— Nosso próximo ingrediente é este.
Depois de comermos os bem recebidos espetos de polvo e voltarmos aos nossos lugares, Poncho abriu uma nova caixa à nossa frente. Quando vimos o ingrediente marrom fino e coberto de sujeira por dentro…
— Isso são… raízes? — disse Liscia.
— Acho que são raízes… — acrescentou Juna.
— Não parecem tão boas… São mesmo comestíveis? — perguntou Tomoe em dúvida.
Liscia, Juna e Tomoe agiram como se tivessem pontos de interrogação flutuando acima de suas cabeças. Aisha e eu, por outro lado, não ficamos surpresos.
— Ah, raiz de bardana, hein? — falei.
— Isso é raiz de bardana — concordou Aisha.
Bem, eu tinha ouvido falar que raiz de bardana era vista como uma coisa estranha de se comer no Ocidente, então não achei estranho que não fosse comida por aqui, mas que Aisha, que parecia uma ocidental, soubesse sobre isso me surpreendeu.
— Na floresta, temos que comer tudo o que podemos, caso contrário, logo sucumbiríamos à desnutrição — disse ela, olhando para longe.
Talvez aquela situação alimentar fosse o que a tornou na atual elfa negra esfomeada.
— Já que estão sendo apresentadas aqui, isso significa que podemos comer, certo? — perguntou Liscia, ao que assenti.
— Você pode comê-las. Mas em vez de apreciá-las pelo próprio sabor, aprecia o sabor do caldo em que foram ensopadas ou na sua textura. São principalmente fibras dietéticas, que você não consegue digerir, mas têm um efeito medicinal e podem ajudar a manter os movimentos intestinais regulares. São boas amigas para quem tem prisão de ventre.
— Gostaria que você não falasse sobre movimentos intestinais e prisão de ventre enquanto estamos comendo… — disse Liscia.
— Isso ajuda a expulsar os resíduos do corpo. Claro, também é bom para a saúde e beleza.
— Urkh. Quando você diz isso, parece tentador, mas…
Bem, agora que a Liscia foi convencida, vamos começar a comer? pensei.
Desta vez, mantive as coisas simples. Depois de raspar a sujeira usando as costas de uma faca, cortei a bardana em lascas compridas e finas, cobri com amido de batata e coloquei na panela com óleo que havia usado antes. Depois de fritar bem, tirei da panela e dividi em duas tigelas. Em uma delas coloquei sal, enquanto na outra coloquei açúcar. Com isso, as bardanas fritas (estilo batata frita e pão torrado) estavam prontas.
Quanto às reações de todos depois de comer…
— Huh, elas são crocantes e deliciosas — disse Liscia.
— Isso… provavelmente cairia bem com uma cerveja — disse Poncho.
Liscia e Poncho mastigavam as salgadas como um petisco.
— O óleo que sai com a mordida derrete o açúcar e a doçura se espalha por toda a boca — disse Juna.
— Eu gostaria que minhas duas mães provassem isso — disse Tomoe.
Juna e Tomoe, que comiam as com açúcar, fizeram comentários que valeram à pena respectivamente como crítica gastronômica e uma criança.
Quanto a Aisha…
— Se comer tudo junto, as doces e as salgadas, são deliciosas! — anunciou ela, mastigando os dois tipos juntos.
Sim, claro, acho que também não tem problema se comer assim.
Os próximos ingredientes comestíveis foram pata de urso vermelho (pata de urso), fígado de tigre espada (fígado de tigre) e salamandra inteira cozida (salamandra gigante inteira cozida), mas só chegamos ao ponto de apresentar as coisas.
Era verdade que essas coisas normalmente não eram consumidas neste país, mas iguarias raras que apenas um aventureiro poderia conseguir não eram algo que eu queria que as pessoas se esforçassem para conseguir. Se por acaso pusessem as mãos nessas coisas, eu só queria que soubessem que poderiam comê-las, e não jogassem fora. Além disso, nem eu sei como preparar uma pata de urso.
Ah, aliás, na fase de seleção dos ingredientes, retirei o baiacu, os cogumelos venenosos e todas as outras coisas com veneno da lista. Sabia que poderiam ser comidos se fossem adequadamente preparados, mas se amadores famintos tentassem pegá-los, estava claro que as coisas acabariam mal.
Veja bem, mesmo as partes venenosas poderiam ser comidas se a pessoa realmente quisesse. Na Prefeitura de Ishikawa, há “ovários de baiacu em conserva em pasta de farelo de arroz” e, na Prefeitura de Nagano, há regiões onde comem o famoso cogumelo amanita venenosa.
O apetite humano com certeza é demais, hein…?
Voltando ao assunto, o próximo ingrediente chocou todos nós.
— Este aqui é o nosso próximo ingrediente, sim.
— I-isso é… — Desta vez, todo mundo arregalou os olhos.
Dentro da caixa que Poncho abriu, havia um objeto gelatinoso verde-azulado.
— Isso é… um gelin, não é? — perguntei.
Era uma das criaturas do tipo slime com corpo mole que podiam ser encontradas em todos os lugares. Pareciam e agiam exatamente como aqueles inimigos dos RPGs. Sua característica principal era o quão fracos eram. Se os cortasse, já morriam. Se os esmagasse, também morriam. Eles se apegavam a criaturas vivas (ou mortas) e sugavam os nutrientes delas. Não havia macho ou fêmea: se multiplicavam por divisão. Provavelmente eram o que as pessoas obteriam se uma ameba ou outro organismo unicelular atingisse um tamanho gigantesco.
Hã? Vamos comer isso? Ou melhor, podemos comer isso?
Então percebi que Aisha parecia inclinar a cabeça para o lado em confusão.
— Espera. Esse gelin está morto?
— Sim. O gelin já foi finalizado — disse Poncho.
— Não pode ser. Nunca ouvi falar de um cadáver de gelin.
— Ah, isso mesmo. Agora que você mencionou, é estranho — concordou Liscia, parecendo ter notado algo.
Eu, por outro lado, não entendi.
— Liscia, poderia me dizer o que é que está acontecendo?
— O que há com esse tom…? Gelins são fracos. Eles têm uma membrana fina, e se os cortar só um pouco, estoura, e todos os seus fluídos corporais vazam. É igual dar uma porretada neles. Tudo que fica para trás é uma poça verde-azulada.
— É mesmo?
Aisha também balançou a cabeça.
— Sim. É por isso que um cadáver tão bem preservado parece algo impossível.
Entendo… Aisha como guerreira e Liscia como soldada têm experiência em lutar contra gelins, então notaram que há algo de estranho.
— Então, o que você teve que fazer para conseguir esse slime assim? — perguntei.
— Bem, veja, há um pequeno truque para isso. Essa é uma técnica que aprendi com uma tribo que mora bem no oeste, no Império. Usam um objeto fino em forma de haste para acertar o núcleo sem quebrar a membrana. Se fizer isso, o gelin vai manter a forma mesmo depois de morrer. Naquela área, os chamam de “gelins ikejime1É um método de matar peixes e manter a qualidade da carne.“.
Ikejime? Vamos lá, isso não é como drenar sangue de peixes… Mas, ainda assim, faz sentido. Parece que eu não estava errado ao pensar neles como organismos unicelulares.
— Os fluidos de um gelin perdem a liquidez gradualmente e endurecem quando o núcleo é destruído — acrescentou Poncho.
— Igual ao rigor mortis2É a rigidez que se estabelece em um cadáver dentro de mais ou menos sete horas após a morte., eu acho — falei.
— Sim. Se deixar tempo demais, os fluídos vão evaporar e só vai sobrar uma casca seca, mas cerca de duas horas após a morte, embora ele tenha endurecido um pouco, a polpa continua macia, e é possível cozinhar. Isso seria o estado atual, sim.
Hmm… Entendo que possa cozinhar, mas poder comer não é uma questão diferente? Enquanto eu pensava nisso, Poncho pegou uma faca e começou a fazer um corte vertical no gelin.
— Quando ele está nesse estado, você pode inserir a faca verticalmente e cortar em pedaços sem que o corpo desmorone. As fibras do corpo do gelin são verticais, então, fazer dessa forma proporciona uma textura melhor, sim.
Poncho cortou o gelin habilmente em longas tiras finas, da mesma forma como se faz ika somen3Ika somen é um tipo de sashimi feito com tiras finas de lula crua.. Aquilo estava sendo transformado em macarrão com a espessura de um udon. Poncho pegou tudo e colocou em uma panela com água fervendo.
— Agora, se fervermos em uma panela com água e um pouco de sal, a carne ficará mais firme.
Agora estava seriamente começando a se transformar em algo como soba ou udon. Enquanto fervia, aquela vibrante cor verde-azulada escureceu, começando a se parecer com soba de chá verde. Em seguida, Poncho acrescentou coisas como cogumelos secos e algas à panela com o gelin fervendo.
Ele está fervendo para tirar o caldo?
Por fim, depois de adicionar mais sal para ajustar o sabor, serviu a cada um de nós em uma tigela de sopa.
— Aqui está. Isso é Udon de Gelin.
— Ele está até chamando de udon! — exclamei.
— A-algum problema, senhor? — perguntou Poncho.
— Ah, não, nada.
Eu ouvia a língua deste país em japonês. “Udon” provavelmente era alguma outra palavra que foi assim traduzida. Que confuso. Embora, bem, deixando isso de lado, o que foi colocado à nossa frente parecia exatamente com o udon verde no estilo Kansai com um caldo claro.
Raposa Vermelha e Gelin Verde, não é? pensei. Sim… Agora não é hora de fugir da realidade, lembrando daqueles jingles antigos dos comerciais de udon instantâneo. Hã? Espera, eu realmente tenho que comer isso?
Quando olhei para os lados, estavam todos me encarando, como se dissessem: “Vá em frente, vá em frente.”
Ainda não levantei minha mão e disse “Certo, vou comer”, sabe!
Bem, acho que tenho feito Liscia comer coisas que ela não está acostumada… Não seria justo se eu fosse o único fugindo! Hora de comer!
Slurp…
— ?!
—B-bem, como está, Souma? — perguntou Liscia com um olhar preocupado.
— Isso é surpreendentemente bom… — respondi.
Sim. Me pergunto o que seja. Isso é completamente diferente do que eu imaginava.
Estava imaginando algo como ika somen, com uma textura viscosa e sabor de peixe, mas era macio e mastigável, sem sabor de peixe. Em vez de udon, era como kuzukiri4É uma sobremesa japonesa, algo parecido com um macarrão doce. que se cozinha em uma panela, ou macarrão Malony5É uma marca famosa de macarrão no Japão.. No entanto, quando mordia, se revelava uma textura inchada e única. Será que isso era a fibra?
Se eu fosse descrever como um todo, diria: “Parece udon, tem gosto de kuzukiri, com a textura de um prato regional de Kyushu.”
É, nada mal. Nada mal mesmo.
— Tem razão… É surpreendentemente bom — disse Liscia.
— A forma como absorveu o caldo é deliciosa — concordou Juna.
— Isso realmente é gelin? Estou chocada — disse Tomoe.
— SLURRRRRP.
Essa foi Aisha.
Parece que todas começaram a comer logo depois de mim e também tiveram boas impressões. Bem, claro que sim, já que estava delicioso. Se alguém perguntasse o que é melhor, este ou um udon normal, eu diria que a pergunta é incabível. Seria como perguntar o que é mais gostoso, soba ou udon: é só uma questão de preferência pessoal.
— A propósito, que tipo de nutrientes há nessa coisa? — perguntei.
— Nutrientes… Não sei o que é isso, mas suspeito que seja semelhante à gelatina que podemos extrair dos ossos — disse Poncho.
— Colágeno, hein.
Então, eles têm a proteína que se encontra em ossos de animais com fibra, como se encontraria em plantas, hein. É realmente difícil decidir se os gelins são plantas ou animais.
— De qualquer forma, parece que deve ser nutricionalmente bom — falei. — Gelins estão por toda parte. Se as pessoas os comerem, isso deve aliviar um pouco a crise alimentar, não acha?
— É, suponho que sim. E o cultivo de gelins é fácil. Se simplesmente der lixo para eles como alimento, vão crescer e se multiplicar por conta própria — disse Poncho.
— Uh, não, eu não quero dar coisas estranhas a algo que vou comer… — falei. — Não quero comer um gelin que absorve produtos químicos tóxicos e que possa me causar intoxicação alimentar.
— S-suponho que não.
— De qualquer forma, vamos tentar criá-los como um experimento. Caçá-los na natureza também serve, mas eu não gostaria de reduzir muito o seu número e acabar provocando um impacto no ecossistema local…
— Acho que isso seria o melhor — concordou Poncho.
Deixando tudo isso de lado, apreciamos muito o resto do udon de gelin.
— São mesmo comestíveis? — perguntou alguém.
— Bem, o rei e os outros pareciam estar gostando — respondeu outra pessoa.
— Acho que vou solicitar uma missão de captura de gelin na guilda dos aventureiros.
— Ah, então eu também.
Parece que havia conversas como essa nas praças com fontes por toda parte.
“O prato principal de Elfrieden é gelin.” Quem poderia ter previsto que as pessoas iriam começar a dizer isso em um futuro não muito distante?
— Agora então, para o nosso último ingrediente. Tenho algo que já foi cozido e preparado.
Quando vimos o que havia dentro da caixa que Poncho abriu após dizer isso…
— Uwah… — essa foi a nossa resposta universal.
Porque dentro dela havia “insetos”. Além do mais, esse tipo de prato existia no meu mundo… Até no Japão.
— Isso é inago no tsukudani6Gafanhotos cozidos em molho de soja e açúcar., não é? — perguntei.
— Sim. Este é um tsukudani de gafanhotos grandes.
— Sim… Com certeza são grandes.
No inago no tsukudani que eu lembrava, cada um deles era mais ou menos do tamanho de um grilo. Estes, por outro lado, tinham cada um mais ou menos o tamanho de um camarão kuruma7Um tipo de camarão de água doce..
Embora a cor sugira que possuam um sabor picante adocicado e tenham o sabor devidamente infiltrado quando cozidos… Espera? Tsukudani?
— Se estes são tsukudani — falei — então…
— Hã? Souma, você vai comer isso?
Como de repente enfiei o garfo em um dos grandes gafanhotos, Liscia começou a olhar para mim, chocada. Justo, isso parecia o tipo de coisa que uma pessoa normalmente hesitaria em comer. Se eu estivesse mais calmo, poderia ter comido um pouco mais timidamente. Mas, no momento, estava mais interessado em descobrir uma coisa.
Munch, munch…
— ?!
A textura era a de camarão com casca, mas havia algo mais importante.
O gosto… não tem engano!
— Este tsukudani… é feito com molho de soja!
— Molho de soja?
Molho de soja.
Sim, molho de soja.
O sabor do coração japonês.
Não se pode comer sashimi ou nimono8É basicamente qualquer coisa cozida com saquê, molho de soja e adoçante. sem isso. É o molho mágico que pode transformar ramen, bife de hambúrguer, espaguete e qualquer outro prato estrangeiro em um prato “japonês”. Era o sabor pelo qual eu provavelmente mais desejava desde que cheguei a este país. O molho místico que, devido ao seu processo de fermentação, não consegui recriar com a mesma facilidade que tive com a maionese. Agora, um prato feito com ele estava diante dos meus olhos! Gafanhotos ou não, me pareciam um bom prato.
— O quê? De jeito nenhum, Souma, você está chorando? — exclamou Liscia.
— Como não estaria?! Este é… o sabor da minha terra natal.
— O sabor da sua terra natal…
— Irmão, eles também têm tsukudani de grandes gafanhotos na sua terra natal?
Quando olhei para trás, Tomoe estava mastigando o tsukudani de grande gafanhoto e claramente gostando dele. Pensando bem, quando todo mundo estava recuando em estado de choque, esta garota foi a única que não ficou surpresa.
— Será que, este prato é… — falei.
— Sim. Eu comia muito disso na vila dos lobos místicos.
— Então os lobos místicos fazem molho de soja?!
— Molho de soja… será que você está falando de água hishio?
— Água hishio?
— Água hishio é um molho que os lobos místicos gostam de usar, sim — Poncho saltou para explicar. — Originalmente, os lobos místicos revestiam a soja com sal e permitiam que fermentasse, criando um molho chamado “feijão hishio”. Quando pegam o líquido claro que é criado nesse processo e o deixam fermentar, isso produz água hishio. São ambos molhos com um sabor único que não é encontrado neste país, sim.
— Entendo.
Depois dessa explicação, tive certeza disso. Já tinha lido em algum livro de algum lugar que o molho de soja nasceu do processo de fabricação do missô. Então, basicamente, feijão hishio era missô e água hishio era molho de soja. (O motivo pelo qual não ouvi essas palavras como missô e molho de soja pode ter sido porque eram semelhantes, mas distintamente diferentes do molho de soja moderno.) Os lobos místicos talvez tivessem hábitos alimentares semelhantes aos japoneses… Espera, calma aí. Este sabor permeando o gafanhoto é…
— Ei, Tomoe. Também usam álcool para fazer isso, não é?
— Ah, sim. É um álcool feito com sementes de uma planta.
— Que tipo de sementes?
— Vejamos… É uma planta que cresce em áreas pantanosas, tem espigas que parecem a ponta de uma vassoura, e nelas há muitas pequenas sementes igual no trigo.
Sem dúvidas quanto a isso! Essas plantas são arroz! Minha esperança para o futuro!
Para a transição de safras comerciais para safras alimentícias, eu queria cultivar arroz, porque tinha ouvido que os arrozais não degradavam a fertilidade do solo, ao contrário de campos secos de trigo, mas como as tão importantes plantas de arroz não existiam neste país, o plano foi interrompido.
Agora entendo. Isso cresce mais ao norte, hein? Eu gostaria muito de trazer um pouco para cá e cultivar. Ainda assim, esses lobos místicos… Entre o molho de soja, o missô e agora o arroz, a raça deles tem muitas coisas que eu queria.
Parei.
— Certo, isso resolve tudo! Vou dar um distrito em Parnam aos lobos místicos que estão entre os refugiados.
— Quêêêêê?! — exclamou Tomoe.
Eu queria que eles produzissem esse feijão hishio e a água hishio por lá. Tínhamos soja em abundância, pois havíamos plantado no processo de restauração do solo.
— Espera aí, Souma, está falando sério?! — Liscia parecia confusa e nervosa, mas eu estava falando sério.
— Com molho de soja e missô… Digo, com água hishio e feijão hishio, posso recriar a maioria dos pratos do país de onde vim. E parece que também tem arroz por aqui. Não quer experimentar as comidas saborosas de outro mundo?
— I-Isso é…
— Sim! Eu realmente quero experimentar! — Aisha ergueu a mão com gosto.
— Ha ha… embora não tanto quanto Aisha, tenho certeza que nosso povo gostaria de experimentar. Se eu publicar as receitas, irão juntar os ingredientes e fazer eles mesmos, ou vão a um restaurante que os serve, tenho certeza. De qualquer forma, isso causará um grande movimento econômico.
A enorme liquidez do mercado traria prosperidade a este país. Nisso eu acreditava firmemente. Foi por isso que disse o seguinte para as pessoas assistindo:
— Minha busca por aqueles com dons continua em andamento. Se tiverem um dom, vou usá-los mesmo se forem refugiados. Esta raça possui técnicas superiores de produção de alimentos, por isso não tenho motivos para não aceitá-la. Ah, já sei… Pelos próximos cinco anos, concederei aos lobos místicos o monopólio do feijão hishio e da água hishio. Vamos reprimir a produção ilícita de qualquer outra parte. No entanto, daqui a cinco anos, retirarei o monopólio do feijão hishio e da água hishio para criar um mercado livre, por isso recomendo que criem uma base econômica sólida para si mesmos neste período. Isso é tudo.
Após este pronunciamento, um bairro de lobos místicos foi construído na capital Parnam, e feijão hishio e água hishio foram produzidos lá com a ajuda do país.
Neste mundo, surgiram casos em que refugiados receberam um distrito próprio que acabou se transformando em uma favela. Isso porque os refugiados enfrentavam limitações econômicas (falta de empregos, oferecimento de mão de obra barata e muito mais) e lutavam contra a pobreza.
Porém, no caso dos lobos místicos, por terem recebido do rei o monopólio do feijão hishio e da água hishio, puderam construir uma base econômica para si mesmos e, assim, seu bairro não se transformou em uma favela, e tornou-se parte integrante da capital no momento em que o limite de cinco anos acabou.
Além disso, mesmo depois que o feijão hishio e a água hishio foram renomeados para “missô” e “molho de soja” e o monopólio acabou, continuaram a estudar isso. O missô e o molho de soja que os lobos místicos colocavam sob a marca Kikkoro, com um logotipo hexagonal com um lobo no centro, continuariam a ser amados por muito tempo depois disso.
Música de fundo alegre e a voz suave de Juna Doma ecoaram pela praça com fonte.
— Agora, está na hora deste programa, O Brilhanche do Rei, chegar ao fim. Como se sentiu ao ser o anfitrião, Poncho?
— S-sim. Se o meu conhecimento pudesse ajudar no mínimo os nossos compatriotas, ficaria muito feliz. Ainda assim, acho que ser um anfitrião foi um fardo muito grande para mim, sim. Por favor, da próxima vez peça para outra pessoa ficar no meu lugar.
— Será que vai ter uma próxima vez? O que acha, senhor? — perguntou Juna.
— Se as pessoas demandarem.
— Bem, aí está. Espero que exijam, Poncho.
— N-não acho que quero que surja uma demanda por mim agora, sim!
— Ah, não diga isso. Vamos fazer isso de novo juntos algum dia! — resmungou Juna em um tom cantante.
— Eeek! Por favor, poupe-me! — gritou ele.
— Agora, obrigada a todos por ter assistido. Estes são seus anfitriões, Juna Doma…
— E Poncho Ishizuka Panacotta, acompanhando, sim…
— Agora, pessoal, desejo a todos um bom dia.
A música foi cortada e a imagem sumiu. Parecia que o programa havia terminado.
Suspiros podiam ser ouvidos aqui e ali ao redor da praça.
— Aww… Acabou, hein.
— Isso foi mais interessante do que eu esperava. Gostaria de ter assistido um pouco mais.
— Pois é. Não precisa ser todo dia, mas espero que tornem as transmissões semi-regulares.
— Se houver demanda, eles farão mais, certo? Bem, que tal enviarmos um pedido ao Congresso do Povo?
— Ah! Eu não tinha pensado nisso! Vou falar sobre isso com o prefeito agora mesmo.
Conversas como esta aconteciam em cidades de todos os lugares.
As pessoas ficaram completamente fascinadas com esta nova forma de entretenimento chamada “programa de variedades”. Souma pretendia que fosse um “programa de informação” sobre a crise alimentar, mas com Juna e Poncho brincando um com o outro, os aspectos de programa de culinária e garotas bonitas gritando e comendo ingredientes bizarros, não poderia culpar ninguém por estar vendo as coisas dessa forma.
Posteriormente, o Congresso do Povo apresentou um “pedido para a realização regular de programas de Transmissão de Voz da Joia.” Com o consentimento de Souma, foi estabelecido um horário para uma transmissão pública que ocorreria todas as noites.
Havia também quem mudou de ponto de vista entre a sociedade em geral.
— Quando o novo rei subitamente assumiu o trono, suspeitei que fosse usurpação, mas aquele jovem rei parece ser um sujeito surpreendentemente cortês — disse um velho.
— Você está certo — respondeu outro. — Posso ver por que o rei Albert decidiu abdicar em favor dele.
— A princesa também parecia estar de bom humor. No começo suspeitei que ela estava sendo forçada ao noivado.
— Eles pareciam estar se dando muito bem. Não pareciam estar em más condições.
— Ho, ho, ho, podemos ter um herdeiro no próximo ano, eu acho.
— Uma criança entre o rei sábio e gentil e a princesa digna, huh. A próxima geração será uma para se aguardar com expectativa.
— Será mesmo. Ho, ho, ho.
Os velhos, juntos, riram baixinho.
Um rei sábio e gentil… assim haviam avaliado Souma. No entanto, cerca de metade dessa avaliação estava errada.
Souma não era um rei inteiramente gentil.
Sentado em minha cadeira no escritório de assuntos governamentais do rei, falei com Hakuya, que estava em minha frente.
— Me dê seu relatório sobre os países vizinhos.
No momento, Hakuya e eu éramos os únicos presentes na sala. Liscia e as outras estavam em outro lugar, provavelmente se divertindo muito na festa de comemoração do lançamento da Transmissão de Voz da Joia. Até Aisha, que geralmente ficava ao meu lado o tempo todo, alegando que era para me proteger, estava ocupada com a comida que havia sido preparada para a ocasião.
Tínhamos saído da celebração no meio dela, indo ao escritório de assuntos governamentais para uma reunião secreta.
Hakuya espalhou um mapa-múndi sobre a minha mesa.
— Farei o meu relatório. Primeiro, vou avaliar os países vizinhos. Nosso país, situado no sudeste do continente, faz fronteira com três países: a União das Nações Orientais ao norte, o Principado da Amidônia ao oeste e a República Turgis ao sudoeste. Além disso, do outro lado do mar, a sudeste, está a União do Arquipélago Kuzuryu. Além disso, a oeste da Amidônia, o estado mercenário Zem também poderia ser chamado de um dos países vizinhos. Destes, zero são amigáveis, quatro são neutros e um é hostil.
— Estamos bem isolados, hein — falei.
— Com todo o respeito, dado que estes são tempos difíceis com a expansão do Domínio do Lorde Demônio, isso é normal. Nestes dias em que cada nação olha para as outras com suspeita, os únicos países em termos amigáveis são aqueles que têm relações de suserano e vassalo.
— Você chama isso de relacionamento amigável?
— Se não há medo de traição, é amigável o suficiente.
Ele falou uma das coisas mais ultrajantes com uma cara fria. O que disse significava, basicamente, que sentia uma relação de controle e subordinação que não dava margem para reclamações, mesmo que uma nação fosse usada como ferramenta e depois jogada fora, ainda é qualificada como amigável, não é? Mais ou menos como a aliança entre os clãs Matsudaira e Oda quando Nobunaga Oda ainda estava vivo.
— Então, qual é o hostil? — perguntei. — Amidônia? Zem?
— Zem não. Com certeza, aquele assunto piorou a impressão que eles têm de nós, mas não a ponto de serem considerados hostis. Dito isso, se a Amidônia solicitasse reforços deles, não tenho dúvidas de que enviariam mercenários em seu nome.
— Amidônia, hein… Se bem me lembro, eles nos enviaram uma “oferta de ajuda”, certo?
— Sim. “A estabilidade de nosso vizinho Elfrieden está diretamente ligada à nossa própria defesa nacional. Se um pedido for feito, enviaremos forças para ajudar a subjugar os Três Ducados”, é o que ofereceram.
— Ha ha ha ha… Isso é bastante direto.
Estava claro que eles queriam tirar vantagem da discórdia entre os Três Ducados e eu para expandir seu território.
— É sim. Os Três Ducados provavelmente ouviram algo semelhante.
— “Vamos derrubar o usurpador Souma juntos”, é isso? É meio difícil rir de algo assim.
Bem, eu provavelmente poderia contar com os Três Ducados para ver através do esquema da Amidônia. Não deixariam estrangeiros acabarem com o país só porque não gostavam de mim. Claro, a Amidônia também sabia disso, então basicamente…
— Ao fazer ofertas de ajuda a ambos os lados, querem se dar uma causa para mobilizar suas tropas — falei.
— Enquanto tomam cidades no oeste, vão enviar reforços para o lado que “venceu” — concordou ele. — Então, vão inventar algum motivo para assumir de fato o controle das cidades que ocuparam, integrando-as ao seu país. É uma estratégia ortodoxa, mas eficaz, eu acho.
Bem, claro. Houve muitos exemplos disso na história do meu próprio mundo. Como So’un Hojo9Foi um militar japonês bem proeminente. Ele unificou várias regiões ao derrotar algumas das famílias mais nobres da época.
com seu “Pegue uma trilha de caça de veados, roube um castelo.” Quanto mais simples a estratégia, talvez maior a probabilidade de as pessoas serem enganadas.
Amidônia estava descaradamente tentando nos enganar, Zem estava se inclinando para a hostilidade e o Reino de Elfrieden não foi capaz de alcançar a unificação nacional por causa do meu conflito com os Três Ducados. Problemas difíceis de resolver, todos eles.
— No entanto, tudo isso faz parte do cenário que você previu, não é? — perguntei, olhando fixamente para Hakuya.
Ele permaneceu imperturbável.
— Sim. Neste momento, toda a situação está andando como esperado — declarou. Sua expressão fria me fez coçar a cabeça vigorosamente.
— Você… sabe, certo? — perguntei, referindo-me ao número de pessoas que seriam sacrificadas pelo plano de Hakuya.
O cenário que ele havia traçado resultaria em grandes perdas para nossos inimigos e grandes ganhos para nossos aliados. Era verdade que eu precisava fazer uma mudança, não importa qual fosse, que permitisse que este país se tornasse uma nação forte. No entanto, para tornar isso realidade, este país também precisaria derramar uma boa quantidade de sangue.
Apesar de tudo, Hakuya declarou isso sem mostrar qualquer culpa:
— Sim. Acredito que devemos aproveitar tudo o que esta oportunidade nos oferece.
Fiquei em silêncio.
— Senhor, você deve entender, o resultado salvará muitos de seus compatriotas.
— Eu sei disso… Mas, ainda assim, só vou aceitar fazer “isso” uma vez. — Olhei bem nos olhos de Hakuya. — Um pensador político do meu mundo, Maquiavel, escreveu sobre isso em O Príncipe. Se um governante fizer “isso” apenas uma vez e, ao fazer, for bem sucedido, nunca mais o fazendo, será considerado um grande governante. Por outro lado, se a única vez que fizer “isso” não for decisiva, mais cedo ou mais tarde enfrentará seu fim como um tirano.
— Esse Maquiavel tinha uma visão terrivelmente realista das coisas… — Hakuya ficou um pouco surpreso.
Sim. Era por isso que eu gostava dele. Havia ficado encantado com o realismo infinito de Maquiavel e reli O Príncipe muitas vezes. Embora nunca tivesse esperado que aquele conhecimento algum dia se tornasse útil assim.
— Independentemente de qualquer coisa, considerei seu plano como um exemplo de fazer “isso” — falei. — Então…
Se vamos fazer, que seja de uma só vez.
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