Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 04 – Cap. 06 – Capítulo Final: Na Neve

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– 30° Dia, 12° mês, 1.546° ano, Calendário Continental – Capital Real, Parnam –

Havia oito dias na semana deste mundo. Com quatro semanas em um mês, isso significava que cada mês tinha 32 dias. Havia doze meses em um ano, então o ano terminou no 384º dia.

Do terceiro ao quinto mês era primavera, do sexto ao oitavo era verão, do nono ao décimo primeiro era outono e do décimo segundo ao segundo do próximo ano era inverno, igual no Japão.

Era o 31º dia do décimo segundo mês. No calendário da Terra, seria a Véspera de Ano Novo, mas no calendário deste mundo, era apenas mais um dia no final do ano.

Neste país, a Véspera e o Dia de Ano Novo eram geralmente celebrados em silêncio com os amigos e a família. Normalmente, o castelo não ficava tão cheio (o ano político começava no primeiro dia do quarto mês), fora os sacerdotes que realizavam a cerimônia de Ano Novo, mas agora o grande salão no Castelo de Parnam estava em um estado de pandemônio.

— Aisha, leve esse set para a direita, ordenou Liscia.

— Entendido, prin… Lady Liscia.

Seguindo as instruções de Liscia, Aisha pegou um cenário que normalmente precisaria de vários adultos para levantá-lo e facilmente o jogou sobre seu ombro. Podíamos sempre contar com Aisha para fazer o trabalho pesado… Ah!

— Carla, Hal — chamei. — Alinhem esses dois pilares aqui.

— Entendido, mestre.

— Certo, certo — disse Hal. — Hah…

Com minhas instruções, Carla e Halbert, um comandante de vanguarda da Força de Defesa Nacional, estavam fixando no chão objetos (falsos) semelhantes a pilares de mármore que pareciam pertencer ao Partenon. A partir daí, Liscia e eu continuamos dando ordens aos meus vassalos (e noivas), seguindo os planos em minhas mãos.

— Ainda assim, pensar que você não só usaria a Força de Defesa Nacional, mas também uma futura rainha para fazer o trabalho duro por você… — disse Ludwin com um sorriso irônico.

Atrás de nós, Ludwin, o capitão da Guarda Real, e sua segunda em comando, Kaede, estavam finalizando os detalhes de seu plano de segurança no local.

— Seria impensável em qualquer outro país, sabe — disse Kaede. — Além disso, Hal, trabalhe mais rápido. Depressa, depressa.

— Eu estou, Kaede!

Acenei minha mão para Ludwin com desdém.

— Ora, ora, Aisha disse que queria ajudar a si mesma. Além disso, é apenas um fato que não há ninguém neste castelo mais forte do que ela.

Se tivéssemos magos da terra (para controle gravitacional), isso teria sido fácil, mas todos eles foram enviados para abrir estradas no recém-absorvido Principado da Amidônia. Não tínhamos guindastes para uso interno, o que significava que tínhamos que contar com o trabalho humano para tudo isso, e eu não conseguia ver uma razão para deixar os músculos da Aisha serem desperdiçados.

Liscia soltou um suspiro exasperado.

— Sinceramente… Se você tivesse dito algo mais cedo, não estaríamos lidando com este cronograma apertado…

— Não é como se eu pudesse — falei. — Quer dizer, eu só tive essa ideia há uma semana.

— Mas é incrível que todos tenham dito: “Vamos fazer isso!” a algo que você inventou no calor do momento.

B-Bem, ultimamente, parecia que meus freios estavam começando a quebrar.

Com Roroa e Colbert se juntando a nós, havia mais fundos à minha disposição, e Genia, a Supercientista, estava alegremente dando à luz novas invenções. Além disso, por causa das muitas novas políticas que havíamos instituído, o próprio povo da Friedônia havia desenvolvido um gosto pelo estranho e estava transbordando de curiosidade. Era como o espírito do artesão japonês, ou algo como “Não importa o quão sem sentido, quando você domina uma coisa, ela se torna uma arte”. Foi assim que um pensamento ocioso que tinha saído da minha boca há uma semana…

— Ah, ei, é quase o fim do ano. Se for o final do ano, é hora do Festival de Música de Fim de Ano de Kouhaku.

E acabou sendo implementado assim…

A primeira a me ouvir, Roroa, disse:

— O quê, o quê?! Conte-me mais sobre esse nome maravilhoso que soa como lucro!

Então acabei tendo que explicar sobre Kouhaku, a Batalha da Canção Vermelha e Branca, para ela.

Quando o fiz, Juna, que também estava ouvindo, disse:

— Um festival de canções, é isso? Isso soa como uma oportunidade de colocar nossos talentos para trabalhar. — E foi incaracteristicamente proativa a respeito disso.

Então Pamille e Nanna, assim como as outras loreleis, e a general que havia se tornado cantora, Margarita, haviam ficado muito entusiasmadas sobre a ideia, e depois de algum ponto ela havia ido tão longe que eu não podia mais dizer algo como: “Não, não vamos fazer isso!”

Entre as loreleis do café cantante Lorelei, que em algum momento havia se transformado em algo como uma empresa de produção, e os participantes do programa do concurso de canto amador Nodo Jiman que organizamos em uma reunião em Van, isso havia se transformado em um evento de larga escala. Foi então que a pressa repentina de preparar as coisas surgiu.

Bem, ter todos trabalhando juntos para criar algo era divertido, de certa forma, em um festival cultural, mas isso significava que minha carga de trabalho tinha aumentado muito mais…

A parte difícil seria a parte “branca” do vermelho e branco de Kouhaku.

O Time Vermelho (cantoras), liderado por Juna, tinha variedade e talento, mas os cantores homens simplesmente não causaram tanto impacto. A grande maioria veio por meio do Nodo Jiman, e todos eles cantavam canções folclóricas deste mundo. Se não houvesse nenhum ídolo masculino participando do Kouhaku, e fossem todos cantores de enka, isso não seria muito estiloso, seria?

Por causa disso, eu havia decidido sobre uma grande implantação experimental da minha resposta de ídolo homem às loreleis – os cavaleiros cantores, orfeus – que eu vinha desenvolvendo há algum tempo.

— Agora, meus orfeus, juntem-se! — chamei.

— Sim senhor!

Quando os chamei, três rapazes que estavam discutindo algo no canto se aproximaram de mim. Um deles, o homem alto, de cabelos prateados e vinte e poucos anos, me saudou e disse:

— A unidade orfeus Yaiba está pronta e aguardando suas ordens.

Ele era um humano de Van e o líder de Yaiba, Axe Steiner. Ele era um homem atraente, com olhos impressionantes e frios, mas seu discurso excessivamente formal, característico dos jovens da Amidônia, dava-lhe uma imagem formal.

Quando ele viu a maneira como Axe estava agindo, o jovem relativamente tranquilo com o cabelo listrado de tigre riu ironicamente.

— Nossa, nosso líder é tão rígido. Não é, Kukri?

— Acho que você está um pouco descontraído demais, Kotetsu — concordou Kukri.

O jovem tigre de aspecto frívolo e superficial era Kotetsu Burai. Ele era um homem impetuoso com riscas amarelas e pretas distintas; atlético; e seus movimentos de dança afiados o faziam se destacar mesmo neste grupo.

Aquele a quem ele havia se voltado para um acordo era um garoto (?) bonito com idade para estar no ensino fundamental, Kukri Carol. Acho que já deve ter percebido isso pelo sobrenome dele, mas Kukri era um kobito e irmão gêmeo mais velho de Pamille Carol. Ele estava claramente preenchendo a posição de shota na unidade, mas ainda era o mais velho dos três.

Cara, a raça kobito era assustadora…

Bem, de qualquer maneira, esses foram os três membros da primeira unidade de ídolos da Friedônia, Yaiba. O nome tinha vindo do fato de que todos os três tinham nomes que soavam como armas com lâminas. Afinal, eu não tinha tido muito tempo para inventar um nome.

A propósito, eu havia considerado incluir Hal, que também tinha um nome semelhante ao de uma arma, em seus membros, mas ele havia recusado firmemente. De acordo com Kaede, “Hal pode controlar seu tom, mas ele é desafinado, sabe.”

Entretanto, isso não era tão importante no momento. Eu bati palmas.

— Quero que os membros da Yaiba comecem a ensaiar assim que o set estiver pronto.

— Sim senhor! — anunciou Steiner. — Tem certeza de que deseja que a gente vá primeiro, senhor?

 — Quero testar se o palco é forte o suficiente — falei. — Vocês ficarão com o único ato durante a batalha das canções que terá múltiplos membros cantando e dançando. Se ficarem bem, também deve ser seguro para todos os outros.

— Sim senhor! Entendido!

Quando Axe, que estava tão rígido e formal como sempre, se dirigiu para o palco concluído, os dois restantes sorriram ironicamente e o seguiram.

— Boa sorte — disse Kotetsu. — Por que nosso líder tem que ser tão quadrado?

— É porque ele está nervoso, não é? — disse Kukri. — Embora eu tenha certeza de que sua personalidade também tem algo a ver com isso.

— Ei, vocês dois! Olho vivo! — gritou alguém enquanto eles arrastavam os pés em direção ao palco.

— Eek! — gritaram, pulando um pouco.

Quando os dois hesitantemente se viraram, encontraram uma carrancuda Margarita parada lá em um vestido vermelho escuro. Era uma cor vistosa, mas isso só a tornava três vezes mais intensa.

Margarita olhou os dois de cima a baixo e então ergueu a voz:

— Vocês são a cara de Friedônia! Endireitem-se e recomponham-se!

— S-Sim!

— Se conseguirem, então vão em frente! Os dois!

— E-Entendido!

Margarita havia se tornado general na sociedade patriarcal da Amidônia. Quando ela gritou com eles, aqueles dois responderam com a mesma formalidade rígida que Axe e fugiram em direção ao palco. Eles eram como novos recrutas sendo mastigados  por um instrutor dando uma bronca.

Então Margarita notou-me e apressou-se a curvar a cabeça.

— O-Ora, Vossa Majestade, deixei-lhe ver algo muito embaraçoso.

— Oh, eu não me importo — fale. — Eles são um bando com personalidades fortes, então ter você no comando ajuda. Ainda assim… esse traje é realmente algo.

— Isto é, bem… Eu escapei durante a prova do traje…

— Você escapou? — repeti.

— Ah, aí está você. Saindo correndo durante um ajuste? Isso não está certo, Margie.

— P-Princesa?! — gritou Margarita.

— “Margie”? — repeti.

Virei-me para olhar porque Margarita havia dado um grito e lá estava Roroa correndo em nossa direção.

Ela se aproximou de nós e envolveu-se suavemente em volta do meu braço.

— Querido, eu também tenho trabalhado duro. Me elogie, me elogie. — Ela esfregou o rosto no meu ombro.

Seus adoráveis pequenos gestos como os de um animal pareciam um pouco calculados, mas… mesmo assim, ela era muito bonita. O fato é que, sem a cooperação financeira de Roroa, esse plano não teria sido possível.

Acariciei sua cabeça.

— Você tem ajudado muito. Obrigado, Roroa.

— Mwuhuhuh! — Ela riu.

— Vamos, Roroa — disse Liscia severamente. — Você recebeu seus elogios, e está satisfeita, certo? Estamos trabalhando aqui, então é hora de você ir.

Liscia agarrou Roroa pela parte de trás do pescoço, como se fosse um gato, e a tirou de cima de mim. Roroa entrou no clima e até mesmo soltou um miado brincalhão.

— Espere, eu não tive tempo de fazer isso — acrescentou Roroa, interrompendo-se. — Vou levar Margie de volta comigo. Afinal de contas, ainda estamos no meio do ajuste do seu traje.

— Traje? Você quer dizer este vestido vermelho? — perguntei.

Roroa me deu uma risada ousada.

— Estou ansiosa por isso. Isso vai te pegar de calças arriadas durante o evento principal.

— Eu não gosto disso, princesa! — protestou Margarita. — Isso não. Poupe-me disso, pelo menos!

— Eu já fiz o pedido, então desista e apenas aceite. — Roroa sorriu.

— Nããão! Dezoito metros não!

Margarita foi arrastada por Roroa, parecendo mais frenética do que eu jamais a havia visto antes. Margarita poderia assustar um homem comum até a morte, mas não poderia enfrentar Roroa, a ex-princesa da Amidônia. Eu realmente não consegui entender o equilíbrio de poder entre os antigos Amidônios.

— E, espera, o que ela quis dizer com “dezoito metros”? — acrescentei.

— O comprimento de seu vestido, aparentemente — disse Juna.

A lorelei tinha aparecido porque era a próxima a ensaiar depois do Yaiba. Ela não estava vestindo seu traje de dança habitual, fácil para dançar. Ao invés disso, usava um vestido azul brilhante e ficava muito bonita nele.

— Espere, um vestido de dezoito metros de comprimento? — perguntei, assustado.

— Roroa estava dizendo que queria algo que mexesse com o público — disse Juna. — Ela vai colocar Madame Margarita no palco com um vestido enorme, de dezoito metros. Ouvi dizer que o vestido é pintado com musgo-claro em pó, como o que usamos nos postes de luz, e deixa escapar uma luz deslumbrante.

— Bem, isso é… espalhafatoso pra caramba — falei.

Sei lá. De alguma forma, eu poderia ver isso se tornando um evento anual e ficando mais vistoso a cada ano.

Margarita… Eu achava que ela era a chefona da indústria do entretenimento, mas aparentemente ela era a última chefa.

O que eu devo fazer? Me perguntei. Eu tinha planejado fazer Margarita cantar a versão japonesa de “Snake Eater“, mas talvez devesse mudar isso para “Kaze to Issho ni”.

Foi quando notei outra garota de pé atrás da Juna.

Ela era uma jovem de aparência simples de quinze, talvez dezesseis anos de idade. Era fofa, mas não se destacava de forma alguma. Era uma espécie de visual natural, de garota da porta ao lado.

— Juna, quem é a garota? — perguntei.

— Deixe-me apresentá-la, senhor — disse Juna. — Essa garota é Komari Corda. Ela estava treinando no Lorelei até recentemente, mas estou pensando em fazer sua estreia nessa batalha musical.

— E-Eu sou Komari Corda! É um prazer conhecê-lo! — gaguejou.

Enquanto tropeçava em suas palavras de forma espetacular, Komari curvou a cabeça profundamente para mim. Enquanto eu ria ironicamente de como estava tensa, Juna explicou um pouco mais sobre ela.

— Ela tem uma voz com espaço para o crescimento, e um entusiasmo pela prática que me faz pensar no que vai se transformar no futuro. Acho que pode ter o talento oculto para me superar como uma lorelei.

— Bem, isso é impressionante… — falei.

— E-Eu jamais poderia! É uma grande honra que você sugira que eu possa ultrapassá-la, Lady Juna! — gritou Komari.

Quando vi Komari tentando apressadamente agir com humildade, pensei: Oh, entendo…

Seu apelo provavelmente estava em como ela era pouco polida, inconscientemente fazendo que quisesse torcer por ela. Esse era um encanto que a já aperfeiçoada Juna não tinha. Quando esta garota estivesse pronta, poderia ser uma lorelei que poderia liderar o mundo dos cantores do reino adiante.

Ela era alguém cujo desenvolvimento eu gostaria de ver com expectativa.

Foi então que apareceu o atual Ministro das Finanças do Reino de Friedônia.

— Ah, Madame Juna, Madame Komari — disse Colbert. — Então é aqui que vocês duas estavam.

Por alguma razão, Nanna, a garota do povo-fera com orelhas de gato, estava pendurada em seus ombros. Pamille, a kobito, também estava atrás dele, segurando a manga de Colbert. Não sei nem o que dizer… Pareciam pai e filha.

— Elas gostam muito de você, Colbert — comentei.

— Foi Vossa Majestade quem as empurrou para cima de mim…

Além de suas funções como ministro das finanças, deixei Colbert cuidando das finanças (e da papelada) delas. Este país estava no meio de um boom de loreleis sem precedentes. Para Juna, Nanna e Pamille, em particular, como as primeiras lorelei, havia muito mais dinheiro circulando entre elas do que poderiam usar pessoalmente. Deixando Juna de lado, que estava no castelo como candidata a rainha secundária, era perigoso para Nanna e Pamille, que ainda eram cidadãs comuns, mesmo que fossem loreleis, receberem muito dinheiro.

Foi por isso que coloquei Colbert, financeiramente talentoso, cuidando de seus bens, arranjando guarda-costas (principalmente mulheres da Força de Defesa Nacional) e cuidando de outros assuntos gerais para elas. De certa forma, ele era como um empresário.

Eu podia entender que era por isso que ele passava muito tempo com elas, mas por que elas o amavam tanto? Quando perguntei, disseram…

— As refeições! Ele me dá de comer! Eu posso comer muito peixe! — gritou Nanna.

— Depois das reuniões, o Sr. Colbert costuma me levar para jantar, — acrescentou Pamille. — Quando vamos, ele nunca me trata como uma criança. Sempre me trata como uma dama apropriada.

Aí está… Ele as estava domesticando com comida, hein! Não, no caso de Pamille era um pouco diferente, mas…

— Colbert, se você vai colocar suas mãos sobre elas, primeiro espere que as duas cresçam um pouco — falei.

— Eu não vou, está bem?!

— Mas não vou ficar maior… — Pamille tinha um olhar azedo em seu rosto.

Hum… desculpa.

— V-Vocês quatro têm ensaio agora, certo? — perguntei, rapidamente encobrindo meu erro.

— Sim — disse Juna. — Quando o Yaiba terminar, seremos as próximas.

Olhei para o palco onde os três do Yaiba estavam cantando apaixonadamente. Era uma música de um grupo de ídolos do outro mundo. Eu não estava familiarizado com o que estava na moda, mas o tipo de canções que tocavam o tempo todo durante os comerciais tinha ficado na minha cabeça. Eram um bando de jovens legais, cantando canções legais com todo o seu coração. Achei que isso poderia ser o suficiente para capturar os corações das senhoras da Friedônia.

— Pessoal, trouxemos comida para vocês! — chamou Serina.

— E-E para manter a comida simples, decidimos vir com bolas de arroz e sanduíches — gaguejou Poncho. — Claro, também há pãezinhos de espaguete, sim.

— Irmãozão, Irmãnzona, está na hora de comer! — chamou Tomoe.

Enquanto eu observava o Yaiba, Serina, Poncho e Tomoe trouxeram as criadas. Todos eles tinham grandes cestos nos braços. Provavelmente estavam cheios de bolinhos de arroz e pão. Quando os espalharam em uma mesa comprida, todos se reuniram ao redor.

— Oh! Parece bom — disse Hal. — Podemos comer um pouco?

— Hal, você tem que limpar suas mãos primeiro, sabe — repreendeu Kaede.

— Carla, por favor, prepare um chá para todos — pediu Serina.

— E-Entendido, Criada Chefe!

Conforme a área começou a ficar mais animada com as conversas, encarei distraidamente e disse:

— As coisas com certeza mudaram…

— Mudaram — concordou Liscia.

Parecia que Liscia tinha ouvido por acaso o pensamento que eu tinha deixado escapar. Senti-me constrangido, mas ela me deu um grande sorriso.

— Você reuniu pessoas, as pessoas se reuniram ao seu redor e, antes que percebêssemos, ficamos cercados por uma multidão enorme.

— É reconfortante, mas também me deixa nervoso — confessei. — Afinal, significa que tenho muito mais que quero proteger.

— O que você está dizendo? — Liscia colocou a mão esquerda no quadril, apontando o dedo indicador direito para o meu nariz. — As pessoas que você quer proteger, elas também querem proteger seu reinado. É por isso que… aqueles que você deseja proteger com certeza irão protegê-lo.

Quando Liscia declarou isso com firmeza, misteriosamente, senti que ela estava certa.

— Irão, hein? — perguntei.

— Sim, irão.

— Entendo… Bem, Liscia, eu poderia pedir-lhe para cuidar das coisas aqui por um tempo?

— Posso, mas… aonde você vai? — perguntou ela.

— Acontece que há algumas pessoas que eu tenho que encontrar. Olha, Hakuya está aqui agora.

Quando olhei para a entrada, Hakuya tinha acabado de entrar.

— Tchau — falei. — Volto em breve.

— Claro. Deixe as coisas aqui comigo.

Com Liscia se despedindo de mim, deixei o grande salão. Então, junto com Hakuya, desci o corredor.

Não conversamos ao longo do caminho. Já estava escuro do lado de fora das janelas.

Eram cerca de oito horas. Pensei em como as coisas estavam no grande salão. Se era assim que estavam nesse horário… teríamos uma noite longa, com certeza.

Eu precisava ter certeza de enviar os artistas para casa mais cedo para descansar um pouco. A transmissão seria ao vivo, então se os fizéssemos ficar conosco, e então caíssem no sono durante o evento principal… seria um completo desastre.

Enquanto eu pensava nisso, chegamos à sala que era nosso destino.

Na frente da porta, Hakuya deu um passo para o lado para abrir caminho para mim, ficando de costas para a janela em frente à porta. Ele provavelmente pretendia esperar ali. Eu não o impedi de entrar na sala, mas Hakuya decidiu abster-se de fazê-lo por conta própria. Então, cruzando os braços na frente de si mesmo, ele me deu um aceno respeitoso.

— Tenho os Gatos Pretos patrulhando a área — disse. — Leve o tempo que precisar para conversar.

— Entendido.

Balancei a cabeça, então abri a porta e entrei por ela.

Quando fechei a porta, o quarto de repente ficou escuro. No quarto com velas cintilantes, o que me chamou a atenção foi a cama king-size ou o terraço iluminado pela lua além dela. As pessoas que eu procurava estavam tomando chá na mesa de vidro junto ao parapeito da janela. Quando me aproximei, aquelas pessoas largaram as xícaras de chá e se levantaram.

— Ora, Sir Souma, já faz algum tempo.

— É bom vê-lo novamente, Vossa Majestade.

Cumprimentei os dois que ali me acolheram.

— Já faz um tempo, Sir Albert e Lady Elisha.

Os que esperavam por mim eram os pais de Liscia, o ex-rei, Sir Albert, e sua rainha, Lady Elisha.

— Tome um pouco — disse Elisha.

— Obrigado — falei.

Quando tomei a xícara de chá oferecida, a ex-rainha Elisha me deu um largo sorriso. Lady Elisha era como Liscia, só que mais calma, com uma sensualidade mais feminina. Será que Liscia acabaria se tornando como ela? Nesse caso, eu tinha muito o que esperar à medida que envelhecêssemos.

Eu estava sentado à mesa de vidro, com Sir Albert à minha frente.

Depois de terminar de fazer o chá, Lady Elisha ficou esperando atrás de Sir Albert. Parecia que ela pretendia se ater ao papel de serviçal.

Quando pensei sobre isso, não tinha falado muito com Lady Elisha, não é? Ela seria minha sogra, mas era uma mulher de poucas palavras, sempre parada ao lado de Sir Albert com um sorriso caloroso. Pelo que Liscia me contou, ela sempre foi uma pessoa quieta, que nunca falava muito.

Enquanto eu pensava nisso, Sir Albert abriu a boca para falar.

— Estou feliz que você tenha vindo aqui hoje. — Ele me cumprimentou e sorriu gentilmente. — Também gostaria de parabenizá-lo por sua vitória na guerra contra o Principado da Amidônia e subsequente anexação do principado. Faz apenas meio ano desde que passei a coroa para você, e ainda assim seus feitos são grandes. Acredito que, com suas realizações, você não precisa ficar envergonhado se as pessoas te chamarem de “Souma, o Grande”.

— Não… Só foi possível com a ajuda de Liscia e de todos os outros. — Tomei um gole de chá e olhei diretamente no rosto de Sir Albert. — Finalmente, podemos nos encontrar.

— Lamento ter feito você esperar tanto — disse o ex-rei e curvou a cabeça para mim.

Eu havia procurado encontrar Sir Albert várias vezes antes, quando não sabia de nada, quando queria que ele convencesse os três duques a cooperar, e quando solicitei sua ajuda para convencer Castor a não se rebelar contra a súbita mudança de poder. Depois de ter entendido tudo, pedi várias vezes por uma audiência para buscar uma explicação.

No entanto, cada vez que eu perguntei, ele disse:

Nos casos anteriores, “Este país agora é seu. Não me compete fazer nada.”

Nos casos posteriores, “Irei revelar tudo para você em breve. Por favor, aguarde até lá.”

E isso foi tudo que pude obter dele.

Depois que ele começou a dizer: “Vou te contar em breve”, tudo que pude fazer foi esperar que ele fizesse isso. Porque, se eu o pressionasse, não haveria como ter certeza de que estava me dizendo a verdade.

Enfim, desta vez eu estava ali porque ele disse que me contaria tudo.

— Você vai me contar tudo, certo? — perguntei.

— Se é isso que você deseja — disse Albert.

— Acho que é hora de você finalmente esclarecer algumas coisas para mim. Como o que você estava pensando.

Ele disse que me contaria tudo. Achei melhor descer na lista.

— Eu tenho três coisas que quero te perguntar. A primeira é sobre quando você cedeu o trono para mim. Naquele momento, quando eu tinha acabado de ser invocado para este mundo, estávamos nos reunindo pela primeira vez. No entanto, só de ouvir meu plano de enriquecer o país e fortalecer os militares, você me entregou o trono. Com um noivado com Liscia como um belo bônus. Isso me deu liberdade para me mover, mas… também não era natural. Por que você foi capaz de dar sua coroa a um garoto de outro mundo, que tinha acabado de conhecer, tão facilmente?

Sir Albert me ouviu em silêncio. Parecia que pretendia responder apenas depois de ouvir tudo o que eu tinha a dizer. Nesse caso, eu deveria perguntar tudo o que tinha para perguntar de uma só vez.

— A segunda diz respeito à devoção de Georg. Nosso ex-general do Exército, Georg Carmine, assumiu toda a culpa enquanto cometia suicídio e levava todos aqueles que poderiam se tornar meus inimigos com ele. Olhando o resultado, e mesmo considerando as cartas que Liscia enviou para tentar convencê-lo, devo pensar que Georg havia preparado esse plano com antecedência. Isso também é bizarro. Só encontrei Georg uma vez, e no final. Ele arriscou sua vida por este plano, portanto não deveria ter sido capaz de fazê-lo sem confiança e lealdade para comigo.

Albert ficou em silêncio.

— Georg e eu não nos conhecíamos sequer de vista. Não havia como ele sentir lealdade por alguém que nunca conheceu. Bem, a quem era sua lealdade, então? Eu só posso pensar… que seria a você, o ex-rei.

Tentei verificar isso quando conheci Georg. Mas: “Quando chegar a hora certa, tenho certeza de que a própria pessoa vai te dizer”, foi tudo o que o homem disse. Este dia devia ter sido o momento apropriado de que ele estava falando.

— Por último, por que você se recusou a me encontrar até hoje? Se estivesse esperando que tudo fosse resolvido, você poderia ter feito isso depois da vitória contra a Amidônia ou da anexação. Por que tive que esperar até hoje por uma oportunidade de encontrá-lo? Eu também quero saber sobre isso.

— Isso é tudo…? — perguntou Albert.

— Mais ou menos — falei. — Deixe-me perguntar sobre os detalhes mais sutis enquanto ouço sua explicação.

— Entendi. — Assentindo, Sir Albert começou a falar em um ritmo relaxado: — Em primeiro lugar, quero dizer, há uma coisa que conecta todos os três pontos que você levantou.

— Uma coisa?

— Antes de explicar isso, quero responder às suas três perguntas. Foi porque estávamos chegando a uma decisão. Sobre se devemos ou não responder a você. Achamos que seria melhor continuar sem dizer nada…

Fiquei em silêncio.

— Entretanto, meu coração não é tão forte que eu consiga manter os pecados que cometi trancados dentro dele — acrescentou.

Os pecados que ele cometeu? Do que estava falando?

— Sir Souma… Você já desejou poder viver sua vida mais uma vez? — Albert de repente me perguntou.

Eu respondi, um tanto desconfiado:

— O tempo todo…

Muita coisa havia acontecido desde que o trono me foi entregue. Eu havia ajudado em um caso de desastre e vivenciado uma guerra. Não pude deixar de pensar… não havia outro jeito? Uma maneira melhor? Não poderia ter salvo mais vidas? Mesmo quando se tratava daqueles contra quem lutei como inimigo e destruí, às vezes pensei que, talvez, poderíamos ter chegado a um acordo. Mesmo sabendo que pensar assim não era razoável.

— Mas por que você perguntou? — continuei.

— O que estou prestes a contar é a história de um certo mundo, um certo país e um certo rei tolo — disse Albert.

Com essa introdução, Sir Albert começou a relatar essa história com suavidade.

 

 

Em um determinado país, havia um rei.

O rei não era sábio, mas também não era tolo. Ele não governava bem, mas também não governava mal. Esse era o tipo de rei medíocre que ele era.

Em uma época em que o mundo estava estável e o país já estava preparado para o sucesso, teria sido chamado de um bom rei sem falhas. No entanto, em seu tempo, o Domínio do Lorde Demônio apareceu, e a ameaça de monstros jogou o mundo no caos.

O fogo da guerra podia ainda não ter se espalhado por seu país, mas surgiu uma crise alimentar e a economia estava lentamente se aproximando do colapso. O rei medíocre não pôde fazer nada eficaz para lidar com essas questões.

Então, um dia, houve um pedido da grande nação do oeste para realizar a invocação do herói contada no reino deste rei. Foi formulado como um pedido, mas ele não tinha praticamente nenhuma opção para recusá-lo. Assim, o rei medíocre executou a invocação do herói conforme solicitado.

Esse ritual foi bem-sucedido quando ninguém pensou que seria, trazendo um jovem de outro mundo para o reino. O rei lutou com a questão de entregar o jovem ao grande país do oeste. Isso porque, se perdesse esse garoto, estaria abrindo mão de sua chave para as negociações com a grande nação do oeste.

O jovem que foi convocado disse ao rei que lutava o seguinte:

— Se você pretende lutar contra os demônios, deve enriquecer o país e fortalecer os militares.

Essa história soou familiar…

Entretanto, os desenvolvimentos desse ponto em diante diferiram da história que eu conhecia.

Ao ouvir o que o jovem tinha a dizer, o rei sentiu que o homem tinha dons que ele mesmo não tinha, e decidiu nomeá-lo para o cargo de primeiro-ministro. O jovem correspondeu às suas expectativas e trabalhou desesperadamente, realizando várias reformas. Graças a isso, o reino começou a dar sinais de recuperação da crise alimentar e das dificuldades financeiras.

No entanto, havia quem considerasse o jovem um incômodo.

Eram os nobres daquele país. Aqueles que não tinham uma reputação muito boa.

Ficaram furiosos quando um jovem de quem nunca tinham ouvido falar foi escolhido como primeiro-ministro, mas ficaram ainda mais furiosos quando ele começou suas reformas. O jovem havia erradicado a corrupção para encontrar o financiamento de que precisava, realizando reformas que cortaram a riqueza da classe alta.

Eles visitaram o rei muitas vezes, tentando persuadi-lo de que ele estava prejudicando o país e deveria ser destituído do poder.

No entanto, o jovem tinha um aliado. O general do exército daquele país.

O sóbrio e honesto general do Exército foi capaz de julgar com precisão os talentos do jovem e tornou-se seu apoiador. No entanto, os nobres de má fama não ficaram satisfeitos com este desenvolvimento, apenas intensificando suas calúnias contra ele.

Ouvindo suas palavras caluniosas dia após dia, o rei foi sendo gradualmente atingido pela incerteza.

Era verdade que o jovem era talentoso, mas tinha muitos inimigos. O país poderia ser dividido se as coisas ficassem como estavam.

Com isso em mente, o rei tomou uma decisão que, em retrospectiva, nunca deveria ter tomado.

O jovem foi afastado do cargo de primeiro-ministro.

Tendo sido dispensado, o jovem foi ficar com o General do Exército em seu castelo. O rei sentiu pena do jovem, mas isto foi para evitar a divisão do país. No final das contas, isso salvaria a vida do jovem. Foi disso que o rei se convenceu.

No entanto, isso não foi o fim de tudo.

Os nobres de má reputação eram mais persistentes do que o rei pensava. Não, no mínimo, considerando seus laços secretos, era melhor considerar eles como não podendo deixar o jovem em paz. Naquele ano, o estado vizinho que tinha uma inimizade de longa data com o reino começou a implantar suas forças ao longo da fronteira.

O General do Exército despachou as tropas sob seu comando no Exército para interceptá-las, enfrentando essas forças.

Foi então que aconteceu.

Como se estivessem esperando por este momento, as forças dos nobres se levantaram, atacando a cidade onde estava o castelo do General do Exército. Quando se considera o momento de tudo isso, os nobres provavelmente estavam colaborando com o país vizinho.

Como as terras do General do Exército já haviam sido o território do país vizinho, foi fácil para eles arquitetar o esquema. Então, o país vizinho agiu para eliminar o jovem que tinha potencial para se tornar uma séria ameaça para eles.

A cidade que abrigava o castelo do General do Exército era bem fortificada, mas o Exército fora quase todo despachado para a fronteira, deixando menos de 500 soldados na guarnição. A força adversária liderada pelos nobres chegou a 10.000.

O General do Exército permaneceu na cidade e conseguiu uma defesa diligente, mas… em grande desvantagem numérica, acabou sendo derrotado.

A cidade queimou e o jovem desapareceu em cinzas entre as chamas. Poucos dias depois, os nobres moveram suas tropas e o rei não pôde fazer nada.

O Exército, tendo perdido seu comandante, não conseguiu manter a linha de batalha contra as forças do país vizinho e fugiu derrotado. As forças do país vizinho juntaram-se aos nobres e, juntas, usaram seu ímpeto para avançar sobre a capital real.

O rei tentou apressadamente reunir uma força armada para enfrentá-los na batalha, mas… não conseguiu. No final, deixou o jovem e o General do Exército para morrer.

Os soldados do Exército se rebelaram contra ele e voltaram para suas terras, as unidades da Força Aérea eram poucas e a Marinha estava longe da capital e preocupada em defender seus próprios domínios.

Seu último recurso foi recrutar soldados voluntários entre as pessoas comuns, mas mesmo isso falhou.

As reformas do jovem irritaram a nobreza, mas salvaram o povo. Para o povo, o jovem tinha sido um salvador que viera até eles em seus momentos de necessidade, e não sentiam nenhuma afinidade com o rei que o havia destituído de seu posto. No final das contas, como o jovem, o rei se viu cercado por um inimigo que irremediavelmente o superava em número. Com o tempo, seria morto, igual ao jovem. Se havia uma diferença entre eles, era que ele não tinha o General do Exército que estava disposto a dar a vida para defendê-lo.

Neste ponto… o que ele enfrentou só poderia ser chamado de retribuição cármica.

Ele havia causado isso por acreditar nas mentiras caluniosas daqueles que se tornariam seus inimigos e pisar naqueles que realmente se importavam com o país.

 

 

Enquanto ouvia a história de Sir Albert, fiquei sem palavras.

Ele falou de outro presente. Quando fui convocado para este mundo, sem saber o que o Império realmente queria, eu havia falado em enriquecer o país e fortalecer o exército porque não queria ser entregue a eles antes de saber melhor das coisas. Pensei que seria obrigado a implementar minhas idéias como um burocrata entre muitos, e que seria capaz de encontrar o dinheiro para pagar os subsídios de guerra que o Império estava pedindo. No entanto, como Sir Albert tinha me dado o trono, acabei virando o chefe deste país.

O que teria acontecido se ele não tivesse me dado o trono naquela época?

Se eu estivesse agindo não como rei, mas como primeiro-ministro… o futuro poderia ter acontecido exatamente como Sir Albert havia descrito. O mundo de que Sir Albert falou me deu um espaço considerável para pensar, e era tão realista que não pude imaginar que fosse uma invenção. Achei que era uma simulação bastante precisa.

Mas, nesse caso, havia coisas que eu não entendia. Era grosseiro dizer assim, mas Sir Albert não me pareceu o tipo de pessoa que tivesse esse grau de previsão. Eu não conseguia vê-lo simulando as coisas com tanta precisão.

— Você fala como se já tivesse visto isso — falei.

— Porque eu vi mesmo — disse Albert. — Não… Em vez disso, foi-me mostrado.

— Foi mostrado a você? — perguntei.

— De fato. Pela habilidade de minha esposa.

A habilidade de sua esposa? Olhei para Elisha sem querer, e ela retribuiu o olhar com um largo sorriso.

— Você sabia que minha esposa é uma usuária de magia negra, assim como você? — perguntou Albert.

— Eu tinha ouvido isso, sim. Embora nem mesmo Liscia parecesse saber os detalhes.

— Isto é algo conhecido apenas por alguns poucos, por isso peço que não falem disto a mais ninguém — disse Albert. — A habilidade de minha esposa é transferir memórias para o passado.

Sir Albert continuou sua história.

 

 

O rei que estava prestes a ter tudo retirado dele pelos nobres foi tomado por um profundo sentimento de pesar.

Por que ele dispensou o jovem?

Por que não o valorizou mais?

Se não tivesse sido abalado pelas mentiras caluniosas dos nobres, se em vez disso tivesse dado as mãos ao jovem e ao General do Exército, se tivesse continuado a reformar o país, no mínimo, não estaria na dificuldade em que se encontrava.

Se ele fosse realmente podre, poderia ter gritado: “Isso é tudo culpa do jovem invocado” ou “Se não fosse por ele, nunca teria sido assim”, ignorando sua própria responsabilidade. Entretanto, este rei podia ter sido tolo e fraco, mas era geralmente brando com os outros, portanto a ideia nunca lhe ocorreu.

O que ele achava é que precisava valorizar mais o jovem.

Se, logo no início, em vez de primeiro-ministro, ele tivesse tornado o jovem em rei, para começar…

Se o tivesse feito, ele certamente teria reinado sobre este país muito melhor do que o próprio rei.

Se isso tivesse acontecido… então sua filha…

O rei mergulhou em desespero.

Tendo perdido a esperança naquele rei, a rainha disse: “Você falhou. Nosso destino já está selado. No entanto, se usarmos minha habilidade, podemos contar a nós mesmos no passado sobre este fracasso.”

A rainha tinha uma habilidade misteriosa. Isso permitia que ela transferisse as experiências de uma pessoa para o seu eu passado.

O eu passado que as recebia as experimentaria como se fossem suas e seria como se o tempo tivesse voltado. Foi usando esse poder que a rainha sobreviveu à sangrenta guerra de sucessão. (Ou, para ser mais preciso, havia repetidamente mandado de volta suas memórias momentos antes de sua morte e, em seguida, evitado o perigo.)

Depois de explicar isso, a rainha pediu desculpas ao rei. Acontece que também havia usado esse poder para escolher seu marido.

Parecia que não importava o quão feroz fosse o guerreiro que tomasse como marido, não importava o quão sábio fosse um sábio, o reino estava destinado a ser destruído. Invasões de inimigos estrangeiros, ataques de monstros, conspirações da nobreza, revoltas populares – embora as razões fossem diferentes, o resultado era sempre que a capital real era engolfada pelas chamas.

Esse rei que as pessoas consideravam medíocre foi o único que, embora não tenha exaltado o país, conseguiu prolongar a sua vida. Parece que este rei foi o único cuja criança a rainha deu à luz.

— Mesmo se eu usar esse poder, não poderemos mudar nosso presente — explicou Elisha a ele. — No entanto, podemos conduzir nossos eus passados a um futuro diferente deste. Querido… se nossas vidas terminarem aqui, de qualquer forma, você gostaria de tentar criar um futuro como esse?

Quando a rainha lhe disse isso, o rei chegou a uma resolução. Que enviaria a notícia deste fracasso para o passado. Então, teria seu eu passado entregando o trono para o jovem.

Pode ter sido apenas para satisfazer a si mesmo. Mas parecia que isso poderia oferecer a ele alguma expiação pelas coisas que haviam sido perdidas devido ao seu fracasso, então o rei confiou tudo ao seu eu do passado.

O rei e a rainha transferiram suas memórias para seus eus do passado.

Essas memórias voltaram à sua mente ao ouvir o jovem falar sobre o enriquecimento do país e o fortalecimento do exército.

 

 

— Para simplificar, sou o rei que herdou essas memórias — concluiu Albert.

Enquanto ouvia a história de Sir Albert, fiquei confuso. Foi um lapso de tempo…? Não, um salto no tempo?

Ele disse que era magia negra, mas isso poderia fazer coisas até assim? Ah, mas tudo o que foi herdado foram as memórias, então não era como se a consciência da pessoa tivesse voltado ao passado.

Se essas memórias estivessem realmente sendo transferidas para o passado, isso deveria ter criado um paradoxo temporal. Porque o Sir Albert que enviou as memórias não tinha nenhuma lembrança de tê-las enviado a ele.

Nesse caso, será que o poder de Elisha permitia que ela interviesse em uma dimensão alternativa muito semelhante à dela? Menos como a “Máquina de Fazer Vida” e mais como a “Cabine Telefônica e Se”, hein? Simplificando, isso significaria que este mundo não era o passado do mundo de envio, era uma dimensão alternativa.

Embora, mesmo se eu trouxesse isso à tona, duvidava que os dois entenderiam. Eles provavelmente não tinham um conceito de outras dimensões, e eu não poderia dizer que eu mesmo entendia isso muito bem.

Ah, caramba, este lugar não era apenas um mundo simples de espadas e feitiçaria? Pensei.

Enquanto eu estava ocupado me confundindo, Sir Albert tomou um gole de chá e suspirou.

— Sinceramente… deve ter sido difícil para quem me mandou as lembranças, mas não é fácil ser quem as recebe. Do meu ponto de vista, sinto que vivi uma vida em que fiz de você meu primeiro-ministro, agi como um idiota e depois voltei no tempo. Se eu não tivesse ouvido a explicação de Elisha do outro lado, teria pensado que o tempo tinha acabado de retroceder. Eu mesmo não fiz nada, mas a culpa que sinto por você não vai embora. Peço desculpas em nome do antigo eu. Sinto muito mesmo. — Sir Albert baixou profundamente a cabeça.

— Não, pedir desculpas a mim não ajuda… Quer dizer, não me lembro de nada disso…

— Eu sei disso. Isso é apenas para minha própria satisfação. Quero me desculpar. Por favor, deixe-me pedir desculpas.

— Bem, se é assim…

Se ele disse que queria se desculpar, a melhor coisa a fazer provavelmente era deixar. A situação estava além da minha compreensão, então eu não poderia me colocar no lugar dele.

Sir Albert me olhou diretamente nos olhos e disse:

— E então, para evitar que as coisas saíssem do jeito que aconteciam em minhas memórias, cedi o trono a você. Acredito que isso deve responder a sua primeira e terceira perguntas.

— Terei que concordar com você — falei.

A resposta à minha primeira pergunta, “Por que você deu seu trono para uma criança que acabou de conhecer?” foi que, na verdade (embora isso não fosse correto, estritamente falando), não era a primeira vez que nos encontrávamos.

A resposta à terceira, “Por que demorou tanto para se encontrar comigo?” era por ser provável que ele não tivesse certeza se revelava ou não a existência dessa habilidade. Pode ter sido porque queria ter certeza de que primeiro havíamos alcançado um futuro diferente do mundo anterior.

Isso deixou minha segunda pergunta. A questão da lealdade de Georg…

— Não me diga que você contou a Georg sobre tudo isso?! — gemi.

— Eu sou fraco — disse o ex-rei. — Eu não era forte o suficiente para carregar esse fardo sozinho.

Sir Albert olhou pela janela. Começou a ficar um pouco nublado. Podia começar a nevar.

— Eu não podia acreditar que, só com meu poder, eu seria capaz de reivindicar um futuro diferente. Contei tudo ao único homem neste país em quem podia confiar, Georg Carmine, e pedi sua ajuda. Foi por isso que ele bolou uma conspiração para exterminar os nobres corruptos que se tornaram seus inimigos naquela época. Foi por nossa culpa que Castor começou a suspeitar de você. Entretanto, como o plano já estava em andamento, não podíamos revelá-lo, e peço desculpas pelo sofrimento indevido que o fez passar.

Isso tinha sido… A razão de Georg para a traição encenada. Todos os meus oponentes em potencial foram derrubados de uma só vez, e ele caiu ao lado deles. Esse plano havia coincidido com o que Hakuya e eu estávamos trabalhando para manter Amidônia sob controle, o que a transformou em um grande palco que nenhum de nós havia esperado. Parecia que Roroa também estava planejando seu próprio roteiro de eventos, então se tornou um grande palco com muitos escritores

Aqueles que pensaram que fariam outros dançarem foram forçados a dançar e, embora sentíssemos como se estivéssemos abrindo nossos próprios caminhos, na verdade tínhamos acabado por andar sobre os trilhos que outra pessoa havia colocado para nós.

— Não sei o que dizer… Isso me faz perder a confiança em mim mesmo — admiti.

— Não há necessidade para isso — disse Albert. — O fato é que você conseguiu chegar a um futuro diferente, não? Você anexou a Amidônia, e reconstruiu este reino que estava próximo do seu fim no Reino da Friedônia. Posso dizer com confiança que não errei em entregar o trono a você.

— Fico feliz em ouvir você dizer isso e tudo mais, mas… no final, onde você acha que o futuro mudou? — perguntei.

— No começo, sem dúvida. Porque, desta vez, desde o início, você teve Liscia ao seu lado.

— Liscia? — perguntei.

Era verdade, Liscia tinha me apoiado desde o início, mas por que o nome dela estava surgindo na conversa?

Então, Sir Albert mostrou uma expressão ligeiramente triste.

— Liscia também estava ao seu lado no futuro, onde fiz de você meu primeiro-ministro. Ela estava servindo como secretária de Georg, então vocês dois se conheceram através dele. Naquele mundo, assim como neste, Liscia reconheceu o seu verdadeiro talento e se apaixonou por você. Mesmo quando eu demiti você de seu posto, ela apelou pessoalmente para readmiti-lo. No entanto… daquela vez, não dei ouvidos ao conselho de Liscia. Decepcionada, ela voltou para Randel, onde você estava. Para o Castelo Randel, que os nobres transformaram em cinzas. Tenho certeza de que ela passou seus últimos momentos… junto com você…

Liscia… tinha morrido ao meu lado, hein. Assim que mencionou isso, ele disse que o rei daquele mundo havia “perdido tudo”. Então isso incluía sua própria filha.

— E os outros camaradas que recrutei? — perguntei.

— Para começar, nunca estiveram lá. Naquele mundo, você nunca usou a Joia de Transmissão da Voz. Escutei as vozes daqueles que valorizavam a tradição, e nunca permiti que a utilizassem. É por isso que você nunca juntou pessoal, ou fez o tipo de produção que faz agora.

Trabalhando sem a Transmissão de Voz da Joia, hein… Isso teria sido difícil. Pensando no passado, a maioria dos membros atuais do meu pessoal tinha sido reunida através da Transmissão de Voz da Joia. Sem o Transmissor de Voz da Joia, eu não teria encontrado Aisha, Hakuya, Tomoe ou Poncho. Além disso, se eu fosse apenas o primeiro-ministro, duvidava que a Excel tivesse despachado Juna, e também não teria conhecido Ludwin, Halbert ou Kaede através do exército.

Sendo assim, a Transmissão de Voz da Joia estava começando a parecer o ponto de virada.

E a coisa mais forte que me pressionou a usar a Transmissão de Voz da Joia foi Liscia, que tinha dado legitimidade ao título real que me foi entregue. Sem isso, eu não teria sido capaz de calar as pessoas que estavam contra mim usando o Transmissor de Voz da Joia. Quando pensei dessa maneira…

— Bem, nossa… Liscia está começando a parecer a minha deusa da vitória.

— Quero que você cuide bem dela — disse Albert.

— Claro.

Ela era uma deusa que nunca me abandonou, não importa o quão adversa fosse a situação. Se eu não a valorizasse, provavelmente teria alguma retribuição cármica séria.

Sir Albert levantou-se da cadeira.

— Bem, eu disse a você tudo que eu sei. Agora, meu papel realmente foi desempenhado até o fim. O restante… deixo para você e para os outros.

Com isso dito, Sir Albert ficou ao lado de Lady Elisha, abraçando-a pelo ombro.

— Acho que vamos deixar o castelo e viver tranquilamente em meu antigo domínio nas montanhas.

Inspirei com muita surpresa.

— Por quê?!

 

 

 

— Se o antigo rei ficar muito tempo, as pessoas começarão a ter más idéias — disse Albert. — Agora que vi o futuro em mudança, vou me retirar. Isso é outra coisa que eu tinha decidido desde o início.

A essa altura, ele não tinha o rosto de um rei não confiável, mas os olhos de um pai amoroso cuidando de seus filhos. Aqueles olhos… ele os estava direcionando para mim?

— Você já se decidiu, eu vejo — falei lentamente.

— Posso confiar tanto Liscia quanto este país a você — disse Albert. — Elisha e eu acreditamos nisso. Peço que faça isso por mim, meu filho.

— Meu filho. — Quando ele me chamou assim, me levantei da cadeira e bati o punho no peito.

— Tem a minha palavra. Pai, Mãe, obrigado por tudo.

Baixei minha cabeça profundamente para Sir Albert e Lady Elisha. Sir Albert acenou com a cabeça quando viu isso, enquanto Lady Elisha continuou assistindo com um sorriso até o fim. Fiz uma reverência mais uma vez e me virei para agarrar a maçaneta da porta para sair… então parei.

— Eu tenho apenas uma última coisa a perguntar.

— O que? — disse Albert.

— No mundo em que me tornei primeiro-ministro, nossos corpos foram encontrados?

— Não… Como eu disse, foram reduzidos a cinzas. Nada foi encontrado.

Entendo. Nunca encontraram os corpos, hein. Bom, então…

— Nesse caso, Liscia e eu ainda podíamos estar vivos.

— O quê?!

Sorri quando Sir Albert arregalou os olhos de surpresa.

— Se eu estivesse sozinho, poderia ter morrido. Mas Liscia também estava lá, certo? Se o eu daquele mundo se importasse com Liscia tanto quanto o eu daqui, ele nunca a teria deixado morrer. Quando o perigo se aproximou deles, tenho certeza de que teria levado Liscia e fugido, sem se importar com o que as pessoas diriam sobre eles. É possível que tenham sido abatidos por soldados inimigos na tentativa, mas, nesse caso, haveria corpos. Se você está me dizendo que não havia nenhum, eu diria que isso significa que escaparam.

Talvez Georg tenha se usado como isca para ganhar tempo. Embora isso provavelmente estivesse no mesmo nível de acreditar na teoria de que Yoshitsune havia sobrevivido. Mas, de que importa? Se ajudasse meu sogro a amenizar um pouco sua culpa, estava tudo bem.

— Obrigado, genro…

Ouvi aquelas palavras baixas atrás de mim quando me virei para sair do cômodo.

— O que você está fazendo aqui?

Eu estava no terraço do escritório de relações governamentais, olhando para a cidade do castelo à noite, quando Liscia apareceu com um cobertor.

— Estou surpreso que você soubesse que me encontraria aqui — falei.

— Hakuya me disse onde você estava — disse ela. — Todo mundo está em um frenesi tentando juntar as coisas para o concurso de canto, sabe?

— Desculpe… Deixe-me ficar aqui por mais um tempo.

— Nossa… Nesse caso, tente usar algo um pouco mais quente — disse Liscia, depois jogou o cobertor que ela mesma estava carregando sobre mim, também deslizando por baixo dele. O calor de seu corpo tocando o meu era muito reconfortante. — Ufa… Com certeza está frio a esta hora da noite.

— Bem, sim, é inverno.

— Ah! Está nevando! — murmurou ela.

— Uau. Você está certa. — Notei que havia flocos de neve caindo aqui e ali. Mesmo que eu ainda pudesse ver a lua no céu distante.

Começou como neve em pó, mas gradualmente deu lugar a flocos de neve maiores.

As luzes da cidade e a neve em uma noite de luar. Era como uma cena de fantasia.

— É bonito — murmurou Liscia, de pé ao meu lado.

Bem, nossa. Liscia está começando a parecer minha deusa da vitória.”

As palavras que eu havia dito então voltaram à minha memória.

Quando olhei para Liscia, olhando em transe para o céu nevado, não consegui simplesmente ficar parado por mais tempo. Saí de debaixo do cobertor e a abracei, com cobertor e tudo.

— O quê, Souma?! — gritou ela de surpresa. Eu não deixei isso me impedir de segurá-la com mais força.

— A verdade é…

Estava frio lá fora, mas por alguma razão meu corpo inteiro se sentia quente. Eu podia ver minha respiração, mas meu rosto estava queimando. Eu podia até estar chorando.

— A verdade é que isso é algo que… Eu realmente deveria ter dito a você antes de Aisha, antes de Juna, e antes de Roroa…

Ela ficou em silêncio, em dúvida.

— Liscia… Eu te amo. Então, por favor; case comigo.

Ela ficou pasma com a minha proposta repentina.

— Você com certeza demorou bastante para dizer isso — falou ela, depois me deu um sorriso tímido que me fez sentir cócegas. Então, gentilmente me afastando, colocou as mãos no meu peito e ficou na ponta dos pés. Quando o cobertor caiu no chão, o rosto de Liscia lentamente se aproximou do meu. — Eu também te amo, Souma. Espero que possamos ficar juntos para sempre…

Nossos lábios se tocaram.

O relógio passou da meia-noite e tornou-se o 32º dia do 12º mês, a Véspera de Ano Novo.

Ficamos assim por um tempo, ouvindo os passos de um novo ano se aproximando.

 


 

Tradução: Nagark

Revisão: Sonny Nascimento(Gifara)

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