O dia finalmente chegou.
A instalação subterrânea que antes servia como fábrica de falsificações foi fechada. Restavam apenas alguns funcionários, e todos estavam trabalhando na demolição.
A fábrica cumpriu seu propósito.
— Sr. John, por favor, dê uma olhada nisso…
Como John Smith, fiz o que Yukime pediu e abri a grande porta de ferro.
Dentro, encontrei um monte de moedas de ouro empilhadas até o teto.
— É magnífico…
— Já liquidamos quase todas as falsificações. Satisfatório, não?
A sala no fundo da instalação, que já foi uma prisão usada para confinar minha irmã, foi transformada em um enorme cofre.
Meu coração cantava ao ver a montanha quase incontável de moedas brilhantes.
Ninguém nos encontrou ainda.
A Mitsugoshi e a GAC pareciam ter chegado até a Cidade Sem Lei, mas tenho matado aula na escola, então posso passar vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, impedindo-os de chegar mais perto.
Agora que terminamos, não haverá nada ligando a Cidade Sem Lei à nossa localização.
— Agora, tudo o que precisamos fazer é liquidar as cédulas reais da GAC que preparei e o negócio estará feito. A GAC não tem fundos suficientes para fazer a troca, então a crise de crédito deve começar.
Como Yukime estava trocando as falsificações por ouro, ela também estava estocando cédulas autênticas.
Assim que as negociarmos, a GAC irá à falência.
Afinal, eles ficarão sem reservas. Quando as pessoas descobrirem sobre isso, vão enlouquecer.
— De fato. A quantidade de dinheiro em circulação aumentou, então o valor das mercadorias também começou a subir. No momento, a taxa de inflação está em…
Repeti os números que Beta me falou. O objetivo era impressionar Yukime com o quão experiente e bom em coletar informações eu era.
— E pensar que você, Sr. John, investigou até esse ponto…
— Heh… Fácil, fácil.
— Mais uma vez estou muito feliz por ter unido forças com você. Sem você, este plano nunca poderia ter se concretizado.
— Ei, não fui só eu. Você fez um bom trabalho também.
Yukime sorriu.
— Está me lisonjeando demais.
Estendemos nossas mãos ao mesmo tempo e trocamos um aperto firme.
— Então, vamos deixar isso de lado. Você poderia fazer a gentileza de patrulhar a área entre aqui e a Cidade Sem Lei?
— Pode deixar — eu disse a ela.
— Nesse meio tempo, irei trocar as cédulas verdadeiras.
— Hein?
Isso não parece certo.
— Qual é a razão para você ir pessoalmente?
Com certeza seria mais inteligente ela enviar outra pessoa em seu lugar.
— Há… uma razão para isso. — Yukime desviou o olhar.
Ah, entendi.
Bem, acho que todo mundo tem sua própria estética pessoal que gosta de seguir.
— Talvez seja hora de você ouvir a minha história…
E com isso, Yukime começou a narrar:
— Anteriormente, eu contei a você a história de minha mãe e eu. Mas não é aí que termina. Quando minha mãe saiu para caçar, nossa aldeia foi atacada por uma tribo hostil. Além da minha mãe de três caudas, a maioria dos aldeões não tinha habilidade para lutar, por isso fugiram. Eu me escondi embaixo da minha cama, tremendo. Mas minha porta logo foi derrubada, e um grupo de homens entrou no quarto em que eu estava me escondendo. Eles me arrastaram para fora e, oh, a vulgaridade em seus olhos… No momento em que pensei que era o meu fim, outro homem invadiu pela janela e matou os homens cruéis. O homem, que tinha orelhas e cauda pretas lustrosas, fazia parte do reforço de nossos aliados, o clã Grande Lobo. Ele se apresentou como Gettan e me abraçou com força para conter o meu medo. Eu tinha quatorze anos na época, e ele, dezessete…
Os olhos claros de Yukime pareciam observar o passado.
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Gettan foi o primeiro amor de Yukime.
Após o ataque, o clã Grande Lobo ajudou a reconstruir sua aldeia.
Na época, o grande herói Shiva havia acabado de cair, e as terras dos teriantropos estavam cheias de conflitos. Os clãs mais fortes estavam aterrorizando os mais fracos, buscando poder para suceder Shiva.
Devido às circunstâncias, era natural que as pessoas desejassem formar alianças para solidificar suas posições.
Como resultado, foi decidido que Yukime, filha do único membro de três caudas da aldeia, e Gettan, filho do patriarca dos Grandes Lobos, se casariam.
Dada sua admiração por Gettan, Yukime concordou na mesma hora. A mãe dela também o aprovava, em parte porque ele salvou a vida de Yukime, e Gettan também tinha uma grande afeição pela bela garota.
Embora todos tenham dado sua bênção ao noivado, o casamento formal foi adiado até que Yukime fizesse quinze anos.
Até que estivessem oficialmente casados, eles não eram capazes de viver juntos.
Apesar de viverem em aldeias diferentes, Gettan visitava Yukime o tempo todo. Os dias que passaram juntos foram tesouros insubstituíveis para os dois.
Foram os dias mais felizes da vida de Yukime e, embora ela estivesse ansiosa pelo casamento, também queria que eles durassem para sempre.
Mas a paz tem uma vida útil curta.
Houve um conflito entre as principais tribos próximas, e os Espíritos Raposa e os Grandes Lobos se envolveram nele.
Yukime e os outros foram forçados a escolher um lado.
Quem quer que eles se aliassem os recrutaria à força, e quem quer que eles fizessem inimigos iria retaliar. Não havia boas opções. Os Espíritos Raposa e os Grandes Lobos conversaram entre si e então chegaram a uma solução.
Eles não fariam nem aliados nem inimigos de nenhum deles.
Sua decisão de permanecer neutro foi tomada no último momento possível. No entanto, foi uma escolha tola, que falhou totalmente em levar em consideração a crueldade da guerra.
Os Grandes Lobos foram abençoados com força.
Os Espíritos Raposa foram abençoados com sabedoria.
Eles pensaram que, unindo forças, poderiam enfrentar a guerra.
A realidade, porém, não foi tão gentil.
Ambas as aldeias foram aniquiladas em uma única noite.
O chão estava molhado de sangue enquanto queimavam.
Gettan, o soldado mais forte dos Grandes Lobos, lutou bravamente. No final, tudo o que conseguiu fazer foi escapar com sua noiva.
Quando o sol da manhã nasceu, os dois olharam para suas aldeias enegrecidas.
— Se eu fosse mais forte…
— Gettan…
Gettan baixou a cabeça, o corpo coberto de ferimentos. Yukime aninhou-se perto dele.
— Tudo que eu precisava era de poder, e eles não seriam capazes de tirar tudo de nós!
— Não foi sua culpa.
— Cale a boca!
As orelhas de raposa de Yukime caíram e estremeceram com o grito enfurecido de Gettan.
— Perdão…
— Está tudo bem… — Gettan continuou baixando a cabeça enquanto falava. — Fiz uma proposta aos outros. Eu disse a eles que, com esse poder, seríamos capazes de enfrentar a guerra sem ter que nos aliar a nenhum dos lados…
Enquanto falava, mostrou uma pílula vermelha-sangue.
— Ao tomar isso, poderíamos ter nos tornado poderosos. Poderíamos ter sobrevivido à guerra. Mas aquela maldita mulher rejeitou minha proposta! Por causa dela, ninguém tomou a droga!
Gettan tentou abafar a risada e Yukime deu um passo para trás.
— Eu deveria ter matado ela desde o começo.
— Gettan…?
— Fui eu quem matou sua mãe.
— D-Do que está falando?
A mãe de Yukime desapareceu assim que o ataque começou. Yukime tinha certeza de que ela ainda estava viva em algum lugar.
— Tudo isso é culpa dela. Se tivéssemos apenas tomado os comprimidos e aceitado a proteção do Culto, todos nós poderíamos ter sobrevivido.
— O Culto…? Ei, Gettan, sou um pouco lenta, então não tenho certeza do que você está falando, mas… estava brincando agora há pouco, certo?
— Nem ferrando que estava. Eu me esgueirei por trás dela e arranquei sua cabeça! Se não fosse por aquela garota…!
— Gettan, não me diga que você está falando sério… — Yukime deu mais um passo para trás.
— Se eu quisesse proteger você e a vila da guerra, não tinha outra escolha.
— N-Não! Não! Fique longe…
— O que foi? Qual é, vamos nos vingar.
Gettan ofereceu a Yukime uma pílula vermelha.
— Você tem que tomar uma também. A única maneira de proteger o que é seu é tirando dos outros. Agora, tome este poder para que possamos massacrar os filhos da mãe que fizeram isso!
— Não! Fique longe de mim!! Yukime finalmente se virou e começou a correr.
— Você vai me rejeitar também?!
Algo bateu nas costas de Yukime.
Então ela desabou de bruços. O sangue jorrou dos ferimentos de espada em suas costas.
— Não rejeite o poder.
— G-Gettan… Por quê…?
— A vingança não é algo para se ter medo. Se você não roubar dos outros, eles vão roubar de você.
— N-Não… Pare, por favor…
— Você ainda está me rejeitando!
Enquanto Yukime tentava rastejar para longe, Gettan desceu sua espada sobre ela repetidamente.
Cada ferimento era superficial, mas juntos desfiguraram brutalmente suas costas. Então ele cravou o pé sobre os cortes e sussurrou no ouvido de Yukime enquanto ela se contorcia de agonia.
— Vamos, Yukime. Tome a pílula para que possamos nos vingar juntos.
— Não…
Quando a dor fez com que sua consciência desvanecesse, ela ouviu uma voz estranha.
— Yahoo! Passa a grana!
A voz em si era jovem e deselegante, em total contraste com a violência em suas palavras. Ela devia ter apenas alucinado ou algo assim.
Então, desmaiou.
Quando acordou, já era noite.
Suas costas estavam estranhas. Quando estendeu a mão e sentiu, descobriu que o sangramento havia parado. Provavelmente havia cicatrizes, mas não doía mais.
Ela não viu Gettan em lugar algum. Por alguma razão, entretanto, viu sangue e seus pelos espalhados ao redor dela.
Yukime então voltou para procurar o corpo de sua mãe. Por algum motivo, sua aldeia estava repleta de cadáveres de seus agressores.
Não demorou muito para encontrar o corpo de sua mãe e a cabeça decapitada.
Seus olhos estavam arregalados com o choque, e as três caudas fofas que Yukime tanto amou estavam todas queimadas.
— Mãe…!
Sua mãe foi morta.
Seus amigos e vizinhos também foram massacrados.
Sua aldeia foi totalmente queimada.
Seu dinheiro foi roubado.
E, finalmente, seu amado noivo havia se tornado seu pior inimigo.
— Sniff… Soluça…
Enquanto as lágrimas quentes rolavam por suas bochechas, ela gravou a visão de sua querida mãe e sua cidade natal destruída em sua mente.
Mordeu os lábios.
Tudo foi tirado dela. Tudo o que restava era um único inimigo nojento.
No entanto, até mesmo sobreviver era uma tarefa difícil para uma adolescente de quatorze anos sem dinheiro, poder nem pais. Ela passava seus dias viajando de um lugar para outro como uma prostituta no campo de batalha.
Quando completou dezessete anos, era dona do bordel onde estava vendendo seu corpo.
Ela agora tinha dinheiro. Em seguida, queria poder.
Tendo tudo tirado dela, jurou tirar tudo daquele seu inimigo.
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Parecia que Yukime acabou com sua história.
Eu sinto que já fiz parte de uma situação semelhante uma vez, então me distraí na metade do caminho.
— Eu suspeito que você teve um pressentimento, Sr. John. Você sabia que eu não tinha interesse nas empresas ou no dinheiro. Meu único objetivo era tirar tudo de Gettan. O dinheiro dele. Seu poder. E então, sua vida. Tudo o que ele trabalhou tanto para construir. E para fazer isso, eu precisava do poder de uma empresa, bem como da sua ajuda… Mas eu tive que te enganar, e por isso eu imploro seu perdão.
— Entendo…
Não, minha memória está falhando.
— Eu acertarei as contas com Gettan. Eu peço que você acredite em mim e espere pelo meu retorno.
Yukime sorriu e se levantou.
Não adianta rachar meu cérebro com coisas que não consigo me lembrar, então vou partir pro trabalho.
— Acho que vou indo — eu disse.
— Permita-me acompanhá-lo até a saída.
Nós dois saímos da sala juntos.
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O céu da tarde estava agradavelmente claro. Enquanto a suave luz do sol de inverno penetrava pelas janelas, uma voz furiosa ecoou pela sede da Corporação Garter.
— Por que exatamente você está tendo tantos problemas para localizar John Smith?!
O presidente Garter abaixou a cabeça enquanto Gettan batia com o punho na mesa e gritava com ele.
— B-Bem, sabe como é, nós seguimos seus rastros até a Cidade Sem Lei, mas qualquer investigação lá é incrivelmente arriscada, e continuamos perdendo contato com os investigadores… — Garter murmurou suas desculpas.
— Você não pode ver que estamos sem tempo?! Boatos sobre as falsificações já começaram a circular pela capital!!
— Bem, hum, sim, sobre isso… Houve um aumento no número de pessoas trocando suas cédulas por ouro…
— Tsk, é muito rápido!
— Um grande pedido de liquidação veio esta manhã, e estamos recebendo mais…! Os outros presidentes da empresa estão dizendo que não é isso que você prometeu… Eles estão perguntando se seria possível encerrar as negociações…
— Idiotas, todos eles! Cale a boca deles! Se fizéssemos isso, a notícia se espalharia como um incêndio selvagem, e hordas de pessoas iriam derrubar nossas portas!!
— M-Mas nesse ritmo, nossas reservas não vão resistir…!
— Eu sei disso, caralho!! — Gettan bateu com o punho na mesa novamente.
— Eek!
A mesa de madeira robusta se estilhaçou. Pequenos fragmentos voaram para o ar e arranharam o rosto de Garter.
Gettan mostrou os caninos e, em seguida, olhou pela janela com os olhos fechados.
— Uma enorme ordem de liquidação chegou esta manhã, você disse?
— S-Sim senhor.
— Isso é suspeito… Ninguém teria reagido tão rápido. Descubra quem fez isso.
— S-Sim, senhor!
Enquanto Garter fugia, Gettan cobriu os olhos com a mão.
Suas órbitas vazias latejavam de dor, quase como se seus olhos perdidos ainda estivessem lá. Sempre que isso acontecia, ele sabia que algo relacionado ao seu passado estava acontecendo.
— Não pode ser… Não, sem chance…
Ele pressionou a mão sobre as pálpebras por mais um tempo enquanto vasculhava suas memórias.
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As Sete Sombras decidiram manter o fato de que John Smith era Shadow em segredo.
O raciocínio delas era que, se as tropas soubessem, isso seria um golpe duro para o moral.
— Provavelmente foi a decisão certa — pensava Gamma enquanto olhava para o rosto sombrio de Alpha.
A lareira estalou.
— Ele está em um nível que ninguém mais poderia esperar alcançar…
— Alpha…
— É por isso que não precisa mais de mim…
— Isso não é verdade.
Elas já tiveram essa mesma conversa várias vezes.
Alpha estava afundada nas profundezas do desespero. Ela não estava em condições de liderar o Jardim das Sombras agora.
No momento, Gamma era a única que poderia assumir as rédeas.
No entanto, nenhuma quantidade de maquiagem podia esconder as bochechas pálidas de Gamma, nem as olheiras. Ela também estava perto do limite.
Mesmo assim, havia algo que precisava relatar.
Preparou-se e, então, falou:
— A GAC começou a falir. Multidões de pessoas estão negociando suas cédulas desde esta manhã. E provavelmente só vai piorar amanhã…
— Entendo…
— Não estamos tão mal quanto eles, mas a Mitsugoshi está vendo um aumento nas pessoas fazendo trocas também. É provável que as filas aumentem amanhã, e quando a GAC falir, serão abertas as portas do inferno.
— Entendo…
Alpha ouvia o relatório com um olhar apático no rosto. Então respondeu com uma pergunta rápida:
— Podemos resistir à tempestade? — perguntou ela.
Gamma olhou para o seu rosto, hesitou por um momento, então decidiu ser realista.
— Não com as nossas reservas.
Essa era a verdade nua e crua.
Gamma e as outras tinham levantado fundos freneticamente em preparação para o colapso da GAC.
No entanto, embora tenham coletado ouro do mundo todo, não chegava nem perto da quantidade que as práticas de criação de crédito geraram.
— Entendo…
Alpha sorriu.
Era um sorriso desamparado, e quando Gamma o viu, lágrimas brotaram de seus olhos.
— Tenho certeza de que ficaremos bem. Quando as pessoas virem as montanhas de ouro que preparamos, tenho certeza que vai acalmar seus corações…
— É o suficiente.
Quando as massas vissem a GAC afundar, saberiam que não havia garantia de que os danos iriam parar por aí.
Gamma e Alpha estavam muito cientes desse fato.
— Isso… isso é o suficiente…
— Alpha…
Alpha olhou para Gamma, o sorriso de coração partido estampado em seu rosto inalterado.
— Foi ele quem decidiu fazer circular as falsificações e causar a crise de crédito. Ele é quem queria nos colocar de lado…
— I-Isso não é verdade! Mestre Shadow nunca abandonaria…
— Simplesmente não éramos fortes o suficiente para corresponder às expectativas dele… E este é o nosso castigo.
— Isso não… Isso…
Ela queria dizer: “Isso não pode ser verdade”, mas as palavras não saíam.
As proezas de combate, criatividade e engenhosidade de seu senhor estavam todas acima das delas. Mesmo depois de receberem o ambiente perfeito e o conhecimento desenfreado, nenhuma delas foi capaz de alcançar o nível dele.
E, agora, seu mestre desistiu delas.
— Is-isso…
Gamma perdeu as forças em seus joelhos, desabando no sofá.
Em contraste, Alpha se levantou. Seus olhos queimavam, tanto pelo brilho da lareira quanto por sua determinação recém-descoberta.
— Se é isso que ele quer, então é nosso trabalho realizar seus desejos. Eu fiz um juramento… Eu disse que se ele quisesse, eu até morreria… Foi a primeira promessa que fiz a ele.
— Alpha…
Então, uma interrupção.
— Perdão.
A garota de cabelo castanho escuro, Nu, fez uma reverência ao entrar na sala.
— Recebemos novas informações. Gettan, o líder verdadeiro da GAC, está conectado ao Culto.
— Já era de se imaginar — comentou Gamma.
No entanto, descobrir isso agora não ia adiantar nada.
— Ele estava em conluio com o Culto para derrubar a Mitsugoshi.
— Qual era o plano dele?
— Era… introduzir falsificações em circulação e causar uma crise de crédito.
— Ah… Entendo. — Gamma olhou para o teto.
Ele as pegou.
Ninguém sabia que a Mitsugoshi era uma fachada do Jardim das Sombras, por isso ela não esperava que o Culto estivesse disposto a ir a tais extremos suicidas para derrubá-los.
Afinal, sacrificar a GAC apenas para derrubar a Mitsugoshi junto com eles?
Embora funcionasse, com certeza o preço era alto demais.
Quem teria pensado que eles consideravam a Mitsugoshi uma ameaça…? Gamma havia esquecido a possibilidade.
— Então, no final, o Culto acabou com a gente com sucesso, hein?
— Não, não exatamente… O Culto ainda não colocou seu plano em ação.
— Espere, mas isso não faz sentido algu-
Gamma sentiu como se as peças do quebra-cabeça estivessem se reorganizando em sua mente.
Outra interrupção.
— Alpha!
Beta entrou correndo na sala sem nem mesmo bater. Ela segurava uma folha de papel na mão.
— Lá no laboratório, Eta decodificou a mensagem criptografada que o Mestre Shadow nos deixou!
Eta, o sétimo membro das Sete Sombras, era especialista em pesquisa. Quando o mestre de Beta deu a ela a mensagem codificada, Eta foi a quem ela confiou para decifrá-la.
— Veja!
Alpha pegou o documento oferecido. A luz retornou aos seus olhos enquanto o observava.
— Alpha…?
Ela respondeu à voz confusa de Gamma ao mostrar um grande sorriso.
Uma lágrima escorreu por sua bochecha, mas era uma de alegria.
— Ele não nos abandonou afinal…
Ao ouvir isso, Gamma pegou a página e leu.
— I-Ssso significa-!
A surpreendente verdade estava expressa na caligrafia de Eta.
“Desculpe, mas eu tenho que trair todas vocês. Um parceiro e eu estamos fabricando falsificações e as usando para coletar ouro. Estamos escondendo todo o dinheiro na antiga instalação em que salvamos minha irmã, quando éramos crianças. Sei que todas vocês podem se ressentir de mim por isso, mas acredito que cada escolha que fiz foi a melhor.”
Antes que ela percebesse, Gamma também estava chorando. O quebra-cabeça em sua mente assumiu uma forma que ela não ousou imaginar possível.
Alpha, Gamma e Beta… todas elas estavam radiantes enquanto as lágrimas escorriam por seus rostos.
— Mestre Shadow armou tudo isso para nós — disse Beta, sua voz cheia de reverência.
— Então ele estava vendo a situação como um todo… Quem diria que alguém poderia prever tão à frente? — A voz de Alpha estava repleta de emoção.
Gamma soava aliviada.
— Ele previu tudo isso e fez a melhor escolha possível… Um ato verdadeiramente condizente com este homem.
— Ele percebeu o plano do Culto mais cedo do que qualquer outra pessoa.
— Então usou isso contra eles. Ao fazer suas próprias falsificações antes que o Culto pudesse agir, foi capaz de acumular uma quantidade chocante de capital.
— Com esse ouro, a Mitsugoshi será capaz de sobreviver à crise de crédito.
— Quando isso acontecer, o Culto terá perdido a GAC. Eles serão os únicos perdedores.
— O Culto travou uma luta com o homem errado. A compreensão do Mestre Shadow sobre a criação de dinheiro foi o que tornou seu plano possível.
— Ele entendeu o quão perigosa uma crise de crédito podia ser, e pensou num método ousado e eficiente de arrecadar fundos… Um verdadeiro ato de esperteza.
— Não queríamos revelar a ligação entre a Mitsugoshi e o Jardim das Sombras, então nossas mãos estavam atadas. Foi por isso que ele precisou agir por trás dos panos.
— E isso explica por que teve que esconder sua identidade também… para remover o vínculo entre ele e nós. Agora ninguém tem ideia de que existe uma conexão entre a corporação e as falsificações
— Ele chegou até a instalar sua fábrica em algum lugar com o qual estávamos familiarizados e depois nos disse onde ficava o cofre.
— Em outras palavras, está nos dizendo que tudo o que precisamos fazer é pegar o ouro.
Todas deram um profundo suspiro de alívio.
— É exatamente como ele me disse. “Quando tudo isso acabar, você vai perceber que foi o melhor”…
— Para enganar seus inimigos, primeiro engane seus amigos… Isso é o que ele estava fazendo o tempo todo.
— Um plano perfeito formado em uma base de sutileza e cálculo preciso… Esse é o nosso Mestre Shadow. Mas e a Delta?
A voz de Gamma ainda estava um pouco preocupada, mas os olhos de Alpha estavam cheios de convicção.
— É da Delta que estamos falando. Tenho certeza de que não temos nada com que nos preocupar.
De repente, ouviram um som de fora.
Em seguida, a janela se abriu devagar enquanto Delta timidamente entrava.
— Viu só?
O rosto de Gamma ficou vermelho de alegria.
— Delta?! Oh, ainda bem…
— Oh-auau… Alpha… Eu estava em uma missão secreta confidencial, sabe… Então…
Delta esperava timidamente pela reação de Alpha.
— Não se preocupe, eu sei. Ele lhe passou um trabalho, não é?
O rosto de Delta imediatamente se iluminou. Sua cabeça balançou para cima e para baixo enquanto abanava a cauda.
— Havia um Jumento Negro, e eu…! Oh, era uma missão secreta confidencial, então eu não posso te contar…
— Poxa, Delta, fale direito. Chamar isso de “missão secreta confidencial” é redundante.
— M-Mas isso foi o que o chefe disse…!
— Não seja boba, claro que ele não disse. Ainda assim, estou tão feliz que você esteja bem…
Delta parecia ainda ter algo que queria dizer, mas Alpha apenas acariciou sua cabeça e a apertou com força.
Gamma e Beta abraçaram Delta também, e todas enxugam suas lágrimas com um sorriso.
— Ele já fez muito por nós. Precisamos cuidar do resto nós mesmas. Vamos coletar o ouro que ele preparou para nós.
— Entendido!
— Parece uma boa!
— Au-au!
E, naquela noite, o Jardim das Sombras agiu.
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Eu conduzi uma varredura completa da rota para a Cidade Sem Lei e, em seguida, voltei para a base subterrânea.
Yukime devia voltar em breve.
Quando voltasse, provavelmente seria em cima de um carrinho cheio de dinheiro.
Depois, poderíamos pegar nosso ouro do cofre subterrâneo e dar no pé. Até o momento, tudo o que restava era observar a crise de crédito de cima.
Tipo assim, só imagine. John Smith, parado no quarto do topo de um hotel alto, olhando para a capital com os braços cruzados. Tudo de acordo com o plano. A crise começou… eu murmuraria. Então tomaria um gole de vinho caro, olharia para a montanha de moedas em cima da mesa ao meu lado e sorriria de maneira significativa.
Não era o máximo?
Eu imaginei a cena enquanto caminhava pelos corredores da instalação.
Estava estranhamente silencioso por ali.
Todos os trabalhadores da linha de montagem foram embora, mas ainda devia haver alguns guardas por perto.
Talvez todos tenham cochilado por causa de como as coisas estavam pacíficas por ali. Nem tem como culpá-los. Eu trabalhei muito para garantir que ninguém pudesse nos encontrar aqui, afinal.
— Heh heh heh…
Mostrei um sorriso de orelha a orelha enquanto continuava a caminhada. No fim, parei em frente ao cofre.
— Hã…?
Espere, por que a porta está aberta…?
Também não parece que alguém a destrancou. Parece que foi arrombada…
— Não! Sem chance…
Minhas patrulhas foram perfeitas.
Nem mesmo um rato poderia ter vindo da Cidade Sem Lei.
Minhas pernas tremiam.
Minhas mãos tremiam.
Comecei a suar frio.
— Nããããão, não-não-não-não-não-não-não. Vai ficar tudo bem, vai ficar bem…
Espiei dentro do cofre entreaberto.
Estava… completamente vazio.
Aquela enorme pilha de ouro desapareceu sem deixar vestígios.
— Só pode ser zoeira…
Meus joelhos fraquejaram e eu desabei no chão.
— Como isso aconteceu?
Todo meu ouro…
— Ha… Ha-ha-ha-ha-ha. Claro, é tudo um sonho ruim…
Eu estendi minhas mãos trêmulas e reparti meu cabelo desgrenhado. Então fiquei de pé.
Tudo vai ficar bem.
Talvez Yukime tivesse algum motivo para movê-lo.
Além disso, mesmo que fosse roubado, demoraria um pouco para fugir com todo aquele ouro. A menos que estejam loucamente preparados, não podem ter ido longe.
Eu saí do cofre, os joelhos ainda chacoalhando.
Então, sentindo duas presenças se aproximando, fingi compostura.
— Sr. John…?
Duas mulheres sexys chamaram meu nome.
Eram as atendentes de Yukime, Natsu e Kana.
Confiem em mim, gente, já sei que aconteceu alguma coisa. Algo definitivamente aconteceu. É bastante óbvio… o maldito cofre foi limpo, afinal.
— É Yukime… ela desapareceu! Deve ter sido Gettan!
— O… o quê?
Yukime… mais… Gettan… entendi!
Ri quando tudo ficou claro.
— Sr. John…?
— Ah, então é assim.
Natsu e Kana pareciam confusas, então abri a porta do cofre e mostrei a elas o que não estava lá dentro.
Seus olhos se arregalaram em choque.
— I-Isso…
— E-Ele fez isso?! Mas não há como ter agido tão rápido…
— Sabem onde ele está?
— S-Sim…!
— Então não tem problema. Vou buscar de volta.
Passei por entre as duas, deixando minha magia fluir, fazendo o ar vibrar.
— O… o que é essa magia incrível?!
— E-Este é o verdadeiro poder de John Smith?!
Continuei fazendo meus fios de aço fazerem whoosh, whoosh, whoosh. Eles deixaram elegantes arcos de luz em seu rastro enquanto cortavam o ar.
— Gettan… Você irritou o cara errado…!
Então, agora é a hora da vingança…
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Um tempo passou…
A neve começou a cair na capital quando o sol se pôs além do horizonte. À medida que as sombras gradualmente cobriam o tom avermelhado do mundo, a tempestade de neve aumentou de intensidade.
Um Espírito Raposa solitário estava parado e olhava para o horizonte da capital enquanto estava no topo de uma planície distante.
Ela exalou um suspiro turvo, esperando por algo com uma expressão melancólica em seus olhos.
Um pouco depois de o sol sumir totalmente de vista, alguém se aproximou dela por trás.
— Foi tudo culpa sua, Yukime…?!
A neve começou a se acumular e amortecer os sons da noite. Como resultado, o berro furioso foi bem ouvido.
Yukime se virou em direção ao teriantropo negro e sem olhos.
— Gettan… Você não tem ideia de quanto tempo esperei por este dia.
— Então você e John Smith estavam trabalhando juntos…! É esta a sua ideia de vingança?!
O rosto de Gettan estava contorcido de raiva, um contraste marcante com o comportamento calmo de Yukime.
— Acabou para você. Aceite seu destino…
— Não, ainda não. Se eu pegar de volta o dinheiro que vocês dois roubaram, ainda posso consertar tudo!!
Gettan desembainhou sua espada. Tinha quase o mesmo comprimento da altura dele.
— Gettan… — Yukime puxou seus leques. — Infelizmente, não sou mais a garotinha que você conheceu.
O chão estava coberto de neve imaculada.
A lua perolada brilhava no alto, acompanhada por um conjunto de estrelas.
Com a bela noite em preto e branco como imagem de fundo, a lâmina e os leques colidiram.
Uma explosão de neve branca voou para o alto, acompanhada por uma chuva de sangue.
Manchas de vermelho vivo mancharam a bela neve branca.
— Isto… Não pode ser…!
Gettan se ajoelhou. Quando olhou para Yukime, suas sobrancelhas se ergueram.
Em algum momento, o corpo de Yukime se transformou.
Suas nove caudas prateadas ficaram ainda mais grossas e longas, e aqueles olhos dela, que pareciam poças de água parada, agora eram de um vermelho-sangue.
Mesmo sem sua visão, Gettan podia distinguir a densa energia mágica na qual ela estava envolta.
— Esta é a verdadeira forma de nós, Espíritos Raposa… Você não pode me derrotar.
— Então as lendas são verdadeiras… Se você tinha esse tipo de poder… Se eu tivesse esse tipo de poder, não teriam me tirado nada!!
Yukime respondeu ao ódio puro na expressão de Gettan com um sorriso triste.
— Gettan… O que o fez mudar tanto? Certamente, você nem sempre foi assim.
— Cale-se!!
— Acabou, Gettan. — Yukime pressionou seus leques contra sua garganta.
Quando ele sentiu o aço frio, sua expressão congelou.
— Yukime-!
Ela o observou, os leques ainda presos com firmeza no mesmo lugar.
Seu rosto estava tingido de nostalgia, como se ela estivesse se lembrando de acontecimentos de outros tempos.
Nenhum deles fazia mais do que algumas contrações. Era como se o próprio tempo estivesse parado.
O único movimento era o da neve se acumulando lentamente.
No fim, Yukime baixou os leques. Seus olhos e nove caudas voltaram aos seus estados originais.
— O que você está planejando…?
— Minha vingança agora está completa.
— Completa… você diz?
— Eu não sei o que fez você ficar desse jeito. Mas apesar de todos os pecados que cometeu, o fato de ter salvado minha aldeia e minha vida permanecem inalterados… Os pecados não apagam as boas ações, nem as boas ações apagam os pecados. Eu escolho acreditar que o Gettan que me salvou naquele dia ainda reside em algum lugar dentro de você…
Yukime se virou e começou a andar pela planície coberta de neve.
— Tchau, Gettan…
Ele a observava ir embora com os olhos fechados e a encarava.
— Eu não preciso da… sua piedade…
No entanto, seu ressentimento não a atingiu.
Ele colocou um comprimido vermelho na boca. Seus ferimentos cicatrizaram depressa, e então…
— Ah…
Uma flor de sangue brotou sobre a neve.
— O quanto você pretende zombar de mim…?
— Get… tan…
Atravessada por sua lâmina, Yukime caiu no chão frio.
Quando sua consciência começou a desvanecer, as lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Sr. J… John… me perdoe…
Enquanto chorava, uma forte rajada de vento soprou, levantando o pó de neve. Uma figura sombria surgiu.
— …?! Quem está aí?
Um homem surgiu da escuridão da noite e da enxurrada de alabastro.
A neve em pó dançava ao redor dele enquanto seus fios de aço cortavam o ar.
— Acredito que você tirou algo muito importante de mim.
O homem que caminhava à frente estava vestido com um terno preto, seu rosto escondido sob uma máscara… era John Smith.
— Sr. John…?
Yukime chamou seu nome, embora isso lhe causasse dor. Por alguma razão, ver John assim lhe gerou uma nostalgia profunda.
— Então é John Smith. Você afirma que eu roubei de você…, mas você roubou de mim primeiro!
Os olhos fechados de Gettan encaravam fixamente John Smith.
— Estou aqui apenas para recuperar o que você roubou — respondeu John Smith. — Nada além disso.
— O que eu roubei? Boa sorte com isso.
— Não vou precisar de sorte.
— Seu pequeno insolente… Sabe, também tenho algo que preciso pegar de volta. Uma coisinha que vocês dois roubaram de mim!
Gettan preparou sua espada longa.
— Do que está falando?
— É tão típico de um canalha bancar o idiota… — Gettan estalou a língua. — Não me faça desperdiçar meu fôlego.
— Nem o meu tempo.
John Smith liberou seus fios.
Os dois se encaravam, seus olhares jorrando ódio, e então…
— GETTAN…
— JOHN SMIIIIIIIIIITH-!!
O confronto violento começou.
A espada longa de Gettan fez um arco em direção a ele. No entanto, seu inimigo nem mesmo tentou se esquivar.
A lâmina foi em direção ao seu pescoço, então parou abruptamente no ar.
— O quê?!
Surpreso com a parada repentina de sua espada, Gettan a puxou de volta.
John Smith o observava calmamente e murmurou:
— Você acabou de fazer algo…
Gettan estalou a língua, aborrecido.
— Você se acha tão inteligente… Parando minha espada ao fazer magia passar por esses seus fios finos.
— Oh?
— Há coisas que perdi, mas também há coisas que ganhei no lugar delas. Quando perdi minha capacidade de ver, rapidamente ganhei a capacidade de usar magia para sentir o espaço ao meu redor.
A magia de Gettan foi espalhada por toda a área.
— Isso significa que eu posso vê-los! Posso ver cada um de seus pequenos fios frágeis!! É verdade, fiquei surpreso com a habilidade que usou para manipulá-los. Mas no fim…
Os lábios de Gettan se curvam em um sorriso malicioso.
— … você escolheu um homem mau para ser seu inimigo, John Smith!!
Ele atacou John Smith novamente. John Smith teve sucesso ao lidar com a lâmina, esquivando-se para trás, mas seus fios não conseguiam nem chegar perto de Gettan.
— Não adianta!! Eu te disse, consigo ver tudo!!
John Smith recuou. Gettan seguiu em frente.
Yukime assistia à batalha feroz em meio às lágrimas. Ela via John Smith lutando o máximo que conseguia…
Durante todo o tempo desde que o conhecia, nunca o viu tão visivelmente enfurecido.
O relacionamento deles não foi longo. No entanto, ela estava bem ciente de que ele não era o tipo que se deixava ser possuído pelas emoções.
Agora, porém, estava furioso… furioso do fundo de seu coração.
Furioso com Gettan, o homem que a roubou e a perfurou.
— Sr. John…?
Ele parecia estar na defensiva, mas Yukime sabia que essa não era sua força total.
Então…
John Smith fez uma pergunta:
— O quê, isso é tudo que você tem?!
— Rrr… — Gettan ofegava enquanto olhava para John Smith.
Ele esteve na ofensiva o tempo todo, mas sua lâmina não atingiu John Smith nenhuma vez.
Ao contrário, o corpo de Gettan estava coberto por incontáveis cortes minúsculos.
Ele podia ver todos os fios, sim.
No entanto, era precisamente sua capacidade de vê-los que o impedia de avançar para o alcance dele.
Os fios de John Smith estavam espalhados como uma teia de aranha. Um passo à frente e a escapatória seria impossível.
Gettan sentiu seu arranjo imaculado. Era perfeitamente projetado para prever, prender e capturar sua presa.
Cada vez que tentava ultrapassar seus limites, mesmo que um pouco, logo se via recebendo cortes.
Se não avançasse, nunca poderia cortar seu inimigo. Mas se fizesse isso… apenas a morte estaria ao seu aguardo.
Antes que percebesse, tudo o que Gettan foi capaz de fazer foi balançar inutilmente uma espada que nunca alcançaria seu alvo.
John Smith caminhava calmamente em sua direção. Em algum momento, usou seus fios de aço para bloquear as rotas de fuga de Gettan.
— Eu acho que você tem algo que quer me dizer. Diga…
— Ah…
Quando Gettan ouviu a ordem, olhou para Yukime por um breve momento. No entanto, rapidamente balançou a cabeça.
— Eu não tenho nada a dizer!!
— É mesmo?
No momento seguinte, sangue jorrou do seu peito. Os fios de aço ao redor dele cortaram suas entranhas.
Mesmo enquanto seu rosto se contorcia de dor, no entanto, ele continuou olhando para John Smith.
— Eu precisava de poder! Sacrifiquei tudo por isso!! E não vou desistir agora!!
Ele puxou uma pilha de comprimidos vermelhos do bolso e engoliu todos. Obviamente, era muito mais do que a dose recomendada.
— Não vou me deixar ser roubado de novo… Então, se é para ficar com o que é meu…
Gettan olhou para Yukime pela segunda vez. Era quase como se ele pudesse enxergar de verdade.
Então seu corpo escureceu rapidamente. Seus músculos se expandiram e se contorceram de maneira grotesca.
Ondas de magia explodiram de seu corpo e destruíram a neve que caía.
— … então minha vida é um pequeno preço a pagar.
Gettan abriu suas pálpebras cortadas.
Os olhos atrás delas eram orbes vermelho-sangue.
Lágrimas carmesins escorriam por suas bochechas.
Seus movimentos estavam extremamente mais rápidos do que antes. No momento em que a neve sob seus pés subiu, ele já estava diante de John Smith.
— HRAAAAAAAAAAAAAGH!!
Desceu sua lâmina com um rugido.
Os dedos de John Smith se contraíram, e o fio de aço cortou o ar.
— Oh?
Quando a espada longa e os fios de aço se chocaram, John Smith foi quem acabou sendo forçado a recuar.
Vários fios cortados caíram de seus dedos.
Gettan não parou por aí. Seus movimentos eram animalescos enquanto ele o perseguia.
Mais uma vez, sua espada longa cortou os fios de John Smith.
Ele moveu sua espada. Os fios de John Smith dançavam.
A troca continuou por um tempo, mas, no fim, John Smith ficou sem fios.
— GRAAAAAAH!
Um sorriso maníaco fez-se presente no rosto de Gettan enquanto ele avançava na direção de seu inimigo desarmado.
No entanto, John Smith ficou imóvel e suspirou.
— No final das contas, é apenas aço… — murmurou sem interesse enquanto fixava seu olhar na forma impetuosa de Gettan.
Então… se chocaram.
John Smith evitou o golpe feroz de Gettan dando um passo à frente e dobrando um joelho. A espada longa roçou sua bochecha, levando um tufo de cabelo preto com ela.
A esquiva usou apenas o movimento mínimo necessário.
O passo foi curto e rápido.
Como tal, ele foi capaz de executá-los em um movimento fluido e ideal.
Em outras palavras… foi um ato de perfeição marcial.
— O quê?!
Enquanto os olhos de Gettan se arregalavam de choque, o cotovelo de John Smith colidiu com sua mandíbula.
— Gluh… — Cambaleou para trás. Seu inimigo pressionou o ataque.
Um punho atingiu o estômago de Gettan e, quando ele se inclinou para a frente, recebeu um golpe de joelho no torso.
E John Smith não parou por aí.
Nada em seus punhos, cotovelos ou joelhos era especial, mas eles afundavam no corpo de Gettan do mesmo jeito. A carne inchada de Gettan estava sendo jogada para os lados como um brinquedo.
O corpo de um homem era sua arma final e mais confiável… e John Smith era a personificação desse ideal.
Gettan tentava freneticamente recuar e colocar alguma distância entre ele e o redemoinho de golpes.
Graças às pílulas, seu corpo se curava assim que sofria algum dano. A tempestade não iria durar para sempre, então tudo o que precisava fazer era resistir e ficar em segurança, e…
John Smith, no entanto, não parou.
A cada passo, ele cortava as rotas de fuga de Gettan e, a cada golpe, sugava a força das suas pernas.
Enquanto disparava uma enxurrada de golpes, calculava e previa cada movimento dele. Era assim que continuava sua surra unilateral.
Ao manter Gettan perto, ele sempre estaria ao alcance de John Smith. Não importava como sua presa se movesse, jamais deixaria que escapasse.
A derrota desprovida de emoções, quase mecânica, continuava.
— Gack… Gah-hah… Grah… Urk…
Os ossos de Gettan se quebravam, suas presas se partiam e seus órgãos explodiam. Eles se regeneravam na mesma hora.
A tortura parecia não ter fim. Os respingos de sangue criavam um tapete macabro sobre a neve caída.
No fim, os golpes de John Smith ganharam força, assim como velocidade.
— Você tem algo para me dizer? Diga.
— Gah… Hur-guh…
As palavras de John Smith eram acompanhadas de mais golpes.
No fim, Gettan atingiu seu limite.
A regeneração parou.
Vendo isso, John Smith recuou meio passo… depois moveu a perna direita com toda a força.
Seu pé bateu na lateral do crânio de Gettan, e o teriantropo caiu violentamente na neve.
Enquanto tentava se levantar, John Smith bateu em seu peito.
Ele olhou para o homem. Os olhos de Gettan latejavam, como se tentassem lembrá-lo do passado.
— Gah…
John Smith deu um soco no rosto do oponente.
— Diga.
Ele o socou novamente.
— Diga-me o que quero ouvir.
— John Smith… Entendo… Você é o mesmo… daquela época…
Gettan olhou para John Smith, todos os tipos de emoções passando por seu rosto: raiva, ódio, inveja, arrependimento…
— Se eu tivesse um poder como o seu, talvez as coisas fossem diferentes…
Os sentimentos confusos em sua voz possuíam um certo peso.
— Eu tentei fugir da minha própria fraqueza e veja aonde isso me levou… Tudo que eu realmente queria proteger era… — Gettan sorriu. — Mas eu sinto… que posso confiar a você…
A voz de Gettan estava fraca agora. Seu dedo tremia ao apontar na direção de Yukime.
— Eu confio a você… a Yu…
— Entendido. — John Smith apertou a mão trêmula de Gettan com a sua. — Pode deixar tudo comigo.
E então Gettan deu seu último suspiro.
Yukime enterrou o rosto no peito de John Smith. Suas lágrimas encharcavam seu terno.
— Enfim me lembrei… Foi você que…
John Smith fez magia percorrer suas mãos, então acariciou o ferimento de Yukime.
— Tão quente… Como foi naquela época…
Thump. O coração dela batia forte.
Desde aquele dia, quando tudo lhe foi roubado, ela teve que viver sozinha com o coração congelado.
Não importava o que acontecesse, não importava quem abraçasse, jurou aceitar com um sorriso.
O gelo era uma parede que construiu para se proteger, uma que ela sabia que nunca iria derreter.
No entanto, agora, estava derretendo.
— Obrigada — disse Yukime.
John Smith inclinou a cabeça para o lado.
Então deu um murmúrio silencioso:
— Acho que ele disse que estava enterrado debaixo de uma yucca logo ali, né…?
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— Tenho um último trabalho que precisa ser feito.
John Smith começou a cavar um buraco, e Yukime retornou à capital por conta própria. Ele devia estar abrindo uma cova para Gettan. Talvez seja isso que Gettan estava procurando… um lugar para morrer.
Essa era a impressão que seu último olhar deu a Yukime, de qualquer forma. Ele parecia em paz, quase nostálgico.
Depois de passar uma noite descansando na capital, Yukime pegou as moedas de ouro que acabara de negociar e voltou para seu esconderijo.
John Smith curou todos os seus ferimentos. Até mesmo as cicatrizes feias em suas costas desapareceram sem deixar traços.
Quando chegou à base, foi até o cofre com seu ouro. No entanto, o que viu lá lhe deu um choque.
— Mas o quê…?
Todo o seu conteúdo se foi.
Quando inclinou a cabeça para o lado em surpresa, uma figura vestida de preto apareceu atrás dela.
— Entendo. Você é Yukime, a presidente da Corporação Raposa da Neve…
— …?!
Yukime se virou e viu uma bela elfa loira platinada parada ali.
— Quem é você? — Yukime perguntou enquanto se preparava para puxar seus leques a qualquer momento.
— Meu nome é Alpha. Estou com o Jardim das Sombras. Pela recepção que você está me dando, presumo que ele não tenha contado nada.
— Alpha…?
Yukime estava bem ciente de que John Smith — também conhecido como Shadow — era o líder do Jardim das Sombras.
No entanto, ele nunca mencionou nada sobre a organização para ela. Era estranho, agora que pensou sobre isso.
— Suponho que você deve ter sido a colaboradora dele… Assim como a mulher pela qual Gettan, da GAC, tinha fixação…
— O que você está tentando dizer?
— Eu tenho uma carta para você. Receio que o selo esteja quebrado, mas pensei que seria adequado entregá-la a você de qualquer maneira.
Alpha entregou a ela uma folha de papel gasta pelo tempo.
— A GAC vai cair em breve, e havia algumas coisas que queríamos coletar deles antes que isso acontecesse. Encontramos isso no quarto de Gettan. É uma carta… não, um testamento. E é para você.
— O testamento de Gettan…
Yukime a pegou e começou a ler.
A primeira coisa que a pegou de surpresa era como a escrita estava confusa. Ele devia ter se recusado a confiar a outra pessoa, escrevendo ele mesmo, apesar de sua cegueira. Yukime podia sentir fragmentos definidos do calor de sua caligrafia naquele rabisco desordenado.
Gettan começou a carta com um pedido de desculpas a Yukime e ao povo de sua aldeia, depois amaldiçoou sua própria fraqueza.
Finalmente, revelou uma verdade alarmante.
— O Culto de Diablos…
Era a verdadeira identidade da organização que o colocou naquele caminho.
— Nós do Jardim das Sombras estamos lutando para derrubar o Culto de Diablos. E, claro, ele não é diferente…
— O Sr. John também…
— Além disso, a Mitsugoshi é uma fachada do Jardim das Sombras.
— …?! Céus! Que choque!
— Todo esse incidente foi bem como ele queria desde o início. Infelizmente, isso significa que tivemos que pegar todo o ouro.
— Ah, e agora a Mitsugoshi será capaz de enfrentar a crise de crédito.
— Também seremos capazes de arrebatar os ativos da GAC. Nossa posição será quase inexpugnável.
— E o Sr. John… não, o Sr. Shadow previu tudo.
— Se você quer considerá-lo um traidor, está dentro de seus direitos para fazê-lo. Não tenho dúvidas de que ele está preparado para aceitar esse julgamento.
Yukime balançou a cabeça.
— Eu não tenho nenhuma intenção de fazer tal coisa. O Sr. Shadow já me salvou duas vezes.
— Tudo bem. — Alpha acenou com a cabeça. — Estamos preparados para aceitá-la em nosso grupo. A menos que você tenha objeções, gostaríamos que você continuasse gerenciando a Raposa da Neve para que pudesse atuar como nosso contato com a Cidade Sem Lei.
— Ah. Muito esperto. Você quer que a Mitsugoshi atue como a face pública e que Raposa da Neve cuide do trabalho sujo… Um arranjo inteligente.
Yukime e Alpha tinham sorrisos idênticos em seus rostos.
É claro que cada uma tinha uma forte admiração pela outra.
— Estamos felizes por tê-la conosco!
— O prazer é todo meu.
Depois que terminaram de apertar as mãos, Yukime murmurou baixinho:
— Embora não me traga nenhuma alegria descobrir quantas pessoas importantes ele tem em sua vida…
Ambas saíram juntas da instalação, discutindo seus planos futuros.
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O colapso da GAC foi rápido.
Sabendo que não teriam reservas suficientes para atender à demanda das pessoas para negociar suas cédulas de papel, muitos comerciantes fecharam as lojas e tentaram fugir durante a noite. No fim, a Ordem dos Cavaleiros precisou ser chamada para forçá-los a abrir seus cofres, mas a quantidade de dinheiro dentro não estava nem um pouco perto da quantidade de cédulas em circulação.
No fim, todos os comerciantes foram presos. Sua punição, sem dúvida, seria severa.
Quando as massas viram o colapso da GAC, seu olhar imediatamente se voltou para a Mitsugoshi.
Na manhã seguinte à falência da GAC, todos eles se aglomeraram na filial da capital do Banco Mitsugoshi.
Havia um número suficiente deles para encher completamente a rua principal.
No momento em que o banco abriu, todos entraram correndo, cédulas em mãos. O que encontraram lá dentro, entretanto, os surpreendeu.
O Banco Mitsugoshi estava usando um grande salão como seu cofre, e havia uma montanha deslumbrante de ouro empilhada lá.
Todos os contadores cumprimentaram a multidão com sorrisos calmos e compostos.
Quando as pessoas na multidão viram o Banco Mitsugoshi atender a solicitações de troca uma após a outra, uma pessoa após a outra foi saindo.
Quando chegou o meio-dia, a fila diminui para quase nada.
Apenas cerca de trinta por cento das pessoas que faziam fila no início do dia realmente decidiu trocar suas cédulas.
Ver a reação do Banco Mitsugoshi deixou as pessoas à vontade.
A montanha de ouro, os sorrisos educados dos contadores e a reputação que o Grupo Mitsugoshi construiu ao longo do tempo certamente não fez mal nenhum. Como mais uma prova disso, não demorou muito para aparecerem mais uma vez os clientes que procuravam empréstimos em papel-moeda.
O Banco Mitsugoshi — assim como a Mitsugoshi Ltd., como um todo — foi capaz de usar o colapso da GAC para elevar sua posição e aumentar ainda mais sua confiança com os consumidores.
Agora, eram tão poderosos que nem mesmo o governo poderia enfrentá-los.
Se a Mitsugoshi fosse embora, a economia do reino seria reduzida a ruínas.
Todo esse incidente fez com que a liderança da nação visse a criação de dinheiro com alarme. No entanto, permanecia o fato de que a crise de crédito que a Mitsugoshi e os outros orquestraram trouxe a eles uma onda de prosperidade sem precedentes.
Como resultado, decidiram realizar uma reunião com representantes do Grupo Mitsugoshi e do Banco Mitsugoshi e, finalmente, chegaram a um conjunto de acordos relativos à criação de crédito.
Com isso, a série de eventos tumultuados enfim chegou ao fim.
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Eu cavei a terra com minha pá de slime.
Estive cavando até agora.
Mas, por quê? Por que não encontrei nada?
E por que não tive mais notícias de Yukime?
Ela deveria ir pegar as moedas que escondia na capital enquanto eu desenterrava o ouro e, depois disso, todos nós poderíamos viver felizes para sempre. Esse era o plano, pelo menos.
Exceto que o ouro não estava aparecendo e Yukime sumiu do mapa.
Além disso, pensando bem, o Banco Mitsugoshi sobreviveu de alguma forma.
Por quê?
O que significa tudo isso?
A única coisa que sei é que meu plano estava arruinado.
— Chefe, não estamos encontrando nada — disse Delta enquanto raspava a terra com as mãos nuas.
— Está aqui… Está em algum lugar por aqui, deveria estar.
Continue cavando. Se a única coisa que precisasse fazer fosse cavar o solo, eu poderia simplesmente explodir tudo, mas isso explodiria o ouro também.
Em outras palavras, o trabalho duro era minha única opção.
Delta me seguiu até aqui rastreando meu cheiro, por isso estava pedindo que ela me ajudasse também.
— Chefe, esta também é uma missão secreta confidencial?
— Sim, então você não pode de jeito algum contar a Alpha sobre isso.
— Certo!
— Sabe, o que temos aqui é a mensagem de um homem à beira da morte.
— Mensagem de homem coiote?
— É quando alguém lhe diz a verdade antes de morrer. Esse cara e eu nos odiávamos, então lutamos até a morte, mas, no final, chegamos a um entendimento mútuo. E a palavra que ele me deixou em seu leito de morte foi “yucca”. E apontou para cá. Em outras palavras, estava me dizendo que enterrou algo importante sob as yuccas daqui.
— Uau!
— É elementar, minha cara.
— Elementar! — Delta abanava a cauda, os olhos brilhando. — Quando terminarmos de cavar, você fará o que eu disser?
— Hein?
— Lembra, você prometeu.
— Heeeeein?
— Você prometeu, chefe!!
— Heeeeeeeeeein?
— Oh-auau… — Delta me encarou com os olhos voltados para cima.
— Desculpe, desculpe, sim, lembro-me de dizer isso.
— Sim, verdade!
— Mas eu nunca disse que faria qualquer coisa-
— Você disse que faria qualquer coisa!
— Não, eu definitivamente especifiquei que só faria as coisas dentro do razoável.
— Você disse que faria qualquer coisa!!
Merda. Delta estava totalmente convencida de que era o que eu disse mesmo.
— Delta, não foi isso que eu disse. Mentir é ruim, e se eu tivesse um gravador de voz, sua mentira seria totalmente exposta.
— Gravador de noz?
— É um tipo de Armamento das Sombras. Quando você o liga, ele destrói o mundo.
— S-Sério?!
— É por isso que você não deve mentir. Você não quer que o mundo seja destruído, não é?
— Oh-auau… Eu não quero o mundo destruído… M-Mas, chefe, você prometeu…
Delta me olhava com tristeza, à beira das lágrimas.
— Tudo bem, tudo bem, vamos chegar a um acordo. Eu farei o que você pedir dentro do razoável. Mas lembre-se, Delta, há coisas que nem eu farei. Afinal, não sou o Papai Noel.
— Noel? — Delta inclinou a cabeça para o lado.
— Papai Noel… O demônio monstruoso em carmesim que governa o mundo nas sombras…
— Um demônio?!
— A roupa dele é carmesim, encharcada de sangue. Ele destrói os sonhos das pessoas, enche-as de desespero e pinta a própria roupa com suas entranhas…
— Isso é horrível!
— Isso mesmo. Ele é um cara horrível. Uma vez, muito tempo atrás, eu também sofri em suas mãos.
— Ele até pegou você, chefe?!
— Eu tinha um sonho que queria realizar, não importava o que custasse, mas ele me decepcionava todas as vezes.
— Um sonho?
— Eu queria me tornar uma eminência nas som… não, é melhor não dizer. Jurei para mim mesmo que nunca colocaria em palavras o que de fato importa. De qualquer forma, desde criança ele me traiu ano após ano, cada vez deixando uma cicatriz no meu coração. Basicamente, Delta, o que estou tentando dizer é que não sou o Papai Noel, então há alguns desejos que não vou atender.
Por alguma razão, Delta olhava direto para o meu rosto e piscava algumas vezes. Então inclinou a cabeça.
— Mas o Papai Noel também não concede todos os desejos, certo? Você disse que ele traiu o seu sonho!
Verdade.
— Huh — eu disse.
— Huh!
— Você está certa. Isso não faz sentido.
— Não faz sentido.
Nós dois inclinamos nossas cabeças.
— Eh, que seja. O que quero dizer é que estou disposto a me comprometer, mas há algumas coisas que não farei.
— Oh-auau…
— Agora vou partir em uma jornada, então por que você não aproveita e pensa bastante sobre o que quer me pedir?
— Uma jornada?!
— Sim, uma jornada de autodescoberta…
Alpha e as outras provavelmente estão furiosas, então seria melhor se eu lhes desse algum tempo para se acalmarem. As emoções diminuem com o passar das horas e dos dias. Dizem que o tempo cura tudo. Além disso, é férias de inverno na academia agora.
Tudo o que tenho que fazer é aparecer como se nada tivesse acontecido perto da Alpha e das outras depois que as férias acabarem. Não vou me desculpar. Vou continuar normalmente, fingindo que nada aconteceu.
Acontece que descobri uma Técnica Oculta imbatível que permite que você saia vitorioso de qualquer conflito interpessoal.
O truque é… fazer com que fiquem cansados.
Tudo o que precisa fazer é fazê-los pensar: Ugh, não adianta tentar argumentar com esse cara.
Afinal, ninguém reclama quando bebês fazem as coisas. Em outras palavras, esse é o nível ao qual devo me reduzir.
Se eu não tomar cuidado, esta Técnica Oculta pode se tornar uma espada de dois gumes.
A questão é que você ganha todos os argumentos, mas de certa forma, também os perde…
— Ah, e podemos parar de cavar agora. Obrigado pela ajuda.
Meu plano foi completamente arruinado. E a Mitsugoshi acabou sobrevivendo de alguma maneira, então mesmo se eu encontrasse o ouro, não era como se isso fosse me fazer muito bem.
— Então, estou de partida para a minha jornada! Até mais.
— Espere, chefe! Algo acabou de sair do-!
Ouvi Delta gritando comigo por trás, mas corri a toda velocidade para que ela não conseguisse completar seu “pedido”.
Agora que penso nisso, a primeira vez que o Papai Noel me traiu foi em uma noite de neve como esta.
Tradução: Taiyō
Revisão: Kenichi
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