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Calmaria Divina – Vol. 02 – Cap. 01 – Convergência

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Jack, Lado de fora da passagem para o Palácio Esquecido.

Eu estava sentado no chão de pedra da cripta. Não soube dizer há quanto tempo estive acordado. Minha cabeça girava e eu mal me lembrava do que havia acontecido. Os primeiros momentos eram nítidos em minha memória, mas em certo ponto as coisas se tornaram confusas.

Lether estava sentado de costas para nós, mexendo em alguma coisa. “Sempre são duas pessoas que entram, mas apenas uma que volta.”, me lembrei das palavras do homem. Quando esse pensamento me atingiu, foi como se minha mente reconquistasse o controle de meu corpo.

Olhei para Arthur, que estava deitado com os olhos estalados e fixos no teto. Ainda sentado, estiquei meu braço, dando um soquinho em seu peito. Ele respirou fundo e seus olhos relaxaram.

Ele tentou falar algo, mas tudo o que saiu de sua boca foi um ruído fraco. O mesmo aconteceu quando tentei respondê-lo. Minha garganta estava completamente seca, meu estômago completamente vazio.

Busquei meu cantil e bebi a água quase morna que tentava reativar meu corpo completamente. Arthur fez o mesmo. Só então notei, assim como ele também pareceu notar, que o jovem segurava outro objeto em uma de suas mãos: Uma pedra.

— Missão cumprida. — Suspirou ele.

Acenei com a cabeça enquanto me levantava com dificuldade. Minhas pernas estavam fracas, meu estômago estava vazio. Busquei minhas rações de viagem, se não comesse nada imediatamente, não conseguiria nem chegar na cidade. Mais uma vez, Arthur pareceu pensar o mesmo.

— Lether! — Arthur chamou pelo homem que continuava de costas. — Lether? — Quando continuou sem resposta, o jovem, que voltara ao disfarce humano, se levantou e foi até o outro.

— Lether? — Tentou chamar mais uma vez enquanto se aproximava.

 

Thorian, Clareira dos Espíritos.

— “O criador de monstros está morto”. Quase não consegui perceber a mentira.

Shimitsu falava enquanto voltávamos para a vila.

— Não foi uma mentira completa, só não especifiquei de qual estava falando. Nós matamos outros criadores de monstros em Declive Profundo.

Alguns minutos atrás, Seley havia localizado um pequeno grupo de aventureiros. Felizmente pudemos afastá-los sem um combate.

Durante essa semana não tivemos nenhum sinal de Arthur ou Jack. Também não consegui pensar em alguma forma de afastar os aventureiros da vila. Já estou começando a acreditar que Falco nunca quis que realmente fizéssemos isso.

— Está tudo certo para nossa partida amanhã? — O Kitsune perguntou.

— Sim, Sanir está se despedindo das crianças desde o amanhecer, até Quimi parece ter gostado delas.

— Então realmente já estamos chamando aquilo por um nome, uh.

— Você tem que admitir, ela não causou nenhum problema até agora.

Soube que estávamos próximos da vila quando a neblina desapareceu subitamente.

— Por onde devemos começar a procurar pelos outros?

Foi nesse momento que Shimitsu parou de repente, como se tropeçasse.

— Não será necessário. O sinal voltou, na mesma direção em que desapareceu.

 

Arthur.

Lether tinha uma pilha de pequenas folhas esfareladas aos seus pés, enquanto raspava as laterais de outras duas, como se tentasse serrá-las uma com a outra.

— Olá? — Chamei, enquanto me colocava à sua frente.

O observei por quase um minuto até que uma folha atravessou a outra completamente e ele olhou para cima, dando um pulo de susto.

— AH!!! Seu desgramado! Por que vocês gostam de chegar de mansinho assim?

— De mansinho? Eu estou te chamando já faz cota.

— Independente. Espera, você acordou? Mas já? Não faz nem uma semana… eu acho. Quando abri a boca para responder, fui interrompido por ele.

— Ah! Você não estava sozinho, não é? O que aconteceu? — Então se virou para onde Jack estava se recuperando. — Os dois voltaram! Conseguiram a… conseguiram! — Ele se respondeu ao olhar minha mão fechada. —Vou esperar vocês na carruagem.

Se levantou e saiu, cambaleando um pouco.

Olhei para Jack, que se aproximava lentamente em sua armadura pesada.

— Eu só não bati nele porque não tenho forças o bastante.

— Imaginei.

Quando chegamos ao local onde a carruagem estava, Lether encarava os cavalos, que pareciam de alguma forma emburrados.

 

Shimitsu.

— Muito obrigado pela estadia. — Dizia Thorian, enquanto cumprimentava Falco. — Que Solarith ilumine a vida de cada um de vocês.

Assenti com a cabeça. Não sou muito bom com despedidas, pensei.

Uma comoção havia se formado ao redor de Sanir, que montava em Quimi. Uma comoção de lágrimas e narizes escorrendo.

— Um dia voltarei com ainda mais histórias! Terei sido capaz de derrotar um dragão e domar uma montanha!

Percebi de canto de olho alguém se aproximando e me virei para ver Seley.

— George precisa falar com vocês antes de partirem. Mais especificamente com você.

— Eu?

— Você. E nem adianta me perguntar sobre o que é, ele não deixa ninguém entrar naquele diacho de cabana desde quando viu você treinando na floresta.

— Vamos, Sanir! Shimitsu disse que Arthur e Jack já estão vindo. Não sabemos como a conexão vai se comportar quando eles entrarem na floresta.

As crianças abriram espaço para a quimera que nos seguiu enquanto o Halfling acenava.

— Não estamos indo para aquela cabana, não é? — Perguntei para Seley após alguns minutos de caminhada.

Meus instintos estavam conflitantes entre ficar alerta e confiar no Meio-Elfo, já que ele não exibia sinais de hostilidade.

— Não. George quer vê-los em um lugar diferente.

Chegamos em uma pequena clareira com uma lagoinha no centro. Algumas plantas cresciam em suas margens, com as raízes dentro da água. Essas plantas, assim como alguns musgos nas pedras e árvores próximas pareciam emitir um brilho espelhado.

George estava sentado ao lado de alguma coisa que parecia maior que ele coberta por uma lona.

Ao perceber nossa presença, ele se levantou, lutando por seu equilíbrio, e fez sinal para que eu chegasse mais perto.

— O que é isso? — Perguntei.

Ele puxou o tecido que cobria o objeto para revelar o que parecia uma marionete em forma de Kitsune. Ela não tinha traços muito detalhados, mas exibia uma forma definida. Ela tinha duas caudas.

— E’a. Vo’ê… me-or.

Passei alguns instantes tentando entender, até que percebi quem era.

— Na verdade, ela… ficou ótima, obrigado. — Comecei a falar, mas me corrigi quando a mão pesada de Thorian pousou em meu ombro.

O Golias acenou com a cabeça em aprovação.

— E’pa…da. — o garoto disse, apontando para Fukushu.

— Sim, é bem parecida com a antiga dona dessa espada. — Não era mentira, seu focinho era mais afinado, seu corpo estranhamente parecido em tamanho, a única coisa que escapava era a segunda cauda do boneco.

— E’pada. — Ele repetiu, ainda mais firme, estendendo as mãos.

Não é possível que ele esteja querendo trocar Fukushu pela marionete, né?

Então senti um toque em meu ombro, onde o cabo da katana estava. Um toque macio.

Minha mente ficou em branco por um momento e cedi a arma ao garoto.

Ele arrancou uma daquelas plantas de folhas alongadas com brilho espelhado e amarrou-a na bainha de Fukushu, então esfregou outra dessas folhas nos olhos do boneco.

Fui capaz de ver meu reflexo no brilho que ficou naqueles olhos.

George me devolveu a espada, mas no momento em que segurei em seu cabo, um choque percorreu minhas mãos enquanto uma presença despertava dentro daquele boneco. Trégua.

— Como fez isso? — Perguntei, incrédulo.

— Su’pe…sa. — Respondeu, com um largo sorriso.

— A palavra é “segredo”, George. — A marionete corrigiu. — Nem mesmo eu sou capaz de entender. — Disse, se virando para mim.

Me ajoelhei, dando um abraço no garoto, que pareceu se assustar, mas depois relaxou.

— Você… vem com a gente? — Perguntei para Trégua. Eu tinha certeza de que realmente era ela.

Ela acenou com a cabeça, então voltou a falar.

— Mas terá que me carregar até que me acostume com isso.

 

Arthur, Declive Profundo.

— Lether! — Chamei, antes que ele partisse. — Quase me esqueci, na noite em que tudo aconteceu em Vale Cinza, o pingente que Thane nos deu se quebrou.

— Pingente… — Enquanto ele pensava, mostrei o objeto em pedaços. — Ah, esse pingente. Posso levá-lo para quem o arrume, e então devolvo a vocês.

— Certo, obrigado. — Ofereci o objeto a ele, que o colocou em uma pequena bolsa de couro.

— Nos vemos por aí. — Disse, e partiu.

— Para que lado vamos? — Perguntou Jack.

— Os outros estão em algum lugar da floresta élfica, é para lá que vamos. Mas vamos precisar de cavalos.

— Na realidade, não vamos.

O paladino retirou de sua bolsa uma esfera de âmbar com uma longa pena preservada em seu interior.

Ele sussurrou algumas palavras e uma energia espectral começou a se formar ao redor da esfera. Uma invocação.

O processo era lento, mas em alguns minutos, um hipogrifo grande o bastante para nos carregar havia surgido.

 

Shimitsu, limites da floresta de Aldoria.

Caminhariamos até que conseguíssemos fazer uso de nossas montarias, já que as grandes raízes que escapavam do solo dificultariam a cavalgada. Não que isso impedisse que Sanir estivesse nas costas de Quimi, junto de Trégua.

— Como é bom ver o Sol depois de tanto tempo. — Suspirou Thorian.

— Não é como se a luz não chegasse na clareira. — Sanir retrucou.

— Não falo sobre a luz, mas a imagem poderosa de Solarith no céu.

— Falando em imagem no céu… — Comecei, enquanto sentia a presença de Arthur se aproximando. De cima.

Arthur aterrissou alguns instantes de Jack, que montava em um hipogrifo que encolheu as longas asas logo após chegar com um rasante, desacelerando somente no momento do pouso. O paladino acariciou suas penas e desmontou.

Arthur se jogou para cima de mim, em um abraço que não consegui evitar.

— Como é bom ver que estão vivos.

— É, é, agora larga.

Arthur me soltou e deu um abraço em cada um, incluindo a quimera, que chegou a ronronar.

— Onde vocês estavam? — Thorian perguntou.

— Longa história, e vocês?

— Vamos ter muito o que conversar. — O Golias disse, sorrindo.

 

Arneia Glance.

Busquei o bule de água que terminava de ferver no fogo que queimava na ponta de meu cajado, sem se espalhar pela grama macia ao redor. Tão macia quanto minhas costas depois de passar aquela pomada milagrosa dos elfos.

Servi a água em uma xícara com algumas ervas dentro de uma redinha. Depois de alguns minutos, tinha um chá extra-forte capaz de reanimar até mesmo um escamão solitário.

Depois do breve e merecido descanso, guardei o livro que estava lendo — um raríssimo exemplar de “Os Piromantes mais Piromantásticos e Fantásticos” —, busquei meu cajado, apagando o fogo mágico e me apoiando nele para me levantar, enquanto guardava meus óculos de leitura acima da testa.

 

 

 

Eu caminhava na faixa de floresta entre Vantrol e o Reino das Bestas. Senti meu pé afundando levemente no chão quando um cheiro pútrido de esterco chegou às minhas narinas.

Como aquele moleque deixa a própria mãe sozinha desse jeito? Pensei.

Dei uma risada comigo mesma, já que apesar da minha idade, eu poderia me cuidar muito melhor do que muitos dos jovens de hoje em dia.

Eu me movia rapidamente enquanto evitava as raízes e pedras espalhadas no chão, empurrando um ocasional obstáculo com meu cajado.

Por que eu estou viajando sozinha? Bem, dizem que um óculos feito das lentes dos olhos de uma espécie específica de lagarto gigante que só vive nessa área é capaz de revelar qualquer coisa que esteja na sua frente, até as invisíveis. Pode ser que seja um simples rumor, mas nada me impede de confirmar. Não é como se eu tivesse muito mais o que fazer, não é? Ao contrário de Azmodeus, que não faz nem o que eu peço. Pelo menos está interessado naquelas runas antigas que mostrei a ele uma vez.

Ao longe, ouvi o grasnado de algo que parecia ser grande, o que me despertou de meus pensamentos, fazendo com que eu voltasse a prestar atenção no meu caminho.

Continuando nesse ritmo, chegarei no Lar dos Caçadores para o almoço de amanhã.

 


 

Autor: Halt

Revisão: Bravo

 


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