
— Ufa, essa foi por um triz…
Solto um suspiro de alívio ao sair do auditório da Academia Midgar para Cavaleiros das Trevas. Minha respiração vira fumaça no ar frio da manhã. A cerimônia de abertura do terceiro trimestre tinha acabado de terminar.
— Que diabos, Cid? Onde você se enfiou nas férias de inverno inteiras?
— Pois é, lembra que a gente combinou de ir cantar as gatinhas da Mitsugoshi?
Ah, que saudade dos rostos tão fáceis de esquecer de Skel e Po.
— Foi mal, pessoal. Tive umas coisas para resolver.
Entre a disputa pelo trono de Oriana e meu retorno inesperado ao Japão, minhas férias de inverno foram uma verdadeira montanha-russa de eventos.
— Você deixou a gente na mão, cara — disse Skel, em tom de reprovação.
— É, e sua irmã pegou no nosso pé — completou Po.
— Pegou?
— Ela estava te procurando. Eu disse que não fazia a menor ideia de onde você estava, e ela quase transformou minha cabeça num alvo de dardos…
— E eu, que disse que ela era uma gata e chamei para sair, quase virei espetinho na ponta da espada dela…
— Nossa, que pesado. Foi mal por isso, galera.
Pelo visto, é melhor eu manter uma distância segura de Claire por um tempo.
— Ah, e por falar em coisas sinistras que rolaram, soube que a Presidente Rose sumiu? — perguntou Skel. — Então, agora ela é a rainha de todo o Reino de Oriana. O país inteiro está em polvorosa.
— Sim, por acaso ouvi algo a respeito — respondi.
Heh-heh-heh, mal sabem eles que fui eu quem abriu caminho para ela. Ninguém faz a menor ideia de que uma eminência nas sombras agiu por trás da ascensão da monarca, muito menos que essa eminência é um estudante comum. É exatamente disso que se trata ser uma eminência nas sombras.
— E não para por aí. Estão dizendo que o Reino de Oriana foi infestado por bestas mágicas, que o país foi dominado e tudo mais.
Ah, eu sei bem. Quem vocês acham que orquestrou tudo e quem salvou o dia no final? Eles nem desconfiam que estão conversando com uma das peças-chave por trás de toda a trama.
Skel continuou:
— Parece que Midgar vai romper a aliança com o Reino de Oriana agora.
Como é que é?
— É o que parece — concordou Po. — Nunca imaginei que a Presidente Rose se tornaria uma vilã… Ela jamais vai conseguir limpar o nome dela.
— Vilã? Como assim? Do que você está falando?
— Eu acabei de dizer! Ela invocou um monte de bestas mágicas, matou todos na linha de sucessão e tomou o poder à força — explicou Skel. — O nome dela vai entrar para a história como uma infame.
— E ela parecia tão gente boa quando estudava aqui… — lamentou Po. — Não acredito que as coisas chegaram a esse ponto. Mas depois que ela matou o próprio pai no Festival Bushin, ficou claro que as aparências enganam. Ainda assim, eu casaria com ela.
— É… é verdade — concordei. — Vendo por esse lado, ela parece mesmo bem malvada.
Eu tinha imaginado que a história dela seria a de uma rainha poderosa que marcaria seu nome na história, mas ela deu uma guinada total para o lado sombrio. E quer saber? Isso é incrível por si só. A rainha do mal que abala o mundo, com o mestre das marionetes manipulando tudo nas sombras… Sim, isso funciona para mim. Sou perfeitamente capaz de me adaptar à situação.
— E ainda tem um monte de boatos suspeitos sobre ela — acrescentou Skel.
— Sim, tipo a ligação secreta dela com aquela organização, o Jardim das Sombras…
Skel interrompeu Po na mesma hora.
— Ei, bico calado sobre o Jardim das Sombras!
— Opa, é mesmo. Se eu abrir a boca sobre isso, sumo do mapa.
— Hã? Do que vocês estão falando? — perguntei.
A expressão de Skel ficou séria.
— Quatro estudantes desapareceram durante as férias. Dizem que o grupo que tentou tomar a escola está por trás disso.
— O que se comenta por aqui é que qualquer um que se meta a investigar essa organização é silenciado para sempre.
Eu hesitei.
— Hmm, não sei…
— Ah, claro que não é verdade — disse Po, virando-se com um ar de confiança. — Mas como alguns estudantes realmente sumiram, todo mundo está se divertindo com teorias da conspiração. A Ordem dos Cavaleiros até investigou, por precaução, mas não acharam nenhuma evidência de invasão.
— É aquela época do ano em que o pessoal que se deu mal nas provas começa a inventar desculpas para sumir — comentou Skel. — Não foram “desaparecidos”, provavelmente só fugiram. E você, Po, como está de créditos?
— Ugh… Estou por um fio. E você, Skel?
— E-eu acho que estou bem. E você, Cid?
— Eu… provavelmente estou bem.
— B-bom, então estamos salvos. Parece que todos vamos passar de ano.
— S-sim, com certeza — gaguejou Po.
— Pois é.
— E aí, o que vocês querem fazer agora? — perguntou Skel.
— Hoje foi só a cerimônia de abertura, não temos aula — emendou Po. — Podíamos ir jogar um carteado no dormitório.
— Carteado? — indaguei.
— É! Olha só o que a Mitsugoshi acabou de lançar!
Com um sorriso malicioso, Skel sacou um baralho. Era idêntico ao que eu conhecia da minha vida passada. Será que eles realmente começaram a produzir em massa?
— A Nina que deu para a gente — explicou Po. — Vamos jogar Presidente, pôquer ou algo do tipo!
— É a primeira vez do Cid jogando, né? — Skel perguntou a Po. — Vamos mostrar a ele o quão cruel o mundo das apostas pode ser.
— Hee-hee-hee… Nesse caso, tem que ser pôquer. Podemos limpar o bolso dele.
Pôquer, é? Provavelmente será Texas Hold’em. Ensinei as regras para as Sete Sombras há muito tempo e me lembro de tê-las deixado aos prantos depois de levar tudo o que tinham. Ah, bons tempos. Eu estava apenas sendo bondoso, ensinando-lhes como a sociedade pode ser cruel, então achei justo ser pago por isso. Mas elas começaram a ficar assustadoramente boas, então decidi parar enquanto estava na vantagem.
Isso parece uma oportunidade de ouro. Decido que Skel e Po também merecem uma aula particular.
Estalo os dedos.
— Beleza, podem vir. Mal posso esperar para ver esse mundo cruel das apostas de vocês.
Skel sorriu.
— Vamos apostar dez vezes mais que o normal. Cara, já sinto meus bolsos pesando.
Po concordou com a cabeça.
— Como dizem por aí, dinheiro de otário é festa de malandro.
— Heh…
Opa, quase ri na cara deles. Cubro a boca rapidamente.
Acabamos jogando pôquer no meu quarto. O sol já se pôs, e Po está largado, encarando o teto com um olhar vazio depois de perder toda a sua grana.
Pego um monte de fichas.
— Aumento.
— Argh… T-tudo ou nada.
Skel empurra sua pilha miserável de fichas para o centro da mesa.
Eu cubro a aposta, claro.
— Bwah-ha-ha! Você caiu direitinho na minha armadilha! — Skel vira as cartas, todo orgulhoso.
— Uau, que mão impressionante.
— Foi mal, Cid, mas eu já saquei todas as suas manhas. É aqui que começa a minha virada triunfal…
— Não, a brincadeira acabou.
— O quê?
Mostro minhas cartas.
— Não pode ser… Uma trinca? Po e eu treinamos tanto, e você nos amassou como se fôssemos nada…
— Posso pegar um empréstimo e continuar — Po murmura, já delirando. — Era o dinheiro da comida do mês. Se eu não recuperar, estou perdido…
— Certo, hora de acertar as contas.
Depois de recolher meus ganhos da dupla de perdedores, os expulso para o corredor.
— Desculpem, mas sem dinheiro vocês não me servem para nada.
Fecho a porta na cara deles.
— Droga, a gente ainda te pega! — ouço os gritos do lado de fora. — Da próxima vez, vamos roubar para garantir a vitória!
Se é assim que eles querem, fico feliz em jogar o mesmo jogo. Quando eu roubo de verdade, nem a Alpha percebe.
Guardo meus lucros no “Fundo de Guerra da Eminência nas Sombras”, diminuo as luzes e me concentro, ouvindo os sons da noite. Então, chamo na escuridão além da minha janela:
— Desculpe a demora… pode entrar.
— …Mm.
Com uma resposta curta, uma garota surge do nada. Suas habilidades de ocultação são de outro nível.
Você realmente aprimorou seus talentos, Zeta.
A garota é uma teriantropa esguia, vestindo um macacão preto justo. Seus olhos felinos, de um roxo gélido, cravam-se em mim.
— Há quanto tempo, Mestre.
— É, já faz um tempo.
— Você está um pouco mais alto.
— Estou?
— Mm. — Ela assente rapidamente e me oferece um peixe seco. — Para você.
— O que é isso?
— Cavala.
— Ah.
— Peguei no mar.
— Caramba, que longe.
— É da mais gorda. A melhor da estação.
— É mesmo?
Zeta é uma teriantropa felina e a sexta integrante das Sete Sombras. Ela é bem inteligente para alguém da sua raça e tende a ser reservada e de poucas palavras. Basicamente, o oposto de uma certa cachorra que eu conheço.
Depois que pego a cavala seca, Zeta me encara como um gato esperando o jantar.
— Obrigado — digo. — Vou grelhar para comer mais tarde.
— Mm.
A cauda dourada de Zeta se agita, revelando um pingo de satisfação.
— Bem… — Adoto uma expressão séria. — Algum avanço… no assunto em questão?
Ao ouvir minha pergunta, seus olhos felinos brilham de orgulho.
— O Culto está agindo conforme o esperado.
— Hmm.
Vou até a janela com uma taça de vinho na mão. Zeta se aproxima rapidamente e a enche para mim. Como sempre, seus movimentos são perfeitos. Ela adora bancar a espiã e é uma mestra em se esconder e se infiltrar.
— Eles estão restaurando o braço direito. — Ela informa.
— Entendo.
— Estão ficando sem Lágrimas de Diablos. Foi por isso que tudo começou.
— Faz sentido.
— O braço direito selado está nas ruínas do campus.
— Como imaginei.
— Estão em pânico. Com medo da nossa interferência.
— Tudo dentro do esperado.
— O tempo está se esgotando. Eles certamente agirão em breve.
Zeta me encara, aguardando ordens. Em algum momento, ela espalhou sobre minha mesa documentos em escrita antiga, dos quais não consigo decifrar uma única palavra.
— Novidades sobre os estudantes desaparecidos?
— Nenhuma.
— Já são quatro…
— Certo.
— Isso não será o bastante.
— Não.
Nós dois olhamos pela janela para as luzes do dormitório feminino, semicerrando os olhos como se procurássemos algo.
— Haverá uma quinta vítima.
— Certo. — Zeta levanta o olhar para mim. — O que devemos fazer?
— …Nada.
— Tem certeza?
— Fixe o seu olhar, Zeta.
— Mm… No quê?
— No futuro… e no que será necessário quando ele chegar.
— …Se essa é a sua vontade, Mestre.
A atmosfera no quarto é solene. Inserir essa parte improvisada sobre os estudantes desaparecidos, para dar um ar mais realista, foi uma jogada de mestre, se me permitem dizer.
A história é a seguinte: a academia parece tranquila, mas nos bastidores, o Culto de Diablos trama um plano diabólico. Zeta e eu nos olhamos, satisfeitos por estarmos em perfeita sintonia.
Eu assinto, e Zeta também.
— Deixe comigo, Mestre. Manterei meu olhar fixo.
Com uma rajada de vento, ela desaparece na noite.
Antes de partir, no entanto, ela faz um movimento extra.
Não pense que eu não vi você esfregando essa sua cauda dourada na minha cama, garota.
— Droga, Zeta, já te disse para parar de marcar minhas coisas.
Tiro os pelos da cama e olho para o céu noturno.
— Permanecer na escuridão eterna ou despertar da eternidade…? — murmuro.
Está ficando tarde, então decido ir dormir. Aposto que amanhã acordarei me sentindo como novo.

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— Eu juro, vou matar aquele moleque!
Claire bufa em seu quarto no dormitório feminino.
— Quantas promessas você precisa quebrar para ficar feliz, Cid? Nós deveríamos ter voltado para casa juntos nas férias…
A luz da lamparina ilumina seu perfil. Ela parece furiosa e, por alguma razão, segura uma coleira de metal.
— Vou matá-lo. Vou matá-lo. Você vai voltar comigo nas férias de primavera, nem que eu precise te arrastar pelos cabelos.
A coleira tilinta em suas mãos. Depois de verificar a trava, ela sorri.
— Você não me escapa da próxima vez.
De repente, ela faz uma careta de dor.
A coleira cai no chão com um baque surdo.
— Minha mão direita… Está latejando…
Ela franze o cenho e aperta a mão.
— Mas por quê? Estava tão calma ultimamente…
Desde o dia em que o círculo mágico apareceu, sua mão dói de vez em quando. Mas a dor tinha diminuído consideravelmente.
— O que está acontecendo? Quero respostas, Aurora.
Ela continua perguntando, mas Aurora não responde desde o primeiro dia. Às vezes, Claire se pergunta se tudo não passou de um sonho, mas o círculo mágico gravado sob as ataduras em sua mão é a prova de que foi real.
Ela abre a gaveta e espalha alguns papéis sobre a mesa.
— Eu andei pesquisando. Este círculo mágico na minha mão aparece em documentos sobre o demônio Diablos.
De fato, o círculo nos papéis é idêntico ao de sua mão.
— O que isso significa? Qual a minha ligação com Diablos? O que está acontecendo comigo? Por favor, me diga…
De repente, ela ouve um som. Olha ao redor.
— Espera, o que foi isso?
— …un…
— Aurora?! É você?
A voz parece vir de dentro de sua cabeça.
— …un… É perig…
Aos poucos, as palavras se tornam mais claras.
— Corra… É perigoso…
— Hã? Correr?
No instante em que a confusão toma conta de seu rosto, Claire ouve um estalo.
— O que foi isso?!
Seu campo de visão se estilhaça, como um espelho quebrado.
Ela tenta se segurar na escrivaninha, mas esta também se despedaça.
Um novo mundo surge das frestas.
— Este é… o meu quarto, certo?
Ela tem certeza de que está em seu quarto. No entanto, uma névoa branca e estranha flutua no ar. Os sons de fora parecem distantes; tudo o que ela ouve é sua própria respiração.
Não, espere. Ela ouve um leve farfalhar de tecido atrás dela.
— Bela tentativa.
Ela reage instantaneamente, girando e desferindo uma cotovelada no queixo do agressor.
— Urgh!
O atacante cambaleia, mas consegue se manter de pé. Um erro fatal. Seu rosto fica na altura perfeita para uma joelhada de Claire, e é exatamente o que ela faz.
— Aprendi esse truque com Cid.
A saia de seu uniforme se agita com o movimento.
O homem desmaia e cai no chão. Claire não o reconhece.
— Quem é esse?
Ela se agacha para revistá-lo, mas, no momento em que o toca, seu corpo se desfaz em pedaços.
— Mas o quê…? De novo?!
O homem desapareceu sem deixar vestígios.
— O que está acontecendo? Alô?! Tem alguém aí?!
Claire corre para o corredor e abre a porta do quarto ao lado. Vazio. Ela tenta a porta seguinte, e a outra, mas não encontra ninguém.
A única pessoa que resta no mundo é Claire.
— Não entendo… Ei, Aurora, sei que você está aí!
— Não, não estou — responde uma voz irritada.
— Está, sim. Não é hora para brincadeiras.
— Eu te disse para correr.
— Ei, não coloque a culpa em mim. Você não avisou a tempo.
— Eu não queria dizer nada.
— Com licença?! Eu estou em perigo!
— Bem, eu também tenho meus problemas para resolver.
— Que tipo de problemas?
— Tipo… não queria te envolver nisso.
— Talvez devesse ter pensado nisso antes de colocar essa coisa em mim! — Claire grita, encarando o círculo mágico em sua mão.
— Foi para te proteger.
— Eu sei, mas… podia ao menos ter explicado o porquê.
— Eu ia. Mas não pude.
— Como assim?
— Ele está te protegendo.
— Quem?
— Ele quer te proteger, te manter longe do perigo. Por isso não posso te contar nada.
— Já te perguntei isso antes, mas quem é esse cara misterioso de quem você tanto fala? Pelo que eu vejo, ninguém está me protegendo.
— Isso não é verdade. Ele te protegeu o tempo todo. Sempre protegeu, e sempre protegerá. Na verdade, isso me dá um pouco de inveja.
— Vou dizer mais uma vez — diz Claire, a raiva crescendo em sua voz. — Não sei de quem você está falando, mas não tenho a menor intenção de deixar que ninguém me proteja.
— Tudo bem. Pode continuar na ignorância, contanto que esteja segura. Tenho certeza que é isso que ele iria querer…
— Chega dessa baboseira! Eu nunca pedi por isso!
A voz de Aurora adquire um tom de desagrado.
— Lamento, mas realmente não posso dizer mais nada. Tenho uma grande dívida com ele.
— Eu juro que vou te fazer falar.
— E como pretende fazer isso?
— Hum…
Claire se cala. Como ameaçar alguém que existe apenas como uma voz em sua cabeça?
— Uhhh… Bem, vou gritar até você me contar o que eu quero saber!
— Fique à vontade.
— Vou parar de falar com você para sempre.
— Por mim, tudo bem.
— Vou… espalhar boatos horríveis sobre você.
— E daí?
Claire morde o lábio, emburrada.
— Já acabou?
— Ah, eu nem comecei a ficar frustrada com você.
— Não se preocupe. Vou te dizer como sair daqui.
— E o que é “aqui”?
— Segredo.
— Ah, vá se danar.
— Para começar, siga em frente.
— Não.
— Se não for, ficará presa aqui para sempre.
— Tá, tá, tudo bem. Estou indo.
— Ótimo. Agora, gire três vezes.
— Desculpe, o quê?!
— Estou brincando.
— Um dia desses, eu te mato.
A jovem de cabelos escuros avança pelo mundo enevoado. Atrás dela, a imagem de uma mulher de olhos violeta se sobrepõe sutilmente à sua, quase imperceptível.

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Hoje é o primeiro dia oficial do nosso terceiro trimestre. Com as provas finais se aproximando, a turma toda está focada nos estudos.
— Parece que a matéria de hoje sobre a teoria do controle de mana cai todo ano na prova — diz Skel.
— Caramba, Skel — responde Po. — Você está bem informado.
— Está na hora de levar as coisas a sério. Se eu repetir de ano, meus pais me matam.
— É, eu também preciso começar a me dedicar. Andei meio relaxado.
— Quando eu me empenhar de verdade, isso vai ser moleza.
— Sim, vai ser fácil demais quando eu resolver levar a sério.
Os olhos deles estão vermelhos.
— Suas notas também não são grande coisa, né, Cid? É melhor começar a levar a sério.
— É, boa ideia — digo. — Vou começar a levar a sério, pode deixar.
Tenho mantido minhas notas um pouco abaixo da média da turma. Sinceramente, passo a maior parte do tempo nas aulas treinando minha magia, então fico completamente perdido na hora das provas. Mas isso nunca foi um problema para mim. Quando preciso levar a sério, sou o melhor trapaceiro do pedaço.
Não prestei atenção nenhuma na aula de hoje, mas durante meu treino, comprovei a teoria de que comprimir a mana pode torná-la mil vezes mais forte. Praticar assim é essencial para se tornar uma eminência nas sombras.
Estou lá, refinando minha mana secretamente como sempre, quando a porta se abre com um estrondo, revelando uma garota de cabelos prateados.
É Alexia.
— Que tempo bom hoje, não é? — digo, olhando casualmente pela janela.
Está nublado.
Sinto todos na sala se virarem para mim. Não sei por que, mas sempre que Alexia aparece, todos olham na minha direção. É estranho, já que sou só um cara comum e esquecível.
— Ei, você!
— Ah, olha só, um pássaro passou voando.
O céu está normal. Completamente ordinário.
— Olhe para cá, Fido.
— Cara, olha só aquelas nuvens…
E hoje é apenas um dia comum. Com certeza, nada de estranho ou memorável vai acontecer.
— Não me ignore.
Sinto uma mão agarrar meu queixo, e meu pescoço estala de forma alarmante ao ser virado à força.
Os olhos vermelhos de Alexia encontram os meus.
Tento cumprimentá-la da forma mais comum possível.
— Ah, olá. Se não é a Princesa Alexia.
— Olá, Cid Kagenou.
— Receio que tenha errado de sala, Princesa Alexia.
— Garanto a você, estou exatamente onde deveria. Tenho assuntos a tratar com você, Cid Kagenou.
— Ah, desculpe, a aula vai começar. Teremos que deixar para outra hora.
— Isso não importa. — Alexia se vira para Skel e Po enquanto me agarra pelo colarinho. — Vou pegá-lo emprestado um pouco.
— P-pode levar!
— E-ele é todo seu!
Ouço as vozes traidoras deles enquanto Alexia me arrasta para fora.
Não sei por que, mas Alexia me leva até o dormitório feminino.
— Tem certeza de que posso entrar aqui? — pergunto.
— Não se preocupe, eu tenho permissão.
— Sabe que sou homem, né?
— Tudo bem. Você é uma parte envolvida.
— Envolvida em quê?
Alexia para em frente a uma porta específica. Se não me engano, é a que leva ao quarto de Claire.
— Sua irmã não apareceu no café da manhã hoje.
— Ah.
— Alguém ficou preocupado e foi ver como ela estava, e encontrou o quarto destrancado. — Dito isso, Alexia abre a porta. De fato, não há ninguém lá dentro. — Procuramos em todos os lugares que ela poderia estar, mas não encontramos nenhum sinal dela.
— Estranho.
— Você sabe de alguma coisa?
— Não — respondo sem hesitar, e Alexia me encara como se eu tivesse criado chifres.
— Não está preocupado com ela? — Ela questiona.
— Não, isso acontece sempre.
— Como assim?
— Ela vive sumindo desde criança.
— Esse tipo de informação se encaixa na categoria de “alguma coisa”.
— Ah, é verdade.
— E para onde ela ia quando sumia?
— Não faço ideia. Ela simplesmente reaparecia.
Desde que as Sete Sombras apareceram, são elas que sempre a trazem de volta. Desta vez, Zeta estava por perto, então, considerando as habilidades dela e o fato de não ter feito nada, presumo que esteja tudo bem.
— Então ela foge de casa?
— Basicamente, sim.
— Espero que seja só isso, mas tem algo que me preocupa.
— O que seria?
— Dê uma olhada.
Entramos no quarto, e Alexia pega uma coleira do chão.
— Isso é uma coleira de cachorro? — pergunto. — Parece bem resistente.
— E não é só isso. Ela também sela a magia de quem a usa. Não é o tipo de coisa que uma garota comum teria jogada no quarto.
— Bem, eu não descreveria minha irmã como “comum”, exatamente.
— Alguém pode ter invadido e tentado usar a coleira para sequestrá-la.
— Mas por que ainda está aqui?
— Talvez tenha caído na luta. E tem outra coisa que me preocupa.
O olhar de Alexia se fixa nos papéis sobre a mesa.
Eu os reconheço no instante em que os vejo.
— Ai, meu Deus…
Escrita antiga, círculos mágicos estilosos e invocações que parecem importantes, mas que na verdade não fazem nada. É um daqueles cadernos… os cadernos vergonhosos que os edgelords1Pessoas que publicam opiniões polêmicas e controversas na internet para chamarem atenção. criam.
— Sabe alguma coisa sobre isso? — Alexia pergunta.
— Não. De jeito nenhum. Com certeza não fui eu.
— Tem certeza? Você ficou todo esquisito de repente.
— V-você deve estar imaginando coisas.
— Se você diz.
Alexia volta a olhar para o caderno da vergonha.
— Acho que você não vai encontrar nada de importante aí — comento.
— Veremos.
Ela começa a folhear as anotações com seriedade. Desculpe, Princesa, mas aí só tem os delírios constrangedores de um adolescente gótico.
Pensando bem, aquela coleira que sela magia é exatamente o tipo de coisa que edgelords adoram, e eu já vi minha irmã desenhando círculos mágicos nas mãos e cobrindo-os só por diversão. Pelo visto, a condição dela piorou bastante.
Desaparecer de repente é um sintoma clássico do comportamento edgelord.
— Tenho certeza de que a Claire está bem.
— Você realmente acredita nela, não é?
— Bem… não sei se diria isso…
É mais como se não houvesse nada que pudéssemos fazer para impedi-la, então as coisas são como são.
— Falando da minha própria irmã, eu… — Alexia franze a testa, olhando para longe. — Sinto que, hoje em dia, não entendo metade do que se passa na cabeça dela.
— Hã.
— Já se sentiu assim, Fido?
— Ah, eu nunca entendo o que se passa na cabeça da Claire.
— É mesmo…? Talvez todo mundo tenha coisas que não entende um sobre o outro.
— Somos parentes, mas é como se fôssemos estranhos.
— Que jeito frio de ver as coisas.
— É?
— Eu quero entender minha irmã. De verdade.
— Justo.
Alexia suspira.
— Pode voltar para a aula. Vou investigar mais um pouco.
— Ok.
Deixo Alexia para trás, mergulhada no caderno da vergonha, e sigo meu caminho.

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É fim de tarde, e minha irmã ainda não voltou. Mas, ei, Zeta está por perto, então mesmo que haja algum problema, tenho certeza de que tudo ficará bem.
Vou para o pátio atrás do dormitório e grelho a cavala seca que Zeta me deu. Já passou da hora do toque de recolher, e está tudo escuro.
— Certo, deve estar quase pronto.
A gordura da cavala estala deliciosamente ao pingar no fogo a céu aberto.
— Na verdade, talvez precise de um pouco mais de tempo?
Estou curtindo este churrasco particular. Sinto que está limpando minha alma. Os corações acumulam muita sujeira ao longo da vida, sabe?
Enquanto observo o fogo sem muito interesse, sinto algo se aproximando a uma velocidade incrível.
— Chefe!! Finalmente te achei!!
Delta chega correndo, suas orelhas de cachorro se agitando.
— E aí. Já está tarde, tente não fazer barulho.
— Eu cacei o Malabarista Negro!!
— Que legal. Está tarde, então tente não fazer barulho.
— E a Alpha me elogiou!!
— Que bom para você. Está tarde, então tente não fazer barulho.
— Você também devia me elogiar, Chefe!!
— Calma, calma, calma. Boa menina. — Dou um cafuné vigoroso em sua cabeça, e seu rabo abana freneticamente. — Agora, está tarde, então tente não fazer barulho.
— Vou ficar quieta!! — Ela grita, e em seguida cobre a boca com as mãos. — Vou falar bem baixinho — sussurra.
— Sim, perfeito.
Sua voz começa a subir gradualmente.
— Entendido. Eu cavei aquele buraco que você me pediu, Chefe.
— Você cavou o quê? Tem certeza de que eu te pedi para fazer isso?
— Pediu!
A voz dela já voltou ao normal.
— Pedi? Bem, se você diz.
— E lá dentro, encontrei isto! Você estava certo, Chefe! Olha que maravilha!
Delta sorri, mostrando a joia vermelho-vivo que segura entre os dentes.
— Por que está na sua boca?
— Para eu não perder!
— Não dá para discutir essa lógica.
— Hee-hee.
Tiro a joia cheia de saliva da boca de Delta. Ela brilha em um lindo tom de vermelho.
— Deixa eu ver… Uau, aposto que isso valeria uma fortuna.
É do tamanho de uma bola de gude, mas há algo de fantástico em seu brilho.
— Eu mandei bem!!
— Calma, calma. Boa menina.
Dou outro cafuné em sua cabeça. Ela praticamente se derrete em minha mão.
— Quero uma recompensa!
— É, justo.
— Uau, que cheiro bom!
No instante em que ela olha para o fogo, a cavala desaparece.
— Essa é a minha recompensa?!
Agora está na mão dela.
— Não, essa na verdade foi um presente da Zeta…
— Valeu!
Ela não está ouvindo.
Delta dá uma grande mordida e sorri de satisfação.
— Que delícia!
Bem, ela se saiu bem.
— Acho que tudo bem.
No exato momento em que me conformo, ouço um galho quebrando.
— Cachorrinha… o que você está comendo?
Viro-me e encontro Zeta. Seu olhar é gélido.
Delta solta um rosnado ameaçador.
— Grrr, Felina! Estou comendo minha recompensa!
— Eu trouxe aquela cavala para o nosso senhor. Não é sua.
— Sai para lá! É minha recompensa!
Com isso, Delta engole o resto da cavala de uma vez.
Zeta solta um suspiro mudo.
— Ah!
Delta, por sua vez, não se importa nem um pouco.
— Humm, que delícia.
— Sua pequena…
A garganta de Zeta começa a vibrar.
— Você está sendo uma chata, Felina. Dê o fora, ou eu te mando pelos ares!
— Eu guardei a cavala mais saborosa para o nosso senhor, e agora… Isso é inaceitável.
— Certo, pessoal, vamos todos respirar fuuundo.
As coisas parecem que vão ficar feias, então eu intervenho e me coloco entre elas.
Ambas fixam seus olhares em mim.
— Uh… Olha, eu só estava grelhando a cavala; na verdade, não dei para ninguém…
Autopreservação é a chave quando as coisas parecem que vão ficar tensas. O mais importante aqui para não ser arrastado para o que quer que esteja prestes a acontecer é deixar claro para elas que não tive nada a ver com isso.
— …então, resumindo, a culpa não é minha.
— Sim. Não é sua culpa.
— O Chefe não fez nada de errado!
— Exatamente. Eu não fiz nada de errado.
Em momento algum eu manuseei mal a cavala. Ela foi comida por um infeliz mal-entendido, nada mais.
— E isso significa…
Zeta e Delta apontam uma para a outra…
— …a culpa é dela!!
…e então completam a frase uma da outra.
— Hã? — gaguejo.
A magia delas explode e se intensifica.
A onda de choque me lança pelos ares, e eu giro graciosamente no ar antes de aterrissar perfeitamente a uma curta distância delas.
— Você roubou minha oferenda ao nosso senhor, sua vira-lata sarnenta. Você está morta.
— Você fez um escândalo por causa da minha recompensa de direito, Felina. Você está mais morta ainda!
— Uhh… Olha, acho que não estou entendendo direito, mas o importante é que todos concordamos que a culpa não é minha.
Decido me afastar discretamente.
Zeta e Delta nunca se deram bem, e vivem brigando. As brigas geralmente duram até elas destruírem um campo, derrubarem uma casa ou algo do tipo, e Alpha ficar furiosa com elas.
— Tentem não exagerar, ok?
O único ponto positivo é que a onda de choque não atingiu os dormitórios.
— Vou te esmagar — diz Delta, preparando sua espada e assumindo a postura de combate.
— Você precisa ser punida.
Zeta estreita seus olhos frios e desaparece. Sem aviso, sem nada. Ela simplesmente some.
Delta inclina a cabeça, confusa.
— Ela fugiu?
No momento em que as palavras saem de sua boca, uma lâmina negra se materializa atrás dela.
Delta se esquiva por um triz, mas isso a deixa em uma posição vulnerável, e ela cai no chão.
Voom. Voom. Voom. Outra saraivada de lâminas desce sobre ela.
— Hmph.
Delta se esquiva de todas elas.
Depois de rastejar pelo chão, ela rola e se levanta de um jeito que nenhum humano conseguiria.
— Onde você está se escondendo, Felina?
Zeta não está em lugar nenhum. A única coisa visível é o conjunto de lâminas negras pairando na escuridão.
Ei, conheço esse movimento. É aquele que a Rainha de Sangue usou. Eu não sabia que a Zeta também conseguia usar, mas conhecendo-a, não deveria me surpreender. De todas as pessoas que conheço, ela sempre foi a mais inteligente. Sempre que peço para fazer algo, ela acerta em cheio, mesmo que seja a primeira vez. Além disso, ela melhora muito rápido, e seus instintos são fantásticos. Ela pode muito bem ser uma das maiores gênias por aí. Em termos de talento bruto, ela é imbatível.
No entanto, mesmo Zeta, a Prodígio, tem uma fraqueza gritante.
— …Hã?
Ouço a voz de Zeta, e sua cauda se materializa na escuridão.
Ah, lá vai ela de novo.
Zeta é volúvel e se entedia facilmente, então nunca se dedica a dominar completamente nenhuma habilidade.
— Opa, não pratiquei o suficiente.
— Te achei!
A cauda se transforma em névoa negra e desaparece um instante antes que a poderosa espada de Delta pudesse cortá-la ao meio.
— Essa foi por pouco. — A única coisa perceptível sobre Zeta é sua voz. — Preciso levar isso a sério.
Com isso, a névoa negra se reúne e se condensa em dezenas de milhares de pequenas espadas que giram em torno de Delta.
— Mil Lâminas. Morte Certa.
Claramente há muito mais lâminas do que isso, mas Zeta mantém sua declaração contida. A letalidade de seu ataque, por outro lado, é tudo menos isso. O enxame de lâminas perfura Delta e a ergue no ar noturno.
— Agh, agh… Arrrgh!
Delta fica indefesa enquanto é fatiada no ar. Ela mal consegue usar os braços e pernas para proteger seus órgãos vitais, mas parece que pode estar em perigo real. Zeta ficou mais forte do que eu esperava. Ela é relativamente nova relativa nas Sete Sombras, mas é um monstro de verdade que tem evoluído como ninguém.
— GRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
O uivo de Delta ecoa pela noite, e sua magia se espalha em uma onda de choque aterrorizante.
As dez mil lâminas são obliteradas.
— N-não pode ser. — Zeta murmura, incrédula, ao emergir da nuvem de névoa. Ela aterrissa como um gato e encara a figura ensanguentada de Delta.
Splatch.
Delta cospe um bocado de sangue e encara Zeta. Não há mais nenhum traço de brincadeira em seus olhos.
— …
Todos os pelos do corpo de Zeta se arrepiam.
Delta manipula seu limo, transformando-o em uma espada negra colossal. Não, aquilo é grande demais para ser chamado de espada. Massivo demais e brutal demais. Quando Delta a usa, nós a chamamos de “O Grande Pedaço de Ferro”. Normalmente, Delta nos imita e luta com as mesmas armas que nós, mas essa não é sua forma final. O selvagem Grande Pedaço de Ferro é sua verdadeira arma, e quando ela o empunha, é a prova de que Delta, a Tirana, parou de brincar.
— Grrr…
Um rosnado baixo escapa da garganta de Delta.
Zeta começa a suar frio.
Olho por cima do ombro, um tanto preocupado com a segurança dos dormitórios e do prédio da escola. O que fazer, o que fazer? Nesse ritmo, eles podem ser destruídos.
O problema é que me irrita profundamente quando alguém me interrompe no meio de uma batalha em que estou levando a sério, e eu acredito firmemente na regra de ouro de “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você”.
Então acho que é isso. Faço uma oração silenciosa. Adeus, Academia Midgar. Descansem em paz, Skel e Po.
— VOCÊ MORREU.
A magia sanguinária de Delta impregna o Grande Pedaço de Ferro.
Recuo com um certo vigor para criar distância entre nós. Enquanto isso, Zeta… voa para o ar. Não é uma metáfora ou figura de linguagem. Ela literalmente sobe voando.
Ao fortalecer minha visão com magia, percebo que ela se envolveu em uma fina camada de névoa negra.
Ah, olha só. Nunca soube que dava para usar assim.
— Tchauzinho, Cachorrinha.
Com isso, ela alça voo e desaparece nas nuvens.
Após uma breve pausa, o corpo inteiro de Delta treme de raiva.
— V-VOLTA AQUI, SUA GATA IDIOTAAAAAAAAAAAAA!!
Ela também desaparece, deixando uma rajada de vento massiva em seu rastro.
— Sempre a mesma coisa, hein?
As brigas delas nunca chegam a uma conclusão. Ou Zeta vai embora, ou Alpha dá um sermão nelas. Eu, no entanto, prefiro apenas sentar e assistir.
Enfim, acho melhor voltar e dormir um pouco.
— Hmm?
Sinto a aproximação de várias pessoas. Faz sentido, considerando o barulho que Zeta e Delta acabaram de fazer.
— Conheço essas presenças… São Alexia e os guardas, certo?
Decido me esconder e observar o desenrolar da situação.
Alexia corre para o pátio atrás dos dormitórios. Sinceramente, não é grande coisa de pátio. A área é mal cuidada e está completamente coberta por árvores. O orvalho da noite encharca suas botas.
Ela olha para trás por cima do ombro enquanto corre.
— Vamos, rápido!
Os guardas correm atrás dela com expressões de terror.
— Essa magia é perigosa, Princesa Alexia! Precisamos esperar por reforços!
— Se continuarem demorando, o culpado vai escapar!
— Princesa Alexia, espere!
Alexia ignora os guardas e abre caminho pela mata. Logo, encontra os vestígios de uma batalha.
— Não pode ser…
O chão e a vegetação estão repletos de cortes, e a área ainda paira com traços de magia poderosa.
— Quem teria uma magia tão forte?
— Princesa Alexia, nós… Ah! O que é isso? — Quando os guardas finalmente a alcançam, suas vozes ficam presas na garganta pela quantidade sufocante de mana ainda no ar. — É perigoso aqui, senhora. O culpado ainda pode estar por perto.
— Exatamente. E o trabalho de vocês é pegá-lo.
— M-mas, senhora…
Os guardas se entreolham, incapazes de encarar Alexia. Ela suspira, mas se certifica de que eles não a vejam.
— Isto aqui… é sangue. — Ela traça as manchas de sangue na grama. — Alguém perdeu muito sangue. Pode estar gravemente ferido. Pode até ser o culpado pelos incidentes…
O Caso dos Estudantes Desaparecidos é o assunto do campus, mas a Ordem dos Cavaleiros está conduzindo a investigação de forma completamente desastrosa. Ignoraram montanhas de evidências e declararam que nenhuma atividade criminosa ocorreu.
Alexia, por outro lado, suspeita que há mais nesse caso do que se vê.
— Havia cavaleiros das trevas de elite lutando aqui. Mas por que aqui? — diz ela.
O local em que estão não é um campo de batalha. É apenas o pátio atrás de alguns dormitórios de estudantes.
— Faz sentido pensar que isso possa estar relacionado ao caso. Claramente há uma força poderosa em ação aqui…
A voz apavorada de um dos guardas interrompe seus pensamentos.
— P-Princesa Alexia!
— O quê?
— A-ali!
O guarda aponta para uma figura silenciosa vestida com um longo casaco preto.
— Quando foi que ele…?
Alexia estremece. Ela não sentiu sua presença de forma alguma.
— E-espera, aquilo é…
A figura está com o capuz baixo e passa os dedos em uma mancha de sangue na grama. Sua voz retumba como se ecoasse das profundezas do abismo.
— Este é o preço que uma batalha exige?
— Shadow…
Há algo surpreendentemente melancólico nele, e Alexia se vê sem palavras.
— A vida derramada aqui foi um sacrifício necessário em prol do mundo?
— Você teve algo a ver com isso, Shadow?
Shadow ignora Alexia e os guardas. Em vez disso, mergulha em pensamentos profundos.
— P-P-P-Princesa Alexia, para trás! Você precisa recuar e chamar a Ordem dos Cavaleiros…
Os guardas tremem enquanto desembainham suas espadas.
— Recuem todos. — Ela responde. — Nossas espadas não são uma ameaça para ele.
Mesmo sabendo disso, ela aponta sua espada para Shadow.
— Responda-me, Shadow. O que aconteceu aqui?
Quando ela infunde magia em sua lâmina, Shadow finalmente se vira para ela. Os olhos vermelhos sob sua máscara se fixam nela.
— E o que você faria se soubesse a verdade?
— Prenderia quem quer que estivesse por trás disso. Não os deixaria escapar.
Atrás da máscara, Shadow solta uma risadinha.
— Seus esforços são em vão.
Ele desaparece.
Não, espera… lá está ele, bem na frente dela.
— Quê?!
Ela falhou em sentir sua magia, sua presença, qualquer coisa. Antes que perceba, ele está parado bem na sua frente com uma espada em sua garganta.
Alexia reconhece aquela espada.
Afinal, é dela.
— Minha… espada…
Ela nem percebeu que ele a roubou.
— Vivemos em mundos diferentes.
— O que isso quer dizer?
Alexia cerra os dentes. Ela se esforçou tanto. Tinha certeza de que havia diminuído um pouco a distância.
— Frente e verso, sombra e luz… Existe um mundo do qual as pessoas do lado da luz fariam bem em se manter afastadas.
Com isso, ele retrai a espada e se vira para sair. Seu longo casaco preto esvoaça atrás dele enquanto caminha sem pressa pela noite.
— Está na hora — diz ele.
— Hora? Hora de quê?
— Eles estão agindo…
Um líquido negro jorra dos pés de Shadow, subindo e o envolvendo. Então o vento sopra, e ele desaparece em uma nuvem de névoa negra.
A espada de Alexia cai no chão onde ele estava.
— Ele se foi… De quem estava falando?
Alexia não entende nada.
No entanto, saber que Shadow está envolvido é um passo na direção certa. Um pequeno passo, ela admite com amargura, mas um passo mesmo assim. Ela se vira.
— Por que esses reforços ainda não chegaram? Precisamos nos apressar e preservar a cena do…
Ela para, chocada.
— Mas… o quê…?
Todos os guardas estão inconscientes. Nesse breve instante, Shadow nocauteou cada um deles. E Alexia não percebeu nada.
— Como ainda pode haver uma distância tão grande entre nós? Eu me esforço tanto… de verdade…
Ela abaixa a cabeça e cerra os punhos com força.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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