O Caçador Imortal de Classe SSS – Vol. 09 – Cap. 202 – O Dragão Negro (1)

 

Minha legião e eu estávamos nos dirigindo ao centro do Reino Fantasma.

— Hahaha! Se apresse e me sirva, Imperatriz!

Atrás de mim, o concubus que copiou a aparência de Taça Dourada ainda estava chicoteando as pessoas que puxavam a carruagem. Ainda assim, fiz o meu melhor para ignorá-la e passar direto. Ninguém no meu grupo queria se envolver com algo assim.

Após caminhar por um tempo, uma paisagem estranha nos recebeu. A primeira coisa que notamos foi algo no céu incomum.

— A lua tem olhos, Mestre.

— Você está certa.

A lua piscou, revelando olhos vermelhos. Ela olhou para nós.

— É um pouco assustador, mas seus olhos são muito bonitos. Quero continuar olhando para ela — comentei. Meu coração estava batendo forte por algum motivo também.

Preta me olhou de forma estranha e disse: 

— Uh, acho que seu subconsciente está influenciando. A lua está imitando os olhos da sua esposa…

— Hã? Você acha?

Ao observar mais de perto, os olhos realmente pareciam com os de Raviel. Ela conseguia roubar meu coração só com os olhos. Sim, essa era minha duquesa ali. Da cabeça aos pés, não havia uma única coisa que eu não achasse fascinante nela.

— Hmm.

O próximo lugar que chegamos foi afetado pelo subconsciente de Preta. Sob a lua de olhos vermelhos, um campo de trigo dourado se estendia. Entre os grãos de trigo, os fazendeiros estavam curvados, focados em seu trabalho. O rosto de Preta endureceu rapidamente, então eu soube imediatamente o que o campo estava imitando.

— Esta é a aldeia de Estelle — chutei.

— Sim, terminou.

Era a aldeia que o Império Aegim e as forças aliadas haviam devastado. As crianças que eu tinha visto no trauma de Preta costumavam brincar neste campo de trigo.

— Mestre Espírito! Mestre Espírito!

Um lobo gigante com pelos azuis estava deitado em uma pilha de trigo dourado maduro. Ele abriu os olhos para olhar as crianças que se aproximavam.

— Temos um presente para você!

— Escolhemos as flores mais bonitas para fazer isso!

As crianças da aldeia deram ao lobo uma coroa de flores. Pena que a cabeça do lobo era grande demais para ela caber. As crianças ficaram brevemente sem saber o que fazer, mas decidiram pendurar a coroa em uma das orelhas dele. Parecia que o lobo estava usando um brinco de flores.

O lobo ronronou com satisfação, permitindo que as crianças subissem em suas costas. O vento soprou e acariciou suavemente o campo de trigo, espalhando o riso e a felicidade das crianças.

— Esse lobo é…

— É meu sonho impossível — murmurou Preta, sua voz calma. — Uma vez pensei no que teria acontecido se eu não tivesse comido Estelle e permanecesse um animal. Então, eu não teria sido reverenciada como Estelle, a Santa, nem condenada como bruxa. A aldeia também não teria sido queimada.

Ela alcançou sua espada. 

— É um pensamento tolo. Se eu não a tivesse comido, não teria entendido os humanos. Só entendo a presa que digeri. Se não tivesse feito o que fiz, nunca teria desejado passar tempo com humanos como você acabou de testemunhar. Esse sonho se contradiz de muitas maneiras.

Preta se aproximou do campo de trigo. O lobo que carregava as crianças parou em seu caminho enquanto eles se encaravam. Preta olhou para seu sonho com olhos frios, então puxou sua espada e cortou o lobo ao meio.

Assim que a espada de Preta cortou o lobo, ele derreteu em tinta rosa. As crianças nas costas do lobo, os fazendeiros trabalhando nos campos de trigo e a aldeia inteira derreteram em um piscar de olhos.

Preta permaneceu sozinha sob a lua de olhos vermelhos. Ela lentamente se virou na minha direção. 

— Phew. Vamos seguir, Mestre.

— Isso foi muito rápido e decisivo. Independentemente de tudo, o sonho te mostrou algo que te deixaria feliz.

— Com todo respeito, não vivi uma vida tão leve a ponto de me jogar em uma delusão contraditória. Ainda me lembro claramente do momento em que bebi o sangue de Estelle e comi sua carne. Como poderia fingir que isso nunca aconteceu, mesmo dentro de um sonho?

Assenti. 

— Sim, suponho que você está certa.

Retomamos nossa jornada. No caminho, encontramos os sonhos dos membros do Culto do Demônio Celestial e de Uburka.

Uburka do Reino Fantasma estava sentado em cima de mim e gritando “Ugor!” Parecia que seu subconsciente também foi refletido, já que ele também esteve em contato com os concubi.

— Ainda estamos longe do núcleo deste mundo?

— Não, estamos quase lá. — Preta chutou o Concubus Uburka e apontou para a distância. — Posso sentir uma presença ali que é comparável a uma Constelação.

Uma cerca de arames farpados cercava a área guardada por um concubus. Ao nos aproximarmos, eles inclinaram a cabeça e disseram: 

— Wow. Você ainda está são? Interessante.

O concubus parecia familiar. Embora fosse muito menor e mais delicado do que eu lembrava, percebi quem eles estavam imitando.

— Mestra do Dragão Negro? — perguntei com uma careta.

A versão mais jovem da Bruxa Negra se levantou. 

— Sim, é assim que você a chama. Era assim que ela parecia quando tinha cerca de sete ou oito anos. Não nascemos com um rosto próprio, então temos que tomar emprestadas as formas de animais de alguma maneira para nos comunicarmos. Esta é a única pessoa que você valoriza e com quem pode conversar racionalmente.

— O que você está tentando dizer?

— Significa simplesmente que você não se deixa levar facilmente pelas emoções.

O concubus olhou por cima do meu ombro. Yoo Soo-Ha, Preta, Taça Dourada, os Quatro Reis Demônios e os cultistas estavam logo atrás de mim.

O concubus deu de ombros. 

— Tantos convidados, mas eu nem tenho uma mesa de chá para servir vocês. Desculpe, mas por favor, entendam. Este é um lugar precário onde não há nada para saquear, então por que você trouxe tantos soldados aqui?

— O mesmo digo de você. Estão cruzando o oceano para invadir o continente dos meus filhos.

— O cheiro de sangue atrai naturalmente os animais selvagens.

— Nesse sentido, é natural que os fortes chutem os fracos, então espero que você me escute.

— Que assustador.

— Quer que eu fique ainda mais assustador? — perguntei, me aproximando do concubus. — Estou pensando que vocês nos consideram levianamente porque a força física não é realmente eficaz aqui.

— Hmm. E se for assim?

— Se não conseguirmos resolver isso conversando, não terei escolha a não ser usar uma medida extrema minha.

O jovem concubus riu. 

— Interessante. Agradeceria se você pudesse me dizer que tipo de medida extrema é essa.

Eu invoquei a Carta de Habilidade da Reencarnação da Legião de Monstros . A carta dourada brilhava na minha mão. 

— Tenho uma Habilidade que me permite ressuscitar os mortos. Vou matar todos vocês e trazê-los de volta à vida. Aqueles que eu mato têm que se submeter aos meus comandos depois que os ressuscito. Não é problema para mim tomar vocês, concubi, sob meu comando.

O concubus ouviu em silêncio.

— Acha que estou blefando? — perguntei, encarando os olhos do concubus.

Eu já havia eliminado o Pregador da Felicidade Imortal. Não havia razão para não conseguir fazer a mesma coisa duas vezes. O sorriso derreteu da boca do concubus, e eles balançaram a cabeça.

— Não, não duvido da sua sinceridade, Rei da Morte, porque você é muito assustador. Só sinto pena de você.

— Pena? Por quê?

— Para ser exato, essa tristeza não é nossa. Pertence ao animal cujo corpo estou imitando. No final, a maneira como você nos persuade também é baseada na lógica do poder.

Ouvi um tiro do outro lado da cerca de arames farpados.

— Mestre!

— Senhor Jovem Céu!

Preta e os Quatro Reis Demônios imediatamente me cercaram, mas eu estava bem. Parecia que eles também não estavam feridos.

Após ver nossas reações, o concubus riu um pouco mais alto. 

— Não se preocupem. Para usar o termo de vocês, isso também é um sonho impossível. Quanto mais aprendemos sobre como um único momento de experiência deixa uma marca em vocês, mais surpreendentes os achamos.

Tiros ainda ecoavam além da cerca de arames farpados. Quando olhei na direção do barulho, um homem com uma barba espessa segurava uma criança pequena em seus braços enquanto corria em minha direção, ofegante. Parecia que alguém os estava perseguindo. O homem continuava olhando para trás, mas segurava a criança com muita força, sem intenção de soltá-la.

O homem sussurrou: 

— Nunca olhe para trás. Entendeu?

— Certo.

Após ouvir a voz da criança, percebi que era uma memória da infância da Bruxa Negra. Tanto o homem quanto a criança tinham manchas nas roupas, provavelmente porque não as lavavam há muito tempo. Lama havia grudado na barra da calça do homem e estava lá para ficar. Com passos pesados, o homem e a criança fugiam do que os perseguia.

Lembrei de uma história que a Bruxa Negra me contou há muito tempo.

“Sim, para mim, é uma memória de quando eu tinha sete anos. Quando ainda vivia no mundo exterior, meu pai morreu durante a guerra civil.”

Havia uma fenda muito estreita na cerca de arames farpados. O homem forçou a criança a passar por ela enquanto os tiros se aproximavam cada vez mais.

“Eu estava fugindo com meus pais na época. Acho que soldados estavam nos perseguindo. Meu pai ficou para trás.”

— Pai! Pai! — a criança gritou.

— Nunca olhe para trás! Vá! Estarei logo atrás de você!

O homem empurrou a criança à força para o outro lado da cerca de arames farpados. A criança continuou gritando, mas lentamente começou a correr como seu pai havia dito.

“Corri sem olhar para trás.”

Depois disso, não consegui mais ver o homem, provavelmente porque a Bruxa Negra também não podia. No entanto, ouvi um baque quando algo caiu no chão logo antes de as memórias da cerca de arames farpados terminarem.

Eu podia adivinhar de onde veio o baque . Após enviar a criança, o homem provavelmente tentou escalar a cerca como se fosse uma árvore, mas uma bala o matou. Essa provavelmente era a história por trás do último tiro que a Bruxa Negra lembrava.

— Não importa o quão forte alguém seja, não pode voltar no tempo — disse o concubus, calmamente. — Portanto, a prevenção é a melhor solução. Você tem que se preparar para todos os cenários possíveis. É por isso que a Mestra do Dragão Negro pensa como pensa. Sempre que ela conhece alguém, tem o hábito de pensar na morte deles. Que triste.

— Eu já sei disso.

— É mesmo? Então você também está ciente de que a Mestra do Dragão Negro evitou oito tentativas de sequestro e assassinato contra você até agora?

Olhei para o concubus com surpresa. 

—  O quê?

— Você se tornou uma estrela da noite para o dia. Não é surpreendente que existam facções por aí com intenções maliciosas contra você. Embora a Bruxa Negra tenha destruído o máximo que pôde, espiões de vários países do mundo exterior ainda permanecem na Torre.

Fiquei em silêncio.

— Sem poder, você nem pode proteger as pessoas ao seu redor.

Rumble.

A lua de olhos vermelhos no céu do Reino Fantasma se partiu, quebrando em pedaços e caindo em algum lugar no horizonte.

— Rei da Morte, você tem poder, então cederemos por agora. Pediremos aos nossos parentes que zarparam pelo mar para retornar, mas você não poderá ficar no continente para sempre e cuidar das sete espécies, poderá?

O chão se tornou macio até se transformar em um mar rosa. Pedaços da lua caíram no mar com grandes respingos.

— Você apenas nos subjugou temporariamente, mas nunca será capaz de realmente nos vencer. Afinal, é assim que funciona a coerção da força física.

Um tsunami surgiu do mar no local onde os fragmentos da lua caíram. No momento em que a água subiu ao céu e estava prestes a nos atingir, o concubus derreteu e o Reino Fantasma colapsou.

— Até a próxima, Rei da Morte.

— Rei da Morte? Você está bem, Júnior?

Voltei a mim. A Bruxa Negra estava me olhando com uma expressão preocupada.

— Sênior?

— Graças a Deus. Seus olhos recuperaram o foco.

Olhei ao redor. Eu não estava na selva do sonho de Uburka, mas deitado na praça da vila pioneira.

Murmurei: 

— Os concubi…

— Logo após você começar a falar com o cervo com chifres, fui subitamente expulsa do sonho. O que aconteceu? Você conseguiu persuadi-los ou não?

— Por enquanto, sim.

Como prova, os aldeões deitados na praça começaram a acordar um a um. Eles estavam um pouco lentos, talvez por terem dormido por muito tempo, mas, felizmente, suas vidas não pareciam estar em perigo.

A Bruxa Negra finalmente deu um profundo suspiro de alívio. 

— Bom trabalho. Você pode me contar o que aconteceu depois…

Segurei seu pulso. 

— Sênior, tenho algo que preciso te contar.

Ela olhou para mim, inclinando a cabeça. 

— Por que você está tão sério?

— Porque é sério.

Um silêncio estranho pairou entre nós.

Respirei fundo várias vezes antes de olhar diretamente nos olhos dela e dizer: 

— Sênior, eu sou um regressor.