– Noite, 1º Dia, 10º Mês, 1.546º Ano, Calendário Continental – Perto de Altomura –
O exército Amidoniano concordou em romper o cerco a pedido do lorde do castelo, Weist Garreau, mas quando chegou o meio-dia, não houve qualquer sinal de que os portões de Altomura seriam abertos.
O príncipe soberano da Amidônia, impaciente com o atual estado das coisas, ordenou que o cerco fosse retomado. Então, uma vez que o cerco fosse estabelecido, daria a ordem para um ataque com força total. Porém, tendo quebrado o cerco à cidade, demoraria bastante para mais uma vez estabelecê-lo no entorno. Já estava quase de noite quando a tarefa foi concluída.
— Maldito seja… — praguejou Gaius. — E pensar que eu seria feito de tolo por um homem qualquer e sem importância como Weist.
Sentado em um banquinho no acampamento principal da Amidônia, Gaius batia o pé com impaciência. Quando o viram assim, todos os oficiais e homens ao seu lado ficaram tensos. Sabiam que se fizessem algo para abalar o seu temperamento, poderia custar as suas cabeças. Isso naturalmente fez com que um ar pesado caísse sobre o acampamento.
No meio disso tudo, o príncipe coroado, Julius, fez o possível para acalmar Gaius.
— Isso significa apenas que um insignificante incômodo fez o que os insignificantes incômodos fazem — disse. — Ele está fazendo uma tentativa inútil de ganhar tempo. Só teremos que garantir que desta vez o esmagaremos. Qual é o motivo para ficar tão irritado?
— Hmph… — disse Gaius. — Sim, essa resistência com certeza foi em vão.
Ele parecia apaziguado pelas palavras de Julius, mas continuou:
— Agora é tarde demais para implorar por suas vidas. Vou destruir aquela cidadezinha assim que o sol se pôr. Quando chegar a hora, Weist, irei pendurar a sua cabeça nos portões do castelo, mas não antes de te torturar até que implore pela morte!
— Acredito que isso seria apropriado… — disse Julius.
Ao contrário de Gaius, que deixou o sangue subir à cabeça, Julius mantinha uma expressão gélida. Ainda assim, a incerteza estava começando a se enraizar em sua mente. Ele sentiu uma presença suspeita do outro lado daquelas muralhas. Weist estava realmente só ganhando tempo, sem qualquer esperança de vencer?
Enquanto ele pensava nisso, um único soldado Amidoniado correu para o acampamento principal.
— T-Tenho um relatório! Uma mulher foi vista nas muralhas de Altomura!
— Uma mulher? — perguntou Julius.
Enquanto ouvia o soldado que fez uma reverência ao entregar o relatório, Gaius ergueu uma sobrancelha.
— E quem é ela?
— Bem… de acordo com um comandante que a reconheceu, é Excel Walter, Almirante da Marinha de Elfrieden — disse o soldado.
— Você disse Excel Walter?! — Gaius duvidou de seus próprios ouvidos. — Está dizendo que um dos três duques está dentro daquele castelo?!
Isso era difícil de acreditar. O Rei de Elfrieden, Souma, havia dado seu ultimato aos três duques há apenas alguns dias. Claro, a Almirante Excel Walter havia jurado lealdade a ele naquele momento, mas quando os espiões entregaram a informação, os exércitos do Principado já tinham sitiado Altomura.
A base de operações dela era a Cidade Lagoon, na extremidade nordeste do Reino, enquanto Altomura ficava perto da extremidade sudoeste. Não importa o quão rápido ela viajasse, deveria levar três ou quatro dias para cobrir aquela distância. Se Excel estivesse na Cidade Lagoon no momento do ultimato, então não poderia estar em Altomura.
— Por quê?! Por que Excel está aqui?! — gritou Gaius.
Ao contrário do complexo Gaius, as coisas de repente pareciam estar fazendo mais sentido para Julius.
— Excel provavelmente já estava em contato com Souma mesmo antes do ultimato…
A identidade daquela sensação que ele não sabia nomear… a que vinha sentindo da direção de Altomura, seria por causa da sombra de Excel?
No momento em que percebeu isso, Julius descobriu o estratagema do inimigo e empalideceu. Se Excel e Souma estivessem secretamente em contato, era possível que os outros dois duques também estivessem.
Se aquele ultimato foi uma farsa…!
Foi aí que Julius por fim percebeu o verdadeiro objetivo do inimigo.
— Pai, prepare-se para se retirar agora mesmo! Fomos atraídos aqui! — gritou ele.
Julius ajoelhou-se diante de seu pai, oferecendo esse conselho com pesar. Gaius piscou diante da repentina sugestão de retirada.
— Atraídos aqui? O que quer dizer com isso?
— Excel provavelmente já estava em Altomura quando participou da reunião em que o ultimato foi emitido — disse Julius. — Temos uma joia de Transmissão de Voz da Joia no nosso país, assim como eles, e com certeza não seria impossível transportá-la.
— Por que ela precisaria fazer isso? — perguntou Gaius.
— Para nos manter presos a essa cidade, tenho certeza — disse Julius amargamente. — O alvo do inimigo é…
— Este é um anúncio que diz respeito a todos os cidadão de Elfrieden.
Interrompendo Julius no meio da frase, uma voz alta o suficiente para que todos os soldados Amidonianos sitiando Altomura ouvissem ecoou pela área. Quando se viraram para olhar, notaram uma silhueta gigante junto às muralhas da cidade.
Devia ter cerca de 20 metros de altura. Se fosse o próprio homem, ele seria um verdadeiro gigante, mas a paisagem atrás dele estava transparente. Devia ser algum tipo de ilusão.
Aquela silhueta era do Rei provisório de Elfrieden, Souma Kazuya.
Desta vez, ele não estava usando o traje casual de sempre; estava vestido com um uniforme militar adequado. Dizem que as roupas fazem o homem, e ele parecia muito mais intimidante do que o normal.
Gaius e Julius olharam para Souma com ódio.
— Repito. Este é um anúncio que diz respeito a todos os cidadão de Elfrieden. Sou o Rei provisório de Elfrieden, Souma Kazuya.
Enquanto isso, nas muralhas do castelo, Excel estava olhando para a imagem gigante de Souma usando uniforme militar com uma expressão complicada no rosto.
A névoa na qual a imagem superdimensionada dele estava sendo projetada foi produzida pela magia dela.
Com o poder mágico que Excel possuía como descendente das serpentes marinhas, era fácil imitar um dos receptores de dispersão de névoa usados para a Transmissão de Voz da Joia. Ela estava, no momento, usando esse poder para mostrar a Transmissão de Voz da Joia de Souma ao exército Amidoniano.
Souma começou com uma explicação direta da sequência de eventos que levaram à situação atual.
Como o General do Exército, Georg, vinha abrigando os nobres corruptos, e como, por isso, o Exército e o Exército Proibido entraram em conflito.
Como o General da Força Aérea, Castor, se rebelou contra ele, pronto para se martirizar por sua amizade com Georg.
E como, dentre os três duques, apenas a Almirante da Marinha, Excel, havia manifestado intenção de servi-lo com lealdade desde o início.
Claro, ele estava apenas expondo um fato depois do outro, sem se aprofundar nos detalhes, mas os detalhes pouco importavam para essas pessoas. O que queriam saber era se seriam ou não pegas no meio da batalha.
— Muita coisa aconteceu para nos trazer a esse ponto, mas, no momento, o Exército Proibido, o Exército, a Marinha e a Força Aérea estão todos sob o meu comando — anunciou Souma. — Assim sendo, declaro que a guerra civil chegou ao fim.
O conflito entre o rei e os três duques acabou.
Para os cidadãos, saber disso já era o suficiente. Excel, entretanto, estava com uma expressão de dor no rosto.
Passaram-se apenas dois dias desde o ultimato. Esse anúncio indicava que, naquele momento, Souma havia derrotado tanto a Força Aérea de Castor Vargas quanto o Exército de Georg Carmine.
Ela podia entender a parte a respeito de Castor. Ele só se rebelou com as suas tropas pessoais, e Excel compartilhou seu conhecimento sobre as rotas que poderiam ser usadas para invadir a Cidade Dragão Vermelho a fim de ajudar em sua captura.
Entretanto, sentiu que havia algo de planejado na fácil rendição de Georg.
O tempo que pediram para eu conseguir foi tão curto que pensei que poderia haver algo acontecendo, mas… Nunca imaginei que estivessem trabalhando juntos desde o começo, pensou ela. Parece que Castor, eu e até Sua Majestade podemos estar dançando na palma da mão de Georg Carmine.
Apesar da sua aparência jovem, Excel se perguntava se isso era por causa da velhice. Quando começou a compreender o plano de Georg, ela olhou para longe e suspirou.
Se fosse assim, deveria ter sido mais insistente ao pressionar Castor a parar. Se eu arriscar esse meu pescoço velho, será que há alguma forma de salvar a vida deles dois…?
Foi isso que pensou ao erguer os olhos para a imagem de Souma.
O discurso dele estava chegando ao auge.
— A guerra civil chegou ao fim. Porém, é cedo demais para embainhar as nossas lâminas! Os exércitos do Principado da Amidônia cruzaram a fronteira e invadiram o nosso país! Neste exato momento, as forças Amidonianas cercaram a cidade de Altomura, ao sudoeste!
Quando o rei de repente revelou a invasão Amidoniana, cerca de metade da população ficou tensa, enquanto a outra metade reagiu com choque. Os que ficaram tensos eram os do oeste, que já haviam recebido informação sobre a incursão Amidoniana, enquanto os que ficaram chocados eram os do leste do país, por onde a notícia ainda não havia se espalhado.
Não passaram muitos dias desde que o Principado da Amidônia iniciou a sua invasão, então a informação ainda não tinha se espalhado por completo.
O povo do leste reagiu à repentina notícia com pânico. Enfim…
— Mas não temam — declarou Souma. — Previ que isso poderia acontecer, então enviei a Duquesa Excel para Altomura. Até agora, o inimigo não foi capaz de tomar a cidade.
Quando o povo ouviu essas palavras da boca de Souma, elas serviram para acalmá-los um pouco. Ele continuou:
— Já tenho o Exército Proibido, o Exército, a Marinha e a Força Aérea sob o meu comando. A força invasora do principado chega aos números de 30.000. Com o Exército Proibido, o Exército e a Força Aérea combinados, podemos mobilizar cerca de 55.000 tropas. Se marcharmos para Altomura agora, seria fácil expulsar aqueles invasores bárbaros.
Quando ouviram essas palavras, um ar de alívio pairou entre as pessoas. No entanto, no momento seguinte…
— Mas, meu povo. Isso é o suficiente?! — gritou Souma.
O ar de alívio foi dissipado assim que o rei ergueu a voz.
— O Principado da Amidônia sempre manteve as terras deste país como alvo — continuou Souma. — Por gerações, seus príncipes pediram a devolução das terras que perderam, expandiram suas forças armadas e mantiveram a fronteira em um estado de constante tensão. O príncipe atual, Gaius VIII, não é diferente. Ele atiçou as chamas do conflito entre os três duques e eu, agindo pelos bastidores para promover os seus próprios objetivos! Então, quando o confronto entre eu e Georg se tornou certo, moveu seus exércitos e marchou nas terras pertencentes ao nosso país!
Sim, Souma tinha feito algumas manobras pelos bastidores, emitindo uma missão para a guilda dos aventureiros evacuar as cidades e aldeias no caminho dos exércitos do Principado. Porém, isso não significa que não houve perdas. Algumas aldeias foram deliberadamente incendiadas. Também devia ter acontecido alguma pilhagem. Se qualquer pessoa tivesse a infelicidade de encontrar batedores inimigos durante a fuga, também poderia ter resultado em vidas perdidas.
Colocando sua raiva por tudo isso em suas palavras, Souma continuou:
— Pergunto mais uma vez! Estão satisfeitos com uma simples expulsão?! Nesta era, quando toda a humanidade está tentando se unir sob o Império Gran Caos contra os exércitos do Lorde Demônio, esse comportamento retrógrado e bárbaro pode ser tolerado?! De forma alguma! Com certeza não! Assim sendo, embora seja desnecessário que o nosso país diga isso, já tendo sido sujeito a um ataque surpresa, direi.
Nesse ponto, Souma parou por um momento, respirou fundo e fez uma proclamação clara:
— O Reino de Elfrieden declara guerra ao Principado da Amidônia!
Foi uma declaração de guerra. As pessoas ficaram tensas ao ouvir essas palavras.
Eram palavras que nunca tinham ouvido na época do rei anterior, Albert.
Os homens foram tomados por uma estranha sensação de euforia, enquanto as mulheres ficaram assustadas, e os mais velhos, que tinham passado pelos dias de guerra e caos durante o reinado do rei anterior a Albert, aquele chamado de Conquistador, temiam que aqueles dias pudessem voltar.
Souma, entretanto, continuou sem qualquer vacilo.
— Tenho certeza de que os exércitos da Amidônia estão assistindo essa transmissão. Então, eu declaro: Estou enviando as forças reunidas no Ducado Carmine para o oeste. O objetivo é capturar a capital do Principado, Van. Enquanto vocês, as forças do Principado, estão perdendo tempo cercando Altomura, sem dúvida queimaremos todas as suas casas.
Ele então encerrou o seu discurso com estas palavras, que sem dúvidas serviriam para representar a cena quando fosse dramatizada nos anos posteriores:
— Ouça-me, Gaius! Agora que você colocou a mão na minha casa, tomarei providências para que pague por isso!
Os wyverns carregadores de palanquins para viagens reais ao exterior do Exército Proibido (também conhecidos como “wyverns sala de estar”) eram quatro unidades que carregavam uma gôndola tão luxuosa quanto uma limusine. Eles desempenhavam um papel semelhante ao de um dirigível.
Tinha sido um desses quatro wyverns que emprestei a Poncho quando ele saiu por aí juntando ingredientes.
O interior da gôndola era espaçoso e luxuosamente decorado. No começo, quando o dinheiro estava curto, pensei em tirar todas as decorações e vendê-las, mas Marx, que era Primeiro-Ministro naquela época, implorou: “Isso serve como a aparência de nosso reino diante do mundo exterior. Por favor, não venda!” Então desisti da ideia.
Eu estava dentro daquela gôndola, acabando de fazer a declaração de guerra contra o Principado da Amidônia.
A joia da Transmissão de Voz da Joia estava bem na minha frente. Por mais espaçosa que fosse a gôndola, ainda tínhamos problemas consideráveis para carregar a joia nela. Como a joia era grande o suficiente para atravessar o teto, fomos forçados a fazer uma abertura para ela.
Por isso, agora que estávamos voando, o vento soprava dentro da gôndola e estava bem frio. Eu só esperava que minhas pernas trêmulas não tivessem sido transmitidas durante a declaração de guerra…
— Você fez um bom trabalho, Souma — disse Liscia. — Venha, fique aqui.
Depois de eu suportar o frio por tempo suficiente para declarar guerra, Liscia abriu espaço no cobertor que havia enrolado ao seu redor e disse para eu me aproximar.
Duas pessoas enroladas em um cobertor. Ah, que quente. Finalmente senti que poderia descansar um pouco. Nunca antes fiquei tão grato pelo calor humano.
— Ahh, estava tão frio — gemi. — Se eu soubesse que ia fazer tanto frio assim, acho que teria preferido ir por terra.
— Se você fosse carregar a joia em algum outro veículo, uma carruagem puxada por cavalos não seria o bastante — disse Liscia. — E se transportasse em um rinossauro, não acabaria sentindo enjoo?
— Isso é tudo tão ruim quanto, hein… — murmurei.
Eu havia montado nos rinossauros quando fomos fornecer ajuda à aldeia dos elfos negros. Aquilo foi tudo, menos um passeio tranquilo.
Hal e os outros provavelmente estão se movendo neles, pensei. Preciso encontrar uma forma de melhorar a experiência, e rápido. Podem acabar entrando em greve se eu não fizer isso.
Enquanto eu estava sentado lá, pensando um pouco nessas coisas…
— H-Hmph… Um pouquinho de frio desses… não é nada… — disse Carla, sentando-se à nossa frente e tentando se mostrar firme, mesmo tremendo.
A garota da Força Aérea que tomei como refém podia até estar usando uma armadura, mas não tinha um cobertor para protegê-la do frio. Eu tinha oferecido emprestar um a ela, mas recusou, tentando agir como durona.
Achei que ficaria bem, sendo uma dragonata, mas… pensando bem, são reptilianos, não são?
— Os dragonatos têm problemas para se adaptar ao frio, igual lagartos? — perguntei.
— Não nos misture com lagartos! — gemeu ela. — Sim, é verdade, temos problemas com o frio, mas…
— Mas você deve voar em altitudes bem elevadas com a Força Aérea, não é? — perguntei. — Não fica com frio quando faz isso?
— Tomamos as medidas adequadas para nos proteger contra o frio… — disse ela.
— Ah, sim, suponho que precisam fazer isso.
Esse tipo de calafrio devia ser algo diário para a Força Aérea, então deviam ter meios para lidar com isso.
Quando coloquei um cobertor sobressalente sobre ela, Carla soltou um estranho “Hmph…”, e o enrolou em torno de si enquanto fungava.
Então…
— Sinceramente… Como pode dizer “Você colocou a mão na minha casa, tomarei providências para que pague por isso”? — explodiu ela. — Foi você quem tentou as forças da Amidônia a atacar, não foi, seu bastar… Digo, Vossa Majestade. — Carla se virou e desviou o olhar.
— Você percebeu, hein…
— Agora que sei de tudo que aconteceu, não é difícil adivinhar — disse ela. — Você usou a agitação dentro do país para atrair os Amidonianos, e agora vai atacá-los, não é? O Duque Carmine também estava envolvido nisso?
— Acho que poderia dizer que você está meio certa… — falei. — Quanto ao que Georg fez, foi inteiramente por iniciativa própria. O alvo da subjugação que Hakuya e eu planejamos era, desde o começo, o Principado da Amidônia.
Enquanto investigava a corrupção dos nobres, descobri que o número de nobres dentro do reino que trabalhava para o Principado da Amidônia não era pequeno. Fosse por laços familiares, suborno ou desvio ilegal de suprimentos, suas conexões tomavam muitas formas, mas a existência desses nobres era extremamente perigosa para o país. Se a Amidônia invadisse, assim como estava fazendo no momento, por exemplo, e caso organizassem uma revolta por todo o país, isso poderia acabar sendo um golpe fatal.
Graças a isso, eu e Hakuya pensamos em uma maneira de acabar com o problema pela raiz. E por “raiz”, é claro, falava do próprio Principado da Amidônia.
— O Principado da Amidônia tem sido uma constante ameaça a este país — falei. — Se os deixássemos à sua própria sorte, não existem dúvidas de que continuariam a fomentar a rebelião. Se isso acontecesse, muito mais gente teria se machucado. É por isso que Hakuya e eu planejamos usar a oportunidade para lidar com eles com uma derrota esmagadora e acabar com a influência deles. Para isso, forjamos cartas, entre outras coisas, para tentar atraí-los para uma armadilha, mas…
Ali, parei por um momento, coçando a nuca.
— Quase que ao mesmo tempo, Georg começou a elaborar um plano próprio completamente à parte — falei. — Ao deliberadamente adotar uma postura de rebelde diante de mim, ele reuniu os nobres corruptos ao seu redor, então planejou lançar uma rebelião e perder, para que fossem todos capturados junto consigo. Era esse o plano dele, sabe.
— Você… também não foi informado sobre isso, foi? — perguntou Carla, arregalando os olhos ao fazê-lo.
Calmamente balancei a cabeça em resposta.
Liscia olhou para baixo, parecendo magoada com isso.
— Só ficamos sabendo sobre o plano de Georg bem mais tarde — falei. — Só depois que as coisas progrediram ao ponto de ninguém poder voltar atrás. Ele deve ter pensado que, se revelasse o plano, o impediríamos. Na verdade, se eu tivesse sido informado a respeito de tudo desde o começo, acho que o faria. Esse tipo de… plano de auto-sacrifício… Eu não poderia aceitar algo assim.
— Entendo. De certa forma, o que meu pai disse estava certo — murmurou Carla, seus ombros caindo.
— O que Castor disse? — perguntei.
— Um dia antes de você dar o seu ultimato, meu pai disse uma coisa. “Não consigo imaginar que o Duque Carmine tenha enlouquecido de ambição.”
Pensando bem… Castor também disse algo assim quando dei o meu ultimato. Ele disse: “Não posso imaginar que o Duque Carmine ergueria oposição sem um bom motivo.”
Ele estava certo… Não havia nada de errado com o que dissera. Castor era propenso a tomar decisões precipitadas, mas talvez tivesse instintivamente compreendido a verdadeira natureza da situação.
— Por quê…? — perguntou Carla com pesar após um momento de silêncio, ainda desviando o olhar. — Por que ele não contou antecipadamente para o meu pai? Se tivesse feito isso…
— Quanto mais pessoas soubessem sobre o segredo, maior seria o risco de o plano vazar… — expliquei. — Ele não podia correr esse risco. Isso e, se Castor soubesse, ele com certeza tentaria impedir, não é?
— Isso… — Carla ficou em silêncio.
Cerrei meus punhos com força sob o cobertor.
— Já arriscamos muito, inclusive a vida de Georg, para fazer esse plano acontecer — falei. — Agora que não podemos mais voltar atrás, precisamos garantir o sucesso. Se não fizermos isso, teremos arriscado tudo em vão. Era por esse motivo que eu esperava que Castor escolhesse ficar do nosso lado por vontade própria. Excel e eu continuamos tentando persuadi-lo. Mesmo assim… Castor disse que morreria pela sua amizade e depois ficou do lado de Georg.
Cerrei os dentes, frustrado. Por que as coisas correram tão mal?
Tinham todos feito o que quiseram por seus próprios motivos arbitrários. Quando percebi, estava dançando junto em um roteiro que ninguém sabia de quem era. Eu não sabia nem se o meu papel no palco deste mundo era o de um rei ou de um bobo.
Carla baixou a cabeça, sem conseguir dizer nada. Liscia parecia querer dizer algo, mas se conteve.
Eu, enquanto observava as duas, deixei um suspiro escapar. Esse é mesmo… um papel desagradável. Ter que ser rei.
— O objetivo é capturar a capital do Principado, Van.
Quando ouviram Souma declarar isso, os 30.000 soldados Amidonianos que sitiaram Altomura bateram em retirada.
Do alto da muralha, a Almirante da Marinha Excel Walter e o Lorde de Altomura Weist Garreau olhavam para o sol poente brilhando sobre as barreiras e estandartes, que antes cercavam os acampamentos, que foram deixados para trás.
Quando Weist se virou para o lado, viu o rosto de Excel de perfil, o sol poente emprestando-lhe uma beleza encantadora.
— Está tudo bem em não atacá-los…? — perguntou ele, como se estivesse tentando encobrir o fato de que ficou quase fascinado com a beleza dela.
Uma batalha de perseguição seria uma boa chance de infligir danos consideráveis ao inimigo.
Excel, porém, balançou a cabeça em silêncio.
— Há cavalaria wyvern na retaguarda. Se uma força sem cavalaria wyvern como a nossa deixasse o castelo e partisse em perseguição, sofreríamos um duro contra-ataque. Gaius VIII… Como poderia esperar do homem que está afiando as presas e se preparando para atacar o nosso país por tanto tempo, as ordens dele são sólidas. Embora eu duvide que isso seja o suficiente para que ele escape da palma da mão de Sua Majestade.
Quando Excel disse isso e fechou os olhos, Weist arregalou os olhos. Para ela, que tratava todos que conhecia como crianças, já havia existido alguma outra pessoa em que tivera em tão alta estima?
— Sua Majestade é tão engenhosa? — perguntou Weist.
— Acho que quando se trata de pura desenvoltura, ele não é tão impressionante — disse ela. — O que acontece é que, para cada cenário que ele encontra, aparece com um plano que já parece ser uma resposta preparada. Quase como se já tivesse visto uma batalha semelhante.
— Hm? O que quer dizer com isso? — perguntou Weist.
— Sua Majestade talvez tenha vindo de um mundo muito pior do que este… De um vórtice de intrigas e golpes.
Weist estremeceu diante das palavras de Excel.
Ele já tinha ouvido falar que Souma era um herói convocado de outro mundo. E se presumisse que esse outro mundo viu a queda de muito mais países e passou por tempos turbulentos que causaram a morte de muito mais pessoas?
Se, por algum acaso, aquele mundo se conectasse a este, as pessoas deste mundo seriam capazes de lutar com as daquele?
Pelo que tinha visto até o momento, aquele jovem não parecia especialmente adequado para lutar, mas ele ainda podia fazer planos muito bem elaborados.
Claro, isso devia ser tão provável quanto o céu cair…
— Isso… é terrível de se pensar, sim — disse Weist.
— Sim, é mesmo. Pois bem… — disse Excel, batendo palmas como se isso representasse uma mudança de assunto. — Acha que nosso trabalho por aqui acabou?
— Sei que já é meio tarde para perguntar, Duquesa Excel, mas ao invés de só ganhar tempo, você não poderia facilmente expulsar as forças do principado com a sua magia…?
Quando Weist apontou para isso, Excel soltou uma risadinha.
— Minha nossa. Você não pode confiar nesta velha para sempre, sabe. Acho que o dever de uma anciã é zelar pelos jovens sempre que eles se esforçam tanto.
— De fato…
Weist não tinha certeza do que dizer a respeito disso, mas, ao contrário da expressão alegre que Excel demonstrava, ela estava se sentindo internamente irritada.
Desta vez, meu papel exigia que eu ficasse em segundo plano. Gostaria de fazer o máximo possível, ainda mais quando penso no que acontecerá a Carla e Castor após a guerra… mas, se eu me destacasse demais, isso poderia acabar prejudicando a impressão que Sua Majestade tem de mim.
Ela suspirou consigo mesma, mas Excel não era o tipo de pessoa que deixava essas coisas transparecerem.
— Pois bem, vamos deixar o resto para nosso jovem rei e seus amigos enquanto seguimos para o sul, conforme planejado.
Ao dizer isso, os pensamentos dela voltaram-se para outra jovem.
Tradução: Taipan
Revisão: Milady
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