O Caçador Imortal de Classe SSS – Vol. 09 – Cap. 205 – O Easter Egg (1)

Eu tinha uma tarefa muito importante. Não tinha relação com a conclusão dos andares da Torre, mas precisava ser resolvida antes de prosseguir.

Imediatamente após concluir o trigésimo quinto andar, os Caçadores e eu fomos convocados para o familiar espaço branco. Enquanto meus colegas conversavam, me aproximei da Princesa Caminhante de Miragens.

— Gostaria de apresentar Uburka a Raviel. Realmente preciso fazer isso e não posso mais adiar.

A Princesa acariciou o queixo. 

— Hmm… é mesmo?

— Sim. Ele não é meu filho biológico, mas ainda assim considero todos os Terras como meus filhos. Raviel e eu somos casados, o que significa que esse assunto também a envolve. Preciso contar a ela.

— Entendo sua lógica, mas sua expedição não termina até você concluir o quadragésimo andar. Um Caçador que está no meio de uma expedição não pode simplesmente ir para outros andares.

— Você não pode trazer Raviel aqui por um momento?

A Princesa cruzou os braços, formando um X. 

— Não, não! Coraçãozinho não faz parte da expedição. Além disso, ela ainda não se tornou oficialmente parte da sua Torre. Convocá-la aqui está fora de questão.

Coraçãozinho parecia ser um apelido para Coração Prateado. A Constelação realmente tinha o hábito de chamar os outros por apelidos.

— Por quê? O andar de Raviel já foi concluído.

— Como devo explicar… Sim, você pode pensar em Coraçãozinho como uma estrangeira sem visto. Existem países no mundo exterior onde se pode viajar sem visto, mas isso não funciona em todos os lugares, certo? É a mesma coisa aqui. Seria diferente se estivéssemos falando dos andares abaixo do trigésimo, mas não posso trazê-la aqui. Essa é uma das regras da Torre. Mesmo que você não goste, não posso te ajudar — disse a Princesa com um dar de ombros.

Pensei por um momento. 

— Então, Uburka e eu podemos fazer uma breve visita ao mundo de Raviel?

— Ugh, isso também é difícil. O Porquinho de Coração Partido é uma Constelação, então ele tem o direito de visitar outros andares…

Uburka era o Porquinho de Coração Partido. Fechei os olhos por um momento.

Desculpe por não ter apoiado seu primeiro amor, meu filho.

— É possível de acordo com as regras, mas não sei se é permitido ou não. Você ainda está no meio de uma expedição. Não pode simplesmente ir e vir a menos que seja eliminado.

Eu sorri. 

— Beleza, então vamos fazer assim. Por favor, dê a Uburka e a mim um passe de visitação como recompensa por concluir o trigésimo quinto andar. No mínimo, permita que Uburka fique aqui.

Meu pedido intrigou a Princesa.

— Hã? Por quê?

— Eu não teria pedido isso se Uburka tivesse morrido como esperado de sua expectativa de vida, mas ele agora é uma Constelação. Quando formos para o trigésimo sexto andar, centenas de anos terão passado. Não quero deixá-lo sozinho por tanto tempo.

— Você está assumindo a responsabilidade por ele como pai?

— Pode-se dizer que sim.

A Princesa assentiu. 

— Certo. Nesse caso, tenho uma justificativa para persuadir os superiores. O mestre da Torre valoriza muito o amor maternal, os deveres parentais e essas coisas! Aguarde.

A Princesa fechou os olhos. Algumas de suas franjas se ergueram como se fossem antenas, balançando de um lado para o outro. Ela estava… se comunicando usando as franjas?

— Comunicação concluída. — A Princesa abriu os olhos. — Recebi permissão para aceitar seu pedido.

— Ah.

— Mas! Vocês não podem encontrá-la no mundo onde ela nasceu. O único lugar onde vocês – Rei da Morte, Uburka e Raviel – têm permissão para se encontrar é no vigésimo nono andar.

Não pude evitar inclinar a cabeça em confusão. 

— Obrigado, mas, uh, por que especificamente o vigésimo nono andar?

O vigésimo nono andar era especial. Era o cenário criado para Kim Yul, o andar onde a Escola Secundária e o Ensino Médio Shinseo e o distrito comercial ao redor estavam localizados.

— Nem é um mundo real.

Sim, nos termos de Hamustra, era A História da Cidade da Ascensão: História Paralela. A cidade não podia ser incorporada à história oficial da minha Torre, então existia apenas como uma ilusão. Não havia recursos especiais nem atrações turísticas únicas, então eu realmente não via motivo para o vigésimo nono andar ser tratado de maneira especial.

A Princesa de repente ficou séria. 

— Desculpe. Não posso te dizer por quê.

Ela soava resoluta.

— Estou muito em dívida com você, Rei da Morte. Então, se possível, quero conceder todos os seus pedidos. Mas simplesmente não posso negociar nesse ponto. Admito que o Porquinho de Coração Partido tem o direito de estar aqui como Constelação, então permitirei que ele visite o vigésimo nono andar se você se tornar seu guardião. Isso é uma recompensa boa o suficiente, certo?

Assenti.

O vigésimo nono andar tem algum tipo de segredo.

Eu não podia forçá-la a responder minhas perguntas se ela reagia assim. A Princesa era minha aliada. Não havia necessidade de entrar em conflito com um Pilar que pensava bem de mim.

De qualquer forma, já consegui o que queria.

Consegui liberar Uburka de esperar por centenas de anos. Também poderei apresentá-lo a Raviel. Como ambos os objetivos foram alcançados, não havia necessidade de pressa.

Mas…

Esse segredo fez até um Pilar agir de maneira muito séria. O que poderia ser? Reprimindo minha curiosidade no fundo do coração, respondi: 

— Sim, é.

— Bom! Desculpe pelas crianças que estão atualmente no vigésimo nono andar, mas elas terão que sair por agora~.

[A Princesa Caminhante de Miragens assumiu temporariamente a administração do vigésimo nono andar.]

[A Constelação Caminhante de Miragens expulsou todos os Caçadores do vigésimo nono andar.]

A Princesa acenou com a mão. 

— Já que estou nisso, também ajustarei o tempo local.

[Autoridade Administrativa: Protocolo de Isolamento de Andar foi ativado.]

[O vigésimo nono andar foi selado da Cidade da Ascensão.]

[O nível de autorização de entrada para o vigésimo nono andar foi aumentado.]

[Você recebeu acesso ao vigésimo nono andar!]

A Princesa sorriu. 

— Bom. Agora, ninguém pode entrar no vigésimo nono andar até você sair. Nem mesmo Constelações poderão intervir. O lugar foi preparado apenas para você. Sinta-se à vontade para ter suas conversas privadas com sua família lá pelo tempo que quiser!

— Uh… O-obrigado?

— Imagina.

Eu não tinha certeza de quais medidas haviam sido tomadas, mas me curvei. De qualquer forma, tinha a sensação de que a Princesa excedeu muito sua autoridade por minha causa.

— Vá para o vigésimo nono andar primeiro. Enviarei Coraçãozinho e o Porquinho de Coração Partido para lá em breve. Esta é uma recompensa bônus, então sinta-se à vontade para aceitá-la. Não se sinta sobrecarregado.

A Princesa estalou os dedos. 

— Se quiser voltar, apenas pense no meu rosto e diga “Me mande de volta.” Também ficarei longe do vigésimo nono andar, então, por favor, tenha cuidado. Boa viagem!

A Princesa sorriu brilhantemente. Uma sombra negra me atingiu.

[O acesso do Rei da Morte foi confirmado.]

[Entrando em História da Cidade da Ascensão: História Paralela.]

Quando abri os olhos, me encontrei parado no meio de uma faixa de pedestres.

Hoooooonk!

Uma buzina de carro ecoou alto por toda a interseção, me livrando da tontura causada pelo teleporte. Virei a cabeça e vi o motorista apontando o dedo para mim.

— Ei! Quer morrer? Sai da rua, seu moleque!

Embora fosse nosso primeiro encontro, ele foi bastante rude. Ainda assim, ele tinha motivo para me xingar. O semáforo de pedestres estava vermelho, indicando que não era permitido atravessar a rua.

Eu me curvei. 

— Desculpe.

— Só vai logo! Sério, os jovens de hoje em dia estão loucos…

Atravessei a faixa de pedestres rapidamente. Somente quando cheguei ao outro lado, os carros que haviam parado por minha causa começaram a se mover. Alguns motoristas me encararam, mas foi tudo o que fizeram antes de seguir com suas vidas. Os veículos aceleraram em duas filas, e logo as pessoas dessa “cidade” se tornaram completamente indiferentes à minha existência e prosseguiram com seus próprios horários.

Também perdi o interesse neles porque a pessoa de quem eu sentia tanta saudade estava esperando do outro lado da faixa de pedestres.

— Raviel. 

A luz vermelha do semáforo a iluminava. Ela usava um vestido simples, mas isso a fazia parecer uma forasteira nesta cidade moderna. Ainda assim, servia como seu santuário.

Raviel pressionou a palma da mão na testa. Talvez ainda estivesse tonta por causa do teleporte. 

— Gong-Ja? Isso é alguma forma de magia ilusória? Ou outra invasão de Constelação? Meu consorte está abanando o rabo na minha frente, mas não posso acariciá-lo porque estou preocupada que ele não seja real. Que trágico…

— Você está tonta? Vamos nos sentar? Não, está muito quente aqui. Vamos para algum lugar mais tranquilo e descansar. Deixe eu te carregar.

Raviel relaxou a testa franzida e sorriu. 

— Hmm, sim, essa enxurrada de amor é familiar. Você realmente é meu amor. Desculpe por duvidar de você mesmo que por um momento, Gong-Ja.

— Tudo bem. Somos a maior fraqueza um do outro, então sempre precisamos ser cuidadosos. Quando estava no trigésimo quinto andar, encontrei um concubus que te imitava.

— Isso é interessante. Quantos segundos levou para você perceber que o monstro não era eu?

Eu sorri radiantemente. 

— Um. Percebi antes mesmo de respirar. O concubus foi estúpido o suficiente para aparecer sem a aliança de casamento.

Raviel riu. 

— Isso foi realmente um erro crítico.

Peguei sua mão antes que seu riso cessasse e acariciei a aliança em seu dedo. Então, a puxei para perto e a beijei. 

— Senti sua falta.

— Estou feliz em te ver novamente.

— Está tudo bem em Ivansia?

— O consorte da casa estava fora, e a Empregada Taça Dourada desapareceu de repente. Isso causou um problema sério na administração da família. Se a Duquesa da casa fosse um pouco menos competente, a reputação da família teria declinado.

— Bem, não sei quem ele é, mas a pessoa que se casou com alguém tão capaz deve ter salvado o país três vezes em sua vida passada.

— Pelo que ouvi, ele salvou o mundo várias vezes.

Raviel iniciou o beijo dessa vez. Depois disso, olhamos nos olhos um do outro por um tempo.

— De qualquer forma, o que aconteceu, Gong-Ja? Eu estava fazendo minhas tarefas matinais quando uma criança loira surgiu do chão, me dizendo “Oi, sinto muito, mas preciso de você no vigésimo nono andar porque o Rei da Morte te requisitou lá!”

— Ah, ela é… um Pilar.

— Um Pilar?

— Sim, ela é superior às Constelações e uma das pessoas que gerenciam a Torre. Pedi a ela que me deixasse te encontrar brevemente como recompensa por concluir o trigésimo quinto andar, e ela concordou. Uhm, nunca pensei que ela te enviaria aqui sem explicar o motivo.

— Aha!

Raviel acariciou minha bochecha. Ainda estávamos na interseção. Carros e pedestres passavam por nós.

— Meu Deus. As crianças de hoje em dia…

— Essas crianças não aprendem nada na escola?

— A autoridade dos professores está desmoronando por uma razão…

As pessoas que caminhavam pela rua paravam e olhavam em nossa direção, murmurando baixo. Bem, com uma mulher linda como Raviel exibindo seu afeto em plena luz do dia, qualquer ser humano são acabaria cativado.

Claro, não lhes demos atenção. Fazia meses desde que eu tinha visto Raviel pela última vez, então por que deveria gastar qualquer tempo considerando os outros? Eu já estava ocupado armazenando as imagens mentais dos sorrisos dela.

A História da Cidade da Ascensão: História Paralela era um mundo que eu havia criado, então esperava que as pessoas me dessem pelo menos isso.

— Você pediu uma recompensa fofa. Sentiu tanta saudade de mim assim?

— Na verdade, Raviel, tenho algo que preciso te contar…

— Paizinho?

Parecia que o tempo havia parado no lugar.

— Paizinho? É você, né? Sim, é você.

Raviel e eu nos viramos lentamente. Atrás de nós, Uburka estava me encarando com os braços cruzados.

Raviel inclinou a cabeça. 

— Paizinho?

Meu coração afundou.

— E-E-Espera um minuto. Raviel, aqui está o que aconteceu…

— Não acredito! — Uburka franziu a testa. — Que decepção! Há pouco tempo, você estava flertando com sua colega, mas agora quer trocar beijos e confessar amor por outra pessoa? Minha esperança em você diminui a cada dia!

O rosto de Raviel caiu alarmantemente rápido. Ela me encarou.

— Colega? Flertando? Gong-Ja, esse estranho está dizendo coisas interessantes. A menos que eu tenha sido negligente nos meus estudos de linguística, é difícil me impedir de ter dúvidas e chegar a uma certa conclusão.

— Não, não, não! Raviel! Não foi isso que aconteceu!

— Você é realmente sem vergonha, Paizinho. Você proclamou orgulhosamente na minha frente que compartilha um vínculo especial com a Mestra do Dragão Negro. Não consigo nem imaginar o quão sem vergonha você precisa ser para declarar seu amor por outra pessoa tão cedo.

Os lábios de Raviel curvaram-se em um sorriso. 

— A Mestra do Dragão Negro é a pessoa que estava na reunião familiar, se me lembro corretamente.

Ela estendeu a mão e agarrou meu pescoço. Sua pegada não era de forma alguma severa, mas o aperto de um rei demônio teria sido menos aterrorizante que isso.

— Claro, acredito no seu amor. Você nunca se entregaria ao conceito de infidelidade, mas de alguma forma sinto vontade de te pedir uma explicação. Gong-Ja, te darei sessenta segundos. Fale pelo bem da sua vida e da minha paz.

Eu estava sendo incriminado!