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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 05 – Epílogo – Rumo à Primeira Viagem ao Exterior

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1º dia, 4º mês, 1.547º ano, Calendário Continental

Foi um dia após a realização do Festival de Anúncios da Primavera da Ortodoxia Lunariana.

O Festival de ontem foi bem animado, então a cidade do castelo estaria ocupada sendo limpa hoje. Eu estava passando o dia no escritório de assuntos governamentais, olhando um único pedaço de papel.

Liscia, que acabara de entrar na sala, olhou para mim com desconfiança e perguntou:

— Algum problema, Souma?

— Hmm? Ah, eu estava olhando para isso. — Mostrei o papel que eu estava olhando para Liscia.

O pedaço de papel tinha três caracteres, ou símbolos, algo que eu não conseguia entender, alinhados. Começando da esquerda, havia “um triângulo com forma de seta apontando para a esquerda, combinado com um retângulo”; “Duas linhas verticais e uma linha vertical com cinco linhas horizontais cruzando-a;” e “um símbolo com forma de guarda-chuva”.

Liscia olhou de lado para o pedaço de papel que dei a ela.

— O que é isso?

— Aparentemente é uma parte do oráculo do Lunólito que Merula viu.

 

 

 

Merula Merlin veio com Souji Lester, o bispo que convidamos como uma medida contra a Ortodoxia Lunariana. Sua pesquisa focava principalmente em espíritos e magia, e seus longos anos de pesquisa produziram uma quantidade incrível de conhecimento, então a recebi de braços abertos.

Agora ela estava no laboratório de Genia, a supercientista , onde havia todo tipo de equipamento disponível.

Parecia que o minério de maldição, que absorvia magia, era um assunto bastante interessante de se pesquisar para Merula. Ela e Genia estavam passando dia após dia juntas, concentradas em suas pesquisas.

Que tipo de reação química teria o encontro da supercientista e da pesquisadora de magia neste país? Eu estava ansioso e meio preocupado com o resultado disso…

Algo aconteceu na primeira vez que conheci Merula.

O oráculo que ela disse ter aparecido no Lunólito surgiu em uma conversa e, quando eu perguntei por detalhes, Merula balançou a cabeça em desapontamento.

— Eles chamam de oráculo, então acho que o que apareceu era um texto; mas não estava em um sistema de escrita de nenhum país deste mundo, então não pude entender o que dizia. Se eu tivesse um pouco mais de tempo, poderia ao menos conseguir descobrir se eram fonógrafos ou ideógrafos, mas…

Parecia que ela não teve tempo para memorizá-lo bem. Sua vida estava em perigo, então eu dificilmente poderia culpá-la por isso.

Quando perguntei se havia algo que ela lembrava, não importando o quão pequeno fosse, ela disse:

Isso é realmente uma pequena fração, mas me recordo de ser… algo assim…

Em seguida, ela escreveu esses três caracteres, ou símbolos incompreensíveis, em um pedaço de papel. A memória de Merula estava vaga, então provavelmente desenhou exatamente o que viu.

No final, a única coisa que sabíamos era que esses caracteres ou símbolos haviam aparecido como um oráculo.

Liscia pareceu perceber algo e disse:

— Ah…! Se a escrita não é deste mundo, poderia ser do seu?

— Sim. — falei. — Também suspeitei disso, mas não tenho a menor ideia do que seja…

Não poderia alegar familiaridade com todos os sistemas de escrita da Terra, obviamente, mas poderia ao menos dizer que em mais de uma década no Japão, não me lembrava de ter visto esse tipo de escrita (?) antes. A do meio pode parecer um pouco com o kanji para “orar” ou “samurai” se olhá-lo do jeito certo, mas para a com forma de flecha, que veio antes, e a com de guarda-chuva, que veio depois… eu não tinha ideia.

Desisti e coloquei o pedaço de papel dentro da mesa do escritório de relações governamentais.

— Bem, mesmo se eu pudesse ler os três caracteres, não me faria bem algum. Afinal, não posso negligenciar minhas obrigações apenas por curiosidade. Vamos esquecer isso por enquanto.

E, assim, eu e Liscia começamos o trabalho do dia, mas… acabei deixando uma das minhas consciências pensando nisso.

Às vezes, algumas coisas aconteciam fora de Friedônia. Se algo me incomodasse, quando fosse um assunto nacional, eu poderia trazer novas pessoas, designar gente para o problema e designar verba para investigá-lo. Afinal, eu tinha minha posição de rei.

Contudo, quando era em outro país, não podia investigar.

Se fosse algo que o país em questão já tivesse investigado, era possível obter as informações por diplomacia ou espionagem. No entanto, se ainda não tivessem investigado, não tinha como obter informações sobre o assunto. Por ser em outro país, também não poderia enviar uma equipe de investigação.

O que aconteceria se, dentro dessa informação que este outro país ainda não teve acesso, houvesse algo que pudesse decidir o destino de nossa própria nação? E se descobríssemos sobre isso tarde demais? Sempre que pensava nisso, não conseguia me acalmar.

O mundo não estava completo só com um país. Especialmente se eu estivesse dentro do castelo, era normal que houvessem coisas que eu não pudesse descobrir. Eu ainda… tinha muito o que aprender sobre este mundo.

Eu preciso aprender mais. Sobre muito mais coisas, sobre os diversos países diferentes…

Embora abarrotado de trabalhos governamentais, era sobre isso que eu pensava.

 

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Era um espaço misterioso.

Era como se eu estivesse em um abismo onde nenhuma luz alcançasse; ou talvez eu tivesse sido jogado em um espaço profundo, onde não conseguia nem mesmo diferenciar a esquerda da direita.

Eu estava flutuando no meio daquele espaço.

Conseguia respirar normalmente, mas meu pensamento parecia confuso de alguma forma.

Ah… Isso provavelmente é um sonho. Estou no mundo dos sonhos.

Às vezes enquanto sonhava, eu percebia que era um sonho.

Quando eu dormia em algo tipo um kotatsu, onde era difícil adormecer totalmente, notava que era um sonho e pensava que precisava acordar rápido, porém acabava sonhando que acordava, só pra perceber mais uma vez que estava sonhando, e sonhava novamente que acordava… e continuava assim. Foi perto de como me sentia neste momento.

Enquanto eu vagava naquele estado adormecido, uma luz apareceu na minha frente de repente.

Ela foi crescendo gradualmente, chegando a atingir dezenas de vezes o meu tamanho. A luz que alcançou um tamanho descomunal eventualmente começou a tomar forma de algo. À medida que tomava forma, a luz, uma vez forte, enfraqueceu aos poucos. E, então…

O que apareceu diante dos meus olhos foi um enorme dragão de prata.

Seu senso de presença era avassalador. Tinha chifres enrolados como os de uma cabra, além de garras e presas que pareciam capazes de despedaçar aço. Asas poderosas se expandiram largamente. Seu corpo era coberto por pelos suaves e prateados. Seus olhos azuis pareciam gentis de alguma forma. Era um dragão másculo, mas ainda parecia maternal.

Já haviam me dito que wyverns e dragões eram completamente diferentes antes, mas… agora eu conseguia entender. Esta criatura era tão brilhantemente divina que parecia um absurdo compará-la a um wyvern.

— Talvez você seja… a Mãe Dragão? — perguntei.

Foi um palpite. Eu já tinha ouvido falar disso antes. Haviam dito que havia dragões sencientes vivendo na Cordilheira do Dragão Estrela e que eles eram governados por um lindo dragão branco enorme. O dragão diante dos meus olhos era tão bonito que eu a descreveria como um dragão de prata, não branco, mas ela se encaixava perfeitamente na imagem da Mãe Dragão.

A Mãe Dragão não confirmou nem negou, mas seus olhos inabaláveis fixos aos meus me disseram que a resposta era “sim”.

Então a Mãe Dragão esticou seu longo pescoço. Até sua cabeça era incrivelmente grande, e se ela quisesse, poderia facilmente me engolir inteiro ali mesmo. Entrei um pouco em pânico, mas meu corpo não se moveu, como se estivesse costurado no lugar.

Felizmente, a Mãe Dragão não abriu a boca quando se aproximou, e seu nariz apenas se aproximou. Então ela inalou suavemente. Ficamos assim por um curto tempo, e então a Mãe Dragão lentamente afastou sua cabeça de mim.

 — Você tem um cheiro familiar — falou.

Huh?! Eu pensei, chocado.

Ouvi uma voz. Tinha o tom de uma senhora gentil. Talvez fosse a voz da Mãe Dragão. Achei que pudesse ser, mas ela não havia aberto a boca.

 — Você tem um cheiro familiar.

Eu tinha ouvido de novo. Sim, eu definitivamente senti que veio da direção da Mãe Dragão.

 — Essa… voz que parece estar falando diretamente em meu cérebro, é a sua? — perguntei.

Mãe Dragão parecia ter concordado.

— Este é o único jeito de falarmos quando estivermos na forma de dragão.

— Isso é legal…

Que habilidade misteriosa. Eu não sabia se era magia de comunicação ou talvez telepatia, mas, bem, isso era um sonho, então qualquer coisa servia, eu acho. Mas ainda assim… ter uma conversa com a Mãe Dragão no meu sonho era como algo que saiu de um antigo filme de fantasia.

 — Você… é quem está me mostrando esse sonho? — questionei.

— Não. — falou. — Isto é um sonho, mas também não é. Ao sincronizar nossas consciências, criei um pseudo-sonho e, assim, consegui criar um espaço para falarmos assim.

A Mãe Dragão explicou isso como se tudo fosse muito natural.

Sincronização de consciência, pseudo-sonhos… O cenário parecia ter saído de um filme de fantasia, mas o vocabulário era extremamente sistemático. Era quase como se ela estivesse familiarizada com ficção científica.

Tinha ouvido falar que haviam dragões inteligentes na Cordilheira do Dragão Estrela e assumi que a inteligência era suficiente para que eles pudessem falar iguais humanos, mas talvez sua inteligência transcendesse, em muito, a da raça humana. Se fosse esse o caso, que país incomensurável eles eram.

— Então, Madame Mãe Dragão, por que você arranjou um encontro nosso assim? — Me dirigi a ela como se fosse uma rainha, fazendo o meu melhor para fingir compostura.

Mesmo que tivesse perguntado apenas para ver o que ela diria… Eu tinha alguns pensamentos do por que ela me contatar.

Deve ser o Dramecha, o negócio que Genia fez com os ossos que havíamos escavado.  Se a Cordilheira do Dragão ficasse irritada conosco, e nos dissesse não brinque com os restos da minha espécie, nosso país não teria escolha a não ser oferecer uma desculpa sincera. Ao encontrar um dragão de verdade pela primeira vez, pude reafirmar uma coisa para mim mesmo: tínhamos que ter certeza de nunca nos tornarmos inimigos.

Era dito que o monstro em que os restos de um dragão podiam se transformar, um dragão morto-vivo, conseguiria destruir um país inteiro, não é? Isso provavelmente significava que os dragões tinham muito potencial para começo de conversa. Isso me ajudou a entender por que, mesmo no auge de seu poder, o Império não tinha sido capaz de colocar as mãos na Cordilheira do Dragão Estrela. Ou melhor, era ousadia eles decidirem começar uma briga com seres assim em primeiro lugar.

Enquanto eu suava frio, a Mãe Dragão parecia sorrir levemente.

— Não tenho nada a dizer sobre isso.

— Hã?! — Ela leu minha mente?!

— Eu te disse: este é um lugar criado pela sincronização de sua mente e a minha. Mesmo sem falar, você deve ser capaz de ouvir minha voz.

Então podemos nos comunicar apenas pensando, é isso?

Quando escolhi pensar no que queria dizer, ao invés de falar, a Mãe Dragão assentiu.

Bem, droga. Não estávamos apenas tendo uma conversa sincera; os nossos pensamentos foram compartilhados.

Não poderia haver lugar mais justo para negociar, mas também significava que eu não poderia mentir para ela. Não, por melhor que a Mãe Dragão fosse, ela era boa o suficiente para contar mentiras em seu próprio coração? Quando pensei nisso, a Mãe Dragão balançou a cabeça.

— Não consigo fazer isso. Nenhuma criatura pode mentir em seu coração.

— Isso é verdade? — perguntei.

— Sim. Aliás, você não precisa dizer nada em voz alta, sabia?

— Não… Acho isso um pouco perturbador, então me deixe falar normalmente, por favor.

Este era um espaço onde nada poderia ser escondido. Decidi perguntar a ela sobre isso imediatamente.

— Então, sobre o Dramecha… estava dizendo que não tinha nada pra falar?

— Não tenho intenção de dizer o que você pode ou não fazer com os restos mortais quando a alma se foi e, fisicamente, o osso foi substituído por pedra.

— Mesmo que eles fossem os ossos de um dos seus?

— Vocês exibem os restos fossilizados dos seus ancestrais também.  — disse ela. — Não posso dizer que não tenho objeções sobre isso, mas é inevitável. Todos os seres vivos eventualmente morrem e, então, apodrecem. Animais, plantas, humanos e dragões também; todos nós voltamos à terra no fim. Nesse caso, devemos lamentar que, quando pisamos na terra, chutamos aqueles que já foram nossos irmãos?

Eu estava surpreso. Mesmo sendo um objeto de adoração, a Mãe Dragão falava em termos realistas. Além disso, se a sua menção de retornar ao solo foi em referência a digerido por microrganismos, eu realmente não poderia subestimar o conhecimento dos dragões.

— Se não são assuntos com o Dramecha, por que realizou esta reunião? — questionei.

A Mãe Dragão estreitou os olhos um pouco.

— Você tem um cheiro familiar, Rei de Elfrieden e Amidônia, Sir Souma Kazuya. Gostaria que você viesse visitar a Cordilheira do Dragão Estrela.

— Cordilheira do Dragão Estrela? — perguntei.

A Mãe Dragão acenou calmamente.

— Em um futuro próximo, faremos uma cerimônia para os jovens dragões da Cordilheira do Dragão Estrela formarem ‘contratos de montaria’ com os cavaleiros do Reino dos Cavaleiros Dragões Nothung. Eu gostaria que você participasse dessa cerimônia.

— Hã?

Eu iria participar da cerimônia dos cavaleiros dragão…? Espera, a Cordilheira do Dragão Estrela não tinha relações diplomáticas com nenhum país além do Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung, não era? Quando tentei pedir por mais detalhes, o corpo da Mãe Dragão começou a brilhar igual quando ela apareceu pela primeira vez. Estava tão claro que precisei apertar os olhos.

Pouco antes de sua forma desaparecer, a Mãe Dragão me deixou com estas palavras:

Há algo que desejo confiar a você.

 

 

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Quando abri meus olhos, estava em uma cama em um quarto escuro.

Olhei em volta com minha mente ainda turva. Provavelmente ainda era noite. Estava escuro, mas a luz do luar entrando pela janela me permitiu ver o interior deste quarto limpo e arrumado em estilo ocidental.

Esse é… Ah, é mesmo. Estou no quarto da Liscia.

Ontem à noite… ou melhor, todas as noites recentemente, a menos que eu estivesse especialmente ocupado com o trabalho… iria dormir e acordar no quarto de Liscia. Claro… bem… isso era para que pudéssemos fazer muitas coisas.

Quando olhei ao meu lado, como esperado, encontrei o rosto adormecido de Liscia. Ficaria agitado na manhã seguinte se fizéssemos isso no escritório de relações governamentais. Quanto ao meu quarto, metade era minha oficina de fabricação de bonecas e o restante era onde passávamos um tempo em família, então seria estranho; por isso, como resultado, estávamos usando o quarto de Liscia todas as noites.

— Nngh… — Liscia, que estava deitada de costas ao meu lado, adormecida e nua, pareceu levantar a cabeça, mas então rolou para o lado. Então, abrindo lentamente os olhos, ela expulsou o sono deles e olhou para mim. — Mmm… Souma?

— Desculpa. Eu te acordei?

— Não, tudo bem. Como está?

— Ah… Acabei de ter um sonho incrível…

— Um sonho?

Foi quando aquilo aconteceu.

Ohhhhhhhhhhhhhhh…

De repente, um som assim foi ouvido. Era um som misterioso, quase como uma sirene, ou talvez o uivo de alguma criatura. Podíamos ouvi-lo de uma boa distância, então devia ser um som muito alto, mas não fez nossos ouvidos zumbirem. Não iria acordar aqueles que estavam dormindo, provavelmente. Eu nunca tinha ouvido isso antes, mas imaginei que fosse igual ao canto das baleias.

Vesti minha camisa e minha calça. Em seguida, me levantei da cama e fui até a janela. Quando fiz isso, vi uma grande sombra no céu voando para o noroeste.

— Que incomum. — disse Liscia. — Aquela é a Mãe Dragão em um de seus passeios.

Liscia estava ao meu lado, nua, com exceção do cobertor enrolado em sua volta.

— Passeios? — perguntei.

— É a minha primeira vez vendo por mim mesma. Em raras ocasiões, a Mãe Dragão voa ao redor do continente. Ela não faz nada em particular, mas os adoradores da Mãe Dragão dizem que boa sorte vem para aqueles que a veem nesses voos.

— Boa sorte, né…?

 

 

 

Liscia parecia pensar que era uma coincidência, mas quando considerei o sonho que eu acabei de ter…

Era um sonho ao mesmo tempo que não era… É isso?

Tive o pressentimento de que algo aconteceria de novo e soltei um pequeno suspiro.

 

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No dia seguinte…

Enquanto eu ainda me preocupava com os acontecimentos da noite passada, estava trabalhando normalmente no escritório de assuntos governamentais quando o exausto primeiro-ministro, Hakuya, entrou.

— Qual é o problema? — perguntei. — Você parece muito cansado.

Hakuya se aproximou e disse, com um olhar atormentado:

— Sua Majestade… Posso te pedir para ficar longe do castelo por um tempo?

— Como é?

Afastar-me do castelo? Ele estava me dizendo para sair do castelo? Eu era tipo um rei aqui, sabia?

— Você está me destronando? — questionei. — Sério, Hakuya, se você quer o trono, está tudo bem, não ligo de deixar você tê-lo.

— Não fale bobagens. Eu não quero esse negócio.

— ‘Esse negócio’? Escuta aqui…

— Está tudo bem. Só me ouça. Recentemente, você anunciou a data de sua cerimônia de casamento, certo?

Quando Hakuya me perguntou isso, eu concordei.

Outro dia, anunciei que eu, que ainda era apenas um rei provisório que não havia ascendido formalmente ao trono, realizaria a cerimônia de coroação que me tornaria o décimo quarto rei, em conjunto do casamento com Liscia e as outras, no final deste ano. Decidi fazer assim pois lidar com grandes eventos de uma vez seria mais fácil para o tesouro nacional.

No entanto, Hakuya disse que isso estava causando problemas.

— O castelo está agora sendo sobrecarregado com propostas dos nobres, como também de reis de pequenos e médios Estados da União das Nações Orientais, todos desejando formar laços matrimoniais com você, senhor. Eles esperam se esgueirar para dentro agora, antes que a cerimônia de casamento aconteça.

— É uma onda de pretendentes de última hora, então? — falei. — Você não pode simplesmente recusá-los?

— Sim, mas… todas são de casas com uma posição que se torna difícil recusar quando dizem ‘Mesmo que você vá recusar, gostaríamos de nos encontrar pelo menos uma vez antes.’ Recentemente, o número de propostas de casamento trazidas para o castelo tem aumentado, o que deixa a seção responsável prestes a ruir.

— Há tantas pessoas me enviando propostas de casamento…? — perguntei, receoso.

— Não, elas não são apenas para você, senhor. Todos os homens solteiros ao seu lado são vistos como alguém de futuro promissor e têm recebido um número alto de propostas de casamento também.

Então, se não pudessem se casar com alguém da família real, queriam ao menos casar com um vassalo de futuro promissor. Esse foi provavelmente um desafio mais fácil de se superar do que virar um membro da família real, afinal. Honestamente… se você dissesse que isso era tudo que os nobres faziam, seria verdade, mas… ainda assim, era impressionante eles continuarem desse jeito.

— Aliás, o mais popular deles é Sir Poncho. — disse Hakuya.

Poncho? Agora houve uma surpresa.

— Não é Ludwin, o belo capitão da Guarda Real?

— É verdade, Sir Ludwin é incrivelmente popular, mas a Casa dos Arcs é uma grande Casa. Os únicos que poderiam propor são da nobreza e da classe dos cavaleiros. — disse Hakuya. — Baseado nisso, Sir Poncho veio do povo, então mesmo as famílias mercantis comuns lhe enviam propostas de casamento. Além disso, embora Sir Ludwin se sinta fora de alcance, muitas mulheres parecem pensar que poderiam seduzir facilmente Sir Poncho.

— Então ele não está sendo levado a sério…

Se as propostas de casamento estavam se acumulando para Poncho, significava que ele também era popular. Embora fosse rechonchudo, ele também era um jovem gentil e simpático. Mais do que isso, sua comida era deliciosa. Além do mais, ele conduziu o país para uma solução da crise alimentar; e se você considerar que ele era quase adorado como um deus da comida na região da Amidônia, provavelmente muitas mulheres gostariam de se casar com ele.

Poncho era conhecido por se afastar quando pressionado, o que era visível em suas aparições nos programas de transmissão. Para qualquer mulher com um pouco de confiança em sua aparência, pode não ter sido irracional pensar que poderiam atravessar suas defesas com força total. Na verdade, Poncho não era muito bom em se defender desse tipo de avanço.

Hmm… Fiquei feliz em saber que um bom vassalo como Poncho fazia sucesso com as mulheres, mas esperava que ele continuasse fazendo um bom trabalho para mim no futuro, então não queria que alguém muito estranho o pegasse.

— Você já lidou com isso? — perguntei.

— Sim. Já pedi à Madame Serina para agir como assistente de Sir Poncho. Ela participa das reuniões matrimoniais arranjadas com ele, afastando as mulheres que se aproximam apenas por ambição.

Ah… Sem motivos de preocupação então. Já que a Serina estava lá como assistente de Poncho, provavelmente tudo ocorreria bem.

Havia alguns problemas com sua personalidade, mas ela era extremamente graciosa e bonita. Se ela estivesse ao seu lado, as mulheres com pouca confiança em suas aparências, com o pensamento de que poderiam seduzi-lo, iriam recuar.

Eu já tinha pedido para ela para servir como assistente de Poncho antes, mas Serina sempre disse coisas como “Quando eu me esforço a favor de um cavalheiro, espero que ele se desenvolva um pouco mais. Estou trabalhando muito, então me convide para uma refeição de novo qualquer dia, por favor.”

Embora reclamasse e deixasse óbvio que só fazia isso porque queria a comida dele, ela parecia ser proativa para cuidar de Poncho. Ele adorava comer e cozinhar, e Serina estava viciada nas comidas da Terra que estávamos desenvolvendo juntos.

Serina parecia não saber disso porque ela tinha deixado sua tendência sádica de intimidar garotas bonitas se descontrolar, mas sinto que ele a domesticou completamente com comida. Ele era um homem tímido que você não podia deixar sozinho e ela, uma mulher determinada com tendência a se intrometer, então eles se davam bem e… Espera, hein?

— Serina participa das reuniões de casamento de Poncho, certo? — questionei.

— Sim. Ouvi dizer que muitas mulheres se desculpam quando percebem a aparência da mulher ao seu lado.

— Não é como se… Serina estivesse ‘protegendo’ Poncho inconscientemente?

— …

Olhamos um para o outro, expressões estranhas preenchendo nossas faces.

Sim… era melhor não nos envolvermos nisso. Seria rude nos intrometermos e falarmos qualquer coisa. Por enquanto, decidi mudar de assunto.

— Ahem… Enfim, aposto que não são apenas Ludwin e Poncho, né? Você deve ter um número significativo de propostas também, não é?

Hakuya era bonito, e era o homem mais próximo a mim. Eu não poderia imaginar as senhoritas e os nobres deixando-o escapar. Quando falei disso, Hakuya pareceu como se tivesse mordido algo desagradável.

— Eu… não tenho intenção de casar ainda.

— Não é como se você não tivesse interesse em mulheres, certo? Você é um daqueles que acham o casamento irritante?

— Não. — disse Hakuya. — Eu pretendo ter uma mulher e filhos algum dia, mas quero encontrar e escolher minha companheira. Não gostaria de alguém forçando um casamento em mim.

— Você está dizendo isso para mim? — perguntei.

Para Liscia e eu, nosso noivado foi totalmente forçado. Mesmo com Aisha e Juna, ambas inicialmente se aproximaram de mim por outros motivos devido a suas posições; e quanto a Roroa, ela trouxe seu país inteiro junto para que pudesse proteger o povo do Principado, casando-se comigo. Eu não encontrei nenhuma delas normalmente.

Quando indiquei isso, Hakuya curvou a cabeça para mim, mais perturbado do que eu esperava.

— Peço desculpas. Eu não quis falar mal de seus noivados, senhor…

— Está tudo bem. Quero dizer, no meu mundo, a maioria das pessoas pensam igual a você.

No Japão, os casamentos geralmente eram por amor e com o consentimento de ambas as partes.

Neste mundo que não conseguiu se livrar do sistema feudal, quanto mais alta sua posição na sociedade, menos liberdade as pessoas tinham a esse respeito. Em particular, quando se tratava dos casamentos de cavaleiros e nobres, seu significado como uma união entre as casas era muito importante. Assim como Ludwin e Genia, ou Hal e Kaede, havia casos em que as casas já estavam associadas uma com a outra, mas eram raras exceções. Na maioria dos casos, quanto mais você sobe socialmente, mais as expectativas da casa determinam as escolhas de casamento de alguém.

Entretanto, dito isso, se alguém tivesse autoridade suficiente, como eu, era um problema que poderia ser resolvido. Aconteceu com meu noivado com Juna, mas se combinássemos que ela fosse adotada por uma família nobre, seria possível arrumar nossa diferença de status.

No caso de Hakuya, ele era o primeiro-ministro deste país, então poderia fazer algo assim. Por isso, neste caso, era um problema com a visão do Hakuya sobre o casamento.

Bem, se havia algo que eu pudesse dizer, era que não importa como começou, amor é amor. Meu vínculo com Liscia e as outras era tão profundo agora que não podia imaginar me separar delas.

— Ei, alguns amores começaram em um relacionamento forçado, sabia? — perguntei, falando carinhosamente das pessoas que eu amava.

Hakuya pareceu surpreso, então sorriu um pouco.

— Suponho que esteja certo. Quando vejo vocês, senhor, começo a pensar que talvez tudo fique bem.

— Mas, por enquanto, você ainda não tem intenção de se casar com ninguém?

— Sinto muito.

Hmm… Bem, se ele queria esperar sua mulher ideal aparecer, pensei que fosse uma opção. Talvez ele já tivesse conhecido alguém assim e estivesse em um amor unilateral no momento.

— Mas como seu rei, deixe-me dizer, é melhor começar a treinar um herdeiro para o caso de o pior acontecer. — falei. — Tenho certeza de que você também gostaria de ter uma aposentadoria fácil e rápida, certo?

— Sim. Acho que vou buscar o momento certo para pegar um aprendiz.

— Ah, acho que um aprendiz também pode funcionar. Parando para pensar, você tem ensinado Tomoe, não é?

Tomoe era minha irmã mais nova adotiva e eu a amava profundamente. Recentemente ela tinha aprendido a ler, escrever e aritmética com o Hakuya. Ele aparentemente estava lhe ensinando a história do país também. Ouvi dizer que ela era uma aluna entusiasmada e que Hakuya estava retribuindo, tornando-se um instrutor entusiasmado.

Quando toquei no assunto, Hakuya sorriu ironicamente.

— Eu cedi à sua irmãzinha para ajudar sua irmã mais velha. Embora ela não seja especialmente inteligente, tem paixão, então acredito que ela possa se tornar uma pessoa talentosa com o tempo. Mesmo dizendo isso, não desejo sobrecarregar sua irmãzinha com as minhas responsabilidades.

— Já está mimando sua aluna? — perguntei.

— Minha opinião é baseada em uma avaliação calma.

Hmm… Bem, se Hakuya estava pensando sobre essas coisas do seu jeito, era bom o suficiente, eu acho.

— Ei, espera! Como chegamos nesse assunto de novo? — perguntei.

— Falando sobre como estamos sobrecarregados com propostas de casamento para você, senhor. — Hakuya respondeu. — Baseado nisso, eu quero que você saia do castelo por um tempo. Se você não estiver no castelo, será fácil recusar os nobres que insistem em “encontrá-lo pessoalmente”.

Ah, é mesmo. Se eu não estiver presente, não poderia encontrá-los, mesmo se eu quisesse. Seu plano era ser evasivo e evitar respostas diretas enquanto esperávamos essa onda diminuir, sem dúvida.

— Mas e quanto ao meu trabalho governamental?

— Felizmente, não há assuntos urgentes e o país está estável agora. Para o seu trabalho governamental normal, você pode usar aquele seu ‘Braço Fabricado’ assustador e ele fará o trabalho corretamente, não é?

— Não chame de assustador. — disse. — Bem… Acho que você tem razão.

Ele estava falando do manipulador do tipo braço que Genia havia inventado: O Braço Fabricado #1. Conectando o Braço Fabricado #1, que poderia se mover como um braço humano de verdade, em um manequim, eu era capaz de realizar meu trabalho à distância. Era horrível de se olhar, então não era popular com os que tinham que visitar a sala, como os burocratas ou os camareiros, mas era bem útil de se ter.

Era verdade que, enquanto eu tivesse isso, não precisava estar no castelo.

— Então, quando eu estiver fora do castelo, o que espera que eu faça? — perguntei.

— Bem, pensando em te dar um ambiente onde seja fácil excluir os nobres que queiram se encontrar com você e que seja um lugar fechado e seguro, eu estava considerando uma inscrição curta na Academia Real ou na Academia de Oficiais Reais para você, mas… — Hakuya retirou uma carta. — Agora que algo assim chegou, acho que vou mandá-lo para o exterior.

— Para o exterior? — perguntei enquanto olhava para a carta. Havia um selo de dragão no lacre.

Hakuya abaixou a cabeça.

— Tomei a liberdade de abri-la e ler o conteúdo. É um convite para a Cerimônia de Contrato na Cordilheira do Dragão Estrela.

— A Madame Mãe Dragão com certeza trabalha rápido, hein.

— Hm? O que quer dizer?

Hakuya me olhou com curiosidade, então expliquei a ele o que havia acontecido na noite anterior. Quando Hakuya ouviu que eu falei com a Mãe Dragão em meus sonhos, ele tinha uma expressão animada que eu não costumava ver nele.

— Que honra deve ter sido!

— Você parece terrivelmente tenso. Hakuya, você é um daqueles adoradores da Mãe Dragão?

— Ah, eu não… É verdade que minha família adorava a Mãe Dragão, mas eu não sou tão devoto.

— Ok, então com o que está tão animado? — perguntei.

Hakuya encolheu os ombros aborrecido.

— A única nação que a Cordilheira do Dragão Estrela formou relações diplomáticas é com o Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung, mas há raras ocasiões em que a Mãe Dragão abre uma exceção e convida alguém em específico para formar um contrato de montaria com um dragão. Pelo que ouvi, o primeiro Rei deste país também foi convidado a formar um contrato com um dragão.

Ah, o primeiro rei, que foi convocado de outro mundo também.

Reunindo várias raças, fundando o Reino de Elfrieden, firmando um contrato com um dragão… ele certamente agiu mais como um herói do que eu. Excel provavelmente sabia de tudo sobre aquela época, então talvez fosse bom conversar com ela sobre as conquistas do herói alguma hora.

— Bem, por mais incomum que seja, é realmente algo que deveríamos estar com tanta pressa? —  Acabei perguntando.

— Há algo em comum entre você e o primeiro rei, senhor. Ambos foram convocados de outro mundo. É por isso que, para alguns, você lembra o primeiro rei. Se você conseguir formar um contrato com um dragão lá, como o primeiro rei, o número de pessoas que veem vocês dois do mesmo jeito aumentará. Se o povo o respeitar mais, o país ficará ainda mais estável.

— Eu pegaria emprestado a autoridade do primeiro rei, então. — refleti. — Parece que aumentaria as expectativas. Eu não gosto disso.

— Se disponha a aguentar isso, por favor. Você está fazendo seu trabalho como “rei”, mas seu título de “herói” está sendo deixado de lado. Para evitar perder para o Império ou para o Estado Papal Ortodoxo em termos de dignidade, considerando que os dois têm santos, tenho pensado que precisamos de algo prestigiado.

— Entendo o que você quer dizer, mas… não mantenha as esperanças altas demais, ok? — Tentei não me comprometer demais. — Não é garantido que formarei um contrato com um dragão. Quer dizer, posso ter sido chamado para lá só como convidado de honra.

Após avisar Hakuya disso, me apoiei sobre minhas mãos e pensei. Em primeiro lugar, assumindo que já estava decidido que eu iria para a Cordilheira do Dragão Estrela… a próxima coisa a decidir era quem eu levaria comigo.

— Então… é isso, foi decidido que vou para a Cordilheira do Dragão Estrela.

Isso foi algumas horas depois. Eu havia reunido meus companheiros na sala de conferências para o anúncio.

Estavam presentes minhas quatro noivas: Liscia, Aisha, Juna e Roroa, assim como o primeiro-ministro Hakuya, o capitão da guarda real Ludwin, o ministro das finanças Colbert, minha irmãzinha honorária Tomoe e as criadas Serina e Carla, um total de onze pessoas, comigo incluso.

— Você sairá do país, certo? Você ficará bem? — perguntou Liscia. Ela parecia preocupada, então eu concordei.

— Os Gatos Pretos irão cuidar de mim pelas sombras ao longo do caminho. Lembre-se, eu realmente não posso permitir a entrada deles no território da Cordilheira do Dragão Estrela comigo. Ainda assim, uma vez que estivermos na Cordilheira do Dragão Estrela, provavelmente não haverá ninguém que tentaria mexer conosco. Além disso, recebi permissão para trazer alguns companheiros comigo. Hakuya, qual era o limite mesmo?

— No máximo cinco pessoas, de acordo com a carta.

Assentindo em resposta à explicação de Hakuya, me virei para encarar os outros.

— Sendo assim, quero levar por volta de cinco pessoas. Iremos escondidos, então não quero me destacar, mas é fora do país e não sabemos o que pode acontecer. Por isso que, tanto quanto possível, quero pessoas que sejam capazes de lutar. Aisha, definitivamente quero você comigo.

— Sim, senhor. Irei protegê-lo com minha vida, Sua Majestade.

— Isso não é bom. — falei. — Você já é reconhecida pelo povo como candidata a se tornar minha futura segunda rainha primária. Sei que é estranho dizer isso quando sou eu quem preciso de proteção, mas não diga que dará sua vida por mim. Assegure-se de se proteger também.

— S-Sim! Entendido! — Aisha balançou a cabeça para cima e para baixo, concordando.

Em seguida, olhei para Liscia.

— Por outro lado, a única pessoa que não posso levar comigo desta vez é a Liscia.

— Você… pode me dar um motivo? — Liscia perguntou com uma expressão descontente no rosto. Ela claramente não estava satisfeita, mas estava disposta a me ouvir primeiro.

— Se eu sou o primeiro no comando neste país, você é a segunda. — falei. — Estimamos que a viagem ao exterior dure cerca de um mês. Não podemos deixar as duas maiores autoridades afastadas por tanto tempo. Tenho certeza de que não há risco de vida, mas pense no que aconteceria se algo atrasasse nosso retorno. Caso isso aconteça, preciso deixar para trás alguém que possa governar o país por mim.

— Você está certo. É triste, mas… Eu posso aceitar isso. — Liscia disse com um suspiro.

Eu também lamentava. Ela era uma garota confiável, além de que realmente queria levá-la comigo.

Liscia levou a mão ao peito, como se estivesse tentando ver a situação de outra forma.

— Vou cuidar da fortaleza enquanto estiver fora. Em troca, você pode tentar não ser muito imprudente?

— Sim. Estarei contando com você.

Depois de Liscia ter aceitado, me virei para Juna.

— Quanto a Juna, que pode tanto lutar quanto coletar informações, gostaria muito de levá-la, mas não podemos te tirar do programa educacional por muito tempo, podemos?

— Isso mesmo… É uma pena.

— Oh, oh! Eu! Eu! Eu quero ir! — Roroa levantou a mão e começou a pular tentando chamar minha atenção.

Colbert imediatamente prendeu seus braços atrás das costas.

— V-você não pode, princesa! Expandimos para tantas empresas diferentes, preciso de você aqui para ajudar a administrar todas! Além disso, você tem que aparecer com a Juna no programa educacional, não é?

Os ombros de Roroa caíram.

— Ah… mas eu também queria sair de férias com meu querido.

— É uma viagem ao exterior, ok? — falei. — Vamos todos sair de férias em família juntos eventualmente.

— É melhor mesmo, querido!

Dos membros restantes, olhei para Carla.

— Carla, quero que venha como guarda-costas também.

— E-Eu?!

— De todos aqui, procuro alguém com habilidades em artes marciais e que não faça nada de importante, então você é a melhor escolha.

— E-Entendido, mestre. — Carla gritou.

— Carla, cuide de Souma por mim, tudo bem? — Liscia caminhou até ela e pegou sua mão suavemente.

Carla a soltou, deu um passo para trás, e a saudou.

— Deixe comigo, Liscia. Eu juro que meu mestre voltará ileso!

Enquanto observava aquela conversa entre amigas com o canto do olho, me dirigi ao grupo.

— Quanto ao restante, eles não estão aqui, mas acho que levarei Hal e Kaede. A força de Hal é garantida e eu o conheço bem. A Kaede também é uma poderosa maga da terra, depois de tudo. Por enquanto, acho que vou levar esses quatro como meus companheiros. Todos, trabalhem com esse pressuposto e…

— U-um… Irmão. — Tomoe hesitante, mas com uma voz nítida, levantou a mão.

— Tomoe? O que foi? — perguntei.

— M-me leve com você, por favor!

— Quee?! — Todos gritaram de surpresa.

A tímida Tomoe, que fez de tudo para não atrapalhar adultos no castelo, do nada estava agindo agressivamente. Talvez o único que não ficou surpreso foi seu professor, Hakuya.

— Hum… é fora do país, sabia? — falei. — Pode ser perigoso também…

— Q-Quero ver mais do mundo! Não apenas o castelo. Eu quero ver mais de tudo e, eventualmente, ser alguém que possa apoiar meus irmãos mais velhos! — Tomoe cerrou os punhos enquanto fazia seu apelo.

Estávamos protegendo Tomoe até agora, mas ela disse que queria poder nos apoiar. Tomoe tinha onze anos agora. Se ela fosse um menino, seria um período da sua vida em que ainda estaria fazendo coisas estúpidas; e como uma menina, ela estava prestes a alcançar um período sensível. Fiquei feliz em ver essa mudança nela como membro da família, bem como preocupado.

— Senhor… — Hakuya disse. — Se possível, gostaria que você levasse sua irmã junto.

Continuei sem palavras.

— Durante esse período, julguei que ampliar seus horizontes lhe ajudaria a crescer. — continuou ele.

— Bem, claro que até mesmo no meu mundo havia um ditado, ‘Se você ama seu filho, deixe-o ir em uma jornada’, mas mesmo assim. — Eu cruzei meus braços e pensei sobre o que fazer.

— Por favor, Irmãozão…? — Tomoe implorou com os olhos lacrimejantes.

Quando ela pediu com aqueles olhos fofos de cachorrinho que me lembrava um comercial antigo de chihuahua, eu realmente me esforcei para encontrar minha resposta.

Tínhamos tudo sob controle com relação à proteção. Com Aisha e Halbert presentes, poderíamos revidar a praticamente qualquer situação.

Mas ainda… pode ser perigoso…

Eu estava em conflito entre minha preocupação por ela como seu irmão mais velho, e minha vontade de realizar seu desejo. Depois de quase dois minutos agonizando sobre isso… no final, me rendi ao olhar sincero de Tomoe e hasteei a bandeira branca.

— Está bem… Eu vou permitir. Mas só depois que você obter permissão de Tomoko. — Essa era a mãe de Tomoe. — Se não conseguir a permissão dela, não posso te levar comigo. Além disso, nenhum de nós falará com ela sobre isso. Você precisa convencer sua mãe sozinha. Ainda quer continuar?

— Sim! — Tomoe concordou energicamente.

Não sei o que aconteceu entre Tomoe e Tomoko depois disso. No entanto, no final, Tomoe conseguiu convencê-la.

Quando Tomoko apareceu ao lado de Tomoe mais tarde, ela deve ter ficado muito preocupada.

— Vossa Majestade, por favor, cuide da minha filha. — Tomoko disse, inclinando a cabeça para mim resolutamente.

Parece que a maçã não caiu longe da árvore. Eu quis dizer isso no bom sentido, é claro.

Pois bem, meus companheiros de viagem estavam decididos.

E lá iríamos nós.

Em direção ao país dos dragões, a Cordilheira do Dragão Estrela.

 

 


 

Tradução: Bruno.

Revisão: Master Shake

 

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