Dark?

A Eminência nas Sombras – Vol. 05 – Cap. 02 – Chega o Amanhecer, e há um Empalador à Solta!!

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Acordo me sentindo ótimo, e devo agradecer ao doce manto de seda de aranha negra que peguei na noite passada. Paro um momento para apreciar o jeito que ele brilha na luz da manhã, e então sigo para a academia um pouco mais cedo que o usual.

Faz um tempo desde a última vez que fui para a escola sozinho.

Skel e Po sempre gostam de chegar no último minuto possível, mas ir para a escola cedo de vez em quando também tem seu charme. Você consegue ver rostos novos, e se aquecer sob a luz do sol enquanto atravessa os portões é ótimo…

— …Isso é um saco.

— O que você está fazendo aqui, Fido?

— O que você está fazendo aqui, Alexia?

Quando atravesso os portões, encontro Alexia parada ali.

— Você devia estar um pouco mais feliz em me ver logo de manhã.

— Nossa, caramba, estou tão feliz.

— Bem, eu esperaria que sim.

— Enfim, até mais.

Afasto-me rapidamente, mas Alexia logo me alcança. 

— Espere aí, não fuja de mim.

— Por que você me seguiu?

— Quando as pessoas fogem de mim, me dá vontade de persegui-las.

— O que você é, um animal de caça?

— Não é uma honra poder ir para a escola comigo?

— ………

— Por que ficou quieto?

— Estava apenas pensando em como você é despreocupada.

— Nem tanto quanto você.

Continuamos trocando farpas enquanto caminhamos, e então avistamos uma multidão reunida em frente ao prédio da escola.

Consigo ouvir os estudantes cochichando entre si.

— E-ele está morto…!

— Quem faria algo tão brutal?

— Ei, afastem-se! Ninguém se aproxima até a Ordem dos Cavaleiros chegar!

Alexia e eu trocamos um olhar.

— Parece que encontraram um corpo! — digo a ela.

— Precisamos ir ver o que está acontecendo.

Não costumamos ter muita agitação na academia, e faz uma eternidade desde que houve uma surpresa legal como esta. Não é de se admirar que meu coração comece a bater forte de antecipação. Abro caminho pela multidão, com os olhos brilhando. Quem será o cadáver?

Quando chego à frente, minha decepção é imensurável.

— Ah, é esse cara.

É o sujeito que chutei do telhado e deixei para trás na noite passada. Eu tinha me esquecido completamente dele.

— Isso é horrível… — Alexia murmura. — Que tipo de pessoa empala alguém na espada de uma estátua? É como uma execução pública.

— Provavelmente foi só um acidente.

— Obviamente não foi. Quando alguém é assassinado assim, significa que o assassino fez isso por um motivo.

— Uh, acho que sim…

Alexia encara o cadáver com seriedade. 

— Quem será que ele era? Não parece ser filiado à escola.

— Aposto que era um ladrão.

— Ele também não é da Ordem dos Cavaleiros. Deve ter sido algum tipo de intruso.

— Tenho quase certeza que ele é um ladrão.

— Será que ele é um membro do Culto? Ou então…?

— Devo dizer, ele realmente parece um ladrão.

— Cale a boca, você. Ele obviamente não é um ladrão.

— Sim, senhora.

Eh, ossos do ofício. Os outros estudantes parecem estar se divertindo, e se eu pensar bem, esse era basicamente meu objetivo o tempo todo.

— Que medo… Será que foi aquela organização que matou ele?

— Ainda não encontraram aqueles estudantes desaparecidos, né?

— E teve aquela coisa com a magia ontem também. Parece que está tudo conectado.

Ah, olhe para eles. Estão se divertindo horrores.

Tudo o que realmente aconteceu foi uma gata e um cachorro brigando e um ladrão caindo para a morte. Como o instigador de tudo isso, aquece meu coração ver os outros estudantes tão empolgados com o assunto.

Ah, cara, se eu esperasse até a noite e me vestisse de Shadow, isso daria a eles ainda mais o que falar.

— Qual o motivo desse sorriso sinistro? — Alexia me pergunta.

— Hã? Ah, não é nada.

Seus olhos vermelhos me encaram com desconfiança.

Então alguém se aproxima e começa a falar conosco. 

— Poderia ter um momento com vocês dois?

É um cara gato com cabelo verde-escuro 

— Isaac.

— Ora, ora, ora, se não é o Isaac. Como ousa faltar à aula ontem?

— Você é… Cid, certo? Tive uns assuntos para resolver. Aconteceu alguma coisa?

— Tivemos uma prova surpresa.

— Entendo. E o que mais?

— Não, foi só isso mesmo.

— Então não vejo qual o problema. De qualquer forma, a escola foi cancelada hoje.

— Ah, ué.

— Esta é uma tragédia horrível. A academia e a Ordem dos Cavaleiros iniciarão uma investigação, então ordenaram que todos fiquem longe da cena do crime. O autor deste ato monstruoso ainda pode estar por perto, então tomem cuidado. Certifiquem-se de não sair de seus dormitórios.

— Aham, aham.

Alexia me lança um olhar. 

— Isso quer dizer você, Fido. É perigoso.

— Sim, entendi…

De repente, algo estala em volta do meu pescoço.

Isso é uma coleira?

— Aí está. Finalmente te peguei.

Viro-me e vejo Claire sorrindo de orelha a orelha.

— O-oi, Mana. Quanto tempo.

— Realmente, não é? Desde antes das férias de inverno, se bem me lembro.

— P-parece que sim.

Merda. Baixei a guarda.

Eu sabia que encontrar minha irmã seria uma dor de cabeça, então tenho tentado ativamente evitar isso.

— H-hum, Claire, essa coleira… — começa Alexia.

— O que tem ela? — responde Claire.

— Essa é a sua coleira?

— Sim. Deixei no meu quarto, mas por algum motivo, a Ordem dos Cavaleiros estava com ela. Você não faz ideia do trabalho que deu para recuperá-la.

— E-entendo. E para que você a usa?

— Como assim? Não é óbvio? — Claire sorri enquanto a puxa, fazendo um barulho metálico.

— Eu, uh, acho que sim… Suponho que cachorros precisam de coleiras, não é?

— Exatamente. Viu só, você entende.

— Só para constar, não sou um cachorro — intervenho.

— Claro que é, Fido.

— Juro, Cid, você diz as coisas mais estranhas. Agora, vamos, Fido. Err, quer dizer, Cid.

Claire puxa a corrente e começa a me arrastar na frente de uma multidão de curiosos.

Quando foi que ela e Alexia começaram a se dar bem?

— Como ousa quebrar sua promessa comigo?

— Ah-ha-ha…

Minha irmã me arrastou para o quarto dela e está sentada montada em cima de mim.

— E você ainda mentiu pra mim.

— Quando você diz “mentiu”, a qual mentira se refere?

— Com licença? Qual mentira?

Meu pescoço faz um rangido alto enquanto ela o aperta.

Parece que acabei de cavar minha própria cova.

A questão é que nem consigo contar quantas vezes menti para ela, e não faço ideia de qual promessa ela está falando.

— I-isso dói, Mana…

Na verdade, não dói.

— Você não está sugerindo que mentiu pra mim sobre outras coisas também, está?

— Não menti, prometo.

Eu menti totalmente.

— Sério mesmo?

— Sim, sério mesmo.

Ela aproxima o rosto tão perto que nossos narizes quase se tocam, e me encara nos olhos. 

— Você tem olhos límpidos. É sinal de um coração honesto. Acho que você está dizendo a verdade.

Você precisa ir ao oftalmologista, Mana.

— Você devia saber que quando mente pra mim, eu sempre descubro. Por que você sequer contou essa mentira?

— Ah, certo. Aquela mentira. A sobre o você-sabe-o-quê.

— Sim, a mentira que você me contou sobre a Nina.

— Sobre a Nina?

Hã?

Acho que nunca menti para ela sobre a Nina.

— Você não esqueceu, esqueceu?

— Claro que não. Você está falando daquela história com a Nina. Olha, é difícil explicar em poucas palavras, mas houve circunstâncias atenuantes…

— Suspiro… Você provavelmente disse isso sem pensar porque queria me impressionar, não é?

— Sim, isso. Totalmente.

— Eu te conheço como a palma da minha mão, sabia?

— Desculpe por ter feito isso.

— Muito bem. Eu te perdoo. Mas só desta vez.

Com isso, a conversa chega ao fim.

Ou melhor, deveria, mas Claire continua me encarando.

— Mana, você está meio pesada. Estava planejando sair de cima de mim em algum…? Hrk!

M-meu pescoço…

— Desculpe, Cid, você disse alguma coisa?

— E-eu só estava dizendo como você é leve, Mana, e como você é a pessoa mais bonita do mundo!

— Bem, isso faz sentido. É verdade, afinal.

— Sim, tão verdade.

— Hee-hee. Você continua envelhecendo, mas sempre será apenas o Cid. Espero que você nunca precise mudar. Eu…

Não sei por que, mas Claire fica séria de repente.

— Mana?

— Não recuarei diante de nenhum inimigo, não importa o quão forte ele seja. Não se lutar contra ele permitir que você continue exatamente como é.

— Uh…

Acho que os sintomas de uma certa pessoa podem estar piorando.

— Olha, Cid, preciso que você escute com atenção. Neste momento, a academia está nas garras malignas de uma organização poderosa.

— Ah, então esse é o cenário com o qual estamos trabalhando?

— Não. Se eu te contar algum detalhe, você estará em perigo. Não me olhe assim. Não posso dizer mais nada.

— Sim, ok.

— Vou resolver os mistérios da academia. Tenho um plano. É perigoso, mas… estou fazendo isso por você, então sei que posso ser forte.

— Sim, boa sorte.

— Fique de olho, Cid. Você pode ser alvo por ser meu irmão. Mas vou fazer o meu melhor para derrotar os vilões.

— Sim, acaba com eles.

— Desculpe por despejar tudo isso em você. E desculpe por não poder te contar nenhuma das partes importantes. Mas estou fazendo isso para te proteger. Sei que isso é egoísmo da minha parte, mas quero que você entenda.

— Sim, eu entendo.

— E também… se eu não voltar… Se eu morrer…

No meio de seu discurso choroso, ela abruptamente encara um ponto no ar vazio.

— Desculpe, Aurora, mas isso é meio emocionante, então se importaria de ficar quieta? Hã, o quê? Estou me envergonhando, então deveria parar? Como exatamente estou me envergonhando…?

Olho para cima com uma expressão impassível, e nossos olhos se encontram.

— Mana…

— O-oh, isso foi, hum, hum, hum, nada! Só falando sozinha!

— Mana, eu entendo.

— Cid… você entende? Você entende que há uma razão importante para eu estar fazendo tudo isso?

— Sim, claro.

Você é uma adolescente “edgelord” em formação.

— Obrigada, Cid. Não mereço um irmão tão bom quanto você. E se… se eu não conseguir… se eu morrer… — Grandes lágrimas rolam por suas bochechas.

— Você vai ficar bem, Mana. Com certeza não vai morrer.

— Oh, Cid!! Com certeza vou voltar!! Com certeza, com certeza vou!!

— Parece bom.

Ela me abraça com tanta força que temo que minha espinha vá quebrar.

Espero que ela supere isso logo.

Espero e espero, e finalmente, a noite chega.

Saio escondido do meu dormitório e fico em silêncio no telhado da escola, como de costume.

O campus está em alerta máximo, as saídas do dormitório estão sob forte vigilância e os estudantes estão inquietos. Quem diria que um simples ladrão noturno causaria tanto rebuliço? É emocionante como tudo isso parece novo.

No meu antigo mundo, eu era o tipo de cara que ficava super animado toda vez que um tufão chegava. Vento e chuva castigando a sala de aula, o céu escurecendo no meio do dia – não há nada melhor que isso. Sempre parecia que algo grande estava prestes a acontecer. Nunca acontecia, mas ainda assim.

Depois de passar por tudo isso, sinto que tenho a responsabilidade de fazer algo grande realmente acontecer desta vez. Os estudantes estão cansados de suas vidas comuns. Estão desesperados por algo que quebre a monotonia.

— Como quero jogar isso…?

Temos quatro estudantes desaparecidos, uma briga de gato e cachorro, um ladrão caindo para a morte do telhado… Qual seria uma forma revolucionária de amarrar tudo isso?

— Eu poderia fazer um círculo mágico enorme, entoar algum tipo de invocação… Não, muito sem graça. Hmm?

Em algum momento, enquanto eu estava ocupado bolando ideias, meus arredores ficaram cobertos por uma névoa branca.

— Ei, isso aconteceu ontem também… Que tempo esquisito estamos tendo.

Eventualmente, minha visão fica completamente branca, e me encontro em um espaço branco que parece se estender para sempre.

— Hmm? O que está acontecendo?

Isso é coisa de fantasia. Fui teletransportado para algum lugar completamente diferente. E se me lembro corretamente, a mesma coisa aconteceu lá no Santuário…

— Quem é você? — Uma voz pergunta.

É uma garota parada no espaço branco. Ela é um pouco mais nova que eu e usa um vestido todo branco. Seus olhos são de um lindo tom violeta.

— E aí — respondo. — Quanto tempo.

A idade dela mudou, mas eu a reconheceria em qualquer lugar. É Violet.

— Quem é você? Um novo pesquisador? — Ela pergunta.

— Espera, você não se lembra de mim?

— E-eu não te conheço.

— Ah sim, é verdade. Você mencionou algo sobre suas memórias.

— Fique longe…

A jovem Violet parece desconfiada.

— Ei, não precisa ter medo. Não sou exatamente um mocinho, mas com certeza não sou nenhum vilão covarde.

— O-o que você está fazendo aqui?

— Não sei. Num minuto eu não estava aqui, no minuto seguinte eu estava. E você?

— Eu… eu… Unghhhhh… — Ela agarra a cabeça e geme.

— Você está bem?

— Eu sou… Por quê…? AhhhhhHHHHHHHHHHHH!

Ela arranha a cabeça e grita.

Parece que ela está com dor.

— Você não precisa se forçar a lembrar se não quiser. Eu esqueço coisas o tempo todo. Quero poder focar no que realmente importa, então esqueço as coisas que não importam para economizar espaço de memória no meu cérebro.

— E-eu… Não… Pare com isso, faça parar… Nãoooooooo!!

Enquanto ela grita, começa a liberar quantidades tremendas de magia.

— Cuidado aí. Como eu disse, não precisa lembrar se não quiser.

Eu me defendo das explosões mágicas de Violet e caminho em direção a ela.

— FIQUE LOOOOOOOOOOOOOOOONGE!!

— O que há com essa magia?

Devo dizer, estou chocado. A Violet adulta também era incrível, mas isso está em um nível totalmente diferente. Ainda assim, desviar de ataques mágicos tão simples é muito fácil . Avanço, mudando seus vetores antes de agarrá-la.

— Não, não, não, não, NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOO!!

— Vai ficar tudo bem.

Seguro Violet com força e derramo magia nela. É o mesmo esquema de quando estou curando a possessão – quanto maior a área de superfície que estou cobrindo, mais eficiente é.

— Me solta… Me solta…

— Pode esquecer tudo o que não quiser lembrar.

Continuo derramando magia nela e, eventualmente, suas explosões se acalmam. Ela relaxa e fica mole.

— Mas… e as coisas que não consigo esquecer? — Ela pergunta baixinho.

— Não sei. Mas se você se esforçar muito para não se lembrar delas, provavelmente vai acabar esquecendo.

— …Mas não consigo.

— Bem, que pena. Mas você se acalmou agora, né?

— S… sim.

Solto Violet, e ela baixa a cabeça, envergonhada.

— Legal. Agora, como saio daqui?

— …Você vai embora? — Ela diz.

Quando me afasto, Violet me segue com passinhos curtos.

— Eventualmente, sim. No momento, estou tentando descobrir como.

O espaço branco parece continuar para sempre. Não há saídas óbvias.

— Todo mundo sempre me abandona. — Violet entoa.

— Qual é, tenho certeza que isso não é verdade.

— Todos eles morreram.

— Ah. Bem, isso acontece às vezes.

— Você vai morrer também?

— Não.

Ainda tenho uns bons seiscentos anos pela frente, e continuo procurando uma forma de aumentar esse número.

— Mentiroso.

— Sim, talvez.

— Por favor, não vá.

— …Sabe que se eu encontrar uma saída, você pode simplesmente vir comigo, certo? Seria mais fácil se eu pudesse explodir o lugar todo, mas tenho certeza que vou descobrir alguma coisa.

Da última vez que tentei isso, a Violeta Adulta acabou desaparecendo também.

— Não posso sair daqui.

— Ah, que pena.

— Por favor, não vá.

— …Tenho certeza que nos encontraremos de novo.

— Mentiroso.

— Isso não é mentira.

— Então… me dê aquilo. — Violet aponta para o meu bolso.

Enfio a mão e tiro a joia vermelha.

— Não sei. É minha.

— É tão quentinho. Me faz sentir mais calma.

— Você sabe que é só uma joia, certo?

— Não é. É algo muito mais precioso.

— É?

— Sim.

Então ouço o barulho de uma porta se fechando.

O corpo inteiro de Violet estremece.

É estranho, porque este lugar não tem portas, mas com certeza acabei de ouvir uma.

— Que diabos? Para onde ela foi?!

Consigo ouvir uma voz também.

— Você está se escondendo em algum lugar?! Número…!

— E-eu preciso ir.

— Ei, espere um segundo.

Rachaduras começam a se espalhar pelo espaço branco.

— Pare com essa palhaçada!! Não me faça te machucar de novo…

— Espere, eu ia te dar…

Agarro a mão dela, e o espaço se estilhaça em um milhão de pedacinhos.

— …isto.

A joia vermelha que tento entregar a ela rola pelo ar.

Estou de volta ao telhado de onde vim.

A névoa branca, o espaço branco e a garota de vestido branco sumiram.

A joia faz um pequeno barulho ao atingir o chão, e eu a pego e guardo de volta no bolso.

— Será que a Violet está por perto?

Lanço uma onda de partículas mágicas e procuro por sua presença.

No entanto, não a encontro. Mas localizo algo…

— Essas presenças são Claire e Alexia?

O que será que elas estão fazendo lá embaixo?

***

— Está aberto. Vamos, por aqui.

Sob o luar, duas figuras sombrias esgueiram-se para dentro da biblioteca por uma janela.

São Alexia e Claire.

Alexia entra primeiro e, sem muita habilidade, inspeciona o local.

Então…

— Ei, você está no caminho.

— Ai!

…Claire aterrissa em cima dela.

— O que você pensa que está fazendo? O plano todo era eu verificar se estava seguro primeiro. — Alexia resmunga baixinho debaixo dos pés de Claire.

— Enrolar nos coloca em mais perigo de sermos descobertas do que qualquer outra coisa. Agir com rapidez dá um ritmo acelerado ao plano.

— Ah, esquece. Só saia de cima de mim.

Depois de empurrar Claire para o lado, Alexia se levanta.

— Vamos, Alexia, precisamos nos mexer. Temos que fazer isso funcionar, não importa como.

— Bem, alguém está motivada.

— Tenho um motivo pelo qual não posso perder. Tenho um lugar para onde preciso voltar agora. — Claire cerra os punhos com força, os olhos cheios de convicção.

— …Não entendi muito bem, mas é bom saber que você está motivada.

Alexia assume a liderança, indo mais fundo na biblioteca e destrancando a porta dos fundos.

— Onde você conseguiu essa chave? — Claire pergunta a ela.

— Ser princesa tem suas vantagens.

— Legal. E esta é a seção proibida?

Lá dentro, o cômodo está repleto de altas estantes de livros.

— Não, isto é apenas um depósito. A seção proibida fica mais para trás.

Alexia caminha até uma das estantes.

— Aquilo é enorme — comenta Claire. — Isso é escrita antiga?

— Esta estante é um artefato mágico, e uma das histórias que meu pai lia para mim quando criança continha o encantamento para ela.

— O quê?

Alexia respira fundo. 

— Bibbidi-bobbidi, abre-te sésamo!

O silêncio que se segue é ensurdecedor.

— Por favor, pare de brincar.

— N-não estou brincando! Estou falando sério! O encantamento deveria abri-la!

— Isso é ridículo.

— Talvez eu tenha errado o cântico. Será que era “xulim xulim”…?

No momento em que as palavras saem de sua boca, a estante se abre com um estrondo alto.

— Espera… aquilo realmente funcionou?

— Parece que era pra ser “xulim”! — Alexia diz com um sorriso convencido.

— Certamente foi o primeiro, e só demorou um pouco porque é muito antigo.

As duas atravessam a estante aberta.

— Uau…

Quando entram na seção proibida, soltam gritos de espanto. Há um lustre deslumbrante iluminando as imponentes estantes lá dentro e, embora os livros que abrigam sejam velhos e desgastados, isso só serve para lhes dar mais personalidade.

— Então, como vamos saber qual livro é sobre a história da academia? — Claire pergunta.

Ela percorre com o olhar a aparentemente interminável fileira de lombadas de livros. Se tiverem que examiná-los um por um, acabarão gastando a noite inteira.

— A gente reza — diz Alexia.

— Não é hora de brincar comigo.

— Não estou, juro! Só temos que fazer isto… — Alexia começa a agitar os braços ao lado da cabeça como uma lunática.

— O que diabos você pensa que está fazendo?

— Criando o clima. Livro de história da academia, livro de história da academia, livro de história da academia… Xulim donguim!

— Isso é ridículo.

No momento seguinte, porém, um raio de luz dispara, e um livro vem voando para baixo. Ele para em frente ao rosto de Alexia e então se abre em sua primeira página, sozinho.

— Você só pode estar de brincadeira…

— Viu? Eu te disse.

— Que artefato estúpido. Tenho muita vontade de simplesmente quebrá-lo.

— Por favor, não. É tão fofo e tão útil.

Claire franze a testa, irritada. 

— Então, o que diz no livro?

— Não sei. Não consigo ler.

— Deixa eu ver… Ah, escrita antiga de novo.

— Consigo ler coisas simples, mas isso está um pouco além da minha capacidade. E você?

— Eu também só sei o básico. Não é uma matéria muito popular. Praticamente só os alunos de exatas a escolhem.

— Sim, imaginei.

— Então, o que faremos?

— Acho que isso pede por… Xulim donguim, por favor, traduza para nós! — Alexia grita com uma voz fofa e faz um formato de coração com as mãos.

— Eca, não seja esquisita. De jeito nenhum isso funcionaria.

— Não saberemos até tentarmos. Quem sabe que tipo de funções úteis ele tem?

Uma voz sinistra ecoa da seção proibida. 

— V-v-vocês querem uma tradução, é? Hurr-hurr-hurr…

— Espera aí, ele fala?!

— Quem está aí?

Claire e Alexia olham ao redor, mas são as únicas ali.

— E-e-eu sou o espírito das pilhas proibidas. E-eu posso traduzir para vocês.

— Bem, ei, esse é o artefato premiado da academia para você.

— Argh… Parece um gordão total.

— Qual é, Claire, não seja má.

— Snff… A-agora não sinto mais vontade de traduzir…

— Olha, está emburrado.

— Tudo bem, tudo bem! Desculpe.

— Senhor Pilhas Proibidas, poderia por favooooor traduzir para nós?

— Hunf, hunf, hunf… E-eu farei o meu melhor! Q-qual parte vocês querem traduzida?

— Bem, esperávamos descobrir onde o braço direito de Diablos está selado.

— O-o-oh, está debaixo da escola. Nas ruínas subterrâneas.

— Uh… ok, então. Isso foi fácil…

— Estou surpresa com o quão competente ele é.

As páginas do livro proibido flutuante viram, e o texto traduzido brilha no ar diante dele.

— Era uma vez, Diablos lutou contra os heróis aqui. Seu braço foi cortado e selado neste lugar. Muitas outras coisas aconteceram, e agora a área está em ruínas.

— Que tipo de outras coisas?

— Aparentemente, as pessoas lutaram pelo braço. O livro não tem muitos detalhes, mas terminou com as ruínas subterrâneas sendo escondidas.

— Como entramos nas ruínas?

— H-há uma igreja selada em algum lugar no campus. Tudo o que você precisa fazer é ir até lá.

— E onde exatamente fica “em algum lugar”?

— Hunf, hunf, hunf… E-eu não posso te dizer nada que não esteja escrito no livro.

— Tch, você é inútil… — Alexia estala a língua. — Bem, pelo menos agora sabemos o que o Culto está tramando. Estão tentando liberar o braço direito.

— Então por que estão sequestrando estudantes?

— Para desfazer o selo, provavelmente. É mais fácil desfazer esses selos com magia similar à mana usada para criar o selo em primeiro lugar.

— Então estão caçando estudantes para tentar encontrar pessoas com magia compatível. Devemos procurar a igreja selada?

— …Antes disso, preciso falar com minha irmã. — Há uma clara nota de determinação na voz de Alexia.

— Ah, é verdade, você faz parte da família real. Por que não fez isso desde o começo?

— Você realmente acha que eu não fiz?

— Hã?

— Eu conto pra ela sobre essas coisas constantemente. Contei sobre o incidente na escola, sobre o que aconteceu no Santuário, tudo.

— Alexia…

— Mas desta vez… Desta vez, finalmente tenho provas, e Iris finalmente acreditará em mim.

— E-estou torcendo por você, Alexia!

— Cala a boca, gordão. — Alexia encara com um olhar que poderia matar.

— E-eep…!

— Alexia… devíamos sair daqui. Se ficarmos muito tempo, alguém vai nos encontrar.

— Boa ideia. Mas antes disso, este lugar tem algum livro sobre o Culto de Diablos?

Segue-se um breve silêncio.

— …Aqui não.

— Ok… Então acho que é isso.

— Até mais.

— T-tchauzinho… Cuidem-se, vocês duas…

Claire e Alexia sentem seus corpos envoltos em magia e, no instante seguinte, estão de volta ao depósito original.

— Assim que ela vir este livro, Iris não terá escolha a não ser… — diz Alexia, apertando o contrabando contra o peito e saindo da sala. Assim que o faz…

— E o que você pensa que está fazendo, pegando um livro proibido sem permissão?

— ?!

Alexia e Claire se viram em uníssono.

Há um homem velho e alto parado atrás de uma estante. Seu rosto é longo e estreito, e seus olhos fundos praticamente saltam das órbitas enquanto ele as encara.

— V-você é o bibliotecário-chefe… — Alexia esconde o livro atrás das costas, mas já é tarde demais para isso.

— Pegar um livro proibido sem permissão é um crime grave, Alteza, mesmo para alguém como você. E isso vale em dobro para sua cúmplice não real.

Claire faz uma careta quando o olhar do homem pousa sobre ela.

Ela vai ser suspensa, talvez até expulsa. Seu irmão pode até sofrer algum dano colateral.

— Deveríamos matá-lo…? — Ela pergunta baixinho. Não há hesitação em seus olhos.

Alexia apressadamente a empurra para o lado. 

— O-olha, senhor Bibliotecário, temos uma razão muito boa para isso! Poderia ao menos nos ouvir?

— Por você, Alteza, como eu poderia recusar?

— Obrigada. Agradeço muito.

— Conheço um lugar onde podemos conversar. Sigam-me.

Com isso, o bibliotecário-chefe sai da biblioteca. Enquanto Alexia o segue, ela lança uma pergunta sussurrada por cima do ombro para Claire. 

— Ok, mas que diabos foi aquilo?

— Se eu for presa, as pessoas vão implicar com o Cid! Vão fazer bullying com ele e dizer que a irmã dele é uma criminosa! Ele é tão delicado, pode até acabar se matando…

— Ele não vai. Ele realmente, realmente não vai. — Alexia solta um suspiro.

— Tentem acompanhar o ritmo, Alteza. — O bibliotecário-chefe insiste.

— Não se preocupe, estamos indo. — Alexia puxa Claire pela mão e corre atrás do homem.

— Desculpe, mas até onde exatamente você está nos levando? — Alexia pergunta ao bibliotecário-chefe. Ela consegue ver sua figura alta seguindo pelo corredor escuro.

— Estamos quase lá. — Ele responde.

— Poderíamos ter conversado em uma das salas de aula, sabe?

— …Então vamos fazer isso aqui, que tal?

Com isso, o bibliotecário para. Ele está bem no meio do corredor.

— Aqui? — Alexia pergunta.

— Ora, sim. Os preparativos estão concluídos.

Ele se vira com um leve sorriso.

Alexia não gosta nem um pouco daquele sorriso. Ela franze a testa.

— Alexia… — Atrás dela, Claire toca seu ombro. — A névoa…

— O quê? — Alexia olha ao redor e descobre que o corredor inteiro está envolto em névoa branca. — Por que tem névoa aqui dentro?

A névoa rapidamente se adensa, e um barulho de algo quebrando ecoa de um lugar fora de vista.

— Isso é como o que aconteceu quando fui atacada…

— É?

Então o mundo se fratura.

O som de vidro se quebrando ecoa enquanto o cenário se despedaça em um milhão de pedacinhos.

— O-o que está acontecendo?!

Eles estavam apenas em um dos corredores da academia, mas seus arredores mudaram completamente.

Agora estão em um mundo envolto por névoa branca.

Um cheiro doce paira no ar.

— Prepare sua espada, Alexia — Claire insiste.

Alexia faz exatamente isso.

— Estamos cercadas.

— Hã?

Alexia procura por sinais de pessoas e descobre um grupo delas esperando na névoa. O grupo se aproxima lentamente, mantendo um olhar atento sobre elas, e não parece que vêm em paz.

— Boa observação, Claire.

— Minha amiga espírito é boa nessas coisas.

— Ah, entendi. — Alexia então vira sua espada em direção ao bibliotecário-chefe e baixa a voz ameaçadoramente. — Agora, quanto a você, amigão.

O bibliotecário permanece na névoa com o mesmo sorriso fino. 

— Em que posso ajudá-la, Alteza?

— O que exatamente você pensa que está aprontando aqui?

Alexia não é boba, e qualquer confiança que ela tinha nele já se foi pela janela há muito tempo.

— Oh, céus. Você é mais esperta do que eu esperava. — O bibliotecário saca um par de facões grandes, um para cada mão.

— Bem, essas são coisas velhas e medonhas. Um bibliotecário como você não deveria estar lutando com caneta e papel?

— Caneta e papel são para representar ideais. A realidade é forjada com a lâmina.

Com isso, ele brande seus facões gêmeos.

— Eu cuido do bibliotecário — diz Alexia. — Claire, você cuida dos outros.

— Entendido.

As duas ficam de costas uma para a outra com as espadas em punho, e a luta começa.

Um par de golpes de facão surge da névoa. Alexia recua meio passo para evitar o primeiro golpe, e então defende o ataque seguinte com sua espada.

— Oh?

Enquanto os olhos do bibliotecário se arregalam, Alexia lança uma contraofensiva. Sua forma é fluida e inabalável, e sua espada causa um ferimento superficial no rosto dele.

— Bem, isso não é nada mau? — O bibliotecário recua para onde começou e limpa o sangue que escorre por sua bochecha. — Devo dizer, estou chocado. A Princesa Alexia que conheço nunca teria sido capaz de tais movimentos.

Não há nada em sua voz além de elogio genuíno.

— Chame isso de um estirão de crescimento. — Alexia responde.

— Mesmo assim, isso é maravilhoso. Espadas carregam consigo o peso da vida de seus portadores. Antes, tudo o que você fazia era imitar a Princesa Iris. Agora, porém, você pegou esse instinto e o sublimou. Não, talvez fosse mais preciso dizer que você o combinou com outra coisa.

— Você realmente acha que tem tempo para ficar me psicanalisando?

— Oh, com certeza.

— Mesmo agora?

Esse último comentário vem de Claire.

Várias figuras jazem amassadas no chão ao redor dela. Uma por uma, elas se estilhaçam e desaparecem.

As sobrancelhas do bibliotecário-chefe se franzem em surpresa. 

— Você eliminou todos os sete Segundos? Claire Kagenou… Você venceu o Festival Bushin deste ano. Você não era nem de perto tão forte naquela época, mas agora está usando algum tipo de poder estranho.

— …Você percebeu?

— Eu vi você usar aqueles tentáculos vermelhos, sim. Que intrigante.

Mesmo quando estava lutando contra Alexia, ele ainda mantinha um olhar atento sobre a luta de Claire.

Alexia e Claire enfrentam o bibliotecário-chefe.

— Agora é dois contra um.

— Parece que o jogo virou.

O bibliotecário parece estranhamente seguro de si. 

— Parece mesmo?

— Você é forte, mas juntas, podemos te derrotar.

— Ah, ser jovem.

— Bem, alguém está bem confiante.

— É porque eu desisti.

— O quê?

— Desisti da esgrima. Nosso mundo é grande, e não importa o quão bom você se torne, sempre haverá alguém melhor. É por isso que gosto de ver esgrima talentosa como a de vocês. Tenho certeza que vocês duas me superarão em pouco tempo.

— Se você desistiu, então se renda logo. Faremos você cantar como um passarinho.

O comentário de Alexia arranca um sorriso fraco de seu inimigo.

— Ah, a tolice da juventude. Se vocês apenas abandonassem sua fixação pela esgrima, perceberiam que existem muitas outras maneiras de lutar.

— Hã?

Um cheiro doce faz cócegas em seu nariz.

Então, com um par de clangores sobrepostos, as espadas de Alexia e Claire caem no chão.

— O quê…?

— M-meus braços…

— Esse cheiro doce é uma droga que relaxa os músculos e sufoca sua magia.

O bibliotecário olha para as duas enquanto elas caem de joelhos, incapazes de resistir ao efeito da droga.

— Maldito seja… Pensei que devíamos lutar com espadas.

— Vocês duas são cheias de talento, e seus futuros são brilhantes. É por isso que homens como eu vêm e roubam tudo.

O bibliotecário tira uma corda e amarra os braços delas.

— Por quê…? — Alexia pergunta. — Por que você está fazendo isso…?

— Essa é a questão, não é? — Ele responde.

— Você obviamente é forte, então por que se rebaixar assim?

— Eu te disse, sempre há alguém mais forte. Minha espada quebrou há muito tempo.

— Quebrou? O que isso quer dizer, afinal?

O bibliotecário adquire um olhar distante. 

— Era uma vez um cavaleiro das trevas chamado Fenrir. Já ouviu falar dele, por acaso?

— Nunca.

— Oh, suspeito que sim. Não há uma pessoa viva neste país que não tenha.

Alexia pensa em todos os participantes anteriores do Festival Bushin e nos cavaleiros das trevas que fizeram nome em outras nações, mas não consegue se lembrar de nada. 

— Um cavaleiro das trevas chamado Fenrir… Você não está falando do cara da lenda, está?!

— Exatamente. Ele já foi conhecido no mundo inteiro e aclamado como o maior cavaleiro das trevas vivo.

— Ok, espere aí! O cavaleiro das trevas Fenrir viveu centenas de anos atrás! Além disso, as pessoas nem têm certeza se ele realmente existiu.

— Oh, ele existiu, sim. E mais, ainda está vivo hoje.

— Mas se ele ainda está vivo… Você quer dizer que ele está usando as Lágrimas de Diablos?! — Alexia recorda o que aprendeu no Santuário — sobre como existe um grupo chamado os Noturnos que usa as Lágrimas de Diablos para obter a vida eterna.

— Você já sabe sobre as Contas? Bem, agora realmente não posso deixar você viver.

— O que você vai fazer conosco?

— Oferecê-las como sacrifícios. Estávamos planejando deixar vocês duas em paz, mas mal conseguimos recuperar algum possuído ultimamente.

O bibliotecário retira um frasco de líquido do bolso e o leva à boca de Alexia. Dele emana um aroma intensamente doce.

— Vá para a terra dos sonhos agora. Para um sono do qual você nunca acordará.

— Rgh…

Alexia prende a respiração e vira a cabeça, mas mesmo assim, sua consciência lentamente mergulha na escuridão.

— Alexia!

— Cl…aire…

Foi quando aconteceu.

Ouve-se um barulho como algo sendo rasgado à força. Parece que uma pressão poderosa está rasgando o próprio mundo.

Então o teto se estilhaça.

— O que é isto? O que está acontecendo? — O bibliotecário pousa seu frasco e olha para cima.

Uma figura sombria desce de uma fenda no teto. Após aterrissar com um som estranhamente abafado, a figura se levanta.

— Você…

— É você…

O homem está sozinho na névoa, vestido com um longo casaco preto.

— Shadow!!

Seu longo casaco esvoaça atrás dele enquanto ele casualmente desembainha sua espada.

O bibliotecário prepara seus facões com uma careta severa. 

— Não posso dizer que esperava Shadow aparecer pessoalmente… Ninguém sequer me avisou.

Shadow lhe lança um olhar fulminante. 

— Você é repulsivo.

— E o que em mim é repulsivo, posso perguntar?

— Tudo.

— …Bem, pode dizer isso de novo. — O bibliotecário faz uma careta, e então solta uma risada que ecoa com autodesprezo. — Minha vida não correu como eu esperava. Fui levado pela correnteza, e isso me quebrou. Agora vivo envergonhado. Se você me acha repulsivo, não tenho nada a oferecer em minha defesa. — Ele diz calmamente. — No entanto, houve significado na vergonha.

— …Oh?

— Aí está você, Shadow, parado no final da minha jornada. Um fim adequado para um tolo lamentável que teve sua espada quebrada e traiu sua nação.

— Você fez as pazes, então.

— De certa forma, eu sabia que isso aconteceria desde que Zenon bateu as botas. Aqui no final, porém, eu me apresento diante de você como um espadachim – agora, prepare-se.

Ele afasta a névoa com seus facões enormes e avança sobre Shadow.

As palavras do bibliotecário ecoam na mente de Alexia: “Espadas carregam consigo o peso da vida de seus portadores.”

E quão radiantemente seu golpe brilha.

— Excelente material.

Shadow interpõe sua espada no caminho daquele brilho.

Isso é tudo o que é preciso.

Transitórios e frágeis, os enormes facões se estilhaçam em pedaços.

— Eles se estilhaçaram, não foi?

Nada resta além dos cabos, que emitem um par de baques tristes.

Shadow brande sua espada.

Um instante depois, a pressão pura de seu golpe varre a névoa. Rachaduras começam a se espalhar pelo mundo, e então ruidosamente engolfam tudo à vista.

O mundo se quebra.

Assim, eles estão de volta ao seu mundo original, como se tudo não passasse de um sonho. No entanto, a poça de sangue em que o bibliotecário caído agora jaz serve como prova de que tudo realmente aconteceu.

O bibliotecário tosse, lançando respingos de sangue de sua boca. 

— Bem, Shadow… Parece que não fui páreo para você…

— Ainda não vislumbrei o ápice.

Com um farfalhar de seu longo casaco preto, Shadow desaparece.

— Aquilo foi do que Shadow é capaz? — Claire murmura. Um arrepio percorre sua espinha. O bibliotecário-chefe era uma potência, e ele ficou completamente impotente diante da força de Shadow.

— Ele ficou ainda mais forte… — diz Alexia, irritada.

As duas se levantam depois de trabalharem juntas para desfazer seus laços.

Elas olham para a figura do bibliotecário.

— Senhor Bibliotecário…

— Estou… sem salvação.

Há um ferimento profundo em seu peito.

— Você já foi um cavaleiro das trevas bem famoso, não foi? — Alexia não consegue evitar a pergunta. Aquele último ataque dele tinha uma beleza que só os verdadeiramente talentosos poderiam alcançar.

O bibliotecário balança a cabeça. 

— Não… Apenas um Zé Ninguém qualquer.

O homem está mentindo. Até Alexia percebe isso. Ela olha para os braços dele e vê cicatrizes antigas gravadas em sua carne. 

— O que aconteceu com seus braços?

— Foram decepados. O Culto usou sua tecnologia para recolocá-los, mas nunca mais foram os mesmos. Antigamente, eu conseguia empunhar uma lâmina muito mais sutil.

— Quem os cortou?

— Fenrir. Foi nesse dia que minha espada quebrou.

— Se importaria se eu perguntasse o que aconteceu?

O bibliotecário olha para o ferimento em seu peito. 

— Muito bem… Vou compartilhar a história com vocês, até meu último suspiro.

Alexia e Claire sentam-se ao lado dele.

— Minha história começa há uns cinquenta anos, quando eu trabalhava para a Ordem dos Cavaleiros desta nação… — Ele olha pela janela do corredor para o céu noturno agora livre de névoa, revirando velhas memórias enquanto o faz. — Entrei para a Ordem depois de vencer o Festival Bushin. Lá, corrigi injustiças, prendi vilões e garanti um futuro para mim.

— Viu só, eu sabia que você era um cavaleiro das trevas notável — diz Alexia.

— Zelo era a única coisa que eu tinha de sobra, e isso me levou a descobrir evidências de irregularidades muito acima do meu nível. Encontrei vermes infestando o Reino de Midgar… não, o mundo inteiro. Imagino que você tenha descoberto a mesma coisa, Alteza.

— …O Culto de Diablos.

— Exatamente. Na época, eu não sabia que eles existiam. Pensei que os sacerdotes dos Ensinamentos Sagrados tinham apenas se rebelado, e então marchei direto para a Igreja.

— Para a Igreja?

— Eu era tão jovem naquela época. Acreditava que, contanto que tivesse a justiça do meu lado, poderia fazer qualquer coisa. Lá estava eu, tão certo de que estava prestes a descer o martelo da justiça sobre a Igreja corrupta.

“Meus homens e eu revistamos o prédio, na esperança de encontrar provas concretas de seus crimes.”

“No entanto… o clero comum não tinha nada a ver com isso. A devoção deles era verdadeira, e tudo o que faziam era espalhar os ensinamentos da Igreja. E os fiéis eram iguais. Acreditavam nos Ensinamentos Sagrados de todo o coração.

Descobriu-se que os crimes estavam sendo cometidos por apenas um pequeno segmento da liderança do clero.

Depois de vigiar pacientemente os sacerdotes, descobrimos que havia uma câmara secreta escondida debaixo da igreja. Após descermos uma longa escadaria, fomos recebidos por uma visão horrível.

Lá embaixo na câmara, havia inúmeros possuídos em decomposição, trancados e chorando em agonia. Todos eles tinham sido feridos, e alguns tinham tido algo horrível implantado neles.

Enquanto os encarávamos horrorizados, ouvimos a porta se fechar atrás de nós.

Era uma armadilha.

Senti hostilidade e imediatamente me movi para me proteger. O golpe poderoso que veio em seguida me arremessou pelos ares, e eu deslizei pelo chão.

Quando me levantei, vi meu braço esquerdo decepado, os cadáveres dos meus homens decapitados… e o cavaleiro das trevas Fenrir, parado no centro de tudo.

Ataquei-o, cedendo à minha raiva enquanto agarrava minha espada com a mão que me restava. Foi assim que perdi meu braço direito também.

O Culto de Diablos não era estranho a ter que lidar com justiceiros como eu.”

Ele baixa o olhar para as velhas cicatrizes em seus braços.

— O poder dele era avassalador. Enquanto eu jazia ali, indefeso, Fenrir trouxe uma mulher inconsciente diante de mim. Era minha esposa. Eu era um vencedor do Festival Bushin e um membro proeminente da Ordem dos Cavaleiros, então o Culto achou que eu poderia ser valioso para eles. Vendi minha alma a eles em troca da segurança da minha esposa.

— O que aconteceu com ela? Se ela estiver segura, prometo que a protegerei.

— Felizmente, ela morreu de velhice sem nunca saber a verdade.

— E você nunca tentou desafiá-los?

O bibliotecário-chefe balança a cabeça tristemente. 

— Qualquer vontade de resistir que eu tinha foi cortada no mesmo golpe que decepou meus braços. Preste atenção, Alteza. O caminho que você trilha é o mesmo que eu trilhei, e em seu final jaz o desespero e uma escuridão que nunca acaba.

Seu olhar penetra Alexia, mas ela o encara sem vacilar. 

— Isso não muda o que devo fazer. Como princesa, tenho um dever para com esta nação.

O bibliotecário a encara, maravilhado. 

— Você se tornou uma jovem excelente. Nesse caso, tenho uma última coisa para lhe dizer… — Sua respiração está superficial, e um fio de sangue escorre pelo canto de sua boca. — Diga-me, Alteza… você sabe qual é o objetivo do Culto?

— Eles querem ressuscitar o demônio Diablos, não querem?

— Deixe-me reformular. Você sabe por que eles estão tentando ressuscitá-lo?

— Bem, isso é porque, uh…

Alexia fica sem palavras. Ela sabe o que o Culto está tentando fazer, mas nunca parou para considerar o porquê.

— Existem duas razões. A primeira é obter mais poder. As três heroínas eram todas mulheres, e os possuídos também são todos mulheres. As células de Diablos só responderam a mulheres. É por isso que o Culto foi forçado a depender dessas pílulas defeituosas para ganhar força.

O bibliotecário tira algumas pílulas vermelhas.

— Foram essas que Zenon usou — observa Alexia.

— Ele era um tolo, aquele meu pupilo.

— Por que você não as usou?

— Porque fazer isso é envergonhar-se como um cavaleiro das trevas. No entanto, o Culto viu potencial nelas. Estão tentando aperfeiçoá-las, criar uma versão mais potente sem os efeitos colaterais. É por isso que passaram tantos longos anos pesquisando o sangue dos heróis. Se ressuscitarem Diablos, provavelmente conseguirão atingir seu objetivo e obter um poder que supera até mesmo o dos heróis.

— Não gosto nada disso.

— No entanto, a segunda razão do Culto é a mais premente das duas. Você conhece as Lágrimas de Diablos, correto?

— Dizem que concedem vida eterna, certo?

— Bem, o Culto só consegue colher doze por ano. Ingerir uma Lágrima impede que você envelheça durante o ano seguinte, mas no momento, a quantidade que eles conseguem produzir está diminuindo.

— O que você quer dizer com “está diminuindo”?

— Não sei o que está causando isso, mas se as coisas continuarem assim, não vai demorar muito para que percam essa vida eterna deles. Isso é algo que a liderança do Culto absolutamente não pode permitir que aconteça. Eles querem ressuscitar Diablos para poderem voltar a produzir Lágrimas em massa e garantir suas vidas eternas. O Culto tem governado o mundo das sombras por muito tempo, e sua liderança imortal é o que mantém sua operação inabalável. Se perderem as Lágrimas, porém, essa fundação vacilará… Koff.

O bibliotecário para um momento para estabilizar a respiração, e então olha para a lua pairando no céu noturno.

— Não acho que seja coincidência que esta seja a era em que o Jardim das Sombras apareceu. Este é o começo do fim para o longo reinado do Culto. É por isso que você deve pros… seguir com cautela. Essas pessoas estão realmente… defendendo a paz e lutando por justiça?

Alexia não tem resposta para isso. Tudo o que ela sabe sobre o Jardim das Sombras é que eles se opõem ao Culto. Fora isso, tudo sobre a organização é envolto em mistério.

— Eles podem simplesmente… estar tentando roubá-lo do Culto…

— Roubá-lo? Roubar o quê? — Alexia pergunta ao bibliotecário-chefe.

— Vida eterna… E também… o próprio mundo… Koff, kaff!!

— Senhor Bibliotecário…

— P-Princesa Alexia… — Ele inspira com dificuldade enquanto engasga as palavras. — O destino de Midgar… está em suas mãos…

E com isso, ele dá seu último suspiro.

***

Uma bela jovem de cabelos ruivos flamejantes inspeciona o cadáver do bibliotecário.

A mulher é Iris Midgar, uma das princesas do Reino de Midgar, assim como irmã mais velha de Alexia. Alexia mandou Claire para casa e foi explicar à Ordem dos Cavaleiros o que havia acontecido.

— Pouco antes de morrer, o bibliotecário me contou o que o Culto estava planejando. Foram eles que estiveram por trás dos desaparecimentos, e estão tentando liberar o braço direito de Diablos que está aqui no…

— Já chega — diz Iris, interrompendo Alexia.

— Hã?

— Cansei de ouvir essas bobagens.

— B-bobagens? — Alexia repete, perplexa.

Iris lhe lança um olhar severo. 

— Escute-me, Alexia. O Culto de Diablos não existe.

— Não existe? Iris, do que você está falando? Você me jurou que investigaríamos o Culto juntas…

— E através dessa investigação, descobrimos que o Culto de Diablos não existe.

Essa afirmação não vem de Iris, mas sim do homem alto ao seu lado. Ele tem olhos de serpente e pele pálida, ambos vagamente perturbadores.

— E quem é você? — Alexia pergunta.

— É um prazer conhecê-la, Princesa Alexia. Sou Adder, vice-capitão da Ordem Carmesim.

— Ele é o sucessor de Glen — acrescenta Iris. — Seus talentos têm sido um grande trunfo para nós.

— Vossa Alteza me lisonjeia — diz Adder, sorrindo levemente ao elogio de Iris. — Agora, queria saber sobre a inexistência do Culto? Bem, reunimos muitas provas.

— A coisa toda é uma farsa do Jardim das Sombras.

— D-desculpe, o quê?

— O Jardim das Sombras cometeu inúmeros crimes — explica Adder. — Eles sequestraram você, Princesa Alexia, atacaram a escola, destruíram o Santuário e massacraram multidões de pessoas no Reino de Oriana. E ouvimos dizer que há ainda mais vítimas pelo mundo.

— Mas foi o Culto de Diablos que esteve por trás de tudo isso!

— O Jardim das Sombras inventou o Culto. Para encobrir seus próprios crimes, inventaram uma organização criminosa que na verdade não existe.

— Você realmente acha que alguém vai acreditar nessa baboseira sem pé nem cabeça?!

— Aqui está nossa prova.

— Hã?

Adder entrega a Alexia um documento volumoso. Na capa, lê-se: “Como o Jardim das Sombras Inventou o Culto de Diablos”.

— Um homem de trinta e quatro anos confessou que fingiu ser um adepto do Culto sob ordens do Jardim das Sombras. Eles fizeram sua família refém, então ele não teve escolha a não ser obedecê-los. Uma mulher de vinte e oito anos foi sequestrada pelo Jardim das Sombras e forçada a forjar documentos sobre o Culto de Diablos. Um homem de cinquenta e sete anos foi…

— Isso tudo é palhaçada!! — Alexia joga o documento no chão. — Essas confissões não valem o papel em que estão escritas! Se alguma coisa foi forjada, foi isto!!

— Não seja grosseira, Princesa Alexia. Está acusando estas boas pessoas de falsificar seus testemunhos?

— Nem sequer estou convencida de que eles existem!

— Temos provas materiais também, sabia? Isto aqui prova que o Jardim das Sombras…

— Não aguento mais isso!

Quando Adder tenta entregar algo a ela, Alexia o afasta com um empurrão.

Os olhos de Adder se estreitam.

— Você precisa abrir os olhos, Iris. — Alexia implora. — Por que está ouvindo esse charlatão? Por favor, olhe para mim!

Iris desvia o olhar. 

— É você quem precisa abrir os olhos, Alexia.

— Estou te implorando. Eles estão tentando libertar o braço direito de Diablos!

— O Jardim das Sombras te enganou. Todas aquelas pessoas que você achava que trabalhavam para o Culto estavam agindo como outro braço deles.

— Você está errada, Iris!! Precisa me ouvir!!

Enquanto Iris vira as costas para Alexia, Alexia estende a mão para ela.

Tap.

Iris afasta a mão de Alexia com um tapa.

— Mas…

— Meu inimigo é Shadow, e vou atropelar qualquer um que entrar no meu caminho. Até mesmo minha própria irmã.

Com isso, Iris se vai.

— A Ordem Carmesim está ocupada lidando com o Jardim das Sombras — diz Adder, triunfante. — Receio que precisemos nos retirar.

Alexia encara, chocada, enquanto sua irmã se afasta.

Então ela ouve uma voz ao seu lado e se vira para ver um rosto familiar.

— Princesa Alexia…

— Marco…

É um dos membros fundadores da Ordem Carmesim. Ele ainda é jovem, mas Glen confiava muito nele, e Alexia sempre presumiu que Marco seria quem ocuparia o lugar de Glen.

— Sinto muito, Princesa Alexia. — Marco se afasta rapidamente, incapaz de encarar o olhar de Alexia.

— Você também, Marco?

Marco não responde à sua pergunta. Membros da Ordem carregam o cadáver do bibliotecário para longe.

O livro proibido cai da mão de Alexia.

***

Uma cauda dourada balança em meio à névoa branca.

— Hmm-hmm-hmm, hmm-hmm-hmm.

Há até mesmo um cantarolar ocioso.

Os passos graciosos da garota são como os de uma dançarina. Há poças de sangue vermelho ao seu redor, e cada passo que ela dá é acompanhado por um forte barulho de sucção.

— Você certamente está de bom humor, Zeta.

Ao ouvir seu nome, Zeta para de cantarolar no meio da música. 

— Eu estava justamente na melhor parte.

— Minhas desculpas.

— Hmph. — Zeta gira um chakram salpicado de sangue em volta do dedo.

Uma garota baixa e encapuzada emerge da névoa. 

— Se está pensando em jogar isso em mim, por favor, não o faça.

— Não estou. Onde está Victoria?

— Trabalhando no plano.

— Mm.

— Tenho um relatório dela.

— Mmm. — De repente, Zeta para de girar seu chakram e o arremessa para o alto.

Shlunk.

Uma cabeça decepada cai de cima. Ela racha e se estilhaça com uma expressão de choque ainda gravada em seu rosto.

— Bom lugar.

— Mm.

— Tenho um relatório de Victoria.

— Mmm.

— Parece que o Mestre Shadow interveio em nome da Princesa Alexia e da irmã.

— É Claire para você.

O chakram gira, e o capuz da garota esvoaça. 

— Minhas desculpas.

— Certifique-se de que não aconteça de novo. E então? O que ele fez?

— Depois de despachar o bibliotecário, ele as trouxe de volta do Santuário.

— Esperto. Fenrir está encrencado agora.

— Isso mesmo. Ele não tem muitos movimentos disponíveis. Como está o seu progresso?

— Hmm?

— Sabe, analisando o Santuário.

— Ah, terminei.

— Já? Mas só se passaram alguns dias.

— O artefato de Eta é ótimo. — Zeta produz um estranho dispositivo do tamanho da palma da mão. Quando ela o imbui com magia, ele começa a brilhar fracamente. — Ele torna os circuitos mágicos visíveis. Você pode ver para onde eles estão fluindo e o que fazem num piscar de olhos.

Finas veias de luz se espalham para fora. Elas pulsam e levam a um conjunto de pilares de luz vermelha. Dentro de cada um dos quatro pilares, há um estudante da academia conectado a um tubo fino.

— Estão tentando usar a magia dos estudantes para quebrar o selo — explica Zeta.

— Parece que não têm mana suficiente.

— Sim. Precisam de magia de alta qualidade. Dos descendentes dos heróis. Descobri como o Culto selou Diablos e como construíram o Santuário.

— Então acho que terminamos por aqui.

— Mm.

— O que você quer fazer? Se destruirmos os tubos, o selo permanecerá protegido.

Zeta pondera a pergunta da garota encapuzada por um momento.

No entanto, não há necessidade dela fazer isso. Ela já sabe sua resposta. Zeta meramente deseja fortalecer sua própria determinação.

— Deixamo-los em paz.

— Tem certeza disso?

— Fiz minha escolha. — Zeta caminha pela névoa. Depois de passar pelos pilares de luz vermelha e chegar a uma porta maciça, ela pousa a mão sobre ela. — O braço direito está selado logo depois daqui.

— O que você pretende fazer?

— Já que estamos aqui, pensei em prestar minhas homenagens.

— Devemos dar o sinal?

— Se quiser. Zeta, entrando.

Zeta derrama magia na porta.

A porta está coberta por escrita antiga, e está trancada com camadas de correntes grossas.

— Vai abrir? — A garota encapuzada pergunta a Zeta.

— Não sei. Mas sei quem selou o braço do demônio aqui.

— Quem?

— Lá vem ela.

Zeta derrama ainda mais magia.

Quando o faz, a porta pisca em vermelho, e os circuitos mágicos no ar se expandem. Ouve-se um rangido, e a porta começa a vibrar muito levemente.

No entanto, ela não se abre.

Os circuitos mágicos se reúnem em frente à porta, e as luzes finas como veias se aglutinam na forma de uma pessoa.

— Recuar.

— Sim, senhora.

Sob a ordem de Zeta, a garota encapuzada recua completamente.

Eventualmente, as luzes finas desaparecem, revelando uma mulher teriantropa parada em seu lugar. Ela tem cabelos dourados, orelhas de gato douradas, uma cauda dourada e olhos decididamente felinos. Ela tem uma semelhança impressionante com Zeta.

A garota encapuzada engole em seco. 

— Isso é…?

— Prazer em conhecê-la, heroína teriantropa.

— Zeta, que diabos está acontecendo?

— Nada disso é novidade — Zeta diz, com naturalidade.

Nem um instante depois, as garras da heroína teriantropa brilham, e a cabeça de Zeta voa pelos ares.

Depois de girar no ar, a cabeça decepada se transforma em névoa negra e desaparece. Enquanto isso acontece, o torso de Zeta também desaparece.

A névoa negra se funde à névoa branca e, dela, Zeta emerge ilesa. Ela flutua no ar e lança um olhar frio para a heroína teriantropa.

— Mas eu queria verificar novamente. — Ela diz.

A heroína não responde. Ela simplesmente encara Zeta com olhos desprovidos de emoção.

Ainda flutuando no ar, Zeta lança uma pergunta para a garota encapuzada.

— Você se lembra do dia em que conheceu nosso senhor pela primeira vez?

A garota encapuzada pressiona a mão contra o peito. 

— Claro. Como eu poderia esquecer?

— Nem eu. Nunca esquecerei aquele dia.

Zeta encara intensamente a heroína teriantropa como se estivesse vendo o passado distante logo atrás da figura da mulher.

— Eu era apenas uma gatinha minúscula – e nosso mestre me acolheu.

É isso que alimenta a determinação de Zeta.

— Adeus, Heroína. Escolhi um caminho diferente do seu. — Zeta se vira para ir.

A garota baixa e encapuzada a segue apressadamente. 

— Tem certeza disso? Ainda não demos o sinal.

— Mm. Podemos dar da próxima vez. Atingimos nosso objetivo atual. Agora nos escondemos nas sombras e esperamos nosso momento.

— Então esperaremos.

Enquanto conversam, as duas garotas desaparecem na névoa.

A heroína teriantropa as observa partir em silêncio.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Pride

 

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