A Eminência nas Sombras

A Eminência nas Sombras – Vol. 01 – Cap. 00 – Prólogo – Preparando o Palco Perfeito!


 

Eu honestamente não lembro o que deu início ao desejo. Tudo o que sei é que admiro agentes das sombras desde que me conheço por gente.

Foi um certo anime? Ou foi um mangá – talvez um filme? Hm, acho que não importa. Eu ficava animado com tudo que apresentasse um mentor, ou uma eminência nas sombras, como eu gosto de chamá-los. Estes personagens nunca eram os protagonistas nem os chefões finais, eram relegados a um papel por trás das cenas, onde exibiam seus poderes e interferiam nos assuntos dos outros. Sempre admirei homens nas sombras. Eu queria ser um deles.

Pense em crianças que veneram seus super-heróis preferidos. Esse era eu, mas com os mestres conspiradores.

Bem, havia uma coisa que nos diferenciava: minha reverência não era de pouca duração. Na realidade, estava enterrado no fundo do meu coração, sem nunca morrer e me guiando pela vida. Para ficar mais forte, aprendi tudo, do caratê ao boxe, da esgrima às artes marciais variadas. Me esforçava durante todas as minhas práticas, escondendo todo o meu poder do mundo e me preparando para o fatídico dia.

Na escola, fiz o papel de ser o medíocre agradável, um rosto qualquer na multidão. Como um NPC em um jogo ou parte dos figurantes. Não causava mal algum. Porém, por trás dessa fachada de normalidade, treinava a todo vapor. Foi assim que passei toda a minha infância.

Entretanto, à medida que o tempo passava, uma sensação desagradável começou a me assombrar: eu estava condenado à realidade.

Sim, isso mesmo.

Foi tudo por nada.

Percebi que nunca me tornaria poderoso como os comandantes das sombras nas histórias. Não importava o quanto treinasse nas artes marciais. Certo, podia dar uma surra em alguns malandrões… Mas só isso. Seria uma luta difícil se alguém puxasse uma arma e, caso estivesse cercado por soldados bem equipados, eu estaria frito, mortinho da silva, acabado.

A ideia de um agente das sombras ser pisoteado contra a calçada por alguns soldados… Ha! Ridículo! Vamos supor que eu treine por mais dez anos – ou que me torne o maior artista marcial do mundo –, ainda seria massacrado por um grupo de soldados.

Ou talvez conseguiria escapar por um fio, ou treinaria duro o bastante para revidar. Tudo estava dentro do reino da possibilidade. Mas mesmo que eu de alguma forma conseguisse fazer isso, aqueles caras poderiam disparar um míssil nuclear e me vaporizar em um instante. Há um limite para o corpo humano. Sei muito bem disso.

Dito isso, meus mestres conspiradores jamais seriam derrubados por um míssil nuclear. Isso significa que eu precisava ser impenetrável inclusive a eles.

O que é necessário para sobreviver a um ataque nuclear?

É a habilidade de superforça?

Será que é ter um corpo de aço?

E quanto à estamina ilimitada?

Errado, errado e errado de novo. É necessário um tipo totalmente diferente de poder.

Alguns o chamam de magia, outros, mana. Ou chi, ou aura, ou… Você entendeu a ideia. Qualquer coisa serve. Preciso obter essa habilidade quebrada. Conseguirei chegar à conclusão quando enfim confrontar a realidade de frente.

Tentarei explicar. Vamos supor que alguém está em uma missão em busca de poderes mágicos. Qualquer um pensaria que esse cara está pirado. Infernos, eu também iria. Acharia que tinha perdido a cabeça.

Mas considere o seguinte: ninguém no mundo provou que magia existe… Ou provou que não existe.

Eu não poderia encontrar esses poderes com a minha sanidade intacta. Precisava mergulhar fundo, bem nas profundezas da loucura.

Comecei a treinar de uma nova forma, a qual se aproximava bastante do impossível.

Afinal de contas, ninguém sabe como adquirir magia, mana, chi, auras ou qualquer outra coisa.

Pratiquei meditação Zen; enfrentei a cerimônia de purificação ao ficar debaixo de cachoeiras; foquei todo o meu ser interior; fiz jejum; dominei a arte da ioga; troquei de religiões; procurei por espíritos sagrados; rezei a deus; prendi-me a uma cruz. Não havia resposta correta, o que significava que eu fiz várias tentativas às cegas e percorri o caminho que escolhi.

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Já era tarde quando terminei minha sessão diária de treinamento.

Juntei a minha roupa, a qual tinha deixado ao lado, a vesti e enfiei meus braços pelas mangas do uniforme da escola. Ainda não tinha descoberto essas habilidades mágicas secretas, mas estava começando a sentir os efeitos do meu treinamento, pelo menos, eu acho.

Como neste exato momento.

Pude ver clarões de luz passando pela minha mente e sentir o mundo girando.

Poderia ser magia… Ou auras… De qualquer forma, estou sentindo os efeitos, disso tenho certeza. Estou orgulhoso em anunciar que completei outra sessão com sucesso.

Quando estou no meio dela, rasgo cada peça de roupa e fico peladão na floresta. Isso me torna um com o universo. Eu bato meu crânio no tronco de uma árvore gigante para acabar fisicamente com os meus pensamentos mundanos. Além disso, isso estimula meu cérebro e incita os meus poderes latentes a despertarem.

Sabe, gosto muito da lógica quando se trata dessas coisas.

Pois é, tudo está começando a ficar embaçado agora. É uma sensação semelhante a causar uma concussão em mim mesmo. Saio da floresta com passos leves, sentindo-me como se pisasse nas nuvens.

Justo naquele momento, vejo luz — dois clarões flutuavam no ar e cortavam o espaço. Que estranho. Elas acenam para mim, guiando-me para algum lugar.

— Ma-magia…? — sussurrei, andando na ponta dos dedos em direção à luz.

Deve ser… Tem que ser! Finalmente encontrei os poderes do desconhecido!

Percebi que parei de andar e comecei a correr, tropeçando nas raízes das árvores e continuando a cambalear para frente — sem parar, como uma criatura na floresta.

— Magia! Magia! Magia! MAGIA, MAGIA, MAGIA!!!! — gritei, me atirando na direção das luzes e pronto para agarrá-las em pleno ar… — Hmm…?

Conforme um par de faróis dianteiros tomavam conta da minha visão com um brilho cegante, ouço o grito agudo de uma freada repentina soando sem parar.

E, então, uma colisão. Seu impacto perfurou meu corpo… E a minha magia…

 

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Conclusão: fui capaz de encontrar os poderes mágicos.

Quando abri meus olhos, senti que estava cercado por sua energia, ainda que tenha que admitir que parece diferente daquelas duas luzes. Hm, não é nada demais.

Ah, e outro pequeno detalhe: como efeito colateral, consegui reencarnar. Aposto que abri a porta para outro mundo quando encontrei magia ou algo do tipo. Que seja.

No momento, sou um bebê com alguns meses de idade. Só recentemente que passei a formar pensamentos, mas ainda é difícil supor quanto tempo passou até o dado momento. Além disso, não conheço nenhuma palavra, mas acho que dá para reconhecer que a civilização é mais ou menos a mesma que a da Europa da Idade Média.

Mas nada disso é importante. Consegui os poderes mágicos. Este era o objetivo final. Não tinha como me importar menos com o que acontecia ou com as características bônus.

Percebi a magia assim que comecei a demonstrar sinais de consciência. Tudo ao meu redor, consigo ver minúsculos grãos de luz flutuando e cintilando. Isso me lembra daquelas vezes em minha vida passada, quando brincava em um campo de flores completamente nu… Para treinar e encontrar espíritos, obviamente.

Como pode ver, meu treinamento não foi um completo desperdício, afinal. Quero dizer, minha habilidade de detectar energia é prova o suficiente, e eu posso controlá-la facilmente com meus membros. É comparável a quando eu prendi o meu corpo nu a uma cruz – reconhecimento a Jesus – ou talvez quando troquei de religiões e dançava em preces em meu traje de nascimento… Aposto que cada uma dessas coisinhas em minhas sessões de treinamento me ajudou a longo prazo. Isso já me ensinou que posso ficar mais forte.

Além disso, o tempo não era um problema para um bebê. Estou pronto para usar esses anos para treinar e me tornar uma eminência nas sombras de uma vez por todas… Opa, acho que enchi as fraldas.

O que me faz lembrar. Ouvi em algum lugar que pássaros deixam suas cacas saírem involuntariamente, e eu acho que bebês humanos são iguais. Posso ter uma boa luta com lógica e razão, mas parece que meus instintos assumem o controle, sussurrando é só fazer no meu ouvido.

Dito isto, é de mim que estamos falando. Passei as minhas horas livres treinando em minha vida passada. Reunindo toda a força do meu corpo, pressiono meu esfíncter, ganhando um tempo para que eu…

— Buááááááááááá!

Convoque pessoas…

 

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Acho que já faz dez anos.

Sabe, magia é algo de outro nível. Significa que eu posso superar as limitações corpóreas dos humanos: erguer pedregulhos enormes com um dedo, correr duas vezes mais rápido do que um cavalo, saltar a uma altura mais alta que a de uma casa.

Mesmo assim, não sou páreo para mísseis nucleares. Bem, sei que minhas defesas vão melhorar com a minha capacidade mágica, mas você já viu o poder de fogo daquelas armas da Terra? Teve uma vez em que contemplei o fato de tê-las esquecido por completo, já que não existem mísseis nucleares neste mundo.

Mas o que há de bom em um mestre conspirador que se contenta com pouco?

Nada bom. Nem um pouco.

Isso significa que a minha próxima missão é me tornar forte o suficiente para enfrentar armas de destruição em massa. Depois de uma extensa pesquisa e treinamento, encontrei uma solução em potencial, a qual estaria incorporando em meus experimentos diários.

Isso aí. E parece que nasci em uma família nobre. Por gerações, os membros desta família têm treinado para se tornarem cavaleiros negros, os quais usam magia para aprimoramento e matar inimigos em batalha. E como filho de sucesso da minha família (Não…), vivo meus dias como seu aprendiz comum. Afinal de contas, agentes das sombras precisam ser extremamente seletivos sobre quando, onde e para quem revelar seus poderes. Pois é… Vou mentir e esperar até lá.

Sei que não estou exercendo meu verdadeiro potencial e estou tomando atalhos, mas aprendi algumas habilidades como aprendiz que vêm a calhar. Sobre como a magia é usada no campo de batalha neste mundo. Foi uma boa oportunidade para eu refletir sobre minhas próprias técnicas.

Para ser completamente honesto, está claro para mim que os estilos de luta da minha vida passada são cem vezes mais lógicos e refinados do que os daqui. Quero dizer, veja qualquer batalha de artes marciais contemporânea. Aqueles lutadores desprezam movimentos desnecessários, pegando de várias escolas de combate e reduzindo-os até que fiquem perfeitos. Isso cria as condições para a luta “perfeita”. Depende das regras do jogo, é claro, mas essa atitude mental pode ser usada para identificar a melhor das opções em qualquer situação.

E, então, considere este mundo. Primeiro e mais importante, as técnicas de luta deles ficam em seu país de origem. Isso significa que diferentes escolas de combate não cruzam fronteiras. Além disso, há certas habilidades secretas que países não vão permitir fora de sua jurisdição – mas não é como fôssemos capazes de espalhá-las, já que não existem formas de mídia disponíveis para nós. O que quer dizer que não podemos combinar técnicas de outras formas de luta, muito menos rejeitar ou melhorar a nossa própria.

Se eu tivesse que descrever este sistema em uma palavra, chamaria de bruto.

Mas tem uma diferença fundamental entre os dois mundos. Isso mesmo: magia. Isso muda completamente a base do desempenho físico.

Tome como exemplo a força física.

Posso erguer alguém com uma mão, o que significa que qualquer conhecimento em combate corpo a corpo e luta livre, ou “luta no chão”, é jogado pela janela. Mesmo que estejamos em uma posição de luta montada, posso erguer-me no ar ao flexionar meu abdômen. Se tiver o meu pé preso por um oponente em uma guarda ofensiva, posso atingi-lo ao ativar os músculos da minha perna. Luta no chão está fora de questão.

É como a forma que os humanos têm o seu método de combate e gorilas têm sua própria raça. E vou apenas deixar assim.

Também existem diferenças na distância e velocidade nas quais os combatentes começam seus ataques – o que significa que é mais complicado prever seus movimentos em batalha. Essa pode ser a coisa mais importante. Quero dizer, artes marciais se baseiam completamente em observar seu oponente a uma distância apropriada. O ângulo, a posição e a distância de seus ataques são tudo.

Levei um tempo para pegar o jeito da última, especialmente pelo fato de que esses lutadores atacam de longe, algo em torno de dezesseis pés de distância. Tipo assim, eu acho que entendi. Eles são bem rápidos e dão passos gigantescos, e eu apenas assumi que essa é a forma de luta deles… Até que notei que servia para compensar as suas fracas táticas de defesas.

Tenho certeza de que é verdade para todas as artes marciais: aqueles que não podem se proteger vão manter distância dos seus oponentes.

Ser atingido é realmente assustador. Eu entendi. Recuar para onde o seu oponente não pode te alcançar é tentador. Mas isso resulta em uma disputa onde um lutador ataca e o outro recua, e vice-versa, o que pode ser chato demais. Chama isso de vantagem? Acho que não. É apenas um exercício de correr de um lado para o outro.

Não importa se os lutadores estão a cinco ou cem metros um do outro, eles não podem dar um golpe decente de forma alguma. Podia ser seis, sete ou até dez metros, seria a mesma coisa.

Este era um aviso para diminuir a distância e lutarem.

Entretanto, uma vez que ultrapassa um certo limite, um milímetro pode fazer uma diferença enorme. E isso vale para o exato ponto onde eu posso tanto atacar quanto reagir a um ataque. Pense em outros fatores, como o ângulo dos meus ataques, e o mínimo giro pode significar uma vantagem, ou uma desvantagem. A limitação das margens é o melhor alcance entre dois lutadores.

Uma batalha não deveria ser de um combatente correndo dezesseis pés e o outro saltando dezenove para trás.

Acho que vi essa coisa toda com uma ideia do que esperar de outros mundos, a qual – composta com o meu desconhecimento sobre magia – me deixou confuso sobre a cena de combate. Mas, hm, comecei a me orientar ultimamente, e agora está tudo tranquilo.

Treino todos os dias em casa, onde nosso pai basicamente nos guia sobre como derrubar, e eu luto com a minha irmã mais velha. Sei que ela é apenas dois anos mais velha do que eu, mas tem um talento natural, de acordo com o que os outros falam. Se continuar assim, assumirá o comando da família, o que não é incomum neste mundo, já que magia pode tornar as mulheres fortes o bastante para se tornarem herdeiras.

— Caramba, você é tão forte… — choramingo todo dia enquanto ela me espanca.

Mas não posso vencer. Se quero me tornar um mentor das sombras, tenho que me estabelecer como o mais mediano de todos os personagens de fundo.

 

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E é assim que tenho vivido meu dia a dia. Tendo lições sobre como agir como um aristocrata e saindo com pessoas para assegurar a minha posição como um extra discreto, e eu dificilmente consigo tempo livre durante o dia.

O que significa que o único tempo livre para mim treinar é depois que todo mundo já foi para a cama, tarde da noite. Posso estar atrapalhando o meu sono da beleza, mas estive usando magia para me recuperar mais do que depressa e meditando para recuperar o sono perdido de novas maneiras. E, agora, é bem capaz de eu ter adquirido síndrome do sono insuficiente. Mas dá certo.

Tudo bem, hora de voltar aos negócios. Entrei em meu regime de treinamento usual na floresta. Tenho algo especial planejado para hoje.

Ouvi dizer que bandidos estão residindo na cidade fantasma aqui perto. De acordo com as minhas investigações, é uma grande gangue de ladrões, e é a oportunidade perfeita para testar minha mais nova arma.

Eu dou um jeito em bandidos aqui e ali, mas um grupo inteiro de criminosos? Este é o evento do ano. E sempre estão me faltando parceiros, por isso dou as boas-vindas aos malfeitores, com os braços abertos.

Ah, por favor, por favor, por favor, encham esse lugar com mais crimes!

Acho que é padrão para os vilarejos tentarem lidar com agressores à sua maneira, mas eles quase sempre saem ilesos. Quero dizer, nosso sistema judicial está na cidade, motivo pelo qual decidi assumir a lei com minhas próprias mãos.

Hoje é um dia histórico, minha primeira batalha oficial com minha mais nova arma. Estive fazendo testes com ela durante meses e a chamo de “traje corpóreo de slime”.

Deixe-me explicar:

Podemos usar magia neste mundo para fortalecer nossos corpos e armas, mas há perdas de energia quando se transfere de um para o outro. Por exemplo, se eu movimentar cem correntes de magia por uma espada de aço comum, apenas dez por cento será usada em combate. Um enorme total de noventa por cento é perdido. Mesmo uma espada de mithril, a qual é conhecida por ser compatível com magia, é considerada de alto nível se tiver uma capacidade de cinquenta por cento.

Foi então que os slimes chamaram a minha atenção. Um slime é um ser mágico que usa energia para trocar de forma e oscilar de lugar em lugar. De acordo com a minha pesquisa, descobri que a condutividade deles é de um incrível noventa e nove por cento. Além disso, estão em estado líquido, o que significa que podem mudar de forma à vontade.

Comecei a testar geleias de slime depois de capturá-los e esmagar seus núcleos – mais de mil deles, fácil. Na realidade, quase os levei à beira da extinção na minha área ao matar demais, por isso tive que ir em uma expedição para encontrar mais.

As geleias são fáceis de se manusear e fortes, para ajudar. Moldei o slime com sucesso em um traje vestível, o qual é superleve e silencioso, diferente de uma armadura. Além disso, não é quase como se apoiasse meus movimentos? E, é claro, me deu defesas mortais.

No momento, estou envolto por um traje de slime. É uma roupa simples, sem frescuras e que se encaixa perfeitamente ao meu corpo, exceto pelos olhos, narinas e boca. Estou praticamente indistinguível do criminoso em um certo mangá famoso de detetive.

Eu posso querer pensar em um design mais adequado para quando intervir em um esquema como um agente das sombras de verdade.

Consegui chegar à cidade fantasma tarde da noite, mas posso ver algumas luzes na escuridão. Os ladrões pareciam estar tendo um banquete para celebrar o roubo aos mercadores. Uou, que sorte a minha.

Sabe, ladrões não são bons em planejar e imediatamente desperdiçam o que roubam, e isso quer dizer que só têm algo decente logo depois de um ataque bem sucedido. E o tesouro de um homem é o tesouro de outro. O que é deles é meu. É assim que conseguirei os fundos para me tornar um mestre conspirador.

De qualquer forma, destruí o banquete deles, animado pra caramba – não com um ataque surpresa, pois não funcionaria para uma boa sessão de prática.

— Yahoo! Entreguem o ouro, lixões! — gritei no meio do banquete deles.

— Q-Quem diabos é esse tampinha!?

Bem, tenho só dez anos. Tipo, dã. É natural que eu seja baixinho.

— Vocês me ouviram! Tragam todos os bens! — gritei, jogando longe o homem rude por ter me chamado de baixinho.

Os outros ladrões enfim puxaram suas armas.

— Ei, baixa a bola, não vamos nos segurar, seu pirra…!

— Toma essa! — exclamei enquanto cortava o pescoço dele, separando sua cabeça dos ombros no meio da frase.

Isso mesmo. Minha espada é feita de slime, e isso significa que posso puxá-la do meu traje quando a situação exigir. E ela tem um monte de funções estilosas.

Número um. Pode alongar-se.

— Toma essa! E essa! E essa! — Estendi minha espada e cortei todos os ladrões nos arredores.

Estiquei o slime na forma de um chicote de gumes tão afiados quanto uma espada. É a minha primeira vez o manejando, então estou um tanto nervoso, mas posso ver com clareza como é útil.

— E isso! E isso! E… Hã?

Percebi que o lugar ficou em silêncio enquanto eu estava um tanto absorto com os cortes e fatias ao meu redor.

Espere, só tem um cara sobrando?

— Q-quem é você…?

— Acho que você será a minha cobaia para a função número dois.

— M-mas o que diabos está falando…?!

— Resumindo, você parece mais forte que o resto. Assumo que seja o chefe deles, né? Suas chances de vitória são baixas, mas se me deixar praticar com você, aposto que viverá por, tipo assim, dois minutos a mais. Boa sorte.

— P-pare de brincadeira, pirralho! Na capital, sou…!

— Ei, você. Pule a conversa fiada e venha.

— Morra, maldição! — gritou o Chefe (ou sei lá) à medida em que diminuía a distância entre nós, pegando sua adorável companheira para atacar na minha direção, mas eu, obviamente… nem me mexi.

Sua espada atingiu direto no meu peito, e eu fui jogado no chão por causa do impacto.

— Haha! É isso o que ganha por mexer comigo! Dominei o método Bushin Real e… O-o quê?!

— Surpresa! Você não conseguiu nem me arranhar.

Me ergui de pé como se nada tivesse acontecido e, uou, não tinha como ficar mais feliz com a defesa do traje! Tipo assim, esses ataques fracotes sequer podem me tocar.

— Ouvi dizer que isso parece ser bem famoso na capital. Me mostre.

— Vá se ferrar! — xingou o Chefe enquanto me atacava.

Pois é, tranquilo. À medida em que movimentava sua espada com toda a força, mesmo despreparado, dei passos para o lado e mergulhei para me esquivar sem problemas.

O método Bushin Real, né? Eu poderia aprender esse método de manejar a espada.

Quero dizer, não é todo dia que se vê alguém lutando com outra coisa que não seja espiritualidade, padrões antiquados ou crenças pessoais neste mundo. Esta era uma luta motivada pela lógica. Posso ver pelo seu conjunto desajeitado de ataques.

No tempo de um segundo, um pequeno passo à frente.

O vi calculando seu próximo golpe e aproximando-se de maneiras criativas. Dito isso, seus ataques deixavam muito a desejar e, no momento seguinte, dava um rápido passo para fora do seu alcance.

— P-por que… Por que não consigo te acertar?!

— Então, você é mais fraco que o meu velho. Ainda que eu o ache mais forte do que a minha irmã. Não que isso signifique alguma coisa. E aposto que ela vai chutar a sua bunda em mais um ano.

— Seu merdinhaaaaaaaa! — gritou ele, freneticamente movimentando sua espada na minha direção.

Parei seus movimentos e chutei-o levemente na canela – movendo minha perna de repente e depressa por reflexo.

— Gwah, ah! Por quê…? — gemeu o Chefe, curvando-se em posição fetal e agarrando a perna.

Sangue pingava da sua canela e formava uma poça no chão.

É um truque barato. Tenho uma lâmina bem afiada que salta da ponta dos meus dedos.

A segunda característica útil da espada de slime é que posso brandir minha lâmina de onde e quando eu quiser. Achei que essa tática era a que mais mostrava potencial. Tudo o que preciso fazer é ficar na frente do inimigo e cortá-lo com a espada em meu sapato, já que ataques na parte inferior do corpo são mais difíceis de bloquear. Bloqueio ataques, paro lâminas e dou um chute no meu oponente. Não é nada charmoso, mas dá para o gasto.

— Acho que encerramos.

— E-espere…!

— Você não durou nem dois minutos — falei, antes de chutar o chefe no queixo com a lâmina em meu pé.

Morte por empalação.

Ele se contorcia enquanto eu o empurrava para o lado e remexia em suas coisas.

— Pinturas? Não posso vender isso. Sem interesse na comida. Qual é. Onde está o dinheiro, as joias e os metais preciosos? Me dá, me dá, me dá.

Havia várias carruagens com objetos do roubo e diversos mercadores mortos.

Sussurrei para os cadáveres:

— Me vinguei por vocês. Agora podem descansar sabendo que seus tesouros terão bom uso. Espero que vocês vão para o paraíso.

Reuni meu roubo e rezei em silêncio. Estou achando que encontrei cerca de um milhão de zeni. Um zeni é mais ou menos igual a um iene japonês. Tudo isso irá ajudar a fundar as minhas atividades como um agente das sombras. Sabe, o mundo seria um lugar muito melhor se estivesse transbordando de criminosos. Ah, como eu queria que a vida fosse como em um videogame, em que eu pudesse encontrar inimigos ao simplesmente andar pela rua.

— Por favor, gere mais caos na sua próxima vida — falei ao Chefe, mostrando-lhe um sinal de positivo, quando percebi… Algo além do meu dedão. — Aquilo é… Uma jaula?

Parece forte e grande.

— Eles têm escravos? Eh, não tenho interesse em qualquer coisa que não possa ser trocada por dinheiro.

Mas e se tiver algo valioso aí dentro? Ergui o que a cobria.

— Bem, isso é… Inesperado.

Não tenho certeza de como descrever, mas essa jaula contém… Um amontoado de carne podre. Eu meio que imaginava que fosse humano, mas não tinha ideia da idade ou gênero.

Entretanto, estava vivo. Espere, pode até mesmo estar consciente. Espiei a jaula, e a carne de repente saltou.

Ouvi dizer que a Igreja estava executando essas criaturas. Acho que são chamadas de “possuídas”. Nascem como humanos normais até que, do nada, sua carne começa a apodrecer, estando destinados à morte. Mas a Igreja vai lá e os compra e executa em nome da purificação. Dizem que estão exorcizando demônios, mas estão apenas assassinando os doentes. Porém, as massas ignorantes aplaudem e os elogiam por manterem a paz no mundo. É exatamente o que você esperaria da Era Medieval. Deprimente pra caramba.

Aposto que conseguiria mais zeni do que toda essa carga de itens se vendesse isso para a Igreja, mas não faz sentido, já que não posso vender.

Bem, acho que deveria acabar com a sua miséria.

Enfiei a minha espada de slime na jaula, mas percebi algo.

Aquele amontoado de carne possuía magia em abundância. Estive treinando desde a infância, mas a dela superava a minha – é algo bestial, para ser honesto. Além disso…

— Essa frequência… É o efeito de sobrecarga mágica?

Suponho que uma sobrecarga mágica deve ser a razão para aquilo ter se tornado uma pilha de carne. Sofri com os seus efeitos em primeira mão. Se não tivesse a controlado na época, poderia ter acabado com o mesmo destino.

Sei que magia tem certos efeitos sobre o corpo, algo que senti muito bem naquele fatídico dia. Podia sentir seu potencial para aumentar minha tolerância à magia e me permitir usar mais, mas seria perigoso demais induzir uma sobrecarga mágica, por isso deixei a ideia de lado.

Mas se fosse hipoteticamente conduzir experimentos em um produto deste fenômeno… Posso me aproximar de ser um mentor das sombras sem qualquer risco.

— Posso usar isso… — disse enquanto estendia a mão até a carne e a infundia com magia.

 

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Uou, já faz um mês, hein…? Pensava enquanto me lembrava do meu primeiro encontro com o amontoado, então soltei um suspiro, de volta ao mesmo vilarejo abandonado.

Por que será que as coisas acabaram desse jeito?

Todos os meus experimentos na carne estavam indo às mil maravilhas – bem, até recentemente. Passei meus dias bombeando a carne com energia mágica. Quero dizer, não era o meu corpo, então poderia dar a louca nele. Eu estava dando continuidade ao meu pequeno experimento, testando isso e aquilo. Para ser bem honesto, foi divertido. Afinal de contas, uma das maiores alegrias na minha vida é sentir o meu poder aumentar diante dos meus olhos. Continuei avançando em direção aos limites da magia com mais precisão, poder e detalhe, até que finalmente tive a sobrecarga mágica na palma da mão, quando… Uma elfa loira apareceu.

Acho que seria mais preciso dizer que eu estava fixado demais em melhorar meu controle sobre magia para notar que a pilha de carne era uma elfa loira até o último momento. Hm. E pensar que a pilha fedida de carne voltaria à sua forma original. Tentei a mandar embora com uma despedida alegre, sabe, a típica “Você é uma elfa livre”, e “Tenha uma boa viagem” e “Você tem um futuro brilhante pela frente”. Mas ela disse que não tinha um lar ao qual retornar, insistindo em me compensar por ter salvado sua vida, o que, é, eu realmente não fiz. Foi pura coincidência.

Considerei abandoná-la antes que as coisas ficassem chatas, mas acabei a transformando na Subordinada A do Agente das Sombras. Quero dizer, ela não me parece do tipo que vai me trair, e também aparenta ser inteligente… Há algo nela que me faz suspeitar que tenha talento demais.

E, mesmo que também tenha dez anos, é prova mais do que suficiente de que elfos se desenvolvem mentalmente mais rápido do que humanos.

— E, deste dia em diante, você se chamará Alpha.

A ou Alpha. Qualquer um serve.

— Entendido — respondeu ela com um aceno.

Ela é a elfa clichê – uma beldade de cabelo loiro, olhos azuis e pele suave.

— E o seu trabalho é… — Parei para pensar por um momento.

Essa era uma boa. O trabalho dela era ser a assistente de um comandante das sombras. Sem erros ali. O que significava que eu tinha que dar um jeito na cena ao responder algumas perguntas básicas. Tipo, o que exatamente era uma eminência nas sombras e para qual propósito serviam?

Dar uma narrativa apropriada era a chave. Tipo assim, se eu dissesse que estava lutando para me vingar por ter perdido em máquinas de bingo, não pareceria legal, né?

Preciso escolher com sabedoria. Quero dizer, antes de ter vindo para este mundo e ainda mais após isso, todos os meus devaneios estão repletos de conspiradores. Misturei e combinei milhares – não, dezenas de milhares – de possíveis enredos em minha mente. E tenho o perfeito para a ocasião.

 

— Se esconder nas sombras e evitar a ressurreição do demônio Diablos.

— Demônio Diablos…? — Alpha inclina a cabeça, confusa.

— Tenho certeza de que já ouviu falar dele. Sabe, as histórias de muito tempo atrás. Diablos levou o nosso mundo à beira da destruição, quando três bravos guerreiros, um humano, um elfo e um teriantropo, ou uma besta híbrida, se juntaram para destruí-lo e proteger o mundo.

— Ah, sim. Mas não era só um conto de fadas?

— Não, aconteceu de verdade. Mas a verdade é mais complicada do que isso… — continuei enquanto um sorrisinho torto aparecia no meu rosto. Quero dizer, chegar no meu nível e distorcer um enredo de uma lenda é moleza. — Logo antes de os heróis matarem o demônio, com seu último suspiro, ele os amaldiçoou, o que agora é conhecido como a Maldição de Diablos.

— A Maldição de Diablos? Nunca ouvi falar dela antes.

— Ah, mas existe. É a maldição dos possuídos… E a doença que acabou com o seu corpo.

— O quê? Não pode ser… — Alpha arregalou os olhos, apavorada.

— Os descendentes dos heróis têm sofrido desta doença. Naquela época, a Maldição de Diablos costumava ser curável, assim como a sua.

Ninguém acreditaria que Alpha estava possuída até recentemente. Sua pele suave e imaculada é a evidência que provava minha história.

Quero dizer, mesmo que seja uma baita de uma mentira.

— É prova de que é um descendente dos heróis que salvaram o mundo. Lembre-se, o possuído costumava ser louvado, apreciado e protegido no passado.

— Mas ninguém nos aprecia mais, que dirá… — Alpha diminuiu o tom da voz enquanto contorcia o rosto.

— Há alguém por aí que distorceu a história, apagando a verdade sobre a linhagem dos possuídos e escondendo a cura. O pior disso tudo é que essas pessoas se tornaram alvo de vergonha.

— Ngh…! Quem faria algo assim?!

— Aqueles que planejam ressuscitar Diablos. Pois aqueles com a maldição carregavam a linhagem dos heróis e altos níveis de magia. Em outras palavras, servem como principal força militar para nós. Por outro lado, são um incômodo para os seus apoiadores.

— Motivo pelo qual somos chamados de possuídos e abandonados…

— Exatamente. Você perdeu sua terra natal e família, tudo porque foi acusada de ter cometido um pecado falso. Eles não são desprezíveis?

— Sim. Não tem como eu não os achar absolutamente detestáveis.

— O Culto de Diablos. Este é o nosso inimigo. Eles só trabalham por trás dos panos, motivo pelo qual também devemos nos esconder. Nos espreitamos na escuridão e caçamos as sombras.

— Estou achando que eles têm que ser formidáveis se podem puxar as cordas por trás dos panos. O que significa que nosso inimigo tem uma posição de poder… E que hordas de pessoas sob o comando deles não sabem da verdade…

Eu concordei com a cabeça, sério:

— Nossa jornada pode ser perigosa, mas devemos seguir em frente. Você vem comigo?

— Se é isso o que deseja, devotarei minha vida. Puniremos esses pecadores com a morte… — Alpha olhou para mim com seus olhos azuis intensos e sorriso desafiador. O rosto dela é encantador mesmo jovem e transborda de determinação e resolução.

Eu ergui um punho em minha mente. Uhul! Essa garota elfa é superingênua!

Obviamente, o Culto de Diablos não existe, o que significa que nunca os encontraremos. Isso também fornece uma base para que eu acuse e mate qualquer grupo de ladrões na área por estarem no Culto. E aposto que podemos demarcar batalhas entre lutadores e intervir como mentores das sombras. Além disso, podemos dizer coisas profundas e falsas em nossas palavras finais! Tipo, O fim está próximo…, ou A ressurreição do demônio está chegando… E seria tão legal se pudéssemos chegar junto ao vento em um campo de batalha, dizendo: Tolos… Vocês estão sendo controlados…, antes de acabar completamente com todos…! Uou. Eu poderia continuar sem parar.

Certo. Já ia me esquecendo da parte mais importante: o nome dessa organização…

— Nós somos o Jardim das Sombras… Nos espreitamos na escuridão e caçamos as sombras…

— O Jardim das Sombras. É um bom nome.

Eu sei, né? É maneiro.

Este foi o momento em que o Jardim das Sombras e o Maior Inimigo do Mundo – o Culto de Diablos – nasceram. Estou um passo mais próximo de me tornar um mentor.

— Acho que podemos começar ao brandir nossa magia e praticar um duelo. Vou agir como o oponente principal na batalha, mas você pode ficar mais forte para enfrentar os capangas.

— Eu sei. Temos um inimigo complicado em mãos. Preciso melhorar a mim mesma.

— Certo, este é o espírito.

— E temos que encontrar outros descendentes de heróis e protegê-los.

— Hã, é, sim. Tudo com moderação.

Seria bacana brincar de agente das sombras com mais pessoas, já que pareceria uma organização mais real. Mas eu não preciso de mais pessoas. Honestamente, não vejo problemas se continuasse só nós dois.

— Bem, por agora, vamos focar apenas em ficar mais fortes — sugeri, preparando minha espada de madeira.

Bloqueio o ataque de Alpha, o qual tem uma força inesperada. E pensar que ela não passava de uma novata há pouco. Ela tem um bom sentido para as coisas e bastante energia mágica, o que significa que posso fazer bom uso dela.

Sob a luz do luar, manejo minha espada de madeira enquanto esses pensamentos percorrem a minha mente.

 


Bravo

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