Um turbilhão que tu fizeste…
Você é surpreendentemente opinativo sobre isso. — Garovel disse.
Des… desculpa.
Não, está tudo bem. Eu entendo. Mas aquelas pessoas do clube ainda parecem idiotas para mim. E fazer sexo na sala do clube foi uma coisa idiota de se fazer para começo de conversa.
Eles não são idiotas. — Hector disse. Eles só são… super protetores uns com os outros. Muitas crianças naquele clube tem uma vida complicada em casa. Então, eles dependem muito uns dos outros. E as duas pessoas que foram expulsas por minha causa… pelo que eu ouvi, um… eles estavam transando na escola porque suas famílias não queriam que eles se vissem em qualquer outro lugar.
Você descobriu isso tudo só escutando coisas por aí?
Si… sim. Quero dizer, eu consegui mais ou menos… inferir algumas coisas, mas sim.
Hmm. Bom. Sinto que você não conseguiu fazer amizade com eles. Mas se você tivesse, então você e eu provavelmente não teríamos nos conhecido.
Hector pausou por um momento. Quem me dera
Essa foi covardia, seu bosta.
Entre escola, trabalho com metais, ser ensinado, meditação e espancando criminosos, os dias seguintes foram uma confusão só. A escola tendia a levar o pior de tudo, já que Hector apareceria nas aulas de manhã e, então, usaria suas notas médicas para faltar o resto das suas aulas. Depois dos eventos em Sescoria, ele tinha quase esquecido da caixa de desculpas que sua mãe lhe deu, mas agora ele estava bem grato por isso.
Ele também estava aliviado que a primeira aula particular foi com Gregory. Hector não estava certo se conseguiria lidar se Sheryl ou Janine tivessem aparecido. Ter alguém em seu quarto já era assustador, mas esse alguém sendo uma garota era uma noção impossível para ele, e ao perceber isso, ele marcou a segunda sessão numa lanchonete.
Porém, o tempo de Hector com Lance era decididamente o menos estressante. Trabalhar com metal facilitava as coisas, talvez porque Hector se sentia imediatamente mais útil. Ele não poderia só pegar a armadura que eles estavam fazendo juntos, claro, mas havia algo sobre o processo de fazê-la. Ideias apareciam quase que involuntariamente.
Antes mesmo de começar, ele se inspirou nas manoplas de Lance. Replicar elas do zero ainda era impossível para ele, mas Hector percebeu que isso não era necessário. Em vez disso, ele foi até uma loja de ferramentas e comprou um par de luvas finas, justas. Dali, ele criou uma estrutura de ferro para elas. Em vez de simplesmente revestir as coisas, ele começou a materializar múltiplos anéis em cada dedo. Então, ele enchia os espaços, exceto as juntas e, de repente, todos os seus dedos estavam cobertos com ferro, mas ele ainda conseguia mover eles, assim como numa manopla real. Porém, nada mantinha o metal unido, então as peças deslizaram logo depois que ele abaixou suas mãos.
E essa foi a parte mais complicada. Ele teve que formar pequenos espinhos em cada peça, cada um com seus buracos correspondentes, para que eles se entrelaçassem e ficassem no lugar.
Então, só foi questão de cobrir seus antebraços e as costas de suas mãos com metal. As palmas foram mantidas desnudas para que ele ainda conseguisse cerrar seu punho direito, mas naquele ponto, ele olhou para seu trabalho e sorriu. Ele tinha manoplas de verdade. Podiam não ser tão complexas quanto as que Lance fez, mas elas eram provavelmente mais confortáveis graças as luvas. E elas eram funcionais. Na maior parte. Revestir seus antebraços em ferro o impedia de remover as luvas.
Ele aniquilou o ferro e começou de novo. Garovel disse para ele fazer isso como um tipo de prática, para se concentrar e ver quão rápido ele conseguia formar cada peça individual. E era muito mais complicado quando ele se pressionava para ser rápido. Todas as peças se entrelaçando eram obviamente a parte mais agonizante. Mesmo depois de horas de prática, ele ainda precisava de mais de quinze minutos para fazer tudo direitinho.
Porém, as ideias mais valiosas vinham do trabalho em si, ver e experimentar o processo de derreter o metal e fazer moldes para a armadura. Além de simplesmente gostar do trabalho, Hector começou a pensar na criação de seu ferro de forma diferente. Ele tentou tornar isso num processo também. Em vez de meramente visualizar algum ferro tomando forma em sua mente, ele visualizou o pó sendo derretido e, então, sendo moldado e esfriado até tomar a forma desejada.
E até certo ponto, deu certo mesmo. Levava mais tempo para formar algo, mas quando o ferro aparecia em sua mão, era um cubo bem passável. Ele o fez de novo com uma esfera, então uma pirâmide, então um prisma retangular. Garovel fez ele tentar um icosaedro e depois de descobrir o que era isso, Hector lutou por meia hora antes de Garovel começar a rir dele, ao ponto que ele desistiu e ignorou o ceifador.
Experiência prática também parecia ajudar. Hector se esforçou para vencer criminosos usando principalmente seu ferro. Se armas de fogo fizessem parte da equação, ele as transformava em tijolos de ferro primeiro e, então, começava a prender os membros dos atacantes. Se uma vítima ou testemunha estivesse envolvida, Hector as escoltava até a estação policial mais próxima junto com o perpetrator subjugado.
Infelizmente, nem sempre as coisas não davam tão certo. Mais de uma vez, ele acidentalmente quebrou um braço ou uma perna de um criminoso, mesmo quando tudo que eles tinham feito foram alguns furtos. Garovel tentava se focar apenas em assassinos, mas esses não eram tão fáceis de achar, mesmo com a habilidade do ceifador de ver auras da morte.
A maioria dos assassinatos são crimes de paixão no final das contas. — Garovel disse. E, nesses casos, eu não vou ver uma aura da morte perto da vítima até talvez um minuto antes delas morrerem.
Que merda Garovel…
Ei, é o melhor que eu consigo.
Eles gastaram tempo considerável perto da estação policial local. Garovel queria ir buscar informações e, depois de um tempo, eles descobriram uma aparente ressurgência de atividades na família Rofal.
Duvido que eles estejam falando de Geoffrey. — Garovel disse. Ele não parece ser do tipo muito organizado.
Quem você acha que pode ter assumido o comando então?
Não faço ideia. Talvez nós devêssemos dar um seguimento. Eu ouvi alguém mencionar que havia uma suspeita de boca de fumo a alguns quilômetros daqui.
Me diga para onde ir.
Logo, Hector conseguiu mais dez mil troas em notas pequenas. Ele considerou doar isso para um abrigo ou algo do tipo, mas Garovel disse a ele que dinheiro roubado iria atrair atenções ruins independente de quem ele desse o dinheiro.
Parte dele esperava ver Geoffrey aparecer do nada de novo, mas mesmo depois de alguns dias atacando vários negócios dos Rofal, Hector nunca viu a aberração.
Ele não gostava de se perguntar onde Geoffrey estava.
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Jeremiah Colt olhou por cima da montanha de comida de bebê mais uma vez. Seu chapéu e óculos de sol escondiam bem seu rosto e sua barba escura estava finalmente crescendo.
Ele já comprou fraldas, talco de bebê e uma garrafa fresca para Stephanie. Algum cara de moicano derrubou a antiga da mão de Colt quando ele perguntou onde era o local mais próximo para comprar leite. Talvez o cara estava só tentando impressionar seus amigos, mas quando Colt viu a garrafa cair na merda de um cachorro, ele fez o cara engolir seus dentes. Os amigos dele também não ajudaram muito com informação, mas Colt eventualmente encontrou a mercearia sozinho de qualquer jeito.
Comida de bebê era a parte mais complicada. Stephanie parecia gostar de purê de maçã, mas só de certas marcas e a preferência de Thomas ainda parecia completamente inconsistente. Juntando a isso preços variados e valor nutricional, Colt sempre gastava uns bons vinte minutos tentando se decidir.
Colt pegou uma caixa de leite por último. Ele estava tentando desmamar os gêmeos do leite em pó para bebês e passar para o comum, visto que eles já tinham treze meses. Todos os quadros de mensagens para os pais sugeriam misturar o leite em pó com o comum a fim de facilitar a transição.
Ele foi até o caixa pagar. O funcionário comentou sobre os óculos de sol que Colt estava usando lá dentro e ele só o ignorou. Conforme ele ia para a saída, uma brisa da tarde o acertou em cheio e ele levantou o colarinho de seu casaco. Colt começou a voltar para seu motel.
A cidade de Delroy não era conhecida por seu clima impecável e os últimos dias só deram mais força a essa reputação com os chuviscos e o céu cinza. Colt veio para uma cidade costeira a fim de encontrar alguém que pudesse levá-lo clandestinamente para fora do país pelo mar. Até agora, ele não havia achado bons prospectos.
Tentar sair do país só se mostrou um problema atrás do outro. Com a recompensa para sua cabeça, manter sua identidade um segredo era quase impossível, sempre que ele trazia os gêmeos, toda a tentativa de furtividade desciam pelo ralo.
E se isso não era ruim o suficiente, o caos recente na capital só fez com que as patrulhas das fronteiras ficassem mais rígidas. Colt estava se perguntando se ele ia ter que viajar clandestinamente num cargueiro ou algo do tipo. Certamente, se estivesse sozinho, ele já teria feito isso.
Ele chegou no final do beco que levava para o estacionamento do motel e parou. Ele bisbilhotou pela parede de tijolos pretos e vermelhos para checar a área. Precaução o manteve vivo nessas últimas três semanas e ele não ia esquecer ela agora.
Colt viu os idiotas de antes, reunidos perto de seu carro e olhando para o motel.
— Ei. — Colt disse, com uma sacola em cada mão. — Saiam de perto da porra do meu carro.
Todos se viraram na hora. Suas expressões estavam completamente sem vida e vagas. — Aha. — O da direita falou. — Você parece diferente, Sr. Colt.
Isso era, abruptamente, familiar demais. Colt se lembrou dessas expressões daquela noite na mansão de Rofal, o rosto dos fantoches descerebrados. E dos poucos que sabiam o nome dele, apenas dois chamavam ele de “Sr. Colt”. O primeiro era Geoffrey e o segundo era Hector. E esse ai com certeza não era o Hector.
Colt fez uma carranca. — Você parece bem mais diferente que eu. — Ele disse.
Um sorriso nenhum pouco natural apareceu nos lábios do fantoche. — Só espera aí por mim. — Disse Geoffrey. — Nós vamos ter uma reunião apropriada em alguns minutos.
Colt lentamente colocou suas bolsas no chão molhado. Havia três deles. Pegar sua arma precisaria de dois movimentos ágeis: abrir seu casaco e pegar a arma do coldre. Era por isso que ele não gostava de carregar armas nas axilas, mas nesses dias, ele não podia andar com um coldre na cintura para todos verem.
Ele abriu seu casaco e todos pularam nele. Ele rolou para o lado. Pegou a arma. Desligou a trava de segurança.
Um deles tinha a perna de Colt. — Vá em frente e tente correr! — Ele disse para Colt. — Vai ser divertido para mim desse jeito!
Colt deu uma coronhada em seu rosto. Os outros dois caíram com uma bala cada, uma no pescoço, uma na testa.
Ele se levantou. Havia prédios por todo lugar. Não tinha como dizer quem, ou o que, ele tinha visto agora. Ele jogou os suprimentos de bebê no porta-malas do carro e correu para o motel.
Colt correu para o seu quarto e destrancou a porta. Ele entrou com pressa e pegou as crianças dormindo. Ambas acordaram e olharam para ele cheios de curiosidade enquanto ele as enrolava no mesmo cobertor e as segurou em seus braços. Era complicado e pesado carregar as duas crianças juntas, mas Colt tinha força de sobra para a tarefa. Ele jogou a maior parte do peso delas para um braço a fim de liberar o outro para usar sua arma.
Todo o resto foi abandonado no quarto. Ele correu de volta para estacionamento.
O fantoche que Colt não matou estava de pé, ele esmagou seu rosto ainda vago mesmo com todo o sangue.
A essa distância, Colt não estava confiante que conseguiria acertar sua cabeça com só uma mão, então ele atirou no peito. E quando o cara caiu, Colt foi até ele e estourou seus miolos.
Ambos Stephanie e Thomas começaram a chorar.
— Desculpe pelo barulho, crianças. — Colt as prendeu nos assentos de trás, antes de pular para o assento do motorista e ir embora do estacionamento.
Ele chegou na rodovia. Não importava muito para onde ele fosse, contanto que fosse para fora da cidade, então ele escolheu oeste. Porém, depois de um minuto, ele desacelerou.
O trânsito estava parado nessa direção. Ele conseguia ver uma fila gigantesca de carros e um caminhão tombado.
Colt rosnou. Ele duvidava que era coincidência. Ele deu ré, carros buzinando conforme ele os empurrava para fora do caminho. Então, ele dirigiu sobre a mediana na estrada e começou a ir em outra direção. Ele saiu da rodovia, procurando uma estradinha para fora da cidade. E não demorou muito até ter que parar de novo.
Uma fila de três viaturas de polícia bloqueando a rua. Seis oficiais uniformizados saíram do carro em perfeita sincronia.
Colt deu ré e enfiou o pé no acelerador. Balas acertaram seu parabrisas, fazendo com que abaixasse a cabeça e apertasse seus olhos enquanto dava ré numa rua lateral.
Um carro estava vindo da outra direção e Colt foi para calçada. Ele pisou no freio e puxou com força o volante para direita. O veículo fez a curva e foi para rua de novo conforme Colt mudava a marcha para neutro e pisava no acelerador de novo. Ele conseguia ouvir as crianças chorando muito, mas ele estava feliz com isso. Ele não tinha tempo para olhar para eles e silêncio o teria preocupado bem mais.
Ele continuou indo reto por vários blocos. Ele conseguia ver pessoas na rua que pareciam normais, visto que não o encaravam com olhares vazios enquanto ele passava, mas ele conseguia ver luzes no seu retrovisor. Ele virou para direita e, logo, viu mais luzes atrás dele, então ele rapidamente virou para esquerda de novo.
Eles estavam construindo uma rede ao redor dele, ele sabia. Ou talvez já tenham feito uma. Não havia como dizer quantas pessoas Geoffrey mandou atrás dele, mas o maldito obviamente veio preparado.
Colt decidiu que estava na hora de mudar de tática. A saída de uma loja de roupa apareceu na sua direita e ele se virou para entrar no estacionamento. Ele parou na frente da entrada, saiu do carro e olhou para a pequena multidão de pessoas. Ele não conseguia dizer se elas estavam possuídas ou só confusas, então ele levantou sua arma e atirou no letreiro de neon gigante da loja. Quando elas gritaram e começaram a fugir, ele descobriu que elas eram normais o bastante.
Seus perseguidores entraram no estacionamento enquanto Colt abria o porta-malas de seu carro. Uma maleta preta estava lá dentro e ele a levantou para pegar seu plano para emergências: um fuzil de assalto montado com um lançador de granadas sob o cano, já pronto para uso imediato.
O primeiro carro de polícia parou na sua frente e ele viu os fantoches de Geoffrey apontando estupidamente suas armas para ele em vez de sair primeiro. Uma granada voou atravessou o vidro antes deles poderem atirar.
Tradução: Worst
Revisão: Errei
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