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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 01 – Cap. 14 – Celestelia Real

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Enquanto eu navegava sobre os campos em minha vassoura, uma ondulação percorreu as flores e marcou o meu progresso. Banhadas pela luz do sol, as flores passaram com um brilho e um som parecido ao de um riacho balbuciante.

Respirei bem fundo, enchendo os pulmões de ar, e abri os olhos.

Do outro lado dos campos estava um país cercado por uma muralha.

Quão enorme é este lugar?

Pensei em tentar voar pelo lado de fora na minha vassoura, mas duvidava que conseguiria retornar antes do pôr do sol, então desisti dessa ideia.

Mais importante ainda, o portão estava bem na minha frente, então não havia necessidade de sair do meu caminho para ficar voando por aí. Continuei em frente, curtindo a paisagem, e pousei.

Um guarda do portão apareceu e silenciosamente fez uma reverência para mim. 

— Bem-vinda ao nosso país, Madame Bruxa. Perdoe a intrusão, mas posso saber seu nome?

Era a usual inspeção de imigração.

— Elaina.

— Quanto tempo você pretende ficar?

— Cerca de três dias, eu acho.

— Qual é o seu título de bruxa?

— Bruxa Cinzenta.

— Bruxa Cinzenta…? — O guarda olhou para mim.

— Algo de errado? — Eu provavelmente parecia confusa.

— Ah, não, não é nada. Perdão.

O guarda pareceu confuso, mas me permitiu entrar sem perder a compostura.

Parece que isso era tudo que ele tinha a perguntar. Paguei uma prata pela taxa de entrada e passei pelo portão. Atrás de mim, ouvi alguém dizer: 

— Bem-vinda à Celestelia Real.

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Fiquei meio desconfiada por causa do nome todo formal do país, mas a cidade estava fervilhando de energia.Celestelia Real era só mais um nomezinho esquisito.

As passarelas de tijolos estavam cheias de pessoas – casais aparentemente felizes segurando bebês, crianças mais velhas correndo atrás umas das outras, idosos saindo para passear. Todos estavam cuidando de suas vidas diárias.

Comecei a caminhar.

Prédios altos se alinhavam em ambos os lados da rua, com cordas esticadas entre eles. As roupas estavam penduradas nas cordas ao sol; alguém tinha colocado elas para secar.

Respirei fundo e senti um cheiro ligeiramente adocicado. Vi um vaso de flores no parapeito de uma janela, cheio de lindas flores multicoloridas.

A cidade diante de mim era tão maravilhosa que parecia que eu poderia perder a noção do tempo.

Fiquei vagando sem rumo até que me deparei com um prédio muito elegante. Tinha uma enorme torre de relógio, e o lugar era tão grande que pensei que poderia ser um palácio. O amplo terreno era cercado por uma cerca de ferro, então eu não conseguia chegar perto do prédio em si.

Olhando para a torre do relógio, caminhei ao longo da cerca e encontrei a entrada.

 

ACADEMIA REAL DE MAGIA

 

É isso que está escrito no portão, então suponho que seja mesmo. Interessante encontrar uma academia de magia aqui… Não existia tal coisa em meu país. Com certeza não uma tão sofisticada.

Mas foi o suficiente para me deixar com inveja das crianças que moravam por perto.

Estou um pouco curiosa para ver isso por dentro… Será que tem problema se eu entrar? Devo entrar?

Bem, vou entrar.

Pisei no terreno.

— Ei, você. O que está fazendo?

Ainda não tinha ido longe quando alguém me agarrou firmemente pelo ombro.

— A entrada de pessoas não autorizadas é proibida. Não tem problemas dar uma olhada, mas vou te pedir para que não entre.

Quando me virei, me deparei com um homem musculoso parado bem ali. Sua roupa estava bem esticada sobre os músculos protuberantes. Ele parecia ser o porteiro.

— …

— Ah… — Ele olhou para o meu peito e sua atitude mudou na mesma hora. — Peço perdão. Eu não sabia que você é uma bruxa… Por favor, desculpe a minha grosseria.

— Sem problemas. — Afastei sua mão de mim e voltei a caminhar na direção da escola.

— Sinto muitíssimo, mas, por favor, não entre aí. — Mais uma vez fui parada. 

— Ah, então é proibido?

— Sim.

— Até mesmo para bruxas?

— Minhas ordens ditam que a entrada de qualquer pessoa de fora é absolutamente proibida.

— Quem lhe deu essas ordens?

— A grande bruxa que dirige esta Academia.

— Huh…

— Ela não quer que os segredos do currículo da Academia vazem. E ela também não suportaria que seus métodos fossem roubados por algum tipo de imitadora.

— Bem, então, que tal fechar o portão da frente?

— Não podemos fazer isso. Está quase na hora da grande bruxa chegar.

— Huh… — Saí com relutância.

Que pena.

Ainda está muito cedo para encontrar uma pousada para passar a noite, hmm?

Continuei caminhando sem rumo. Passear por este país se provou divertido.

— …

Olhei para cima e vi uma vassoura sobrevoando as casas, mas não parecia que aquilo estava só dando uma voltinha. O homem nela estava ziguezagueando pelas casas, deixando cair um monte de coisas enquanto fazia isso. Quando vi alguém saindo pela varanda e pegando o que ele jogou, percebi que se tratava de um entregador de jornais.

Desci a rua principal e encontrei uma rua cheia de barracas de ambos os lados: barracas de frutas, mercearias, açougues e muito mais. Havia também uma barraca de pão, com uma placa que dizia: RECÉM-ASSADOS!

Não existe nenhuma mentira maior do que essa, hein? Aposto que está tudo velho.

— Com licença. Vou querer um pão, por favor.

A mulher de aparência amigável atrás do balcão sorriu para mim. 

— Isso vai custar um cobre.

Tirei uma moeda de cobre da carteira e entreguei a ela.

A mulher pegou o meu pão e o enfiou em uma bolsa… com a mão nua.

— Aqui está. Obrigada.

— Sim… obrigada.

Peguei aquilo e vaguei pelo distrito comercial enquanto mastigava o pão. O pão longo e fino evidentemente não estava recém-assado, já que estava duro e velho. Continuei, lutando com ele e, finalmente, deixei a área comercial.

Então vi outro mago. Este homem tinha um grande embrulho amarrado à vassoura e estava falando com o proprietário de uma cafeteria.

— Entregue isso na casa da Senhorita Amana, que mora no lado oeste da cidade. Leve com cuidado! O almoço dela está aí dentro, entendeu?

— Certo!

— Ah, não tenho tanta certeza sobre isso…

Dando um olhar de soslaio ao dono da cafeteria, o homem lentamente decolou com sua vassoura e voou para algum lugar.

Então, pelo que vejo, fazem entregas de vassoura. Por algum motivo este país deve ter muitos magos.

Achei que era porque tinham uma escola ensinando magia.

Os magos não estavam apenas lidando com jornais e entregas de pacotes; alguns também carregavam pessoas em carrinhos presos às vassouras. Claro, não era prático para uma pessoa carregar uma carga tão pesada sozinha, então trabalhavam em duplas. Uma pessoa parecia estar encarregada de operar a vassoura, enquanto a outra parecia estar aliviando o peso do carrinho usando magia.

Havia magos não apenas no céu, mas também no chão. Alguns faziam demonstrações de magia no acostamento da rua principal, para o deleite de todas as pessoas que passavam. Estavam usando magia para manipular fantoches e apresentar uma peça.

Alguns cantavam animando o local com efeitos mágicos (produzindo neve e afins), deixando a multidão animada.

E todos estavam trabalhando energicamente.

A propósito, havia algo pesando um pouquinho na minha mente.

Eu acho ótimo que os magos daqui possam desfrutar de suas vidas, mas isso não é taxado?

Então decidi perguntar. Perguntar a alguém é a maneira mais rápida de descobrir algo que não sabe, certo?

— Com licença — falei com uma garota maga que estava sentada em um banco lendo um livro (ela não tinha um broche nem um corsage, então provavelmente era uma noviça). Eu estava em uma praça que havia encontrado por coincidência.

— Sim? O que foi? — Ela se virou para mim com uma expressão suave.

— Sou uma viajante e há algo me incomodando. Se estiver tudo bem, posso te perguntar sobre isso?

— Nossa, que viajante mais fofinha que você é. — Ela soltou uma risadinha. — Tudo bem, o que é? Se eu souber, vou responder.

Parei por um momento, então disse: 

— Os magos deste país não têm dificuldades para voar?

Ela inclinou a cabeça, confusa. 

— Dificuldade para voar…? Não, na verdade não.

— Mesmo com aquilo? — Apontei para as cordas amarradas entre os edifícios altos e as roupas penduradas nelas.

Seu olhar seguiu meu dedo, e ela soltou um som de compreensão. 

— Ah… Elas foram colocadas de propósito.

— De propósito?

— Sim. Este país tem muitos magos, certo? É por isso que criamos alguns obstáculos para quem fica voando por aí.

— …? — Fiquei sem saber o que dizer.

— Minha nossa. Essa explicação não foi boa?

— Sim, se você pudesse me explicar a lógica…

Ela colocou o livro de lado. 

— Quanto mais você se afasta do solo em sua vassoura, mais exaustivo se torna o voo, certo? Portanto, todos desejam voar o mais baixo possível.

— Certo — concordei.

— Mas se todos ficassem voando baixo, as ruas ficariam congestionadas. E alguém poderia acabar até batendo em uma casa ao tentar evitar um acidente com outra pessoa. Quando existem tantos magos assim, esse risco acaba se tornando real.

Ah, entendi. 

— Então, para evitar que as pessoas voem entre as casas, vocês colocaram cordas e roupas para bloquear o caminho?

Ela disse com um sorriso: 

— Exatamente. Neste país, acreditamos que os magos devem ter consideração por aqueles que não podem usar magia.

— E nenhum dos magos vê problema nisso…?

— Você não consegue dizer isso só olhando como as coisas estão?

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Puxei minha vassoura e voei para o céu. Eu não ia a nenhum lugar em particular. Só queria ver o lugar lá de cima.

— Uau… — A visão do ar era totalmente diferente da visão do solo. Os telhados multicoloridos estavam alinhados mais ou menos na mesma altura e em um padrão de vermelho e azul, aqua e amarelo. O vento que soprava por mim era agradável, e pensei em como seria bom me deitar em um daqueles telhados e olhar para o céu.

Seria uma boa ideia procurar a pousada em que vou ficar enquanto estou aqui em cima.

Voei sem rumo, cumprimentando os magos pelos quais passava e acenando de volta para as crianças que balançavam as mãos para mim do interior dos carrinhos.

Eu estava passando o tempo de maneira bastante agradável até que um pensamento me ocorreu. Isso me lembra, em um dos países que visitei antes, uma garota não bateu de repente em mim enquanto eu estava voando pelo ar? O que será que ela anda fazendo? Talvez tenha voltado para a sua cidade natal e esteja treinando para ser uma bruxa.

— …

Parei minha vassoura no ar, puxando o cabo com força. Fiquei sentimental ao lembrar de Saya… Não, esse não era o motivo, é claro. Na verdade, as duas pessoas que pararam na minha frente me lembravam dela.

— Um, posso ajudar?

Um garoto e uma garota bloquearam o meu caminho, e pelo visto foi de propósito. Eles estavam usando capas pretas, camisas sociais brancas com gravatas vermelhas e calça ou saia pretas. Nenhum tinha um broche, então eram ambos noviços.

— Bom dia. Você é a Bruxa Cinzenta, eu presumo — disse o garoto.

— Uh, n-nós somos estudantes da Academia Real de Magia — disse a garota.

A Academia Real de Magia. Interessante. São daquela escola em que fui barrada?

— Precisam de alguma coisa?

— Um… Podemos pedir para que venha conosco e não faça perguntas? — A garota falava de um jeito muito tímido enquanto fazia um pedido bem ousado.

Isso é tão suspeito quanto parece. 

— Por quê?

— Ah, eu disse para não fazer perguntas…

— Definitivamente não — respondi na mesma hora.

— Hein?! Por que não?! — O garoto ficou surpreso.

— Parece que há algo de errado com isso, então não vou.

Posso ter revelado minha identidade, mas por que de repente tenho que ir com vocês? E ainda por cima sem fazer perguntas? Isso torna tudo ainda mais suspeito, não é? Esquece.

— Um, mas…

— Primeiro, quero saber os seus motivos. Então vou decidir se vou ou não — falei com firmeza para a garota tímida.

— Isso… não posso.

— Bem, então não posso ir com vocês.

O garoto me interrompeu. 

— Ah, vamos lá! Estamos implorando, Bruxa Cinzenta! Venha conosco e, por favor, não pergunte nada!

— Eu já disse… se não me darem um motivo, então não vou. Vocês são persistentes demais.

— …

Eu podia ver que isso não estava levando a lugar nenhum. Se continuássemos com a conversa da mesma forma, ela simplesmente não chegaria a um fim.

Hora de fugir?

É, acho que sim.

Girei minha vassoura abruptamente. 

— Ah, foi mal. Acabei de lembrar que tenho que fazer uma coisa urgente — menti. E então voei para longe daqueles dois.

— Hã…?!

Bem, eu ao menos tentei, mas meu caminho voltou a ser bloqueado por outros magos. Havia vários pares de garotos e garotas vestidos exatamente como aqueles dois.

Ah, o que temos aqui? As coisas estão ficando cada vez mais estranhas. Olhando para a esquerda e para a direita, pude ver alguns pares de alunos com as mesmas roupas se aproximando de mim, um após o outro. De repente, fiquei completamente cercada por um misterioso grupo de cerca de vinte alunos.

— Ei, vocês aí. Vamos atacá-la.

— Sim.

— Se trabalharmos todos juntos podemos pegar ela, eu acho.

— Certo.

— Pode deixar.

— Não fiquem com toda a glória.

— Digo o mesmo.

Os alunos estavam balançando para frente e para trás. Eu não tinha absolutamente nenhuma ideia do que estava acontecendo, mas tinha certeza de uma coisa: se ficasse onde estava, eles me pegariam. E eu não sabia o que poderia acontecer se fosse pega.

— …

Lentamente inclinei minha vassoura para baixo, e então…

— Ey! — Bati nela e saí em uma velocidade explosiva. Segurei meu chapéu pontudo com uma das mãos, para que não voasse enquanto eu disparava pelo céu a todo vapor sobre a cidade.

Em outras palavras, fugi.

Quando olhei para trás, pude ver os estudantes disparando atrás de mim, gritando uma coisa ou outra. E assim começou uma intensa perseguição, por motivos que não entendi direito.

Mas para a surpresa de ninguém, uma bruxa de verdade tinha uma vantagem esmagadora sobre um bando de noviços.

— …

Eles me perseguiram insistentemente, mas eu podia afirmar que estava aos poucos criando alguma distância entre nós. Era só uma questão de tempo para os deixar completamente para trás. Mas mesmo se eu pudesse despistá-los, eles ainda continuariam com uma boa visão panorâmica enquanto ficavam para trás. Não importa para onde eu fugisse, logo voltariam a me localizar.

Bem, o que devo fazer? E que tal isso?

— Certo… — Diminuí minha velocidade, virei para o lado e voei logo abaixo dos telhados. Eu podia ver as cordas amarradas entre as casas, e as roupas penduradas nelas balançavam com a brisa enquanto eu passava voando.

Nessa altura, os telhados dificultavam a visão à distância. Dessa vez, se me perderem de vista, vai ficar bem difícil para me encontrarem de novo.

Quando olhei para trás, ainda havia vários alunos me perseguindo persistentemente. Antes havia cerca de vinte deles, então será que os outros desistiram?

Mas quando voltei a olhar para frente, percebi que não era o caso.

Vários deles estavam tentando me impedir.

— Ah…!

Se separaram e anteciparam os meus movimentos. Estavam em vantagem por conhecer o território. Sem dúvidas.

Virei minha vassoura para a esquerda, disparando por um beco.

Se é assim que vai ser, vamos fugir de verdade!

Voei um pouco adiante e encontrei uma saída.

Contudo…

— Ah, eu a encontrei! — Uma garota apareceu, bloqueando a saída, e estendeu a mão em minha direção.

Mais uma vez previram o meu curso. Mas se eles são tão bons…

— Apenas coopere e deixe-nos pegá-la… Hein?

Assim que a garota chegou a cerca de uma vassoura de distância de mim, pulei no ar. Depois de ter passado pela noviça estupefata, chamei minha vassoura de volta e saí voando.

Foi um movimento de fuga em pleno ar. Além de ser útil contra ataques surpresa, era bem legal, então eu gostava de fazer isso de vez em quando.

Mesmo depois que perdi a garota de vista, meu caminho ainda continuava sendo bloqueado e meus perseguidores estavam se aproximando pela frente e por trás. Pensei que voar baixo iria me esconder, mas sabiam a minha posição exata.

Bem, nesse caso… Desta vez resolvi voar bem alto no céu.

— …

Depois de chegar a uma certa altura, olhei para a cidade. Os alunos perceberam que eu subi e começaram a sair do meio das casas e das estradas para mais uma vez se unirem no meu encalço. Eles estavam diminuindo a velocidade; pensei que estavam ficando cansados.

Continuei esperando lá no alto, até que retomaram a perseguição.

Finalmente, um estudante do sexo masculino voou até chegar bem ao meu lado, gritando: 

— Graaaaaahhh!

Facilmente desviei o curso da minha vassoura e me esquivei dele.

— Aaaaaaaaahhh! — Com um outro grito estranho, ele passou voando por mim.

Como se isso fosse algum tipo de sinal, todos os alunos atacaram de uma vez só, de todas as direções. Eles eram cerca de… bem, depois dos dez fiquei com preguiça de continuar contando. Todos aqueles que tinham me cercado na primeira vez continuavam lá, pelo visto.

Pareciam ter perdido a capacidade de falar, pois tudo o que saía de suas bocas era, na maioria das vezes, gritos estranhos.

— Gaaahhh!

— Nyaaahhh!

— Oraaahhh!

— Hyaaahhh!

— Shraaahhh!

— Drogyaaaaa!

E assim por diante.

Continuei calmamente fugindo dos meus perseguidores – esquerda, direita, para cima, para baixo e, às vezes, em círculos, esquivando, esquivando e esquivando.

Eles não tinham começado a me atacar ainda, então eu também não puxei minha varinha e dediquei minha energia para simplesmente manter minha vassoura longe deles.

— Gyaaahhh!

— Ahhhhhh…

— Ah…

— O qu…?

— Hah…

— Eeeeeek…

— N-nada bom…

Eu nem lembro por quanto tempo continuamos fazendo aquilo. Antes que eu percebesse, os alunos estavam voando lentamente e, no fim, pararam de me perseguir.

Parece que já basta.

Estavam todos voando juntos, em um grupinho.

— I-impossível… — ofegou alguém entre eles.

— E-eu vou morrer… — Outra pessoa estava branca feito papel.

— Exatamente qual é o objetivo de vocês? — Demandei uma resposta. — Que negócios vocês têm comigo?

Mas não houve resposta, só respirações ofegantes.

— Agora já devem ter entendido que não vão conseguir me pegar, mesmo se acabarem se unindo contra mim. Desistam — esclareci, mas não fiquei surpresa quando ninguém me respondeu. Incomodada, continuei: — Bem, então, quem diabos…? — Pediu para fazerem isso? Engoli as palavras que estavam prestes a sair da minha boca.

Não consegui nem falar.

Uma bruxa havia aparecido.

Um dos alunos seguiu meu olhar e murmurou: 

— Ah, é a Senhorita… — Assim que ouviram isso, os outros correram para endireitar os uniformes e arrumar os cabelos.

A mulher puxou sua vassoura para perto dos alunos sem fôlego, com um sorriso verdadeiramente radiante, e disse: 

— Pessoal, bom trabalho. O que acharam? Vocês deram tudo de si para pegar a bruxa, mas não tiveram a menor chance, não foi? Esta é a diferença de habilidade entre uma bruxa e um estudante. Isso não tem nada a ver com sorte. Isso é porque a Bruxa Cinzenta tem um genuíno e incomparável poder.

Ela tinha cabelos pretos como a meia-noite, um robe e um chapéu pontudo no mesmo tom, e um broche em forma de estrela no peito. A bruxa sorriu para mim, exatamente o mesmo sorriso que me mostrou há três anos.

Ela era a professora deles.

— Já faz um tempo, Elaina.

Senhorita Fran.

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— Sinto muito, Elaina. Vou te explicar tudo. Mas, primeiro, poderia vir conosco para a Academia? — A Senhorita Fran pediu desculpas enquanto conduzia a mim e aos alunos para a Academia Real de Magia. Não havia como recusar seu pedido. Afinal, eu tinha tantas coisas que queria dizer.O aglomerado de vinte jovens magos voando juntos deve ter parecido um bando de pássaros migratórios.Olhei fixamente para as costas da Senhorita Fran, pensando comigo mesma: Ela realmente não mudou nada desde aquele tempo, hein? Refleti. Quantos anos será que ela já tem?

Antes que eu percebesse, chegamos à Academia.

Pousando sua vassoura no terreno da escola, a Senhorita Fran disse: 

— Gente, isso conclui as atividades extracurriculares de hoje. Bom trabalho. Preparem-se para dar o seu melhor amanhã.

Depois de responder com um som vazio de “Sim, senhora e “Obrigado”, os alunos se dispersaram. Eles estavam claramente exaustos; alguns até cambalearam no ar, enquanto outros desistiram de voar e voltaram para casa andando.

Ao vê-los partir, a Senhorita Fran sorriu. 

— Ora, ora. Acha que fomos muito duras com eles, Elaina?

— E isso é culpa minha?

— E minha.

— Então agora você está ensinando nesta escola, Senhorita Fran…?

— Sim. Pouco antes de eu ser convidada para te treinar, o rei me convidou para vir para cá.

— … — Eu nunca tinha ouvido falar disso. — Quer dizer que você ficou fora da escola por um ano inteiro? Então teve sorte por não ser demitida.

— Sim. Bem, normalmente não sou responsável por nenhuma classe, sabe. Minha especialidade é orientar outros professores, e às vezes dou aulas extracurriculares para os interessados, como você viu hoje. Além disso — a Senhorita Fran olhou para mim —, os outros professores foram muito compreensivos quando eu disse que estava ensinando magia para você — acrescentou.

O que isso quer dizer?

— Me ensinando?

— Sim. Se fosse outro aluno, então provavelmente teria perdido o emprego.

— Não pensei que eu fosse tão importante.

— Imagino — disse ela, sorrindo como sempre. E então acrescentou: — Bem, entre. Há muito que quero discutir com você. — Ela apontou para o prédio da escola atrás de nós.

E eu sentia a mesma coisa.

O interior do prédio da escola era muito simples.

Mesas e cadeiras estavam organizadamente dispostas em uma sala de aula quadrada com um grande quadro negro na frente. Nem uma única decoração adornava as paredes.

Salas de aula semelhantes estavam alinhadas ao longo de um lado do corredor. Em frente a elas, havia janelas que davam para o amplo terreno da escola.

— Originalmente, esta escola era um lugar para ensinar matérias comuns — disse ela. — Mas quando construíram uma nova, esta se tornou desnecessária. Fizemos com que nos permitissem usá-la como uma escola para ensinar magia, assim como assuntos mais mundanos.

— Então, os alunos que estavam tentando me pegar… eles estudam aqui, certo?

Ela balançou a cabeça. 

— Sim. Como parte do meu curso extracurricular, os instruí a te trazer até mim sem dizer o porquê ou arrastá-la até aqui à força.

— Por quê…?

— Você não consegue descobrir por conta própria?

— Não sei.

Ela ficou em silêncio por um momento. Então colocou a mão no meu ombro.

— Porque eu queria ver você — disse em uma voz muito baixa, quase um sussurro.

— …

Emoções complicadas se mesclaram dentro de mim. Esta mulher é astuta, pensei. Ela sabe que não posso ficar com raiva se ela disser algo assim. Em vez disso, mudei de assunto.

— Como você sabia que eu tinha vindo para esta cidade?

— Porque você tentou entrar na escola sem permissão.

— Ah…

Dava para ver o enorme portão pela janela. É claro. Eu fui parada por aquele guarda corpulento. A Senhorita Fran seguiu meu olhar e balançou a cabeça. 

— Isso mesmo. Assim que cheguei na escola, o guarda já me informou. Ele disse: “Uma jovem bruxa com cabelos cinzentos estava tentando entrar. Acho que ela pode ser uma espiã de outro país.”

— Uma espiã… — Ele realmente tirou conclusões precipitadas, hein…?

— Quando ele te descreveu, pensei: “Ah, deve ser a Elaina.” Fui direto até o guarda no portão da cidade e confirmei que você realmente tinha vindo para cá.

Chegamos ao final do corredor. A Senhorita Fran virou e subiu as escadas, e eu a segui.

— Seu nome estava nos registros de imigração. Você chegou esta manhã, não é?

— Sim. —  Balancei a cabeça.

— “Minha aprendiz veio me visitar”, pensei, e então não consegui mais me conter. Decidi te procurar… usando os meus alunos.

— …

— Quando voltei para a escola, cheguei bem a tempo para a aula extra que ministro com meus alunos de melhor desempenho. Então passei uma tarefa para eles.

Terminamos de subir as escadas e uma única porta apareceu diante de nós. A Senhorita Fran colocou a mão na maçaneta e a abriu com um rangido alto e desagradável. Parecia que a porta estava precisando de reparos.

— “Há uma garota neste país chamada Bruxa Cinzenta”, falei para eles. “Tragam-na até aqui sem contar os motivos para ela.” Se tivessem, por algum milagre, conseguido fazer isso, eu ia dar um ponto extra para eles.

— Por que você fez essa abordagem indireta…? — Poderia ter me procurado de um jeito normal.

A Senhorita Fran bufou. 

— Você não acha que seria quase impossível eu te achar, sozinha, neste país enorme? — Ela se encostou na porta. — Bem, vá em frente. — E me incitou.

Passei por ela e entrei. Lá, havia uma sala que parecia uma combinação de escritório e recepção. Bem no meio do cômodo havia um par de sofás na frente de uma mesinha, e uma mesa com uma enorme pilha de papéis e livros encostada na parede oposta.

Ouvi outro rangido ensurdecedor quando a porta se fechou atrás de mim.

— Algo de errado? Sente-se. — A Senhorita Fran passou por mim e se sentou em um dos sofás.

— Ah, tudo bem. — Sentei-me no outro, de frente para minha ex-professora. O sofá era macio e fofo.

— Eu sabia que você tinha se tornado uma viajante, mas fiquei realmente surpresa ao descobrir que você tinha vindo para este país, sabe?

…? Hein?

— Você já sabia?

— Sim. Sabia.

— Acho que nunca falei sobre minhas viagens para você, Senhorita Fran.

Afinal, já faz tanto tempo desde que a vi. As únicas pessoas que sabiam de minha jornada viviam no País Pacífico de Robetta, assim como meus pais. A Senhorita Fran saber disso era bem estranho.

Minha ex-professora devia ter percebido que fiquei confusa. 

— Elaina, ainda se lembra do que eu disse quando você terminou seu treinamento?

“Adeus, Elaina. Algum dia a gente vai se ver de novo. Por favor, aguarde por isso e espere por mim.” Quero dizer, sim, ela disse isso, mas

A Senhorita Fran revelou um sorriso travesso. 

— Eu tinha alguns negócios por lá, então, um ano após o seu treinamento, voltei a Robetta. Enquanto estive lá, sua mãe me disse que você tinha começado a viajar.

— Você viu a minha mãe?

— Sim. Ela estava muito preocupada com você. Se você passar perto de sua casa, não deixe de a visitar.

— Estou planejando fazer isso.

Mas estou bem longe, então suspeito que vai demorar um pouco para voltar a vê-la.

— Isso é bom. — Depois de uma pausa, a Senhorita Fran perguntou: — Parando para pensar nisso… Elaina, por que você decidiu se tornar uma viajante? Foi por influência da sua mãe?

…? Como minha mãe virou um tópico dessa conversa? Inclinei a cabeça, confusa.

— Uh, não foi… Quando eu era pequena, li uma série de livros chamada As Aventuras de Nique. E foi isso que me influenciou.

— Minha nossa… — A Senhorita Fran inclinou um pouco as sobrancelhas. — Hmm… Entendo. — Ela parecia estar refletindo a respeito dessa informação. Foi uma reação estranha.

— Um, o que foi?

Ela balançou a cabeça quando perguntei. 

— Nada, não foi nada. As Aventuras de Nique, não é? Você tem bom gosto. Também gosto daqueles livros.

— Oh-ho-ho… Já li eles tantas vezes que consigo recitar todas as histórias de cada um dos cinco volumes de cabeça — falei, me gabando.

— Ora, ora. Nesse caso, qual é a sua história favorita? Gostei bastante da última: “Fuura, a Bruxa Noviça”.

— …! Essa também é a minha favorita!

Se bem me lembro… nessa história, a bruxa Nique visita um certo país, pega uma aprendiz, uma garota chamada Fuura, e a ajuda a treinar até que vire uma bruxa. No final da história, Nique abandona a vida de bruxa e passa a viver no campo como uma mulher normal. Então Fuura se torna uma bruxa e começa uma nova série de viagens.

— A propósito, eu e Fuura somos bem parecidas. — A Senhorita Fran disse algo estranho.

— O que quer dizer com isso?

— Vejamos… o que estou dizendo? — Ela riu. — As Aventuras de Nique é uma obra famosa. Até neste país aqui ela é muito famosa.

— Mas é uma história muito antiga, não é?

— Bons livros envelhecem bem.

— Suponho que seja verdade… — Nada poderia dar mais felicidade aos fãs de longa data.

Se eu quisesse, provavelmente poderia passar parte de minhas viagens passeando por aí enquanto contava As Aventuras de Nique para os outros… Mas minhas restrições de orçamento provavelmente acabariam causando algum contratempo.

— De qualquer forma… — A Senhorita Fran interrompeu meus pensamentos. — Quando você planeja partir, Elaina?

— Estava pensando em ir embora depois de amanhã…

— Depois de amanhã?

— Sim.

Não posso ficar por muito tempo. Especialmente porque a Senhorita Fran está aqui.

— Quais são seus planos para amanhã? Precisa fazer alguma coisa?

— Amanhã? Na verdade, não…

— Então você está livre? — perguntou ela, entusiasmada.

O que está acontecendo?

Ainda um pouco confusa, respondi: 

— Bem, estou livre… mas… — Não era como se eu não tivesse nada para fazer, mas meus planos se baseavam em passeios turísticos. Eu, tecnicamente, tinha tempo.

— Isso é ótimo! — A Senhorita Fran sorriu.

— O quê?

— Quero que você me ajude com algo amanhã.

— Ah. Claro, não me importo com isso… O que posso fazer?

— Quero que me ajude a ensinar.

— …

Isso é um pouco suspeito…

— Quero que me ajude a ensinar.

Por que ela disse isso duas vezes?

Muito suspeito…

Depois disso, conversamos sobre todos os tipos de coisas. Fiquei tão envolvida na conversa que esqueci completamente da hora. Conversamos sobre todas as pessoas que conheci em minhas viagens, contei-lhe sobre os lugares que havia visitado e ela me falou sobre gente de outros lugares, cujos nomes eu não sabia. A conversa não parou por nenhum momento.

Gostaria que o tempo parasse, mas ele sempre voa quando estamos nos divertindo. Antes que eu percebesse, já estava escuro lá do lado de fora.

— Minha nossa, já está tão tarde. Por hoje vamos parar por aqui e ir para casa?

Mas eu ainda queria conversar mais.

Quando saímos do prédio da escola, a Senhorita Fran me convidou para ficar em sua casa, mas recusei. Quanto mais ela cuidasse de mim, mais difícil seria voltar para minhas viagens. A separação seria muito mais dolorosa.

No meio da escuridão, saí procurando por uma pousada. Durante minha busca, a janela de uma casa chamou minha atenção. Iluminada pelo luar, a janela projetava um reflexo claro, assim como um espelho.

Eu estava positivamente radiante.

 

***

 

E a manhã chegou.

Depois de acordar na pousada que encontrei após uma longa busca na noite anterior, logo coloquei minhas roupas de bruxa e saí.

Do lado de fora, montei em minha vassoura e decolei para o céu, rumo à Academia Real de Magia. Continuei voando, trocando saudações simples com os rapazes que voavam por aí jogando jornais nas casas durante toda a manhã, bem como com os pares de mensageiros que substituíam cavalos e carroças. Eu ainda estava com um pouco de sono, mas a brisa fria do início da manhã garantiu que acabasse ficando bem acordada.

Com a grande torre como meu marco, consegui chegar ao meu destino rapidamente, sem me perder. Do meu ponto de vista panorâmico, pude ver um monte de pessoas ao redor do campus. Eram os estudantes.

Havia cerca de vinte deles, o mesmo número de pessoas que havia me perseguido na tarde anterior. E a Senhorita Fran estava entre elas.

Fui até o seu lado montada em minha vassoura e lá fiquei. Podia até sentir o chão sólido sob os pés.

— Ah, bom dia. Você está bem adiantada. Não acredito que nem te falei um horário específico. — A Senhorita Fran sorriu para mim.

— É por isso que vim bem cedo.

— Minha nossa. Você não está chateada comigo, está?

— Ah, não. Só quero que me elogie.

— Excelente. Bom trabalho.

— Obrigada.

— Bem, nesse caso, parece que podemos começar antes do planejado.

E então ela bateu palmas duas vezes. Clap, clap.

Quando fez isso, os alunos rapidamente pararam seus exercícios e se reuniram. Na verdade, talvez fosse melhor dizer que correram tão rápido quanto conseguiram. Também vi alguns se apressando para jogar fora a água que estavam usando para praticar.

Voltando-se para os alunos reunidos, a Senhorita Fran me apresentou. 

— Pessoal, esta é a Elaina, a Bruxa Cinzenta. Vocês a conheceram ontem, então já sabem disso, certo?

Me apressei para fazer uma reverência. 

— Ah, olá.

— Hoje eu gostaria que ela conduzisse um seminário especial. Ela pode não ser muito mais velha que vocês, alunos, mas é uma bruxa esplêndida. Não a subestimem. — Então, depois que todos os alunos concordaram várias vezes com a cabeça, a Senhorita Fran perguntou: — Vocês têm alguma pergunta para ela?

Um jovem aparentemente inteligente e eloquente levantou a mão na mesma hora.

— Eu, euuu! Você tem um namorado? Tem?

Oops, erro meu. Era um garoto rude e com cara de estúpido. 

— Não tenho. Afinal, sou uma viajante.

— Apenas questões relacionadas à magia. — A Senhorita Fran o interrompeu categoricamente. — Alguém?

A próxima aluna a levantar a mão foi uma garota aparentemente tímida. Até achei que ela era aquela que me abordou no dia anterior. Ela olhou para mim, toda nervosa, e perguntou: 

— Um… Que tipo de magia é a sua especialidade…?

Fiquei aliviada por ser uma pergunta normal. 

— Não tenho nenhuma especialidade, na verdade. Posso lançar feitiços de ataque, de manipulação e de transformação de todos os tipos.

— Mais alguma pergunta?

Alguém levantou a mão. 

— De todos os lugares que você visitou até agora, de qual mais gostou?

— Este.

— Minha nossa. Esse é o cheiro de bajulação? — A Senhorita Fran entrou no meio da conversa.

Mais mãos se levantaram, uma após a outra. Parecia até que não ia acabar nunca.

— O que fez você querer se tornar uma bruxa?

— Li um livro chamado As Aventuras de Nique… Bem, esse é o meu motivo principal.

— De que país você é, Elaina?

— Do País Pacífico de Robetta… Fica muito, muito longe.

— Me conte o segredo para fazer magia!

— Tudo depende de trabalho duro.

— É divertido ser uma viajante?

— Sim. Bem divertido.

— Eu, euuu! Como é a sua roupa de baixo? De que cor é a sua…?

A Senhorita Fran beliscou o garoto rude e com cara de estúpido até deixá-lo quase morto e, assim que isso foi feito, o período de perguntas e respostas chegou ao fim.

A aula extracurricular da manhã transcorreu sem incidentes.

No entanto, como eu estava completamente inseguro sobre a melhor forma de instruir os alunos, convenci a Senhorita Fran a me deixar observar por um tempo, de longe, e ver como ela os ensinava.

— Minha nossa. O fluxo de sua magia está totalmente fora de sintonia. Trabalhe para acalmar sua mente e estabilizar sua energia.

— Você está soltando muita energia mágica. Segure-se um pouco mais.

— Ei! Não transforme a água em espadas. Pare com essa brincadeira.

Desse jeito, ela foi caminhando entre os alunos, fazendo as indicações adequadas por onde passava…

Hmm, hmm, entendo. Então tá bom, vou tentar imitá-la. Vaguei vagarosamente entre os alunos.

Eles pareciam estar no meio de uma série de exercícios para lidar com a magia. Como antes, estavam fazendo a água se mexer dentro dos vasos. Era um exercício básico, mas o primeiro passo para alcançar um alto nível de habilidade em magia era ser capaz de mover as coisas da maneira desejada.

Eu estava andando casualmente quando um estudante perguntou: 

— Uh, Senhorita Elaina? Minha bola de água não fica lisa. O que devo fazer? — A água na ponta de sua varinha estava realmente flutuando no ar, mas borbulhava como se estivesse fervendo.

Entendo, entendo.

— Você está colocando muita energia nisso. Relaxe um pouco.

— Certo!

Na mesma hora, uma poça d’água se formou aos pés do garoto, fazendo um splash.

— Acabei perdendo o controle…

— Você relaxou demais.

Que pena, pensei, olhando para ele. O garoto parecia muito desapontado.

Atrás de mim, ouvi uma voz baixa e sem confiança. 

— Uh, um…

Quando me virei, lá estava a garota tímida.

— O que foi? — Inclinei a minha cabeça.

— Um, sim… Um, há algo que eu gostaria que você me ensinasse…

— É claro. O que é?

Após uma breve pausa, ela respondeu, olhando para o chão. 

— Um, não importa o que eu faça, realmente não consigo controlar a água… Mal consigo mantê-la no ar… O que devo fazer?

Uhum.

— Deixe-me ver a sua tentativa.

— Hã? Um, tá bom…

Ela agarrou sua varinha com as duas mãos, encarou o vaso cheio de água e projetou sua energia mágica. O vaso começou a se mover cerca de dez segundos depois.

Primeiro o vaso todo deixou o chão, então, como se ela tivesse lembrado qual era a sua intenção, a água começou a sair do recipiente. Então, quando ficou na altura do rosto da garota, a esfera de água imediatamente caiu de volta no chão.

— Minha nossa.

— O que devo fazer…? — Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela parecia estar levando a situação muito a sério.

— Parece que você ainda não pegou o jeito. Acho que, no início, você deveria passar mais tempo praticando como tirar a água do vaso.

— C-certo…

— Depois de tirar a água do vaso, coloque-a de volta na mesma hora e volte a tirá-la. Conforme você for praticando, acho que vai começar a se acostumar. Não apresse as coisas e encontre sua própria maneira de trabalhar. Esse é o caminho mais curto para o sucesso. Faça o seu melhor, viu?

— S-sim, senhora…!

Esse foi o melhor conselho que pude dar. Depois de vê-la correr para pegar mais água, voltei a andar. Ao fazer isso, ouvi uma voz me chamar por trás.

— Oh, ohhh! Olhe para mim, Senhorita Elaina! Não é legal? — Aquele garoto rude e com cara de estúpido estava usando uma coroa que havia feito de água. O ignorei.

Os alunos estavam muito entusiasmados (todos, exceto um) e vieram até mim para pedir meus conselhos. É claro, tínhamos idades parecidas, e isso podia ter tornado mais fácil para que me fizessem perguntas.

Isso não era ruim.

Os exercícios continuaram até que a Senhorita Fran voltou a bater palmas duas vezes.

Assim que a aula extracurricular da manhã terminou, o trabalho dela naquele dia também foi encerrado, pelo visto.

Com base no que havia acontecido no dia anterior, eu pensaria que ela também tinha uma aula extracurricular à noite, mas de acordo com a Senhorita Fran: 

— Se temos de manhã, não temos à noite. E se não tiver de manhã, então tem de noite. É, basicamente, uma aula extracurricular por dia.

— Por que você só faz isso uma vez? — perguntei.

Ela respondeu: 

— Isso é exaustivo, é claro.

— Você se preocupa que fazer isso duas vezes por dia possa exaurir os alunos? — Entendo, entendo.

— Não, não fazemos mais de uma vez porque eu vou ficar cansada.

— …

Eu não tinha nem a palavra certa para expressar o que estava sentindo.

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Depois que a aula extracurricular acabou, segui a Senhorita Fran para fora do prédio da escola. Voamos sem pressa pelo céu, em direção a um terreno mais elevado. Ela, eventualmente, pousou sua vassoura.Fiz o mesmo, e a grama baixinha balançou suavemente. O verde-claro de uma ampla campina se estendia ao nosso redor, desenhando um arco suave pelo céu. Do outro lado de uma cerca de madeira simples ficava a cidade e suas casas multicoloridas. As árvores perto de nós tremulavam com o vento, enviando folhas flutuando pelo ar. Além das árvores, ficava o prédio da escola com sua torre enorme, que eu estava usando como um marco local. Havia nuvens flutuando no céu azul-claro, todas fofas e brancas.— Não é lindo? Este é um lugar muito valoroso para o meu coração — disse a Senhorita Fran.

— Sim, posso ver por quê.

— Fico feliz que tenha gostado daqui. — O cabelo preto dela esvoaçava suavemente com a brisa que batia. Com um sorriso, a Senhorita Fran disse: — Eu queria que você visse isso ao menos uma vez antes de deixar o país. Adoro essa vista.

Seu sorriso era contagiante e eu senti os cantos da minha boca puxando para cima. 

— Obrigada.

— De nada. Então você estará partindo amanhã cedo?

— Sim. Não posso ficar por muito tempo.

— Que pena… Meus alunos parecem ter realmente gostado de você.

— Isso é só porque não estão acostumados a ver uma jovem bruxa. — Então nem preciso mencionar uma jovem viajante. 

— Mesmo assim, é maravilhoso que tenham gostado de você. Eles muitas vezes parecem me evitar.

— …

Eles não a evitam; você simplesmente não entende a sensação de distância que sua natureza elusiva cria. Mas não vou falar isso. Não posso falar.

— O que foi?

— Não, nada…

Como se quisesse escapar do olhar da Senhorita Fran, virei meus olhos para a escola lá longe. 

— De qualquer forma, você está ensinando magia na Academia, certo?

— Sim.

— O que os alunos fazem quando se formam?

— Normalmente trabalham aqui no país. Entregando pacotes ou transportando as pessoas por aí, por exemplo. Se você deu algum passeio por aqui, deve ter visto alguns magos voando acima dos telhados, sim?

Entendo.

— As pessoas que estavam fazendo demonstrações de magia também eram graduadas da Academia? — Lembrei-me dos shows de rua, com pessoas cantando e usando magia para operar fantoches e criar efeitos especiais. Me perguntei se todos os magos que eu tinha visto na cidade tinham de fato estudado na Academia Real de Magia.

A Senhorita Fran acenou com a cabeça. 

— Sim, bem, aquelas pessoas estão se divertindo com seus hobbies. Esses, na verdade, não são empregos de verdade.

Hobbies, hein…? Mas eles ganham algum dinheiro com isso, certo?

— Bem, suponho que sim, mas tenho minhas dúvidas. Aquelas pessoas não fazem magia porque querem dinheiro.

— Então, por quê?

— É porque amam isso — disse ela categoricamente. — Você está viajando porque ama, certo, Elaina? É a mesma coisa. Estão fazendo essas coisas porque gostam de fazer as pessoas felizes.

— …

Não pelo dinheiro, mas sim por eles mesmos ou pelos outros. Só porque gostam disso.

Desde que cruzei a fronteira deste país, o pensamento de que este era um lugar maravilhoso passou pela minha cabeça mais do que algumas vezes. A paisagem urbana era adorável e tudo era exuberante. As pessoas passavam o dia todo com sorrisos nos rostos. Meu coração dava uma guinada sempre que eu via aqueles moradores locais felizes. Talvez porque meu tempo no país da Celestelia Real tenha, de alguma forma, refletido as minhas próprias viagens.

— Parando para pensar nisso, o que é que você ama, Elaina? — perguntou de repente a Senhorita Fran.

— Viajar, é claro — respondi.

— Além disso.

— …

Além de viajar, o quê? Bem, acho que aquela primeira coisa que inspirou a minha jornada.

— Livros, eu acho.

— Livros… — A Senhorita Fran ficou em silêncio por um breve momento, depois perguntou novamente: — E além dos livros? — Ela foi tão franca quanto sempre.

— Um, o que é isso? Por que quer saber?

— Ah, só estou um pouquinho curiosa.

— Você vai me dar um presente de despedida ou coisa do tipo? — perguntei em tom de brincadeira.

— Bem, sim — concordou ela na mesma hora, me colocando em uma posição difícil.

Ah, não. O que é que eu fiz?

— Uh, não, tudo bem, eu não preciso de um presente de despedida… Só seus desejos de boa sorte já me bastam.

— Ora, ora, não diga isso. Me diga, do que você gosta? Será que gosta de flores ou coisa do tipo?

— Você já está me guiando a uma resposta.

— O que acha disso? Flores. Ah, e borboletas, isso seria bom.

— Essas são as coisas que você gosta, Senhorita Fran.

— Eu gosto delas, então minha aprendiz deve gostar delas também, certo?

— Sua lógica não faz sentido.

— Você não gosta de borboletas?

— Elas são boas.

— Entendo. Então você só as acha boas.

— Eu não as odeio, mas também não amo.

— E que tal flores?

— E agora voltamos para as flores.

— E então? Que tal elas?

— Bem, eu gosto delas…

— Ótimo.

— O que é ótimo?

— Isso é só para eu saber — disse a Senhorita Fran com seu sorriso de sempre. Apesar de me fazer todos os tipos de perguntas aleatórias, ela não respondeu nenhuma das minhas.

Mesmo depois de vivermos juntas por um ano inteiro, mesmo depois de nos encontrarmos novamente depois de todo esse tempo, ela continuava a mesma Senhorita Fran. Eu ainda não conseguia dizer que tipo de pessoa ela era. Mas também não tinha certeza se ao menos ela sabia. E já estava acostumada com isso.

— O que foi? Está planejando algo grande? — Eu sabia exatamente o que ela ia dizer, mas mesmo assim perguntei.

E a Senhorita Fran respondeu exatamente como o esperado, revelando um sorriso malicioso. 

— Estou ansiosa para amanhã.

Deixe-me ver, como devo explicar isso…

— Amanhã de manhã vou deixar este país, então…

— Sim, e estou ansiosa para te ver antes da sua partida. Amanhã de manhã vamos nos encontrar em frente ao portão.

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O tempo passou e a manhã chegou.Caminhando vagarosamente pela rua principal da cidade, fui até o portão pelo mesmo caminho que havia seguido no dia anterior. Andei pela rua comercial, olhando para todos os magos voando pelo ar. Passei por baixo das cordas amarradas entre os prédios como se fossem vários arcos. Eu podia sentir o cheiro doce de flores desabrochando em algum lugar.Continuei andando – realmente não queria ir embora.

— …

Logo cheguei ao portão.

O guarda curvou-se assim que me notou. Também curvei minha cabeça, com um pouco de atraso, claro.

Se continuasse um pouco mais, deixaria o país. No entanto, olhando ao redor, não consegui ver a Senhorita Fran em lugar nenhum.

Não especificamos um horário, então ela provavelmente ainda não chegou…

— …

Deve ser melhor sair sem dizer nada. Não sei o que ela ia me dar, mas, pelo que me disse, provavelmente planejava me dar flores. Mas mesmo se eu as aceitasse, não passariam de um fardo.

Elas eventualmente apodreceriam, e então teria que me livrar delas, logo, não existe uma razão para as aceitar. Além disso, se eu voltasse a ver aquele tipo de flor em outro lugar, provavelmente começaria a pensar na Senhorita Fran e neste lugar.

E isso não seria bom para uma viajante. Isso só me deixaria triste.

— …

Se eu partir logo, poderei seguir adiante sem levar nenhuma lembrança dolorosa. Então é melhor ir…

— Hein…? — De repente parei.

Pétalas de flores dançavam enquanto caíam do céu. Vermelhas, azuis, amarelas, rosas, roxas e de todas as cores que se pode imaginar, caindo como flocos de neve. Um doce aroma flutuou pela brisa enquanto caíam.

Todo mundo sabe que algo assim não acontece naturalmente. E quando olhei para cima, lá estava ela.

— Você chegou aqui muito cedo, Elaina. Quase não terminamos nossos preparativos a tempo.

Nossa.

A Senhorita Fran estava acenando para mim, e seus alunos voavam ao seu redor, deixando cair pétalas de flores das cestas que seguravam nas mãos. Estavam todos sorridentes.

— Elaina — disse a Senhorita Fran de cima de sua vassoura —, você escolheu a vida de uma viajante para si mesma, então eu não tenho o direito de retê-la. Isso é tudo que posso fazer.

— Senhorita Fran…

— Isso te deixou feliz?

Eu respondi, respirando fundo e de forma decisiva:

— Sim, um tantão.

Comecei a andar e atravessei o arco-íris de pétalas de flores girando ao meu redor.

— Elaina — chamou novamente a Senhorita Fran. — Enquanto você viajar, meus alunos e eu estaremos torcendo por você, de todo o coração. Nunca se esqueça disso.

Olhei para o céu e respondi: 

— Nunca vou esquecer!

E, finalmente, cheguei bem na frente do portão.

Depois de se curvar, o guarda abriu caminho.

As planícies suavemente inclinadas se estendiam além da muralha.

— Elaina — falou pela última vez a Senhorita Fran, permanecendo no ar —, vamos nos encontrar novamente algum dia. Até então, viaje em segurança. — Claro, como sempre, ela estava sorrindo.

E eu sorri de volta.

— Certo…!

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Uma vassoura disparou sobre as planícies.As flores cintilavam à luz do sol brilhante, balançando na brisa sob um céu azul-claro e infinito.Andando na vassoura estava uma bruxa – uma viajante. Ela ainda era muito jovem – no final da adolescência, para ser mais precisa. Seu cabelo cinza ondulava atrás dela, e seus olhos lápis-lazúlis estavam focados no horizonte que dividia a vasta planície e o enorme céu azul. Usando um chapéu pontudo e um robe preto, bem como um broche em forma de estrela, ela voou, espalhando pétalas de flores por onde passava.

Ela virou sua vassoura na direção de partes do mundo que ainda não tinha visto. Que tipo de país visitaria em seguida? Que tipo de pessoa acabaria conhecendo? Talvez fosse um país cheio de magos, ou um onde tudo era caro, ou até mesmo um país em ruínas.

Ponderando sobre essas coisas, a viajante continuou voando.

Aquela viajante… quem no mundo poderia ser?

Isso aí. Euzinha.

 


 

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