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A Nobreza de um Cavaleiro Fracassado – Vol. 01 – Cap. 02 – Um Visitante de Casa

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Era uma manhã fria de Abril. Duas figuras podiam ser vistas perto da entrada da Academia Hagun, que ostentava um vasto campus. Um deles era Ikki Kurogane, que usava um agasalho e parecia quase sem fôlego enquanto tomava um gole da bebida esportiva com a qual encheu sua garrafa de água. A outra era Stella Vermillion, que também estava de agasalho, mas estava a uma boa distância atrás de Ikki e ofegante. Ela estava tentando chegar ao portão de entrada em que ele estava, que marcava a linha de chegada para a sessão de corrida do dia.

Para manter a resistência física, Ikki corria vinte quilômetros todas as manhãs. Stella decidiu acompanhá-lo nessa rotina três dias depois de se mudar para o quarto dele, e era por isso que ela também estava correndo.

No entanto, Ikki tinha um cronograma de treinamento extremamente exigente. Sabendo que sua mana era irremediavelmente baixa, ele tentava compensar isso fazendo o máximo de exercícios físicos que podia. Ele alternava entre correr e trotar vinte quilômetros, forçando seu sistema cardiovascular ao máximo.

No primeiro dia, Stella desistiu na metade do percurso. No segundo dia, ela vomitou. No terceiro dia, Ikki diminuiu o ritmo para se adequar ao dela, mas ela não o deixou levar a melhor. “Você não precisa me mimar”, ela gritou, parecendo pronta para morder a garganta de Ikki se ousasse pegar leve com ela. Ele voltou ao seu ritmo habitual e, desta vez, Stella conseguiu segui-lo até o fim, embora estivesse muito atrás.

Stella realmente é incrível, pensou Ikki enquanto a observava cambalear até o portão.

Apesar de seu vasto talento mágico, Stella havia treinado seu condicionamento físico o suficiente para acompanhar o rigoroso regime de treinamento de Ikki. Ele percebia que ela não confiava apenas em seu talento, mas também se esforçara muito para chegar onde estava.

— Haaah! Haaah! Eu consegui… — Stella ofegou enquanto alcançava Ikki.

— Muito bem.

— I-Isso não foi…nada.

Era impressionante que Stella ainda tentasse manter uma postura forte, mesmo estando tão exausta que não conseguia sequer limpar o suor do rosto. Ikki esperou que sua respiração se acalmasse um pouco, então derramou um pouco de sua bebida esportiva na tampa em formato de copo da garrafa d’água.

— Aqui, beba um pouco.

Stella olhou para ele hesitante.

— Espere… não é um beijo indireto…?

— Qual é o problema? Ah, foi mal. Acho que você não quer beber no mesmo copo que um cara, não é?

— E-Eu nunca disse que não queria! Na verdade, é o oposto.

— Como é?

— N-N-N-Não é nada! Me dê logo, idiota!

O rosto da Stella já estava corado com o exercício, mas ela corou ainda mais quando bebeu a bebida esportiva.

Uau, ela até bebeu do mesmo lugar que eu.

Ela fez isso tão rápido que Ikki nem teve tempo de avisá-la. Ele se virou, pedindo desculpas, sem saber que ela havia feito aquilo de propósito, e ficou olhando para os portões da escola. Havia um grande cartaz na frente deles informando que a cerimônia de abertura seria realizada naquele dia.

— Finalmente começará o novo ano letivo.

Esse momento teve um grande significado para ele. No ano anterior, ele não teve a oportunidade de aprender, e o ano letivo passou sem que ele pudesse frequentar uma única aula. Mas esse ano seria diferente. Kurono Shinguuji era a nova diretora da Academia Hagun e acreditava em oferecer uma oportunidade justa a todos os alunos. Ikki estava animado por finalmente ter a chance pela qual esperava há tanto tempo.

— Você parece muito feliz, Ikki — disse Stella enquanto passava a tampa da garrafa de água de volta.

— Pareço? Bem, a verdade é que há alguém que estou ansioso para ver.

— É melhor que esse alguém não seja uma garota.

Hã? Por que ela parece tão hostil?

— Q-Quero dizer, é uma menina, mas…

— Adeus.

— Espera! Calma! Guarde a Lævateinn e me escute! A garota é minha irmã mais nova!

— Sua irmã? Pensando bem, você mencionou ter uma irmã quando estávamos lutando.

— Sim, ouvi dizer que ela também se matriculou aqui este ano. Não falo com ela desde que saí de casa, há quatro anos, então estou animado para poder falar com ela novamente.

Ele ainda se lembrava de sua irmã de cabelos prateados, que o seguia para todo lugar, com suas tranças balançando a cada passo. Ela era chorona, ficava solitária facilmente e sempre implorava por atenção. Enquanto o pai, a mãe e os outros irmãos de Ikki o abandonaram ao descobrirem que ele não tinha talento, ela continuou conversando com ele normalmente.

No que dizia respeito a Ikki, sua irmã, Shizuku Kurogane, era sua única família de verdade. Fazia quatro anos desde a última vez que a vira, então estava curioso sobre o quanto ela havia crescido.

— Mal posso esperar pra vê-la.

— Preciso perguntar, só por precaução, mas… sua irmã não é, por acaso, alguém que não é sua parente de sangue ou algo assim, é?

— Não, ela é minha irmã biológica. Por quê? 

— Então você está perdoado. 

Perdoado pelo quê?

Ikki não fazia ideia do que Stella estava falando, mas ele tinha o costume de não se aprofundar em coisas que não entendia. Voltou a olhar para o cartaz da cerimônia de abertura, pensando nos próximos dias. Em breve, começariam as batalhas para determinar quem representaria a Academia Hagun no Festival de Batalha das Sete Estrelas.

 

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— Uhuuu! Parabéns por terem sido aceitos na Academia Hagun, novos alunos! — A jovem mulher que estava em pé no pódio dos professores abriu um confete na direção dos alunos com um enorme sorriso no rosto. — Meu nome é Yuuri Oreki e serei a professora da turma 1-1. É a primeira vez que sou professora, mas tenho certeza de que nos daremos muito bem! Na verdade, adoraria que todos me chamassem de “Yurizinha”. Não há necessidade de formalidades aqui!

Ikki estava se preparando mentalmente para os dias de luta que começariam em breve, então ficou surpreso por sua professora ser tão alegre e enérgica.

— Lidar com ela parece ser cansativo — Stella, que estava sentada ao lado de Ikki, murmurou.

— Ahaha, eu sei o que você quer dizer. Mas ela é uma boa professora.

— Você a conhece?

— Sim, um pouquinho. 

— Como hoje é o primeiro dia de todos, não haverá aula! No entanto, tenho uma informação importante a compartilhar com todos vocês sobre as partidas de seleção que decidirão quem nos representará no Festival de Batalha das Sete Estrelas. Poderiam pegar seus manuais de aluno?

Ikki tirou um pequeno tablet LCD do bolso do peito. Esses tablets, distribuídos aos alunos da Academia Hagun, serviam não apenas como identificação, mas também como carteiras e telefones portáteis. Eles até mesmo se conectavam à internet.

— Ótimo. Como devem se lembrar, a diretora mencionou em seu discurso de abertura que a classificação de habilidades influenciou a escolha dos representantes da nossa escola nos anos anteriores. No entanto, este ano, esse sistema será abolido! Determinaremos nossos representantes com base nos registros de combate de todos! Todos os alunos podem participar das partidas de seleção e os seis melhores classificados serão escolhidos como representantes da escola. Viva a violência! O Comitê de Partidas de Seleção, responsável por organizar e supervisionar as partidas, enviará e-mails para todos os terminais informando os dias em que vocês lutarão. Certifiquem-se de verificar essa programação e comparecer às partidas no horário. Se você se atrasar, será marcado como uma desistente, então tenha cuidado! 

— Professora — disse Stella, levantando a mão.

— Não, não, não — respondeu Yuuri, balançando o dedo. — Você tem que me chamar de Yurizinha.

— Y-Yurizinha, então.

— Sim? O que foi, Stellazinha?

— Quantas partidas de seleção teremos que lutar?

— Ainda não posso entrar em detalhes, mas todos vão lutar em pelo menos dez partidas. Assim que as coisas começarem, suponha que você terá uma partida a cada três dias.

Ao ouvir isso, Ikki deu um pequeno suspiro de alívio. Ele só podia usar o Ittou Shura uma vez por dia; se fosse forçado a lutar batalhas consecutivas, estaria em apuros. No entanto, embora essa fosse uma boa notícia para ele, o resto da turma não parecia satisfeito.

— Está brincando comigo?

— Cara, que chato. Isso significa que não terei tempo para sair com as pessoas.

— Eu não tenho interesse nenhum em ir ao Festival da Batalha das Sete Estrelas.

Os outros alunos pareciam decididamente insatisfeitos com esse sistema. Era compreensível, considerando que a maioria dos alunos não tinha nenhum interesse real no Festival de Batalha das Sete Estrelas. Os participantes lutavam com suas armas em sua forma real, em vez de forma fantasmagórica. Lesões eram comuns e, ocasionalmente, pessoas morriam.

Poucas pessoas estavam tão motivadas a ficar mais fortes que estariam dispostas a participar de um evento tão perigoso. Na verdade, a maioria dos alunos estava muito mais preocupada em se formar com segurança, se tornar um Cavaleiro Mágico e encontrar um emprego estável e bem remunerado.

— Haverá alguma penalidade por perder nossas lutas ou por nos abstermos de lutar? — Perguntou um dos alunos.

— Não, não há penalidade e suas notas não serão afetadas se você perder. No entanto, elas aumentarão um pouco se vencer. Se não quiser participar, não precisa fazê-lo. Ao receber o e-mail do Comitê, basta informar que não está interessado no Festival da Batalha das Sete Estrelas e que gostaria de desistir. Você será removido do grupo de lutadores e não terá mais nenhuma partida. No entanto…

Yuuri olhou para Ikki, sorriu gentilmente e acrescentou: — Percebo que esse novo sistema pode parecer complicado para alguns, mas, pessoalmente, acho excelente que todos tenham oportunidades iguais de conquistar seu lugar. Afinal, cada um de vocês tem a chance de se tornar o Soberano das Sete Estrelas, se realmente quiserem. Gostaria que todos estabelecessem isso como meta e participassem. Tenho certeza de que será uma experiência valiosa para cada um de vocês.

Ikki baixou a cabeça em sinal de agradecimento. Ele conheceu Yuuri quando fizera o exame de admissão da Academia Hagun. Ela foi sua examinadora. Foi graças ao reconhecimento de suas habilidades por parte dela que ele foi aceito na escola.

Ao pensar naquele dia, de repente se lembrou de algo.

Ah, quase esqueci. A professora Oreki não…

— Tudo bem, pessoal, vamos dar tudo de nós este ano! Diga comigo! Nós vamos— Blaaaaaugh!

…tem um corpo muito fraco? Ikki terminou seu pensamento assim que Yuuri começou a vomitar sangue.

— Y-Yurizinhaaaaa?!

— Ah, não se preocupem, pessoal. Ela está bem — disse Ikki, ajudando Oreki a se levantar. — Ela é muito doente o tempo todo.

— Isso significa que devemos nos preocupar! Ela não acabou de vomitar sangue?!

Cof, cof. Está tudo bem, crianças. Assim como o Kurogane disse, estou bem. — Yuuri sorriu fracamente para os outros alunos na tentativa de tranquilizá-los. — Tenho tossido um litro de sangue por dia desde que eu era criança…

— Isso não está certo!

Cof, cof! Bem, eu sobrevivi vinte anos assim, então não é grande coisa. Heh heh, impressionante, não é? Sou mais resistente do que pareço.

— Por favor, não se orgulhe disso. Vou levá-la à enfermaria, então alguém poderia limpar essa poça de sangue? — disse Ikki, dirigindo-se à classe.

— Claro, eu cuido disso. 

A garota de cabelos loiros pêssego que havia respondido acenou para ele. Ele então colocou o braço de Yuuri sobre o ombro e começou a levá-la até a enfermaria. Enquanto caminhavam, Ikki perguntou de repente:

— Professora Oreki, você está tão agitada hoje porque queria dar os parabéns aos novos alunos?

Cof! Cof! Sim. É o primeiro dia deles na escola, então eu queria que se sentissem orgulhosos por terem chegado aqui. Por isso que me esforcei tanto…

Sim, foi o que pensei. Era exatamente o tipo de coisa que Oreki, que era gentil demais, faria.

— Professora Oreki, não sei como dizer isso gentilmente, mas…

— O quê?

— Acho que todos acharam você esquisita.

— Triste…

Ikki sentiu pena de Yuuri, mas foi precisamente por isso que ele lhe contou a verdade. Era para o bem dela. Ela, como todas as pessoas, precisava agir de acordo com a sua idade se quisesse ser respeitada.

 

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— A professora disse que todos estão livres para ir para casa hoje — anunciou Ikki ao retornar à sala de aula, transmitindo a mensagem de Yuuri aos outros alunos.

Acho que vou procurar a Shizuku. Se eu, um aluno repetente, ficar por aqui por muito tempo, vou estragar o clima.

Ikki podia sentir os olhares dos outros alunos sobre ele. Como Yuuri havia desmaiado, a turma não havia conseguido fazer as apresentações, mas ele suspeitava que todos já soubessem que era repetente. Ele percebia pelos olhares que lhe dirigiam, que não sabiam como se aproximar dele.

Eu meio que assumi o comando agora há pouco. Talvez eles não tenham gostado disso.

Pensando que poderia ter sido presunçoso da parte dele, Ikki deu meia volta, pronto para sair. Ao fazer isso, uma colega de classe de repente agarrou seu braço.

— Kuroganeee!

— Whoa?!

— O-O-O que você está fazendo, Ikki?! — Stella gritou.

— Por que está perguntando isso para mim?! Com licença, mas quem é você e o que quer?

— Opaaa! Eu estava tão animada por finalmente poder falar com você que esqueci dos meus modos. —, disse a garota loira de óculos, a mesma que se ofereceu para limpar a sala de aula enquanto Ikki levava Yuuri à enfermaria, mostrando a língua como forma fofa de se desculpar. Ela soltou o braço dele e disse: — Meu nome é Kagami Kusakabe. Sou uma grande fã sua!

— Eu tenho fãs?

Os Blazers geralmente eram figuras bastante conhecidas. Tanto os Cavaleiros Mágicos quanto os aprendizes tendiam a receber muita atenção da imprensa, desde que fossem tão fortes quanto Stella. Todas as partidas do Festival de Batalha das Sete Estrelas eram transmitidas mundialmente pela internet.

Muitas vezes pessoas se matriculavam em uma determinada escola porque se tornavam fãs de um dos alunos atualmente presentes depois de assistir a essas transmissões ao vivo. Mas Ikki não participou de nenhum grande evento e, portanto, não deveria ter fãs.

— Acho que nunca fiz nada para me tornar famoso… Tem certeza de que sou a pessoa certa?

— Vamos, Kurogane, não se faça de idiota. Certamente você não se esqueceu disso.

Ikki não fazia ideia do que Kagami estava falando até que ela pegou seu manual do aluno e mostrou-lhe uma certa gravação. Ele definitivamente não havia esquecido, considerando que havia se passado apenas alguns dias desde aquele evento específico.

— Este é o nosso duelo, não é?! — Stella exclamou quando se aproximou para olhar a tela também.

— Espera, você e Stella não sabiam? Vocês dois nunca ficam online, ou o quê?

— Praticamente. Eu não sou bom com computadores… — Ikki respondeu.

— Eu também não passo tempo online. Na verdade, eu nem sequer tenho um computador — disse Stella.

— Bem, isso explicaria tudo. De qualquer forma, Kurogane, seu duelo contra Stella foi postado online logo após o término e causou uma grande agitação. Praticamente todos na escola já devem ter visto isso. Não é mesmo, pessoal? — Kagami perguntou, virando-se para os outros alunos. Todos assentiram em uníssono. 

— Sim, eu vi o vídeo.

— Inúmeros blogs têm escrito artigos sobre isso. As pessoas que ainda não ouviram falar sobre o seu duelo são definitivamente minoria.

— Eu vi esse vídeo também. Na verdade, eu queria te perguntar sobre o duelo, mas era difícil dizer alguma coisa, já que você é mais velho do que nós e tudo mais… Ahaha…

Espera, é por isso que todos estavam me encarando?

— Desculpe se fiz vocês se sentirem desconfortáveis. Mas somos todos colegas de classe aqui, então sintam-se à vontade para falar comigo sobre qualquer coisa — disse Ikki com um sorriso.

— Você está falando sério?! — metade de seus colegas gritou em uníssono.

— Whoa?!

De repente, todas as garotas da classe cercaram Ikki.

— Graças a Deus! Estou feliz que você seja uma pessoa tão fácil de conversar, Kurogane!

— Eu tenho vontade de falar com você desde que vi aquela luta!

— Eu também! Você foi tão legal!

— Hum, Kurogane, poderia me treinar? Quero melhorar minha esgrima e me tornar forte como você!

— Ei, não é justo! Eu ia pedir a ele para me treinar!

— C-Calma, pessoal. Eu disse que vocês poderiam falar comigo sobre qualquer coisa, mas não me cerquem todos de uma vez, por favor.

Ikki afastou-se da multidão de garotas que o cercava. Ele não estava acostumado com tanta atenção e não se interessava em se envolver com várias mulheres diferentes. Preferia muito mais passar esse tempo treinando. Além disso, ele nunca havia sido tão popular entre as garotas antes. Como resultado, não sabia lidar com os olhares de admiração e respeito que todas lhe lançavam.

— Heh heh, está realmente tão surpreso com sua popularidade, Kurogane? Deixa eu te falar, vai ser o centro das atenções nesta escola por um tempo. De acordo com os dados que reuni, você é especialmente popular entre as meninas! — Kagami disse a ele.

— E-Espera, por quê?

— Porque você é super forte. Todas as garotas que pretendem se tornar Cavaleiros Mágicos gostam de caras fortes. Além disso, mesmo que seja tão forte, você foi apelidado de O Pior, o que o torna legal e misterioso. A

maior razão, porém, é que você tem um rosto fofo.

— E-Eu realmente não acho que isso seja verdade…

— Você não tem ideia do quanto esse seu sorriso desajeitado desperta nossos instintos maternos — explicou Kagami, e todas as meninas concordaram com a cabeça.

E-Elas acham mesmo que sou bonito? Sei que não tenho uma aparência muito masculina, mas não sei bem como me sentir ao ser chamado de “fofo” por garotas mais novas do que eu…

No fim das contas, se Ikki tivesse que escolher entre ser amado e ser odiado, preferiria ser amado. Ele só não tinha certeza se queria esse tipo específico de afeto. Enquanto se esforçava para pensar no que dizer, Kagami de repente agarrou seu braço novamente.

— K-Kagami?!

— A propósito, Ikki, tenho um pedido, já que é tão popular. Certamente você está disposto a ouvir o apelo sincero de sua fofa caloura, certo? — Ela olhou para Ikki com os olhos brilhando.

— O-O que é? Não me importo de ajudar… Supondo que eu possa, é claro.

— Ebaaa! Muito obrigado! Então, o que acontece é que eu estava pensando em criar um clube de jornalismo e queria escrever um artigo sobre você para colocar na primeira página da nossa primeira edição!  Eu estava pensando em intitulá-lo “Que reviravolta! Um Blazer Desconhecido Dominou Completamente a Tão Comentada Super Caloura!”

Você não deveria dizer isso com a Stella bem ali, sabe. Ikki olhou para Stella, com gotas de suor frio na testa.

— Bem, olhe para você, Sr. Popular. Vá em frente, deixe-a entrevistá-lo.

Ikki.

Ela não parecia nem um pouco feliz. É claro que a maioria das pessoas ficaria bastante irritada se soubesse que alguém queria escrever um artigo sobre como foram derrotadas. De qualquer forma, Ikki não teve coragem de concordar com o pedido da Kagami depois de ver a expressão da Stella.

— Desculpe, mas não sou muito bom em entrevistas, então…

— Não tem problema. Vou pegar leve você.

No entanto, Kagami não recuou. Na verdade, ela apertou o braço de Ikki ainda mais forte, pressionando-o contra seus seios.

— Uh… E-Ei, Kusakabe…

— Não precisa ser tão formal. Apenas me chame de “Kagami”. Afinal, já somos praticamente amigos.

Só te conheço há cinco minutos. Mas acho que seria rude dizer isso.

— Kagami, você poderia, por favor, me soltar? Eles estão pressionando contra mim.

— Oh? A que você está se referindo?

Kagami lançou um olhar confuso a Ikki, mas quando viu para onde ele estava olhando, tudo fez sentido. Depois de perceber a origem do desconforto dele, ela sorriu maliciosamente e disse: — Não, não vou soltar você até que concorde em me deixar entrevistá-lo.

Ela apertou ainda mais forte, puxando o braço de Ikki para dentro do seu decote.

— Aaaaah?!

— Quero saber tudo sobre você, Ikki — sussurrou Kagami docemente no ouvido de Ikki. Ele sabia que tudo isso era uma armadilha para fazê-lo concordar com a entrevista, mas isso não significava que não estava funcionando.

E-Ela é tão fofa.

No fim das contas, Ikki ainda era um rapaz com desejos masculinos. É claro que ele ficava feliz por ter uma garota bonita o bajulando.

Mesmo sabendo que estava sendo manipulado, Ikki relaxou a expressão, dominado pelo charme de Kagami.

— Espere, Ikki! — Stella deu um passo à frente e gritou, incapaz de assistir por mais tempo. Mas antes que ela pudesse lhe dar uma boa bronca, alguém a interrompeu.

— Ei, Ikki. Também temos algo que queremos discutir com você — disse um dos meninos da turma, com a voz cheia de hostilidade desenfreada.

 

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Um grupo de cinco meninos passou pelas meninas e parou na frente de Ikki.

— Parece que você é muito popular, Ikki — disse o maior dos cinco com uma voz intimidadora. — Mas isso não significa que possa agir como se fosse o dono do lugar. Esta é uma sala de aula, então guarde seu flerte para outro lugar.

Ele olhou para Ikki com raiva. Era óbvio que ele não gostava da maneira como Ikki estava monopolizando toda a atenção das garotas.

— Qual é o seu problema, Manabe? Está com ciúmes?

— Não fique bravo com ele só porque você não é popular com as meninas, seu perdedor! — As meninas atacaram o cara chamado Manabe.

— O que foi isso, sua vadia?! Não se atreva a insultar o Ma! — outro dos meninos rosnou.

— Ok, vamos todos nos acalmar — disse Ikki, estendendo as mãos em um gesto conciliador. Embora não fosse sua culpa, ele era, tecnicamente, o causador da situação, então sentiu que era seu dever resolvê-la pacificamente. Ele se curvou para Manabe e disse: — Desculpe por tê-lo incomodado. Você está certo, eu não deveria ter causado tanta comoção na sala de aula.

— Hah. Não finja ser o mocinho aqui. Todos sabemos que você é um aproveitador.

— O que exatamente você quer dizer com isso?

— Você pode ter enganado essas vadias estúpidas, mas não está me enganando. Não há como um Rank F vencer um Rank A. Aposto que você usou algum truque dissimulado para ganhar apenas para se tornar popular.

— É claro que não. Suas acusações são desrespeitosas tanto para mim quanto para a Stella.

— Você está realmente tentando dizer que derrotou um Rank A de forma justa? Dá um tempo. Se você é realmente tão forte assim, que tal tentar derrotar todos nós, Ikki.

Os cinco meninos cercaram Ikki como hienas circulando suas presas. Todos eles, exceto Manabe, manifestaram seus Dispositivos.

— Vocês estão loucos?! Se os professores descobrirem que sacaram seus Dispositivos na sala de aula, serão expulsos! — gritou Kagami.

— Cale a boca, vadia! Se não quer se machucar, saia do nosso caminho! — Manabe retrucou, e seus quatro seguidores empunharam seus Dispositivos. Era evidente, pelas suas expressões sanguinárias, que eles também não os haviam manifestado em forma fantasma.

No entanto, Ikki permaneceu tão calmo como sempre.

— A Kusakabe está certa. Lutar aqui é contra as regras da escola. Enquanto ainda somos Cavaleiros em treinamento, a escola a que pertencemos decide quando e onde podemos usar nossos poderes. Se insistem em lutar comigo, vamos para um campo de treinamento. Terei prazer em treinar com vocês até a noite. 

Esta era a maneira de Ikki mostrar bondade para com Manabe e os outros. Francamente, ele não tinha motivos para lutar contra eles, e não ganharia nada fazendo isso. Em vez de lidar com esses caras, ele só queria ir procurar sua irmã. A única razão pela qual concordou em lutar era porque achava que estaria prestando um serviço aos seus calouros, ajudando-os com o treinamento.

— Seu filho da puta…

Manabe estava tão irritado que as veias da testa se destacavam. Apesar dos esforços de Ikki para ser civilizado, ele havia feito comentários inadequados sem perceber.

Manabe e os outros não estavam realmente procurando treinar, lutar ou qualquer coisa do tipo. Eles queriam aterrorizar o cara que achavam que havia trapaceado para conseguir a vitória apenas para se tornar popular entre as garotas e fazê-lo implorar por misericórdia. Portanto, Ikki dizer que estaria disposto a lutar com eles em um campo de treinamento apenas piorou ainda mais a situação.

— Não fique arrogante, seu pedaço de merda! Você é apenas um fracassado que teve que repetir um ano! Peguem ele!

Eu disse algo errado? Ikki pensou, inclinando a cabeça para o lado.

Infelizmente, era tarde demais para resolver as coisas pacificamente. Os quatro meninos correram em direção a Ikki, com seus Dispositivos erguidos, enquanto as meninas gritavam e corriam para fora do caminho.

Ikki soltou um suspiro de cansaço. Agora que as coisas tinham chegado a esse ponto, ele não tinha escolha a não ser usar a força.

— Ikki! Vou dizer aos professores que você só agiu em legítima defesa, então ensine uma lição a esses caras! — Kagami gritou, incentivando Ikki. Embora Ikki estivesse agradecido pelo apoio dela, ele não precisaria que ela testemunhasse a seu favor.

— Não, não há necessidade disso. — Ele simplesmente não deixaria isso se transformar em uma verdadeira batalha entre Blazers empunhando Dispositivos.

— Hyah!

Ikki concentrou todo o seu foco nos olhos. Ele não precisava ver cores naquele momento, pois essa informação era desnecessária. Para isso, desligou a capacidade dos olhos de processar cores.

O mundo ficou monocromático, e Ikki transferiu a energia mental que seus olhos e cérebro estavam usando para enxergar cores para aprimorar sua visão cinética. De repente, tudo ao seu redor parecia estar se movendo em câmera lenta.

O que Ikki estava fazendo não exigia nenhum superpoder especial. Era simplesmente um aumento da concentração que qualquer ser humano poderia alcançar com treinamento e determinação suficientes. Quando colocados em situações extremas, os seres humanos tendem a ativar esse poder inconscientemente, e tudo o que Ikki fez foi colocar esse poder sob seu controle. É claro que, no caso dele, a capacidade de fazer isso era uma necessidade inerente. Sem ela, nunca teria sido capaz de desenvolver uma técnica que lhe permitisse usar toda a energia do seu corpo ao longo de um minuto.

Neste mundo monocromático e lento, Ikki examinou seus arredores e analisou a situação. Seus oponentes vinham de quatro direções diferentes.

O mais rápido é o cara com a katana que está vindo para mim pela frente.

Ikki estendeu a mão direita para a frente e usou as costas da mão para empurrar a lâmina do inimigo para o lado. Ele não aplicou muita força, apenas o suficiente para afastar uma cortina, mas isso foi o bastante.

— O qu… — O menino com a katana engasgou quando sua lâmina passou sem causar danos ao lado de Ikki. Então, ele o derrubou com a ponta do pé.

— Waaah!

Incapaz de manter o equilíbrio depois de ter sua perna de apoio derrubada, o garoto com a katana colidiu com o garoto com uma espada longa que vinha atacando Ikki por trás. Os dois bateram em uma mesa próxima e caíram no chão um em cima do outro.

— Seu bastardoooo!

— Morraaa!

Os dois meninos ao lado de Ikki atacaram-no em seguida. Um deles empunhava um bastão de ferro e o outro um machado. Ambos miravam na cabeça dele, o que facilitou a tarefa.

— Hup.

Ikki dobrou os joelhos e se abaixou. Um segundo depois, houve o barulho de metal contra metal quando as armas dos dois garotos se chocaram. Ambos atacaram com força total, então o recuo foi imenso.

— Gyaaah!

Eles gritaram de dor quando a força dos golpes uns dos outros percorreu seus braços, deixando-os dormentes. Só restava o líder deles.

— M-Maldito!

A confiança anterior de Manabe havia desaparecido, e ele parecia claramente abalado depois de ver seus quatro companheiros serem derrotados com extrema facilidade. Em pânico, ele invocou seu próprio Dispositivo, um revólver de grande calibre. Era um tipo raro de Dispositivo para um Blazer que vivia no Extremo Oriente.

Manabe apontou a arma para Ikki e puxou o gatilho. No entanto, no tempo que levou para o gatilho ser pressionado, Ikki agiu. Ele pegou uma borracha de uma mesa próxima e a jogou para cima com o polegar. Ela ricocheteou no teto e caiu no espaço entre o gatilho do revólver e o percussor, impedindo que disparasse.

Manabe soltou um grito sem palavras enquanto olhava para seu dispositivo, agora inútil. Enquanto isso, Ikki correu para a frente e bateu palmas bem na frente do rosto dele. A intenção era assustar o menino, não atacá-lo de fato.

— Eek!

Felizmente, a tática de intimidação funcionou. Manabe caiu no chão, olhando para ele com medo nos olhos. Ikki, um Blazer Classe F, tinha acabado de derrotar cinco Blazers armados com seus Dispositivos, apenas com as próprias mãos. E ele nem suou fazendo isso.

Manabe e os outros perderam a vontade de lutar, e Ikki não via razão para atormentá-los ainda mais. Como havia prometido, não deixou uma batalha de verdade acontecer.

Exibindo para os cinco o sorriso desajeitado que, segundo Kusakabe, despertava o instinto maternal de todas as garotas, ele disse: — Vamos ficar na mesma turma durante um ano inteiro, então vamos tentar nos dar bem, certo?

Manabe assentiu sem expressão, com medo de dizer qualquer coisa.

Ele e seus amigos não foram os únicos que ficaram atordoados com a demonstração de força de Ikki. O resto da classe também ficou sem palavras. Eles tinham acabado de vê-lo derrubar cinco Blazers com as próprias mãos, afinal.

— Ei, uh, Stella? Sou só eu, ou a atmosfera está meio tensa?

— Com certeza. É o que acontece quando se faz uma demonstração de força tão avassaladora.

— “Demonstração de força tão avassaladora.”? Mas me contive o máximo possível para garantir que ninguém se machucasse.

— E foi isso que aconteceu quando se conteve ao máximo. Você pode realmente culpar o resto da classe por estar chocada?

Stella soltou um suspiro exasperado. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, o som de alguém batendo palmas do lado de fora da sala de aula a distraiu. Ela e Ikki se viraram e viram uma menina pequena, com cabelos curtos prateados e olhos verdes-jade, parada na porta da sala. Havia algo efêmero nela, mas isso só a tornava mais bonita. Seus lindos lábios rosados formaram um sorriso.

— Foi uma demonstração de força verdadeiramente esplêndida. Esses fracos nunca tiveram chance, querido irmão.

A voz da garota tinha um tom melodioso e agradável. Mas foi o que ela disse que chamou a atenção de Ikki: “querido irmão”.

— É você…?

É claro que não havia necessidade de perguntar. Seu rosto, sua voz e até mesmo seu penteado eram diferentes, mas havia apenas uma pessoa no mundo que chamava Ikki de “querido irmão”. Dentro da grande mansão Kurogane, havia apenas uma pessoa cuja presença o deixava à vontade: sua irmã mais nova, que sempre o seguia para onde quer que fosse.

— Shizuku…

— Sim. Há quanto tempo, querido irmão.

 

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— Shizuku! — Emocionado por ver sua irmã pela primeira vez em quatro anos, Ikki correu e pegou a mão de Shizuku. — Uau, é você mesmo! Faz tanto tempo! Você cresceu tanto! Eu nem te reconheci!

— Afinal, já se passaram quatro anos. Teria sido mais estranho se eu não tivesse mudado.

— Ahaha, sim, acho que sim! Mas estou muito feliz em te ver de novo! Não achei que você viesse me procurar! Na verdade, eu estava prestes a ir te procurar quando toda essa confusão começou. Enfim, desculpe, isso não é importante agora. Você apareceu tão de repente que fiquei animado.

Havia tantas coisas que Ikki queria conversar com Shizuku. Ele queria pedir desculpas por ter saído de casa tão repentinamente e contar tudo o que havia acontecido desde então. Também queria que ela soubesse o quanto estava feliz por tê-la visto novamente. No entanto, ele tinha tanto a dizer que começou a gaguejar.

— Ei, Ikki, ela é sua irmã? Aquela de quem você me falou hoje de manhã?

— Ah, sim! É ela! Deixe-me apresentá-la.

A pergunta de Stella ajudou Ikki a organizar seus pensamentos e se acalmar o suficiente para voltar a falar normalmente. Mas, assim que se virou para Stella, Shizuku puxou sua manga, fazendo com que ele se virasse novamente.

— Senti tanto sua falta, querido irmão… —

Ela colocou a mão na bochecha de Ikki, depois apertou ternamente os lábios contra os dele.

— Mmpf! — Ikki exclamou surpreso.

— Como assiiim?! — Stella e o resto dos colegas de classe de Ikki gritaram.

— I-Ikki?! O que diabos você está fazendo?!

— E-E-Eu também não sei o que está acontecendo! — De fato, Ikki ficou mais chocado do que ninguém por sua irmã tê-lo beijado de repente. Ele afastou Shizuku dele e gritou: — Shizuku, o-o que está fazendo?!

— Não é óbvio? Estou te beijando.

— Eu entendi isso! É por isso que estou assustado! O que quero saber o motivo de você ter me beijado.

— Beijos são um sinal de afeto. Até mesmo os casais, por mais superficiais e frágeis que sejam seus laços, fazem isso o tempo todo. Portanto, é natural que irmãos, que compartilham a mesma carne e o mesmo sangue, que são unidos por laços mais fortes que o aço, façam o mesmo. Na verdade, seria incomum se não o fizessem. Além disso, ouvi dizer que os estrangeiros se beijam o tempo todo como forma de saudação.

— E-Espere, isso é verdade? Eu sou o estranho aqui, Stella?

— Claro que não! Não se deixem enganar pelas mentiras dela! Além disso, nem mesmo os europeus se cumprimentam com beijos na boca! E nenhum deles beija os irmãos! Algum de vocês beija seus irmãos?! — Stella perguntou, virando-se para o resto da classe.

— Não. 

— Claro que não.

— Honestamente, só de pensar nisso me dá vontade de vomitar.

— Hum. Shizuku, acho que você é a estranha, de acordo com a opinião popular.

— Eheheh. Não vejo problema nisso, querido irmão. Outros têm seus próprios costumes, e nós temos os nossos. Imagino que todos aqui simplesmente tenham um relacionamento tenso com seus irmãos. Realmente vivemos em tempos tristes. No entanto, nós somos diferentes, caro irmão. Na verdade, um beijo não é suficiente para expressar o quanto eu senti sua falta nos últimos quatro anos. Mesmo o sexo seria apenas a ponta do iceberg.

Como se fosse possível! — todas as alunas da classe de Ikki gritaram em uníssono.

— V-Você não pode simplesmente dizer isso, Shizuku! As garotas não devem casualmente falar palavras como “s-sexo…”

— Heheh, eu estava apenas brincando. Você fica tão fofo quando está corando, querido irmão.

Ikki começou a suar frio enquanto Shizuku sorria encantadoramente para ele.

Q-Quem é essa garota?

A Shizuku que Ikki se lembrava era uma garota tímida que facilmente ficava envergonhada. Como diabos ela se transformou nisso?

— De qualquer forma, deixe essas preocupações triviais de lado, querido irmão. Quero me conectar com você em um nível muito mais profundo. — Shizuku mais uma vez colocou os braços em volta do pescoço de Ikki. Seus olhos verde-jade estavam fixos nele, e apenas nele, o tempo todo. — Temos que compensar quatro anos de tempo perdido.

— Uh…

Ela aproximou os lábios rosados dos de Ikki, planejando beijá-lo novamente.

Ikki sabia que isso estava errado. Ele sabia que não era assim que os irmãos deveriam agir, mas não conseguia se mover. O olhar de Shizuku o manteve preso no lugar, incapaz de fazer qualquer coisa.

Pareeeem! — Pouco antes de seus lábios se conectarem pela segunda vez, Stella separou os dois. — Ikki, acorda! Por que você também está entrando no clima?! Controle-se!

— D-Desculpe! Obrigado, Stella! Você é uma salvação! — Ikki disse, parecendo aliviado.

— O que acha que está fazendo? — Shizuku disse, tirando os olhos de Ikki pela primeira vez desde que entrou na sala de aula. Parecia que ela acabara de registrar a existência de Stella.

— Isso é o que eu quero saber! O que você acha que está fazendo com Ikki?!

— Você está se referindo ao beijo?

— C-Claro que estou! A que mais eu estaria me referindo?!

— E eu pensei que você tivesse algo de interessante a dizer. — Shizuku suspirou. — Sou livre para fazer o que quiser com meu irmão mais velho.

— Ikki! Sua irmã está com problemas mentais! Pensei que você tivesse dito que ela era normal!

— Olha, estou tão surpreso quanto você. Na verdade, estou com um pouco de medo dela agora…

— Percebo que continua tentando interferir no meu tempo de qualidade com meu querido irmão. Você deve ser a princesa Stella de quem todos falam, certo? Por que se importa tanto com a forma como nós, plebeus, expressamos o amor familiar?

— Ninguém no mundo expressa amor familiar com um beijo de língua como esse!

— Como eu disse, não sei como são as outras famílias, mas é assim que fazemos.

— Nenhuma família com bom senso faria algo tão louco!

— Que garota irritante. Ouça. Mesmo que a sua afirmação tenha algum mérito e seja estranho eu beijar meu irmão, por que se importa com o fato de sermos um par de irmãos incomum? Isso não tem nada a ver com você.

— Urk!

— Isso é entre mim e meu caro irmão. Uma princesa de um país Europeu distante não deve se intrometer nos nossos assuntos.

— Ngh…

Stella hesitou, sem saber como responder. Era verdade que, tecnicamente, ela não tinha o direito de interferir. Corrigir Shizuku era tarefa de Ikki, já que ele era seu irmão. Certamente não era problema dela. Mas ela não podia simplesmente ficar calada.

— Querido irmão, se ficarmos aqui, parece que essa Princesa intrometida vai continuar atrapalhando. Vamos para um lugar mais silencioso para aproveitar nosso reencontro.

Era claro que Shizuku via Ikki como mais do que apenas um irmão, e, nesse caso, Stella não podia de forma alguma permitir que os dois ficassem sozinhos. Ela se decidiu e murmurou: — Isso tem a ver comigo. — Ela percebeu que estava corando. — Tem tudo a ver comigo, e eu não quero que você beije Ikki!

— Hã?! — Ikki virou-se para Stella, surpreso. Afinal, ela acabara de declarar que não queria que ele beijasse outra mulher.

Isso significa que… a Stella tem…

— Afinal, o Ikki é meu mestre! Não posso deixar o mundo pensar que ele é alguém obcecado pela irmã, sem esperança e pervertido!

— É esse o seu motivo?!

— Este é o escândalo do século! — Kagami gritou animadamente. — Eu tenho que mudar nossa primeira manchete o mais rápido possível! “Lute em Meus Braços! Uma Princesa Imperial Foi Trancada no Seu Quarto por Setenta e Duas Horas pelo Seu Colega de Quarto e Submetida a Todo o Tipo de Atos Obscenos Indescritíveis!”

— Espere, o Kurogane é esse tipo de pessoa? Ele parece tão gentil.

— Uau. Talvez ele seja um daqueles cafetões que só fingem ser legais.

— E ele forçou a Princesa a ser sua criada? Caramba. Ele tem alguns fetiches sinistros.

Ah, não. Stella só está piorando as coisas.

— E-Espera, Stella! Tem certeza de que quer dizer tudo isso na frente de outras pessoas?!

— E-Essa é a verdade, não é?! Apostamos toda a nossa vida nesse duelo, e você me venceu. Quer eu goste ou não, isso significa que te pertenço de corpo e alma! Nós basicamente nos tornamos um só! É por isso que tudo o que você faz é importante para mim! Além disso, é dever de uma criada manter seu mestre no caminho certo!

— Eu disse que podemos simplesmente descartar essa promessa!

— Não! Meu orgulho como realeza não permitirá isso! Além disso, você já me deu sua primeira ordem, não foi? “Durma no mesmo espaço que eu.”

— Que tipo de pessoa você está tentando me fazer parecer?! Eu não me expressei de forma tão imoral!

— Mas foi basicamente isso que você disse, não foi?! 

Bem, sim, mas…

— Isso é verdade? — Shizuku perguntou, sua voz fria como gelo.

Ikki se virou silenciosamente para Shizuku, tremendo um pouco.

— O que ela disse é verdade?

Sua expressão era completamente desprovida de calor.

Puta merda, ela é assustadora…

— Responda-me, querido irmão. O que ela disse é verdade? — ela perguntou uma terceira vez.

Ikki queria dizer que não era. Ele sabia que, se não negasse a afirmação de Stella, a situação só pioraria. No entanto, ela estava dizendo a verdade, e ele não era do tipo que mentia.

— B-Bem, a Stella está distorcendo o sentido do que eu disse, para fazer parecer muito mais malicioso do que realmente foi, mas ela está basicamente dizendo a verdade, sim.

Ele era honesto demais para o seu próprio bem. Infelizmente, eram os honestos que sempre sofriam na vida.

— Entendo… Então é verdade… Heh. Heheheh.

— Shizuku?

— Mentiroso.

Os lábios de Shizuku se curvaram em um sorriso.

— Gah?!

Era o sorriso mais aterrorizante que Ikki já vira.

— Por que mentiria para mim, querido irmão? Eu sei que nunca faria nada que me deixasse triste. Você nunca diria nada que me magoasse. Eu te conheço.

— Hum, S-Shizuku?

— Ah, entendi agora. Essa mulher deve estar te chantageando de alguma forma. Você só está mentindo porque não quer me preocupar. Claro que é por isso. Pensando nisso logicamente, essa é a única explicação razoável.

— Espere. Me escute, Shizuku.

— Coitado de você, caro irmão. É por isso que eu era contra sua saída da casa da família. Você é tão legal que eu sabia que outras mulheres se sentiriam atraídas. E veja só, essa monstra peituda idiota te seduziu.

— Estou implorando, Shizuku. Apenas se acalme e me escute.

— Está tudo bem, querido irmão. Eu sei que isso não é culpa sua. Você é maravilhoso demais. Tanto que todo mundo te quer. É tudo culpa dessa mulher. É tudo culpa dessa mulher! É tudo culpa dessa mulher! Mas não se preocupe. Vou te libertar dela agora. Respingue, Yoishigure!

— E-Espera um segundo, Shizuku! Essa é uma péssima ideia! Guarde a arma e me escute! Não estou sendo chantageado e… Ei, você está ouvindo?!

Shizuku invocou seu Dispositivo, uma kodachi chamada Yoishigure, fazendo com que Ikki empalidecesse.

— Ora, ora. Claro que estou te ouvindo, querido irmão. Eu nunca perderia nem uma única de suas palavras. Isso é mais impossível do que o mundo girando repentinamente ao contrário. Ahahahaha, você é tão bobo, caro irmão. Está tudo bem. Eu não vou perder. É verdade que sou apenas Classe B, mas meu elemento é água, a maior fraqueza do fogo. Mas obrigada por se preocupar comigo. Eu te amo, querido irmão.

— Você claramente não está ouvindo! Estamos apenas falando sem nos entender agora!

— Obedeça, Lævateinn!

— Espere, por que você está se preparando para lutar também, Stella?!

— Desculpe, mas ao contrário de você, Ikki, não sou gentil o suficiente para mostrar misericórdia a alguém que invocou seu Dispositivo. Se é uma luta que ela quer, então é uma luta que terá.

Era evidente que nem Shizuku nem Stella estavam prestando atenção em Ikki. Seus olhares estavam fixos uma na outra. Nada do que ele dissesse poderia detê-las. Cada uma sabia que precisava derrotar a mulher à sua frente ou o perderiam.

— Pessoal, sigam-me até o corredor. Se ficarem aqui, vão morrer — disse Kagami, liderando a evacuação. Ela se adaptou à situação rapidamente, como uma boa jornalista.

Enquanto a sala de aula se esvaziava, Stella e Shizuku continuaram olhando uma para a outra.

— Devo dizer, seu Dispositivo é bem pequeno. Muito parecido com o seu peito — disse Stella.

— E o seu Dispositivo é tão chamativo e deselegante quanto os seus peitos enormes e inúteis. Combina perfeitamente com você.

— Ah, não há nada mais lamentável do que as declarações invejosas dos menos favorecidos. No entanto, tudo bem. Eu a perdoo. Afinal, meu coração é tão grande quanto meu peito.

— Gorda.

Isso acabou sendo a gota d’água que fez Stella perder a paciência.

Ah, caramba. Não há mais nada que eu possa fazer.

Sabendo que agora não havia como evitar a tragédia, Ikki deu de ombros em sinal de derrota e saiu para o corredor.

— Você está morta!

A briga das meninas acabou destruindo a sala de aula.

 

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Naturalmente, a destruição de uma sala de aula inteira não passou despercebida pelos professores. Após uma breve discussão, decidiram que as duas responsáveis seriam suspensas e confinadas em seus quartos por uma semana.

Ninguém esperava que as duas melhores alunas novas da escola fossem suspensas logo no primeiro dia. Um escândalo tão grande era motivo para muita fofoca, e Kagami decidiu que a suspensão de Stella e Shizuku seria a manchete da primeira página do seu jornal. Ikki ficou feliz por ela ter deixado de lado a ideia de entrevistá-lo por enquanto, especialmente considerando o título provisório que havia pensado para o artigo, mas agora ele tinha um problema muito maior.

— Ela não era assim antes… — Ikki murmurou, ainda sem superar o choque de descobrir em que tipo de pessoa Shizuku se tornara. Ele estava de volta ao seu quarto à noite e não parava de suspirar.

A Shizuku de que se lembrava era uma garota tímida e facilmente envergonhada. Seguia Ikki para todo o lado e escondia-se assim que acontecia alguma coisa remotamente assustadora. Mas ela mudou, transformando-se naquilo a que ele só podia chamar de sedutora.

— Você não pareceu se importar, Ikki — disse Stella, ainda de mau humor. — Na verdade, você parecia estar gostando.

— Isso não é verdade.

— Sim, é. Se eu não a tivesse impedido, você teria deixado ela te beijar

de novo.

— Hrk. — Era verdade que se Stella não tivesse intervindo, Ikki teria sido beijado novamente. — E-Eu não conseguia me mexer. Não era como se eu quisesse beijá-la de novo. Eu estava tão impressionado com o quão madura Shizuku se tornou que eu…

— Ah, tudo bem, então você ficou tão encantado com a belíssima transformação da sua irmã nos quatro anos em que não a via que não conseguiu se mover.

— Ei, espera, eu não disse isso! — Ikki ainda via Shizuku como nada mais do que sua irmãzinha. Nem sequer queria vê-la como outra coisa, e muito menos como mulher. Mas então ele a viu pela primeira vez em quatro anos, e ela cresceu tanto. Além disso, o olhar apaixonado e fervoroso que lhe dirigiu tornou difícil resistir ao seu encanto. No momento em que percebeu isso, soube que não podia mentir para si mesmo, muito menos para Stella. — Mas você pode estar certa.

— Maldito obcecado por irmã.

— Geh.

— Pervertido.

— Não posso negar.

O que há de errado comigo? Talvez eu esteja apenas confuso? Claro, não a vejo há quatro anos, mas isso não significa que eu deva ficar excitado com minha irmã de sangue.

— Aonde você vai? — Stella perguntou quando Ikki de repente se levantou.

— Preciso tomar um banho e esfriar um pouco a cabeça.

Os eventos de hoje causaram graves danos mentais ao Ikki. Ele decidiu que deveria apenas se limpar e ir para a cama.

 

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— Não acredito nele…

Stella fez uma careta enquanto observava Ikki ir ao banheiro.

O que você quis dizer com “você pode estar certa”? Você deveria negar essas acusações!

— Ele até me disse que eu era bonita…

Stella ficou extremamente irritada por ver que o afeto de Ikki estava sendo roubado justamente por sua irmãzinha.

Além disso, ele até disse que queria ficar comigo e me conhecer melhor, então por que ainda não fez nada?!

Stella estava pronta para ele a qualquer hora. Na verdade, acordava antes de Ikki todas as manhãs e certificava-se de arrumar o cabelo despenteado. E todas as noites, preparava-se mentalmente para que Ikki seguisse a antiga tradição japonesa da “caça noturna¹” e se juntasse a ela na cama.

Isso não significa que eu queira que ele faça coisas indecentes comigo ou algo assim! Claro que não! Se ele tentar, vou expulsá-lo! Uma Princesa solteira como eu nunca faria algo tão impróprio! Mas…

Ela estava cansada de Ikki não dar nenhum sinal de interesse.

— Você disse a uma garota solteira que ela era bonita! E que queria conhecê-la melhor!

Você não pode simplesmente dizer essas coisas e depois não fazer mais nada!

Ikki estava literalmente deixando Stella na mão agora. Já era hora de ela perguntar o motivo. Especialmente porque ele havia beijado sua irmã hoje e dito que talvez a achasse atraente.

— Ah, caramba! Ikki, seu idiota! Obcecados por irmãs como você deveriam morrer!

Stella socou o travesseiro repetidamente com lágrimas nos olhos.

E se Ikki não estiver interessado em mim como mulher? E se eu não for o tipo dele? E se ele gostar de garotas magras e pequenas como a Shizuku?

Se essa última parte fosse verdade, Stella estaria em apuros. Ela não era muito alta, mas definitivamente tinha seus atributos. Até agora, orgulhava-se do seu corpo, mas se Ikki fosse tão obcecado por sua irmã a ponto de se tornar também um obcecado por meninas pequenas, ela nunca seria o tipo dele. Isso era algo que ela não podia permitir que acontecesse.

— Tudo bem.

Stella fortaleceu sua determinação e fez uma escolha corajosa.

 

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“Seu obcecado por irmã.”

— Me pergunto se ela me odeia agora… — Ikki suspirou para si mesmo, afundando na banheira enquanto pensava no que Stella havia dito.

Pervertido.

— Ughhh…

Não havia nenhum homem que não ficasse deprimido se uma garota mais nova o chamasse de pervertido. Era excepcionalmente doloroso porque tinha sido Stella quem o chamou disso.

Como cavaleiro, Ikki respeitava muito Stella Vermillion. Apesar de seu imenso talento, ela não deixava que isso subisse à cabeça e continuava treinando incansavelmente para alcançar patamares ainda mais altos. Se ele tivesse nascido com tanto talento inato quanto ela, não tinha certeza de que seria capaz de se esforçar nem pela metade.

Ikki também a achava uma mulher atraente, e era exatamente por isso que estava tão deprimido. Ele admirava Stella tanto como cavaleira quanto como homem, então não queria que a garota pensasse que ele era um canalha. Precisava limpar seu nome o mais rápido possível.

— Talvez eu deva ter uma conversa adequada com a Shizuku amanhã…

Querer que Stella tivesse uma melhor impressão dele era parte disso, mas também, Shizuku não era mais uma criança. Ele precisava garantir que ela entendesse que não podia fazer esse tipo de coisa com seu irmão. Como irmão mais velho, era dever de Ikki colocá-la no caminho certo.

Além disso, ela tinha crescido e se tornado uma garota muito bonita. Seria uma pena se ela perdesse a chance de arranjar um bom namorado por estar apaixonada pelo próprio irmão.

Assim que Ikki se decidiu, a porta do banheiro se abriu.

— E-Estou entrando, tá bom?

Stella entrou, vestindo nada além de um biquíni.

— …Hã? 

Havia algo terrivelmente errado nessa situação. Ikki ficou completamente pasmo com isso; era como se tivesse encontrado uma baleia em um lago.

Espere, eu sei. O estranho aqui é a Stella estar de biquíni. Afinal, era um banheiro. Não fazia sentido usar biquíni no banheiro. Se você tem vergonha de ficar nua, basta enrolar uma toalha…

— Espera, espera, espera, espera, espera! O que diabos estou pensando?! Quero dizer, o biquíni também é estranho, mas esse não é o problema aqui! Por que você está no banheiro, Stella?! O que diabos está acontecendo… Ack?!

Ikki ficou tão perturbado que escorregou do banquinho e caiu no chão.

— Q-Qual é o problema? Certamente não é tão surpreendente.

— Sim, é! Sério, o que está acontecendo aqui?! Por que você entrou no banheiro enquanto eu estou tomando banho e por que está usando um biquíni?!

— V-Você não consegue perceber?

— Claro que não!

— E-Eu pensei que poderia lavar seu corpo para você…

A cabeça de Ikki começou a girar. Ele não sabia dizer se o calor o estava afetando e estava vendo coisas ou se aquilo era realmente verdade.

Stella está se oferecendo para me limpar? Hahaha, isso não pode estar acontecendo. O que é isso, uma visual novel?

— Desculpe, Stella, acho que fiquei muito tempo no banho e o calor está me fazendo ouvir coisas. Você pode repetir o que acabou de dizer?

— Bem… eu sou sua criada e tudo mais, certo? É meu… dever te limpar. Sim, é isso. 

— Entendo. As criadas têm uma vida difícil, não é? 

Espera, o quê?!

— E-Espere um segundo! Eu nunca te pedi para fazer isso!

— Uma verdadeira criada faz até as coisas que não lhe pedem! Hideyoshi não aquecia os sapatos de Nobunaga para ele, mesmo quando ele não pedia?! Isso é a mesma coisa.

— Como isso é a mesma coisa?!

— Tanto faz! Esse é meu dever como sua serva, então se apresse e sente-se!

— Não posso mandá-la fazer uma coisa dessas, Stella! Além disso, nem mesmo as criadas chegam a esse ponto por seus mestres! Primeiro Shizuku, e agora você?! Por que todas as garotas ao meu redor estão tão dispostas a abrir mão da sua castidade?!

— Olha, eu disse que vou fazer isso, então vou fazer! Agora sente-se! Ou então… — O cabelo de Stella começou a brilhar e o banheiro começou a esquentar— …vou te cozinhar vivo!

Ikki sabia que ela não estava brincando.

 

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Stella, uma Princesa do Reino Vermillion, ajoelhou-se ao lado de Ikki, que estava usando nada além de uma toalha sobre a cintura, e começou a esfregar seu corpo.

Como as coisas chegaram a esse ponto? Sinto que estou enlouquecendo. Ou talvez já tenha enlouquecido e isso seja apenas uma alucinação.

Na verdade, Ikki teria preferido que fosse esse o caso.

— É melhor você cumprir sua promessa, tá? Essa é a única vez que vou permitir esse tipo de bobagem. A partir de amanhã, isso acaba — disse Ikki, tentando parecer assertivo.

— T-Tá bom. S-Só para que você saiba, não estou fazendo isso porque quero. É só porque perdi para você e me tornei sua criada.

Se você não quiser fazer isso, pode simplesmente parar.

Mas Ikki sabia que era inútil dizer qualquer coisa. Ele já havia dito a Stella que ela não precisava fazer isso, mas ela foi inflexível. Segundo a própria, isso era algo que considerava essencial para ser a criada dele, e não desistiria até que ele a deixasse lavá-lo pelo menos uma vez.

Ikki não fazia ideia do motivo pelo qual ela estava sendo tão teimosa quanto a isso, mas como o orgulho dela como membro da realeza estava de alguma forma em jogo, não podia dizer muito. Especialmente porque tinha sido ele quem venceu o duelo e esmagou o orgulho dela da primeira vez.

Enfim, é só por hoje. Eu só tenho que passar por isso e então estou livre.

Apesar do que Ikki continuava dizendo a si mesmo, ele não conseguia deixar de olhar para Stella em seu biquíni. Ele sabia que não deveria, mas suas emoções mais básicas estavam dominando-o. Fingia desviar o olhar enquanto espreitava-a sempre que podia. Ela estava revelando ainda mais pele do que quando ele a viu de lingerie no dia em que se conheceram.

Ikki já achava que ela era bonita, e agora ele podia ver claramente seu corpo. Ela tinha um pescoço longo e esguio e uma cintura fina, mas seus quadris eram bem largos e suas pernas brancas tinham um formato perfeito. Mas foram os seios dela que mais chamaram sua atenção. Eles eram tão grandes que mal cabiam no biquíni. Seus seios eram destacados mesmo através do uniforme escolar mais recatado, mas no biquíni, balançavam um pouco cada vez que ela se movia. O sangue subia à cabeça dele cada vez que ele os vislumbrava.

Eu não vou… aguentar muito mais…

Ikki não conseguia desviar o olhar nem fechar os olhos. Ele era melhor do que a maioria dos rapazes da sua idade em controlar-se, mas ainda assim era um adolescente saudável de dezesseis anos. Não conseguia evitar ter pensamentos indecentes sobre a bela garota ao seu lado. E assim, grato por Stella ainda não ter percebido, continuou a vislumbrar o corpo perfeitamente esculpido dela.

Stella é realmente linda…

Ela era, é claro, uma garota muito atraente, mas seu corpo também era ideal para um cavaleiro. Seus músculos definidos não prejudicavam sua beleza feminina, e Ikki podia dizer que havia muito poder em seu pequeno corpo.

Ele sabia que ela devia ter passado por um treinamento extremamente rigoroso para conseguir um corpo tão forte. Seria necessária uma vontade de ferro para continuar treinando tão intensamente, apesar de ter talento suficiente para tornar o treinamento desnecessário. Seu corpo era um símbolo físico de sua determinação inabalável e espírito inquebrável.

Realmente… deslumbrante…

Era a primeira vez que Ikki observava o corpo de uma mulher tão atraente. Também era a primeira vez que sentia vontade de tocar em um. É claro que sabia que Stella nunca permitiria isso — ou pelo menos era o que ele pensava.

Ele tem me olhado o tempo todo… Na verdade, Stella percebeu imediatamente que Ikki ficava olhando para ela.

As mulheres são muito mais sensíveis aos olhares dos homens do que eles imaginam. É como se tivessem um sexto sentido. E esse sexto sentido havia informado a Stella que Ikki estava completamente encantado por ela.

— Ufa…

O calor do seu olhar era suficiente para fazê-la sentir calor também. Ela podia sentir enquanto ele olhava do pescoço até a clavícula, os seios, a barriga e as coxas. Era como se ele a estivesse acariciando gentilmente com os olhos.

É tão constrangedor… não consigo pensar direito…

No entanto, Stella não pediu a Ikki para parar. Na verdade, ela ficou aliviada. Isso era prova de que ele achava seu corpo atraente. Pelo menos, atraente o suficiente para ficar olhando. Da mesma forma que seu coração disparou quando ela examinou o corpo dele, ele também ficou excitado ao examinar o dela. Isso a deixou incrivelmente feliz.

Ainda não perdi para a irmã dele.

— Ok, vou lavar suas costas agora.

Stella terminou de esfregar o tronco de Ikki e girou em torno de suas costas. Ela ainda não estava pronta para limpar a parte inferior do corpo dele. Era muito cedo para isso.

— O-Ok. Hum, obrigado.

Ikki também não comentou o fato de Stella ter pulado a parte inferior do corpo dele. Caramba, se ela tivesse pedido para tirar a toalha, ele teria atravessado a parede e fugido a toda velocidade.

Tudo o que resta são minhas costas. Depois disso, vai acabar.

Como ele não podia mais ver o corpo da Stella, era muito mais fácil lidar com isso. Sentia uma leve coceira sempre que ela roçava nas suas costas, mas ainda assim era melhor do que quando acariciava seu peito e sua barriga. Ele conseguia lidar com isso. Conseguiria superar essa estranha provação em que se encontrava. E então, poderia esquecer tudo para sempre.

Ikki nunca falaria sobre o que havia acontecido hoje, nem mesmo pensaria nisso. Os acontecimentos da noite ficariam guardados nos fundos de sua memória, para nunca mais serem lembrados. No entanto, no momento em que ele tomou essa decisão, outra provação se apresentou a ele.

— Ei, Ikki — disse Stella em voz baixa.

— Sim?

— Hum, tem uma coisa que eu quero te perguntar, se estiver tudo bem…

— Claro, o que foi?

— Você… gosta de seios de garotas?

Ikki sentiu como se tivesse sido atingido na cabeça com um martelo.

— O qu… p-por que você perguntaria a-a-a-algo assim de repente?!

— Bem… você esteve olhando para o meu o tempo todo.

Aaaaah! Ela sabe! Ela sabe que eu estava olhando para ela! Meu Deus. Quero rastejar para um buraco e morrer. Preciso desaparecer para sempre.

— E-Eu sinto muito! Sei que não deveria ter olhado, mas…

— V-Você não precisa se desculpar. Eu só quero saber.

Ela queria saber a resposta para sua pergunta: Ikki gostava dos seios das garotas? Mas Ikki preferia se estripar a responder isso. Não havia nada mais embaraçoso do que admitir seus fetiches para uma garota que você estava de olho.

Isso é muito cruel. Que deus eu irritei para que isso acontecesse comigo?

Ele agonizou sobre o que dizer por um bom tempo, mas no final, ele sabia que não havia escapatória.

— Gosto… — ele mal conseguiu dizer.

— …Entendo.

… 

…… 

………Por favor, diga alguma coisa!

— Então, hum, Stella?

Incapaz de suportar mais o silêncio, Ikki finalmente se manifestou. Assim que o fez, dois objetos, ambos muito mais macios e maiores do que uma esponja, pressionaram-se contra suas costas.

— Hrrrmpf?!

A sensação fez com que o cérebro de Ikki entrasse em curto-circuito. Embora suas costas fossem um ponto cego, o que significava que ele não tinha como ver o que estava acontecendo atrás dele, ele sabia, só por isso, o que estava pressionado contra suas costas naquele momento.

— S-Stella, você acabou de…

— Hnnngh…

No momento em que Ikki se dirigiu a ela, Stella levantou-se rapidamente e saiu correndo do banheiro. Ele conseguiu ver seu rosto quando saiu e percebeu que estava corada até as pontas das orelhas.

— O-O que diabos foi issoooo?!

Todas  as meninas são tão difíceis de entender assim, ou são apenas Shizuku e Stella?

Ikki não conseguia entender uma única coisa que tivesse acontecido naquele dia. Independentemente disso, ele sabia de fato que nunca esqueceria a sensação que acabara de sentir.

 


 

Tradução: Ouroboros

Revisão: Matface

 

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SR.pão D.queijo
SR.pão D.queijo
1 dia atrás

obrigado pelo cap 🙏

Vol. 01 – Cap. 02