa ter sido influência de Fuuga também?

Talvez os comandantes dos outros países fossem atraídos por Fuuga, agindo de forma imprudente para obter resultados como ele fazia. Como então não conseguiam fazer igual, foram gravemente feridos, ou até mesmo morreram.

Poderia ser que muitos comandantes dos estados insignificantes tivessem morrido ou sido feridos nesta série de batalhas?

Quando esse pensamento me ocorreu, um calafrio percorreu minha espinha. Mais uma vez, senti uma cautela em relação a algo que não conseguia identificar surgindo novamente.

Sem ter como saber o que eu estava pensando, Fuuga continuou falando:

— Então, seguindo o raciocínio, tive um pensamento durante essa onda de demônios. A União das Nações Orientais precisa estar unida no verdadeiro sentido da palavra. Como quando meu velho conquistou as estepes.

Fuuga cerrou o punho que tinha estendido à sua frente com força.

— Em um momento em que temos o Domínio do Lorde Demônio ao nosso norte, a União das Nações Orientais não pode fazer nada da maneira que está. Mesmo com a imperatriz que chamam de santa agitando a bandeira para unir as nações da humanidade no oeste e um jovem rei reconstruindo um país velho e decrépito em uma nova potência, a união não pode fazer nada. Não podemos nem mesmo ficar no palco desta era. Isso é revoltante para as pessoas que vivem nesta terra.

Eu ouvi em silêncio.

O palco desta era… Será que Fuuga queria estar lá?

Que papel ele pretendia desempenhar ali? Quem ele estava tentando se tornar?

— É exatamente por isso que alguém precisa nos unir de verdade — Fuuga ficou de pé nas costas de Durga e estendeu os braços. — Para unir a União das Nações Orientais. Vai exigir a resolução de destruir tudo para que isso aconteça. Como eu disse, este país está irremediavelmente entrelaçado por alianças e relações de sangue. Para unificá-lo, tudo isso deve ser destruído, cortado e transformado em uma tela em branco. Vai exigir a resolução de fazê-lo a qualquer custo, não importando quanto sangue precise ser derramado.

— Você está dizendo que vai fazer isso, Fuuga? — Perguntei com uma expressão tensa.

Fuuga bateu no peito com uma mão.

— Sim! Nesta era, quem mais além de mim pode fazê-lo?! O fato é que eu já fiz isso nas estepes. Meu pai uniu as estepes como uma só, mas fui eu quem fiz aqueles que ainda conspiravam para matá-lo se submeterem a mim como um guerreiro. Agora, todos nas estepes têm grandes expectativas em Fuuga.

Conspirar para matar seu pai. O relatório dos Gatos Pretos não tinha sido capaz de determinar se o pai de Fuuga, Raiga Haan, foi morto por doença ou veneno, mas… Parece que Fuuga interpretou como um assassinato.

— Olhe para os tempos em que estamos. “Força” pode ser tão poderosa quanto os “ideais” que a santa carrega.

Então Fuuga apontou para baixo, para o chão.

— A União das Nações Orientais está agora cheia de refugiados que escaparam do norte. Cada país os trata à sua maneira, mas tenho certeza de que, sob a situação atual, todos os refugiados têm suas razões para estar descontentes em cada um deles. Se mesmo uma pequena parte do Domínio do Lorde Demônio pudesse ser libertada, eles veriam em mim a esperança de que suas terras natais também pudessem ser libertadas, e correriam para o meu lado. Não são apenas os refugiados que querem ver o Domínio do Lorde Demônio libertado. Os soldados e agricultores que querem terra, os comerciantes e artesãos que querem produtos, e os governantes insignificantes que querem expandir suas posses também seguirão essa onda.

Fuuga continuou a descrever seu plano imaginado. Havia partes que pareciam irreais, mas eu tinha uma estranha premonição de que Fuuga poderia realmente realizá-lo. Se as pessoas se sentissem como ele disse que se sentiriam, poderia muito bem se tornar “esperança” para elas.

— Mas seria tão simples assim? — Perguntei. — Mesmo em seu auge, o Império falhou em sua invasão ao Domínio do Lorde Demônio.

— Eu sei disso. Mas há algo em que estou convencido.

— Algo em que está convencido? — Perguntei de volta, questionando.

Fuuga me deu um firme aceno de cabeça.

— Dizem que a força aliada liderada pelo Império não foi derrotada por monstros, mas por demônios. E os demônios só existem nas partes mais profundas do Domínio do Lorde Demônio.

Fiquei chocado. Os demônios só existiam nas partes profundas do Domínio do Lorde Demônio?

— …Com base em que você diz isso?

— Entrei no Domínio do Lorde Demônio por curiosidade, apesar de ter sido atacado frequentemente por monstros, nunca encontrei um único demônio. Cheguei bem fundo também. Isso significa que os demônios não estão espalhados por todo o Domínio.

Fiquei sem palavras. Senti como se a conjectura de Fuuga estivesse correta.

Ele provavelmente não sabia, mas eu já havia compartilhado minha teoria de que “Monstros são para demônios como animais são para humanos” com o Império. Se esses demônios não pudessem se comunicar com os monstros, eles talvez os vissem como bestas perigosas, da mesma forma que nós.

Se os demônios eram cautelosos em relação aos monstros, em vez de dividir suas forças, talvez eles formassem grandes colônias para proteger seus filhos e outros de ataques?

Se isso fosse verdade, o sucesso inicial das forças aliadas lideradas pelo Império faria sentido. Basicamente, a aliança tinha ido muito fundo no Domínio do Lorde Demônio e encontrado uma colônia de demônios. Eles então atacaram os monstros e os demônios sem discriminar entre eles…

Em outras palavras, o extermínio de bestas prejudiciais escalou para uma guerra total.

— Urgh… — Agarrei minha cabeça ao ser atingido por uma enxaqueca.

Naden expressou telepaticamente sua preocupação com uma voz suave.

— Espere, Souma, você está bem?

Eu disse a ela que estava tudo bem, mas por dentro, não achava que estava nada bem. Havia muito no que pensar. Eu queria falar com Maria o mais rápido possível.

Sem sinal de ter notado, Fuuga continuou falando.

— É por isso que acho possível retomar parte do Domínio do Lorde Demônio. Usarei esse feito para conquistar a opinião pública dentro da união para o meu lado e criar a oportunidade para a unificação. Esmagarei todos os que se opuserem a mim, forçarei os não cooperativos a se submeterem com poder, destruirei todos os laços inúteis que nos prendem e farei deste país um só.

— Você pretende fazer tudo isso sozinho?

— Eu já disse, não disse? Se não eu, quem mais?! — Fuuga parecia cheio de confiança.

Aquela imaginação e determinação incríveis… Este homem estava claramente em uma dimensão diferente de qualquer outra pessoa.

O que fazia desse homem o que ele era, sem dúvida, era a tensão neste país e os desejos das pessoas de se libertarem dela. Ele era a personificação das esperanças dessas pessoas.

— Você tem ideia do tamanho dos rios de sangue que seriam derramados? — Perguntei. — É um caminho de carnificina esse que você planeja percorrer.

— Não me importo! A vida é curta. Mesmo as raças longevas morrem quando chega a hora delas. Portanto, é o maior desejo de um homem realizar algo grandioso que as gerações futuras lembrarão!

…Sim, não havia mais dúvidas.

Este homem estava tentando se tornar aquilo que Maria havia rejeitado ser.

Ele era um ser que crescia alimentando-se das esperanças das pessoas, tornando-se algo mais que humano no processo.

Ele queria se tornar o “grande homem” desta era.

Sempre que uma era chegava a um impasse, grandes pessoas apareciam como se estivessem respondendo aos desejos das pessoas.

Ying Zheng de Qin (Qin Shi Huang)3Imperador de uma China unificada, de 221 a.C. a 210 a.C., reinando sob a alcunha de Primeiro Imperador, Oda Nobunaga4Daimyo do período Sengoku da história japonesa. Viveu uma vida de contínuas conquistas militares até conquistar quase todo o Japão, quando foi assassinado em 1582., Napoleão… Os grandes homens que apareciam para romper uma situação interminável sempre eram violentos na destruição dos valores mantidos até então, e tentavam construir um novo mundo sobre as ruínas do antigo. Muitos que eram elogiados por suas grandes obras em gerações posteriores eram vistos como nada mais do que assassinos pelas pessoas da época.

Eu via o potencial para Fuuga se tornar esse tipo de grande homem.

Nesta era confusa com o Domínio do Lorde Demônio ao norte, as pessoas estavam procurando um recipiente no qual pudessem depositar suas esperanças. Eu estava desperdiçando o rótulo de “herói” e Maria tinha a capacidade de ser uma “santa”. No entanto, nós tínhamos rejeitado nos tornar algo mais que humanos, então esse recipiente ainda não tinha aparecido.

Mas e Fuuga? Se as pessoas procurassem por ele para se tornar um “grande homem”, não se tornaria um sem hesitar?

Dessa forma, com as esperanças das pessoas por trás dele, não tentaria se tornar o poder hegemônico desta era?

“Quando eu voltar para casa… Preciso contar a Maria.”

“Preciso dizer a ela para ter cuidado com Fuuga Haan da União das Nações Orientais.”

Se este homem realmente ascender, até as nações mais fortes da humanidade estarão em risco.

E assim, tomei nota cuidadosamente do nome de Fuuga Haan como a pessoa pela qual eu mais precisava me preocupar a partir de agora.

 


 

Tradução: Shinpei

Revisão: Merovíngio (Lopez)

 

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