— P-por que está aqui?
Quando Alexia se virou no corredor, viu um rosto bastante familiar.
— Por que essa é a minha instalação. Investi milhares de zeni naquele homem. Apenas isso.
Confiança transbordava do sorriso largo daquele loiro arrojado conhecido como instrutor Zenon.
— É bom saber disso. Sempre pensei que tivesse algum problema na cabeça. Acho que estava certa.
Alexia deu um passo para trás, então outro. Havia uma escadaria atrás dele, e ela supôs que era sua melhor chance de fuga.
— Hm. Pense o que quiser. Porém, não irei me importar enquanto tiver o seu sangue.
— Todo mundo aqui só fala de sangue. Aqui é uma instalação de pesquisa sobre vampiros, por acaso?
— Se é isso o que quer achar, mais ou menos.
— Pule a explicação. Não curto essa coisa sobrenatural.
— Imaginei.
— Tenho certeza de que já sabe, mas a Ordem dos Cavaleiros estará aqui a qualquer minuto. É o seu fim.
— Fim? O que poderia ser o fim? — Zenon ainda sorria.
— O seu título e reputação serão arruinados, e você, obviamente, será sentenciado à morte. Ficarei feliz em soltar a guilhotina sobre o seu pescoço.
— Você está enganada. Nós dois ainda escaparemos por uma rota secreta.
— Que oferta romântica. É uma pena que tenho nojo de você.
— Você virá comigo. Com a minha pesquisa e o seu sangue, estarei destinado a receber o décimo segundo assento na Távola Redonda e direi adeus à minha posição inútil de instrutor.
— Távola Redonda? É um grupo de lunáticos, talvez?
— Os Cavaleiros da Távola Redonda é um grupo de doze cavaleiros superiores na minha religião. Tornar-se um membro traz status, honra e fortuna que você jamais imaginaria. Eles já reconheceram o meu poder. O que me falta é experiência, mas minha pesquisa sobre o seu sangue deverá dar um jeito nisso.
Zenon, melodramático, abriu os braços e soltou uma gargalhada.
— Tanto faz. Só estou cansada de toda essa conversa sobre sangue — murmurou Alexia.
— Eu preferia a Princesa Iris, mas parece que você vai ter que servir.
— Vou te matar.
— Oh, perdão. Esqueci que odeia ser comparada com a sua irmã.
— Gh…!
Um manejo poderoso da espada de Alexia indicou o início da batalha deles. Ela foi direto à jugular.
— Ooh, que medo. — Zenon defendeu-se do ataque no último segundo e bloqueou o que veio na sequência.
Faíscas voavam das lâminas que colidiam.
A julgar esta disputa apenas pela maneira com que suas espadas dançavam no ar, podia-se dizer que suas habilidades estavam no mesmo nível.
Mas aqueles que as manejavam tinham expressões diferentes. Alexia tinha uma carranca furiosa, enquanto Zenon mostrava um sorriso tranquilo.
E ficou claro que era Alexia que fervia de raiva. Ela estalou a língua, frustrada, então se afastou.
— Passou a usar espadas de má qualidade assim que tirei os olhos de você.
Zenon encarou a arma dela, e ela a olhou com uma expressão agoniada. A batalha tinha acabado de começar, entretanto, sua lâmina já estava repleta de arranhões.
— Dizem que a arma não deve ser problema para um especialista. — Alexia riu e ficou em guarda.
— Entendo. Se estamos falando de especialistas, tenho certeza que é verdade — zombou. — Mas você é medíocre. Como instrutor de luta com espadas, posso garantir.
Ficou visível que ela franziu o rosto. Por um momento, parecia que sua vontade de gritar fora afogada por completa fúria.
— Fique olhando e me diga se realmente acha que sou medíocre.
Com isso, atirou-se na direção dele com toda a energia que conseguiu reunir.
Ela sabia. Sabia muito bem que não era forte o suficiente para derrotar Zenon, e a sua arma simples não duraria. Mas tinha passado todos aqueles dias treinando com a cabeça nas nuvens. Em sua missão para se tornar mais forte que a sua irmã, percebeu suas próprias deficiências e trabalhou duro para consertá-las. Havia visto a esgrima da sua irmã mais do que qualquer um e podia imaginar cada movimento com uma precisão impecável.
Por isso que era fácil para ela copiar.
— Haaaah!! — Foi um golpe que fazia lembrar os ataques da sua irmã.
— Gh…!
Pela primeira vez, o sorriso de Zenon desapareceu. A espada que defendeu estava repleta de magia.
Ambas as espadas colidiram violentamente e repeliram uma à outra.
Os dois estavam de igual para igual…
Não.
Alexia podia estar um pouco mais forte.
Uma linha vermelha apareceu na bochecha de Zenon. Visivelmente surpreso, olhou para o sangue que limpara.
— Estou chocado. — Não havia sentido oculto em suas palavras. — Não tinha ideia de que estava escondendo sua força.
Ele moveu a palma da mão, observando-a como se checasse a cor do próprio sangue.
— Vou fazer com que se arrependa por ter me desprezado.
— Pffft. — Ele riu. — Eu certamente fui pego de surpresa, mas não passa de uma péssima imitação. Há um longo caminho pela frente antes que possa fazer algo idêntico. — Balançou a cabeça.
— Você está me tirando do sério.
— Já que nós dois estamos aqui, deixe-me lhe dar uma prova do meu verdadeiro poder. — Zenon preparou a espada.
— Gh…!
O ar mudou enquanto sua magia assumia uma qualidade mais afiada e profunda.
— Deixe-me te contar uma coisa: nunca mostrei o meu real poder para um estranho. Estou prestes a lhe apresentar as habilidades de um verdadeiro espadachim… da próxima geração da Távola!
O ar pulsava ao redor deles.
— Isso…
Não estava no mesmo nível que antes.
Alexia nunca tinha visto um ataque com tanto poder assim. Suas habilidades eram infinitamente diferentes, como um gênio e um pedaço de argila. Ele até mesmo poderia se igualar à sua irmã mais velha.
Ela não tinha como se defender contra a força devastadora da lâmina que se aproximava.
Sua reação foi involuntária, algo que se tornou parte dela após vários anos de treinamento.
Não houve impacto.
As duas espadas se chocaram, mas a dela foi destruída, completamente transformada em poeira. Sentiu como se visse aqueles fragmentos brilhantes de mithril passando por ela de longe.
Algo muito longe dali.
As memórias da sua infância ressurgiram em sua mente, das vezes em que manejar a espada não lhe trazia nada além de pura alegria.
Sua irmã estava sempre ao seu lado, e essa era uma memória distante, a qual deveria ter desaparecido há tempos.
“Você jamais será tão boa quanto a sua irmã.”
Uma lágrima escorreu do seu olho.
“Você virá comigo.”
Caindo da sua mão, o cabo danificado, daquilo que uma vez foi uma espada, atingiu o piso com um tinido seco e metálico.
Click, click.
Um som vinha da escadaria atrás de Zenon.
Click, click, click.
Alguém descia as escadas.
Click, click, click, click.
Quando o barulho parou, um homem de capa negra estava na frente deles, todo vestido de preto. Ele tinha o capuz puxado e usava uma máscara de mágico.
O homem calmamente seguiu em frente, parando a um passo de distância do alcance das armas deles.
— O homem vestido de preto… Então você é o cachorro selvagem que se atreveu a cutucar o Culto. — Havia um brilho nítido nos olhos de Zenon enquanto observava o intruso.
— Meu nome é Shadow. Espreito-me na escuridão e caço as sombras… — Sua voz era profunda e tão sombria quanto um abismo.
— Entendo. Parece que tem um ego bastante inflado por ter destruído uma das instalações menores, porém, sequer derrotou um dos nossos principais lutadores. Não passa de um covarde que enfrenta os fracotes.
Parecia que o homem que se chamava Shadow tinha seus rancores com Zenon. Era uma boa notícia para Alexia, mas ainda não sabia se era seu aliado.
— Não importa quem ou o que escolhemos destruir, é tudo a mesma coisa.
— Infelizmente, está enganado. O exército principal do Culto está aqui. Hoje, o matarei com as minhas próprias mãos; este é o seu destino.
Zenon virou a espada na direção de Shadow.
— Me chamo Zenon Griffey, o próximo ocupante do décimo segundo assento da Távola. Tirar a sua vida será a prova que darei a eles.
Então, Zenon disparou um ataque rápido na direção de Shadow, o qual desapareceu, fazendo com que ele cortasse o espaço vazio.
— Mas o qu…?!
No instante seguinte, Shadow estava atrás dele. Levou apenas um segundo para que assumisse sua posição.
Zenon não conseguia se mover.
Como se tivesse perdido noção do tempo, firmou sua espada – até mesmo segurando a respiração – para focar cada traço da sua energia no homem atrás dele.
Ninguém se moveu.
Isso mesmo. Shadow estava atrás dele, de costas e com os braços cruzados.
Uma única sentença foi o que disse:
— Muito bem… Onde estão as tropas principais do Culto?
Zenon contorceu o rosto, humilhado. Então cortou na direção do braço dele.
Entretanto, não havia ninguém ali.
— Não pode ser…!
Ouviu um manto farfalhando no ar e olhou para trás, vendo que Shadow estava no lugar em que apareceu originalmente, como se nada tivesse mudado.
Até mesmo Alexia o perdeu completamente de vista enquanto observava ao lado. Se não fosse um truque mágico ou uma habilidade, o consideraria um mestre… Não, era muito mais forte do que isso.
Suprimindo sua frustração, Zenon lentamente virou-se.
— Parece que subestimei um pouco o seu poder. Pode ter destruído as bases menores, mas ainda há várias delas.
Desta vez, fortaleceu sua magia enquanto não tirava os olhos de Shadow. O ar ondulava devido ao seu poder. Isso era mais intenso do que o golpe que destruiu a espada de Alexia.
Shadow certamente é um guerreiro extraordinário. Entretanto, Zenon é mais poderoso do que um soldado qualquer. Um garoto que foi considerado um prodígio, que cresceu vencendo inúmeros torneios e subiu os degraus para se tornar um mestre espadachim. Não havia um cavaleiro sequer no país que não conhecia o nome de Zenon Griffey.
— Mostrarei qual é o poder daquele que irá se juntar à Távola.
Que rápido…! Alexia mal conseguia acompanhar a espada dele com os olhos.
A imagem residual da lâmina cortava o ar e ia na direção do pescoço de Shadow.
— É um movimento afiado…
Em certo momento, ele ergueu sua espada negra e, sem muito esforço, bloqueou o ataque de Zenon.
— Guh…!
Eles ficaram parados no mesmo lugar enquanto Zenon tentava pressionar para conseguir sua vitória.
Todavia, Shadow recuou, usando o impulso do espadachim para jogá-lo para trás.
— Heh…!
Logo antes de se chocar contra a parede, Zenon conseguiu por pouco dar uma cambalhota no chão e reposicionar sua espada. Porém, não foi capaz de esconder sua inquietação.
Nenhum dos dois se moveu.
Shadow escolheu não se mover, mas Zenon não o fazia porque não conseguia. Sentia como se todo o seu corpo estivesse sendo controlado.
— Pensei que fosse me atingir, Senhor Próxima Geração da Távola.
— Nngh…!
O rosto de Zenon queimava com uma vermelhidão de fúria. Estava frustrado com o seu oponente, mas ainda mais consigo mesmo.
— Já chegaaaaa!! — gritou enquanto executava um ataque horizontal.
Seu impulso para frente era tão perfurante quanto uma tempestade.
Seus golpes consecutivos eram tão ferozes quanto um incêndio.
Entretanto, nenhum deles atingiu o alvo.
— Aaaaaagghhhh!!
Seus rugidos ferozes soavam vazios. Era como se um adulto estivesse praticando com uma criança.
Alexia estava em choque enquanto assistia à luta. Nunca tinha visto Zenon revelar esse seu lado antes. Lhe foram arrancados o sorriso calmo e a máscara de integridade, e era como se agora estivessem fora do seu alcance. Mesmo assim, ela não achava que a sua irmã seria capaz de oprimir Zenon.
Clang, clang, clang.
O som abafado das lâminas se chocando ecoava pela área e parecia quase fora de lugar. Era o mesmo som leve de prática.
A lâmina escura e sua rival branca marcavam suas trajetórias no ar.
O olhar de Alexia estava fixado naquela imitação de sessão de prática, hipnotizada pela espada negra. Havia um motivo para não conseguir tirar os olhos dela.
— Uma esgrima medíocre…
A silhueta em sua frente lutava da mesma forma que ela.
Quando Alexia era criança, tinha sua própria ideia de esgrima perfeita. Não era questão de talento, força nem velocidade, mas sim de construir os básicos. Mesmo assim, os outros continuavam a comparando com sua irmã e zombando dela por estar na média, o que fazia com que sentisse como se tivesse perdido seu rumo na vida.
Apesar de todas as suas lutas, nunca desistiu.
Mas agora tinha acabado de testemunhar que esses movimentos banais acabariam com o gênio Zenon Griffey.
— Incrível… — murmurou, admirada.
Ao testemunhar isso, pôde ver o caminho que ele percorreu em sua vida. Era um resultado direto dos seus esforços sérios e inabaláveis.
A irmã de Alexia podia ter tido o mesmo pensamento.
— Iris…
Sentia que finalmente entendeu as palavras que sua irmã dissera há muito tempo.
— Gaghh… d-droga…!
A lâmina de Shadow cortava na direção de Zenon, o qual foi cortado vezes demais para que pudesse se manter contando.
Sua respiração estava frenética enquanto encarava Shadow. Seus olhos enfurecidos ainda não haviam aceitado a realidade.
— M-maldito! Mostre-me quem é…! Por que esconde sua identidade se tem esse poder todo?
Aqueles com a força de Shadow tinham riquezas e eram respeitados por todos, com um potencial reconhecido pelo mundo inteiro.
Porém, ninguém sabia sobre a esgrima de Shadow. Mesmo que escondesse seu rosto, aqueles que fossem sortudos o bastante para ter um vislumbre dela jamais se esqueceriam. Mas essa era a primeira vez que tanto Zenon quanto Alexia viam uma esgrima tão incrível.
— Somos o Jardim das Sombras. Nos espreitamos na escuridão e caçamos as sombras. Esse é o único motivo pelo qual existimos…
— Você está louco…!
Zenon e Shadow trocaram olhares.
Alexia estava completamente excluída dessa troca. Sequer sabia por que lutavam ou o que tentavam conseguir.
Sangue. Criatura. Culto. Havia muitas palavras-chave para se lembrar. Todavia, não tinha ideia do que queriam dizer. Para ela, tudo isso soava como os delírios de um louco.
Entretanto, e se não fossem apenas bobagens? E se tivesse algo que Alexia não sabia acontecendo por trás dos panos?
— Tudo bem. Se está pronto para ficar sério, parece que precisarei atender às suas solicitações. — Zenon pegou uma pílula do bolso da frente. — Com esta pílula, irei despertar e superar todas as limitações humanas. Um humano comum não aguentaria esse poder e acabaria se autodestruindo. Mas aqueles da Távola são diferentes. Apenas os que podem manipular esse poder devastador têm o privilégio de se juntar à Távola Redonda.
Zenon engoliu a pílula.
— Sou o Terceiro Despertar.
Seus ferimentos começaram a se curar no mesmo instante. Os músculos se enrijeceram, os olhos ficaram injetados e seus vasos capilares saltaram. Parecia como se estivesse sendo esmagado por uma força tremenda.
— Vou mostrar a você o poder mais forte — gritou Zenon, com o sorriso calmo retornando.
Em sua forma atual, não havia dúvidas de que era mais forte do que a Princesa Iris.
Alexia acreditava que Zenon era o ser mais forte do mundo e encolheu-se devido ao desespero. Não…, teria o feito caso não tivesse visto a esgrima de Shadow.
Não achava que a forma de Zenon era a mais forte, nem um pouco. Na realidade, pensava em algo completamente diferente.
— Que feio…
— Ficou feio…
As vozes de Alexia e de Shadow se sobrepuseram. Afinal de contas, ambos se esforçavam para alcançar o mesmo tipo de técnica de espada, por isso compartilhavam do mesmo sentimento.
— Vocês acabaram de me chamar de feio? — O seu sorriso vacilou.
— Não chame essa forma patética de mais forte. É uma desgraça para aqueles que realmente são.
— Seu filho da puta.
— Com poder emprestado, jamais irá andar no caminho do mais forte.
Essa foi a primeira vez nesta batalha que Shadow intensificou sua magia. Até agora, mal havia a usado. Foi tão excepcionalmente preciso que era impossível perceber.
Mas o que era aquilo?
Essa onda de magia mostrou-se na forma de raios de luz azul-violeta. Havia centenas de faíscas extremamente finas. Era criado um padrão brilhante enquanto se envolviam ao redor de Shadow como veias.
— É lindo… — Alexia ficou maravilhada pela cena.
Não estava admirando a beleza das luzes, mas sim a precisão da magia dele.
— O que é isso…? — Zenon ficou mais uma vez chocado.
Ninguém nunca havia criado tamanha beleza com magia.
— Vou mostrar a você o verdadeiro poder mais forte… e grave isso na sua mente para sempre.
Magia se reuniu na espada negra e formou um padrão, começando a gerar uma grande espiral. Shadow continuou focando seu poder.
Parecia como se a espiral fosse engolir tudo de uma só vez.
Um poder aterrorizante era absorvido pela arma negra.
— Esse sou eu no meu ápice. — Shadow preparou sua lâmina em uma posição de estocada.
Essa pose só servia para atacar um inimigo.
— P-par-…
Era o chão que tremia? O ar? Ou o próprio Zenon?
Não, era tudo.
Tudo estremecia.
Alexia notou que também tremia. Não de medo, mas sim de euforia.
Aquela era a conclusão final.
Essa… é a esgrima mais forte.
— Contemple…
Envolta em luz, a lâmina negra foi puxada para trás e…
— Técnica Secreta: EU SOU ATÔMICO.
Então liberada…
Não se ouviu mais nada.
Uma torrente de luz passou por Alexia e envolveu o corpo de Zenon. Ela penetrava tudo, consumindo as paredes e a terra, disparando para o alto, na direção do céu.
Então, explodiu.
À medida que padrões de luz pintavam o céu noturno, toda a capital assumiu um matiz azul-violeta.
De uma distância inimaginável, as ondulações da explosão atravessaram a cidade, empurrando para longe as nuvens de chuva, fazendo o chão e as residências tremerem, antes de passar.
Tudo o que restara foi uma lua cheia e o belíssimo céu noturno repleto de estrelas.
Zenon foi vaporizado, não restando um único fragmento de pó.
O enorme buraco da explosão passava da parede até chegar à superfície.
E, então… Shadow moveu o manto e deslizou para dentro da noite.
Uma vez, havia um homem que desafiou o poder nuclear e treinou seu corpo e mente para aperfeiçoar suas técnicas.
Mas isso ainda estava muito além do seu alcance.
E, então, após muitas horas de treinamento exaustivo, enfim encontrou a resposta.
Pergunta: Como posso sobreviver ao poder nuclear?
Resposta: Torne-se o poder nuclear.
A partir disso, sua técnica esotérica EU SOU ATÔMICO nasceu. E o seu poder era, muito provavelmente, comparável ao de uma arma de destruição em massa.
Por quanto tempo tudo ficou parado? Alexia de repente notou alguém a chamando.
— Alexia… Alexia…!
A pessoa ofegava e gritava de longe. Era uma voz que reconheceu na mesma hora.
— Iris… Iris…! — gritou Alexia, passando pelo enorme buraco em uma das paredes até sair do lado de fora.
— Alexia! Alexia! — Iris correu até ela.
— Iris.. Eu… eu… gh.
Alexia foi abraçada antes mesmo que pudesse dizer para a sua irmã que estava sem ferimentos. Iris estava encharcada da cabeça aos pés, e o seu corpo estava frio, mas, ao mesmo tempo, quente.
— Estou tão feliz por você estar bem… Muito mesmo. — Iris abraçou sua irmã com força.
Com um pouco de hesitação, Alexia envolveu seus braços atrás das costas dela.
— Sinto muito. Devo estar fria.
Alexia balançou a cabeça contra o peito da irmã. Lágrimas fluíam dos seus olhos e não paravam mais de cair.
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Dois alunos estavam no telhado. Era o começo do verão. Um deles era uma garota atraente, de cabelos prateados. O outro era um garoto comum, cujo cabelo era preto.
— Esse incidente foi resolvido, é isso que dizem, mas sinto que algo está acontecendo por trás dos panos. Iris está se preparando para enviar uma brigada especial, e eu pretendo ajudá-la. Então estamos recém começando — disse a garota.
— Tudo em moderação — acrescentou o garoto.
— O que quer dizer que você ficou livre das acusações.
— Nem se estresse com isso.
Uma rajada de vento passou entre eles, e a saia dela moveu-se para revelar suas pernas brancas.
— Dá para fritar um ovo aqui em cima. Podemos entrar?
O sol do meio-dia batia sobre eles, e as duas sombras se estendiam a partir dos seus pés. Eles conseguiam ouvir o som distante das cigarras cantando.
— Espere. Tem duas coisas que quero dizer.
— Aqui?
— Sim — confirmou, espreitando os olhos e observando o céu azul. — Primeiro, quero te agradecer. Disse que gostava da minha esgrima, não é? Bem, sei que já é tarde, mas realmente fico grata.
— Sem problema.
— Eu finalmente passei a gostar. Não que isso seja por sua causa, longe disso.
— Precisava mesmo dessa última parte?
— É verdade.
Ambos se olharam, e ele foi o primeiro a desviar.
— De qualquer forma, se aprendeu a gostar da sua esgrima, já me parece bom.
— Sim, é. — A garota sorriu.
— Então, qual é a segunda coisa?
— Fingimos estar saindo até agora, mas o instrutor Zenon morreu naquele incidente.
— O que significa que estou livre dos meus deveres.
— Porém, tenho uma proposta — A garota parecia um tanto desconfortável e buscava as palavras corretas. — Se estiver tudo bem para você… — Seus olhos vermelhos vagavam, e sua voz ficou um pouco mais suave. — Será que podemos continuar assim um pouco mais?
O garoto girou para ela.
— Não, valeu — respondeu, mostrando-lhe o dedo do meio.
A garota desembainhou sua espada em um movimento fluido.
Naquela noite, um aluno encontrou uma enorme poça de sangue no telhado.
Apesar da quantidade assustadora, não havia nenhum cadáver por perto. Mesmo quando os alunos e autoridades da escola investigaram o assunto, não encontraram nenhum ferido ou pessoa desaparecida, e o caso jamais foi resolvido.
Subsequentemente, esse passou a ser chamado de o Incidente do Assassinato Sem Cadáver e considerado um dos sete mistérios da escola.
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Um dia, do nada, Alexia perguntou algo estranho à sua irmã mais velha:
— Você poderia me dizer que tipo de desculpa vai garantir perdão?
Iris franziu o cenho ao ouvir a pergunta.
O que ela está esperando de mim? Então, disse o óbvio para Alexia:
— Não existe.
Era senso comum, mas tudo isso entrou por um ouvido da sua irmã decepcionada e saiu pelo outro.
— Odeio ter que pedir desculpas, para começo de conversa — reclamou Alexia, e foi neste momento que Iris desistiu e resolveu encerrar por ali.
Mas Iris estava motivada pelo senso de dever para fazer algo a fim de ajudar sua irmã.
Pelo que ficou sabendo, a bobinha da sua irmã havia aborrecido alguém próximo dela, e o problema era que ainda não tinha pedido desculpas.
Percebeu que essa foi a primeira vez que a sua irmã perguntou sobre como fazer as pazes.
Alexia sempre pedia desculpa ao fazer algo errado. Claro, era uma desculpa superficial, sem emoção real, mas compartilhar relacionamentos rasos com ela ainda era confuso. Até o momento, Alexia estava se saindo bem.
Mas se estava perguntando como pedir desculpas, queria dizer que não se referia a um conhecido falso, e sim a um amigo.
Sua irmãzinha havia feito um amigo.
O coração de Iris explodia de alegria, um pouco de solidão e um senso avassalador de dever.
Mas dizer a ela só faria com que se rebelasse. Iris pensou sobre a situação durante todas as noites, mas, no fim, não conseguiu encontrar uma boa solução.
Para começar, Iris era bastante direta no diálogo, porém, não tinha quase nada de graça social, diferente de Alexia, que não gostava de confrontar os outros. Mesmo que sugerisse algo, sabia que não daria ouvidos, dizendo algo tipo: “Estou tendo arrepios por ser tão desconfortável”, e isso seria o fim. Realmente, as irmãs eram opostas de nascença.
Foi por isso que Iris decidiu acreditar em um certo rumor.
Em um raro dia, quando as duas tiveram um tempo livre, convidou Alexia para irem a uma loja de departamento que estava sendo assunto na cidade.
— Iris, que lugar é esse?
— Se chama Mitsugoshi. Acho que é a nova moda na capital. Fiquei sabendo que vendem alguns doces deliciosos.
— Doces? Não odeio, mas… — Alexia parecia desanimada.
Ao ver sua expressão, Iris ficou em pânico.
— E-ei, ouvi dizer que as garotas estão gostando bastante do novo doce chamado chocolate. Talvez você queira dar de presente para alguém!
Alexia a encarou com frieza.
— P-por exemplo, um novo amigo. Aposto que o deixaria feliz.
Iris era muito ruim em insinuar as coisas. Era dolorosamente patético vê-la tentar forçar um sorriso.
— Tudo bem, já entendi a ideia. Vamos entrar — sugeriu Alexia, parecendo terrivelmente entediada. — Espere, não podemos entrar ainda. Veja só a fila.
Uma multidão se formava na frente da Mitsugoshi, serpenteando freneticamente em uma longa fila.
— Vamos causar mais problemas para eles se ficarmos aqui — adicionou.
No mesmo instante, um membro da equipe imediatamente se aproximou delas.
— Princesa Iris, Princesa Alexia, obrigada por virem. Sejam bem-vindas.
A mulher de uniforme azul curvou-se educadamente e as levou para dentro. Uma rápida olhada ao redor já mostrava que as duas princesas atraíram bastante atenção da multidão.
— Entendo — disse Iris, com um aceno de cabeça, e Alexia suspirou ao seu lado.
Passaram por lojas cheias antes de serem levadas até um canto silencioso da área de compras. De acordo com sua guia de cabelo castanho, tinham sido levadas a uma butique especial para clientes de honra.
As duas princesas acharam a decoração simples, mas de bom gosto, da butique bastante refrescante, especialmente por estarem acostumadas com designs ornamentados e decorações. Todo produto novo e único trazia uma luz aos olhos apáticos de Alexia.
Uma deslumbrante elfa de cabelos azuis apareceu diante delas.
— Obrigada pela paciência. Me chamo Luna, presidente da Mitsugoshi Ltd. Esse é o nosso mais novo produto: chocolate.
Um pedaço marrom, do tamanho de uma bocada, foi colocado na frente de Iris e, então, de Alexia.
— Se chama trufa de chocolate. Acabamos de lançar no mercado.
— Uma trufa…?
— Não parece tão apetitosa — comentou Alexia, soando indiferente.
— M-mas tem um aroma adorável — interrompeu Iris, imediatamente tentando compensar pela sua irmã.
— Por favor, experimentem um pedaço — respondeu Luna com um sorriso confiante.
— Bem, obrigada.
— Já que insiste.
No momento em que colocaram as amostras na boca, seus rostos se iluminaram.
— Isso é… muito doce. Um sabor complexo. Sinto como se pudesse comer dezenas.
— A parte amarga realça a doçura. É suave, rica e tem um aroma divino. Vou levar.
Iris comprou uma de cada, naturalmente. E, para sua surpresa, Alexia fez o mesmo. Mitsugoshi arranjou tudo para que os itens fossem entregues direto ao castelo. Até mesmo o serviço deles era excepcional.
— Alexia, não deveria pedir para que embrulhassem para presente?
— Não precisa.
— O-oh, tudo bem.
Luna aproximou-se das duas enquanto se preparavam para ir embora.
— Gostariam de ver alguns dos nossos outros produtos? Tenho certeza que vão gostar.
— Bem…
As garotas não pretendiam ficar muito tempo, mas estavam curiosas demais para ver outras coisas da empresa que desenvolveu o chocolate, algo que atraiu o interesse até mesmo de Alexia.
— Sim, por favor.
— Maravilha.
Com uma ordem rápida à sua equipe, Luna apresentou diversos produtos, e não eram apenas doces. Tinham chá, licor, acessórios, produtos do dia a dia, comidas gourmet e em conserva… Tudo transbordava com qualidades inovadoras e fascinantes. Os produtos basicamente forçavam maços inesperados de dinheiro para fora de suas carteiras.
E, então, um pedaço de pano foi colocado diante delas.
— O que é isso…? — Alexia inclinou a cabeça, pegando o material preto e rendado com dois dedos.
— É uma das nossas calcinhas para mulheres — apresentou Luna com um sorriso.
— Roupa íntima.
— Sério…?
Iris e Alexia analisaram o vestuário preto em forma de T, bordado com um laço branco.
Podiam ver que era uma roupa íntima ao olhar mais de perto, mas o tamanho do tecido parecia um tanto pequeno demais. A bunda delas ficaria para fora se usassem essas calcinhas. Além disso, algumas partes eram transparentes.
— As chamamos de fio dental.
— F… Fio dental? — Iris estremeceu e gaguejou diante do design que escondia o mínimo possível.
Ainda que fosse bonitinha, suas intenções eram muito vulgares para o gosto dela.
E-essas calcinhas podem mesmo existir?
— Quanto aos cavalheiros, eles parecem gostar bastante.
Os ouvidos de Alexia captaram bem a última parte.
— Iris…
— Alexia, não está falando sério…?
— Estou confiante no formato da minha bunda.
— E-esse não é o problema!! — gritou Iris.
O que essa pirralha louca está dizendo?!
— P-p-p-p-por favor, não vista isso! Uma princesa jamais deveria usar roupas sensuais!
— Estou confiante no formato da minha bunda.
— Você já disse isso! É inapropriado! Fora de questão! Proíbo!
— Pode experimentar uma, se quiser.
Iris conseguiu parar a tempo antes de gritar para que Luna cuidasse da própria vida.
— Sim, por favor — disse Alexia.
— Não faça isso! — contrariou Iris.
— Qual é, Iris, só vou experimentar.
— Sim, certo! Tipo assim, está basicamente armando uma situação em que vai ser obrigada a comprar! Vai ficar se fazendo de indecisa e, então, vai chegar lá e comprar de qualquer forma. Sei muito bem como funciona!
Alexia estalou a língua em resposta, irritada.
— Vossa Alteza, espero que não haja mal-entendido algum sobre o nosso produto. Os fios dentais são feitos para mulheres. — Luna se levantou. — Para falar a verdade, estou usando o mesmo modelo neste exato momento.
Ela virou as costas para as duas, as quais focaram a atenção na bunda torneada debaixo do vestido apertado dela.
— Vejam. Mesmo que o meu vestido seja fino, não tem como ver as linhas da calcinha.
— V-você tem razão.
Linhas de roupa íntima sempre ficavam visíveis debaixo de tecidos leves. Havia garotas que se recusavam a usar roupas íntimas em eventos formais para evitar que ficassem destacadas.
Mas esse fio dental eliminava o problema, porque não podia ser visto debaixo da roupa.
— Você está mesmo usando…?
— Gostaria de dar uma olhada? — perguntou Luna, lentamente erguendo o vestido para revelar suas pernas leitosas.
— T-tô de boa!
— Era brincadeira. — Ela sorriu sedutoramente e puxou o vestido para baixo. — Gostaria de experimentar, pelo menos?
— Sim.
— C-contanto que só queira ver como fica…
As duas seguiram Luna até um grande provador.
Nervosa, Iris observava Alexia escolhendo alegremente entre uma calcinha e outra.
Alexia ergueu a saia até a cintura e puxou a sua calcinha branca, deixando-a cair nos calcanhares antes de levantar um dos pés e, depois, o outro. Após a pendurar em um gancho na parede da sala de troca, estendeu o fio dental na sua frente.
— É praticamente transparente… — percebeu Iris, soando bastante desconcertada.
— Parece bem refrescante para mim — disse Alexia, divertindo-se.
Ela curvou-se para frente e ergueu o pé direito, enfiando o fio dental por uma perna e, então, pela outra. Puxou-o para debaixo da sua saia e inclinou a cabeça, curiosa.
— Parece um pouco estranho… — comentou.
Iris não sabia o que dizer quando viu sua irmã erguendo a saia.
— Minha nossa… — A visão de Iris ficou completamente branca.
— Vossa Majestade, você a vestiu ao contrário.
— Eh, isso explica tudo — respondeu Alexia para Luna, deixando a sua irmã embasbacada ao lado enquanto tirava o fio dental e o colocava do jeito certo.
— Eeh, que sensação boa.
— Sim, é feito com o nosso melhor tecido.
Alexia chutou, agachou-se e abriu as pernas para testar.
— Iris, dê uma olhada.
Isso a puxou de volta para a realidade.
— Veja. — Alexia puxou a saia para revelar sua bunda de formato perfeito, a qual estava quase que toda exposta.
Sua pele branca e delicada brilhava com a luz do provador. Alexia rebolava alegremente, e suas nádegas se moviam.
— P-pare com esse comportamento descarado agora mesmo!
— Viu só? Sem marcas de calcinha visíveis — acrescentou Luna.
Quando Alexia baixou a saia, Iris não pôde ver nada.
— E veja a frente. É muito bonitinha.
Alexia ergueu a saia mais uma vez, virando-se para Iris. O design era fofo, mas…
— A-A-Alexia, está completamente transparente…
— Esconde o suficiente.
Iris entoou em sua mente três vezes: Não é o suficiente, não é o suficiente, não é o suficiente.
— Vou comprar três dessas e de todas as outras cores.
— Obrigada pela preferência.
— Nem ferrando! Eu proíbo!! — Iris saiu do seu transe. — A-aquelas vestimentas são perversas demais para as princesas reais de Midgar. Eu não vou permitir isso, mas não mesmo!
— Iris…!
— Nuuuuuuuuuunca, nunca, jamais!!
— Mas é só uma calcinha!!
As duas se encararam. Luna quase conseguia ver vapor saindo das orelhas delas.
— Tudo bem.
— Alexia, até que enfim concordou.
— Sabe, quero ouvir mais você. Sempre fui seduzida por palavras sem sentido e perdi de vista o que realmente importava. Igual à vez em que disse que gostava da minha esgrima.
Com sua calcinha transparente à mostra, Alexia continuou olhando calorosamente para Iris.
— Sim, me lembro disso.
— Minha esgrima é um símbolo da minha vida pequena e insignificante. É por isso que quero ouvir mais sobre mim daqueles que aceitaram isso.
— Alexia… — Iris ficou tão emocionada que tremia. Enfim estavam de acordo.
— Se não pode aceitar fios dentais, não comprarei. Quero muito, muito, muito usá-los, mas não irei caso você não queira. Por isso, me diga: tem realmente certeza de que estão fora de questão? — Alexia olhava direto para os olhos da sua irmã, como se observasse sua alma.
Iris vacilou.
— Hm, eu… Bem, não são totalmente inaceitáveis…
— Não são?
— Não…
— Então vou comprar!
— Obrigada pela compra!
Iris sabia que estava sendo enganada, mas sorriu e deixou isso de lado ao ver sua irmã sorrindo radiantemente.
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